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Apostila de Direito Constitucional Rio de Janeiro 2014 DIREITO CONSTITUCIONAL Direito constitucional é o ramo do direito público interno dedicado à análise e interpretação das normas constitucionais. Tais normas são compreendidas como o ápice da pirâmide normativa de uma ordem jurídica, consideradas Leis Supremas de um Estado soberano, e tem por função regulamentar e delimitar o poder estatal, além de garantir os direitos considerados fundamentais. O Direito constitucional é destacado por ser fundamentado na organização e no funcionamento do Estado e tem por objeto de estudo a constituição política desse Estado. CONCEITO DE CONSTITUIÇÃO: Constituição deve ser entendida como lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar, distribuição de competências, direitos, garantias e deveres dos cidadãos. Em seu Direito Constitucional Esquematizado, Pedro Lenzadestaca alguns sentidos auxiliam a definir o conceito de "Constituição": Sociológico Em seu sentido sociológico o autor destaca Ferdinand Lassale para quem uma Constituição só seria legítima se representasse o efetivo poder social refletindo, assim, as forças sociais que constituem o poder. Nos casos em que tal não acontece, a constituição seria ilegítima, caracterizando-se como uma simples folha de papel. Em resumo, no conceito de Lassale, a Constituição seria a somatória dos fatores reais de poder dentro de uma sociedade. Político Destaca-se aqui a lição de Carl Schmitt. Este faz uma distinção entre Constituição e lei constitucional. A Constituição seria a decisão política fundamental (estrutura e órgãos do Estado, direitos individuais, vida democrática, etc.). Já as Leis Constitucionais, seriam os dispositivos inseridos no documento constitucional, sem conter matéria de decisão política fundamental. Assim, sendo a Constituição, resultado de uma decisão política ela seria, neste sentido, a decisão política do titular do poder constituinte. Material Sob este aspecto, o que importa verificar para definir uma norma como sendo ou não constitucional é o seu conteúdo e não importa a forma como ela foi introduzida no texto constitucional. Então, será constitucional aquela norma que define e trata das regras estruturais da sociedade (exemplo: CF arts, 5º, 6º e 12), seus alicerces fundamentais (formas de Estado: CF Arts 1º c/c 18, Governo, órgãos: CF arts 44 a 135, etc). Formal Aqui não importará tanto o conteúdo da norma, mas a forma como ela foi introduzida no ordenamento jurídico. São aquelas normas introduzidas pelo poder soberano, através de processo legislativo mais dificultoso, diferenciado e solene do que o processo de formação de outras normas do ordenamento. Exemplo clássico, frequentemente citado na doutrina, de norma constitucional formal encontra-se no artigo 242 § 2º. Art. 242 (...) § 2º - O Colégio Pedro II, localizado na cidade do Rio de Janeiro, será mantido na órbita federal. Sob o aspecto material, a presente norma não possui qualquer elemento estrutural ou fundamental da sociedade. No entanto, sob o aspecto formal, ela é tão constitucional como qualquer outra inserida pelo poder constituinte originário. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES: Trata-se de tema não uniformemente abordado pelos doutrinadores. Há, porém, certo consenso quanto aos critérios abaixo apresentados. a) Quanto à forma; b) Quanto ao modo de elaboração; c) Quanto à origem; d) Quanto à estabilidade; e) Quanto ao conteúdo; f) Quanto à extensão. A) Quanto à forma: 1. Escrita 2. Não escrita Constituição escrita É a constituição formada por um conjunto de regra sistematizadas e organizadas em um único documento, estabelecendo as normas fundamentais de um Estado. Aquela que assume uma forma solene, cerimoniosa, litúrgica, para expressar o modo de ser jurídico de determinado Estado, apresentando as regras concernentes à disciplina do poder soberano sob a tutela estatal. Trata-se de um diploma jurídico no qual são sistematizadas as regras que estruturam os fundamentos do Estado. Constituição não escrita Também chamada de costumeira ou consuetudinária. É a constituição que, ao contrário da escrita, não traz as regras em um único texto solene e codificado. É formada por textos esparsos, reconhecidos pela sociedade como fundamentais e baseia-se nos usos, costumes, jurisprudências, convenções. Ex. A Constituição da Inglaterra. É aquela cuja forma de exteriorização das regras fundamentais do Estado não se expressa por meio de um codex, de um documento jurídico-positivo. Sua base de elaboração vem das práticas reiteradas num mesmo sentido, gerando a convicção de que tais práticas tornam-se obrigatórias na consciência geral da comunidade em que ela brota e viceja. Trata-se de um modelo de constituição que não revela a essência do aparelho estatal por intermédio de disposições dogmáticas, mas que resulta da lenta evolução da experiência histórica de determinada nação, fazendo surgir espontaneamente as instituições fundamentais do Estado, colocando-as em prática a despeito de qualquer solenidade sacramental. B) Quanto ao modo de elaboração: 1. Dogmáticas; 2. Históricas/Costumeiras. A Constituição dogmática é aquela elaborada por um órgão constituinte que confere a forma escrita ao seu produto final, apresentando as regras fundamentais concernentes às instituições políticas do Estado de modo sistematizado. Apresenta-se como produto escrito e sistematizado por um órgão constituinte, à partir de princípios e idéias fundamentais da teoria política e do direito dominante. A Constituição histórica é aquela elaborada a partir dos usos, costumes e tradições de um povo, e que não reclamam a solenização de seus preceitos porque estes emergem espontaneamente da lenta evolução histórica e consolidação das instituições de Estado. É fruto da lenta e contínua síntese da história e tradições de um determinado povo. C) Quanto á origem: 1. Promulgada; 2. Outorgada. Constituição promulgada é a que deriva do trabalho de uma Assembleia Nacional Constituinte composta por representantes do povo, eleitos com a finalidade de sua elaboração, com o propósito de consagrar as bases de sustentação do Estado segundo as expectativas e anseios da sociedade que a legitima. Constituição outorgada é aquela elaborada e estabelecida sem a participação popular, através de imposição do poder da época. São as constituições impostas de maneira unilateral, pelo agente revolucionário (grupo ou governante), que não recebeu do povo legitimidade para em nome dele atuar. Considerando o histórico constituinte brasileiro tivemos: • Constituição de 1824 - outorgada; • Constituição de 1891 - promulgada; • Constituição de 1934 - promulgada; • Constituição de 1937 - outorgada; • Constituição de 1946 - promulgada; • Constituição de 1967 - outorgada; • Constituição de 1969 - outorgada; • Constituição de 1988 - promulgada; Embora com as devidas ressalvas doutrinárias, é possível falar-se ainda na constituição cesarista, que são aquelas que, não obstante outorgadas, depende, da ratificação popular através de referendo. É apresentada ao povo uma constituição unilateralmente elaborada, o que evidencia um processo especial de outorga política. D) Quanto à estabilidade: 1. Rígida; 2. Flexível 3. Semirrígida 4. Imutável Entende-se por constituição rígida aquela cujo processo de alteração do texto constitucional vigente imprime toda uma dificuldade para a sua modificação. Assim, o processo de reforma constitucional passa por um ritual solene e cerimonioso criando dificuldades para a alteração do texto vigente. Neste modelo de constituição são previstos procedimentos especiais para a implementação da reforma constitucional, sendo encontradiço, inclusive, o elenco das matérias suscetíveis e não suscetíveis a alcance do poder constituinte reformador. Esse processo cerimonioso de reforma constitucional marca o timbre de distinção entre as leis e a constituição, pois que aquelas têm o seu processo de alteração submetido a um procedimento ordinário e comum, enquanto nesta a reforma se processa por meio de um rito especial e cerimonioso. Constituição flexível (também conhecida como constituição plástica) é aquela cujo processo de alteração do texto vigente não se mostra dificultoso, admitindo procedimentos ordinários de reforma, tais como aqueles implementados para as leis. Neste caso, não existem marcantes diferenças entre as regras constitucionais e as legais, pois que o processo de alteração dos respectivos diplomas se mostra semelhante. Há casos, inclusive, em que a edição de uma lei ordinária chega a ter o poder de alterar o regime constitucional vigente. Eis que neste modelo de constituição não fica evidenciada a questão da supremacia constitucional em sentido formal. Constituição semirrígida é a que contém