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DOS CONTRATOS EM ESPÉCIES

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DOS CONTRATOS EM ESPÉCIE
Contrato de Compra e Venda: arts. 481/520 C. Civil
Conceito: estabelecido pelo art. 481, é o contrato pelo qual um dos contraentes se obriga a transferir o domínio de determinada coisa e, em contraprestação, o outro contraente deve pagar-lhe o preço combinado. Há obrigações recíprocas.
Natureza obrigacional: a compra e venda, como contrato que é, reflete efeitos meramente obrigacionais e não reais, pois no sistema jurídico nacional, diversamente do francês, a compra e venda por si só não transfere o domínio (propriedade) da coisa, mas gera para o vendedor a obrigação de transferi-la. (cf. arts. 1.245 e 1.267).
Aquisição do domínio: por consequência, no direito brasileiro a aquisição do domínio dar-se-á pela tradição, se a coisa vendida for móvel, e pelo registro (antiga transcrição imobiliária), se o bem for imóvel.
Natureza jurídica: é contrato consensual (art. 482: ultima pelo mero consentimento), bilateral ou sinalagmático (reciprocidade de prestações: a causa de uma prestação é a prestação do outro), oneroso (sacrifício patrimonial recíproco), em regra é comutativo (estimativa das prestações no ato da contratação. Pode ser aleatório: arts. 458, emptio spei, e 459, emptio rei speratae). Às vezes requer forma solene, prescrita em lei (escritura pública para imóveis de valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo do país, de acordo com o art. 108 do Código Civil (Lei n. 10.406/02), mas normalmente é de forma livre (até verbal).
Elementos estruturais da compra e venda: de conformidade com o art. 482, três são os elementos do contrato:
consensus: é o consentimento das partes em alcançar o resultado: 1) em relação ao objeto do contrato: a transferência do domínio sobre a coisa; 2) em relação ao preço: a transferência (ou entrega) do valor;
pretium: é efetivamente o preço do bem, que deve ser em dinheiro para não se caracterizar contrato de troca, e seja determinado ou determinável (arts. 485/489);
res: a coisa é o terceiro elemento do contrato, que pode ser qualquer coisa que não esteja fora do comércio, isto é, que não seja insuscetível de apropriação ou legalmente inalienável (CC, arts. 65/66).
Conseqüências derivadas (ou subsidiárias) da compra e venda: algumas dessas situações são acessórias, como a garantia do adquirente aos vícios redibitórios e à evicção; outros são decorrentes da lei, como a disciplina da obrigação das despesas do contrato. São elas:
a) responsabilidade pela evicção e vícios redibitórios: o alienante responde pela perda do bem pelo adquirente, quando privado dela por sentença judicial que a atribui a terceiro; da mesma forma e pelo mesmo princípio da garantia, o alienante responde pelos vícios ocultos portados pela coisa (CC, arts. 441/446 e 447/457);
b) despesas de contrato: no silêncio das partes, que podem ajustar o contrário, a lei supre sua vontade e dispõe que as despesas da escritura ficam a cargo do comprador e da tradição a cargo do vendedor (CC, art. 490);
c) o problema dos riscos: aplicação específica da regra que disciplina as obrigações de dar coisa certa: o art. 492 estabelece a aplicação do princípio "res perit domino": a coisa perece para o dono e este sofre os prejuízos decorrentes do perecimento. Se vimos que o simples contrato de compra e venda não transfere o domínio, até o instante da efetiva entrega do bem os riscos correm por conta do vendedor.
Nota: se houver sido procedida a tradição simbólica, quando a coisa é colocada à disposição do comprador (para contar, assinalar, marcar etc.) e ocorre o perecimento ou deterioração por razões de caso fortuito ou força maior (pois a culpa induz a obrigação), quem arca com os prejuízos é o comprador (res perit domino) (art. 492, § 1º); da mesma forma, caso tenha havido a remessa da coisa para local indicado pelo comprador, houve tradição e a coisa, perecendo ou deteriorando, suporta o prejuízo o comprador (art. 494); ainda que não tenha ocorrido a tradição, por mora do comprador, que por isso ainda não é dono, sofrerá ele, comprador, os riscos do perecimento ou da deterioração. É exceção à regra imposta pela transferência do encargo ao moroso, porque a mora do credor não pode agravar a responsabilidade do devedor (CC, arts. 400 e 492, § 2º).
d) a questão da garantia: sendo a compra e venda um contrato, com prestações recíprocas em que uma tem por causa a outra (entrega do bem e pagamento do preço), não tendo sido ajustado um prazo a reciprocidade das prestações deve ser o mais efetivamente possível simultâneas; essa a garantia de ambas as partes. Como nem sempre isso ocorre, a lei prefere resguardar o interesse do vendedor estabelecendo, no art. 491, que pode reter a coisa até receber o seu preço (conferir). Na venda a vista a garantia é maior para o vendedor e menor para o comprador; na venda a prazo a lei também mune o vendedor de garantias (suspensão da entrega e mesmo caução) (art. 495).
Limitações à compra e venda por falta de legitimação da parte: a lei nega legitimação a determinadas pessoas para figurar no negócio jurídico da compra e venda, em razão da situação ou circunstância que cerca essas pessoas frente a certos e determinados negócios. Vejamos os casos analisando os arts. 496, 497 e 504 CC:
1) Art. 496: venda a descendente: os ascendentes não podem vender a descendente sem o consentimento dos demais e do outro cônjuge. A vedação busca evitar a promoção de desigualdade de quinhão hereditário através de eventuais atos fraudulentos; liberalidade acobertada por pseudo contrato oneroso. Segundo o art. 544 CC, doação de ascendente a descendentes ou de um cônjuge a outro importa em adiantamento de legítima que deverá ser levada à colação (ao inventário) para reequilibrar os quinhões hereditários. A venda simulada poderia encobrir a liberalidade e prejudicar os demais herdeiros. Nota: Observar parágrafo único do art. 496.
1.a) legitimação ativa para a demanda: será parte legítima para promover a ação o outro cônjuge ou o herdeiro descendente, seja por direito próprio (sucessão por cabeça) ou por direito de representação (sucessão por estirpe).
1.b) forma e prova da anuência e possibilidade do suprimento judicial: a exigência legal contida no art. 496 não prevê a forma, quedando-se omisso, exigindo que seja expressa para gerar o consentimento dos demais descendentes. Note-se que pode ser provado com testemunha os atos cujo valor não ultrapasse o décuplo do valor do salário mínimo (CPC, art. 401).
 Estabelece-se, por interpretação da regra geral contida no art. 220, que a forma solene (escritura pública) será exigida se tratar-se de bem imóvel de valor superior a 30 (trinta) salários mínimos. E se houver interesse na venda e não for fraudulenta, havendo recusa injustificada dos demais herdeiros descendentes em anuir pode o ascendente buscar o suprimento judicial do consentimento? Corrente entende que não (W. B. Monteiro, Clóvis Beviláqua, Agostinho Alvim); corrente entende que pode (Sílvio Rodrigues, Sílvio de Salvo Venosa, RT 354/506,520/250, 607/166).
1.c) o momento em que a ação deve ser proposta e quando inicia o prazo da prescrição: após muitas discussões e vigência da Súmula 152 do STF, que determinava a prescrição da ação em quatro anos, a contar da abertura da sucessão, passou a vigorar a atual Súmula 494 do STF que expressa a prescrição da ação em 20 (vinte) anos, a contar da data do ato praticado. Nota: o art. 205 da Lei n. 10.406/02 reduziu os prazos máximos para 10 (dez) anos; há disposições transitórias no art. 2.028/2030. 
1.d) finalidade da ação: nulidade ou anulabilidade (anulação) do negócio: o ato de venda, nas circunstâncias apontadas, fere frontalmente o direito dos herdeiros preteridos, ressaltando a interpretação de ser ato anulável (art. 171, II, CC) por se referir a interesse privado cuja ação só legitima esses herdeiros, além de poder tal ato ser convalidado, ratificado a posteiori. Todavia, por via reflexa fere
o interesse coletivo, preocupado com a manutenção da paz familiar, o que traria o negócio para a esfera do ato nulo (art. 166, IV e V, CC). 
A orientação moderna, adotada pela Súmula 494, é de que o negócio não traz apenas um vício social (simulação ou fraude), mas que se trata de uma infringência a preceito cogente de lei, desafiando a nulidade, mas a nulidade relativa, o que equivale a dizer que traz os mesmos efeitos da anulabilidade do ato e não a sua nulidade, pois o ato pode convalescer (ser ratificado) se não houver provocação dos únicos legitimados para provocar sua nulidade: os descendentes.
Nota: a postura do vigente Código Civil é de que o ato é apenas anulável; assim a dicção de seu art. 496, in verbis: "É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido."
2) Art. 497: compra por pessoa encarregada de zelar pelo interesse do vendedor: segundo Clóvis Beviláqua, "as proibições deste artigo têm um fundamento moral transparente: manter a isenção de ânimo naqueles a quem se confiam interesses alheios". Nos incisos I e II desse artigo a lei cuida da vedação em relação a pessoas que cuidam de interesses alheios, tais o tutor, o curador, os administradores e os mandatários que, ao se tornarem compradores, se a lei não os vedasse, provocariam um conflito de interesses. Nos incisos III e IV, a vedação legal opera em razão da função da pessoa do comprador, que poderia exercer influência no negócio.
Nota: Há controvérsias quanto a validade da venda efetuada diretamente pelo mandante ao mandatário, o que afastaria a proibição do art. 497, II, do CC. Alguns opinam pela vedação, pois entendem haver influência do mandatário sobre o mandante, outros vêem no negócio praticado diretamente pelo mandatário uma revogação do mandato e, pois, legítima. A Súmula 165 STF valida o ato.
