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PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO CIVIL E EMPRESARIAL MÓDULO INADIMPLEMENTO Professora: Mônica Queiroz 1. Material pré-aula a. Tema O Adimplemento Indireto b. Noções Gerais De acordo com o ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira (2003, p. 168), “o pagamento é o fim normal da obrigação”, mas não o único, já que ela também pode se extinguir de outras maneiras: “a) pela execução forçada, seja em forma específica, seja pela conversão da coisa devida no seu equivalente; b) pela satisfação direta ou indireta do credor, por exemplo, na compensação; c) pela extinção sem caráter satisfatório, como na impossibilidade da prestação sem culpa do devedor, ou na remissão da dívida” Ao ser constituída a obrigação, o credor pode exigir o cumprimento da prestação e o devedor fica obrigado a cumpri-la no tempo e do modo devidos. O Capítulo III do Livro das Obrigações do atual CC cuida do adimplemento e da extinção das obrigações. Disciplina, portanto, os meios necessários e aptos a extinguir a obrigação. O CC/1916 denominava como dos efeitos das obrigações o capítulo que tratava das hipóteses de adimplemento. Normalmente, a obrigação nascida de qualquer de suas fontes extingue-se pelo pagamento, ou seja, pelo cumprimento da prestação devida ao credor, no prazo e do modo estabelecidos. Pagamento, portanto, representa o cumprimento da prestação devida em qualquer de suas modalidades – fazer, não fazer ou dar –, e não apenas a correspondente à entrega de dinheiro. Na definição de Clóvis, “pagamento é execução voluntária da obrigação” (LOTUFO, 2003, p. 185). Renan. Código Civil comentado. São Paulo, Saraiva, 2003, v. II, p. 185) Caio Mário da Silva Pereira registra que o pagamento deve coincidir com a coisa devida e tem como efeito essencial a extinção da obrigação (op. cit., p. 183). O adimplemento pode ser direto, indireto ou anormal. No primeiro caso, corresponde à própria prestação originalmente prevista (pagamento, portanto); no segundo, resulta de outro fenômeno (consignação, novação, compensação etc); no terceiro, ocorre quando a obrigação extingue-se sem cumprimento, como nos casos de perecimento do bem sem culpa do devedor, prescrição, invalidade etc. O pagamento será voluntário quando efetuado espontaneamente pelo devedor e forçado, quando resultar da intervenção judicial. No entanto, além do pagamento, expressão que corresponde ao adimplemento, há outras formas de extinção das obrigações – confusão, remissão, compensação etc. –, que, no entanto, não equivalem ao adimplemento. Renan Lotufo pondera que a doutrina distingue as hipóteses de extinção satisfativa e não satisfativa do crédito (op. cit., p. 184). Para que se possa reconhecer o pagamento, é essencial que seja prestado aquilo que é devido, em sua integralidade e por inteiro, como Caio Mário da Silva Pereira registra (op. cit., p. 183). Se qualquer desses requisitos não se verificar, não haverá pagamento, embora seja possível que se reconheça a extinção da obrigação em decorrência de outro fato (dação em pagamento, por exemplo). Além disso, o pagamento supõe a existência de obrigação anterior, pois dá lugar à repetição do indébito, isto é, a restituição do objeto do pagamento àquele que o efetuou por erro (RIZZARDO, 2004, P. 297) São espécies de pagamento indireto: Pagamento em Consignação, Pagamento com Sub-rogação, Imputação do Pagamento, Dação em Pagamento, Novação, Compensação, Confusão e Remissão. Pagamento em Consignação A consignação em pagamento pode ser conceituada como o meio judicial ou extrajudicial adotada pelo devedor ou terceiro, para liberar-se da obrigação, em caso de recusa do credor em receber a prestação. Segundo os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 501) afirmam que na consignação em pagamento existe um o direito do devedor se liberar e um cabimento ao credor colaborar para tal finalidade, sob pena de ser constituído em mora. O pagamento em consignação efetuado de forma extrajudicial consiste em um depósito bancário, como técnica de agilização da justiça, tornando-se em uma atividade de pacificação social. Para tal procedimento, o pagamento deve ocorrer, exclusivamente em dinheiro. Havendo recusa do credor no recebimento, a liberação do credor ocorrerá mediante procedimento judicial ou extrajudicial. Se o credor levantar o depósito extrajudicial a obrigação extingue-se, ou se houver