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Frei Damião_Em Defesa da Fé_Livro

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M fBMionário Oapuchitl'ho 
3.' Edição 60. <~ milheiro 
E:DICOES PAULINAS 
RECIFE 
1955 
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
Missionário C apuchinho 
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
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( 
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Nihil obstat 
'Recüe, 20 de agôsto de 1953 
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Frei Tito de Piegaio, ofmcap 
OENSOR AD HOO 
• Imprimatur 
Recife, 20 de agOsto de 1953 
) 'Frei Otávio de Terrinca ofmcaP. 
OUBT6DIO PROVINOIAL 
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..! 
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http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
EREEACIO 
t: M DEFESA DA FÉ, é um sugestivo título o l ivro qUB. 
O Frei Da;mião de Bozzano dá à publicidade como lem-
brOinça de suas inúmeras e fecwndas S01ntas Missões pre-
gadas no decurso de vinte longos anos nas capitais e no 
interior do N oràeste brasileiro. 
Lendo o presente trabalho temos a impressão de ver. 
realmente a bondosa e austera figur a do grande Oapuchi--
nho e ouvir o t om profético de suas candentes apóstrofes 
aos pecadores, am01ncebados, adúlteros, protestantes, es· 
piritas, acenando-lhes com voz vibr01nte a consequência ine. 
vitável de suas vidas transviadas: O I nterno. 
Laureado na Universidade Gregoriana de Roma, em 
Teologm D ogmática e Filosofm, Bacharel m Direito Oar 
n6nico e por vários anos erudito pro f s8or d< agrada E • 
critura, Frei Da;mião, 'f.t cvndo tl(' um<t 1 'nn~tng ~m im.plas, 
compreensível, adaptada, ( 1'( '!>udm; tw 1rr 1' nc 1ana, " r al~ 
mct1lc admirável na ltu1imr, t•rrucJa, dt :mn arm.(,m n~ 
ç '.0 <' nas conclu ões . , W1JI't· dm'<' , tw a/ ·am,c do todos. 
A 16m da firmeza til t m I t ., a, da lógica imp cálvel 9 
tta Nirnpli 1dad d • /IH m,, /1 u. avmt(,, n '.'~te liv ro outra 
mwFtlatll dl 'nc. tirn(l'm I 'lmlm c11w constitue a Bua. alma: 
Jt- ~nalmlwm lo a. 'IJ ,,,,,. doH 8anto . 
H1w 'tnrl.udt 'm 'dmlt "Jt'Cf'Yn 'nte excepcional:~ que é o 
:tear do til '/ktw " d 1U1H missões, perfuma t(Jdas as 
páginax, t'Hf' la.7't 'Ot lodoH o. argumentos, fortalece tôdas as 
conolu,s6 . ' lnw forma em poderoso motivo para. a 
'IWnlcut que def oode com tanta convic .. 
E' que ua vfdn, seus exemplos, suas palavras são 
a melhor demon t ração das verdades que prega. 
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EM DEFESA DA FÉ é poi8 um livro precioso que fa-
la à int-eligéncia e ao coração, destinado a opor um dique 
intranspon,veZ à onda avassaladora de corrução com que 
a heresia de l.tutero ameaça as mais esplêndidas tradições 
ào Brasil católico 
E' assim que Frei Damião, visando unicamente o bem 
àas almas, multiplica-se a si mesmo, perpetuando no tempo 
e no esp(J.{;o as suas grandes mi8sões em defesa da fé 
que cimentou os alicerces da nacionalidade e que recebe-
mos., como preciosa herança, dos nossos antepassados, para 
construir na solidez dos seus principio a f~licidade do nos-
so futuro. 
Recife, 20 de agosto dC' 1953. 
FREI OTAVIO DE TERH.INCA, ofmcap. 
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1 
, A VERDADEffiA REGRA DE FÉ 
R EGRA DE FÉ: meio lógico, objetivo, pelo qual podemos conhecer as verdades reveladas por 
Deus. 
Nosso Senhor Jesus Cristo ensinou ao mundo a 
sua doutrina, exigindo que todos a a)lraçassem sob 
pena de condenação eterna. Logo nos deve ter deixa-
do um meio fácil e seguro para conhecermos esta 
doutrina. 
Qual êste meio? 
Segundo os protestantes é a Biblia ta). qual é 
compreendida por cada indivíduo, ignorante ou douto. 
Segundo os católicos, é um . magistério vivo, 
autêntico, infalivel, isto é, a Igreja docente, consti-
tuida por Jesus Cristo depositária das verdades re-
veladas. E a,s fontes, onde ssa Igreja vai haurir os 
ensinan1cutos de Jc ·us Cristo, são a Bíblia e a 
Tradição. 
Onde a razão? V jnmo-lo. Neste capítulo vamos 
apenas provar a tese católica. 
a) Dizemos, a,ntes de tudo, que Jesus, para dar 
a conhecer ao mundo a· sua doutrina, constituiu um 
magistério vivo, isto é, escolheu certo número de 
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FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
homens, aos quais confiou o munus e o ofício de 
pregar a sua doutlina, obrigando todo o mundo a 
neles crer. Eis a~ provas: 
I . 
«Foi-I]!e. da<Jo todo q poder no céu e na terra· .. 
Ide pois, mtrui as gentes ••• ensinando-as a ob-
servar tudo o que voo mandei; e eis que eu estou con-
~o~co 'Íodos···üs dias até à consumação dos séculos». 
'(Mt. 28, '18)' . 
Ainda mais: «Ide, pregai o • v ngelho por todo 
o--mundo. Quem! crer f 11~ h ti.z do rá salvo, quem 
rlão crer, s rá cond ~nn.<lo». (M . 10, 16 ). 
-., · <<Qu m v s ouv~, ' Jni tv . Quem vos re-
jeita, a num r .1 ila, <JU 1 1n .i ila, r jeita aquele 
que me nviou». (L . 10,16 ). 
Por es tas· palavras deu · o Apóstolos e somente 
a êles o ofício de pregarem o s u Evangelho; de 
fato, quando se tratou de coloca.r Matias no lugar de 
Judas que tinha prevaricado, afim de que pudesse 
pregar o Evangelho com os demais apóstolos, recor-
reu-se a uiD:a eleição. (Atos, 1, 23 ). Ora, esta não teria 
sido necessária, se Jesus tivesse confiado ~ todos os 
cristãos o ofício de pregar o Evangelho, pois Matias, 
já mesmo antes da eleição, era cristão, discípulo de 
Jesus Cristo. 
Se, pois, foi preciso uma eleição, quer isto dizer 
que Jesus· Cristo confiou sÕlmente aos apóstolos o 
ofício de pregar o seu Evangelho. 
E os apóstolos compreenderam desta maneira 
e,s palavras de Jesus, isto é, que ~le lhes tinha im~ 
posto o munus e o ofício de pregar a sua doutrina. 
Por isso S. Marcos acrescenta: «rues, os apóstolps, 
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10 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
partiram e pregaram por tôda a· parte». Me. 16, 20). 
Eis, pois, o meio escolhido por Nosso Senhor · 
para difundir a sua doutrina,: o magistério dos após-
tolos; êles devem ensinar, pregar esta doutrina e 
todo o mundo deve acreditar nos seus enSinamentos. 
b) Dizemos, além disso, que "ste magistério vi-
vo, por vontade de Jesus, devia <lura,r até o fim dos 
séculos, ou por outras palavra , " te munus, êste 
ofício, que os discípulos r ccbcram, não devia aca-
bar com1 a morte dêles, 1nas d vin ser transmitido 
aos seus sucessores. 
Com ~feito Jc us diz: Foi~tn dado todo o po-
der no céu e nn t rrn. d<, loi ', instrui tôda.s as 
gentes. . . ensinando·: n oh. ( 1 v r tudo o que vos 
mandei. E eis qu n •s I Ol um os o todos os dias 
até à consumação dos 'cu los . (Mt. 28, 18 ). 
Mas não sabia Nosso S nhor CJll os Apóstolos. 
não poderiam ficar neste mundo té o fim dos sé-
culos, para ensinar a, tôdas 'aS' nt a sua doutri; 
na·? Sem dúvida· o sabia. 
Portanto, ~le aqui falou aos Apóstolos, como a 
pessoas que deveriam te~ suces or s até o fim dos 
séculos · no magistério de pregar Evangelho, de 
ensinar ~ sua dou trina. · 
E os Apóstolos, fiéis executores do pensamento· 
do divino Mestre, tinham cuidado de deixar quem 
continuasse o seu magistério. Por isso S. Paulo es-
creve a 'Timóteo: «0 que de mim ouviste por mui-
tas testemunhas, ensina-o a homens fiéis, que se 
tonrem idôneos para ensinar a outros». ,(ll Tiro ... 
Cap. 2. v. 2.) 
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EM DEFESA DA Fn 
c) Dizemos, enfim, que êste magistério vivo. 
é infa)ível, isto é,.· não pode ensinar ·êrro algum s 
bre a fé ou sôbre a- moral. 
- Com efeito, consideremos as palavras evan-
gélicas: 
.:Foi-me dado, diz Jesus, todo o poder no céu e 
na terra. Ide, pois, instrui a tôdas as gentes. . . ensi-
nando-as a, observar tudo o que vos mandei. E eis que 
eu estou convosco todos os dias até à consumação 
dos séculos». (Mt. 28, 18 ). 
Como vemos, Jesus aqui impõe aos Apóstolos e 
aos seus· sucessores ensinar tudo o que rue ensinou e· 
ensiná-lo até o fim dos séculos. E como esta fôra 
uma empresa superior a ·simples fôrças human~,. 
promete-lhes a: ·sua assis-tência onipotente. 
Ora, será possível que um magistério,
assistido 
pela própria verdade que. é Cristo, possa errar? Não· 
é possível. 
Portanto, a Igreja, assistida por Cristo, é infa-
lível. 
Jesus diz ainda: «Quem vos ouve., a mim me· 
ouve; quem vos rejeita, a mim me rejeita e quem 
me r jeita, rejeita Aqu·ele que me enviou». (Lc. 10,16) 
Porventura, ouvir a Jesus, não é ouvir ensin~­
mentos infalíveis? 
Ora rue afirma que aquele que ouve aos Após-
tolos e aos seus suooss-ores. isto é, à Igreja docente,. 
o ouve a :rue mesmo. 
Portanto quem ouve a Igreja, ouve ensinamen-
tos infalíveis. 
-O mesmo repete Jesus naquela pa.ssagem que 
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12 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
lemos em S. João (14, 16 e 26) «Eu rogarei ao Pai 
-e itle vos dará outro Consolador, para que fique 
·-eternamente convosco, o Espírito de verdade. • • rue 
vos ensinará tôdas as coisas e vos recordará tudo 
·'O que vos tenho dito». 
Pois bem, é possível o êrro onde está o Espírito 
-de verdade, que ensina, e recorda tudo o que Jesus 
·tem ensinado? Impossível. 
Ora Jesus afirma qu o ~ pirito da verdade fica-
cará eternamente com os Apóstolos c os seus suces-
·sores e ensinará e r co dará 'ludo o que ~le tem 
~ensinado. 
Portanto com o Apóstolos e com os seus suces-
,sores não pod lar o êrro, logo são infalíveis. 
- Finahn nt , Jesus: diz: «Ide, pregai o Eva,n-
gelho por todo o mundo; quem crer, e foil' batizado, 
·será salvo; quem não crer será condenado». 
'(Me. 16, 15 ). 
Ora, pergunto eu, será possível que Deus im-
ponha a · to~o o mundo acreditar tno êrro sob pena 
·de condenação eterna? Não: isto repugnaria. à sua 
justiça, à sua santidade, à sua veracidade. 