uma parte rígida e uma flexível em sua estrutura, ou seja, é a constituição que de acordo com o teor matéria nela esculpido e sujeito à alteração o processo de reforma varia. Assim, tratando-se de tema para o qual o constituinte originário entenda de maior envergadura e cuidado, a sua eventual alteração processar-se-á mediante expediente especial e solene; caso entenda o constituinte originário tratar-se de assunto de cunho não essencialmente constitucional, embora consignado no corpo da própria constituição, seu processo de reforma dar-se-á por meio de procedimento ordinário. Logo, nas constituições semirrígidas existem presentes dois mecanismos de alteração da constituição, um mais brando e outro mais solene e dificultoso. Imutável – São as constituições onde se veda qualquer alteração, constituindo verdadeiras relíquias históricas. E) Quanto ao conteúdo: 1. Material; 2. Formal. Entende-se por constituição material aquela concebida em sua substância, considerando os elementos de regramento essencialmente constitucionais. Essa concepção prescinde da forma escrita, pois diz respeito à própria ontologia da idéia de constituição. Esse modelo de constituição vem plasmado nas formulações conceituais apresentadas para o vocábulo constituição, de tal sorte que sua noção se alinha à própria formação da ideia de constituição. Se tomada sob a luz das constituições escritas, o termo constituição material estará designando o fato de que o diploma jurídico escrito adstringe seu corpo de regras aos assuntos materialmente constitucionais, ou seja, sua disciplina normativa atém-se aos temas concernentes à titularidade e ao exercício do poder, aos modos de aquisição, transmissão e extinção do poder, aos limites do poder em face dos direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, bem como aos órgãos que exercem as prerrogativas da soberania estatal. Sob a luz das constituições não escritas o conceito de constituição material se confunde com a própria noção de constituição, pois esta advém da percepção coletiva da existência de regras consuetudinárias concernentes à organização política fundamental do próprio Estado. Segundo lições de José Afonso da Silva: ―a constituição material é concebida em sentido amplo e em sentido estrito‖. No primeiro, identifica-se com a organização total do Estado, com regime político. No segundo, designa as normas constitucionais escritas ou costumeiras, inseridas ou não num documento escrito, que regulam a estrutura do Estado, a organização de seus órgãos e os direitos fundamentais. ―Neste caso, só se refere à matéria essencialmente constitucional; as demais, mesmo que integrem uma constituição escrita, não seriam constitucionais‖. Constituição formal é o modelo ou espécie de constituição cuja forma de externação é escrita e solene, independentemente da sua estabilidade (rígida flexível ou semirrígida). Refere-se ao documento formal pelo qual o poder constituinte consagra dogmaticamente seus preceitos, princípios e valores. A categorização de uma constituição como formal não depende de uma avaliação do conteúdo de suas regras, podendo estas ser substancialmente constitucionais ou não. Quão mais uma constituição formal limitar as suas regras ao conteúdo materialmente constitucional, menor será a extensão de seu conjunto normativo; na medida em que a constituição formal se permita abranger regras não essencialmente constitucionais, abraçando temas que não digam respeito diretamente às instituições e bases políticas fundamentais do Estado, bem como à definição de direitos e garantias fundamentais dos cidadãos, maior será a extensão do corpo de suas regras. Daí a próxima classificação. F) Quanto á extensão: 1. Sintéticas; 2. Analíticas. São consideradas sintéticas as constituições que limitam o seu regramento ao conjunto de temas essencialmente, materialmente, substancialmente constitucionais, concentrando- se na disciplina dos direitos e garantias fundamentais, bem como na estrutura do Estado em face de seus órgãos, agentes e competências funcionais e institucionais. Analíticas são as constituições que incorporam ao seu conjunto de regras a disciplina de temas não contemplados classicamente como de essência ou substância constitucional. ANALISE: 1- A Constituição da República pode ser classificada como rígida, em face da existência de normas que não podem ser modificadas pelos agentes políticos investidos do poder constituinte derivado (cláusulas pétreas). 2- A Constituição Federal de 1988 (CF) é considerada pela maior parte da doutrina constitucionalista como uma constituição rígida. Há, no entanto, visão que - atentando para o fato de a CF ter um núcleo imutável, que não se submete a modificações nem mesmo por emenda - a classifica como superrígida. 3- Quanto à forma, a CF é uma constituição escrita, pois se acha consolidada em usos e costumes, convenções e textos esparsos, bem como na jurisprudência formada sobre os temas constitucionais. 4-Por expressar apenas as regras básicas de organização do Estado e os preceitos referentes aos direitos fundamentais, a CF é considerada como uma constituição analítica. EFICÁCIA E APLICABILIDADE DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS: Como regra geral, todas as normas constitucionais apresentam eficácia, algumas jurídicas e sociais e outras, apenas jurídicas. Social - A norma está apta para ser efetivamente aplicada a casos concretos. Jurídica - Produz efeitos jurídicos na medida em que sua simples edição resulta na revogação de todas as normas anteriores que com ela conflitem. As tradicionais classificações dadas por José Afonso da Silva em relação à sua aplicabilidade são: A)Normas Constitucionais de eficácia plena: São aquelas normas da constituição que, no momento em que esta entra em vigor, estão aptas a produzir todos os seus efeitos, independentemente de norma integrativa infraconstitucional. Têm aplicabilidade DIRETA, IMEDIATA e INTEGRAL. ―São as que receberam do constituinte normatividade suficienteà sua incidência imediata. Situam-se predominantemente entre os elementos orgânicos da constituição. Não necessitam de providência normativa ulterior para sua aplicação. Criam situações subjetivas de vantagem ou de vínculo, desde logo exigíveis‖. Exemplos: Arts 2º: 14, §2º; 17, §4°;19; 20; 21; 22; 24; 28, caput; 30; 37, III; 44, parágrafo único; 45, caput; 46, §1º; 51; 52; 60, §3º; 69; 70; 76; 145, §2º; 155; 156; 201, §§ 5º e 6º; 226, §1; 230, §2º (gratuidade de transporte coletivo urbano para os maiores de 65 anos - ADI 3.768, DJ de 26.10.2007), todos da CF/88. B)Normas Constitucionais de eficácia contida: São aquelas que, embora tenham condições de, quando da promulgação da nova constituição, produzir todos os seus efeitos, poderá uma norma infraconstitucional reduzir sua abrangência. Exemplos: arts. 5º, VII, VIII, XIII, XV, XXIV, XXV, XXVII e XXVIII; 15 IV;... CF/88. A restrição de referidas normas constitucionais, pode-se concretizar não só através de leis infraconstitucionais, mas também, pela incidência de normas da própria constituição, desde que ocorram alguns pressupostos de fato como, por exemplo, a DECRETAÇÃO DE ESTADO DE DEFESA OU DE SÍTIO, limitando diversos direitos como os elencados nos arts. 136, §1º e 139 da CF/88. Têm aplicabilidade DIRETA, IMEDIATA, POSSIVELMENTE NÃO INTEGRAL. C) Normas Constitucionais de eficácia limitada: São aquelas que, de imediato, no momento em que a constituição é promulgada (ou diante da introdução de novos preceitos por emenda a Constituição, ou na hipótese do art. 5º, §3º), não tem o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de uma lei integrativa infraconstitucional. São, portanto, de aplicabilidade MEDIATA E REDUZIDA. Exemplos: arts. 18, §2º; 22, parágrafo único. Cabe ressaltar que, segundo José Afonso da Silva, ―As normas constitucionais de eficácia limitada produzem um mínimo efeito, ou, ao menos, o efeito de vincular o legislador infraconstitucional aos seus vetores‖. Nesse sentido, o referido autor, em sede conclusiva, observa que, estas normas têm, ao menos, eficácia jurídica imediata, direta e vinculante já que: 1.Estabelecem um dever para o legislador ordinário; 2.Condicionam a legislação futura, com a consequência de serem inconstitucionais as leis ou atos que as ferirem; 3.Informam a concepção do Estado e da sociedade e inspiram sua ordenação jurídica, mediante a atribuição de fins sociais, proteção dos valores da justiça social e revelação dos componentes do bem comum; 4.Constituem sentido teleológico para a interpretação, integração e aplicação das normas jurídicas; 5.Condicionam a atividade discricionária da Administração e do Judiciário; 6.Criam situações jurídicas subjetivas, de vantagens ou de desvantagens. De acordo com essa formulação, normas de eficácia plena são as que receberam do constituinte normatividade suficiente à sua incidência imediata e independem de providência normativa ulterior para sua aplicação. Normas de eficácia contida são as que receberam igualmente normatividade suficiente para reger os interesses pertinentes, prevendo , porém meios normativos que lhe reduzam a eficácia e aplicabilidade. E as de eficácia limitada são as que não receberam do constituinte normatividade suficiente para sua aplicação, tarefa essa do legislador ordinário. ANALISE: 1) As normas constitucionais de eficácia limitada são desprovidas de normatividade, razão pela qual não surtem efeitos nem podem servir de parâmetro para a declaração de inconstitucionalidade. 