3) Art. 504: venda de coisa indivisível efetuada por condômino: o art. 1.314 do Código Civil permite ao condômino alhear (vender) livremente sua cota condominial. Mas tal direito de propriedade não lhe retira a obrigação de observar as imposições contidas no art. 504 do mesmo diploma, quando tratar-se de coisa indivisível. Preterido o condômino, nessas condições, poderá exercer o seu direito de preempção ou preferência, de conformidade com o aludido nos arts. 513 usque 520 do CC.
Regras especiais sobre algumas modalidades de venda:
a) venda por amostra: de conformidade com o art. 484 CC, a venda pode efetuar-se por meio da amostra do produto exibido pelo vendedor. Afirmada a aquiescência do comprador, à vista da amostra, o negócio está perfeito e acabado, cabendo a este exigir a entrega da mercadoria de mesma qualidade. O vendedor recalcitrante incorrerá em inadimplemento contratual e sujeitará às imposições da lei (perdas e danos).
b) venda "ad corpus" e venda "ad mensuram": segundo o art. 500 CC, a venda de um imóvel poderá ser efetuada em caráter ad corpus, isto é, coisa certa, por sua totalidade, ou ad mensuram, ou seja, por sua metragem, sua área efetiva. Assim, se o negócio envolver a venda do imóvel dependente da efetiva medida e a entrega se der em área menor, o comprador poderá opor-se ao vendedor promovendo a ação competente: ação ex empto ou ex vendito, que é o pedido de complementação da área. Não sendo possível a complementação, abrem-se duas hipóteses ao comprador na modalidade de ação redibitória ou estimatória, no prazo decadencial de um ano para qualquer ação, inclusive a ex empto (art. 501): a) o pedido de abatimento do preço ou, b) a rescisão do contrato. Se, ao contrário, o negócio envolver o imóvel de forma global, sem depender da efetiva metragem, nenhuma ação caberá caso ocorra diferença na sua metragem. Em certos negócios, na prática a situação se mostra difícil para interpretar-se se a compra se deu ad corpus ou ad mensuram, especificando a lei (§ 1º) pela presunção juris tantum de ter sido ad corpus quando a diferença não ultrapassar 1/20 (5%) do total enumerado no título. Há, ainda, interpretação jurisprudencial à venda ad corpus quando a coisa for cercada, ter seus limites definidos ou nomeados os confinantes.
Nota: o art. 500, § 2º, da Lei n. 10.406/02 expressa o mesmo direito ao vendedor que, por desconhecimento, entregar, na venda ad mensuram, maior área que aquela efetivamente vendida. Neste caso, caberá ao comprador a escolha entre complementar o preço ou devolver o excesso.
c) vendas imobiliárias e exigências fiscais correspondentes: nas alienações imobiliárias exige o fisco a apresentação ao cartório competente das certidões negativas de ônus (impostos). Cumprida a exigência, fica o adquirente exonerado de eventuais ônus pendentes que, por erro da Fazenda, não foram apontados na certidão requerida.
d) defeito oculto (vício redibitório) nas vendas de coisas conjuntas: o art. 503 CC expressa que se uma coisa, comprada em conjunto, apresentar vício, não confere possibilidade ao adquirente de devolve-las todas, mas apenas aquela viciada. A discussão que se impõe é saber se em determinada venda, como uma coleção de livros, o vício em um deles, como a falta de algumas páginas, uma coloração diferente, vicia o todo, possibilitando a devolução integral, ou só possibilitaria a devolução daquele volume. A resposta, não pacífica, é de que, desnaturado o todo, o vício se alastra e impõe a recusa. Já na compra de vários livros independentes, o vício em um deles não vicia os demais.
Expedientes para garantia do vendedor: 
Alguns expedientes legais são utilizados pelo vendedor para aumentar sua garantia ao adimplemento do comprador: o pagamento do preço. Entre eles estão a promessa de venda e compra, aplicado aos negócios envolvendo bens imóveis, e a venda com reserva de domínio, utilizada nas vendas de bens móveis, em que o alienante conserva o domínio da coisa, mesmo transferindo a posse. Por razões de reflexos jurídicos, com o aparecimento da figura da Instituição Financeira como terceiro integrante do negócio, necessitou-se de aprimoramento nos dois institutos, surgindo, com o advento da Lei de Mercado de Capitais, Lei n. 4.728/65, as regras básicas do contrato de alienação fiduciária em garantia, reestruturado pelo Decreto-lei n. 911/69, adotado pelos arts. 1.361 a 1.368 do Código Civil.
1) contrato de compromisso de venda e compra: (Decreto-lei n. 58/37, Lei n. 649/49, Lei n. 6.014/73) considerado no direito obrigacional um contrato preliminar que tem por objeto um contrato definitivo: a venda e compra. De fato, por esse contrato o compromitente vendedor promete que no futuro venderá o imóvel prometido, se receber o preço, continuando no domínio e entregando apenas a posse ao compromissário comprador; essa situação constitui-se em enorme garantia para o vendedor. Possui, como razão por sua enorme difusão, o fato de não acarretar, durante muito tempo, a obrigação do recolhimento do imposto de transmissão "inter vivos". O vigente Código Civil trata desse contrato na Direito das Coisas, na modalidade de “direito real de aquisição”, arts. 1.417 e 1.418, sob o título “Do direito do promitente comprador”.
1.a) promessa unilateral de venda: distinguida por Orlando Gomes, é denominada de opção e consubstancia-se naquele ato em que uma pessoa se obriga a vender certo bem a outra, dentro de um certo prazo e por um preço determinado. A obrigação é unilateral do vendedor. A par da opção (garantia da compra), há a promessa unilateral de compra (garantia da venda), muito mais raro de acontecer, em que fica o vendedor garantido em seu mercado; nesta a obrigação é unilateral do comprador.
1.b) promessa bilateral de venda e compra: é o compromisso recíproco de venda e compra que vincula indistintamente os contratantes: o compromitente vendedor e o compromissário comprador.
Nota: na nova sistemática adotada pela Lei n. 10.406/02, arts. 1.417/1418, acompanhando a doutrina e a jurisprudência, o contrato de compromisso de venda e compra, com cláusula de irretratabilidade (não arrependimento)
e devidamente registrado no Registro Imobiliário, foi erigido a direito real de aquisição.
2) venda com reserva de domínio: o instituto é de fácil compreensão, pois o próprio nome estabelece sua conceituação: trata-se de pacto adjeto (cláusula acessória) no negócio de venda e compra de coisa móvel, durável, individualizado pela marca, tipo, número indelével (que não se pode apagar), em que o alienante transfere a posse da coisa alienada ao adquirente, conservando seu domínio até o integral pagamento do preço. O vigente Código Civil trata do assunto nos arts. 521 a 528; o Código de Processo Civil a prevê nos arts. 1.070 e 1.071. É instrumento bastante utilizado porque, do lado do consumidor, favorece a aquisição do bem, do lado do vendedor, é meio de garantia do adimplemento. A natureza jurídica desse contrato é de contrato de venda condicional (condição suspensiva), aperfeiçoando pelo advento de evento futuro e incerto (condição): o pagamento do preço. A reserva de domínio exige a forma escrita do contrato, pois de outra forma não poderia ser comprovada a reserva; ademais, para valer contra terceiros (eficácia erga omnes) ainda é obrigatório o seu registro no Cartório de Títulos e Documentos (Decreto-lei n. 1.027/39). Como o vendedor remanesce com o domínio, transferindo só a posse, sofre o instituto uma inversão ao princípio de que "res perit domino", pois ocorrendo qualquer situação de perecimento ou deterioração na coisa, em posse do adquirente, este é que sofrerá o prejuízo: res perit emptoris. Ocorrendo o inadimplemento da obrigação por parte do adquirente possuidor direto, resta ao alienante senhor e possuidor indireto duas alternativas: a) pleitear o pagamento das prestações vencidas e vincendas (CPC, art. 1.070); b) considerar rescindido o contrato e pleitear a sua reintegração na posse (busca e apreensão - CPC, art. 1.071, § 3º). Nessa hipótese, se o comprador tiver pago mais de 40% (quarenta por cento) do preço lhe é deferida a prerrogativa de concessão de prazo (até trinta dias) para purgar a mora (pagar as prestações vencidas e as custas). O Código de Processo Civil (art. 1.071, § 1º), determina a devolução ao comprador do valor excedente da quantia paga, deduzida a desvalorização do bem (cf. art. 53 do CDC).
3) contrato de alienação fiduciária (em garantia): se a venda com reserva de domínio serve à garantia do comerciante que aliena à prestação, a alienação fiduciária garantirá um terceiro, como regra uma instituição financeira, que "emprestou" o dinheiro ao adquirente para pagar ao alienante a coisa adquirida. Nesse tipo de venda e compra, além da presença do alienante e do adquirente, haverá o terceiro, o financiador, interveniente na venda e compra ao pagar o preço integral do bem ao vendedor e receber, por transferência, o domínio desse bem, conservando o comprador a posse direta. Assim, as partes se colocam na seguinte posição: o vendedor tem seu crédito satisfeito e retira-se da relação negocial, o adquirente (consumidor) passa a ser possuidor direto e alienante-devedor fiduciário, a instituição financeira ocupará a posição de adquirente-credor fiduciária. É espécie de propriedade resolúvel, pois ao adimplir o pagamento do preço, pelo adquirente, a propriedade se resolve de pleno direito em suas mãos. Assim, o direito do financiador se estabelecerá por intermédio do constituto possessório (denominada cláusula constituti, é modo de aquisição/perda simbólica ou ficta - traditio ficta - da posse em virtude de uma tradição convencional). Essa a dicção do art. 66 da Lei n. 4.728/65 (Lei do Mercado de Capitais), in verbis: "A alienação fiduciária em garantia transfere ao credor o domínio resolúvel e a posse indireta da coisa móvel alienada, independentemente da tradição efetiva do bem, tornando-se o alienante ou devedor em possuidor direto e depositário com todas as responsabilidades e encargos que lhe incumbem de acordo com a lei civil e penal." A natureza jurídica do instituto é de compra e venda sob condição resolutiva (o negócio gera efeitos desde sua formação e resolve-se com o pagamento), com cláusula "constituti". É contrato que impõe a forma escrita e pormenorizadas as avencas: total da dívida, ainda que estimada, local e data do pagamento, taxa de juros, comissões, correção monetária, cláusula penal, descrição do bem etc (art. 66, § 1º da Lei n. 4.728/65). Questão que gera posição confortável ao terceiro financiador é a de poder vender diretamente o bem, sem leva-lo a leilão judicial (art. 2º do Decreto-lei n. 911/69). A ação disposta a seu favor é a de busca e apreensão, que lhe é deferida liminarmente. Não encontrado o bem, o credor fiduciário requererá a transformação da busca e apreensão em depósito (CPC, arts. 901/904), podendo o devedor fiduciário depositar o valor equivalente do bem; permanecendo o inadimplemento da obrigação, está possibilitada a prisão do devedor pela quebra da confiança (depositário infiel) (CF, art. 5º, LXVII). 