recusa injustificada, no prazo de 10 dias, o devedor estará liberado da obrigação, considerando-se aceitação tácita do credor. Se o credor recusar o depósito extrajudicial o devedor deverá intentar ação judicial no prazo de 30 dias. Ultrapassado o prazo, o direito do credor de ajuizar não estará impedido de ser exercido, mas os valores depositados retornam e a obrigação não se extingue. O depósito judicial também é via do devedor liberar-se da obrigação, sendo que a sentença, nestes casos, é meramente declaratória. O pagamento em consignação tem lugar nas hipóteses em que o depósito é oriundo da mora do credor em receber, bem como nas ocasiões em que o devedor não consegue a sua liberação por outros motivos, mas sempre relacionados à pessoa do credor. As hipóteses do artigo 335, CC não são únicas e tampouco taxativas. Nos ditames dos professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 508), assim discorrem: Nada obstante, a consignação eventualmente perseguirá outra finalidade, que não a prevenção da mora do devedor, mas a purga de sua mora. Com efeito, comumente o devedor se serve do depósito para cessar seu estado de mora e os deletérios efeitos dela decorrentes. [...] Portanto, sendo a prestação possível e útil para o credor, ainda pode o devedor pagar e, por conseguinte, consignar. Cogita-se a existência de pressupostos objetivos e subjetivos para a afirmação da consignação. Como modo extintivo indireto da relação obrigacional, que não passam dos mesmos requisitos que conduziriam a extinção da obrigação caso aceito o pagamento direto. Via de regra o depósito da quantia exatamente devida, incluindo os efeitos da mora do devedor, o libera da obrigação, porém o depósito divergente daquele valor que deveria ser pago, não há liberação, sem que haja prejuízo dos efeitos da mora do credor. Pagamento com Sub-Rogação Tem-se a sub-rogação quando na relação jurídica se verifica a substituição de uma pessoa por outro, ou de um objeto por outro, criando duas modalidades de sub-rogação: pessoal e real. A sub-rogação pessoal implica na transferência da qualidade creditória para aquele que solveu a obrigação de outrem ou emprestou o necessário para tanto. Este terceiro sub-roga-se no direito do credor originário, sendo este satisfeito pelo pagamento, não havendo liberação do devedor. As modalidades de sub-rogação não se confundem, visto que a sub- rogação real implica na substituição de uma coisa por outra, adotando procedimento de jurisdição voluntária. Sobre o assunto, Nelson Rosenvald e Cristiano de farias assim ensinam (2013, p. 518): Embora a sub-rogação pessoal propicie a satisfação e exoneração do credor originário, subsiste o mesmo vínculo obrigacional, agora entre sub-rogado e o devedor. Portanto a sub-rogação é modo de pagamento indireto pois promove o terceiro adimplente a posição de credor, com alteração subjetiva no polo ativo da relação jurídica. Como espécies da sub-rogação,tem-se, a sub-rogação legal e convencional. A sub-rogação legal, prescinde de manifestação de vontade das partes e as suas hipóteses de ocorrência estão tratadas no art. 346, CC, e são elas: (i) em favor de credor, que solve o débito do devedor comum, (ii) em favor do adquirente do imóvel hipotecado, que paga ao credor hipotecário, elidindo a execução do bem que adquiriu, bem como do terceiro que efetiva o pagamento, para não ser privado do direito sobre o imóvel e (iii) em favor do terceiro interessado, que paga a dívida comum, pela qual poderia ser obrigado, no todo ou em parte. A sub-rogação convencional resulta do pagamento do débito por parte do terceiro desinteressado mediante negócio jurídico entabulado com devedor ou credor. A princípio, neste caso, nasceria o direito de reembolso, mas existem duas hipóteses de exceção à regra, na qual o direito de reembolso se converte em sub rogação: a) acordo entre credor e terceiro estranho à relação obrigacional, sendo a este expressamente transferidos os direitos que àquele cabiam contra o devedor; b) acordo entre devedor e terceiro na qual o segundo empresta ao primeiro a quantia necessária para a liberação perante o credor primitivo, sob a condição expressa de ficar o terceiro mutuante sub rogado nos direitos do credor satisfeito. Como eficácia da sub-rogação tem-se o efeito liberatório, ante a exoneração do credor primitivo, e efeito translativo, visto que o novo credor ingressa na exata posição do primitivo em relação à