2) As normas de eficácia contida permanecem inaplicáveis enquanto não advier normatividade para viabilizar o exercício do direito ou benefício que consagram; por isso, são normas de aplicação indireta, mediata ou diferida. 3) O livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, desde que atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer, é norma constitucional de eficácia contida; portanto, o legislador ordinário atua para tornar exercitável o direito nela previsto. 4) As normas que estabelecem diretrizes e objetivos a serem atingidos pelo Estado, visando o fim social, ou por outra, o rumo a ser seguido pelo legislador ordinário na implementação das políticas de governo, são conhecidas como normas programáticas. 5) Normas de eficácia limitada são aquelas que dependem da edição de outra norma da mesma estatura jurídica para que possam produzir efeito. 6) O dispositivo constitucional que assegura aos idosos a gratuidade dos transportes coletivos urbanos constitui norma de eficácia contida. 7) Segundo a estrutura escalonada ou piramidal das normas de um mesmo sistema jurídico, no qual cada norma busca sua validade em outra, situada em plano mais elevado, a norma constitucional situa-se no ápice da pirâmide, caracterizando se como norma-origem, porque não existe outra que lhe seja superior. 8) A norma constitucional é uma sobrenorma, porque trata do conteúdo ou das formas que as demais normas devem conter, apresentando princípios que servem de guias supremos ao exercício das competências dos órgãos. PODER CONSTITUINTE: Titularidade do poder constituinte: O poder constituinte pertence ao povo, que o exerce por meio dos seus representantes. ―Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição‖ (art.1º, parágrafo único da CF). Tendo em vista que o Poder Legislativo, Executivo e Judiciário são poderes constituídos, podemos concluir que existe um poder maior que os constituiu isto, o Poder Constituinte. Assim, a Constituição Federal é fruto de um poder distinto daqueles que ela institui. Espécies de Poder Constituinte: A) Poder Constituinte Originário: Histórico Revolucionário B) Poder Constituinte Derivado: Reformador Decorrente Revisor A)Poder Constituinte Originário: Também é denominado de poder inicial, genuíno, poder de 1º grau ou poder inaugural. É aquele capaz de estabelecer uma nova ordem constitucional, isto é, de dar conformação nova ao Estado, rompendo com a ordem constitucional anterior. O objetivo fundamental do Poder Constituinte Originário é criar um Estado novo, diverso de que vigorava em decorrência da manifestação do poder constituinte precedente. O Poder Constituinte Originário tem por característica ser: Inicial - pois, instaura uma nova ordem jurídica, rompendo, por completo com a ordem jurídica anterior; Ilimitado - pois, não tem que respeitar os limites postos pelo direito anterior; Autônomo - visto que a nova estruturação da nova constituição será determinada autonomamente, por quem exerce o poder constituinte originário; Incondicionado - porque não tem que submeter-se à formas pré- fixadas de manifestação. O Poder Constituinte Originário classifica-se como: Poder Constituinte Originário Histórico: É aquele capaz de editar a primeira Constituição do Estado, isto é, de estruturar pela primeira vez o Estado. Poder Constituinte Originário Revolucionário: São todos aqueles posteriores ao histórico, que rompem com a ordem constitucional anterior e instauram uma nova. B)Poder Constituinte Derivado: Também é denominado de poder instituído, constituído, secundário ou poder de 2º grau. Como o próprio nome sugere, o poder constituinte derivado é criado e instituído pelo originário e, sendo assim, está inserido na própria constituição federal. O poder constituinte derivado tem por característica ser: Derivado- porque retira sua força do poderconstituinte originário; Subordinado- porque se encontra limitado pelas normas expressas e implícitas do texto constitucional, às quais não poderá contrariar sob pena de inconstitucionalidade. Condicionado- porque seu exercício deve segui as regras previamente estabelecidas no texto da Constituição Federal. O Poder Constituinte Derivado subdivide-se em: a) Poder Constituinte Derivado Reformador: O poder constituinte reformador, chamado por alguns de competência reformadora, tem capacidade de modificar a Constituição federal, por meio de um procedimento especifico estabelecido pelo originário, sem que haja uma verdadeira revolução. A manifestação do poder constituinte reformador verifica-se através das emendas constitucionais (Arts.59,I e 60 da CF/88); b)Poder Constituinte Derivado Decorrente: Também foi criado pelo poder constituinte originário. É o poder de que foram investidos os estados-membros para elaborar a sua própria constituição (capacidade de auto-organização). Os Estados são autônomos uma vez que possuem capacidade de: • Auto-organização; • Autogoverno; • Auto administração e auto legislação. Mas não são soberanos, pois devem observar a Constituição Federal. ―Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição‖ (art. 25 da CF). Desta forma, o poder constituinte decorrente também encontra limitações. O exercício do poder constituinte decorrente foi conferido às Assembleias legislativas. ―Cada AssembleiaLegislativa, com poderes constituintes, elaborará a Constituição do Estado, no prazo de um ano, contando da promulgação da Constituição Federal, obedecidos os princípios desta‖ (art. 11 dos ADCT). É importante lembrar que também há o poder reformador para as Constituições Estaduais. Estas são alteradas pela Assembleia legislativa, através de emendas. Discussão sobre a existência de poder constituinte decorrente nos Municípios e Distrito Federal: Municípios: A CF/88 concedeu a capacidade de auto-organização aos Municípios, ou seja, possibilitou que cada Município tivesse a sua própria Lei Orgânica e que esta seria submissa à Constituição Estadual e à Constituição Federal. Antes de 88, os Municípios de determinado Estado eram regidos por uma única Lei orgânica estadual. Os Municípios são autônomos, uma vez que possuem capacidade de auto- organização, autogoverno, auto administração e auto legislação. ―Promulgada a Constituição do Estado, caberá à Câmara Municipal, no prazo de seis meses, votar a lei orgânica respectiva, em dois turnos de discussão e votação, respeitando o disposto na Constituição Federal e na Constituição Estadual‖ (art. 11, parágrafo único dos ADCT). Como se pode observar, o respeito ao seu conteúdo dar-se-á tanto em relação à Constituição estadual como à Federal, obedecendo, desta feita, há dois graus de imposição legislativa constitucional. Em virtude disso e trazendo á baila entendimento jurisprudencial emanado pelo TJSP, os autores concluem que ―o poder constituinte decorrente, conferido aos Estados - membros da Federação, não foi estendido aos municípios‖. Distrito Federal: Também é autônomo, uma vez que possui capacidade de auto-organização, autogoverno, auto administração e auto legislação. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-á por Lei Orgânica, votada em dois turnos, com interstício mínimo de 10 dias e aprovada por 2/3 dos membros da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos na Constituição Federal (art. 32 da CF). Desta forma, muito embora a posição particular ocupada pelo DF na Federação, já que sua autonomia é parcialmente tutelada pela União (arts. 21,XIII e XIV, e 22, XVII), além de acumular competências legislativas reservadas tanto aos Estados como aos Municípios (art.32,§1º), a vinculação da lei orgânica será diretamente com a CF. Assim, na medida em que a derivação é direta em relação á CF, no âmbito do Distrito federal, verifica-se a manifestação do poder constituinte derivado decorrente, qual seja, a competência que o DF tem para elaborar sua lei orgânica (verdadeira constituição distrital) sujeitando-se aos mesmos limites, já apontados para os Estados - membros e assim, aplicando-se por analogia, o art. 11 do ADCT. a) Poder Constituinte Derivado Revisor: Também chamado de poder anômalo de revisão ou revisão constitucional anômala ou competência de revisão. Foi estabelecida com o intuito de adequar a Constituição à realidade que a sociedade apontasse como necessária. O artigo 3º dos ADCT estabeleceu que a revisão constitucional fosse realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral. O procedimento anômalo é mais flexível que o ordinário, pois neste segundo exige-se sessão bicameral e 3/5 dos votos. ANALISE: 1-O poder de modificar o texto originário da Constituição advém do exercício do poder constituinte reformador e do revisor, os quais podem ser manifestados a qualquer tempo, mediante o voto de três quintos de cada casa do Congresso Nacional, em dois turnos de votação. 