Portanto, Jesus impondo ao mundo a obrigação 
.'(}e acreditar no que ensina a, Igreja sob pena de con-
dena·ção eterna, ao mesmo tempo dava a esta mesma 
Igreja a infalibilidade, afim de que nunca pudesse 
erra,r. 
- Tudo isto é confirmado pelo Apóstolo S. 
Paulo quando chama a Igreja: «coluna e alicerce da 
'Verdade». (I Tim. 3, 15 ). 
E' claro, com efeito, que a Igreja não poderia. 
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EM Dl!FES.A HA I _______ 13.• 
ser coluna e alicerce da verd· dt, se ensinasse o ên'o 
e a superstição. 
· Eis portanto, provada pcl Bíblia a primeira 
parte da tese católica,. 
--~~~}::· I Y,: •, t 
• 
Passemos a provar a segunda parte que sustenta 
serem duas as fontes, onde a Igreja vai ·haurir üs 
ensina:ri1entos de Jesus: a divina Escritura, e a Tra ... 
dição. 
. A Divi:ool Escritura, é ·a palavra de Deus contida 
nos livros por rue inspirados. Chama!-se também Bí-
blia: que significa: livr~ dos liVrOS, livro por exce-
lência. 
A Tradição é também 3 1 palavra c 1< D us que não fo~ escrita, mas ensjnada de viv: oz po1~ J€sus 
Cristo .e pelos Apóstolos. . 
t. . • 
. Existe esta . tradição, ou por unia· '~ palavras, 
existem verdades reveladas que não • t ·ham con-
tida,s na Bíblia? E~istem. A própri n h lia o. decla-
ra. Eis, por. e~ellll!plo, como fala S. t• mJo na· sua 2~ 
epístola: aos Tess. 2, 4: «Estai firm<· • nt•tos, e con-
s~rvai as · tradições que aprendeste~ o11 cl< viva voz 
ou . ~r epísto~a nossa». 
E :no cap. ill, ·6 acrescenta.: «N,, o prescre-
:vemos; ·em nome de N. S. Jesus ( ·•·• lo, que vos 
aparteis: de todos os irmãos que and '"' cl(•sordenada .. 
mente e · não segundo a tradição CJIH receberam 
de DÓS» .• 
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FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
E na sua 24 epístola a Tim. escreve: ~o que de 
mim ou vis tes por muita.s restem unhas, ensina-o a 
bomens fiéis, que se to~em idôneos para ensinar 
a: outros~. 
E no capítulo I vers. 13 exorta ao mesmo Timó-
teo: 
«Toma por modêlo as santas palavras que me 
tens ouvido na fé'>. 
E na l.~to epístola aos Cor. 11, 2, eongra,tula-se 
-com os fiéis, porque haviam o ervado as suas ins-
truções: «Eu vos louvo, irm~oR, porque em tudo vos 
lembrais de mim e gu. rd i minhas instruções, 
como eu vo-las n ine·». n qt ·nstruções fala aqui 
o Apóstolo? Sem dúvidt f la d instruções dadas de 
viva voz, já que era esta a p i1n ira epístola que lhes 
·enviava. 
Como S. Paulo, assim também fala S. João, 
qu-ando diz no seu Evangelho: «Muitas outras coi-
sa,s há que fêz Jesus, s·e elas fôssem1 escritas uma po:r 
uma, suponho que nem no mundo inteiro caberiam os 
livros que se escrevessem». ( Jo. 21, 25) e quando, 
c<?ncluindo as suas últimas epístolas, diz claramente 
que não quis confiar tudo à tinta e ao papel, deixaR-
do para fa,zê-lo de viva voz. 
Os citados textos e outros, que podería,mos ale-
gar nos demonstram que nem tudo o que ensinaram 
Jesus e os discípulos, foi escrito: há verdades que 
ensinaram de viva voz; e por isso mesmo a tradiçã 
existe. 
Com razão;, pois, a Igreja vai haurir ·os ensina._ 
mentos de Jesus na Divina Escritura e na Tradição. 
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REGRA DE FE' PROTESTANTE 
RA DE FE': meio estabelecido por Nosso 
Senhor, para dar a conhecer ao mundo a sua 
I c u trina. 
No capítulo precedente de:rnonstra,mos qu·e êste 
ndo é um magistério vivo, autêntico, infalível, isto 
' I a-eja: Docente; e demonstramos também que as 
ont , onde essa Igreja vai haurir os ensinamentos 
dt. Cristo, são a Divina EscritUra e a Tradição. 
Os protesta,ntes, porém, não concordam conos-
'o; se undo êles a única ·regra de fé é a Bíblia, tal 
«ltml é compreendida por cada indivíduo, seja igne-
t( ou sábio. 
Portanto lll'ão há Tradição, isto é, verdades de fé 
c n. in ul• · somente de viva voz; tudo o que Nosso 
, ·ulm · nsinou, se acha na Bíblia. Nem há um ma-
• lt' ••o vivo, infalível, que tenha direito de interpre-
l u a Híhlin e de impor 30S outros a sua: interpreta-
c u : " uJ • qual pode interpretá-la como entender. 
Va nos r futar esta doutrina. 
O prot s tantes dizem, em primeiro luga,r, que 
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16 FREI DAMIÃO DB BOZZANO 
o meio, pelo qual podemos conh·ecer a doutrina de 
Nosso S€nhor é tão sàmente a Bíblia. 
Respondo: 
- Se assim fôsse, dever-se-ia encontrar na Bí-
blia esta verdade, visto como seria de suma impor-
tância conhecê-la. 
Ora., pelo contrário, ninguém até hoje a encon-
trou nem jamais a encontrará, porque na Bíblia não 
figura. 
E', pois, esta uma afinnação gratúita dos pro-
testantes. 
- Se Nosso Setlhor pretendesse nos deixar a 
Bíblia como Regra, de fé, is1o é, como meio para 
conhecermos a sua doutrina, deveria ter dito a.os 
Apóstolos: . 
Ide, escrevei Bíblias para tôdas as nações; pelo 
contrário disse: Ide, por todo o mundo, pregai o 
Evangelho a tôda criatura,~. (Me. 16, 15 ). 
Não foi, pois, sua intenção deixar-nos a Bíblia 
como Regra de fé. 
E confirmou-'0 também com o exemplo. 
Com efeito, quando Saulo na estrada de Damas-
co, lhe perguntou: -Senhor, que queres Tu que eu 
faça? - ~le não respondeu: «Lê a Bíblia» e sim: 
- «Levanta-te, entra na cidade e aí te será dito 
o que deves fazer». (Atos, 9, 7 ). 
- S. Paulo falava da mesm'aJ forma na sua 
epístola aos roma,nos. ( cap. 10, 14 ). 
Sem fé, diz êle, é impos'Sível agradar a. Deus:.. 
Mas qual o meio para chegar à fé? 
A Bíblia? Não. E' a pregação dos que foram 
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EM DEFESA DA Fa 17 
t•nvindos a pregar. E conclue: «Logo a fé pelo ouvi-
do, , o ouvido pela, palavra de Cr~to». 
- De resto a própria razão nos diz que Jesus 
não podia deixar-nos a Bíblia como única Regra 
de fé. 
De f a to, :f:le quer que todos os homens conhe-
çam e professem a sua doutrina. Mas se para isso, 
fôsse necessária a leitura, da Bíblia, como poderiam 
então os arialfa,betos e os que não podem comprar 
uma Bíblia, conhecer e professar a doutrina de Jesus 
Cristo? 
Todos êstes (e são a maior parte do gênero 
humano) não poderiam ser cristãos. 
Não digam os protestantes, que é basta.nte
para 
os analfabetos que seus pastores lhes leiam e lhes 
expliquem a Bíblia. Essas explicações, segundo a 
doutrina dos protestantes não passam de opiniões 
individuais, que não têm autorida,de alguma e va-
riani segundo o capricho de cada um. Não são a pa-
lavra de Deus, e sim a palavra de Fulano, de Beltra-
no, de Sicrano. 
Por isso, repito-o, se fôsse verdade, ' como di-
zem os protestantes, que o único meio, pa,ra chegar-
mos à fé, é a leitura da Bíblia, os analfabetos nun-
ca poderiam ser cristãos. 
Será possível que Jesus tenha estabelecido êst-e 
meio para nos dar a conhecer a sua, doutrina? 
Além disso, se a Bíblia fôsse a única Regra de 
fé, como poderíamos conhecer com certeza qual é o 
verdadeiro sentido dos passos difíceis? 
:Z - EM DEFESA ••• 
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18 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
Por exemplo: quanto às pala,vras, com que Jesus 
instituiu a SS. Eucaristia, a Ig11eja Católica dá um:a 
explicação, e as s·eitas protestantes dão, pelo menos, 
duzentas, cada uma sustentando que a, sua é a ver-
dadeira. 
Agora quem é que tem razão? Pela Bíblia é 
impossível resolver a questão, pois a Bíblia é muda 
(' n ninguém diz: Tu enxergas o verdadeiro sentido 
clt• nainhns pa,lavras e todos os outros: estão no êrro. 
Pm·tnnto, 'Se a Bíblia fôsse a única regra de fé, 
li 111 P<Hkl'iamos conhecer com certeza o verdadeiro 
•r li ido dos passos difíceis da mesma. 
Mns Jesus quer que conheçamos com certeza 'tô-
d:~ Mttn doutrina, tôda.s as verdades que :ttle ensinou, 
lnnlo ns fáceis, como as difíceis. 
I •:' impossível, pois, que nos tenha deixado a 
Bihlía como única Régra de fé. 
Em segl,lndo lugar dizem os protestantes que 
nfio existe a tradição: 'tôdas as verdades revela,da'~ 
l'l(1 ncham na Bíblia. 
Mas quais são as razões que alegam para provar 
( 'HS:l H,sserção? Ouçamo-las e vejamos quanto valem. 
S. Paulo na sua 2."' Epístola 'a, Timóteo ( 3, 15) 
•liz qu' «tôdas as Esqrituras são úteis e que elas po-
cl< •tn ins·lruir para, a ~vação». 
Uesp. - Se o referido texto dissesse, que a Es-
•·r·ihtrll sô, torna o homem instruido em tôdas a,s 
c•ui 11 ru•t•<•ssárias para a salvação, então sim, a ob-
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EM DEFESA DA Fn 19 
]eçao seria irrefutável; mas dizendo 'simplesmente: 
«Tôdas as Escrituras são úteis e podem instruir 
para a sa~vação» não exclue que a Tradição o seja da 
mesma forma. 
Ma'S replicam,- é certo que Jesus em 'Me. cap. 
7, 15 e Mt. cap. 15, 9 rejeita a tradição, dizendo: 
«E vós também, porque transgredis o mandamen-
to de Deus pela vossa tradição». 
«Em vão, pois, me honra,m, ensinando doutri-
nas e mandamentos que vêm dos homens». 
Os referidos textos nada provam contra a tradi-
ção: pois Jesus rejeita as doutrinas e os mandamen-
tos que vêm dos homens, que são feitos pelos hO-
mens, sem que tivessem autoridade para fazê-los. 
Ora,, pelo contrário, a tradição para a qual apel!ll 
a Igreja Católica e que ela: reconhece como segunda 
fonte de verdade revelada, não contêm doutrinas e 
mandamentos que vêm dos h01mens, mas do pró-
prio Deus; pois a tradição no sentido católico é: 
Certas verda,des reveladas que Jesus Cristo e os Após-
tolos ensinaram de viva voz e não por escrito e que, 
por isso mesmo, não' se acham na Bíblia. 
