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Leôncio Basbaum - História Sincera da República - De 1889-1930

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Leôncio Basbaum
História Sincera da República
De 1889 a 1930
A Heitor Ferreira Lima
ÍNDICE
Prefácio
PRIMEIRA PARTE
A REPÚBLICA DA ESPADA
I. Deodoro
II. Floriano
III. A Tempestade de Papel
IV. O Café e a Espada
SEGUNDA PARTE
O REINO DO CAFÉ
I. Panorama da 2.ª República
II. As Transformações Econômicas
A) A Terra
B) A Lavoura
C) O Café
III. O Desenvolvimento do Capitalismo
A) As Linhas Gerais do Desenvolvimento Capitalista no Brasil 
B) O Desenvolvimento Industrial
C) Os Bancos
IV. O Progresso Material
A) Transportes
B) Comércio Externo e Câmbio
C) Finanças Internas
D) Urbanismo e Saneamento
E) A Importância do Estado de São Paulo
V. O Imperialismo Inglês
A) Surge o Imperialismo
B) A Penetração Imperialista no Brasil
VI. O Povo e a Evolução das Relações de Classe
A) População, Emigração e Imigração
B) Os Senhores de Terras
C) Sub-Classes Rurais
D) Condições de Vida
VII. O Povo e a Evolução das Relações de Classe (Cont.)
A) As Classes Urbanas
B) As Classes Médias
C) O Proletariado
D) O Negro
VIII. As Transformações Políticas
A) A Constituição Republicana
B) Partidos e Lutas Políticas
C) A Máquina Eleitoral 
IX. A Evolução Cultural
A) O Ensino
B) Ciência e Filosofia
C) Arte e Literatura
X. O Partido Comunista
A) O Custo da Vida e a Situação do Proletariado
B) Lutas e Organizações Operárias
C) A Fundação do P.C.B.
D) A Influência Política do P.C.B. 
XI. As Agitações Revolucionárias
A) De Canudos a Copacabana
B) 1924
C) A Coluna Prestes
TERCEIRA PARTE
O IMPÉRIO DO DÓLAR
I. A Invasão Americana 
II. A Crise de 1929-1930
III. A Luta pelo Poder
IV. Prestes e a sua Coluna
V. 1930
VI. Resumo e Conclusões
APÊNDICE
Testemunho inédito de Quintino Bocaiúva sobre fatos ocorridos na madrugada de 15 de novembro 
de 1889
Artigo de "A Classe Operária" n.º 96 de agosto de 1930
Otávio Brandão e Luís Carlos Prestes
Bibliografia
 PREFÁCIO
Este livro é continuação de um anterior, com o mesmo título, abrangendo o período da História do 
Brasil que vai de suas origens às vésperas da proclamação da República.
O método seguido neste volume é idêntico ao antecedente: o materialismo histórico, ou seja, a 
interpretação materialista dialética da História, que nos foi legada, há cem anos, por Marx e Engels.
Seguindo a essência desse método, para não alongar inutilmente o livro, alguns fatos históricos 
menos importantes — por sua pouca ou nenhuma influência no desenvolvimento histórico do país, 
e que podem ser encontrados em qualquer livro de História — foram desprezados. Em 
compensação, deu-se particular relevo ao povo, considerado como o fator máximo e ao mesmo 
tempo o objetivo último da História, estudando o seu modo de vida, isto é, as condições materiais 
de sua existência econômica, política e social.
Igual atenção foi dada à infra-estrutura do país, isto é, à base em que se assenta, que determina e 
condiciona o desenvolvimento do Brasil como Nação, a fim de descobrir as origens dos fatos 
históricos estudados e compreender a perspectiva do seu desenvolvimento.
E, do mesmo modo que no estudo precedente, veremos como, em conseqüência das características 
dessa infra-estrutura, nascem, evoluem e entram em choque as diferentes classes e camadas sociais 
que dela se originam.
Conforme fizemos constar na Introdução do volume anterior, nossos objetivos são realmente 
ambiciosos: temos intenção de prosseguir no estudo da História da República até aos nossos dias. 
Entretanto, a História caminha mais rapidamente do que o desejam os historiadores. No Brasil, 
como de resto em quase todo o mundo, particularmente nos países secularmente explorados e 
subjugados por nações mais fortes, como o nosso, começam a soprar, com violência, impetuosos 
ventos nacionalistas, como se o povo tivesse subitamente despertado de um sono de longos anos, 
adquirindo consciência de si mesmo e da sua força, lutando por impor a sua existência e readquirir a 
sua independência.
