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RESENHA LEMBRA ESCREVER ESQUECER

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Lembrar Escrever Esquecer
Kaio César Vieira Borges¹
Rômulo Rocha e Silva²
GAGNEBIN, Jeanne Marie. Lembra Escrever Esquecer. São Paulo: Editora 34, 2006. 224p.
Jeanne Marie Gagnebin de Bons é uma professora, filósofa e escritora suíça, residente no Brasil desde 1978. Graduou-se na Universidade de Genebra, com Philosophie de l'Histoire chez Walter Benjamin. Três anos depois, iniciou o doutorado em Universidade de Heidelberg, na Alemanha, concluído 1978, com Zur Geschichtsphilosophie Walter Benjamins. Die Unabgeschlossenheit des Sinnes ("Sobre a Filosofia da História de Walter Benjamin. O Inacabamento do Sentido."). Atualmente é professora de Filosofia da PUC-SP e livre-docente da Unicamp, atuando na área de teoria e crítica literárias. Especialista na obra de Walter Benjamin é autora ou coautora de vários livros; escreveu inúmeros artigos e organizou diversas coletâneas de textos.
Jeanne Marie em seu livro “Lembra escrever esquecer” entre contos e metáforas, trata da memoria, do esquecimento e do escrever, como forma de eternizar a narrativa e o relacionando com a morte. A escrita filosófica moderna da autora tem que esta acompanhada de um leitor com olhares atentos as ligações metafóricas que ela faz, para que haja compreensão, discursão e contribuição intelectual para o leitor. Também é necessário um breve conhecimento de alguns clássicos literários citados pela autora como “A odisseia”, o episodio “Em busca do tempo perdido” e alguns autores como Walter Benjamin, Paul Ricouer e Kafka, para que haja uma melhor compreensão da obra e das relações feitas pela autora.
“O rastro e a cicatriz: metáforas da memoria”, “Escrituras do corpo” e “O rumor das distancias atravessadas” são ensaios de Jeanne Marie que conversam entre si partindo do pressuposto que o trio faz uma reflexão sempre em um campo metafórico de temáticas como memorias, rastros e lembranças. Vejamos que a citação a seguir demostra as conexões feitas pela autora sempre na tentativa de alusão ao campo da memoria: “Depois de escrever um pequeno texto sobre o rastro e a cicatriz como metáforas da memoria, tendo por ponto de partida o episodio da cicatriz de Ulisses, (...) escritas da memoria, memorias da escrita” (2006, p.119). As cicatrizes não ficam apenas no corpo, mas também na memoria. Em Odisseia Ulisses ao volta para casa é reconhecido pelo toque de sua mãe a sua cicatriz de infância, cicatriz esta que não ficou marcada apenas na perna de Ulisses, mas também nas lembranças de sua mãe. Assim como a história de Ulisses a memoria tem cicatrizes que se entrelaçam ao corpo, como uma forma de reativação da lembrança. 
Em seu ensaio “O rumor das distancias atravessadas” Jeanne Marie usa-se de um conto para remeter-se a memoria, na obra de Proust “Em busca do tempo perdido” a lembrança é ativada na memoria através da ação de tomar um chá da tarde acompanhada de uma “Madeleine” (famoso bolo francês), que aos comê-lo na vida adulta reativou lembranças de sua infância o elevando a um patamar de reminiscência. “Depois de um longo esforço de atenção espiritual que a “Madeleine” ressuscitou uma lembrança esquecida no fundo da memoria: o sabor ressuscitou”. (2006, p.145)
Nos capítulos “Uma filosofia do cogito ferido: Paul Ricoeur” e “Os prelúdios de Paul Ricoeur”, Marie concentra seu pensamento em Ricouer e em falar de sua trajetória excêntrica e exemplar, onde o filósofo de grande importância contemporânea traça múltiplos diálogos com pensadores como Marx, Heidegger e Nietsche, desmistificando as pretensões das teorias totalizantes e nos apresentando uma interpretação redutora. Partindo do caráter linguístico Ricouer analisa as transformações que homem poderia fazer em si e no mundo, e a possibilidade de análise dos signos e das obras. Ricoeur se dedicou ainda a escrever sobre memória, história e esquecimento, mostrando a ligação entre vida e memória no livro La mémoire, l’histoire, l’oubli (2000) que Jeanne trabalha dentro do capitulo Os prelúdios de Paul Ricoeur, apesar disso a autora diz que seu pensamento se concentra no presente.
No capítulo seguinte “Platão, creio, estava doente”, Gagnebin busca através de diálogos com Platão trabalhar a problemática do sujeito e da subjetividade. O título do capitulo é explicado pela autora quando se refere ao lembrar, testemunhar e escrever de Platão. Outro ponto trabalhado se trata da rememoração de Sócrates, onde Platão foi responsável por divulgar as lembranças e ensinamentos do seu mestre. No ultimo capítulo nomeado “As formas literárias da filosofia”, Jeanne Marie reserva um espaço para falar sobre a reciprocidade nas relações ente literatura e filosofia. Gagnebin aponta que pode haver erros nas analises que buscam a presença de teorias ou de doutrinas filosóficas em obras literárias, transformando as mencionadas doutrinas e trabalhos teóricos em imagens caricaturais. Nesse contexto de sentido e de absorção do real é onde a autora ver o encontro da literatura e da filosofia. 
Nos ensaios aqui reunidos, Jeanne Marie Gagnebin põe em prática uma reflexão sempre em um campo metafórico e real, sem se deixar seduzir por grandes sistemas interpretativos, é capaz de distinguir as mais sutis variações de tom, e sempre entre memorias, rastros, corpos, cicatrizes, passeia pelo lembra escrever esquecer. Observamos ainda que a autora busca atingir o público acadêmico da área das Ciências Humanas procurando excitar dentro desse âmbito uma discussão fértil sobre a Memória, o Esquecimento e a Escrita. 
 Graduando em História: 4° Bloco. Universidade Estadual do Piauí. Campus Poeta Torquato Neto
2 Graduando em História: 4° Bloco. Universidade Estadual do Piauí. Campus Poeta Torquato Neto

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