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DIREITO PROCESSUAL CIVIL I Aula n. 2 Prof. Doutoranda Me. Mariângela Guerreiro Milhoranza 1 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Existem três pressupostos relativos ao cargo do juiz: investidura, competência e imparcialidade. • a. Investidura ou juiz natural: o juiz deve estar dotado de jurisdição brasileira para resolver a ação. • b. Competência: é do juiz a atribuição para solucionar aquele litígio dentro da jurisdição que lhe é dada. • c. Dever de Imparcialidade: o juiz deve ser um sujeito imparcial. 2 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • PARTES DA RELAÇÃO JURÍDICA PROCESSUAL: • Partes Diretas: O Juiz e as Partes • O Juiz: • O juiz é o sujeito processual que se mantém (deve manter) sempre imparcial e eqüidistante das partes. • É o juiz quem dirige o processo, competindo-lhe assegurar às partes igualdade de tratamento, velar pela rápida solução do litígio, prevenir ou reprimir qualquer ato contrário à dignidade da justiça. 3 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • As Partes • Para o direito processual, os demandantes em um processo são designados simplesmente pelo nome de "partes". Parte autora é aquela que formula o pedido inicial ao juiz e parte ré é aquela em cujo desfavor se impõe a lide, devendo vir ao processo para proporcionar sua defesa. 4 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • 1.2. Conceito, Princípios, Divisão, Classificação e Esboço Histórico do Direito Processual • A) Conceito: O direito processual é o ramo da ciência jurídica que trata do complexo das normas reguladoras do exercício da jurisdição. 5 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • O direito processual civil consiste no sistema de princípios e leis que regulamentam o exercício da jurisdição quanto às lides de natureza civil como tais entendidas todas as lides que não são de natureza penal e as que não entram na órbita das jurisdições especiais (Moacyr Amaral Santos, Primeiras Linhas de Direito Processual Civil, Vol. 1, Saraiva, 2007, p. 15) 6 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • O direito processual civil é o “ramo do direito público que consiste no conjunto sistemático de normas e princípios que regula a atividade da jurisdição, o exercício da ação e o processo, em face de uma pretensão civil, entendida esta como toda aquela cuja decisão esteja fora da atuação da jurisdição penal, penal militar, do trabalho e eleitoral (GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 19 ed. São Paulo: Saraiva, p. 66). 7 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • B) Princípios: Os princípios que norteiam as diretrizes do direito processual são: • 1-Princípio da imparcialidade do juiz: Para garantir a validade e a justiça no processo é necessário um juiz atuando de forma imparcial, evitando ações tendenciosas que acabem por favorecer uma das partes. A posição do juiz no processo é de colocar-se acima das partes para poder julgar de modo eficaz. Sua imparcialidade é essencial para o andamento sadio do processo. • 2- Princípio da igualdade: Ambas as partes devem ter um tratamento igual por parte do juiz. Seu fundamento encontra respaldo no artigo 5 da CF. 8 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • 3- Princípio do contraditório e ampla defesa: É garantida as partes envolvidas no processo o pleno direito de se manifestar sobre assuntos ligados ao processo, bem como de defender-se de toda questão levantada no mesmo. • 4- Princípio da ação: Também denominado princípio da demanda, garante à parte a iniciativa de provocação do exercício da função jurisdicional (em outras palavras, direito garantido ao acesso dos serviços oferecidos pelo poder judiciário). 9 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • 5- Princípio da disponibilidade e da indisponibilidade: Este princípio faz referência ao poder dispositivo, que é a liberdade garantida a todo cidadão de exercício de seus direitos. No direito processual este princípio se traduz pela possibilidade ou não de apresentar em juízo a sua pretensão, do modo como bem entenda. • 6- Princípio da livre investigação das provas: Neste princípio é estabelecido que o juiz depende das provas produzidas pelas partes para que possa fundamentar sua decisão. • 7- Princípio da economia e instrumentalidade das formas: O processo, como instrumento de aferição de direito, não deve ter um dispêndio exagerado em relação aos bens em disputa. 10 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • 8- Princípio do duplo grau de jurisdição: É garantido, por meio deste princípio, a revisão da decisão processual. Assim, pode o cidadão ter direito a novo julgamento além daquele proferido pelo juiz de primeira instância (ou primeiro grau). • 9- Princípio da publicidade: O princípio da publicidade garante que o cidadão tenha acesso às informações do processo, vedado o sigilo, garantindo um instrumento importante de fiscalização popular. • 10- Princípio da motivação das decisões judiciais: Deve o juiz formular coerentemente sua decisão, demonstrando de modo inequívoco como determinada sentença foi composta. 11 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • C) Divisão: Como é una a jurisdição, expressão do poder estatal também uno, também é uno o direito processual, como sistema de princípios e normas para o exercício da jurisdição. O direito processual como um todo descende dos grandes princípios e garantias constitucionais pertinentes e a grande bifurcação entre processo civil e processo penal corresponde apenas às exigências pragmáticas relacionadas com o tipo de normas jurídico-substanciais a atuar. 