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PSICOPATOLOGIA FORENSE E SUAS IMPLICAÇÕES JURÍDICAS Prof. Marcela Novais Medeiros ESTRUTURA DA APRESENTAÇÃO Saúde mental: conceitos básicos Imputabilidade penal Incapacidade absoluta e incapacidade relativa (1) SAÚDE MENTAL: CONCEITOS BÁSICOS Saúde mental Capacidade do indivíduo, do grupo e do ambiente de interagirem entre si de maneira a promoverem o bem-estar, o desenvolvimento ótimo e o uso de habilidades mentais (cognitivas, afetivas e relacionais), o alcance de objetivos individuais e coletivos consistentes com a justiça e o alcance e preservação das condições fundamentais de igualdades (WHO, 2000, p.11). Saúde mental X Adoecimento mental Adoecimento é compreendido a partir do conceito de saúde. As pessoas não são apenas saudáveis ou doentes. Existem diferentes matizes em seus estados. A saúde mental tem natureza dinâmica, processual e complexa. Os termos saúde e doença são graus na condição de saúde dos sujeitos. A saúde e a doença podem ser perdidas e recuperadas. Saúde mental X Adoecimento mental Todos podemos apresentar alguma disfuncionalidade (medos ilógicos, ansiedades intensas, tristezas profundas). A patologia caracteriza-se pela dominância dos estados disfuncionais sobre a vida psicológica. Definição (CID-19): representam desvios extremos ou significativos das percepções, pensamentos, sensações e das relações com outros em relação àquelas de um indivíduo médio de determinada cultura. Saúde mental X Adoecimento mental Os transtornos mentais com frequência afetam a funcionalidade do sujeito. Atividades de vida diária Funções mentais superiores Saúde mental X Adoecimento mental Condições de saúde sofrem influências por processos de natureza diversa. Vários fatores de tipos sociais, ambientais e genéticos são relevantes na promoção da saúde dos sujeitos e devem ser compreendidos no âmbito individual, doméstico e comunitário. TRANSTORNO MENTAL TRANSTORNO MENTAL: terminologia adotada para substituir “doença” ou “enfermidade” (CID-10). A palavras “transtorno” indica um conjunto de sintomas e comportamentos associados a sofrimentos e interferência com funções sociais. CID-10: Ao invés de seguir a dicotomia neurótico-psicótico (psicodinâmica), os transtornos são arranjados de acordo com temas comuns ou semelhanças descritivas. Psicótico (CID-10): presença de alucinações, delírios, excitação e hiperatividades grosseiras, retardo motor marcante, comportamento catatônico. Saúde mental e Direito O estudo de comportamento patológicos e estados mentais anormais pode auxiliar no entendimento da conduta das partes e testemunhas, nas mais variadas situações, como julgamentos, comportamento criminoso e testemunhos. Ao profissional do direito não cabe a função de diagnosticar, que é exclusiva dos profissionais da saúde. É importante conhecer sinais, porque estes sugerem linhas de investigação. (2) IMPUTABILIDADE PENAL SAÚDE MENTAL E DIREITO PENAL O portador de transtorno mental pode ser incapaz de compreender o que é certo ou errado, bem como não podendo controlar suas ações. Sendo o agente incapaz de compreender seus atos e conter os impulsos criminosos determinados por sua anomalia psíquica, a sistemática crime/castigo é inútil e imoral. Determinadas condições de adoecimento mental exigem tratamento diferenciado pelo sistema de justiça. Psicopatologia forense e direito penal Imputabilidade: Capacidade psíquica abstrata de alguém ser responsabilizado por infração penal ≠ Inimputável: Condição em que o sujeito não é responsabilizado pelo delito. PSICOPATOLOGIA FORENSE E DIREITO PENAL Duplo critério de avaliação de inimputabilidade: (1) Cronológico: menores de 18 anos sujeitos à legislação específica. (2) Biopsicológico: maiores de idade que não podem ser responsabilizados, ou apenas parcialmente, embora tenham cometido delito. “LOUCOS” CRITÉRIO BIOPSICOLÓGICO: 1 – VERIFICAÇÃO DA EXISTÊNCIA OU NÃO DO TRANSTORNO À ÉPOCA DO FATO. 2 – ESTABELECIMENTO DE NEXO CAUSAL (TRANSTORNO – DELITO). 3 – AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE ENTENDIMENTO (COGNITIVA). 