Map insistem os protestantes: Não' escreveu Moi-
sés ( Pen. 4, 2): «Não acresc€1Iltareis nada ao que vos 
digo»? - Não escreveu S. João no Apocalipse (22 
18) «Se qualquer acrescentar a~guma palavra a estas 
coisas, que Deus faça cair sôbre êle os flagelos des-
critos neste livro?» Não escreveu S. Paulo ( Gal. 1,8 )~ 
«Mas ainda que nós mesmos ou um anjo do céu v08 
anuncie um Evangelho diferente do que vos anuncia-
mos, seja a,nátema»? 
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20 , F~l DAMIÃO DE BOZZANO 
Resp. - Sim, escreveram tudo isto. &ses tex-
tos, porém nada provam contra a tradição: afirmam 
somente que a divina Escritura não deve ser a.dul-
terada:. 
Como estas, assim tamb-ém são as outras razões 
que os protes tan.tes alegam contra a tradição, ra-
zões que nada, valem em si mesmas; e por isso bem 
podemos dizer que é outra afirmação gratúita dos 
protestantes o não existir a tradição. 
Afirmação gra túita? Não só. Mas também afir-
mação contrária à realidade. 
Com efeito, se fôss vcrdn,de que tudo o 'que en-
sinaram Jesus e os Ap6 tolo' ncha na Bíblia e que, 
consequentemente, não is L lrndi 7 o, na Bíblia de--
veríamos encontrar quantos qn i ão os Livros ms-
pirados, pois são ambas verdad r veladas. 
Ma,s onde se encontram? 
Já dirigi esta pergunta a um p tor protestante 
e como resposta alegou êle o t xto: «Tôda a Escrfu... 
tura divinamente inspirada é útil para ensinar, para 
repreender, ·para, corrigir, para formar na justiça:» 
(ll Tim. 3, 16). 
Ora cada qual pode ver qu o texto acima não 
vem ao caso. Se S. Paulo tivesse dito: «Tôda Escri-
tura que se compõe de tais e tantos livros, etc.» en-
tão sim, poderíamos por "sscs textos conhecer quais 
e quantos são os livros, qu compõem a Bíblia,. Mas 
tendo dito simplesmente: «Tôda a Escritura divina-
mente inspirada é úÜI, etc.» é necessário procura:r 
em outra parte quais e quantos são os livros inspi-
rados. Onde? Na Bíblia? Não, na Bíblia não figuram 
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EM DEFESA DA FB 21 
estas duas verdades. Devemos procurá-las na tradi-
ção; 'SÓ ela diz quais e quantos são os livros inspira-
dos; e portanto, existem verdades· reveladas, que não 
se acham na Bíblia, que é como dizer: A trailição 
existe. 
Poderíamos também acrescentar que a afirmação 
dos protestantes, além de ser gratúita e contrária 
à realidade, é também contrária aos ensinamentos 
claros da Bíblia, visto que a Bíblia fala em _tra,dição. 
Dispenso-me, porém, de alegar textos, como pro-
va disto, tendo-os alegado na exposição da tese ca· 
tólica. 
Por fim dizem os protestantes que cada quaJ 
tem o direito de interpretar a Bíblia conforme en-
tender. 
Mas também isto como podem demonstrá-lo? 
Sei que alegam as palavras que lemos no cap. 
5, 39 de S. João: «Examina,i as Escrituras, pois jul-
gais ter nelas a salvação ... :. 
Note-se, porém, que as alegam adulteradas, vis-
to que Jesus não diz: «Examinai as Escritura.s·. ~-- :. 
e sim: «Vós examinais as Escrituras ... » Portanto 
e~tas pa~avras não cotêm uma ordem, como querem os 
os protestantes, mas apenas indicam, enunciam um 
fa,to. Os hebreus não queriam conhecê-Lo como o 
enviado de Deus; então Jesus, para lhes mostrar que 
era verdadeiramente o Messias, apela para o testemu-
nho do Pai, para o testemunho de S. João Batist~ 
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22 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
para o testemunho da,s obras que cumpriu e, por fim 
eom um argumento ad homin(lm, diz: «Vós exami-
nais as Escrituras, julgando ter nelas a salvação, pois 
bem, são elas que dão testem unho de mim». 
Qualquer pessoa pode reconhecer que Jesus aqui 
a. ninguém impõe um preceito de ler as Escritura.s 
e de interpretá-las como entender. 
Bem longe de dar êste direito, reprova-o pela 
boca de S. Pedro. 
De fato São Pedro (II epis. 1, 19) depois de ter 
recomendado. . . e tc., a leitura e a medita,ção da Sa-
grada Escritura, acrescenta. logo que ninguém deve 
ter a pretenção de a interpretar por autoridade pró-
pria. Tendo a Deus por autor, só Deus pode expli-
• 'OP!lTI;}S 0.11;}p'cp.I;}A U;}S O .Itr.> 
De que maneira o explica? Por meio de sua Igre-
ja, como provamos na. tese católica. 
O que é confirmado ·também pelo exemplo que 
lemos nos Atos dos Apóstolos ( cap. 15 ). Os judeus 
e os habitantes de Antioquia, fiando-se na sua pró-
pria razão, julgaram a circuncisão necessária. Saulo 
~ Barna,bé pensavam de outro modo. 
Apelaram para o livre exame, ou para o Bíblia 
interpretada por particulares? Não. Enviaram
uma 
deputação, COliDI Saulo e Ba;rnabé, para consultar os 
pastores da Igreja de Jerusalém, e êstes decidiram a 
questão sob a inspiração do Espírito Santo. 
- Mas não é preciso acrescentar argumentos, 
para provar que os protesta,ntes não têm razão em 
sustentar que cada qual tem o direito de explicar a 
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EM DEFESA DA Fn 11 
Bíblia como entender: o próprio bom senso rcp •le 
êste absurdo. 
Explicar-me-ei com uma eomparação: 
O Brasil tem o seu código de leis. Todos podem 
ler êste código. 
Mas quem é que o pode interpretar a,utentica-
mente? 
Por exemplo: nasce uma questão entre Fulano e 
Sicrano. Fulano exige para si uma herança, interpre-
tando -dUJma forma a lei do código civil; Sicrano tam-
bém exige pa;ra si a mesma herança, interpretan-
do de outra forma .a mesma lei. 
Agora quem é que pode resolver a questão e 
dizer: 
A lei deve s~r interpretada a.ssim e assim; por-
tanto a herança pertence a Fulano e não a Sicrano? 
E' uma, pessoa qualquer ou é um Tribunal, uma 
autoridade legitimamente constituída? Até um me-
nino me, responderia que é um Tribunal, visto que 
a razão demonstra claramente 'que, se um legislador 
deixasse as suas leis à livre interpretação de 1odos 
os cidadãos, poria a, desordem e a: confusão no seu 
país. 
Pois_ bem: a Bíblia é o código de Deus. Teria 
rue deixado êste código à livre interpretação de 
todos? Nesse caso :seria menos os·ábio do que qual-
quer legislador humano. Sendo, pelo contrário, in-
finitamente mais sábio do que todos os legislado-
res, ·a própria razão nos diz que é impossível que 
tenha deixado a Bíblia à livre interpretação de 
todos. 
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24 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
- Para melhor compreensão disto, veja-sé a 
que tristes consequências já tem levado no passado 
e ainda pode levar no futuro ai livre interpretação 
da Bíblia. I 
Os anabatistas: de Munste.r, e depois dêles mui-
tos outros, das palavras do Senhor: «Crescei e mul-
tiplicai-vos» tiraram como conclusão necessária 3. 
legitimidade da policramia. Foi bas·eado, não sei em 
que passagem do Ev·1n lho, que Lutero permitiu 
a Filipe d Hes n t r dn mulheres ao mesmo tem-
po. João de L yd d(~scohriu, lendo a Bíblia,, que de-
via despo r 1 Z<' nmiJ 'rc s ao m smo tempo. Her-
mann ali (l s ·ohl'in <JlH' f>J ra o Messias enviado 
por Deus. Ni ·ol111, qn tud qne t m relação com 
~ fé é desnco ssúr·i<) < qu 5 d viver em pecado 
afmi de qu · •t traca . UJH .I't hund : Sympson, que 
se deve andar rnú ptl: H nms p, rn convencer aos ri-
cos que ·devem r d Hpojn,d s de tudo. 
E, para diz rn os tudo numa palavra, não há 
crime abo in,. ão qne n~ o tenha encontrado sua 
pretendida ju tifi n f o < tn qualquer texto da Bíblia 
interpretado pelo pirito privado, fóra da autorida-
de tutelar da Igr ja tólica,. 
Façan'los aqui ponto e seja esta a nossa con-
clusão: A única regr de fé ~ão é a Bíblia, inter-
pretada, como cada qual entender. A ·única regra de 
fé é o magistério da Igreja; e as fontes, onde ela· vai 
haurir os ensinamentos de Jesus, são a Bíblia e a 
Tra~ição. 
Felizes ~ que seguem esta Doutrina. 
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I I I 
A VERDADEmA IGREJA 
Á. VIMOS que, pa;ra conhecer a doutrina de Jesus 
Cristo, devemos ouvir a sua Igreja, e não sim-
plesmente folhear a Bíblia, interpretando-a livremen-
te, como pretendem os protestantes. 
Mas quaJ a verdadeira Igreja fundada por Nossa 
I 
Senhor? 
A nossa, isto é, a Igreja governada por Pedro 
sempre vivente nos seus legítimos sucessores, que 
são os Papas. 
Para que apareça claramente esta verdade., é ne-
cessário provar três pontos: 
.I - Que Jesus Cristo fundou a. sua Igreja e en-
tregou o seu govêrno a Pedro. 
li - Que foi vontade de Jesus que Pedro trans-
mitisse o govêrno da Igreja aos seus sucessores. 
ID- Que os suéessores de Pedro são os Papas 
Nesse capítulo vou demonstrar o primeiro ponto, 
cujas provas são claras no Evangelho, a não ser que 
alguém queira por si esmo enga,nar-se. 
a) A primeira !Il<>S é oferecida pelas palavras· que 
N. Senhor dirigiu a S. Pedro após ter êle confessado 
a sua divindade. 
/. http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
.:Tu és Pedro e sôbre esta pedra edificarei a, mi-
nha Igreja e as portas do inferno não prevalecerão 
contra ela». (M1. 16, 18 ). 
Observai: 
:rue compara a sua Igreja, isto é, a sociedade 
cristã, a, um edifício e diz que o fundamento, a pedra 
sôbre a qual construirá êste edifíci(), será Pedro. 
Ora o qu é o fundamento duma sociedade, ou, 
por outras pala,vras, o qu é qu sustenta, conserva 
e rege uma soei dade, im com fundamento con-
serva, sustenta e rege um difí io? 
E' o poder, a autoridad uprema. 
Tirai, por exemplo, o p d r · n tr I que nos re-
ge, e esta sociedade política, qu hama. Brasil, 
se desmorona, acaba-se. 
Até mesmo uma família, qu ' uma sociedade 
tão pequena, exige um chefe qu gov rn ; se numa 
família o .pai quiser uma, coisa, a mã outra, e os 
filhos se negarem a obedecer, aqu la f .milia se tor-
nará uma verdadeira babel. 
E', pois, certo que o fundam n t de uma socie-
dade é o poder, a autorida,de supr ma. 
Portanto, dizendo Jesus a P dro que o consti 
·tuiria pedra fundamental da sua Igr ja, outra coi-
sa não lhe quís dizer senão qu Ih cn tregaria a auto-
ridade suprem~ nesta mesma Igr ja. 