2-A substituição da União, dos estados, do Distrito Federal (DF) e dos municípios por um único ente central somente seria possível por um poder constituinte originário. 3-Cabe emenda à Constituição Federal de 1988 (CF) mediante proposta de mais da metade das assembleias legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria absoluta de seus membros. 4-O poder constituinte derivado decorrente consiste na possibilidade que os estados-membros têm, em virtude de sua autonomia político-administrativa, de se auto organizarem por meio das respectivas constituições estaduais, sempre respeitando as regras estabelecidas pela CF. 5-O poder de reforma é criado pelo poder constituinte originário e se confunde com ele ao estabelecer o procedimento a ser seguido para as alterações constitucionais e as limitações a serem observadas. 6- O poder de reforma inclui tanto o poder de emenda como o poder de revisão do texto constitucional. 7- O poder de reforma recebe, doutrinariamente, as mais diferentes denominações, sendo seus sinônimos as expressões poder constituinte derivado ou poder constituinte de segundo grau. 8-Pode ser objeto de emenda constitucional a proposta tendente a abolir o direito de petição aos poderes públicos ou a obtenção de certidões em repartições públicas. 9-O poder constituinte derivado, ou de revisão ou reforma, caracteriza-se por ser inicial, autônomo e incondicionado, corporificando-se por meio de instrumento denominado emenda constitucional. O PREÂMBULO DA CONSTITUIÇÃO BRASILEIRA DE 1988: PREÂMBULO CONSTITUCIONAL * "Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem- estar; o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.‖ O preâmbulo de uma Constituição pode ser definido como: a) Documento de intenções do diploma. b) Certidão de origem e legitimidade do novo texto. c) Proclamação de princípios. Demonstrando:a) A ruptura com o ordenamento constitucional anterior. b) O surgimento jurídico de um novo Estado. É de tradição em nosso Direito Constitucional e nele deve constar os antecedentes e enquadramento histórico da Constituição, bem como suas justificativas e seus grandes objetivos e finalidades. O preâmbulo, por não ser norma constitucional: a) Não poderá prevalecer contra texto expresso da Constituição Federal. b) Não poderá ser paradigma comparativo para declaração de inconstitucionalidade. Por traçar as diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, será uma de suas linhas mestras interpretativas. PAPEL DO PREÂMBULO NA INTERPRETAÇÃO CONSTITUCIONAL Aceitando-se o preâmbulo como parte integrante da constituição, dela não se distinguindo nem pela origem, sentido ou conteúdo, tendo em vista que ele derivou da mesma manifestação constituinte originária que aprovou as outras normas constitucionais, então o preâmbulo servirá para efeitos de interpretação, pois, através dele, sentiremos a influência dos seus princípios sobre o restante das disposições que compõem a constituição. A natureza jurídica do preâmbulo constitucional ―o preâmbulo deve sintetizar sumariamente os grandes fins da Constituição, servindo de fonte interpretativa para dissipar as obscuridades das questões práticas e de rumo para a atividade política do governo.‖ Questões: 1- Em relação ao Poder Constituinte dos Estados-membros, o preâmbulo da Constituição Federal deve ser repetido, inclusive a invocação a Deus, pois trata-se de norma de reprodução obrigatória. 2- (MP/GO 2010) 047 - O preâmbulo é o pórtico da Constituição e revela a síntese do pensamento do legislador constituinte. Acerca de sua natureza jurídica, marque a resposta correta: a) Para o STF o preâmbulo constitucional deve ser contado como norma constitucional, integrando o articulado constitucional, possuindo eficácia jurídica plena. b) O preâmbulo na CF/88 é dotado de força normativa cogente, fazendo parte da declaração de direitos e, por isso, tomado como cláusula pétrea. c) O preâmbulo, por expressa disposição constitucional, tem como finalidade a resolução das chamadas lacunas ocultas, que são aquelas decorrentes de erro do Poder Constituinte ou de desatualização da Constituição. d) Para o STF o preâmbulo constitucional situa-se no domínio da política e reflete a posição ideológica do constituinte. Logo, não contém relevância jurídica, não tem força normativa, sendo mero vetor interpretativo das normas constitucionais, não servindo como parâmetro para o controle de constitucionalidade. TÍTULO I DA CRFB Dos Princípios Fundamentais Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: I - a soberania; II - a cidadania; III - a dignidade da pessoa humana; IV - os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; V - o pluralismo político. Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Parágrafo único. ―Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição. Fundamentos são os alicerces, as bases ideológicas sobre as quais está construída a República Federativa do Brasil. São eles: Soberania Um poder político supremo e independente, entendendo-se por supremo aquele que não está limitado por nenhum outro na ordem interna e por poder independente aquele que, na sociedade internacional, não tem de acatar regras que não sejam voluntariamente aceites e está em pé de igualdade com os poderes supremos dos outros povos. É a capacidade de editar suas próprias normas, sua própria ordem jurídica, de tal modo que qualquer regra heterônoma só possa valer nos casos e nos termos admitidos pela própria Constituição. A Constituição traz a forma de soberania popular no art. 14. Com relação aos indivíduos, as normas sociais são sempre heterônomas, pois elas são impostas. Não se trata sequer de uma adesão voluntária a um sistema normativo predeterminado, pois a comunidade impõem suas normas tanto a quem as aceita espontaneamente quanto a quem as recusa. Nessa medida, com relação à sociedade, o direito é um conjunto de regras autônomas, pois cada grupo social determina as suas próprias regras jurídicas. Porém, as pessoas que integram as sociedades não têm liberdade para escolher as normas jurídicas às quais estão submetidas, pois as regras válidas em uma dada comunidade são impostas a todos os seus membros, independentemente de sua concordância. Cidadania é o status da nacionalidade brasileira acrescido dos direitos políticos, isto é, do direito de participar do processo político como candidato aos cargos do governo ou como eleitor dos governantes. A própria Constituição prevê os poucos casos em que acontecem a perda e a suspensão dos direitos políticos. Dignidade da pessoa humana: o Brasil é estruturado com base na consciência de que o valor da pessoa humana, enquanto ser humano é insuperável. Em vários artigos a Constituição mostra como pretende assegurar o respeito à condição de dignidade do ser humano, como por exemplo, no art. 5º, III, onde se lê que ninguém será submetido à tortura ou a tratamento desumano ou degradante, ou no art. 6º, onde se encontra uma lista de direitos sociais como educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade e à infância e assistência aos desamparados. Valores sociais do trabalho e da livre iniciativa: são todos os direitos que possibilitam que o exercício das profissões seja realizado com dignidade, entre eles, obrigação de uma remuneração justa e condições mínimas para o desenvolvimento e a sobrevivência da atividade. A Constituição Federal trata do assunto nos artigos 6º ao 11º, em especial, e em outros artigos dispersos em seu corpo. Como salienta Paolo Barile, a garantia de proteção ao trabalho não engloba somente o trabalhador subordinado, mas também aquele autônomo e o empregador, enquanto empreendedor do crescimento do país. Pluralismo político: Demonstra a preocupação do legislador constituinte em afirmar-se a ampla e livre participação popular nos destinos políticos do país, garantindo a liberdade de convicção filosófica e política e, também, apossibilidade de organização e participação em partidos políticos. O Estado Democrático de Direito, que significa a exigência de reger-se por normas democráticas, com eleições livres, periódicas e pelo povo, bem como o respeito das autoridades públicas aos direitos e garantias fundamentais, proclamando o caput do artigo, adotou, igualmente, no seu parágrafo único, o denominado princípio democrático, ao afirmar que ―todo poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição‖. Questões: 1- A soberania popular é exercida, em regra, por meio da democracia representativa. A Constituição Federal brasileira consagra, também, a democracia participativa ao prever instrumentos de participação intensa e efetiva do cidadão nas decisões governamentais. 