Nota: o contrato de alienação fiduciária está inserido nos arts. 1.361 usque 1.368 do vigente Código Civil, sob o título de "Da propriedade fiduciária", no Livro III, "Do Direito das Coisas", uma vez que a garantia que dele emana é de natureza real
Cláusulas especiais do contrato de venda e compra:
1) Da retrovenda: instituto em franco desuso, dispõe o art. 505 CC que pode o vendedor se reservar o direito de recobrar a coisa imóvel vendida, em prazo determinado (até três anos), restituindo ao comprador o preço do bem acrescido das despesas obtidas. Do conceito expõe a natureza jurídica do instituto: cláusula (pacto) acessória (adjecto) através do qual o vendedor se reserva a prerrogativa de resolver o negócio. Há, no caso, uma condição resolutiva expressa que, ocorrendo, devolve as partes ao statu quo ante pelo simples desfazimento do negócio original; não caracterizando outra alienação. Duas são as condições necessárias para sua ocorrência: a) que o exercício da retratação ocorra dentro do prazo decadencial de 3 (três) anos. Ainda que as partes venham a convencionar maior prazo, a lei entende como não escrito, reduzindo ao prazo legal; b) que o negócio envolva a alienação de bem imóvel. Por ser propriedade resolúvel, dispõe ao vendedor o jus persequendi, o direito de seqüela contra todos (erga omnes) (CC, art. 1.359).
2) Da venda a contento: prevista no art. 509, venda a contento é aquela realizada sob a condição (suspensiva) de só se tornar perfeita e obrigatória após declaração do comprador de que a coisa o satisfez (cláusula ad gustum). Aplica-se na maior parte aos contratos que envolvem coisas cujo gênero carece de provar, medir, pesar ou experimentar antes de definitivamente aceito (CC, art. 510). Da condição suspensiva decorrem alguns efeitos jurídicos: a) o domínio da coisa continua com o alienante até o advento da concordância do adquirente, sendo que àquele caberá a perda advinda do fortuito (res perit domino); b) por não ter adquirido o domínio, o adquirente é mero comodatário do bem, exercendo posse precária (art. 511). A condição a que se subordina o negócio é simplesmente potestativa do comprador (emana da vontade exclusiva de uma das partes, mas influenciada por interesses e conveniências externas). A lei não impõe prazo para o seu exercício, deixando às partes esse mister; caso não estipulem no contrato, deverá o alienante notificar (notificação ex persona) o adquirente para declarar sua opção sob pena de, vencido o prazo, considerar-se perfeita e acabada a relação jurídica (art. 512). Da mesma forma que o anterior, é instituto praticamente em quase total desuso.
3) Da preempção e preferência: diferentemente dos anteriores, o instituto conserva a atualidade e plena aplicação Com efeito, dispõe o art. 513 CC que a preempção ou preferência impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que vai vender ou dar em pagamento. Há necessidade de se observar a presença de 3 (três) requisitos para sua caracterização: a) que o comprador queira vender a coisa; b) que o vendedor queira readquirir
a coisa pelo preço ajustado ou avaliado; c) que o vendedor exerça o direito dentro do prazo determinado por lei (CC, art. 513, par. único). Deflui dos requisitos que se o comprador não pretender vender a coisa, o pretenso direito do vendedor ficará suspenso; pretendendo vender, o comprador originário deve comunicar (afrontar, notificar) o vendedor originário, que terá que pagar o preço encontrado no mercado sob pena de perder o direito (art. 515), além disso, o prazo do exercício do direito é decadencial, em ambos os casos contados da comunicação, sendo que o parágrafo único do art. 513 da Lei n. 10.406/02 estabelece o prazo de até 180 dias, para coisa móvel, e de até 2 anos, se imóvel. A natureza jurídica é de negócio acessório, em geral adjecto à compra e venda. Difere da retrovenda pelas principais circunstâncias: a) a retrovenda só tem aplicação sobre bens imóveis, o pacto de preferência incide sobre qualquer natureza de bens;b) na retrovenda o direito de exigir é conservado pelo vendedor, no pacto fica a cargo do comprador e pelo preço de mercado; c) na retrovenda os direitos gerados são transmissíveis, no pacto gera direitos pessoais (art.520 CC). Dada a obrigação assumida no pacto acessório, seu descumprimento gera os seguintes efeitos havendo descumprimento pelo devedor (adquirente-vendedor): não sendo comunicado o vendedor para exercer o direito de prelação, deve este tomar as medidas cabíveis: a) notificar o devedor da intenção de exercer seu direito, se a coisa ainda não foi vendida; b) exigir as perdas e danos, se o bem já tiver sido vendido. Nota: o direito de preempção estudado aqui é de natureza pessoal e não real (art. 518 CC).
Nota: os casos de preferência do condômino na aquisição de parte indivisa de bens (CC, art.504) e a do inquilino (art. 27 da Lei n. 8.245/91), são exemplos de preempção, prelação ou preferência legal. O instituto acima estudado trata-se de preferência convencional. 
4) Da retrocessão: dispositivo deslocado da área própria, pois deveria verificar-se no direito administrativo (direito público), que trata da desapropriação, vem expresso no art. 519 do CC impondo ao Poder Público a obrigação de dar preferência ao proprietário desapropriado, quando o bem não foi utilizado para o fim previsto no ato desapropriatório. Há discussões doutrinárias e jurisprudenciais acerca do artigo ao estabelecer qual o efeito gerado pelo descumprimento da obrigação. Pode o ex-proprietário preterido exigir perdas e danos? Cessa o direito do ex-proprietário ainda em caso de ser o bem destinado a outro fim público que não aquele indicado inicialmente? Há alguns entendimentos para ambas as soluções, entendendo, no caso de indenização ao ex-proprietário, que sua verificação se dá entre a variação do preço efetivamente pago e do valor verificado na época da destinação do bem para outro fim.
5) Do pacto de melhor comprador: instituto que desaparece do "novo" Código Civil, no atual, e ainda vigente, figura nos arts. 1.158/1.162, estabelecendo que: "Art. 1.158. o contrato de compra e venda pode ser feito com a cláusula de se desfazer, se, em certo prazo, aparecer quem ofereça maior vantagem". O prazo estabelecido no parágrafo único do artigo citado é de, no máximo, 1 (hum) ano. Oriundo do direito romano, é negócio jurídico dependente de condição resolutiva do negócio, pois este gera efeitos, isto é, tem eficácia desde seu implemento, vindo a se resolver se aparecer, dentro do prazo, alguém que pague melhor pelo objeto. O prazo também é decadencial e o direito exercido apenas pelo titular-vendedor, não podendo ser cedido (art. 1.158, parágrafo único). Ainda que apareça quem dê maio preço na coisa, pode o comprador ilidir a resolução do contrato, pagando a diferença do preço.
6) Do pacto comissório: também não presente no vigente Código, pois desnecessário, uma vez que o instituto refere-se à cláusula resolutiva tácita, presente em todos os contratos bilaterais, constante do art. 1.092, o atual código o prevê com aplicação específica à compra e venda no art. 1.163, como cláusula resolutiva expressa, dispondo às partes que, não cumprido o contrato dentro do prazo, a outra pode pedir a resolução ou, se preferir, exigir o preço. Ainda que seja prevista a resolução de pleno direito (parágrafo único do art. 1.163), já é pacífica na jurisprudência a necessidade de notificar o devedor (notificação ex re) e declaração judicial de natureza declaratória. Nota: o prazo será de 15 dias para os imóveis não loteados (Decreto-lei n. 745/69) e de 30 dias para imóveis loteados (Lei n. 6.766/79).-
DA VENDA SOBRE DOCUMENTOS: CC, art. 529 s.
Previsto no art. 529 e s. do vigente Código Civil, é modalidade de compra e venda mais utilizada no comércio marítimo, na venda de praça a praça e entre países, que tem como característica a entrega do título representativo da coisa, e demais documentos inerentes, substituindo a tradição da própria coisa. 
Obrigação/direito do vendedor: promover a entrega dos documentos, liberação da obrigação e direito a receber o preço.
Obrigação/direito do comprador: de posse do documento pode exigir do transportador a entrega da mercadoria e obrigar-se-á ao pagamento sem possibilidade de reclamar defeito ou qualidade na coisa; salvo de o defeito já estiver comprovado anteriormente.
Pagamento bancário: prevendo o contrato esta modalidade de pagamento, o banco deverá efetuá-lo mediante a contra-entrega dos documentos representativos da mercadoria.
Nota: nesta modalidade de pagamento, o vendedor só poderá exigi-lo do comprador no caso de recusa do estabelecimento bancário.
DA TROCA/PERMUTA: CC, art. 533
Da Troca ou Permuta: Conceito: é o contrato pelo qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra, que não seja dinheiro. Aplicam-se à troca as disposições relativas à compra e venda.
Partes: são simultaneamente alienantes e adquirentes.