Mas, dizem os protestantes, a pedra sôbre a 
qual foi edificada a Igreja, é o próprio Jesus Cristo 
Ninguém jamais o contestou, visto que a pró-
pria Bíblia Q afinna clara;mente. 
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EM DEFESA DA F:a 2 7 
Mas não é êste o ponto da controvérsia. 
Trata-se de conhecer se também Simão Pedro, 
por vontade de Jesus Cristo, é pedra fundamental 
da sua Igreja. 
Ora, o texto eva,ngélico não deixa dúvida algu-
ma a respeito, porque, note-se bem, J•esus falou a 
Pedro em aramaico e as palavras que lhe dirigiu, 
traduzidas ao pé da letra, diriam: Tu és um rochedo 
e sôbre êste rochedo edificarei a, minha Igreja. 
Palavras estas que nos fazem compreender ela · 
ramente que o rochedo, sôbre o qual quís Jesus edi-
ficar a sua I~eja, é o próprio Pedro. 
Para melhor compreensão disto, vou alegar a 
compara,ção de um autor moderno: 
- Eu digo: O Corcovado é um rochedo e sô-
bre êste rochedo foi levantado um' monumento a 
Cristo Redentor. - Como se entende esta proposi-
ção? Acaso o rochedo sôbre o qual foi levantado um 
monumento a Cristo Redentor, não é o próprio Cor-
covado? 
Pois bem, o texto evangélico é do mesmo feitio: 
Jesus disse a São Pedro: Tu és um rochedo, e sôbre 
êste rochedo edificarei a minha Igreja. 
Não há, pois dúvida a)guma: o rochedo aqui é 
Pedro. 
E se Pedro é o rochedo da Igreja, repito-o, ne-
la tem o poder supremo, visto que o poder é o fun-
damento, o rochedo que sustenta e conserva a so-
ciedade. 
Nem se diga que neste caso há contradição na 
Sagrada Escritura, afirmando em outro luga,r qu 
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EM DEFESA DA ~ 29 
a pedra fundamental da Igreja é Jesus Cristo, pois 
não é no mesmo sentido que isto se diz de J-esus e de 
Pedro. Jesus é pedra fundamental por essência. Si-
mão Pedro por participação; Jesus, pedra invisível, 
Simão, pedra, visível. 
h) E tanto é êste o sentido · do Salvador, que rue 
mesmo o exprime por outros termos não menos -
significativos: 
«Dar-te-ei, diz rue ainda a S. Pedro, as chaves 
do reino dos céus». 
Jesus chama frequentemente a sua Igreja - rei-
no dos céus - porque fundou esta sociedade para 
conduzir os homens a.o reino dos céus, e afirma aqui 
que entregará as chaves dêste reino a Pedro. 
Com isto que quer significar? 
Quer significar que lhe entregará o govêrno 
dêste reino.
De fato, quem recebe chaves, fica encarregado-
da inspeção, cuidado e govêrno das coisas que elas 
guardam. Se eu, · por exemplo, querendo sa,ir para\ 
longe, entrego as chaves de minha casa a um amigo, 
por êste mesmo ato o encarrego do cuidado e govêr-
:ao da mesma. 
Ora, Jesus afirma, que entregará a: Pedro as· 
ehaves do reino dos céus, isto é, da sua Igreja. Logo 
afirma que lhe entregará o cuidado, o govêrno des-
sa Igreja. 
c) E como para dissipar 'tôda a dúvida, expli-
cando ainda melhor o seu pensamento, Jesus acres-
oenta: Tudo o que ligares na terra, será ligado tam--
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30 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
bém no céu, e tudo o que desligares na terra, será 
desligado também no céu. 
Ter poder de liga,r e desligar num~r sociedade, 
significa ter nela o poder de fazer leis; pois tôda 
lei impõe uma obrigação e tôda obrigação é um 
liame da consciência. 
Jesus prometendo, portanto, Pedro o poder de 
liga,r e desligar na ua Igr ja, Ih pr01neteu o poder 
de nela faz r l i . 
M s notai: <' iro pod fazer lôch s a leis que 
quiser, 1 qu< s< ja possív< 1 qnc < u lr poder huma-
no as anui , isto qu•t s<n o t'alificad s no éu: «Tu-
do o qu li nres nu I< rrn, .,< rú tnmhém no céu». 
Ora, p 1 gunlo u c tt<'Hl {· CfH<' nwna, sociedade . 
pode assiln f z r leis, senão qm rn I m n autoridade 
suprema? 
Logo Pedro tem c ta ~1ulo iclnch n. Igreja de 
Cristo. 
Mas, dirá alguéu:n, não d n Nosso Senhor êste 
mesmo poder de ligar e d lign r· : I >do · Apóstolos? 
(Mt. 18, 18-). 
Sim, é preciso porén), nolnr que a nenhum 
dos dema,.is Apóstolos rli s .J< sn. 1n singular: «Tudo 
o que ligares na terra, f!cr1\ li nd também no céu», 
mas dirigiu estas pai vrns a todos êles juntamente 
com Pedro, que já tinhn designado como chefe. 
Com êle podem, portnn lo, ligar e desligar na 
Igreja, mas não o pod m ~1 , independentemente . 
dêle. 
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EM DEFESA DA Fe 
Nosso Senhor, depois de ter prometido C< r 
a autoridade suprema na Igreja, lh'a entrega, dizen-
do-lhe: 
<<Apascenta os meus cordeiros, apascenta as mi-
nhas ovelhas». ( Jo. 21, 16 ). 
- Os .cordeiros, como explicam os sagra,dos in-
térpretes, são os simples fiéis; as ovelhas, os sa-
cerdotes, pois .assim como as ovelhas dão a vida 
aos cordeiros, do mesmo modo os sacerdotes dão a 
vida espiritual aos fiéis por meio dos Sacramentos e 
da prega,ção do Evangelho. 
Portanto, como vêdes, Pedro recebe o encargo 
de apascenta,r todo o rebanho de Cdsto, tanto ~s 
cordeiros, como as ovelhas, isto é, tanto os simples 
fiéis, como os próprios sacerdotes. 
Pois bem apascentar um rebanho, não é por-
ventura, o m·esmo que o dirigir, conduzir e governar? 
ogo, recebendo Pedro o · encargo de apascentar 
todo o rebanho de Cristo, recebe o encargo de diri-
,· 1 , conduzi-lo e governá-lo; e, por conseguinte, é 
o pr-íncipe, o soberanQ, o chefe supremo dês't·e rebanho. 
I or estas palavras, dizem os protestantes, Jesus 
qui: •tp nas restituir a Pedro o privilégio de apósto-
lo qu tinha perdido pela sua tríplioe negação na 
ca ·a de Gaifás. 
Resp. - Onde se encontra que Pedro, negando a 
Jesus, p rdeu .o privilégio de apóstolo? No Evange-
lho não figura. 
Todavia, 1nesmo admitindo esta suposição gra-
túita dos protestantes, respondemós que Pedro já 
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EM DEFESA DA Fa 
tinha sido reintegrado no apostolado anl 
besse o encargo de apascentar o reba,nho 1 
visto que a êle tamb~m no dia da ressurreição, No so 
Senhor dirigiu estas palavras: «Como o Pai me en-
viou a mim, assim eu também vos envio a vós». 
( Jo. 20, 21 ). 
- Mas, afinal, insistem ajn.da os protestantes, 
quando Nosso Senhor disse a S. Pedro: «Apascenta 
os meus cordeiros, apas·centa as minhas ovelhas», 
quis lhe dizer: apascenta o meu reba:nho, ensinando-
lhe a minha. doutrina. 
Resp. - No texto original grego, além da pala-
vra «hoske» que significa: apascenta, alimenta; há 
·também «Poimare tá prôbalta mou» que em nossa; 
'língua se tra.duz: apascenta com império as minhas 
ovelhas. 
Não há, pois, dúvida alguma: por estas pala-
vras Nosso Senhor entregou todo o rebanho a Pedro 
e, por conseguinte, o constituiu seu chefe supremo. 
E Pedro cônscio da sua autoridade, agiu como 
chefe supremo da Igreja: 
- No oonáculo é êle quem ordena preencher 
com a eleição de Ma tias a vaga aberta no Colégio dos 
Apóstolos pela traição de Judas. ( Act. 1, 13 ). 
- No dia de Pentecostes é êle quem fala ao 
público e promulga a lei da graça. (Act. 2, 14). 
- No Sinédrio é êle quem defende o Colégio 
apostólico pera.nte os príncipes dos sacerdotes. 
( Act. 5, 29 ). 
- ~le é o primeiro a perco;rrer e visitar as igre-
jas perseguidas. ( Act. 9, 25); a ensinar ·a admissão 
3 - EM DEFESA ••• 
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34 FR.El DAMIÃO DE BOZZANO 
dos pagãos no batismo (Act. 10, 11 ); a infligir cas-
tigos, fermdo de morte Ananias e Safira e excomun-
gando Simão, o mágico (Act. 5, 1-.8, 20). 
E no Concilio de Jerusalém, celeb~ado pelos 
Apóstolos, quem o preside e põe tenno às discussões, 
definindo a doutrina que se deve seguir? E' Pedro. 
~le fala e a sua decisão é acolhida com religioso 
silêncio. 
O próprio Tiago, que era bispÓ de Jerusalém, 
onde se 'achavam reunidos os Apóstolos·, não se le-
vanta . não para, repetir a decisão de Pedro e aquies-
cer à m s1n . (Act. 15, 7 ). 
Algum obj çõ 'S. A peso r· d tantas provas 
em favor de r o d r·o, nind \ hú qn m1 qu ira sus-
tentar que "lc 1 io foi c~o 1. liluid ·h ~ supremo da 
Igreja. 
Eis 'til~n1, s 1: zõ<'~ C f \I n,l g n1: 
Nos Ato <los p6. tol (8, 14) lemos que os 
Apóstolos, qu tnvnm ( 1 1 .To ts lém, tendo ouvido 
que a Samaria linh rc•c hid palavra de Deus, en-
viaram para lá 1 c<lr·< r .J oii . 
Ora, se envia on1 .nl um subalte1~no, não um 
superior. 
Resp. - E' f I . 11' dois modos de enviar: um 
por mandato, outro 1 r conselho. Os filhos não en-
viam frequentement os pais? O exército não envia 
o general? Pedro foi enviado por conselho, não por 
mandato. 
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----------..:.'M DEFESA DA Fn 
- São Paulo, 1 elo menos, não · onlu c•t 1 
São Pedro como h f e supremo da I · j ,, por qu 
o reprendeu públic mente em Antioquia (hp. 10 
Gálata.s, 2, 4). 
Resp. - Também um inferior em circun l· 1 
cias graves, pode e até deve corrig~ respeitosam -
te ao seu superior. 
São Pedro, tendo chegado em Antioquia judeus 
convertidos, por temor de escandalizá-los, pouco a 
pouco se foi subtraindo das refeições dos gentios e 
começou a adaptar-s·e por prudência às prescrições da_ 
lei mosáica. A sua conduta fez com que outros judeUB, 
que já tinham abandonado os seus ritos, os reto-
massem, lançando, desta maneira, confusão na: igre-
ja. de Antioquia, onde os judaizantes pretendiam que 
não se pudesse ser perfeito cristão, senão observando 
lei mosáica. 
Por êsse motivo, São Paulo, embora inferior, 
r preendeu a São Pedro. 
- De resto, que São Paulo reconhecesse o pri-
t 1ado de S~o Pedro, dão prova: as suas epístolas. Ci-
lt r i uma. 