12 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • D) Classificação: O Direito Processual pode ser classificado em Direito Processual Civil, Direito Processual Penal, Direito Processual do Trabalho, Direito Processual Tributário e Direito Processual Previdenciário. Todos com regras próprias, legislação específica e procedimento específico. 13 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • E) Esboço Histórico do Direito Processual • O desenvolvimento do Estado (principalmente os desenvolvimentos científico e intelectual) está intensamente correlacionado ao monopólio Estatal de produção e aplicação do direito. 14 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Em suma, o direito tem o condão de traduzir, mediante a edição de normas de conduta, os valores cultuados em determinada sociedade. Pois bem, nos primórdios, o direito era tido como uma manifestação das leis de Deus. Tais leis eram conhecidas e reveladas somente aos sacerdotes. No transcurso da história da humanidade, pode- se dividir o ordenamento jurídico em três grandes e distintos estilos: o direito arcaico, o direito antigo e o direito moderno. 15 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • O direito arcaico é característica do denominado período tribal onde os costumes do clã ditavam as regras de convivência em sociedade alicerçadas na crença dos antepassados. Não cabia ao Estado a produção do direito; não cabia ao Estado editar normas gerais e impositivas com caráter cogente, capazes de regular a conduta humana: a atividade desenvolvida pelos chefes dos clãs era meramente organizacional e não jurisdicional. 16 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Na era do direito arcaico, segundo dispõe John Gilissen, “...precedentes judiciários do período se propagavam entre gerações como provérbios e adágios...” Com o passar dos tempos, os clãs passaram a se organizar em grupos maiores de pessoas etais grupos, da união de alguns clãs, foram denominados de tribos. As tribos começaram a se multiplicar territorialmente e a organização das mesmas passou a ser exercida por um chefe com poderes “divinos”. • GILISSEN, John. Introdução histórica ao direito. Traduzido por A. M. Botelho Hespanha e I. M. Macaísta Malheiros. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1995, p. 36. 17 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Com a gradual e lenta criação das tribos e com a transformação territorial das mesmas em pequenos centros urbanos (concomitantemente ao surgimento da escrita e, principalmente, da moeda metálica) surge a necessidade de adequação de regras de conduta ao aparecimento de uma sociedade que começava a se organizar. 18 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Daí o aparecimento do direito antigo onde o direito passou a ganhar conceitos tendo em vista a complexidade da nova vida que se organizava. Portanto, é nesse contexto histórico que surge a primeira codificação conhecida da história da humanidade: a codificação de Hamurabi da Babilônia. Imperioso frisar que, no que tange à legislação codificada, de cunho escrito, a mesma continuou vinculada à religião, como por exemplo, os dez mandamentos apregoados por Moisés. 19 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Na Grécia Antiga, todavia, conforme dispõe Christopher Carey, as primordiais leis escritas são tidas como mecanismos de aperfeiçoamento da justiça e da imposição de limites ao exercício do poder. No ano de 620 a.C., Drácon estabeleceu a primeira codificação legal grega sendo tal codificação extremamente severa e despótica. 20 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Em 594 a.C., Sólon fez uma verdadeira reforma legislativa nas leis impostas por Drácon e foi, neste período, que surgiu a chamada politeia, que, na realidade, era um conjunto de leis que estabeleciam regras de conduta tanto para os negócios de caráter público quanto para os negócios de caráter privado. 21 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Logo, uma autêntica jurisdição apareceu, somente, a partir do surgimento de um Estado mais independente, mais desvinculado dos valores de cunho religioso e, nitidamente, mais acentuado nas regras de controle social. O surgimento deste Estado, editor de normas de conduta e de sanções àqueles que descumpram tais normas, traz em seu bojo, a vedação da autotutela 22 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • O Estado ao vedar a chamada “justiça pelas próprias mãos”, assumiu para si o monopólio da jurisdição, obrigando-se, então, a solucionar, de forma adequada, os conflitos de interesses que inevitavelmente nascem da convivência humana, da vida em sociedade. Em decorrência disso, emerge o acesso à justiça, insculpido no seleto rol dos direitos fundamentais do cidadão, servindo- lhe, inclusive, de proteção contra os abusos do próprio Estado. 23 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Sob esta ótica, no Brasil, a atual previsão normativa do acesso à justiça e à prestação jurisdicional está consagrada no disposto no inciso XXXV do art. 5º da Constituição Federal, que dispõe que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”. 24 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Para Darci Guimarães Ribeiro, cabe ao Estado a prerrogativa de solucionar os conflitos de interesses, vedando, assim, qualquer espécie de justiça particular, logo, cabe ao Estado administrar a justiça e deter o monopólio da jurisdição. 25 I – NOÇÕES GERAIS: DIREITO MATERIAL E DIREITO PROCESSUAL • Portanto, o monopólio da jurisdição é o resultado natural da formação do Estado. O monopólio da jurisdição tem o condão de criar, para o próprio Estado, o dever de prestar a tutela jurisdicional apropriada à pretensão processual que a parte traz a juízo. 26
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