Natureza jurídica: é negócio jurídico bilateral, oneroso e consensual
Permuta de valores desiguais: de regra não desnatura o conceito de troca, vindo a ser considerado compra e venda se o valor em dinheiro retornado for de tal expressão ou monta que se caracterize como objeto principal do contrato, representando mais da metade do pagamento.
Troca entre ascendente e descendente: se os valores forem desiguais e o bem do ascendente for maior, carece de anuência dos descendentes e cônjuge (art. 496).
DO CONTRATO ESTIMATÓRIO: CC, art. 534 s.
Conceito: popularmente conhecido como venda em consignação, é o contrato pelo qual o vendedor, denominado consignante, entrega bem móvel a outrem, denominado consignatário, para ser vendido pelo preço estimado cujo valor deverá ser entregue ao primeiro. Pode o consignatário, no prazo, devolver a coisa consignada.
Nota: o consignatário recebe o bem com a finalidade de vendê-lo a terceiro, mas nada impede que fique com o bem, pelo preço ajustado, e revenda-o auferindo lucro.
Natureza jurídica: é contrato de natureza real, oneroso, bilateral e comutativo.
Princípio aplicado: durante o prazo da consignação, aplica-se o princípio da res perit emptoris, já que o domínio do bem pertence ao consignante mas a posse direta, que não pode ser turbada nem mesmo pelo dono, pertence ao consignatário.
DOAÇÃO: CC, art. 538 s
Conceito: o contrato pelo qual uma pessoa, o doador, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens e vantagens para o de outra, o donatário, que os aceita. Assim, a lei fixa o caráter contratual da doação (arts. 538/9).
Natureza jurídica: contrato unilateral, gratuito, consensual (podendo ser real = doação manual), de regra solene.
Aceitação: manifestação concordante do donatário e indispensável, essencial para o aperfeiçoamento do negócio jurídico. Pode ser expressa, tácita ou por presunção da lei: nos casos de incapazes (art. 543) ou formulada pelos pais em relação ao nascituro (art. 542).
Aceitação expressa: quando revelada de forma verbal, escrita ou por gestos.
Aceitação tácita: quando resultar do comportamento do donatário,
incompatível com sua recusa em aceitar a liberalidade.
Aceitação por presunção da lei: CC, art. 539: o silêncio induz aceitação por presunção da lei; CC, art. 543: as regras da incapacidade são para dar proteção ao incapaz, sendo a doação pura, ela só trará benefícios a esses; doação feita em favor de casamento futuro do donatário com certa e determinada pessoa, realizado o casamento aperfeiçoa-se a doação; a doação feita a nascituro com anuência dos pais. 
Elementos: a) a existência do animus donandi (elemento subjetivo): a intenção de praticar a liberalidade e que consubstancia na principal característica; b) a efetiva transferência de bens com a conseqüente diminuição do patrimônio do doador (elemento objetivo) 
Forma da doação: a formalidade visa: a) garantir a autenticidade do ato; b) assegurar a livre manifestação da vontade das partes; c) advertir as partes para a seriedade do ato praticado; d) facilitar a prova do negócio jurídico.
CC, art. 541: de regra utiliza-se a forma solene (prescrita em lei): escritura pública ou instrumento particular. O escopo da norma é proteger o efetivo interesse do doador quando da manifestação da vontade em praticar a liberalidade.
Insinuação: Nas Ordenações do Reino, além da formalidade que se conserva, passava o doador por atos praticados pelo Judiciário pelos quais havia interrogatório deste e oitiva de testemunhas (vizinhos) para averiguar a isenção de eventual coação.
Exceções: CC, art. 541, par. único: doação verbal em móveis de pequeno valor e tradição imediata do bem; art. 215 CC: imóveis de valor acima de 30 vezes o maior salário mínimo (art. 108, Lei n. 10.406/02).
Espécies de doação: 
a) doação pura e simples (ou típica): consiste em mero benefício do devedor, impelido por exclusivo espírito de liberalidade. Adiciona-se nesta espécie a doação feita por contemplação do merecimento do donatário, denominada doação contemplativa. (CC, art. 540). 
b) doação remuneratória: promovida com o escopo ou propósito de “pagar” um serviço prestado pelo donatário que não foi ou não podia ser exigido seu pagamento. É “doação de gratidão”. Ex. a quem salva-lhe a vida ou o patrimônio; a quem “paga” uma dívida de prestação de serviços vencida. Nota: se o valor “pago” exceder o “devido” o excesso representará doação pura e simples. 
c) doação com encargo (modal, onerosa ou gravada): aquela que impõe ao donatário uma contraprestação que resulta numa vantagem para o doador, para interesse geral ou para terceiro (CC, art. 553), consubstanciado numa incumbência ou dever. Ex. dar pensão a um parente ou ao próprio doador; concessão de bolsas de estudo mediante a doação a uma universidade etc. Nota: ao encargo aplica-se a regra da condição resolutiva (art. 136) e a legitimidade para exigir-lhe o cumprimento é do doador, do terceiro (estipulação em favor de terceiro), ou o Ministério Público quando o encargo for de interesse geral e o doador já houver falecido (art. 553, par. único)
Caráter de liberalidade: a doação remuneratória, bem como a com encargo, não perde seu caráter de liberalidade apenas naquilo que excede o valor da “remuneração” ou encargo; até o seu valor equivalente é negócio oneroso (art. 540 CC).
Crítica doutrinária: a equiparação das duas espécies acima não tem razão de ser porque são situações diferentes. A doação remuneratória é liberalidade integral porque o valor do serviço ou é inexigível judicialmente (obrigação natural), ou o credor não queria exigi-lo; já a doação com encargo sempre se constituirá num negócio oneroso, até a correspondência de valores, porque haverá reciprocidade de prestações das partes.
Razões da crítica: o inadimplemento do encargo pode conduzir à revogação da liberalidade (CC, art. 555); as regras acerca dos vícios redibitórios incidem nas doações com encargo e não nas remuneratórias (art. 441, par. único).
d) doação mista: aquela cuja liberalidade vem inserta em outro negócio jurídico de modalidade diversa. Ex. compra e venda a preço ínfimo, aquisição de bem por preço superfaturado etc.
e) doação subordinada à condição suspensiva: CC, art. 546: feita em contemplação de casamento futuro (propter nuptias), com certa e determinada pessoa – si nuptiae sequuntur. A doação não se aperfeiçoará se o casamento não se realizar.
f) entre cônjuges: CC, art. 544: permitida em nossa legislação excepcionando-se dois casos: 1) no regime da comunhão universal de bens, pois a doação torna-se inócua (sem efeito); 2) no regime da separação total obrigatória porque colide com as disposições e fins impostos pela lei (CC, art. 1.640, par. único). Importa tal doação em adiantamento da herança a que eventualmente tiver direito (CC, art. 1.829).
g) doação em forma de subvenção periódica: CC, art. 545: trata-se de uma pensão em favor do donatário que se extingue com a morte do doador, se não se dispuser de outro modo no título constitutivo. Neste caso, não ultrapassa a vida do donatário.
h) doação com cláusula de retorno: CC, art. 547: negócio jurídico portador de condição resolutiva expressa, pois dispõe que a coisa objeto da doação deve retornar ao patrimônio do doador caso este sobreviva ao donatário. É negócio intuitu personae cujo domínio passado ao donatário é resolúvel.
i) doação de ascendentes a descendentes: o art. 544 considera esta doação como adiantamento de legítima. O escopo do legislador é assegurar a igualdade dos quinhões hereditários, de modo que devem retornar à colação por ocasião da abertura sucessória (CC, art. 2002 s). Para não incorrer nessa obrigatoriedade, o bem doado deverá sair da parte disponível e expressamente constar sua dispensa da colação. O valor do bem será aquele computado no tempo da doação (arts. 2002 e 2005).
j) doação feita ao nascituro: esta espécie de doação vem disposta no art. 542 do Código Civil, sendo aceita por seu representante legal (CC, arts. 2º; 1.748, II, c/c 1.774). Traduz-se em direito eventual do nascituro e sujeito a condição suspensiva. 
l) doação em comum ou conjuntiva: aquela feita em comum contemplando mais de uma pessoa (CC, art. 551). Conforme regra inserta no parágrafo único do mesmo artigo, sendo beneficiários os cônjuges, o sobrevivente acresce a parte do falecido. 
Restrições à liberdade de doar: tendo em vista a preservação do interesse das partes ou de terceiros, além das preocupações de caráter moral ou defesa do interesse social, impõe limitações à liberdade de disposição do doador, especificando as seguintes situações:
1) doação de todos os bens do doador – art. 548: a norma visa proteger o doador, que por leviandade ou imprevidência, venha com o ato cair em estado de penúria. Por via reflexa, ou indireta, protege a sociedade evitando que o Estado tenha que prestar-lhe assistência.
 
Exceção: a proibição de doação de todos os bens pode ser ilidida (refutada) se o doador reservar usufruto dos bens (ou parte deles), que lhe garanta a sobrevivência.
Nulidade integral ou parcial: havendo doação de todos os bens, sem reserva de usufruto, a nulidade do ato recai sobre todos os bens, será nulo todo o negócio, embora o doador pudesse viver com metade desses bens.
2) doação de parte inoficiosa (nociva) – art. 549: Essa espécie de doação, restrita por lei, diz respeito à parte excedente do que pode dispor o doador de seu patrimônio (CC, art. 1.846). Nessa proibição o propósito do legislador é proteger o interesse dos herdeiros necessários do doador. Assim como a liberdade de testar é relativa (parte disponível), também a doação deve harmonizar-se com essa regra. Caso pudesse dispor de bens além da metade de seu patrimônio, por ato inter vivos, estaria sendo burlada aquela proibição de disposição limitada causa mortis. Nota: caso o doador não possua herdeiro da categoria necessária, poderá dispor livremente, só limitado pela indisposição de todos os bens.
Momento do cálculo patrimonial: para avaliar o montante do patrimônio do doador e estabelecer o montante que pode alienar a título gratuito, a regra fixa o momento
do ato de liberalidade e não quando da sucessão. Se fosse neste último, a insegurança do donatário, e, pois, da sociedade, porque o domínio do bem doado permaneceria sob condição resolutiva, vindo a aperfeiçoar-se com a morte e avaliação dos bens.