dívida. Segundo os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 524): O pagamento não extingue a obrigação. Aqui o solvens assume o crédito com os mesmos privilégios, ações e garantias que o credor originário, por o principal (crédito) é transferido com os acessórios. Não apenas os privilégios, como também os inconvenientes do crédito e as defesas objetivamente oponíveis pelo devedor sobrevivem após a sub-rogação. Ninguém pode transferir mais direitos do que possui e o sub-rogado não poderá exigir do devedor nada a mais que o credor poderia exigir. Aliás, na prática os resultados da sub-rogação são duvidosos, pois o sub-rogado terá de se voltar contra um devedor que se encontra em dificuldade econômica de solver. Em termos de tutela processual da sub-rogação, o sub-rogado poderá ajuizar ação regressiva em face do devedor. Também encontra fundamento nas hipóteses de denunciação da lide e chamamento ao processo. Imputação do Pagamento A imputação do pagamento é a forma pela qual determina-se um pagamento quando o devedor possuir duas ou mais obrigações com o mesmo credor e faz um pagamento insuficiente para solver todas as obrigações, deixando de especificar qual está adimplindo. Assim, imputar o pagamento significa determinar qual dívida pretende adimplir. Tal determinação implica na aposição de aceitação da outra parte, que exercerá um direito potestativo à sua opção. Para afirmação da imputação do pagamento são necessários: existência de dois ou mais débitos, identidade de credor e devedor, débitos da mesma natureza, consistindo em obrigações líquidas e vencidas e suficiência do pagamento para saldar qualquer dos débitos. Os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 528) apontam para três modalidades de imputação do pagamento: (i) imputação pelo devedor, designando o débito que deseja saldar, (ii) imputação praticada pelo credor, na hipótese de omissão do devedor e (iii) imputação oriunda da lei, quando ambas as partes deixam de indicar a prestação a ser adimplida. A resistência de anuência pelo credor legitima o devedor à consignação em pagamento. Na ausência de convenção entre credor e devedor sobre a imputação do débito que se pretende extinguir com o pagamento insuficiente realizado, a imputação será legal observando a ordem preconizada pelo art. 355, CC. Dação em Pagamento Trata-se a dação em pagamento de uma causa extintiva das obrigações na qual o credor consente em receber algo diverso daquele objeto originariamente pactuado, concedendo efeito liberatório à obrigação originária. Configura-se como negócio jurídico bilateral transmissivo da propriedade, como solução do débito. Para a validade da dação em pagamento deve-se observar s seguintes requisitos (2013, p. 532/533): · Preexistência de um vínculo obrigacional entre as partes: sendo que na sua ausência não existirá a dação em pagamento, mas uma doação; · Acordo entre credor e devedor: impossível de alteração unilateral do convencionado, sendo imprescindível a anuência do credor; · Diversidade entre a prestação devida e a oferecida em substituição: a coisa dada em substituição pode ser bem móvel, imóvel ou um direito, ou, ainda, uma obrigação de fazer ou de não fazer. Também é importante que o bem dado em substituição guarde relação de valor com aquela composição anteriormente firmada. Pode a coisa dada em pagamento ter valor inferior ao valor anteriormente pactuado, motivo pelo qual permite-se a quitação parcial da obrigação. Por ser um contrato real, a dação em pagamento demanda tradição ou registro para seu aperfeiçoamento. Em caso de evicção da coisa dada em pagamento a obrigação originária restabelece-se com todos os seus consectários, à exceção da caução acessória no caso da obrigação originária estar garantida por fiança. O devedor também se responsabiliza por vícios redibitórios. Se a coisa dada em pagamento for um crédito do devedor, opera-se as normas aplicáveis à cessão de crédito, e envolverá as modalidades de dação em pagamento (pro soluto) e dação em função do cumprimento (pro solvendo). No caso de transmissão de título crédito regulado por legislação específica, aplica-se a legislação cambial e não as regras de cessão de crédito. A entrega da prestação supletiva objetiva a liberação de um crédito imediatamente. A dação em pagamento é proibida em situações especiais, por se revestir de cláusula comissória, como, por exemplo, sendo nula a cláusula que em contrato de