4 – AVALIAÇÃO DA CAPACIDADE DE DETERMINAÇÃO (VOLIÇÃO) Código Penal: Inimputabilidade ≠ Culpabilidade Diminuída ou semi-imputabilidade Código Penal: da imputabilidade penal Inimputáveis Art. 26 - É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Redução de pena Parágrafo único - A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Código Penal – Artigo 26 Doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (Inimputabilidade); Perturbação da Saúde Mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado (Culpabilidade Diminuída ou Semi-imputabilidade ou Semirresponsabilidade). NOMENCLATURA MÉDICA x EXPRESSÕES DA LEI Direito Áreada Saúde DoençaMental Psicoses Demências Graves (Transtornos com alteração do juízo de realidade) Perturbação da Saúde mental Transtornosneuróticos Parafilias Transtornos de personalidade Desenvolvimentomental retardado Deficiênciamental Desenvolvimento mental incompleto Silvícolas não adaptados,deficientes visuais ou auditivos com incapacidade de comunicação. Avaliação do Ponto de vista Jurídico-processual-penal Instituto de Insanidade Mental – Art. 149 e seguinte do Código Penal. A avaliação da insanidade mental é sempre retrospectiva e a partir do modelo biopsicológico de doença. Art. 149 - Quando houver dúvida sobre a integridade mental do acusado, o juiz ordenará, de ofício ou a requerimento do Ministério Público, do defensor, do curador, do ascendente, descendente, irmão ou cônjuge do acusado, seja este submetido a exame médico-legal. § 1º - O exame poderá ser ordenado ainda na fase do inquérito, mediante representação da autoridade policial ao juiz competente. § 2º - O juiz nomeará curador ao acusado, quando determinar o exame, ficando suspenso o processo, se já iniciada a ação penal, salvo quanto às diligências que possam ser prejudicadas pelo adiamento. Código Penal, Da insanidade mental Código Penal, Da insanidade mental Art. 150 - Para o efeito do exame, o acusado, se estiver preso, será internado em manicômio judiciário, onde houver, ou, se estiver solto, e o requererem os peritos, em estabelecimento adequado que o juiz designar. § 1º - O exame não durará mais de 45 (quarenta e cinco) dias, salvo se os peritos demonstrarem a necessidade de maior prazo. § 2º - Se não houver prejuízo para a marcha do processo, o juiz poderá autorizar sejam os autos entregues aos peritos, para facilitar o exame. Código Penal, Da insanidade mental Art. 151 - Se os peritos concluírem que o acusado era, ao tempo da infração, irresponsável nos termos do Art. 26, caput do Código Penal - reforma penal 1984, o processo prosseguirá, com a presença do curador. Art. 152 - Se se verificar que a doença mental sobreveio à infração o processo continuará suspenso até que o acusado se restabeleça, observado o § 2º do Art. 149. § 1º - O juiz poderá, nesse caso, ordenar a internação do acusado em manicômio judiciário ou em outro estabelecimento adequado. § 2º - O processo retomará o seu curso, desde que se restabeleça o acusado, ficando-lhe assegurada a faculdade de reinquirir as testemunhas que houverem prestado depoimento sem a sua presença. Encaminhamentos do Ponto de vista Jurídico-processual-penal O Direito não atribui responsabilidade Penal a alguém que não dispunha de total integridade mental no ato da ação ou omissão. Declarado Inimputável - aplicação das medidas de segurança (internação ou tratamento ambulatorial). As medidas de segurança são sansões semelhantes à penas, mas com caráter apenas preventivo. Medidas de segurança Internação em Hospitais de Custódia ou hospital outro em sua falta - para aqueles que requerem tratamento especial e/ou cometeu fato punível com pena de reclusão. Tratamento ambulatorial – comparecer durante do dia em unidade de saúde mental e/ou cometeu fato punível com pena de detenção. Declarado semi-imputável – poderá ter pena atenuada de um a dois terços. Avaliação do Ponto de vista Jurídico-processual-penal O tempo de tratamento é indeterminado enquanto não cessar a periculosidade (probabilidade de cometer crime). A pessoa deve ser considerada curada ou com condição atenduada. A avaliação deve ser feita no mínimo 1 ano e máximo de 3 anos (prazo minimo). Existem entendimentos jurisprudenciais de que o prazo máximo não deve exceder o tempo de pena relacionada ao delito. Será a medida de segurança benéfica? Quais as vantagens e desvantagens de suscitar o incidente de insanidade mental? Vantagens As medidas de segurança também visam prevenir a reincidência do ato delituoso. A semi-imputabilidade pode premiar com redução de pena. A imputabilidade dá direito à tratamento, tem caráter curativo e de reintegração. Mas a maioria das unidades de saúde não tem estrutura e preparação para tal. Desvantagens É difícil aferir saída da