2- A dignidade da pessoa humana, um dos fundamentos da República Federativa do Brasil, apresenta-se como direito de proteção individual em relação ao Estado e aos demais indivíduos e como dever fundamental de tratamento igualitário dos próprios semelhantes. 3- De acordo com o princípio federativo adotadono Brasil, os estados- membros possuem autonomia administrativa e política, sendo vedado a eles o direito de secessão. 4- O povo exerce sua participação direta no poder por intermédio do voto, ao eleger os deputados federais, estaduais, distritais e vereadores. 5- A forma federativa de estado, caracterizada pela divisão territorial do poder, foi gravada na CF como cláusula pétrea. Art. 2º São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O Poder é Soberano, dividindo – se, apenas, nas funções Legislativa, Judiciária e Executiva. Este sistema criou mecanismos de controle recíproco, sempre como garantia de perpetuidade do Estado Democrático de Direito. Desta forma, ao afirmar que os Poderes são independentes e harmônicos, o texto constitucional consagrou, respectivamente, as teorias da ―Separação dos Poderes‖ e o sistema de ―Freios e Contrapesos‖. Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: I - construir uma sociedade livre, justa e solidária; II - garantir o desenvolvimento nacional; III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais; IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Construir uma sociedade livre, justa e solidária é uma criação de origem francesa (libertè, igualitè, fraternitè). O termo ―livre‖ nos remonta aos direitos de 1ª geração, os direitos de liberdade; o termo ―justa‖ tem ligação com a igualdade, que é o postulado dos direitos de 2ª geração; e a solidariedade é vinculada à fraternidade, que é o fundamento dos direitos de 3° geração. Garantir o desenvolvimento nacional tem relação primariamente econômica, no sentido de engrandecer o país para que o mesmo seja um polo industrial, comercial, tecnológico e financeiro. Erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais tem relação com o âmbito interno, com o país relacionado a sim mesmo. Isso quer dizer que a República deve erradicar (destruir, desfazer, anular) a pobreza e a marginalização (mesmo que seja utópico, deve-se buscar) e reduzir (diminuir, minimizar) desigualdades. Temos um país de dimensões continentais, e cada estado-membro tem o tamanho de alguns países europeus. Reduzir as desigualdades sociais (ricos X pobres) e regionais (seca nordestina, enchentes em São Paulo, geadas no sul etc.) também é um ―norte‖ a ser buscado pela República. Promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: I - independência nacional; II - prevalência dos direitos humanos; III - autodeterminação dos povos; IV - não intervenção; V - igualdade entre os Estados; VI - defesa da paz; VII - solução pacífica dos conflitos; VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; X - concessão de asilo político. Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações. Exercícios: 1- É incorreto afirmar que a República Federativa do Brasil tem como fundamento: a) o pluralismo político; b) a cidadania; c) a separação dos Poderes; d) os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa; e) a soberania. 2- Acerca dos princípios fundamentais e direitos individuais, julgue oitem à seguir: -Outorgada por uma Assembleia Constituinte, a Constituição Federal de 1988 (CF) é também classificada como escrita, formal, analítica, dogmática e rígida. 3- A República, Federação e Presidencialismo são, para a Constituição de 1988, respectivamente: a) Forma de Governo, Forma de Estado, Sistema de Governo, b) Forma de Estado, Sistema de Governo, Regime de Governo. c) Sistema de Governo, Regime de Governo, Forma de Estado Forma de Estado, Regime de Governo, Sistema de Governo. d) Forma de Estado, Regime de Governo, Sistema de Governo. e) Sistema de Governo, Forma de Estado, Sistema de Estado. 4- O Estado Federativo tem como características principais: a) Eletividade dos mandatários e temporalidade dos mandatos. b) Soberania e autonomia dos entes federados. c) Divisão de competências entre os entes federados e participação dos Estados-membros nas decisões nacionais. d) Representatividade dos mandatários e soberania popular. e) Relação rígida entre o Poder Executivo e o Poder Legislativo 5- O Governo Republicano tem como traços distintivos: a) O acesso do povo ao poder. b) A divisão de competências entre as entidades federativas. c) A eletividade dos mandatários e a transitoriedade dos mandatos eletivos. d) A vitaliciedade e a hereditariedade. e) A centralização das decisões políticas e administrativas. 6-São fundamentos da República Federativa do Brasil: a) A soberania, a autodeterminação dos povos, a cidadania, a igualdade entre os Estados. b) A cidadania, a dignidade da pessoa humana, a solução pacífica dos conflitos, a soberania. c) A soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e a livre iniciativa e o pluralismo político. d) A soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e a livre iniciativa e o pluripartidarismo. e) Todas as respostas anteriores estão corretas. 7- O plebiscito realizado no dia 21 de abril de 1993 teve como assunto: a) Forma de Estado e Forma de Governo. b) Forma de Governo e Sistema de Governo. c) Regime de Governo e Regime Político. d) Forma de Governo e Forma de Estado. e) Regime Político e Sistema de Estado. 8- A Constituição Federal de 1988, pode ser classificada como: a) formal, escrita, flexível, promulgada e analítica. b) Sintética, promulgada, rígida e dogmática. c) Formal, rígida, analítica e histórica. d) Formal, escrita, dogmática, democrática, rígida e analítica. e) Material, consuetudinária, semi-flexível e analítica. TITULO II-DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS DOS DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS A CF/88, em seu Título II, classifica o gênero direitos e garantias fundamentais em 5 grupos à saber: Classificação dos direitos fundamentais: 1 - direitos individuais e coletivos (art. 5º); 2 - direitos sociais (arts. 6º à 11 e 193 e ss.); 3 - direitos à nacionalidade (arts. 12 e 13); 4 - direitos políticos (arts. 14 a 16); 5 – partidos políticos (art. 17). Evolução dos Direitos Fundamentais (―gerações‖ ou ―dimensões‖ de direitos) Direitos Fundamentais de 1ª dimensão: A primeira dimensão se traduz na expressão da liberdade. Esta versa sobre direitos civis e políticos de todo o cidadão em relação ao Estado. Dá-se a conotação de liberdade perante o Estado. É de onde a ordem política liberal se vincula diretamente à primeira dimensão dos direitos fundamentais, traduzindo: os direitos civis e políticos incluindo a livre iniciativa e a igual representação política.Conforme anota Bonavides, ―os direitos de primeira geração ou direitos de liberdades têm por titular o indivíduo, são oponíveis ao Estado, traduzem-se como faculdades ou atributos da pessoa e ostentam uma subjetividade que é seu traço mais característico;enfim, são direitos de resistência ou de oposição perante o Estado‖.