Nt Epístola aos Gálatas, entre os quais alguém 
lhe eont tava a autoridade de Apóstolo, Paulo, para 
dt I n<l r· seu direito, apeia· para a autorida,de de 
in I dr· friza que, saido de Damasco depois de 
.. 11 <·nnv< t· ã , passados três anos, foi a Jerusalém 
mrn ('r a dro e ficou com êle quinze dia,s. E não 
viu ' n nhu outro dos apóstolos senão Tia o 
(Gnl. 1, 1R). 
P r· qn friza· o apóstolo êste fato? 
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36 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
Porque tem importância ter êle ido visitar a 
Pedro numa cidade .cujo bispo era Tiago? Sem dúvi-
da, porque Pedro' era superior a, Tiago e a Paulo; 
era, isto é, o chefe
da Cristandade. 
Por tudo o que acabam s de dizer, fica pois, pro-
vado que Jesus, fundando a u Igreja, lhe deu um 
chefe supremo na pessoa de Pedro. 
Querer negar esta verd ,d , significaria zombar 
das divinas Escrituras qu c nsinam claramente. 
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IV 
PERPETUIDADE DO PRIMADO 
V IMOS que Jesus, fundando a sua Igreja, lhe deu um chefe supremo oo pessoa de Pedro, or-
denando-lhe que a governasse. Agora se pergunta,: 
êste poder supremo que Pedro recebeu para governar 
a Igreja de Cristo, devia expirar com a sua morte, 
ou o recebeu para transmiti-lo aos seus sucessores? 
O Evangelho e a. própria razão nos respondem 
que o recebeu para transmiti-lo. 
Eis as provas: 
A Igreja, segundo o Evangelho, é um edifício, 
que há de durar até o fim dos séculos. Ora, P~dro é 
o fundamento de tal edifício. 
Logo, êle também há de durár até o fim dos sé-
culos, visto como um edifício não se pode con-
servar de pé sem fundamento. Mas, não sa,bia Jesus 
que Pedro não poderia· ficar neste mundo até o fim 
dos séculos, para ser o fundamento da sua Igreja? 
Sem dúvida o sabia. Portanto, ~le falou aqui a Pe-
dro, como a, Pessoa que deveria ter sucessore~ até 
o fim dos séculos no ministério de governar a Igre-
ja, afim de que fôsse sempre verdade que Êle, Pe-
dro, é o fundamento da Igreja de Cristo. 
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38 PRE.l DAMIÃO DE BOZZANO 
- N:0sso Senhor disse ainda a Pedro: «Apas-
, centa os meus cordeiros, apascenta as minhas ove-
lhas» ( J o. 21, 15) entrega,ndo-lhe, desta maneira, to-
do o seu rebanho, para que o governasse. Por quanto 
tempo? Jesus não p~ limitação alguma. Por isso 
Pedro deve governar êsse rebanho enquanto existir, 
isto é, até o fim dos séculos. E' preciso, pois que 
tenha sucessores, afim de que, por meio dêles, possa 
governar, até o fim dos séculos, o rebanho de Jesus. 
- De resto ~ própria razão nos diz que Pedro 
recebeu o govêrno supr mo da Igreja, para trans-
miti-lo aos seus su~ssores. 
Com efeito, tôda sociedade exige um1 chefe que 
a dirija e governe, tanto é verdade isto, que, quan-
do num país não há .mai quem mande, temos a de-
sordem, a revolução, a morte. Ora, Jesus Cristo fun-
dou a sua Igreja, como uma grande sociedade. E' 
possível que não lhe deixasse um chefe upremo que 
a dirigisse e governasse? Nesse caso cumpriria dizer 
que 1tle não proviu suficientemente a sua Igreja. 
Mas isto não pode ser. E' cla.ro, portanto, que Pedro 
recebeu o govêrno supremo da Igreja para transmiti-
lo aos seus sucessores, que devem durar, enquanto 
dura a Igreja, isto é, sempre, até o fim dos séculos. 
, 
Quem são os sucessores ~e São P~dro? 
) < • 
A história de todos os tempos- do cristianismo 
nos r~sponde que são os Papas. Ist0 é tão ~vidente 
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EM DEFESA DA Fa 
que não seria. preciso prová-lo. Todavia, se algn 1 t 
ousasse pô-lo em dúvida, atenda às provas. 
Lendo a história da Igreja, dois fatos incontes-
táveis se deparam aos nossos olhos: O primeiro é 
que os Papas, desde o tempo dos Apóstolos, governa-
ram ·tôda ·a Igreja, de Cristo, apelando ·para a sua 
autoridade de sucessores de São Pedro, o segundo 
é que tôda a Igrejá reconheceu ·êste govêrno e a 
. êle se sujeitou ~em um brad<> de protesto. Cóm éfei-
to observai: 
. . __:_ 30 anos depois da morte <~:e São Pedro, o 
Papa Clemente escreve aos Coríntios uma carta, con-
denando os abusos entre êles existentes e declarando 
que aquêle, que não lhe obedecesse, pecava grave-
mente; e os Coríntios não somente aceitaram a car-
ta, mas por muito tempo a leram nas suas reuniões. 
- No segundo século nasce no Oriente a dis-
cussão sôbre a celebração da, Páscoa: para alguns 
a páscoa era o 'aniversário da morte de Cristo, para 
outros, o aniversário da sua ressurreição. E S. Vitor 
papa põe termo à discussão, obrigando todos a se-
guirem o costume de Roma, s<>b pena de serem ex-
comungados. E' verda,de que alguns bispos se quei-
xaram desta n1edida enérgica usada contra as igre-
jas asiáticas, mas ninguém sonhou em dizer ao Pa-
pa: «Usurpas um poder que não tens sôbre tôda a 
Igreja». 
- No começo do 111 século S. Calix to condena 
os Montanistas, que negavam à Igreja o poder de 
perdoa,r certns pecados. 
No mesmo século na Ásia e na ·África se discute 
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EM DEFESA DA F!t ... 
sôbre a validade do ba tiSliDO conferido p lo h r j 'H; 
e o Papa Sto. Estevão resolve a controvérsia, d i-
dindo pelo valor daquele batismo; e a sua definição 
é aceita, mesmo por aqueles que tinham defendido a 
sentença oposta. 
- No século IV Júlio I decreta que nada se 
defina nos Concílios orientais sem o consentimento 
do Bispo de Roma. (Sócrates, hist. ecl. 2, 8-15 ). 
-No século V abre-se o Concílio de Éfeso, e Fe-
lipe, legado do Papa, assim fala diante de todos os 
bispos reunidos: «. . . Celestino, sucessor e substituto 
legítimo de São Pedro, nosso sa,nto e bem-aventurado 
papa, a êste Concilio ine envia con1o seu represen-
tante». 
- No século VI o papa Sto. Hormisdas impõe 
aos bispos do Oriente a subscrição de uma fórmula 
de fé. Neste docu1nento se afirma que na Séde ro-
mana, errn virtude d~ promessa do Salvador: Tu és 
Pedro etc .... , sempre s:e conserva imaculada a fé 
católica. E os bispos, em número de 2500, a subscre-
vem. E' pois, claro que os papas sempre exerceram 
a sua autoridade suprema em tôdf\ a Igreja de Cri·sto. 
E se a Igreja aceitou essa autoridade dos Papas sem 
oposição alguma, sem. dúvida era põrque, pela fôr-
ça invencível da, verdade histórica, estava <Jerta de 
que os Papas eram os legítimos sucessores de São 
Pedro. 
Outra prova no-la oferecem os testemunhos dos 
Padres e Dou toTes da Igreja. 
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42 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
STO. INACIO, bispo de Antioquia, contemporâ-
neo dos Apóstolos, na sua Epístola aos Romanos es-
creve que a Igreja de Roma «preside à comunhão 
universal de todos os fiéis. 
STO. IRINEU, discípulo de S. Policarpo e de 
outros anciãos da idade apostólica, acrescenta ser 
necessário para tôdas as Igrejas se conformarem na 
fé com a Igreja Romana em ra.zão de sua primazia 
de poder». ( Adv. 3, 3 ). 
S. CIPRIANO chama ·esta Igreja «cátedra de 
Pedro, Igreja principal, de onde se origina o sacer-
dócio». 
STO. AGOSTiiNHO em mil lugares atesta cla,ra-
mente a supremacia do Papa e afirma que «não que-
rer reconhecê-lo como chefe supremo do crfstianis-
mo, é indício de suma impiedade ou de precipitada 
arrogância. E isto era tão conhecido de todos que o 
imperador Justinia,no, escrevendo ao Papa João TI, 
disse: «Tr~tando-se de negócios eclesiásticos, não 
quero que se tome deliberação alguma, sem o co-
nhecimento de Vossa Santidade, que é ch€fe de tõ-
das as Igrejas. (Código de just. Tit. SSma. Trindade). 
Resumamos, pois, brevemente o que dissemos . 
neste e no capítulo precedente: 
Nosso Senhor fundou a sua Igreja, e entr~gou o 
seu govêrno a Pedro e aos seus sucessores. Ora, 
os sucessores de Pedro são os Papas. 
Logo, -somente a Igreja governada pelo Papa 
é a verdadeira Igreja de C~to. r.J , r ) . , 
, 
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v 
INFALmiLIDADE DO PAPA 
PAPA será sempre o chefe visível da Igreja de 
Cristo, por ser o sucessor de Pedro na Séde de-
Roma e no primado. Várias são as suas prerrogati-
vas. Minha intenção é falar da sua infalibUidade, 
afim de que o~· meus leitores possam ter da mesma 
um justo conceito e acautelar-se contra as calúnias-
dos inimigos da nossa fé. 
Primeiro que tudo é preciso explicar o verda-
deiro sentido da palavra infalibilidade: pois muitos 
há que, por ignorância ou por n1a,lícia, a desfiguram. 
Infalibilidade não
é o mesmo que impecabilidade, 
porquanto-infalibilidade significa im po5sibilidade de 
errar ; impecabilidade a.o con.trário, impossibilidade 
de pecar. O Papa é infalível, mas não é impecável, 
e por isso mesmo êle também, camo todos os fiéis, 
se cnnfessa dos seus pecados. 
A infalibilidade pode ser absoluta e relativa. E~ 
absoluta, qu?.ndo alguém não pode errar em qual-
quer gênero de verdades; é relativa, quando alguém 
não pode errar com r,elaç~~ a çertas verdades. A p.ri ... 
m.eira é própria d{l Deus; ao P~pa compete a segunda. 
E quais s~o as verdades· a~êrca das quais "I não 
pode errar? São as verdades de fé e de costumes, 
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FRIU DAMIÃO DE BOZZANO 
isto é, as verdades que pertencem ao depósito da 
revelação. E note-se bem que, mesmo com relação a 
estas verdades, não é inf.a,livel senão quando, desem-
penhando o cargo de Pastor e Doutor de todos os 
cristãos declara oexpressa e perentôriamente que 
devem ser cridas pela Igreja universal. 
Isto suposto, digo que o Papa é infalível. 
Eis as provas. A primeira nos é oferecida. pela 
divina Escritura. Já virmos em outros capítulos que 
o poder e as prerrogativas de São Pedro são- o po-
der e as pren~ogativas do Pontífice Romano, seu le-
gítimo sucessor. Poi bem: 
A Igreja ' fundada ôbr Pedro, isto é, sôbre o 
Papa, de modo que a sua firmeza, depende da firme-
za do Papa. (Mt. 16, 18 ). 