Mas nenhum povo é digno da sua liberdade se não lutou por ela. Todos os homens e mulheres deste 
país serão, sem dúvida alguma, mobilizados nessa luta que se aproxima, uma luta que não admite 
neutralidade nem tréguas. Cada um terá, a sua tarefa.
E é sempre mais interessante fazer a História do que escrever sobre ela.
Rio — Setembro — 1957
 PRIMEIRA PARTE
A REPÚBLICA DA ESPADA
CAPÍTULO I
DEODORO
A primeira República, isto é, o curto período que vai da proclamação até a posse de Prudente de 
Morais, em 1894, é um dos períodos mais difíceis e intricados da nossa História. E não apenas para 
o país. É igualmente difícil e intricado para o próprio historiador.
São cinco anos de agitação permanente, em que os fatos se sucedem, pelo menos aparentemente, 
completamente isolados uns dos outros e para os quais a simples seqüência natural da causa e efeito 
parece não existir.
A inconseqüência, a falta de lógica, nessa verdadeira comédia de absurdos começa com a própria 
proclamação.
O primeiro desses absurdos: existe um Partido Republicano, mas não é este quem proclama a 
República. Quem o faz é o exército que, em seu conjunto, não é republicano. E esse é o segundo 
dos absurdos.
Mas isso é apenas o começo. Quem assume a responsabilidade do golpe militar que derruba o 
Império? Um distinto oficial do exército — o mais graduado — e que em toda a sua vida fora 
monarquista e amigo do Imperador. Com efeito, pelo que se sabe, o Marechal Deodoro, sentindo-se 
ferido nos seus brios e na sua honra e, portanto, atingidos os brios e a honra de todo o exército, cede 
à pressão de alguns de seus camaradas mais exaltados e põe "a procissão na rua".
Todavia, uma semana antes, nem sequer lhe passava pela mente essa possibilidade. Um ano atrás, 
escrevendo a seu sobrinho Clodoaldo, oficial do exército, afirmava que a República seria "uma 
desgraça para o Brasil". E ainda: "O único sustentáculo do nosso Brasil é a monarquia; se mal com 
ela, pior sem ela". Em palestra com Benjamin Constant, durante os poucos dias que antecederam o 
15 de Novembro, na qual ele tentava arrastá-lo para a direção do movimento, sua preocupação 
máxima era o destino do Imperador, o temor de lhe estar sendo ingrato: "Que será do velho?" 
perguntava angustiado.
Em plena conspiração, quem é convidado a participar do movimento e a ser o futuro Ministro da 
Fazenda do Governo Provisório? O Sr. Rui Barbosa, que não era sequer republicano e menos ainda 
financista.
Quem é no governo constitucional de Deodoro o seu braço direito, com funções de primeiro 
Ministro? O Barão de Lucena, homem do Império recém-derrubado e que nunca ocultara suas 
simpatias monarquistas e saudosistas.
Deodoro, o novo republicano, desgostoso com a atitude do Congresso, que considerava de 
desrespeito à sua pessoa, esquecendo que a palavra república era sempre associada à palavra demo-
cracia, resolve simplesmente dissolvê-lo, sem mesmo ouvir os seus ministros, numa demonstração 
positiva de espírito caudilhesco e ditatorial e de absoluto desprezo pelas ilusões democráticas dos 
republicanos.
Todavia, vinte dias depois, renuncia ao poder diante da revolta de um simples almirante atrás dos 
canhões de um único navio, quando o seu sucessor, Floriano, resistirá a quinze! A própria revolta da 
armada nos surge como um episódio ilógico e inconseqüente, digno por isso mesmo de figurar 
nessa comédia de absurdos. Durante seis meses a esquadra revoltada se mantém praticamente 
imóvel na Baía de Guanabara, com seus canhões voltados para a cidade, atulhados de munição e 
não obstante completamente mudos, sem saber o que fazer, enquanto o governo, tranqüilamente, 
encomenda navios de guerra no estrangeiro.
Abandonando a luta na Guanabara, já agora insustentável e sobretudo inútil, alguns dos navios 
rebeldes atravessam a barra e vão combater — o quê? — no sul do País. E vemos então um 
almirante abandonar o seu navio para, à frente dos seus marinheiros, combater em terra firme e 
morrer, por fim, estupidamente degolado em mãos de paisanos, os facínoras de João Francisco, que 
também não sabiam porque nem contra que lutavam. Queriam apenasdegolar, qualquer que fosse a 
cor do pescoço.