É neste sentido que surge o Estado de Direito na versão liberal, onde imputa impor limites jurídicos ao poder do Estado. É neste sentido que as liberdades individuais e garantias dadas pela constituição nulificam as intervenções do Estado de maneira arbitrária e desmedida.Dentro desta dimensão destacamos como principais direitos: à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei, à igualdade no que tange às garantias processuais e a participação política. Direitos Fundamentais de 2ª dimensão: Certo da evolução dos direitos fundamentais, vislumbramos a fase, ou melhor, a dimensão de ações prestacionais do Estado. Nasce nesta dimensão a preocupação com a dignidade da pessoa humana, sem deixar de lado as conquistas trazidas pela democracia liberal. A segunda dimensão dos direitos fundamentais está ligada na participação direta do Estado na ascensão social do cidadão, isto ocorreu de modo inicial com a constituição mexicana de 1917 e em especial a da República de Weimar, na Alemanha em 1919. Estas constituições incorporaram os direitos sociais, trabalhistas, culturais e econômicos na oferta dos direitos fundamentais.Estes direitos representam a esperança da justiça social, e de uma vida mais digna do ser humano na sociedade em que participa aliada na idéia de uma justiça distributiva e no reconhecimento de direitos dos hipossuficientes, em busca de uma igualdade material.Podemos citar como exemplo em nossa constituição, os artigos 193 a 203, no que se refere à ordem social. Estão inscritos nestes artigos os direitos relativos à seguridade social, quem englobam a saúde, previdência e a assistência social. Direitos fundamentais de 3ª dimensão: Então, passadas as duas dimensões iniciais dos direitos fundamentais, em inspiração aos ideais da liberdade e igualdade, entramos no momento da terceira dimensão dos direitos fundamentais, a que se refere aos direitos da fraternidade e de solidariedade. Estes direitos transcendem o homem-indivíduo para atingir outros grupos da sociedade como, por exemplo: a família, a nação, etc.Estes direitos são classificados como direitos coletivos ou difusos. É tido como exemplo nos dias atuais, o Código de Defesa do Consumidor, Lei 8078/90, onde nesta lei, se reconhece a vulnerabilidade do consumidor face ao fornecedor, além de verificar e apontar instrumentos de defesa e proteção à parte hipossuficiente da relação de consumo, o consumidor (Art. 4, I, CDC).Sendo assim, podemos pautar o direito ao meio ambiente sadio, o direito do consumidor, o direito ao desenvolvimento econômico sustentável, o patrimônio comum da humanidade, o direito a paz, dentre outros desta linha, como fundamentais de terceira dimensão. Direitos fundamentais de 4ª dimensão: Segundo orientação de Norberto Bobbio, referida geração de direitos decorreria dos avanços no campo da engenharia genética, ao colocarem em risco a própria existência humana, por meio de manipulação do patrimônio genético. Por outro lado, BONAVIDES afirma que são direitos de quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Pois deles depende a concretização da sociedade aberta do futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência. Direitos fundamentais da 5ª dimensão: O direito à paz foi classificado por KarelVasak como de 3ª dimensão.Contudo, Bonavides entende que o direito à paz deva ser tratado em dimensão autônoma, chegando a afirmar que a paz é axioma da democracia participativa, ou ainda, supremo direito da humanidade. I-DOS DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS(art, 5º) ―Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade nos termos seguintes:‖ FUNDAMENTOS CONSTITUCIONAIS Conceito de direito individual: São os direitos fundamentais do homem-indivíduo, que são aqueles que reconhecem a autonomia aos particulares, garantindo a iniciativa e independência aos indivíduos diante dos demais membros da sociedade política e do próprio Estado. Destinatários dos direitos e garantias individuais: O art. 5º, caput, da CF/88 estabelece que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos dos seus 78 incisos e parágrafos. Trata-se de um rol meramente exemplificativo, na medida em que os direitos e garantias expressos na Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados e convenções internacionais em que a República federativa do Brasil seja parte (§2º). Embora o texto do artigo garanta expressamente aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País o exercício de todos os direitos e garantias fundamentais, a interpretação aqui é sistemática e finalística além desta proteção ser realizada sem distinção de qualquer natureza. Assim, a proteção dos direitos fundamentais é reservada a todos os indivíduos, independente de sua nacionalidade ou situação no Brasil. A expressão residente no Brasil, segundo Alexandre Moraes, deve ser interpretada no sentido de que a Carta Federal só pode assegurar a validade e gozo de direitos fundamentais dentro do território brasileiro, não excluindo, assim, os estrangeiros em trânsito pelo território nacional. As pessoas jurídicas também são beneficiárias dos direitos e das garantias individuais, porque reconhece-se às associações o direito à existência. DIREITO À VIDA O mais fundamental de todos os direitos. Pré-requisito à existência e exercício de todos os demais direitos. As pessoas têm direito a permanecer vivas e a terem uma vida digna. O Estado é responsável pelo direito à vida em sua dupla acepção, ou seja, o direito a continuar vivo e o direito de se ter uma vida digna quanto à subsistência. O direito à vida diz respeito à própria existência da pessoa humana. A Constituição garante a existência digna de todo ser vivo, tendo o próprio nascituro seus direitos civis assegurados. Apenas excepcionalmente a legislação brasileira admite o fim da vida, por meio da pena de morte em estado de guerra declarada, das excludentes de ilicitude penal (legítima defesa, estado de necessidade, estrito cumprimento do dever legal e exercício regular de direito e da autorização do aborto nos casos previstos no Código Penal). A Constituição proíbe qualquer mecanismo que possa resultar na solução não espontânea da vida. Assim, a pena de morte não pode ser institucionalizada juridicamente no país. A própria pena de morte em caso de guerra declarada está sujeita à condição de ser esta mesma guerra declarada pelo Presidente da República. De outra maneira a eutanásia e o aborto também são proibidos pelo texto constitucional. A eutanásia é o fato de uma pessoa — ou alguém por ele — em situação de agonia colocar fim à sua própria vida. Da mesma forma o aborto. Também é fundamental lembrar que os direitos individuais são considerados cláusulas pétreas pelo texto do art. 60, §4º, IV da Constituição Federal. Direito à existência: consiste no direito de estar vivo, de lutar pelo viver, de defender à própria vida, de permanecer vivo; é odireito de não ter interrompido o processo vital senão pela morte espontânea e inevitável; tentou-se incluir na Constituição o direito a uma existência digna. Direito à integridade física: a Constituição além de garantir o respeito à integridade física e moral (art. 5º, XLIX), declara que ninguém será submetido a tortura ou tratamento desumano ou degradante (art. 5º, III); a fim de dotar essas normas de eficácia, a Constituição preordena várias garantias penais apropriadas, como o dever de comunicar, imediatamente, ao juiz competente e à família ou pessoa indicada, a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre; o dever da autoridade policial informar ao preso seus direitos; o direito do preso à identificação dos responsáveis por sua prisão e interrogatório policial. Direito à integridade moral: a Constituição realçou o valor da moral individual, tornando-a um bem indenizável (art. 5º, V e X); à integridade moral do direito assume feição de direito fundamental; por isso é que o Direito Penal tutela a honra contra a calúnia, a difamação e a injúria. Pena de morte: é vedada; só é admitida no caso de guerra externa declarada, nos exatos termos do art. 84, XIX (art. 5º, XLVII, a). Eutanásia: é vedado pela Constituição; o desinteresse do indivíduo pela própria vida não exclui esta da tutela; o Estado continua a protegê-la como valor social e este interesse superior torna inválido o consentimento do particular para que dela o privem. Aborto: a Constituição não enfrentou diretamente o tema, devendo o assunto ser decidido pela legislação ordinária, especialmente a penal. Tortura: prática expressamente condenada pelo inciso III do art. 5º, segundo o qual ninguém será submetido a tortura ou a tratamento desumano e degradante; a condenação é tão incisiva que o inciso XLIII determina que a lei considerará a prática de tortura crime inafiançável e insuscetível de graça, por ele respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-lo, se omitirem (Lei 9.455/97). DIREITO À PRIVACIDADE Conceito e conteúdo: A Constituição declara invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas (art. 5º, X); portanto, erigiu, expressamente, esses valores humanos à condição de direito individual, considerando-o um direito conexo ao da vida. Intimidade: se caracteriza como a esfera secreta da vida do indivíduo na qual este tem o poder legal de evitar os demais; abrangendo nesse sentido à inviolabilidade do domicílio, o sigilo de correspondência e ao segredo profissional. Vida privada: a tutela constitucional visa proteger as pessoas de 2 atentados particulares: ao segredo da vida privada e à liberdade da vida privada. Honra e imagem das pessoas: o direito à preservação da honra e da imagem, não caracteriza propriamente um direito à privacidade e menos à intimidade; a CF reputa-os valores humanos distintos; a honra, a imagem constituem, pois, objeto de um direito, independente, da personalidade. Violação à privacidade e indenização: essa violação, em algumas hipóteses, já constitui ilícito penal; a CF foi explícita em assegurar ao lesado, direito