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BOURDIEU, Pierre. O campo científico. In: ORTIZ, R. (Org). Pierre Bourdieu: sociologia. São Paulo: Ática, 1983. p.122-155. (Grandes Cientistas Sociais, n.39) Resenha Uma outra visão sobre ciência Mayara Florêncio de Lima A resenha que segue a se apresentar, apresenta uma visão sobre de como se formaria um campo cientifico, demostrando em cada subtítulo a estreita relação do meio cientifico com o nosso modo econômico e social de viver. O autor Pierre Bourdieu, nos leva a pensar de como o nosso senso comum enxerga o campo científico, e ao decorrer do texto desmitifica a santidade de seus elementos e fornece conteúdo para se compreender de outra forma o que venha ser o mundo da ciência. O sociólogo francês Pierre Félix Bourdieu nasceu em 1930 no vilarejo de Denguin, no sudoeste da França; morreu na noite do dia 23 de janeiro, num hospital de Paris, em consequência de um cancro, aos 71 anos de idade. A educação, a cultura, a literatura e a arte foram os seus primeiros objetos de estudo. De origem campesina, filósofo de formação, chegou a docente na École de Sociologie du Collège de France, instituição que o consagrou como um dos maiores intelectuais de seu tempo. Desenvolveu, ao longo de sua vida, mais de 300 trabalhos abordando a questão da dominação e é, sem dúvida, um dos autores mais lidos, em todo o mundo, nos campos da Antropologia e Sociologia, cuja contribuição alcança as mais variadas áreas do conhecimento humano, discutindo em sua obra temas como educação, cultura, literatura, arte, mídia, lingüística e política. O texto “O campo cientifico”, publicado em 1983, contem seis subtítulos em que Bourdieu demostra a relação entre ciência e nosso modo capitalista de viver. Primeiramente o autor começa o seu texto dizendo: O universo "puro" da mais "pura" ciência é um campo social como outro qualquer, com suas relações de força e monopólios, suas lutas e estratégias, seus interesses e lucros, mas onde todas essas invariantes revestem formas específicas. (Bourdieu, 1983, p.122) Podemos intender, que apesar do pensamento que a maioria da sociedade tem sobre a ciência, ela não passa de um campo como outro qualquer, ou seja, está sujeita ao modo econômico vigente no pais, como a opinião pública e daqueles que são detentores do poder. No primeiro capítulo “A luta pelo monopólio da competência científica” Bourdieu explica que o campo científico é um lugar de luta concorrencial, sendo que o que se encontra em jogo é o monopólio da autoridade científica e o acúmulo de capital científico. As práticas científicas nunca podem ser entendidas como práticas desinteressadas, elas produzem e supõem uma forma determinada de interesse. “A idéia de uma ciência neutra é uma ficção. ” O que faz lembrar a teoria de Thomas Kuhn (1922-1996), no qual o físico intende que no meio cientifico os cientistas não são neutros quando fazem sua ciência, pois, há toda uma influência da faculdade em que foi formado, da teoria em que está relacionado e também da sua subjetividade. Dentro do campo científico – sendo este um campo de forças e de lutas – é a posição que seus agentes (indivíduos ou instituições) possuem que determina o que eles podem ou não podem fazer, o que vai ser publicado, o que interessa para a pesquisa científica e os temas a serem abordados. O foco que encontramos em uma ou outra determinada pesquisa, é devido ao fato de maior investimento e autoridade científica engajadas sobre ela. Aqui o autor critica a proposta de Thomas Kuhn, em que o físico acredita que as revoluções cientificas só ocorrem quando acontece o esgotamento de paradigmas. Entenda como paradigma um conjunto de crenças, regras, compromissos e valores que são compartilhados pelos cientistas por um determinado período de tempo e que confere à sua atividade investigativa a unidade mínima que lhes permite constituir uma comunidade cientifica (Kuhn, 1979, p.15). Segundo Bourdieu, é a estrutura das relações objetivas entres os agentes que determina o que eles podem ou não podem fazer. Isto significa dizer que somente compreendemos o discurso e as proposições de um agente quando conseguimos vislumbrar a posição que ele ocupa nesse campo, se compreendermos “de onde ele fala”. É quando encontramos os valores que os títulos têm para um estudante/pesquisador no meio cientifico. E esta estrutura é determinada pela distribuição do capital científico. Os agentes caracterizados pelo volume de seu capital determinam a estrutura do campo. Isto é, os agentes fazem os fatos científicos e até mesmo o próprio campo científico a partir de sua posição neste campo, posição esta que determina suas possibilidades e suas impossibilidades. Assim, as possibilidades que um agente específico tem de submeter as forças do campo às suas vontades é proporcional à quantidade de capital científico que ele detêm, ou à sua posição na estrutura de distribuição