Por fim, o último ato dessa comédia de absurdos é simplesmente melancólico. O presidente eleito, 
Prudente de Morais, ao assumir o governo, em 15 de novembro de 1894, entra num palácio 
literalmente vazio. O antigo presidente nem se dá ao trabalho de estar presente para lhe transmitir o 
cargo. No dia da posse, Floriano deixa-se ficar em sua casinha de subúrbio, regando o seu jardim.
Nenhum funcionário para dar as boas-vindas ao novo presidente, nem sequer um contínuo para lhe 
tomar o chapéu.
É a separação completa e estanque, historicamente assinalada por um vácuo, entre a primeira e a 
segunda repúblicas. 
Mas ainda não foi dito tudo. Os entreatos dessa comédia trágica estão cheios de outros absurdos e 
atos inconseqüentes. 
A deposição dos presidentes legais nas províncias, às primeiras notícias vindas da Corte sobre a 
queda do Trono, e o auto-empossamento dos primeiros que conseguiram entrar nas respectivas 
sedes do governo; o apoio telegráfico dos governadores e presidentes legalmente eleitos, dos 
Estados, ao ato de Deodoro dissolvendo o Congresso; o novo apoio, agora ao novo Presidente, ao 
ser o mesmo reconvocado por Floriano. E, a seguir, novas deposições e novos empossamentos. O 
Rio Grande do Sul bate todos os records com 19 presidentes em 3 anos! Há ainda a orgia do papel 
pintado, o dinheiro impresso a granel, como novo processo de enriquecimento rápido, descoberto no 
Brasil. É o encilhamento, a enxurrada de empresas fantásticas para cuja fundação a única 
dificuldade era inventar um nome que ainda não houvesse sido utilizado.
Por fim, o rápido adesismo, os antigos monarquistas se transformando da noite para o dia em 
republicanos históricos, ocupando os postos-chaves da administração, enquanto os verdadeiros 
republicanos, os idealistas, iam abandonando a luta, convencidos de que não era aquela a república 
dos seus sonhos. Mas é sabido que em História, os fatos não acontecem por acaso. Deve por força 
existir uma lógica, um elo invisível a ligar esses fatos. Esse elo, essa causa, possam talvez permitir-
nos encaixar as peças desse complicado puzzle nos devidos lugares e dar-nos por fim uma 
compreensão desse tortuoso e torturado período.
Procuremos, pois, concatenar esses fatos.
Lembremo-nos de que às vésperas do 15 de Novembro a idéia republicana não passava ainda de 
uma idéia. O Imperador, com seus defeitos e suas qualidades, governava o país patriarcalmente, mal 
tomando conhecimento da agitação republicana que nem chegava a ser agitação, confinada que 
estava a dois ou três jornais no Rio e outros tantos em São Paulo. Os Partidos Republicanos no Rio 
e em São Paulo, os Clubes Republicanos nas províncias, esfalfavam-se numa campanha de combate 
e desmoralização do Trono. Mas o povo, a massa heterogênea e pouco consistente das ruas, em sua 
grande maioria, permanecia alheia e indiferente, preocupada com seus pequeninos problemas 
diários.
Vimos, no volume anterior que, excetuando os grandes fazendeiros de café do Estado do Rio, Minas 
e principalmente São Paulo, somente alguns setores mais ou menos ilustrados da pequena burguesia 
urbana, sobretudo nas profissões liberais, advogados, médicos, engenheiros, jornalistas, é que 
realmente aspiravam à República e acreditavam que ela pudesse resolver os problemas brasileiros.
Em vinte e oito anos de propaganda, absolutamente livre, os republicanos não haviam conseguido 
impressionar a opinião pública.
Aliás, essa opinião pública era algo muito tênue e praticamente não existia. O Rio, principal centro 
político do país, com seus 500 mil habitantes, suas ruas tortas e mal calçadas, cheirava ainda à 
escravidão. Era uma população apática e apolítica, numa cidade provinciana. Somente a luta pela 
abolição havia conseguido mobilizá-la, durante uns dois ou três anos. Conquistada a abolição, 
voltara ao primitivo marasmo.
Os jornais tinham reduzida circulação e suas diatribes e invectivas contra o Trono eram lidas apenas 
com o espírito de sacudir um pouco as teias cerebrais.
A questão militar havia atingido um clima agudo, mas na verdade só preocupava mesmo os 
militares.
Por isso mesmo a República foi uma surpresa para todos, inclusive os militares.