à indenização por dano material ou moral decorrente da violação do direito à privacidade. DIREITO À IGUALDADE Introdução: as Constituições só tem reconhecido a igualdade no seu sentidojurídico-formal (perante a lei); a CF/88 abre o capítulo dos direitos individuais com o princípio que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza; reforça o princípio com muitas outras normas sobre a igualdade ou buscando a equalização dos desiguais pela outorga de direitos sociaissubstanciais. Isonomia formal e isonomia material: isonomia formal é a igualdade perante a lei; a material são as regras que proíbem distinções fundadas em certos fatores; Ex: art. 7º, XXX e XXXI; a Constituição procura aproximar os 2 tipos de isonomia, na medida em que não de limitara ao simples enunciado da igualdade perante a lei; menciona também a igualdade entre homens e mulheres e acrescenta vedações a distinção de qualquer natureza e qualquer forma de discriminação. O sentido da expressão ―igualdade perante a lei‖: o princípio tem como destinatários tanto o legislador como os aplicadores da lei; significa para o legislador que, ao elaborar a lei, deve reger, com iguais disposições situações idênticas, e, reciprocamente, distinguir, na repartição de encargos e benefícios, as situações que sejam entre si distintas, de sorte aquinhoá-las ou gravá-las em proporção às suas diversidades; isso é que permite, à legislação, tutelar pessoas que se achem em posição econômica inferior, buscando realizar o princípio da equalização. Igualdade de homens e mulheres: essa igualdade já se contém na norma geral da igualdade perante a lei; também contemplada em todas as normas que vedam a discriminação de sexo (arts. 3º, IV, e 7º, XXX), sendo destacada no inciso I, do art. 5º que homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição; só valem as discriminações feitas pela própria Constituição e sempre em favor da mulher, por exemplo, a aposentadoria da mulher com menor tempo de serviço e de idade que o homem (arts. 40, III, e 202, I a III). O princípio da igualdade jurisdicional: a igualdade jurisdicional ou igualdade perante o juiz decorre, pois, da igualdade perante a lei, como garantia constitucional indissoluvelmente ligada à democracia; apresenta-se sob 2 prismas: como interdição do juiz de fazer distinção entre situações iguais, ao aplicar a lei; como interdição ao legislador de editar leis que possibilitem tratamento desigual a situações iguais ou tratamento igual a situações desiguais por parte da Justiça. Igualdade perante a tributação: o princípio da igualdade tributária relaciona-se com a justiça distributiva em matéria fiscal; diz respeito à repartição do ônus fiscal do modo mais justo possível; fora disso a igualdade será puramente formal. Igualdade perante a lei penal: essa igualdade deve significar que a mesma lei penal e seus sistemas de sanções hão de se aplicar a todos quanto pratiquem o fato típico nela definido como crime; devido aos fatores econômicos, as condições reais de desigualdade condicionam o tratamento desigual perante a lei penal, apesar do princípio da isonomia assegurado a todos pela Constituição (art. 5º). Igualdade ―sem distinção de qualquer natureza‖: além da base geral em que assenta o princípio da igualdade perante a lei, consistente no tratamento igual a situações iguais e tratamento desigual a situações desiguais, é vedado distinções de qualquer natureza; as discriminações são proibidas expressamente no art. 3º, IV, onde diz que:... promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade, e quaisquer outras formas de discriminação; proíbe também, diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor, estado civil ou posse de deficiência (art. 7º, XXX e XXXI). O princípio da não discriminação e sua tutela penal: a Constituição traz 2 dispositivos que fundamentam e exigem normas penais rigorosas contra discriminações; diz-se num deles que a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais, e outro, mais específico porque destaca a forma mais comum de discriminação, estabelecendo que a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito a pena de reclusão, nos termos da lei. (art. 5º, XLI e XLII). Discriminações e inconstitucionalidade: são inconstitucionais as discriminaçõesnão autorizadas pela Constituição; há 2 formas de cometer essa inconstitucionalidade; uma consiste em outorgar benefício legítimo a pessoas ou grupos, discriminando-os favoravelmente em detrimento de outras pessoas ou grupos em igual situação; a outra forma revela-se em se impor obrigação, dever, ônus, sanção ou qualquer sacrifício a pessoas ou grupos de pessoas, discriminando-as em face de outros na mesma situação que, assim, permaneceram em condições mais favoráveis. DIREITO DE LIBERDADE O problema da Liberdade: a liberdade tem um caráter histórico, porque depende do poder do homem sobre a natureza, a sociedade, e sobre si mesmo em cada momento histórico; o conteúdo da liberdade se amplia com a evolução da humanidade; fortalece-se, à medida que a atividade humana se alarga. A liberdade opõe-se ao autoritarismo, à deformação da autoridade; não, porém, à autoridade legítima; o que é válido afirmar é que a liberdade consiste na ausência de coação anormal, ilegítima e imoral; daí se conclui que toda a lei que limita a liberdade precisa ser lei normal, moral e legítima, no sentido de que seja consentida por aqueles cuja liberdade restringe; como conceito podemos dizer que liberdade consiste na possibilidade de coordenação consciente dos meios necessários à realização da felicidade pessoal. O assinalado o aspecto histórico denota que a liberdade consiste num processo dinâmico de liberação do homem de vários obstáculos que se antepõem à realização de sua personalidade: obstáculos naturais, econômicos, sociais e políticos; é hoje função do Estado promover a liberação do homem de todos esses obstáculos, e é aqui que a autoridade e liberdade se ligam. O regime democrático é uma garantia geral da realização dos direitos humanos fundamentais; quanto mais o processo de democratização avança, mais o homem se vai libertando dos obstáculos que o constrangem, mais liberdade conquista. Liberdade e liberdades: liberdades, no plural, são formas de liberdade, que aqui, em função do Direito Constitucional positivo, distingue-se em cinco grupos: 1) Liberdade da pessoa física; 2) Liberdade de pensamento, com todas as suas liberdades; 3) Liberdade de expressão coletiva; 4) Liberdade de ação profissional; 5) Liberdade de conteúdo econômico. Cabe considerar aquela que constitui a liberdade-matriz, que é a liberdade de ação em geral, que decorre do art. 5º, II, segundo o qual ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. Liberdade da pessoa física: é a possibilidade jurídica que se reconhece a todas as pessoas de serem senhoras de sua própria vontade e de locomoverem-se desembaraçadamente dentro do território nacional; para nós as formas de expressão dessa liberdade se revelam apenas na liberdade de locomoção e na liberdade de circulação; mencionando também o problema da segurança, não como forma dessa liberdade em si, mas como forma de garantir a efetividade destas. Liberdade de pensamento: é o direito de exprimir, por qualquer forma, o que se pense em ciência, religião, arte, ou o que for; trata-se de liberdade de conteúdo intelectual e supõe contato com seus semelhantes; inclui as liberdades de opinião, de comunicação, de informação, religiosa, de expressão intelectual, artística e científica e direitos conexos, de expressão cultural e de transmissão e recepção do conhecimento. Liberdade de ação profissional: confere liberdade de escolha de trabalho, de ofício e de profissão, de acordo com as propensões de cada pessoa e na medida em que a sorte e o esforço próprio possam romper as barreiras que se antepõem à maioria do povo; a liberdade anunciada no acima (art. 5º, XIII), beneficia brasileiros e estrangeiros residentes, enquanto a acessibilidade à função pública sofre restrições de nacionalidade (arts. 12 § 3º, e 37, I e II); A Constituição ressalva, quanto à escolha e exercício de ofício ou profissão, que ela fica sujeita à observância das qualificações profissionais que a lei exigir, só podendo a lei federal definir as qualificações profissionais requeridas para o exercício das profissões. ( art. 22, XVI). DIREITOS COLETIVOS Direito à informação: o direito de informar, como aspecto da liberdade de manifestação de pensamento, revela-se um direito individual, mas já contaminado no sentido coletivo, em virtude das transformações dos meios de comunicação, que especialmente se concretiza pelos meios de comunicação social ou de massa; a CF acolhe essa distinção, no capítulo da comunicação (220 a 224), preordena a liberdade de informar completada com a