Ora, se o Papa pudesse tornar-se mestre de êrro, 
in1pondo a tôda a cristandade uma doutrina falsa,, 
b m longe de dar firmeza à Igreja rruiná-la-ia. Por-
tanto nunca pode se tornar n1e tr de êrro, que é 
o mesn1·o q:ue dizer será çoernpre infalível. 
Alé1n disso, J esus Cri to diz que as porta.s do 
Inferno jan1ais prevalec rão contra a sua Igreja, 
porque é fundada sôbre Pedro, sôbre o Papa, portan-
to a contínua vitória da Igreja depende da vitória. 
do Papa. 
Ora, se o Papa pudesse ensinar o êrro, em vez 
de dar a vitória à Igreja, arrastá-la-ia. à derrota. 
Logo é irrnpossível que ensine o êrro. 
Jesus dá ao Papa as chaves da Igreja e afirma 
que ~le ratificará ·DO céu o que o Pa.pa tiver julgado 
na terra. 
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EM DEFESA DA FB 
Ora, poderá Jesus ratificar o êrro, a mentira, a 
falsidade ? Não. Portanto o ensinamento, a senten-
ça: do Papa deve ser isenta, de êrro. 
Não basta~ Jesus confere ao Papa o ofício de 
pastorear e reger tôda a Igreja, todos os cordeiros e 
tôdas as ovelhas do seu redil; e por isso mesmo obri-· 
ga tôda a sua, Igreja, cordeiros e ovelhas a lhe obede-
cer e receber a sua palavra e as suas leis. 
Ora, suponhamos que o Papa pudesse arrastar· 
ao êrro o redil de Jesus · Cristo, que aconteceria,?. 
Aconteceria que tôda a Igreja seria posta na absurda 
alternativa de desobedecer ao Papa contra a vonta,de· 
expressa de Jesus ou de seguir ao Papa, mesmo no 
êrro. O que é impossível de se conceber. Cumpre,.. 
pois, admitir que o Papá é infalível. 
- Queremos uma passagem ajnda mais explíci--
ta? Abramos o Evangelho de S. Lc. 22, 31-32. «Si-
mão, Simão,- diz Jesus a Pedro,- Satanás vos pe-
diu com instância para vos joeirar como o trigo; mas· 
eu roguei por ti, para que não desfàleça a, tua fé, 
e tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos. 
Do texto resulta que a fé em Pedro será sempre· 
pura, verdadeira, luminosa; pois Jesus lhe diz que· 
.rogou por êle, afim de que não desfaleces·se na sua 
fé e é impossível que a oração de Jesus não seja; 
atendida pelo Pai Celestial. 
Resulta também que _ esta prontessa é feita a-
Pedro como chefe da Igreja e não como pessoa pri-
vada, pois Jesus rogou que não lhe viesse a falhar· 
a fé; afim de que êle, por sua, vez, a confirmasse 
nos seus irmãos. E' como se tivesse dito: <<Satanás. 
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FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
vos pediu com instância para vos joeirar como tri-
_go, e eu, para defender-vos poderia orar por todos; 
para todos poderia pedir esta firmeza inconcussa; 
mas· não é preciso: orei por ti e a. ti imponho o dever 
-de confirmar e iluminar os teus irmãos. 
Portanto, não somente a fé do APóstolo Pedro 
.será sempre luminosa, pura, verdadeira, mas tam-
bém a de quem lhe sucede no ministério de governar 
·a Igr-eja; a do Papa. E' por conseguinte, o Par~ 
é infalível. 
A êstc t slcxnunho das Divinas Es-crituras faz 
·eco o da crist. nd• de d todos os tempos e de todos 
os lugares. N7 o verdade, como dizem os nossos 
adversário ·, qu "st dogma fôsse desconhecido an-
tes do século pat~sado, m que Pio IX o definiu so-
lenemente. Na Jgr j. s pre se reconheceu a· infali-
bilidade do Papa. 
Ei n 1guns t , tcrnunhos que no-lo demonstram 
claram nl : SL . Jrin u, discípulo de S. Policarpo 
e de outros anci1 s dn i reja apostólica, refutando os 
herejes do u t tnpo, diz: «Com a4 Igreja -romana, 
-por sua priinnzia, d vem concordar na fé tôdas as 
igrejas, isto ', os fiéis de todo o mundo ... » ( Adv:. 
Haer. liv. Ill). 
Mas, se Roma pudess·e errar, como poderia êle 
·ainda afirmar êste dever? 
Portanto, segundo Sto. Irineu, Roma, a saber, 
<0 Papa não pode erra;r. 
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EM DEFESA DA Pn 
S. Cipriano atesta a mesma verdade: 
«Atrevem-se, diz êle falando de certos herej , 
atrevem-se a dirigir-se à cátedra de P.edro, a esl! 
Igreja principal, onde se origina o sacerdócio, esque-
cidos de que os romanos não podem errar na fé~. 
(Epist. 69, 19 ). 
S. Jerônimo escreve ao Papa S. Dámaso: ~Jul­
guei meu dever consultar a cátedra de Pedro. Só vós 
conservais a herança dos nossos pais ... » 
«Quem não colhe convosco, desperdiça. . . De-
cidi e não hesitarei em afirma.r três hipóteses». Por-
que êle se declara pronto a aceitar qualquer decisão 
do Pa.pa, mesmo quando, por imposS-ivel, propuzesse 
um absurdo? Justamente porque sabe que o Papa é 
infalível. não pode errar em matéria de fé e de cos-
tumes. 
Ainda mais claro é o testemunho de Sto. Agosti-
nho. Os Concílios de Milévio e de Cartago dirigi-
ram-se a,o· Papa, afhn de que condenasse Pelágio, 
que, com suas doutrinas, semeava a discórdia na 
Igreja. 
Apenas respondeu o Papa, Sto. Agostinho anun-
ciou aos fiéis a· sentença nestes termos: «Sôbre esta, 
causa foram enviados dois Concílios à Sé Apostólica. 
Chegou-nos a resposta; está terminada a causa. Oxa-
lá acabe também o êrro». 
Roma, isto é, o Papa· falou e a causa está termi-
n da, tôda a dúvida cessa. Por que? Porque o Papa 
é infalível, não pode errar. 
No século V S. Leão Magno escreveu ao Con-
cílio de Calcedônia· que sua dou trina, acêrca do mil-
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-'8 FREI DAMU.O DE BOZZANO 
tério da Incamação não admitia discussão alguma 
e que só se tratava de erer. 
E os bispos presentes ao Concílio, que eram em 
número de 600, prorromperam numa aclama,ção tmâ-
nime: «Assim o cremos. Os or-todoxos,assim o crêem; 
anátema a quem não crê. Pedro falou pelos lábios 
de Leão, Pedro vive sempre na sua séde». ( Ep. 93,2 ). 
Por que todos se submeteram sem hesitação al-
guma? Sempre pela me'Sma razão: porque reconhe-
ciam no Papa a infalibilidad . 
Por todos "stes testemunho e outros aind~, que 
fàcilmente pod rí, n1o t.l ;r, r sulta que n infa-
libilidad p pnl s mpr f oi cconhecida pela Igreja. 
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VI 
SACRAMENTOS 
O SACRAMENTO é um sinal sagrado produtivo da graça, instituído por !Nosso Senhor Jesus 
Cristo. 
Sinal é o que conduz ao conhecimento de alguma 
coisa que não está a,o alcance dos nossos sentidos. 
Pode ser natural !e .c:onvencional, segundo a sua re-
lação com a coisa seja fundada em a natureza ou 
sôbre uma convenção. Por exemplo: a fumaça é o si-
nal natural do fogo; as lágrimas o são da dor; uma 
luz vermelha colocada em meio ao caminho ,é um 
sinal convencional de perigo. 
Também
os sacramentos- são sinais e sinais sagra-
dos, porque indicam algo de sagrado, isto é, a graça 
divina. Note-se, porém, que não são sinais vazios, isto 
é, não indicam apenas a gra,ça, mas de fato produzem 
a graça que significam. Por isso Jesus, falando do 
Batismo disse: «Se alguém não renascer da água e do 
Espírito Santo, não pode entrar no reino de Deus». 
(Jo. 3, 5). 
Como se vê, Jesus aqui atesta, que também a 
água do batismo é causa do nos~o renascimento es-
piritual: o Espírito Santo é causa p1incipal e a água 
causa instrumental, isto é, meio, instrumento de que 
.f - EM DEFESA .•• 
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DEFESA DA la Jl 
se serve Iktt., pnrn. nos fazer nascer para a vida da 
graça. 
Erram, pois os protestantes, quando ensinam 
que os sacramentos são meras cerimônias exterio... 
res, testemunhando que a gra~ está na alma, sem 
o poder de infundi-la. Não, além de sinais, são causas 
que por •sua própria virtude produzem a graça inde-
pendentemente dos méritos de quem .os ~dministra 
e da,s disposições de quem os· recehe. Uma chave ma-
nejada quer por uma pessoa sadia quer por uma 
doente, abre sempre a porta e assim também um Sa-
cramento, quer administrado por um Santo, quer por 
um pecador produz igualmente a graça, contanto que 
seja administrado como Jesus o determinou. 
Quanto às disposições de quem os · recebe, são 
necessárias para que os Sacramentos produzam a gra-
ça, mas não são essas dispoisições que dão aos Sa-
cra,mentos a virtude de produzir a graça, assim co- . 
mo a secura da madeira não dá ao fogo a virtude 
de queimar. 
Diferem, pois, os Sacramentos da Oração, das 
bons obras e dos sacramentais, (água benta, imposi-
ção das cinzas etc.) que tiram a eficácia únicamente 
das disposições religiosas do sujeito. 
Di semos também que .os Sacrarrnentos são si-
nai in. tituidos por Nosso Senhor Jesus Cristo. E' 
evid n t , com efeito, que somente Deus pode ligar 
a, un1 inal sensível a faculdade de produzir a graça. 
Não é êle o dono da graça? Portanto drue depende 
detenninar como quer comunicar a graça. 
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FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
Os Saeramentos são sete. 
De fato os Gregos cismáticos, que se separaram 
da Igreja Católica nQ século IX e os Nestoria.nos, cal-
deus, captas, que se separaram !110 século V, têm os 
seus sacramentos conf arme aos nossos, quanto ao 
número e à natureza. 
Mas não se pode admitir que tenha ~ecebido 
esta crença, da Igreja romana depois da separação, 
considerada a hostilidade, que sernpre nutriram con-
tra os católicos la tinos. 
E' 16 ico, portanto, concluirmos que ao tempo 
do cis1n(, i t ', 1' sp ctiva1n nt nos séculos IX e V 
a dou trin <h is l "n + d s l Sacramentos er~ 
doutrina d I r .iu in lcir·L 1~ por conseguinte, tive-
ra origem cmn <. Apús lolc · porqu caso se hou-
vess·e introduzid<, uos s{•culos pr cedentes, algum 
sacramento, ln,l in< v·t ·n na podia realizar, sem 
provocar -di cu· õcs nuilo vjv ;;. E disto, nenhum 
vestigio i t n >'. sct 'tos dos Padres. 
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vn 
O BATISMO 
O BATISMO é um sacramento que nos torna cristãos, isto é, sequazes de Jesus Cristo, fi-
lhos de Deus e membros da Igreja,. 
Que seja Nosso Senhor o autor do batismo é cla-
ro pelo próprio Evangelho: 
«Foi-~me dado todo o poder no céu e na terra. Ide, 
pois, instrui a, tôdas as gentes, batizando-as em no-
lllle do Pai ·e do Filho e do Espírito Santo ... » ( Mt. 
28, 18-20). 