Mas foi essa questão restrita a uma pequena parte da população da cidade, que precipitou os 
acontecimentos, conduzindo-os muito além dos objetivos prefixados, porque se chocaram com um 
organismo doente, incapaz de resistir ao menor impacto. O espírito de prevenção contra o governo, 
originado da questão militar, chegara ao auge com a transferência do 22.° B. I. para o Amazonas, o 
que era considerado como represália contra o exército, onde alguns oficiais teimavam em assumir 
uma atitude de desafio às autoridades civis. O exército sentiu-se ofendido nos seus brios e na sua 
honra. "Isso não podia ficar assim", era a opinião que se generalizava em seu seio. As reuniões do 
Clube Militar nos dias 8 e ,9 de novembro, agitadíssimas, deram mesmo causa a vários pactos de 
sangue, para desagravar o exército.
Daí à possibilidade de se chegar à derrubada do Trono, era um pequeno passo.
A conspiração que pôs abaixo o Império não foi uma trama hábil e cuidadosamente preparada como 
se supõe costumam ser as conspirações. Tudo não passou de conversações meio secretas entre meia 
dúzia de pessoas que até a véspera do golpe não sabiam ainda se iriam até à proclamação da 
República. E tudo foi resolvido praticamente em cinco dias. Nesses cinco dias duas pessoas tiveram 
papel destacado: Benjamin Constant, meio positivista e meio republicano, levantando o espírito de 
revolta contra o governo nas duas agitadas reuniões do Clube Militar dos dias 8 e 9 de novembro, 
sem entretanto falar em República, e procurando conquistar para "a causa" o velho Marechal 
Deodoro; e o Coronel Solon que, para despertar o povo apático e interessá-lo no levante em 
perspectiva, espalhou no dia 14, véspera do movimento, o boato da prisão do Marechal e de alguns 
outros oficiais. Somente no dia 11, Benjamin Constant convida quatro civis para participarem das 
conversas conspirativas: Rui Barbosa, deputado e jornalista de primeira plana, orador 
impressionante que, embora atacando rudemente o governo, jamais havia manifestado opiniões 
republicanas; Aristides Lobo e Quintino Bocaiúva, os dois mais proeminentes líderes republicanos 
do Rio, e Glicério, um dos dirigentes mais hábeis do Partido Republicano Paulista.
Rui inicia então uma nova campanha no Diário de Notícias em favor das Forças Armadas, acusando 
o governo de haver posto o exército "fora da lei". Criava ambiente para o drama em perspectiva.
E chegamos assim ao dia fatal. Ou melhor, à noite fatal. Reunidos os principais conspiradores, às 
duas da madrugada no dia 15 ainda não haviam chegado a uma solução. Chegam as notícias de que 
uma parte das tropas, cerca de 2 mil homens, sob as ordens de alguns oficiais mais exaltados, saíra à 
rua. Deodoro, prostrado no leito por um forte ataque de asma, sentindo inflamar-se pela agitação de 
seus amigos e camaradas, temendo decepcioná-los, ergue-se custosamente, vai ao encontro da tropa 
e põe-se à frente dela. Seu objetivo: vingar, desafrontar o exército.
Tem em mãos uma lista que pretende levar ao Imperador, com o nome dos novos ministros.
Mas o Visconde de Ouro Preto, chefe do Gabinete Ministerial, sentindo-se desautorado, impotente 
diante da insubordinação, sem um simples guarda para sua defesa pessoal, considera-se demitido. 
Encontrando-se o Imperador em Petrópolis, o governo está acéfalo.
E os insubordinados surpreendem-se, de repente, donos do poder!
À tarde reúnem-se os conspiradores e lançam uma proclamação em que se declara estabelecida a 
República no país. Mas a essa hora, fora do pequeno grupo conspirativo e militar, ninguém sabia 
ainda que o Imperador havia sido deposto. 
Conta Afonso Celso (em 8 anos de Parlamento) que no mesmo momento em que se lançava a 
proclamação, dirigia-se tranqüilamente, de bonde, para a Sessão habitual da Câmara dos Deputados, 
perguntandoa si mesmo o que queriam as tropas na rua.
José do Patrocínio, num comício improvisado à frente do seu jornal, propõe uma moção em que se 
pede "às patrióticas classes militares sancionem a iniciativa popular fazendo decretar a nova forma 
republicana".
Aristides Lobo, na célebre carta ao Diário Popular de São Paulo, datada de 18 novembro, confessa 
que "a colaboração civil foi quase nula" e que "o povo assistiu àquilo bestializado, sem saber o que 
significava, julgando tratar-se de uma parada". Era pois um movimento completamente alheio ao 
povo, foi típica e exclusivamente um levante militar. A população de nada sabia.