Momento para ajuizar a ação revocatória da doação inoficiosa (ação de redução): há corrente doutrinária que entende ser possível propor a ação desde o momento do ato de liberalidade; outra corrente entende que tal promoção só é possível após a morte do doador. 
Importância do tema: a importância de tal assunto deve-se ao termo inicial da prescrição (ou será a contar do ato ou a contar do falecimento do doador). A defesa do prazo a contar da morte expõe, entre outros, a possibilidade de que o doador poderá vir a ter herdeiro necessário após o ato de liberalidade, poderá haver constrangimento pelo temor reverencial, dissipação dos bens por hábeis simulações, reduzindo o patrimônio. A corrente que prega a ação desde o ato argumenta que esta decorre da própria lei ao fixar o momento do cálculo da inoficiosidade do ato da doação. É a mesma regra empregada para a ação de anulabilidade da venda de ascende a descendente, sem a anuência dos demais.
Prevalência do interesse social: entre os interesses dos herdeiros e da sociedade, a lei prefere o desta. Assim, a ação poderá ser proposta desde o ato e o prazo de prescrição começa a fluir deste instante.
Nulidade total ou parcial: o art. 549 CC determina que a invalidação recai apenas sobre o excesso que o doador poderia dispor por testamento, no momento da liberalidade.
3) doação que resulta em prejuízo para credores do doador: a lei presume fraudulentos os atos de transmissão gratuita de bens, quando o doador é insolvente ou quando o ato de liberalidade o leve aos estado de insolvência. Nesses casos, há regra legal de revogação da doação através da ação pauliana (art. 158 CC). Neste particular o legislador visou a proteção aos credores.
4) doação do cônjuge adúltero a seu cúmplice – art. 550: nesta proibição a legislação busca a proteção à família e o repúdio ao adultério (afronta à moral social e aos bons costumes). Qualquer dos cônjuges poderá, nessa situação, ajuizar a ação anulatória cujo prazo decadencial é de 2 (dois) anos a contar da dissolução da sociedade conjugal. Nota: aplica-se em qualquer situação de relação extra-matrimonial e não só concubinária.
Destino dos bens: o art. 1.642 do CC dá à mulher o direito absoluto desses bens, sem a interferência do marido. São chamados, entre outros, de bens reservados. 
Separação de fato ou judicial: a jurisprudência já pacificou que no último caso não se aplica a proibição de doação; no segundo a interpretação é pela incidência da vedação. Mas por apresentar-se injusta em alguns casos, esse entendimento tende a modificar-se.
Legitimados à anulação: a lei defere a legitimação ao cônjuge inocente e aos seus herdeiros necessários. O direito é privativo do cônjuge enquanto estiver vivo, só será alternativamente consignado aos herdeiros necessários após sua morte. O curador do cônjuge interditado não possui legitimidade, mas não corre o prazo decadencial contra absolutamente incapaz.
Da promessa de doação: embora os contratos definitivos possam ser precedidos de contrato preliminar que vincula os contraentes à formalização definitiva, em relação à doação pura essa situação não é vinculativa, pois o promitente doador pode se arrepender até o momento da formalização da doação prometida. Esse arrependimento é licito porque a promessa não é vinculativa.
Promessa de doação na separação consensual: embora se faça uma promessa de “doar” o bem para o cônjuge ou para os filhos, na ação de separação consensual o que de fato ocorre e vincula o “promitente” é a obrigação de dar coisa certa (CC. art. 313 s., CPC, art. 639). O tema é controvertido na jurisprudência (RT 699:55, 738:400)
Da revogação da doação: a legislação permite que o doador revogue a doação realizada tendo em vista algumas situações bem características, São elas:
a) por motivos comuns a todos os contratos: art. 562: motivo criticado pela doutrina porque se o legislador inseriu a doação nos contratos tal previsão era desnecessária. Assim, se qualquer contrato pode ser revogado (anulado) por erro, dolo, coação, simulação ou fraude (estado de perigo – art. 156 e lesão – art. 157), por impossibilidade jurídica da condição etc, ou declarado nulo, também pode ser revogada a doação, que é um contrato;
b) por ser resolúvel o negócio: CC, art. 547: quando o doador estipula na doação que os bens doados retornem ao seu patrimônio, se sobreviver ao donatário. Neste caso, o domínio transmitido é resolúvel, pois sujeito a condição resolutiva;
c) por descumprimento do encargo: CC, art. 555, segunda parte: como já visto, a doação com encargo apresenta-se de forma mista, sendo parte onerosa e parte liberalidade. Caracterizando-se o encargo como uma contraprestação do donatário, descumprido este justifica-se a revogação, que tecnicamente quer dizer anulação, rescisão ou resolução. É necessária a intervenção judicial onde deverá ser feita a prova do alegado com a constituição do donatário em mora (arts. 562 e 397 e par. único). O prazo para promoção da ação tem início ao fim do prazo fixado para o cumprimento do encargo.
d) por ingratidão do donatário: CC, art. 555 e 557/8, primeira parte: admite-se a revogação da doação apenas quando esta se caracterizar em pura e simples (art.564). O objetivo do legislador é não só aplicar uma punição ao beneficiário ingrato, mas também dar satisfação moral ao doador, vítima da ingratidão. Segundo Washington de Barros Monteiro, nesse tipo de doação o donatário assume uma obrigação de não fazer constituída na abstenção de praticar atos que contrariem o apreço pelo doador; se descumpre, revoga-se a doação por ingratidão. 
d.1) renúncia da revogação por ingratidão CC, art. 556: por ser de ordem pública, a legislação não permite a renúncia prévia da revogação por ingratidão do donatário. Nesse passo, mais que proteção ao doador, a norma protege a sociedade. Tal renúncia pode ser exercida a posteriori.
d.2) direitos de terceiros: por não se constituir em causa resolutiva expressa (art. 1.360), preserva a lei o direito de terceiro (art. 563).
Notas: 
1) por expressa determinação do art. 564 CC, só serão revogáveis por ingratidão as doações puras;
2) o arbítrio do doador na condução da revogação da doação por ingratidão é limitado, não sendo qualquer ato ofensivo partido do donatário que possibilita tal revogação. Assim, ficam enumeradas as causas de revogação no art. 557. Também é necessária a intervenção do Judiciário para possibilitar ao donatário a oportunidade de produzir provas; a sentença que proclama a ineficácia (revogação) do negócio é constitutiva. O prazo decadencial é de 1 (um) ano, a contar do momento em que o doador tomou conhecimento do fato (art. 559). A revogação da doação é pessoal (intuitu personae), partindo do doador e dirigindo-se ao donatário; não passa para os herdeiros ou sucessores. Exceção: CC, art. 560, 2ª parte;
3) segundo o art. 563 CC, os direitos reais anteriormente constituídos não se resolvem pela revogação da doação. Tal ato não prejudica o direito de terceiros porque a ingratidão é superveniente e não expressa no instrumento de domínio. Revogando-se a doação e o bem já fora alienado, resta ao doador o direito de exigir indenização do valor (CC, art. 1.360).
DA LOCAÇÃO DE COISAS: CC, ARTS. 565/578
Introdução: o termo locação abrange três modalidades distintas: a locação de coisas (locatio rerum), a prestação de serviços (locatio operarum) e a empreitada (locatio operis).
Conceito geral: locação é o contrato pelo qual uma das partes, mediante remuneração que a outra se obriga a pagar, se compromete a fornecer-lhe, durante certo tempo, o uso e gozo de uma coisa (locação de coisa), a prestação de um serviço (locação de serviço), ou a execução de um trabalho determinado (locação por empreitada).
Remuneração:
em cada uma dessas modalidades teremos suas respectivas remunerações que assim se denominam: a) na locação de coisas, aluguel; na locação de serviços, salário; na locação de obra determinada (empreitada), preço. 
Nota: a locação de serviços é regulada pela CLT, tendo os artigos 593 a 609 do Código Civil regulado genericamente o tema da “prestação de serviço”; a empreitada é contrato típico presente nos arts. 610/626 do Código Civil; a locação de coisas será vista a seguir.
Conceito de locação de coisas: conforme expressão do art. 565 do Código Civil, é o contrato pelo qual uma das partes de obriga a ceder à outra, por tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retribuição.
Notas: 1) a cessão de coisa móvel fungível dá origem ao contrato de mútuo. Exceção: excepcionalmente pode a coisa fungível ser objeto de locação quando esta se dá por natureza ad pompam et ostentationem (para ornamentação); 2) a locação de prédios é objeto da Lei n. 8.245/91 – Lei do Inquilinato.
Classificação: é contrato bilateral, oneroso, consensual, comutativo, não solene e de trato sucessivo.
Elementos fundamentais: o objeto (coisas móveis e imóveis não fungíveis), a remuneração (aluguel) e o consentimento (expresso ou tácito).
Obrigações do locador: CC, art. 566.
Obrigações do locatário: CC, art. 569.
Penhor legal: na locação de imóveis, o locador tem o penhor legal sobre os móveis do locatário, que guarnecem o prédio, como garantia de recebimento dos aluguéis (CC, art. 1.467, II).
Disposições gerais: 
1) pode o locador retomar (reaver) a coisa locada, ou o locatário a devolver antes de vencido o prazo contratual, desde que o primeiro pague as perdas e danos resultantes ao segundo e este pague proporcionalmente a multa convencionada ao primeiro (Nota: não se aplica tal possibilidade ao locador quando se tratar de locação de prédios urbanos).
2) sendo por prazo determinado a locação, cessa esta de pleno direito findo o prazo estipulado (mora ex re) (CC, art. 573).
3) sendo a locação sem prazo determinado, a resilição há de ser precedida de denúncia (notificação) a outra parte, com prazo razoável para a desocupação (mora ex persona) (CC, art. 575).