hipoteca, penhor, anticrese confira ao credor a possibilidade de ficar com o objeto dado em garantia, em caso de inadimplemento do devedor. Novação A novação é um meio de extinção da obrigação sem que haja o adimplemento, mas não significa no inadimplemento do devedor. A bem da verdade a novação é forma de extinção da obrigação em razão da constituição de uma nova obrigação, que ocupa o lugar da obrigação primitiva. Segundo os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 537): [...] Via de conseqüência, a novação envolve a idéia de substituição de uma obrigação, pela intenção das partes de novar, manifestada mediante acordo, cessando o vínculo anterior com a aquisição de novo direito de crédito. O mesmo ato jurídico que ceifa uma obrigação é gérmen para o brotar de outra. A novação, ao contrário do adimplemento em sentido estrito, é modo extintivo não-satisfatório, pois não conduz à satisfação imediata do crédito. A perspectiva funcional da novação é criar uma nova relação obrigacional, extinguindo-se a relação antiga. São pressupostos da novação (ROSENVALD e FARIAS, 2013, p. 538/542): · Existência de obrigação anterior válida: à medida que a nova extingue e substitui a anterior, é fundamental a preexistência de relação obrigacional válida. Destarte, senão havia débito primitivo, a novação é inexistente, pois deficitária do próprio suporte fático necessário à sua formação. A relação que porventura se estabeleça será uma obrigação como qualquer outra; · Acordo entre as partes para a constituição de nova dívida: necessariamente, a relação obrigacional que venha a ser criada para extinguir a pregressa será qualificada pela novidade. O novo consistirá no objeto da prestação, podendo ainda envolver a mutação nas pessoas do credor ou do devedor; · Animus novandi: a teor do art. 361, do Código Civil, “não havendo ânimo de novar, expresso ou tácito, mas inequívoco, a segunda obrigação confirma simplesmente a primeira”. A novação é um negócio jurídico. Isto importa considerar que a sua estruturação demanda o elemento subjetivo da substancial diversidade entre a obrigação primitiva e a substituta. Isto é, simples alterações de natureza acessória não geram novação. A novação pode ser situada em duas modalidades: objetiva e subjetiva. A novação objetiva pressupõe que as partes originárias contraem uma nova dívida objetivando a extinção e conseqüente substituição da anterior. A novidade é o fato de se atingir a substância da obrigação, mediante a alteração do seu objeto, ou de sua natureza, ou, ainda, a própria causa jurídica da obrigação. Por sua vez, a novação subjetiva depende, além da criação de uma nova relação obrigacional, incide substituição dos próprios sujeitos da relação jurídica, tanto no pólo ativo quanto no pólo passivo. Esta modalidade de novação compreende aspectos como novação subjetiva passiva, na qual substitui-se o antigo devedor por um novo, sobejando aquele liberado do novo débito, pois a primeira dívida é extinta por expromissão (na qual o acordo de extinção da obrigação originária envolve apenas o novo devedor e o credor sendo desprezada a anuência do antigo devedor) ou delegação (que se aperfeiçoa com a indicação, pelo devedor, de um terceiro que resgate seu débito); bem como novação subjetiva ativa, na qual será permita a alteração do credor, mediante acordo de vontade das partes, ficando o devedor quite e exonerado com este credor substituído. Como efeitos da novação, tem-se a extinção do antigo débito, perecendo, inclusive, algumas garantias acessórias do débito primitivo, e, não havendo previsão expressa em contrário, a eficácia extintiva do débito produz a exoneração do devedor da cláusula penal, juros de mora, e o desaparecimento de todas as conseqüência de mora. Compensação Na hipótese em duas pessoas foram, ao mesmo tempo, credoras e devedoras uma da outra, reciprocamente, verifica-se este modo especial de extinção da obrigação. Consoante ensinamentos dos professores Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 549): Outrossim, a compensação atende à diretriz da eticidade, pois prestigia o adimplemento, ao evitar que um dos contratantes pague seu débito e seja posteriormente surpreendido pela recusa do outro em cumprir a sua prestação, o que ofenderia a sua expectativa de confiança quanto ao desfecho fisiológico da relação obrigacional. Como espécies da compensação pode-se citar: · Convencional: a qual deflui da autonomia privada