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Historia da vigilancia sanitaria

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Contexto histórico da vigilância sanitária
Enf . Leandro Dias
VIGILÂNCIA SANITÁRIA
 INICIO: Europa dos séculos XVII e XVIII e no Brasil dos séculos XVIII e XIX, com o surgimento da noção de "polícia sanitária", que tinha como função regulamentar o exercício da profissão, combater o charlatanismo e exercer o saneamento da cidade, fiscalizar as embarcações, os cemitérios e o comércio de alimentos, com o objetivo de vigiar a cidade para evitar a propagação das doenças.
 No Brasil, a polícia sanitária, que é a prática mais antiga da saúde pública. Hoje com as teorias sistêmicas e de planejamento, configuram-se os sistemas de vigilância à saúde, até a incorporação em sua função de controle do conceito de defesa da cidadania, do direito do consumidor.
A saúde no Brasil: colônia.
O começo do problema
A vinda do colonizador gerou
doenças e mortes nas tribos
indígenas.
Histórico da Vigilância Sanitária
As atividades ligadas à Vigilância Sanitária surgiram de uma necessidade decorrente da propagação de doenças transmissíveis nos agrupamentos urbanos, que aumentavam em população e não em suas condições sanitárias básicas.
Na Antigüidade, a literatura médica clássica grega contém inúmeras referências a graves dores de garganta que muitas vezes terminavam em morte, e com apenas descrições simples de sintomas, é possível incluir a difteria entre essas formas.
Na Idade Média, surgiram formas de proteção ao consumidor, em virtude da crença difusa de que perigosos focos de doença poderiam surgir, rapidamente em lugares de venda de alimentos, havendo grande cuidado em se manter o mercado limpo. Por essa razão, as autoridades municipais se preocupavam em policiar a praça do mercado e em proteger os cidadões contra a venda de alimentos adulterados ou deteriorados.
De acordo com Kornis et al (2011), o resgate histórico da experiência mundial da vigilância sanitária permite relacionar as ações de saúde pública, os estudos epidemiológicos e, ainda que de modo preliminar, os estudos de vigilância sanitária. Para alguns autores a vigilância sanitária surgiu na Alemanha, no século XVIII e associava-se à “política sanitária” (MELLO; OLIVEIRA; CASTANHEIRA, 2008). Baseado nesta perspectiva, vinculava-se a vigilância sanitária ao termo “polícia médica”, a qual se caracterizava pelo controle da saúde da população, realizado por funcionários do Estado. Suas ações centravam-se no registro de epidemias e endemias (KORNIS et al, 2011).
A vigilância sanitária no Brasil
Segundo Costa (2001), as ações de Vigilância Sanitária sempre existiram no Brasil, porém com pouca expressão para a população, para os profissionais e gestores de saúde, ficando, portanto, marcadas apenas as atuações policiais e burocrático-cartoriais.
 A ausência de políticas de Vigilância Sanitária correlacionada às políticas públicas, a pouca vontade governamental para a área da saúde coletiva, ao incipiente desenvolvimento científico e tecnológico aprofundaram os problemas estruturais dos serviços de vigilância sanitária no Brasil.
Com a Constituição Brasileira assumindo a saúde como um direito fundamental do ser humano, e atribuindo ao Estado o papel de provedor dessas condições, a definição de vigilância sanitária, apregoada pela Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, passa a ser, nesse contexto, conforme o artigo 6º, parágrafo 1º, a seguinte: "Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde.
Uma das primeiras medidas adotadas no Brasil foi a polícia sanitária do Estado, que observava o exercício de algumas atividades profissionais, e fiscalizava embarcações, cemitérios e áreas de comércio de alimentos.
com a descoberta nos campos de bacteriologia e terapêutica no período compreendido entre as I e II Grandes Guerras Mundiais, houve a necessidade de reestruturação da Vigilância Sanitária (VISA). Com a reestruturação neste período e o crescimento econômico apresentado no Brasil, as atribuições da VISA cresceram.
No começo da década de 80, a VISA tomou o rumo que ela é hoje, e com a participação popular, passou a administrar as atividades concebidas para o Estado como papel de guardião dos direitos do consumidor e provedor das condições de saúde da população.
E com o surgimento da ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) as vigilâncias estaduais e municipais vêm se organizando, para cuidar de todas as áreas que foi atribuído os seus serviços.
A Vigilância Sanitária é a forma mais complexa de existência da Saúde Pública, pois suas ações, de natureza eminentemente preventiva, perpassam todas as práticas médico-sanitárias.