do capital. O que define a estrutura de um campo num determinado momento é, portanto, a estrutura da distribuição do capital científico entre os diferentes agentes engajados nesse campo, ou seja, pelas relações de força entre os protagonistas em luta. Nos dois capítulos adiante “A acumulação do capital cientifico “e “Capital cientifico e propensão a investir”, o capital abordado por Bourdieu se constitui através de uma relação social de conhecimento e reconhecimento entre os pares- concorrentes. Neste sentido o capital científico é um tipo de capital simbólico, ou seja, é uma relação de produção e de reprodução de conhecimento e de reconhecimento especificamente dentro do campo cientifico. Há duas espécies de capital científico: de um lado o que diz respeito ao poder político, poder institucional ou institucionalizado, que está ligado à ocupação de posições importantes nas instituições científicas. Estes agentes possuem um forte peso político e um frágil crédito científico. São, de maneira geral, os administradores científicos. De outro lado há aquele que está relacionado ao “prestígio”, no qual a visibilidade e a notoriedade são de acordo com a contribuição que o trabalho apresenta para a comunidade cientifica e para a sociedade. Há duas formas de acumulação do capital científico: através de publicações, invenções ou descobertas (capital científico puro) e através de estratégias políticas (capital científico institucionalizado), como participação em bancas de concursos, dissertações, cerimônias, reuniões. No próximo capitulo “A ordem (cientifica) estabelecida” Bourdieu demostra que a autoridade dominante faz uso de estratégias para a conservação da ciência oficial, principalmente, pelo meio do sistema de ensino, que assegura a perpetuação da ordem cientifica. A mídia é uma aliada estratégica que possibilita essa conservação. Apesar do meio cientifico, como estamos vendo até agora, ser um campo em que apresenta interesses econômicos e de poder sendo partes indissociáveis dessa realidade, o autor afirma que se pode fazer algo proveitoso para o progresso da ciência. O capitulo “Da evolução inaugural à revolução permanente” o autor explica o método positivista de se fazer ciência, e compara a teoria de Kuhn com a mesma teoria. Bourdieu menciona que a Revolução Copernicana que foi uma reivindicação por um campo cientifico mais autônomo, influenciado na época demasiadamente pela igreja e também pela filosofia. Essa transformação na organização socialda ciência determinou uma transformação na natureza das revoluções cientificas, e essas revoluções é de interesse dos detentores do capital. Pois há um consenso no meio cientifico que a luta cientifica se torna cada vez mais intensa na medida que a ciência avança. Por fim, no último capítulo “A ciência e os dexósofos”, a autor conclui que no meio científico entre os mais conservadores e os mais liberais, ainda encontramos a relação censurada do campo na produção do poder. A diferença entre os campos científicos e os campos de produção de discurso erudito, se encontra ainda na dependência arbitraria da produção. Os dexósofos, cientistas aparentes e cientistas e aparência, são dependentes das demandas sociais em que operam. Bourdieu chama a atenção que a elite detentora do poder, apesar de fornecer certa liberdade para a ciências da natureza na criação, isto não acontece com as ciências sociais, em que normalmente o conteúdo cientifico está relacionada a demanda e a manutenção da ordem estabelecida. O autor neste último capitulo aponta a dificuldade que tem a ciência social em ser destaque no meio científico, tanto pelo investimento a ser engajado a ela como também a notoriedade que ela representa para a sociedade. E apesar de tudo isso, é preciso que para as ciências sociais como a sociologia, percebam que existe essas diferenças e porque não dizer empecilho, elas acabam que descrevem o próprio jogo que jogam, contudo, ainda podem tornar possível uma sociologia para intelectuais. O autor Pierre Bourdieu, com certeza traz uma rica contribuição para o entendimento sobre o campo cientifico. Seu texto “O campo cientifico”, não é de uma leitura simples, pois carrega termos que são ressignificados pelo autor, mas, o texto apresenta de forma provocante e irônica como acontece a construção da ciência e seus detalhes, principalmente em relação ao modo econômico que tanto à influenciam. Indicado para qualquer tipo de leitor, contudo, acredito que venha ter uma maior contribuição para aqueles que se envolvam mais com o tema ciência. Referencias: BOURDIEU, P. O Campo Científico. In: Ortiz, Renato (org.). Coleção Grandes Cientistas Sociais, n 39, Editora Ática, São Paulo, 1983. KUHN, T. “A função do dogma na investigação científica”. In: DEUS, Jorge Dias (org). A crítica da ciência: sociologia e ideologia da ciência. Zahar, Rio de Janeiro, 1979
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