das partes, na qual credor e devedor hajam por bem extinguir seus créditos em razão de seus débitos. É possível nas situações em que não incidam pressupostos legais para a compensação, sendo que as partes não podem dispor de normas cogentes; · Judicial: [...] as compensações convencional e judicial também podem ser perseguidas no bojo do devido processo legal sem que isso acarrete desvio de perspectiva (ROSENVALD e FARIAS, 2013, P. 550); · Legal: ocorre automaticamente, independente da oposição de qualquer dos interessados, extinguindo-se as dívidas recíprocas observando os requisitos legais (art. 369, CC). Entretanto, para que se opere automaticamente, depende dos seguintes requisitos: (i) liquidez do débito, (ii) exigibilidade do débito, (iii) fungibilidade das prestações e (iv) reciprocidade das obrigações. Em que pese o instituto da compensação ser de livre arbítrio para convenção entre devedor e credor, existem três situações em que elas não serão permitidas, e são elas: (i) dívidas provenientes de esbulho, furto e roubo, (ii) obrigações derivadas de comodato, depósito e alimentos e (iii) dívidas sobre bens insuscetíveis de penhora. Confusão Segundo ensinamentos de Nelson Rosenvald e Cristiano de Farias (2013, p. 560): A confusão consiste na união, na mesma pessoa, das qualidades opostas de credor e devedor da obrigação, desaparecendo pluralidade das situações jurídicas, o que inviabiliza a obrigação no tocante à sua exigência, porquanto não há como exigi-las de si própria. Assim, confunde-se credor e devedor na mesma pessoa, acarretando, consequentemente, a extinção da obrigação. Trata-se de um modelo jurídico que ocorre com maior freqüência em sede de sucessão causa mortis, mas, mesmo em freqüência menor, pode ocorrer em ato inter vivos. Como requisitos da confusão tem-se a unidade da relação obrigacional, pressupondo a existência de uma mesma obrigação, a identificação na mesma pessoa das qualidades de credora e devedora e a reunião efetiva de patrimônios, e não apenas de acervos ou expectativas de direitos. A confusão opera-se automaticamente, independente de manifestação volitiva, bastando a verificação das posições concomitantes de credor e devedor, bem como extingue a relação principal e seus acessórios. A confusão pode ser total ou parcial, à medida que alcance toda a dívida ou apenas parte dela. Distingue-se da compensação vez que na confusão uma mesma pessoa é credora e devedora de si própria, enquanto na compensação duas pessoas colocam-se como credores e devedoras recíprocas. Quanto aos seus efeitos os professores Nelson Rosenvald e Cristiano de farias assim discorrem (2013, p. 563): Insta observar que, havendo solidariedade, a confusão só implicará a extinção da obrigação no tocante à parte do credor ou do devedor em que ela se deu, sem, contudo, acarretar o término da solidariedade ante o saldo remanescente, uma vez que, nos termos do art. 383 do Código Civil, a confusão operada na pessoa do credor ou do devedor solidário só extingue a obrigação até a concorrência da respectiva quota no crédito ou no débito, subsistindo, quanto ao excedente, a solidariedade. Remissão Como outra das causas de extinção da obrigação sem o pagamento tem-se a remissão. Trata-se de modo de extinção não satisfatório, visto que o credor consente em dispensar o devedor do dever de solver, sem que o interesse do credor seja satisfeito parcialmente, tampouco indiretamente. Pode se traduzir no perdão da dívida por parte do credor, em que pese ser negócio jurídico bilateral, uma vez que depende da concordância do devedor. Distingue-se da renúncia, visto que esta é ato abdicativo unilateral, que demanda apenas capacidade do renunciante. A remissão pode ocorrer de forma expressa – quando o perdão se traduzir em documento público ou particular subscrito pelo credor em caráter intervivos ou causa mortis com intenção de perdoar o débito e levado à concordância do devedor; ou tácita – quando uma atitude do credor for incompatível com a sua qualidade creditória, à exemplo do art. 386, CC, que se refere à situação na qual o credor restitui voluntariamente ao devedor o títuloda obrigação, quando a obrigação for contraída por instrumento particular. No caso do ato de remissão tornar o credor insolvente, poderão os credores deste pugnarem pela anulação do ato em ação pauliana. c. Legislação O Código Civil, instituído pela Lei 10.406/2002, dispõe de um livro inteiro sobre o