Duzentos anos depois, já na década de 1970, foi criada a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária e começaram a ser estabelecidas normas e padrões para edificações destinadas a serviços de saúde. Estas normas, complementadas e suplementadas por estados e municípios, determinaram a atuação das vigilâncias sanitárias nas décadas subseqüentes.
No Brasil, a Vigilância Sanitária teve seu marco fundamental no final dos anos 1980 e início dos anos de 1990, visto que foi em 1988 que ocorreu a promulgação da nova Constituição da República Federativa do Brasil, que no campo da saúde tratou de introduzir um novo conceito e uma nova amplitude de relações, atestando, desde sua promulgação, que a saúde é direito de todos e dever do Estado provê-la. (SOUZA; STEIN, 2007).
A vigilância sanitária, tal como foi introduzida no Brasil a partir do ano de 1988 engloba em suas atividades a regulação de uma variedade de produtos e serviços, de natureza diversa. Esses produtos e serviços podem ser agrupados em grandes ramos como cita Lucchese (2001).
 
[...] dos alimentos; dos medicamentos; dos produtos biológicos, tais como vacinas e derivados de sangue; dos produtos médicos, odontológicos, hospitalares e laboratoriais; dos saneantes e desinfetantes; dos produtos de higiene pessoal, perfumes e cosméticos, além do controle sanitário dos portos, aeroportos e estações de fronteiras e da ampla gama de serviços de interesse à saúde.
A abrangente e complexa atividade de vigilância sanitária adquiriu em 1990 seu corpo conceitual e jurídico com a edição da Lei 8.080, a qual ficou conhecida como a Lei Orgânica da Saúde (LOS), muito embora as questões relacionadas à qualidade e à segurança de produtos e serviços estejam correlacionadas ao período colonial, instalada com a chegada da Corte Portuguesa ao Brasil (BRASIL, 2001). 
A Lei 8.080/90 conceitua as ações de vigilância sanitária como:
Um conjunto de ações capazes de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionam com a saúde da população.
Importante enfatizar, que as ações de vigilância sanitária promovem a defesa e a proteção da saúde coletiva o que diversas vezes faz oposição à classe hegemônica e detentora do poder na sociedade, por exemplo, a burguesia dominante dos meios mercantis que se relacionam com a saúde da população (SOUZA; STEIN, 2007).
Com o papel definido e escopo visando à eliminação, diminuição e prevenção de riscos à saúde, a área de abrangência da vigilância sanitária age sobre os problemas sanitários derivados do meio ambiente, da produção e circulação de bens e consumo e da prestação de serviço que está ligada direta ou indiretamente com a saúde (BRASIL, 2001). 
O processo de descentralização das atividades de saúde se tornou um ponto chave para a efetivação da saúde como um direito de todos os cidadãos e dever do Estado. Tal fato se justifica por ser o município a instância apropriada para realizar as ações de saúde, já que é esse ente que se insere com maior proximidade do cidadão
e dos seus problemas. 
Com os processos de descentralização e municipalização das atividades de saúde e as diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS), foram construídos novos meios para efetivar a democratização da gestão e para a concretização das ações de vigilância sanitária, que tem como objeto o ambiente, a organização social e, principalmente, as ações centradas nas pessoas (BRASIL, 2001). 
As definições de competências são distribuídas para as três esferas do poder, sendo que a gestão municipal deve executar suas ações segundo as Normas Operacionais Básicas (NOB), visto que nessas normas estão elencadas as condições para realizar as responsabilidades e prerrogativas que o gestor deverá assumir para as atividades que visam à vigilância sanitária (SOUZA; STEIN, 2007).
vigilância sanitária no Brasil – da colônia à 1ª República
De acordo com Bueno (2005), a história da Vigilância Sanitária brasileira se confunde com a história de nosso País, história do medo da doença e da morte, um relato de tragédias e figuras heroicas, de conquistas, desafios e perdas, uma espécie de creditação de resistência às atrocidades geradas pela via do poder, à ignorância dos governantes, ao descaso das autoridades sanitárias que em épocas remotas faziam o isolamento dos doentes o seu método de cura, ou purificação. Além da inércia dos gestores a população estava sujeita às ações truculentas e com uso da violência para conter as comunidades revoltadas com a situação da saúde pública. 