«Ide por todo o mundo; pregai o Evangelho a 
tôda a criatura. Quem crer e for batiza·do, será sal-
vo, qu m não crer, será condenado». (Me. 16, 15 ). 
«S alguém não r:enascer da água e do Espírito 
nnto, n•to pode entrar no reino de Deus». ( Jo. 3, 5 ). 
hn lodos os· textos a,cima se manifesta Nosso 
... 1 hoa· Hllor <lo batismo e proclama· a sua necessidade 
par·. a sol ação. 
O lml ismo ' para todos necessário: para os adul-
tos ' p u·n, ns ri nças. 
n ) h tH cu;osário para os· adultos. De fato, diz 
J sus: S<· nl .,n(J 1 não renascer da água e do Espírito 
Sanl núo po<l< (•ntrar no reino de Deus (Jo. 3, 5). 
11.: te r( nascimento espiritual, que Jesus procla-
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EM DEI'ESA DA la 
ma necessário para entrarmos no reino de D u. , . ( 
dá pelo ba,tismo, como aparece no próprio texto dn 
palavras de S. Paulo, que chama o batismo: «Banho 
de regeneração». (Tito 3, 5 ). 
Portanto o batismo é necessário para entrarmos 
no reino de Deus. 
b) O batismo é necessário também para as cria,n-
ças, pois, Jesus não faz exceção alguma; mas diz 
simplesmente: «Se alguém não renascer ... » 
Uma criança é alguém, isto é, uma pessoa como 
todos nós. Portanto, pa,ra ·entrar no reino dos céus, 
igualmente tem que renascer pelo batismo. 
Além disso ninguém pode conseguir ~ salvação 
senão por Jesus Cristo (Rom. 18 ), isto é, se não 
se incorporar com JesuS' Cristo, tornando-se seu mem-
bro. Mas em o Novo Testamento ninguém se incor-
pora com Jesus Cristo senão pelo batismo, confonne 
se lê na epístola aos Gálata.s ( 3, 27): «Todos· os que 
fostes batizados, vos revestistes de Cristo». 
Logo todos devem ser batizados-, e sem o batis-
mo não se pode conseguir a s'alvação. 
A própria Sagrada Escritura confjrma essa dou-
trina, pois nos fala de famílias inteiras balizadas 
(Atos 16, 15-33: 18-8; Cor. 1, 16). 
Ora, é ver.ossímil que nelas houvesse crianças. 
Mas é especialmente pela tradição que se prova 
a: necessidade do batismo também para as crianças. 
Eis alguns testemunhos aptiqu:issimos a êste res·-
peito. 
STO IRINEU, que viveu no II século, diz: «To-
dos os que forem regenerados em Jesus Cristo, isto 
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56 FREI DAMIÃO DE JWZZANO 
é, crianças, jovens, velhos, serão salvos>>. ( Liv. 4 cap. 
22, v. 14 ). As palavras: Os que fo11em regenerados 
se devem entender: os que forem batizados, pois a re-
generação emt Cristo é pelo batismo, por isso o Após-
tolo o chan1a: «Banho de regeneração». (Tit. 3, 5 ). 
ORIGENES, no t€·rceiro século, repete a. mesma 
verdade: «E' na Igreja uma verdade provinda dos 
Apóstolos dar o~ batismo às crianças». (Liv. 5 na 
epístola Rom. c. 9 ) . 
S. CIPRIANO, no III século escreve: «Pareceu-me 
bem e à todo o Concílio que a•s crianças sejam bali-
zadas mesmo antes do oitavo dia». (Ep. 63) Daí pode-
mos legitimamente concluir: Se os cristãos dos pri-
meiros séculos batizavan1 seus filhos, apenas nasci-
dos, sem dúvida era por ordem dos apóstolos e, por 
conseguinte, do próprio Jesus Cristo. 
* 
E por que também as crianças devem ser ba-
tü·:ndas para entra,rem no céu? Ei-lo: 
O céu é a herança de Deus. 
Ora, te1n direito à herança de alguén1 somente 
aquele que é filho. _ 
Portanto, tem dil'eito ao céu aquele que é filho 
de Deus. 
Mas nós, como simples homens, não somos fi-
lhos de Deus, pois, não possuímos a mesma· natureza, 
eo:m-o é exigida entre pai e filho. 
Portanto não temos direito ao céu. O que nos-
h,rna verdadeiramente filhos de Deus é a graça san-
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~~----------~E=M~D~EF~E~SA~D_A~F~n----------------7 
üficante, que é uma participação da própria, natu-
reza divina. Uma alma adornada de graça santifi-
cante, é filha de Deus e, por conseguinte, tem direito 
ao céu. 
Esta, graça divina tinha sido dada aos nossos pri-
meiros pais com direito de transmiti-la também a 
nós, sen.s descendentes, sob a condição, porém, de que 
se mantivessem fiéis a Jtle. Mas não mantiveram a 
condição; desobedeceram :a Deus; por isso perderam 
esta graça par~ si e para todos nós. Hoje ninguém 
no primeiro instante de sua existência, possue a gra-
ça santificante (exceto a Virgem Santíssima, em vir-
tude dos merecim·ento de Jesus, seu Filho). E esta 
privação da gra~ santificante, em que todos somos 
concebidos, é justamente o que se chama pecado ori-
ginal. Foi em vista disto• que S. Paulo escreveu: 
«Somos por nascim'ento filhos da ira ( Ef. 2) e tam-
bém: <<Todos pecamos em Adão ( Rom. 5, 12). 
Quando é que pela primeira vez nos é prodigali-
za,da a graça divina? Quando recebemos o batismo, 
Eis porque também as crianças devem ser batiza-
das, para se tornarem, pela gra,ça santificante, filhas 
de Deus. 
Dizem os protestantes: Jesus diz: «Ide, pregai 
o Evangelho a, tôda a criatura; quem crer e fo,r bati-
zad(), será salvo. Quem não crer, será condenado. 
(Me. 15, 16). _ 
Mas a criança não pode crer, logo não pode ser 
batizada. 
Aqui Jesus fala dos adultos, pois fala de pre·ga-
ção do Evangelho; e a prega,ção s-ó .se pode dirigir a 
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!3 FRlll DAMlAO DE BOZZANO 
uma pessoa adulta, isto é, a. uma pessoa que já tenha 
o uso da razão. 
Portanto dês te mesmo texto resulta que um adul-
to'! para ser batizado, deve crer. Ma,s não resulta 
ahsolutamen te que só os adultos devem ser batizadqs. 
Ainda os protestantes: O batismo impõe obriga-
ções; por isso não se pode administrar a uma criança 
sem 0. consentimento da, mesma. Alcance primeiro 
o uso da razão, e então por si mesma. resolverá, se 
quer, ou não quer pertencer à religião cristã e rece-
ber êste sacramento. 
E1 verdade que o ba tisrno impõe obrigações, mas 
são obriga õcs que a própria criança tem que a,ceitar 
apenas tiv r al·unçado o uso da razão; por isso bem 
podem os pais uccitnr, etn on c da mesma, · estas 
obriga,ções, b, lizando o, op .nus nascida. 
Além disso, o bntisn1o co 1f r , a quem o receber, 
o privilégio de Jilbo <.lc D us herdeiro do céu. 
Portunto, os p 1is hntiza 1do os filhos, apenas 
nascidos, bc;~n lon · d ·tz 'Cl 1 uma afronta à sua 
liberdade, f zent, pdo ·onlrúdo o que de melhor 
por êles pod u fnz r. 
E se nüo h \ lizu, se 1u. s ri m cruéis para· com os 
mesmos. Explica-m con1 u1n exemplo: Um potentado 
se ·apresenta a dois· po os, que, há pouco, rece-
beram a dádiva pr cioso de um filho, e lhes diz: «Te-
nho a vontade de constituir o vosso filho herdeiro de 
todos os meus bens; é preciso, porém, que me con-
cedais a licença de fazê-lo». E êles: «sentimos muito, 
mas não podemos conceder esta licença, porque se-
ria o(ender a sua liberdade.O Snr. tenha a bonda-
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EM DEFESA DA FB 
de de esp·erar que o nosso filho chegue a ter com-
preensão do que está fazendo, e então lhe pergunta-
rá, se quer ou não quer aceitar a herança». 
Por acaso~ seria o comportamento dêstes pais-
para com o filho }Quvável? Certamente não. 
O mesmo se diga em nos'So ca;m: o batismo ofe-
rece à criança direitos e bens de uma fortuna de ina-
preciável valor, de suma importância. Não é, pois,. 
preciso esperar que alcance o uso da razão, para se· 
lhe administrar o ba,tismo. Os pais qúe esperam até 
aquela época <São dignos de severa repreensão. 
E de resto, não se costuma em tôda a parte re-
gistrar os próprios filhos apenas nascidos? 
Ora se por êste registro adquirem os direitos de-
cidadãos do país, contra,em igualmente os respectivos. 
deveres; e contudo ninguém jamais pensou que se 
deva fazer o registro civil, somente quando os filhos 
tiver.em atingido o uso da razão. 
Por que, pois, não será lícito administrar aos. 
filhos, apenas nascidos, o batismo, pelo qual a,dqui-
rem êles o direi to de cidadãoS' do céu ? 
Não há, portanto, motivo algum para diferir O· 
batismo dos filhos até a idade ~dulta; e os que assim 
fizerem, são culpados dia,nte de Deus. 
•: • l 
O batismo se pode conferir vàlidamente quer· 
por imersão, que por infusão, isto é, despejando água 
na cabeça, quer também por aspersão, isto é, jogan-
do· água no batizando. 
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FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
Prova-se pela Sagrad~ Escritura. 
Batizar é palavra grega que .em nossa língua 
.significa não somente mergulhar, mas também lavar. 
Por exemplo,~ Sagrada Escritu~a diz que os fariseus, 
vindo da praça pública, !Dão comem sem lavar 3S 
mãos (Me. 7, 4 ). No texto original o lavar é batizar. 
Ora, uma pessoa pode ser lavada de três modos: 
m·ergulha,ndo-!8. na água; despejando-se água sôbre a 
mesma, ou jogando-se-lhe água. 
De que modo /Nosso Senhor quer que os homens 
sejam batizados, isto é, lavados? Nada detennina 
1tle a respeito. 
Portanto, a Igreja pode determinar, escolher o 
modo que mais lhe aprouver. 
O ba,tismo por imersão foi principalmente usado 
na Igreja por muitos séculos. Contudo, já desde o 
tempo dos Apóstolos, às vêzes, se conferia por infu-
são, isto é, despejando água na cabeça como resulta 
de algumas _pinturas que ainda hoje se conservam 
nas catacumbas, como se vê no ba.ti mo de S. Ro-
anão, admini trado por S. Lour nço do batismo de 
pessoa acm adas (S. Corn 'lio, epist. Fábio c. 14) 
como xpre m n L n ina na dou trina dos doze 
Apóstolos (c. 7 ): << não tiv r água de fonte, bati-
za com outra, águc;;. não pud res com água fria, ba-
tiza com água morn~ . i não tiveres água suficiente 
para a imersão, d peje; tr" vêzes água na cabe-
ça em nome do Padr e do Filho e do Espírito Santo». 
Além disso_lemos na Sagrada Escritura que S. 
Paulo se levanta, para receber o ba,tismo (Atos, 9,18; 
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EM DEFESA DA Fa til 
22, 16) e na cidade, à meia noite, batiza o carc · ir 
e os outros de sua família (A tos, 16, 33 ) . 
Ora, é muito improvável que o batiSIIl1o tenha 
sido conferido por imersão nessas ocasiões, porque 
como se pode supor que na, casa e na prisão houvesse 
tanque próprio para nele mergulhar uma pessoa? 