liberdade de manifestação do pensamento (5º, IV). Direito de representação coletiva: estabelece que as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados em juízo ou fora dele (art. 5º, XXI), legitimidade essa também reconhecida aos sindicatos em termos até mais amplos e precisos, in verbis: ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas (art. 8, III). Direito de participação: distinguiremos 2 tipos; um é a participação direta dos cidadãos no processo político e decisório (arts. 14, I e II, e 61, § 2º); só se reputa coletivo porque só pode ser exercido por um número razoável de eleitores: uma coletividade, ainda que não organizada formalmente. Outro, é a participação orgânica, às vezes resvalando para uma forma de participação corporativa, é a participação prevista no art. 10 e a representação assegurada no art. 11, as quais aparecem entre os direitos sociais. Coletivo, de natureza comunitária não corporativa, é o direito de participação da comunidade (arts. 194, VII e 198, III). Direito dos consumidores: estabelece que o Estado proverá, na forma da lei, a defesa do consumidor (art. 5º, XXXII), conjugando isso com a consideração do art. 170, V, que eleva a defesa do consumidor à condição de princípio da ordem econômica. Liberdade de reunião: está prevista no art. 5º, XVI; a liberdade de reunião está plena e eficazmente assegurada, não mais se exige lei que determine os casos em que será necessária a comunicação prévia à autoridade, bem como a designação, por esta, do local de reunião; nem se autoriza mais a autoridade a intervir para manter a ordem, cabendo apenas um aviso à autoridade que terá o dever, de ofício, de garantir a realização da reunião. Liberdade de associação: é reconhecida e garantida pelos incisos XVII a XXI do art. 5º; há duas restrições expressas à liberdade de associar-se: veda-se associação que não seja para fins lícitos ou de caráter paramilitar; e é aí que se encontra a sindicabilidade que autoriza a dissolução por via judicial; no mais têm as associações o direito de existir, permanecer, desenvolver-se e expandir-se livremente. DIREITO DE PROPRIEDADE Direito de Propriedade em Geral Fundamento constitucional: O regime jurídico da propriedade tem seu fundamento na Constituição; esta garante o direito de propriedade, desde que este atenda sua função social (art. 5º, XXII), sendo assim, não há como escapar ao sentido que só garante o direito de propriedade que atenda sua função social; a própria Constituição dá consequência a isso quando autoriza a desapropriação, como pagamento mediante título, de propriedade que não cumpra sua função social (arts. 182, § 4º, e 184); existem outras normas que interferem com a propriedade mediante provisões especiais (arts. 5º, XXIV à XXX, 170, II e III, 176, 177 e 178, 182, 183, 184, 185, 186, 191 e 222). Propriedade epropriedades: a Constituição consagra a tese de que a propriedade não constitui uma instituição única, mas várias instituições diferenciadas, em correlação com os diversos tipos de bens e de titulares, de onde ser cabível falar não em propriedade, mas em propriedades; ela foi explícita e precisa; garante o direito de propriedade em geral (art. 5º, XXII), mas distingue claramente a propriedade urbana (182, § 2º) e a propriedade rural (arts. 5º, XXIV, e 184, 185 e 186), com seus regimes jurídicos próprios. Propriedade pública: a Constituição a reconhece: - ao incluir entre os bens da União aqueles enumerados no art. 20 e, entre os dos Estados, os indicados no art. 26; - ao autorizar desapropriação, que consiste na transferência compulsória de bens privados para o domínio público; - ao facultar a exploração direta de atividade econômica pelo Estado (art. 173) e o monopólio (art. 177), que importam apropriação pública de bens de produção. *ver também os arts. 65 a 68 do CC; e 20 XI, e 231 da CF. PROPRIEDADES ESPECIAIS Propriedade autoral: consta no art. 5º, XXVII, que contém 2 normas: a primeira confere aos autores o direito exclusivo de utilizar, publicar e reproduzir suas obras; a segunda declara que esse direito é transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar; o autor é, pois, titular dedireitos morais e de direitos patrimoniais sobre a obra intelectual que produzir; os direitos morais são inalienáveis e irrenunciáveis; mas, salvo os de natureza personalíssima, são transmissíveis por herança nos termos da lei; já os patrimoniais são alienáveis por ele ou por seus sucessores. Propriedade de inventos, de marcas e indústrias e de nome de empresas: seu enunciado e conteúdo denotam, quando a eficácia da norma fica dependendo de legislação ulterior: ―que a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como a proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País‖ (art. 5º, XXIX); a lei, hoje, é a de nº 9279/96, que substitui a Lei 5772/71. Propriedade-bem de família: segundo o inc. XXVI do art. 5º, a pequena propriedade rural, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento; possui o interesse de proteger um patrimônio necessário à manutenção e sobrevivência da família. Desapropriação: é a limitação que afeta o caráter perpétuo, porque é o meio pelo qual o Poder Público determina a transferência compulsória da propriedade particular especialmente para o seu patrimônio ou de seus delegados (arts. 5º XXIV, 182 e 184). O instituto da desapropriação encontra-se previsto na Constituição Federal, distribuídos em diversos artigos: O artigo 5º em seu inciso XXIV, por exemplo, trata desta questão: Artigo 5º,XXIV- a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta Constituição; Também o artigo, 182, §4º trata desta questão: Art. 182 - A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem-estar de seus habitantes. § 4º - É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Importa ainda, citar o artigo 184 da Constituição Federal que trata da desapropriação para fins de reforma agrária: Art. 184 - Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. E o artigo 243 da Constituição Federal que trata da questão do cultivo de culturas ilegais ou plantas psicotrópicas: Art. 243 - As glebas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas serão imediatamente expropriadas e especificamente destinadas ao assentamento de colonos, para o cultivo de produtos alimentícios e medicamentosos, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único - Todo e qualquer bem de valor econômico apreendido em decorrência do tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins será confiscado e reverterá em benefício de instituições e pessoal especializados no tratamento e recuperação de viciados e no aparelhamento e custeio de atividades de fiscalização, controle, prevenção e repressão do crime de tráfico dessas substâncias. LIMITES À RETROATIVIDADE DA LEI (ART. 5º, XXXVI): Como regra, conferindo estabilidade às relações jurídicas, o constituinte originário dispôs que a lei não prejudicará: • Direito adquirido: direito que o seu titular, ou alguém por ele, possa exercer, como aquele cujo começo do exercício tenha termo prefixo, ou condição preestabelecida inalterável, a árbitro de outrem; • Ato jurídico perfeito: Ato já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou; • Coisa julgada: decisão judicial de que não caiba mais recurso. ANALISE: 1-A propriedade poderá ser desapropriada por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mas sempre mediante justa e prévia indenização em dinheiro. 2-O entendimento do direito constitucional relativo à casa apresenta maior amplitude que o do direito privado, de modo que bares, restaurantes e escritórios, por exemplo, são locais assegurados pelo direito à inviolabilidade de domicílio. 3-O preceito constitucional que estabelece que ninguém é obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei veicula a noção genérica do princípio da legalidade. 4-O ordenamento constitucional veda o envio compulsório de brasileiros ao exterior, que caracterizaria a pena de banimento, assim como proíbe a retirada coativa de estrangeiros do território nacional, que caracterizaria a pena de expulsão. 5-A norma constitucional que estabelece que as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado, tem aplicação imediata. 6-As pessoas jurídicas também são beneficiárias dos direitos e das garantias individuais, desde que tais direitos sejam compatíveis com a sua natureza. 7-A Constituição da República consagra a inviolabilidade do domicílio no sentido restrito do local, onde o indivíduo estabelece residência com o ânimo definitivo. Não está sujeito à proteção constitucional o consultório profissional de um cirurgião-dentista, que prescinde de mandado judicial para efeito de ingresso de agentes públicos para efetuarem uma busca e apreensão
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