As ações destinadas ao controle sanitário apresentam no Brasil um caminho ligado à formação dos serviços sanitários iniciados no início do século XIX devido, principalmente, à instalação da Família Real portuguesa em nosso território (PIMENTA, 2004).
Para Costa (apud COSTA; FERNANDES; PIMENTA, 2008), foi com a estadia da Família Real portuguesa no Brasil que se deu inicio à fundação e criação de vários meios normativos e diversos órgãos públicos os quais tinham a finalidade de exercer os serviços sanitários. 
A história da Saúde Pública no Brasil foi impactada por vários conluios administrativos e produção de muitas normas legais, porém tiveram pouca execução, ou seja, pouca utilidade prática. Da instalação da família real portuguesa até a década de 1920, no período da República Velha, as ações de vigilância sanitária eram tidas como parte integrante da Saúde Pública, sem distinção do que era cada uma (MACHADO et al, 1978; LUZ, 1982 apud COSTA, 2000).
Merece destaque ação de Oswaldo Cruz junto combate à epidemia de peste bubônica, oportunidade em que descobriu o soro antipestoso, e em 1900, criou o Instituto Soroterápico Federal, instalado na antiga Fazenda de Manguinhos, no Rio de Janeiro onde assumiu a direção geral. 
Oswaldo Cruz, 1903. Acervo da Casa 
Oswaldo Cruz
Também merece destaque o trabalho de experimentos com animais peçonhentos realizado pelo médico sanitarista Dr. Vital Brazil no desenvolvimento da soroterapia, que consistia na aplicação de um soro formado por um concentrado de anticorpos no paciente, com a finalidade de combater uma doença específica. Desenvolveu também um soro contra a peste bubônica que se alastrava na cidade de Santos/SP, em 1899. Este trabalho inicialmente foi desenvolvido na fazenda Butantan e mais tarde deu origem ao Instituto Serumtheráphico de Butantan, nome original do Instituto Butantan.
Em 1923 foi estabelecido o Regulamento Sanitário Federal como se fora um Código Sanitário que regulamentava os diversos objetos de interesse da saúde, visto que essa primeira Constituição republicana em nada abordou o tema da saúde em seu arcabouço legal (COSTA, 2000).
A vigilância sanitária no Brasil – de 1930 a 1960
As décadas de 1930 e 40 estabeleceram marcos importantes para a vigilância sanitária no Brasil e para a saúde, em geral. Com o Estado Novo (1930-45) foi apresentado um novo projeto para promover o desenvolvimento econômico do Brasil, com isso a economia urbano-industrial cresceu, representando uma pequena parcela da população, ampliando, dessa forma a segregação social (BRAGA; PAULA apud COSTA, 2000)
Em 1934 e 1937 promulgam-se duas novas Constituições, porém essas reconheceram a saúde apenas como um direito do trabalhador que possuía um emprego formal, ou seja, a saúde era direito apenas da classe trabalhadora (COSTA, 2000).
No início da década de 1940 foi instituído o Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina, e nos anos 50 cria-se também o da Farmácia. Em 1945 houve a expansão das indústrias farmacêuticas nacionais, devido à quebra das patentes de produtos farmacêuticos, transformando assim a farmácia em um estabelecimento comercial (COSTA, 2000).
Vacinação contra a febre amarela realizada na Força Pública, MG, década de 1940. Acervo da Casa Oswaldo Cruz
Em meados dos anos 50 foi criado um laboratório específico para a realização de análises de drogas, medicamentos e posteriormente de alimentos, os Laboratórios Central de Controle de Drogas e de Medicamentos. No final do governo de Juscelino Kubitschek foi promulgado o Código Nacional de Saúde, que designou uma grande abrangência às ações de saúde (COSTA, 2000).
A vigilância sanitária no Brasil – de 1970 a 1988
Até os anos 1970 a Vigilância Sanitária não se apresentava de maneira visível ao setor saúde, tendo suas ações desenvolvidas pelo Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia. As ações de vigilância sanitária eram desenvolvidas no âmbito estadual pelos órgãos congêneres ao Serviço Nacional de Fiscalização da Medicina e Farmácia, apesar de que suas atribuições não se limitavam apenas fiscalizar o exercício profissional, como pode transparecer
Lei de Vigilância Sanitária, Lei 6.360, que fora promulgada em 1976
Conforme mencionam Costa, Fernandes e Pimenta (2008), a Lei 6.360 significou um avanço na conformação da vigilância sanitária, pois se insere como parte central de modernização da legislação voltada para a área da saúde em nível da federação, e obteve forte influência de organismos internacionais na sua implementação, tais como Organização Mundial de Saúde (OMS) e Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS). 