condição de periculosidade A “alta” não vai significar o término do tratamento, ainda é necessário “convencer” e receber autorização judicial. Má aplicação das medidas de segurança - Independente do delito o inimputável pode cumprir sansão perpétua. Dificuldade de pacientes institucionalizados se adaptarem ao convívio social (a dependência). Vídeo “A cada dos mortos” – Débora Diniz http://www.youtube.com/watch?v=FLuZVLojKJw&feature=related Quem avalia??? Ainda existe uma distância entre os conceitos psiquiátricos e a nomenclatura jurídica. Cabe ao perito (psiquiatria forense) estabelecer uma ponte entre os conceitos médico-científicos e a linguagem inteligível desejável à justiça. Manual Diagnóstico e Estatístico das Doenças Mentais (DSM IV) e Classificação Internacional de Doenças (CID-10) – Manuais diagnósticos Atenção: Nem todas as doenças e transtornos mentais qualificam a pessoa como inimputável. O diagnóstico de transtorno mental por si só não implica que o agente seja inimputável. Atenção Qualificam a pessoa como inimputável apenas as doenças que prejudicam a capacidade de controle das emoções ou a de diferenciar certo ou errado. (3) INCAPACIDADE ABSOLUTA E INCAPACIDADE RELATIVA Avaliação da Capacidade Civil A capacidade de exercício de direitos é a aptidão para praticar atos da vida civil. Para haver restrição na autonomia no exercício de direitos é preciso haver comprometimento no juízo crítico. A imposição do exercício direto de direitos visa sua proteção. Incapacidade absoluta (Código Civil): Art 3º: São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente atos da vida civil: I – os menores de 16 anos; II – os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Incapacidade absoluta Critério biopsicológico: não basta ter alguma enfermidade ou deficiência mental. Exige a comprovação da enfermidade ou deficiência mental . Deve haver interfira na capacidade de entender o significado, consequências para si e outros de seus atos. Incapacidade relativa (Código Civil): Art 4º: São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: II – os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV – os pródigos. Incapacidade relativa (Código Civil): Em relação à interdição absoluta, esse conceito tem aplicação reduzida. Não aborda as “enfermidades”. Aplicação reduzida às enfermidade relacionadas às dependências químicas. A terminologia “exepcionais” engloba “deficientes mentais. Eles precisam ou ter comprometimento no discernimento? Incapacidade relativa (Código Civil): Pródigo: que consome, dissipa, desperdiça e estraga seu patrimônio com gastos improdutivos e sem fim útil. Podem ser interditados parcialmente mesmo sem prejuízo no discernimento ou enfermidade ou deficiência. INIMPUTABILIDADE RESPONSABILIDADECIVIL Avalia: 1. Presença ou não de transtorno mental. 2. Capacidade de entendimento (cognitiva) da ilicitude de seus atos. 3. Capacidade de determinação (volição) conforme entendimento da ilicitude. Avalia: 1.Presença ou não de transtorno mental. 2. Capacidade ou aptidão mental para gerir de forma autônoma seus interesses segundo seus valores e história de vida. Orientadapara o passado. Orientadapara presente e efeitos no futuro. Em alguns casos orientada para o passado (avaliação de capacidades cíveis especificas). Avaliação da cognição e volição. Avaliação cognitiva (“discernimento”)e funcional. Avaliações de capacidades específicas Para avaliar o “pleno discernimento” para testar e doar: Quantidade e valores dos bens; Motivações, relacionamento com herdeiros e donatários, Coerência biográfica Avaliações de capacidades específicas Transtorno mental e casamento: Validade de casamento de incapaz: os absolutamente incapazes não podem se casar; relativamente incapazes podem se casar com autorização do curador ou sendo comprovada por pericia sua capacidade de compreender o significado desse ato. (2) Anulação do casamento o dissolução de sociedade conjugal: Quem casar com doente mental sem saber da condição e haver prejuízo na vida conjugal pode anular casamento; Enfermidades que forem hereditárias ignoradas também podem levar à anulação. Avaliações de capacidades específicas Incapacidade laboral: Avaliação deve ser centrada nas habilidades para realizar trabalho específico. Não é causa de interdição de outros atos. Prof. Marcela Novais Medeiros marcelanovaismedeiros@yahoo.com.br
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