O mesmo se diga do batismo que foi conferido 
a três mil homens no dia de Pentecostes. (A to'S 2, 41 )'. 
Poderíamos também acrescentar que, se a imer-
são fôsse necessária para o valor do ba,tismo, a sua 
administração tor.nar-se-ia frequentemente muito di-
fícil ou por falta de água, ou pelo frio, ou pela mui-· 
ti dão, ou pela'S enfermidades dos ba tizandos, que po-
dem ser crianças recém-na!)cidas, velhos, moribun-· 
dos ... 
Conclusões práticas. 
A'S mães e1n estado interessante dev~m se abster· 
de tudo o que pode prejudicar o fruto que trazem no 
seio. E as que provocam voluntàriamente o abôrto 
são duplamente homicidas porque suprimem ~vida 
ao filho e lhe impedem a entrada no reino dos céus, 
por morrer sem batismo. A Igreja para inspirar hor-
ror a êste crime, fulmina de excomunhão não so-
mente as mães, mas também os que mandam ou 
aconselha,m o abôrto, os que para tal ensinam re-· 
méd~os ou os aplh:am. 
Os pais têm a obrigação grave de batizar quan-
to antes os seus filhos, para não se exporem ao pe-
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62 .FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
rigo de privá-los para sempre da glória do céu. E 
se, por aca.so, se acharem os filhos em perigo de 
morte, devem batizá-los em casa, derramando água 
natural sôbre as cabeças dos mesmos e, ao mesmo 
tempo, pronunciando estas palavras: «Eu te batizo 
em nome do Padre e do Filho e do Espírito Santo~. 
Estando presentes· outras pessoas que saibam e quei-
ram batiza.r, sejam batizados os filhos por estas 
pessoas, e se não estiverem pres nt s outras pessoas, 
ou estas não souberem ou não qui r m batizar, en-
tão os próprios pais batizem u filhos, em perige 
<Ie morte. 
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VHI 
CONFIRMAÇÃO OU CRISMA 
CRISMA é um sacramento no qual pela impo-
sição das mãos e a unção com o crisma, profe-
rindo certas pala,vras sagradas, se comunica ao ba-
tizado o Espírito Santo, para que valorosamente con-
fesse a sua fé. 
O Crisma é um verdadeiro sacramento da Nova 
Lei. 
I - Prova-se pela Sagrada Escritura
• 
. Lemos, com efeito, nos Atos dos Apóstolos ( 8,12J 
17) que os Samaritanos, tendo recebido a palavra 
de Deus, fora,rn batizados por Felipe; e os Apóstolos 
lhes enviaram Pedro e João, os quais, assim que che-
garam, oraram por êles, afim de que recebessem 
o Espírito Santo, porque êste ainda não tinha descido 
sôbre n nhum deles, mas tinham sido somente ba-
tizados 111 nome do Senhor Jesus. Em seguida lhes 
impuzcrmn a;s mãos e êles rec-eberam o Espírito 
Santo. 
Do n •smo modo São Paulo, vindo a ~feso, ba-
tizou en1 uorne de Jesus, discípulos de S. João e «ne-
les impô' nH mãos, para que o Espírito Santo bai-
xasse sôbu "les:.. (Atos 19J 5-6). 
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EM DEFESA DA~ 
Temos aqui - a ) um sinal, um rito sagrado 
realizado pelos Após tolos: a imposição das mãos; 
b) produtivo da graça, pois a esta imposição se se-
guiu a descida do Espírito Santo; c) um sinal insti-
tuído por Nosso Senhor Jesus Cristo, pois em coisa 
tão importante e fundamental os Apóstolos não agiam 
certamente conforme a. sua vontade, mas em nome 
de Jesus, assim como na administração do ba,tismo 
e na remissão dos pecados. 
Portanto fala aqui a Sagrada Escritura de um 
Sacramento, visto que um Sa,cramento, como dis-
semos em outro capítulo, é um sinal sagrado, p~odu­
tivo da graça, instituído por Nosso Senhor. 
Ora, êste Sacramento não é o batismo, pois os 
Samaritanos, a que S. Pedro e S. João impuseram 
as mãos-, já tinham sido batizados por S. Felipe e 
os de ~feso, a,ntes de receberem a imposição da.s 
mãos por S. Paulo, foram por êste batizados. 
Tão pouco pode ser a ord·enação sacerdotal, co-
mo a)guns supuseram, pois· entre os que receberam 
êste Sacramento em Samaria, havia também mu-
lheres e as mulheres não podem ser ordenadas. 
Logo é o sacramento da Confinnação ou Crisma. 
Obj. - A imposição das mãos era empregad~ 
para dar os carismas extraordinários do Espírito 
Santo, tais como o dom dos milagres e da profecia, 
o dom das línguas, etc. 
Resp. - A imposição das mãos era feita prin-
cipalmente, para que os fiéis recebessem o Espírito 
Santo, que Jesus prometeu dar a todos os que cres-
sem n~le. ( Jo. 7, 38 ). 
5 - EM DEFESA ••• 
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66 FREI DAMIÃO DE BOZZANO 
Nos primeiros tempos, à imposição das mãos, 
se seguiam frequentemente êstes prodigios, porque 
eram necessários para a conversão do mundo. Agora, 
que temos tantas provas da verdade da nossa santa 
religião, os milagres não são necessários. Mas o 
dom do Espírito Santo, que fortificava os primeiros 
cristãos e o·s tomava capazes de fazer qualquer sa-
crifício antes que perder a fé, ainda hoje é necessá-
rio para os fiéis. Por isso a imposição das mãos, que 
é justamente o Sacram nto que nós chamamos -
Crisma - ainda hoje con·tinua e continuará até o ' 1 
fim dos séculos. 
ll - Prova-se pela Tradição. 
Os Padres da Igreja. falam desta imposição das 
mãos para a vinda do Espírito Santo, como de ver-
dadeiro Sacramento. 
Tertuliano (li século) diz: <<Depois do batismo 
impõem-se as mãos para a bênção, se invoca e convida 
o Espírito Santo». (Livro .sôbre o BatiSIIDo, c. VIIT) 
S. Cipriano ( m século) na sua Epístola a Ju-
baiano, referindo-se ao texto dos Atos dos Apóstolos 
( 8, 14) diz: «0 que faltou do Batismo administrado 
por Felipe, i to foi feito por Pedro e João. . . Isto 1 
se faz tamb 'm entre nós, para que os que são ba.ti... ~ 
zados, por nossa. ornç-o e imposição das mãos, con-
sigam o Espírito Santo». 
S. Cirilo (IV século), explicando o catecism 
aos ~atecúmenos, diz: «Enquanto se faz uma unção 
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EM DEFESA DA Fa ,., 
visível sôbre o corpo, a alma é santificada pela opc-
ra.ção interior do Espírito Santo». 
Também Sto. Agostinho (V século)', assim se 
exprime no seu livro contra Petiliano: «0 Sacra-
mento do Crisma não é inferior em santidade ao 
próprio Batismo. 
Por tudo o que acabamos de dizer fica sufi-
cientemente provado que o Crisma é um Sacramen-
t to e que os protesta,ntes, rejeitando-o dão prova du-
ma grande presunção, porque negam uma dou trina: 
que é claramente ensinada pela Sagrada Escritura 
e admitida pelos cristãos de todos os tempos. 
l 
I 
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IX 
A EUCARISTIA - PALAVRAS DA PROMESSA 
·A EUCARISTIA é o sacramento do Corpo e do 
Sangue de Nosso Senhor sob as espécies do 
pão e do vinho, ou, por ouh'as palavras, é Nosso Se-
nhor vivo e verdadeiro assim como está no Céu. 
Se quisermos acreditar no Evangelho, devemos 
também crer na presença real de Jesus Cristo na 
Eucaristia, pois,. ma,is claro não podia rue ~er fala-
do, tanto quando prometeu êste Sacramento, como 
quando o instituiu. 
Palavras da promessa. Era o dia, seguinte ao da 
multiplicação dos cinco p'"'es, e Jesus, estando em 
Cafarnau.m, começou a dizer ao povo que O cercava: 
«Eu sou o pão vivo qu de ci do céu; se alguém co-
mer dêste pão, viverá eternamente, e o pão que 
eu darei é a minha, carne pela vida do mundo, isto 
_ é, imolada pela vida do mundo». ( Jo. 6, 52). 
Estas palavras significam claramente que Jesus 
queria dar €liil alimento o s~u corpo verdadeiro e 
real, e não sõmen te uma figura, ou imagem do mes-
mo. Os seus· mesmos ouvintes desta, maneira inter-
pretaram as suas palavras e, ficando escandalizados, 
exclamaram: «Como pode :&te da~-nos a sua carne 
a comer?» ( Jo. 6, 53,). 
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EM DEFESA DA Fa 69 
Antes de chegarmos à resposta de Jesus, cum-
pre-nos notar o seguinte: 
Quando os ouvintes, por simplicidade ou igno-
rância, não tinham bem compreendido o verdadei-
ro significado de suas palavras, costumava rue ex-
plica,r melhor a sua doutrina, especialmente €m se 
tratando de coisas atinentes à salvação eterna, afim 
de que os discípulos não incorressem no êrro. (Dis-
to se encontram exemplos em Jo. 3, 3-8 e Mt. 16, 6-12) 
Pelo contrário, quando a sua •doutrina tinha si-
do bem compreendida, embora desagradasse a.os ou-
vintes, ainda mais energicamente costumava repeti-
la. (A respeito se encontram exemplos em. Mt. 3, 2-7 
e em Jo. 8, 51-59). 
E agora ouçamos a resposta que dá aos judeus, 
que lhe pergunta,m: ~como nos pode dar a sua car-
ne a comer?» E Jesus: «Em verdade, em verdade 
vos digo, se não comerdes a carne do Filho do Ho-
mem, e não beberdes o seu sangue, não tereis a vida 
em vós. Quem come a minha carne e bebe o meu 
sangue, tem a vida eterna e eu o ressuscitarei no últi-
mo dia, porque a minha ca,rne é verdadeiramente co-
mida e o meu sangue é verdadeiramente bebida». O 
que foi o mesmo que lhes dizer:- Não somente vos 
posso dar a minha carne a comer e o meu sangue 
a beber, mas disto vos imponho um prece~to sob 
pena de morte eterna. - Queria, porta,nto, que as 
suas palavras fôssem tomadas ao pé da letra. 
A semelhantes insistências do Divino Mestre, 
muitos discipulos se revolta.rn: e clamam: «E' duro 
êste discurso e quem o pode ouvir?» Por que o acha-
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70 FREI DAMIÃO DE BOZZ:ANO 
va)ll duro? Porque êles 1amhém não podiam com-
preender como pu desse Jesus dar a sua carne a co-
mer e o seu sangue a beber; e, não querendo admi-
tir tantos prodígios, o abandonaram. E acaso Jesus 
os detêm? Não. Pelo contrário volta-se aos doze 
Apóstolos e diz: «Quereis vós também retirar-vos ?1> 
Como se quisesse dizer: Quereis ou não quereis 
crer que eu vos da,rei a minha carne a comer e o 
meu s·angue a beber? Se não quereis crer, ide embora 
com os outros». Foi então que S. Pedro em nome dos 
doze, exclamou: .:Mestre, para quem iremos? Tu 
tens palavras de vida eterna; e nós temos crido e 
reconhecido que és o Cristo, o Filho de Deus. ( Jo. 
6, 70). Com .esta resposta também S. Pedro de·clarou

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