4) de regra poderá o locatário reter a coisa locada em caso de realização de benfeitoria necessária, mesmo sem anuência do locador; se úteis, esse direito dependerá de anuência do locador (CC, art. 575 e 1.219).
Da Locação de Prédios (Regência da Lei n. 8.245/91 – LI):
Prazo: pode ser estipulado o contrato por qualquer prazo, só não pode ser perpétuo. Se o prazo for superior a 10 (dez) anos, depende de vênia conjugal (LI, art. 3º).
Devolução antes do prazo: não pode o locador retomar o imóvel antes de vencido o prazo da locação; pode, todavia, o locatário devolvê-lo antes do prazo se pagar proporcionalmente a multa convencionada ou estipulada pelo juiz (LI, art. 4º). Nota: se a devolução se der por mudança a benefício de serviço, a multa será dispensada.
Locação por prazo igual ou superior a trinta meses: pode ser o imóvel retomado pelo locador, sem prévio aviso, resolvendo o contrato sem alegação de motivo em decorrência do benefício da denúncia vazia (LI, art. 46).
Conversão em prazo indeterminado: vencido o prazo previsto para a locação e continuando nela o locatário, por prazo mínimo de trinta dias, estará automaticamente prorrogada a locação por prazo indeterminado e mantidas as demais cláusulas. 
Denúncia cheia ou motivada: sendo a locação ajustada por prazo inferior a trinta meses, prorroga-se ela automaticamente e sem termo (prazo indeterminado), admitindo-se a retomada pelo locador somente nas hipóteses do art. 47, I a V, da Lei do Inquilinato.
Morte das partes: morrendo o locador, o contrato é transferido aos herdeiros (princípio da saisine); se morrer o locatário, seus herdeiros estarão sub-rogados nos direitos do de cujus.
Alienação do imóvel: o adquirente poderá denunciar a locação, desde que não seja por tempo determinado e constar cláusula contratual de vigência em caso de alienação, além de estar registrado no RI (LI, art. 8º).
Direito de preferência: o inquilino tem preferência na aquisição do imóvel, podendo exercer o direito de preempção ou prelação legal, no prazo de seis meses, a contar do registro imobiliário, se o contrato estiver registrado (LI, arts. 27 e 33). Poderá, também, exigir perdas e danos.
Valor do aluguel: é livre sua fixação pelas partes (LI, art. 17), podendo prever cláusula de reajuste, mas que não vincule ao salário mínimo (LI, art. 18). 
Revisão do aluguel: se, passados três anos do ajuste ou de vigência do contrato, não houver acordo entre as partes sobre o reajustamento do valor, pode ser pedida a revisão judicial para adequar aos valores de mercado (LI, art. 19).
Participação em assembléia condominial: o locatário poderá votar em assembléia geral que trate de despesas gerais ordinárias, se o condômino-locador dela não participar (LI, art. 83).
Garantias da locação: o locador só poderá exigir do locatário, a título de garantias locatícias, as seguintes modalidades: a) caução (móveis, imóveis, títulos, ações e dinheiro (até três vezes o valor do aluguel)); b) fiança; c) seguro de fiança locatícia. Nota: é vedada a exigência de mais de uma dessas modalidades no mesmo contrato (LI, art. 37, par. único, e 38). 
Ação de despejo: seja qual for a causa da resolução do contrato, a ação para tirar o locatário do imóvel será a de despejo. 
Despejo por falta de pagamento: ao pedido de rescisão poderá ser cumulado o de cobrança dos aluguéis atrasados e demais acessórios.
Purgação ou emenda da mora: é o direito reservado ao locatário para, no prazo da contestação da ação de despejo por falta de pagamento, requerer o pagamento da dívida (integral), inclusive custas processuais e honorários advocatícios (LI, art. 62).
Vedação do exercício do direito: se o locatário já tiver utilizado desse expediente por duas vezes nos doze meses anteriores à propositura da ação.
Recurso da sentença: decretado o despejo por sentença, seu recurso de apelação será recebido apenas no efeito devolutivo (LI, art. 58, V).
Ação renovatória de locação comercial / industrial: prevista nos artigos 71 a 74 da Lei do Inquilinato (n. 8.245/91), deve observar os seguintes requisitos: a) o contrato tenha sido celebrado por escrito e por prazo determinado; b) que o prazo mínimo do contrato a renovar, ou a soma dos contratos ininterruptos, seja de cinco anos; c) que o locatário esteja explorando o mesmo ramo de comércio pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos (LI, art. 51).
DO CONTRATO DE EMPRÉSTIMO
Contrato de Mútuo
Conceito e características básicas
Mútuo é o contrato pelo qual uma das partes transfere a propriedade de um bem fungível à outra, que se obriga a lhe restituir coisa do mesmo gênero, quantidade e qualidade (artigo 586 do Código Civil).
Características
Contratualidade: é indispensável a manifestação de vontade de ambas as partes.
Real: o contrato só se perfaz com a tradição, isto é, com a entrega do objeto emprestado.
Gratuito: no silêncio, o contrato é considerado gratuito; porém, pode ser oneroso, quando estipulada contraprestação a ser cumprida pelo mutuário. Exemplos: pagamento de juros nos empréstimos em dinheiro (mútuo feneratício); repetição de juros pagos pelo contratante não prevista no contrato, pois consiste em obrigação natural (artigo 882 do Código Civil).
Para carvalho de mendonça, o mútuo é mercantil bastando que uma das partes seja comerciante. O empréstimo bancário é sempre mercantil, mesmo que o mutuário não seja comerciante, pois é atividade habitual das financeiras (comércio) conceder empréstimos a curto, médio ou longo prazo.
Unilateral: é o mutuário que, em regra, tem obrigações.
Temporariedade: não pode ser perpétuo, caso contrário, transformar-se-ia numa doação. O artigo 592 do Código Civil trata do prazo do mútuo: se de produto agrícola, vai até a próxima colheita; se de dinheiro, vence,
pelo menos, em 30 dias; nas demais hipóteses, no prazo convencionado.
Fungibilidade: o mútuo recai sobre bens que podem ser substituídos por outros do mesmo gênero, quantidade e qualidade. Exemplo: empréstimo de um livro, desde que o exemplar não seja raro nem sua edição esteja esgotada.
Translatividade: significa a transferência da propriedade que acontece com a simples tradição. O mutuário pode usar a coisa como quiser. Pode consumir, alienar e dar, inclusive em submútuo. Não precisa da autorização do mutuante. Assume todos os riscos da coisa, já que há a verdadeira transferência do domínio.
Obrigatoriedade da restituição: a coisa deve ser restituída na mesma espécie, quantidade e qualidade. Não fosse assim, haveria troca, ou compra e venda. A restituição de dinheiro é nominal, não importando se o valor perdeu seu poder de compra pela incidência da inflação. Pode o mutuante exigir garantia do mutuário, pois esse poderá sofrer mudança em sua fortuna. Em caso de morte do mutuário, os herdeiros devem restituir a coisa.
 Requisitos
O mútuo apresenta três tipos de requisitos: 
Subjetivos: os contraentes precisam ter capacidade comum e especial. O mutuante deverá ter aptidão para dispor, alienar a coisa emprestada, pois essa será transferida ao mutuário; deve ter jus disponendi. 
De acordo com artigo 588 do Código Civil, o mútuo feito à pessoa menor, sem autorização daquele que detém sua guarda, não poderá ser reavido pelo mutuário, nem pelos fiadores, salvo (artigo 589 do Código Civil):
-ratificação do responsável pelo menor, suprindo a autorização;
-necessidade do empréstimo para os alimentos habituais;
-bens adquiridos pelo magistério, serviço militar ou função pública do menor. A disposição é ociosa porque o menor passa a ser maior, capaz, em decorrência de tais fatos;
-na hipótese de o menor dolosamente ocultar sua idade, para obter empréstimos (artigo 180 do Código Civil).
Objetivos: o objeto emprestado deve ser fungível, substituível por outro da mesma espécie, quantidade ou qualidade (artigo 85 do Código Civil).
No mútuo em dinheiro, o devedor se exonera da obrigação, restituindo a mesma soma, ainda que o valor seja depreciado. As normas sobre o curso forçado da moeda nacional vedam a estipulação do pagamento em moeda de ouro, prata ou estrangeira. O empréstimo em moeda estrangeira só é válido se uma das partes residir e for domiciliada no exterior.
O mútuo feneratício (oneroso) é permitido no nosso Direito, com cláusula expressa que fixa os juros do empréstimo. Os particulares não podem convencionar taxa superior a 12% ao ano, sob pena de usura.
Os juros constituem o proveito tirado do capital emprestado e podem ser compensatórios (representam a renda ou o fruto do dinheiro mutuado), compensando o mutuando pela disponibilidade do dinheiro; ou moratórios, pagos a título de indenização pelo atraso verificado para o adimplemento do contrato.
A capitalização de juros é proibida pela Lei de Usura – Súmula n. 121 do Supremo Tribunal Federal, exceto no contrato de empréstimo e de conta corrente. A integridade do valor emprestado é garantida pela correção monetária – ajuste do valor do débito, constituindo a própria dívida atualizada para a data do vencimento ou do efetivo pagamento da obrigação.
		Formais: o mútuo tem forma livre, exceto se for oneroso, caso em que deverá ser convencionado expressamente (artigo 591 do Código Civil). A prova do mútuo poderá ser feita pela emissão de nota promissória, confissão formal de dívida ou recibo da soma emprestada. O mútuo mercantil não requer forma escrita, salvo para efeito de prova e de registro contábil; se for elaborado verbalmente, a prova testemunhal só poderá ser admitida se o valor do empréstimo não exceder a 10 salários mínimos (artigo 401 do CPC).
Efeitos jurídicos 
Obrigações do mutuário
Restituir o que recebeu: deve o mutuário devolver a coisa da mesma espécie, quantidade e qualidade, dentro do prazo estipulado. Caso seja impossível, poderá devolver o equivalente pecuniário.
