História da comunicação humana Introdução É impossível imaginarmos que atualmente exista alguém que nunca tenha assistido a um programa de televisão, lido um jornal ou revista, ouvido notícias ou músicas no rádio, ido ao cinema ou assistido a um vídeo, assim como é quase inimaginável uma pessoa que não tenha ouvido falar ou tenha usado computadores ou a Internet. Obviamente, como todos sabemos, existem milhares, senão milhões, de pessoas em várias partes do mundo que nunca tiveram acesso a esses meios de comunicação, mas, mesmo assim, para nós que vivemos em grandes e médios centros urbanos, é muito difícil conceber tal situação. Hoje em dia vivemos no que se convencionou chamar de sociedade midiática, ou seja, numa sociedade onde as relações sociais são mediatizadas, são mediadas, pela mídia, ou seja, pelo conjunto dos meios de comunicação, tais como jornal, rádio, televisão, Internet, cinema, outdoors, propagandas, etc.. Se vocês tiverem curiosidade e forem procurar no Dicionário Aurélio, irão descobrir que a palavra mídia vem do latim medium, que significa meio, centro, e é, normalmente, classificada em quatro grupos: - mídia alternativa – uma mídia de menor custo que se utiliza de veículos de recurso e de alcance restritos, como os painéis que encontramos em mobiliários urbanos, em cartazes no metrô e pontos de ônibus, em luminosos de táxis, em filipetas, etc.; - mídia digital – aquela baseada na tecnologia digital, como a Internet e a TV digital, e que utiliza a gravação digital de dados, como disquetes, CD-ROMs, fita DAT, etc.; - mídia eletrônica – mídia que inclui, especialmente, o rádio e a televisão, sendo que também podem ser incluídos nessa categoria o cinema e outros recursos audiovisuais; e, - mídia impressa – jornais, revistas, catálogos, folders, mala-direta, etc. No livro Uma história social da mídia: de Gutenberg à Internet, os historiadores Asa Briggs e Peter Burke, baseados no Oxford English Dictionary, nos informam que foi somente na década de 1920 que as pessoas começaram a falar de “mídia” e menções sobre uma “revolução da comunicação” só apareceram a partir dos anos 50. Para esses autores, entretanto, o interesse sobre os meios de comunicação é muito mais antigo, remontando à Grécia e à Roma antigas, com seus estudos sobre a retórica. Mas, se pensarmos na comunicação apenas como o ato de emitir, transmitir e receber mensagens vamos descobrir sua importância mesmo entre os mais primitivos animais, incluindo entre eles nossos remotíssimos ancestrais, os primatas superiores. O que estamos querendo dizer aqui, e que veremos a seguir, é que a comunicação precede o uso da palavra articulada ou escrita como meio de expressão e de diálogo entre as pessoas, ou seja, o ato da comunicação antecede, de muito, a linguagem. Os teóricos da comunicação Melvin L. DeFleur e Sandra Ball-Rokeach defendem que a história da existência humana deve ser explicada em função das etapas distintas no desenvolvimento da comunicação humana: a era dos símbolos e sinais, a era da fala e da linguagem, a era da escrita, a era da impressão e a era da comunicação de massa. Lucia Santaella, atualmente pesquisadora em mídias digitais, acrescenta entre essas eras, que ela prefere chamar de formações culturais, a cultura das mídias e a cultura digital. Lembrem-se de que quando falamos em eras, em divisões temporais, não estamos dizendo que esses são períodos lineares, onde uma era desaparece para dar lugar a seguinte. Como enfatiza Santaella, e todos os teóricos que trabalham com datação cultural, há sempre um processo cumulativo de complexificação, onde uma forma de comunicação vai se integrando na anterior, provocando nela reajustamentos e refuncionalizações. Isso quer dizer que, ao contrário do que pregam os apocalípticos, uma nova tecnologia não determina a morte da que a antecedeu, ela faz com que esta se aperfeiçoe. Dessa forma, a fotografia não matou a pintura, assim como o cinema não matou o teatro ou a televisão e a Internet não mataram o livro ou a mídia impressa. Neste curso iremos fazer uma viagem através da história da comunicação humana, desde os seus primórdios até o surgimento do ciberespaço, para que possamos compreender nossa evolução como espécie, para que possamos encarar de forma consciente e participar ativamente dessa sociedade da informação onde vivemos cada vez mais, como diz o sociólogo catalão Manuel Castells, entre a rede e o ser. Embora respeitemos a periodização defendida pelos autores anteriormente citados, nossa jornada começará um pouco antes da era dos símbolos e sinais, afinal, como todos sabem, no princípio não era o verbo. 1.1 No princípio eram somente sons.... E também o gesto, as expressões faciais e corporais, o olhar, o cheiro, o tato. No alvorecer da espécie humana não havia a linguagem, nem a falada e tampouco a escrita. Nossos mais remotos ancestrais, conhecidos como primatas (SAIBA MAIS - Animais mamíferos que, em sua maioria, costumam viver principalmente em árvores, mas possuem hábitos terrestres também. Algumas de suas principais características são os membros muitos desenvolvidos, a existência de duas tetas na região peitoral, cinco dedos, com unhas achatadas e com os polegares geralmente opostos, e a visão e a audição bem desenvolvidas. Seu olfato é menos desenvolvido do que em outras espécies. Entre os primatas estão os micos, macacos, gorilas, chimpanzés, orangotangos, lêmures e babuínos, conhecidos como símios, e os seres humanos e outros humanóides), comunicavam-se entre si por meio de gritos, urros, grunhidos, rosnados, uivos, expressões corporais e faciais que mostravam a necessidade de comer, de acasalar, de brincar, a dor, o imperativo de lutar ou alertas de perigo. Difícil de acreditar, não é? Mas, para que possamos entender melhor, façamos um pequeno exercício de imaginação. Vamos fantasiar que estamos vivendo, por exemplo, em alguma região do continente africano há mais ou menos cinco ou quatro milhões de anos. Naquela ocasião, segundo a paleantropologia (SAIBA MAIS – ciência que estuda as espécies ancestrais da humanidade, a família dos hominídeos, a partir das evidências fósseis.), ainda não éramos classificados como humanos e sim como membros de uma das 180 espécies da ordem dos primatas que, na realidade, surgiu há, pelo menos, 70 milhões de anos, quando os grandes répteis foram extintos. Esses primatas eram divididos em primatas inferiores, conhecidos como prossímios, que significa “quase macacos”, e os primatas superiores, denominados símios, onde se incluem, por exemplo, os macacos, os gorilas e os hominídeos. Muito bem, se, em nossa fantasia, há quatro milhões de anos, somos da mesma espécie do macaco e do gorila, não é natural que nos comuniquemos como eles? Pois era assim que acontecia, pelo menos na opinião dos estudiosos no assunto. Mas, mesmo dentre os primatas superiores, algumas espécies foram evoluindo mais do que outras, dando origem, primeiro, aos antropóides, ou pré- hominídeos, e, depois, aos hominídeos, criaturas que já possuíam a forma semelhante à do homem moderno. (SAIBA MAIS/ATIVIDADE – Além dos especialistas acadêmicos, escritores e cineastas tentaram reproduzir esse período tão distante de nós. Dentre eles, merece destaque o filme 2001: Uma odisséia no espaço, do diretor americano Stanley Kubrick, baseado no livro do mesmo nome, do escritor inglês Arthur C. Clarke, que escreveu o roteiro em parceria com Kubrick. Na primeira parte do filme, que foi lançado em 1968, podemos assistir de que maneira a espécie humana foi evoluindo tecnologicamente, a partir do surgimento