direito das obrigações (trata-se do primeiro livro da parte especial), com disposições expressas nos artigos 233 ao 853, embora sejam os artigos 233 ao 420 que tratam das modalidades, transmissões, adimplemento e extinção e inadimplemento das obrigações. Os capítulos II à IX, do Título III, que compreende os artigos 334 à 388, CC, tratam das modalidades alternativas, isto é, meios indiretos de adimplemento da obrigação. Os artigos 890 à 900, CPC estipulam os procedimentos da consignação em pagamento. A Lei 9.276/96 (Lei de Propriedade Industrial) trata acerca de determinados direitos e relações obrigacionais em matéria de propriedade industrial. Por sua vez, o Decreto-Lei 857/69 dispõe sobre amoeda de pagamento de obrigações exeqüíveis em território Brasileiro. Através da consulta aos artigos 334 à 388 do Código Civil encontra- se todas as modalidades de adimplemento indireto da obrigação, sendo do 334 à 345 o Pagamento em Consignação, do 346 à 351 o Pagamento com Sub Rogação, de 352 ao 355 Imputação do Pagamento, a Dação em Pagamento do 356 à 359, a Novação do360 à 367, a Compensação e a Confusão do 368 à 385 e a Remissão do 385 ao 388. d. Julgados/Informativos Quanto ao pagamento indireto das obrigações, não há dúvidas jurisprudenciais de sua possibilidade, uma vez que o STJ entendeu que essa modalidade de pagamento indireto é uma modalidade de extinção da obrigação, quando do julgamento do REsp.1319361/RJ, de relatoria do Ministro Herman Benjamin, publicado em 10.5.13, cuja ementa segue abaixo: PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. HONORÁRIOS. CONFUSÃO. SUPOSTA CAUSA EXTINTIVA QUE ANTECEDE A SENTENÇA TRANSITADA EM JULGADO. EFICÁCIA PRECLUSIVA DA COISA JULGADA. 1. Cuida-se, na origem, de Embargos à Execução ajuizados pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ para desconstituir título executivo judicial que fixou honorários advocatícios em favor da Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro. 2. Não se pode reabrir a discussão acerca da confusão como causa extintiva da obrigação estabelecida em sentença transitada em julgado, pois essa questão ficou acobertada pela eficácia preclusiva da coisa julgada, conforme prevê o art. 474 do CPC. 3. Na Execução contra a Fazenda Pública, os Embargos poderão versar sobre qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, a exemplo de pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que superveniente à sentença (art. 741, VI, do CPC). 4. Na hipótese dos autos, a alegada confusão antecede a sentença que transitou em julgado, de modo que não constitui fundamento suficiente para impedir a Execução. Nessa linha, confira-se a ratio do seguinte precedente: REsp 1.235.513/AL, Rel. Ministro Castro Meira, Primeira Seção, DJe 20.8.2012. 5. Recurso Especial não provido. A Súmula 464, STJ estipula a regra diferenciada para a imputação de débito tributário. O STJ editou a Súmula 214, na qual determina a exoneração do fiador que não anuiu para o aditamento de contrato de locação. Acerca do instituto da confusão há interessante entendimento do STJ, exposta pela relatora Ministra Nancy Andrighi, no REsp 1.012.393/MG, da Terceira Turma, publicado em 17.3.10: Direito civil e processual civil. Família. Recurso especial. Ação de investigação de paternidade c.c. pedido de alimentos. Êxito do investigante em 1º e em 2º grau de jurisdição. Discussão remanescente. Honorários advocatícios estabelecidos em favor da Defensoria Pública. Hipótese diversa daquela em que há confusão entre credor e devedor. Viabilidade. - Ao julgar recurso especial submetido à sistemática prevista no art. 543-C do CPC e à Resolução n.º 8/2008-STJ, considerados os inúmeros julgados a respeito do tema então em foco, notadamente no âmbito da 1ª Seção, a Corte Especial delimitou a vedação do direito ao recebimento, pela Defensoria Pública Estadual, de honorários advocatícios, às hipóteses em que esta atua contra pessoa jurídica de direito público da qual é parte integrante, isto é, quando litiga contra o próprio Estado, assinalando, por conseguinte, que se a atuação se dá em face de Município reconhecer-se-á o aludido direito (REsp 1.108.013/RJ, Rel. Ministra Eliana Calmon, DJ de 22/6/2009). - O entendimento consolidado no aludido precedente permite a transposição do umbral da lide estabelecida entre entes federativos diversos, para albergar aquelas que envolvem particulares, sendo um destes assistido por Defensor Público. - Sob