Essa lei “dispõe sobre vigilância sanitária a que ficam sujeitos os medicamentos, as drogas, os insumos farmacêuticos e correlatos, cosméticos, saneantes e outros produtos”. Desta forma, ela se apresenta como ação permanente e rotineira dos órgãos de saúde de modo integrado com as várias outras esferas de gestão. 	
Durante os anos de 1970 foram introduzidas várias outras legislações no sistema legal brasileiro tais como:
- Lei 5.991/73, que “dispõe sobre o controle sanitário do comércio de drogas, medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos”, 
- Lei 6.368/76 que “dispõe sobre medidas de prevenção e repressão ao tráfico ilícito e uso indevido de substâncias entorpecentes ou que determinem dependência física ou psíquica”, 
- Lei 6.437/77 que “configura infrações à legislação sanitária federal, estabelece as sanções respectivas” (COSTA; FERNANDES; PIMENTA, 2008). 
Em meio às ideias de Reforma Sanitária, que permeou a década de 80, surgiram algumas preocupações, tais como fazer a integração das ações entre os níveis hierárquicos das esferas federal, estaduais e municipais, como também resolver os problemas de capacitar seus trabalhadores (COSTA; FERNANDES; PIMENTA, 2008). A esse respeito, Costa (2000), diz que:
No movimento pela redemocratização do país cresceram os ideais pela reforma da sociedade brasileira envolvendo diversos atores sociais, sujeitos coletivos e pessoas de destaque. Os consumidores “apareceram” no cenário político e sanitaristas ocuparam postos importantes no aparelho de Estado. A democratização na saúde fortaleceu-se no movimento pela Reforma Sanitária, avançando e organizando suas propostas na VIII Conferência Nacional de Saúde de 1986 que deu as bases para a criação do Sistema Único de Saúde.
A vigilância sanitária no Brasil – pós anos 1990
Segundo Costa (2008), a partir dos anos 90 e com o processo de implantação e consolidação
do SUS, a vigilância sanitária vai conquistando centralidade na agenda pública brasileira. Baseado neste contexto que ocorreu, na década de 90, a criação das agências reguladoras como um novo modelo institucional de intervenção no mercado e na sociedade. Isso foi uma mudança importante, pois, segundo Menicucci (2007), a regulação baseia-se “[...] na intervenção do Estado no mercado e na sociedade, em substituição à intervenção direta que caracterizou o desenvolvimento do Estado de Bem-Estar [...]”.
De acordo com Piovesan (2009), “A Anvisa foi a primeira agência que, diferentemente das anteriores, não foi criada para regular setores privatizados. Ela foi uma medida técnica e política”. Desta forma, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária, por meio da Lei 9.782/99, ao criar o Sistema Nacional de Vigilância Sanitária (SNVS) e substituir a Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária, que era subordinada ao Ministério da Saúde, superou o quadro anterior de fragmentação institucional (KORNIS et al, 2008).
Anteriormente à criação da Anvisa, as ações de vigilância sanitária eram fragmentadas e subordinavam-se à Secretaria Nacional de Vig
ilância Sanitária (LUCCHESE, 1997).
A reforma institucional então ocorreu em 1999 culminando com a criação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) sob a Lei 9.782, sendo essa uma entidade que funcionaria sob a forma de uma agência reguladora, conferindo-lhe uma administração pública gerencial orientada por resultados. 
Na Lei de criação da ANVISA fica clara em seu artigo 6º a sua finalidade institucional.
 
A Agência terá por finalidade institucional promover a proteção da saúde da população, por intermédio do controle sanitário da produção e da comercialização de produtos e serviços submetidos à vigilância sanitária, inclusive dos ambientes, dos processos, dos insumos e das tecnologias a eles relacionados, bem como o controle dos portos, aeroportos e fronteiras.
Com o objetivo de conferir proteção legal ao consumidor, foi instituído, através da Lei 8.078, de 11 de setembro de 1990, o Código de Defesa do Consumidor. Como afirmam Costa e Rozenfeld (2009), as ações da vigilância sanitária englobam também as relações sociais de produção e consumo. Logo, há a necessidade de regulá-las, por meio do reconhecimento da vulnerabilidade do consumidor no mercado e do desenvolvimento de instrumentos para a proteção da saúde da coletividade.
Fim!!!

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