Não compelir o mutuante a receber em parte se isso não for convencionado.
Pagar os juros no mútuo feneratício.
Direitos do mutuante
Exigir garantia da restituição: para o caso de mudança no patrimônio do mutuário (artigo 590 do Código Civil).
Reclamar a restituição de coisa equivalente, com o vencimento do prazo. Caso não haja prazo estabelecido deverá o mutuante notificar o mutuário concedendo prazo razoável para cumprimento do avençado.
Demandar a rescisão do contrato se o mutuário não pagar os juros no mútuo feneratício.
Obrigações do mutuante
Entregar a coisa objeto de mútuo.
Não interferir no uso da coisa durante a vigência do contrato.
Não exigir a restituição antes do convencionado.
Causas extintivas do mútuo
As causas de extinção do mútuo são:
Vencimento do prazo convencionado para sua duração.
Ocorrência das hipóteses do artigo 592 do Código Civil, quando não estipulado prazo. 
Rescisão por culpa de uma das partes. Exemplo: não pagamento de juros.
Resilição bilateral: distrato, acordo entre as partes para extinção do contrato.
Resilição unilateral por parte do devedor. Há a presunção de que o mutuário tem direito de pôr fim ao negócio a qualquer momento, oferecendo a prestação.
Efetivação de uma cláusula terminativa prevista no próprio contrato.
Contrato de Comodato – CC, arts. 579 a 585
Conceito: segundo o art. 579 do CC, comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis.
Nota: permite-se o comodato de coisas fungíveis na modalidade de comodatum ad pompam vel ostentationem.
Características: extrai-se do conceito três características: a) gratuidade; b) infungibilidade e; c) tradição para aperfeiçoar-se.
Aperfeiçoamento: aperfeiçoa-se com a simples tradição do bem.
Diferença do mútuo: enquanto o mútuo é empréstimo para consumo, o comodato o é para uso
Classificação: contrato unilateral, temporário, real e não solene.
Obrigações do comodatário: 
a) conservação da coisa (CC, art. 582): o comodatário tem que utilizar a coisa e não emprestá-la ou locá-la, além de evitar desgastá-la. Despesas ordinárias são por conta do comodatário; extraordinárias devem ser comunicadas ao comodante.
 Indenização por benfeitorias: na condição de possuidor de boa-fé, o comodatário faz jus à indenização das benfeitorias e de exercer direito de retenção (CC, art. 1.219).
 Obrigação de indenizar: CC, art. 583: de regra o comodatário não responde pelos riscos da coisa a que não der causa, mas em caso de perigo, se o comodatário abandonar o bem objeto do comodato e salvar os próprios bens, terá ele que indenizar as perdas e danos sofridas pelo comodante, mesmo que o evento perigoso se dê por caso fortuito ou força maior; da mesma forma será se ele encontrar-se em mora na restituição.
b) usar a coisa de forma adequada: a coisa deve ser empregada naquilo para a qual sua natureza foi constituída; o uso inadequado constitui causa de resolução contratual.
c) restituir a coisa: sendo por prazo determinado, a coisa deve ser restituída no seu final; se por prazo indeterminado, deverá ser pelo prazo necessário a sua utilização útil. A negativa na restituição caracterizará o esbulho e sujeitará o comodatário à ação de reintegração de posse que lhe trará dupla sanção: riscos da mora e pagamento de “aluguel” (perdas e danos). 
 Restituição antecipada: só poderá ocorrer de forma excepcional, nos casos de necessidade imprevista e urgente, reconhecida pela juiz (CC, art. 581).
Extinção do comodato: 
1) pelo advento do termo ou pelo cumprimento da finalidade; 2) pela resolução por descumprimento (nada impede a extinção pela resilição); 3) por decisão judicial em razão de necessidade urgente do comodante; 4) pela morte do comodatário quando celebrado o contrato intuitu personae.
Da Fiança – CC, arts. 818 a 839
Conceito: contrato de fiança é aquele que uma pessoa, o fiador, faz como garantidor da satisfação do crédito junto ao credor
em relação a uma obrigação assumida pelo devedor, o afiançado, caso este não a cumpra (CC, art. 818).
Natureza: é garantia ou caução fidejussória, de natureza pessoal (garantida pelo patrimônio do fiador), diferente da caução real.
Contrato acessório e subsidiário: tem sua existência ligada ao contrato principal e sua execução subordinada ao descumprimento deste último pelo devedor.
Valor da fiança: como tem caráter acessório, pode apresentar valor menor que a obrigação principal e mesmo em condições menos onerosas, mas é vedada a previsão de valor superior ao principal. Caso apresente valor maior, não se anula, mas reduz-se ao valor máximo da obrigação principal (CC, art. 823).
Conversão da subsidiariedade pela solidariedade: segundo a norma civil, podem as partes, fiador e afiançado, contratar a solidariedade no lugar da subsidiariedade (CC, art. 828, II).
Classificação: é contrato unilateral, solene (CC, art. 819), de regra gratuito (exceção da fiança bancária), é personalíssimo ou intuitu personae.
Espécies: a fiança pode ser convencional (resulta do acordo de vontades), legal (aquela que é imposta pela lei, CC, arts. 1.400 e 1.745, par. único) e judicial (aquela determinada pelo juiz, CPC, art. 925)
Outorga uxória: salvo no casamento sob o regime da separação absoluta de bens, o cônjuge não poderá afiançar sem o consentimento do outro (CC, art. 1.647, III). Na falta, gera a possibilidade de anulação do ato (CC, art. 1.649).
Dívidas futuras: pode ser objeto de fiança, mas nesse caso o fiador não será demandado senão depois de a dívida se tornar certa, líquida e exigível (CC, art. 821).
Anuência do devedor: embora seja ele o beneficiado pela fiança, pode esta ser concedida mesmo sem o seu consentimento (CC, art. 820).
Extensão da garantia: não se estipulando a fiança parcial, estende-se ela a todos os acessórios da dívida principal, incluindo-se as despesas judiciais desde a citação do fiador (CC, art. 822).
Benefício de ordem ou de excussão: é o benefício conferido ao fiador, até a fase da contestação, em razão do caráter subsidiário da fiança, que o possibilita a indicar bens do devedor, livres e desembaraçados, para que sejam excutidos antes dos próprios bens (CC, art. 827).
Exceções: o fiador não poderá se beneficiar do direito anterior se ocorrer uma das hipóteses previstas no art. 828 do Código Civil.
Benefício da divisão: CC, art. 829: neste caso, a fiança prestada em conjunto por um único débito importa a solidariedade entre os fiadores, mas eles podem expressamente declarar a reserva da divisão, respondendo cada qual pela parte afiançada e afastando a solidariedade (CC, art. 830). 
Sub-rogação: o fiador que pagar a dívida do devedor fica sub-rogado de pleno direito nos direitos do credor (CC, arts. 832 e 833 c/c 346, III, e 349).
Execução paralisada: quando o credor, após iniciada a execução, não der andamento regular ao feito, poderá o fiador fazê-lo uma vez que tem interesse em liberar-se da responsabilidade (CC, art. 834).
Exoneração da fiança: não havendo prazo determinado para a obrigação principal, nem para a fiança, o fiador poderá exonerar-se dela por meio de ação declaratória (CC, art. 835).
Extinção da fiança:
1) Morte do fiador: extingue a fiança, mas a responsabilidade passa a seus herdeiros, limitada às forças da herança e aos débitos existentes até o momento do falecimento (CC, art. 836).
2) Por atos praticados pelo credor: especificados no art. 838 CC: a) concessão de moratória ao devedor (dilação de prazo), sem consentimento do fiador, ainda que solidário; b) frustração da sub-rogação legal do fiador nos direitos de preferência (o credor abre mão da hipoteca ou do penhor que também garantia a obrigação); c) aceitação de dação em pagamento, pelo credor, feita pelo devedor, já que eventual evicção não anula o pagamento indireto havido.
3) Exercício do benefício da excussão: se o fiador, usando do direito que lhe é reservado, indica bens do devedor para levar à penhora e o credor demora na execução por negligência, ainda que o devedor venha a cair em insolvência posterior à indicação, o fiador não estará responsabilizado; basta sua prova de que na época da indicação os bens eram suficientes para a satisfação da dívida (CC, art. 839).
Oposição do fiador ao credor: o fiador pode opor as exceções pessoais (CC, arts. 204, § 3º; 366; 371 e 376), assim como aquelas que caberiam ao devedor, tais como prescrição ou nulidade da obrigação.
Contrato de Depósito
Conceito
É o recebimento da guarda temporária de um bem móvel, pelo depositário, até o momento em que o depositante o reclame (artigo 627 do Código Civil).
Elementos 
Cinco são os elementos do depósito:
Personalíssimo: é um contrato intuitu personae e decorre da confiança que o depositante imprime no depositário.
Real: o contrato só está perfeito com a coisa na mão do depositário.
Temporariedade: quer por prazo determinado, quer por prazo indeterminado, a relação é sempre temporária.
Objeto móvel: algumas legislações latinas admitem o depósito do bem imóvel; no Brasil é inconcebível.
Gratuito: no silêncio, o depósito é gratuito, mas podem as partes estipular remuneração. 
Espécies de depósito
São as seguintes as espécies de depósito:
Voluntário: é o que decorre da vontade das partes.
Obrigatório ou necessário: independe da vontade das partes, podendo ser:
legal: decorre da lei, como, por exemplo, artigo 649 do Código Civil;
miserável: decorrente de calamidade pública (artigo 647, inciso II, do Código Civil).
Regular: é o que recai sobre bens infungíveis.
Irregular: é o que recai sobre bens fungíveis. 
Obrigações das partes contratantes
Por ser um contrato unilateral, cria obrigações apenas para o depositário:
guardar a coisa;
restituí-la quando exigida;
ser diligente na guarda do objeto.