essa tônica, o Estado deve receber os honorários advocatícios devidos por particulares, em processos nos quais a Defensoria Pública atue e alcance êxito no julgamento final, em favor do assistido. - Na hipótese julgada, diversa daquela definida no âmbito da Corte Especial, em que se confundem na mesma figura, credor e devedor de honorários advocatícios, o recorrente, assistido por Defensor Público do Estado de Minas Gerais, teve seu pleito acolhido, em 1º e em 2º grau de jurisdição, para ser reconhecido filho do recorrido, o qual foi condenado a lhe pagar alimentos, à razão de 5 (cinco) salários mínimos. Ao alcançar êxito nas pretensões deduzidas perante o Poder Judiciário, mediante acurada atuação da Defensoria Pública, nada mais equânime do que a fixação de honorários advocatícios sucumbenciais, a serem pagos pelo vencido, ao Órgão que representou o vencedor, em Juízo. - A fixação de honorários advocatícios em favor da Defensoria Pública, portanto, consideradas as circunstâncias que deram forma ao processo, é perfeitamente viável, porquanto não absorvida a hipótese pela figura da confusão, em que credor e devedor concentram-se na mesma pessoa, ante a atuação do Defensor Público contra o próprio Estado, do qual a Defensoria é parte integrante. - A sucumbência é, em princípio, sempre de responsabilidade da parte vencida na ação. Dessa forma, vitorioso o beneficiário da Justiça Gratuita, representado por Defensor Público, não há como o vencido furtar-se ao pagamento dos honorários advocatícios decorrentes da regra geral de sucumbência, notadamente quando não alcançada a hipótese por qualquer exceção liberatória dos encargos prevista em lei, tampouco se tratando de caso de extinção de obrigação, como ocorre com a estabelecida no art. 381 do CC/02. - Em conclusão e aplicando o direito à espécie, o acórdão impugnado deve ser reformado, para contemplar a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais com a verba honorária sucumbencial, a ser suportada pelo recorrido, no percentual de 15%, conforme limitação estipulada pelo art. 11, § 1º, da Lei n.º 1.060/50, a incidir sobre a soma de 12 (doze) prestações alimentícias. - Por força do disposto no art. 130, inc. III, da Lei Complementar n.º 80/94, os honorários fixados em favor da Defensoria Pública reverterão, não aos Defensores, mas ao ente público ao qual pertencem. - Considerada a inadmissibilidade de indexação de honorários advocatícios ao salário mínimo, a teor do que estabelece a Súmula 201/STJ, o percentual de 15% deverá incidir sobre a soma de doze prestações mensais, considerada a sua importância monetária, que atualmente corresponde a R$ 30.600,00 (trinta mil e seiscentos reais). Recurso especial provido. e. Leitura sugerida - DINIZ, Maria Helena. Manual de Direito Civil. São Paulo: Saraiva, 2011 (Capítulo V – Introdução ao Direito das Obrigações;Capítulo VII – Efeitos das Obrigações; Capítulo IX – Teoria das Obrigações Contratuais; Capítulo X – Teoria das Obrigações Extracontratuais); - RIBEIRO, Paulo Dias de Moura. Do Cumprimento das Obrigações: Do adimplemento e Extinção das Obrigações. (Artigo disponível em: http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/75698/cumprime nto_obrigacoes_adimplemento_ribeiro.pdf?sequence=1) - ROSENVALD, Nelson; CHAVES, Cristiano. Curso de Direito Civil – 2º Vol – Obrigações. 7ª ed. rev., ampl. e atual., Salvador/BA: JusPODIVM, 2013 (Capítulo VI Do Adimplemento e Da Extinção das Obrigações I; Capítulo VII Do Adimplemento e da Extinção das Obrigações II – Modalidade Especiais de Pagamento). f. Leitura complementar - BDINE JR, Hamid Charaf. Código Civil Comentado. 8ª ed. São Paulo: Manole, 2013; - CASSETTARI, Christiano. Elementos de Direito Civil. São Paulo, Saraiva, 2013; - COSTA, Judith Martins. Adimplemento e Inadimplemento. (Artigo disponível em http://bdjur.stj.jus.br/xmlui/bitstream/handle/2011/54347/adimplem ento_inadimplemento_costa.pdf?sequence=1) - MARTINS-COSTA, Judith. “O Adimplemento e o inadimplemento das obrigações no novo CC e o seu sentido solidarista”, em O Novo Código Civil, Estudos em Homenagem ao Professor Miguel Reale, Ltr.; - PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de direito civil, v. II. 27. ed.,. Rio de Janeiro, Forense, 2014; - SILVA. Jorge Cesar Ferreira da. Adimplemento e Extinção das Obrigações. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007.
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