O depositante pode exigir a coisa a qualquer momento, sendo o depositário obrigado a entregá-la, salvo se o objeto for judicialmente embargado, ou se pender execução ou suspeita de que a coisa foi furtada ou roubada (artigos 633 e 638 do Código Civil).
 Extinção do contrato de depósito 
O contrato de depósito extingue-se pelo decurso do prazo; pelo distrato; e pelo depósito judicial da coisa por parte do depositário.
Contrato de Mandato
Conceito
É o contrato pelo qual alguém recebe de outrem poderes para, em seu nome, praticar atos ou administrar interesses (artigo 653 do Código Civil).
Importante distinguir representação comercial e preposição. Na primeira, representação comercial, o titular do direito pratica atos jurídicos em seu nome e em seu interesse, por meio de terceiros. A representação é a utilização de serviços alheios para a prática de atos jurídicos. Na segunda, preposição, decorre do contrato de trabalho ou da locação de serviços. 
O fundamento do mandato é a fidúcia, confiança, elemento subjetivo. Há um acordo entre as partes para que uma delas possa agir em nome e por conta da outra, na prática dos atos jurídicos. A relação é personalíssima.
Mandante: é quem outorga o mandato, investindo o terceiro de poderes para representá-lo.
Mandatário: é aquele que passa a atuar na vida jurídica em nome e por conta do mandante.
Natureza Jurídica 
Unilateral: gera obrigações apenas ao mandatário. Pode ser bilateral imperfeito quando estipular remuneração a ser paga pelo mandante.
Oneroso ou gratuito: o mandato mercantil é presumidamente oneroso; o civil, gratuito. Tal presunção é juris tantum, ou seja, admite prova em contrária. 
Consensual: o contrato torna-se perfeito com a manifestação de vontade das partes. Precisa da aceitação do mandatário, que pode ser tácita, como, por exemplo, quando começar a executar o contrato. O silêncio não importa aceitação tácita, salvo quando o negócio para que foi dado o mandato é da profissão do mandatário (por exemplo, quando outorgado a advogado ou despachante), ou foi oferecido mediante publicidade, e o mandatário não fez constar imediatamente a sua recusa.
Não solene: não exige forma prescrita em lei para ter validade (artigo 656 do Código Civil).
Mandato e Procuração
Embora o Código Civil mencione que a procuração é o instrumento do mandato, a doutrina moderna entende que a procuração é um negócio jurídico pelo qual se constitui o poder de representação voluntário. Classifica-se em unilateral, receptício e autônomo, e não se confunde com o contrato subjacente – tanto que nem sempre esse precisa ser mandato; pode ser prestação de serviço, compra e venda, corretagem etc. 
Procuração em Causa Própria
O mandato em causa própria é outorgado no interesse do mandatário, que fica isento de prestar contas, tendo amplos poderes. É um mandato irrevogável (artigo 683, do Código Civil) e que subsiste após a morte do mandante. Exemplo: o mandante pode nomear um mandatário para vender o imóvel para terceiro ou transferi-lo para seu nome.
Obrigações do Mandatário
São obrigações do mandatário:
-ser extremamente diligente na execução do mandato;
-executar pessoalmente os atos do mandato;
-prestar contas ao mandante;
-indenizar os prejuízos advindos de dolo ou culpa;
-atuar dentro dos limites do mandato;
-concluir negócio começado, mesmo tendo ciência da morte, interdição ou mudança de estado do mandante, para não lhe trazer prejuízos (artigo 674 do Código Civil).
Obrigações do Mandante
São obrigações do mandante:
-cumprir as obrigações assumidas pelo mandatário em relação a terceiros;
-reembolsar o mandatário nas despesas e nos prejuízos experimentados;
-sendo o mandato remunerado, efetuar sempre os pagamentos.
Extinção do Mandato
A extinção do mandato ocorre nos seguintes casos:
-renúncia do mandatário;
-revogação pelo mandante;
-morte ou interdição de qualquer das partes;
-fim do termo do mandato;
-consecução do objetivo almejado.
Contrato de seguro
Conceito
Seguro é o contrato pelo qual uma das partes (segurador) obriga-se para com outra (segurado), mediante o pagamento de um prêmio, a indenizá-la de prejuízo decorrente de riscos futuros, previsto no contrato (artigo 757 do Código Civil).
O segurador é aquele que suporta o risco, assumido mediante o recebimento do prêmio, obrigando-se a pagar a indenização.
O prêmio é o valor que o segurado paga à seguradora para obter o direito a uma indenização, se ocorrer o sinistro oriundo do risco garantido e previsto no contrato. É denominado por alguns ágio de seguro.
O risco é o acontecimento futuro e incerto, que poderá prejudicar os interesses do segurado, provocando-lhe uma diminuição patrimonial evitável pelo seguro.
A indenização é a importância paga pela seguradora ao segurado, compensando-lhe o prejuízo econômico decorrente do risco assumido na apólice.
A atividade do segurador é exercida por companhias especializadas, por sociedades anônimas mediante prévia autorização do Governo Federal (artigos 192, inciso II, da Constituição Federal, e 29 da Lei n. 8.177/91) ou cooperativas devidamente autorizadas (artigo 24 do Dec.-lei n. 73/66); porém, tais cooperativas só poderão operar nos seguros agrícolas e seguros de saúde. 
A autorização para funcionamento será concedida por portaria do Ministério da Indústria e do Comércio, com a apresentação pela Superintendência de Seguros Privados (S), com depósito, no Banco do Brasil, da parte já realizada do capital, descrita no Estatuto. 
Para fins de constituição, organização e funcionamento das sociedades seguradoras, deverão ser obedecidas as condições gerais da legislação das sociedades anônimas e as estabelecidas pelo Conselho Nacional de Seguros Privados (CNSP). O que varia de uma sociedade seguradora para outra é apenas a dosagem de encargos.
O segurado é aquele que tem interesse direto na consevação da coisa, fornecendo uma contribuição periódica e moderada, em troca do risco que o segurador assume de indenizá-lo. O segurado não precisa fazer prova de culpa do causador do dano (RT 433/96); deverá apenas e tão-somente demonstrar a existência do dano. 
Aplica-se a teoria do risco nas relações de seguro: "o pagamento das indenizações será efetuado mediante a simples prova do dano e independentemente da apuração da culpa".
A noção de seguro, portanto, supõe a de risco. Ocorrendo o evento, o segurador pagará a indenização, se o dano atingir pessoas ou bens do segurado.
O contrato de seguro é tanto o meio pelo qual a pessoa física ou jurídica se protege contra os riscos que ocorrem em sua vida como uma garantia de execução contra as obrigações contraídas, um reforço de crédito, pois as dívidas do segurado estarão afiançadas pelo contrato de seguro.
Características Básicas
As características básicas são as seguintes:
Bilateral: gera obrigações para o segurado e para o segurador, já que esse deverá pagar a indenização, se ocorrer o sinistro, e aquele pagar o prêmio, sob pena de o seguro caducar. O segurador tem o direito de haver o prêmio estipulado pelo risco, mesmo que o sinistro não se verifique (artigo 764 do Código Civil).
Oneroso: cada um dos contratantes obtém vantagem que corresponde a um sacrifício.
Aleatório: não há equivalência nas prestações. O segurado não tem condições de antever o que receberá em troca de sua prestação. O segurador assume um risco, elemento essencial desse contrato, e deve ressarcir o dano sofrido pelo segurado, se o evento incerto previsto no contrato ocorrer. O segurador terá vantagem se não ocorrer o sinistro, hipótese em que receberá o prêmio sem nada desembolsar. Se verificado o sinistro, o segurador terá obrigação de pagar a indenização, que poderá ser muito maior do que o prêmio recebido. O ganho ou a perda dos contraentes depende de fatos futuros e incertos, que constituem o risco.
Formal: é obrigatória a forma escrita, considerando-se perfeito o contrato no momento em que o segurador remete a apólice ao segurado, ou faz nos livros lançamento usual da operação (artigo 758 do Código Civil). 
Execução continuada: o contrato é satisfeito mediante prestações reiteradas, nos termos do convencionado.
Adesão: não há discussão das cláusulas estabelecidas pelo segurador na apólice, de forma que existe uma aceitação incondicional pelo segurado. O escopo é justamente por ser um ajuste indenizatório, não podendo o segurado se locupletar às custas do segurador. 
O segurado não pode receber indenização que supere o objeto do seguro (artigo 778 do Código Civil), com exceção do seguro sobre a vida, por ser um bem inestimável – é livre a convenção e a fixação do valor, admitindo-se mais de um seguro sobre a vida.
O próprio Estado exigiu uma padronização, regulada pelo Conselho Nacional de Seguros Privados. Compete à Susep aprovar condições de coberturas especiais. Há uma adesão bilateral, pois a própria seguradora obedece às normas de controle governamental (RT 510/239).
Boa-fé (artigo 765 do Código Civil): a sanção por não guardar a boa-fé é a perda do valor do seguro e o pagamento do prêmio vencido (artigo 766 do Código Civil), se tal se der por parte do segurado; e o pagamento em dobro do prêmio, se por parte da seguradora.
Requisitos
a) Subjetivos
O segurador deve, obrigatoriamente, ser pessoa jurídica: autorizada pelo Governo federal para operar no ramo.
O segurado deve ter capacidade civil: o incapaz que desejar fazer um contrato de seguro deverá estar devidamente representado ou assistido. Se o contrato for feito mediante procurador, esse também responde perante o segurador pelas inexatidões ou lacunas que inserir no contrato.
b) Objetivos
Licitude: o objeto descrito na apólice deve ser lícito e possível. Se for ilícito, como, por exemplo, seguro de operações de contrabando, nulo será o contrato. Esse é o teor do artigo 762 do Código Civil.
Valor determinado: o valor do objeto deve ser certo. A apólice precisa conter o valor do objeto segurado para cálculo da indenização do risco. 
Equivalência: o pagamento da seguradora deve ser equivalente ao valor real do bem ou de sua reposição. O segundo seguro de um bem já segurado é anulável

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