O próprio Quintino, na manhã do dia 15 não sabia ainda se o exército chegaria a proclamar a 
República e aconselhava aos amigos republicanos evitar provocações que poderiam ter resultados 
contraproducentes.
No mesmo dia constitui-se o Governo Provisório com Deodoro como Chefe do Governo.
O Decreto de instituição do novo regime dissolve as Câmaras, destitui os governos provinciais, o 
Conselho de Estado, conservando todavia os quadros administrativos e a justiça. Em dezembro são 
convocadas as eleições para 15 de setembro do ano seguinte e a posse para 15 de novembro. E é 
quando se iniciam também as penas do Marechal Deodoro. Jamais enfrentou um governo um 
Parlamento tão hostil. E essa hostilidade, em face de uma personalidade forte e ao mesmo tempo 
complexa como a do marechal, deveria causar a sua ruína, a dissolução do Congresso e a sua 
renúncia.
Não é muito freqüente na História que personalidades se sobreponham à força dos acontecimentos e 
que, mercê dos seus defeitos ou suas qualidades, acabem torcendo os fatos desencadeados. Pois no 
Brasil desse agitado período aconteceram logo dois de uma vez: Deodoro e Floriano são de fato 
duas figuras invulgares e, com seus defeitos e qualidades, acabaram subvertendo o caminho natural 
da História brasileira, durante o curto período em que nela permaneceram, como personagens 
ativas. Pelo seu passado era Deodoro um digno militar, muitas vezes condecorado na guerra do 
Paraguai, gozando de grande prestígio, mesmo fora do exército. De uma família de militares, ele 
era, antes de tudo, militar, por educação e por vocação. E, como todos os militares da época, nada 
queria com a política, nada entendia dela e desprezava os políticos, os "casacas". Amigo pessoal do 
Imperador, olhando a República com desconfiança, era ele o homem menos indicado para a 
mudança do regime institucional e político do país.
E, não obstante, uniu-se a alguns políticos civis para destronar o Imperador e implantar a República.
Como militar, ao tornar-se político, chegara a Chefe do Governo Provisório e a Presidente 
Constitucional da República. Mas como político, quis conservar o seu espírito militar, cujas ordens 
não podem ser discutidas. E perdeu o posto. O mal todavia não provinha apenas da sua inabilidade 
política, como militar, mas sim do fato de haver tido de enfrentar, primeiro, críticas da imprensa, a 
que não estava acostumado; depois, ministros que ousavam discutir os seus atos e mesmo opor-se a 
eles; e, pior que tudo, um Parlamento hostil que, julgando-se soberano, desejava colocar-se acima, 
ou pelo menos, em condições de igualdade com ele, Poder Executivo. Como conseqüência, jornais 
são violentamente censurados com o célebre decreto rolha de 23 de dezembro de 1889; os ministros 
pedem demissão, a 21 de janeiro de 1891 e o Congresso é dissolvido a 20 de novembro do mesmo 
ano. Esses atos só podem ser compreendidos levando-se em conta a personalidade do seu autor. 
Nada tinha Deodoro de narcisismo ou de ambição de poder como quer um autor. Antes, deveria ver-
se, nos seus atos, um espírito militar profundamente arraigado que exige o respeito à hierarquia e à 
disciplina mesmo na vida civil.
Democracia é uma palavra nova na nossa História. Hoje, de tanto ser usada em discursos, já perdeu 
o seu primitivo e virginal significado. Mas naquele tempo ela possuía ainda os encantos misteriosos 
das coisas sonhadas e desconhecidas. Inclusive, constava do Manifesto Republicano. Para Deodoro, 
entretanto, como depois para Floriano, era uma palavra estranha de significado confuso, alheia à 
compreensão e ao espírito militar. Ninguém poderá acusar Deodoro de haver pretendido, em qual-
quer momento, tirar proveitos pessoais do poder. Mas é certo que achava natural pudesse premiar 
alguns amigos, distribuindo cargos e vantagens como um vovô que distribui bombons aos netinhos. 
E isso provocava, como era de supor, choques com os seus ministros. No dizer do Marechal Ilha 
Moreira, estes "se julgavam os únicos competentes para fazer favores aos seus amigos, estranhando 
que o Chefe do Governo, uma vez ou outra se lembrasse de exercer o mesmo direito".
Essas pequeninas e ridículas questões de distribuição de empregos e favores, não eram novidades. 
Já vinham da monarquia, e seguiram adiante, através da História, até aos nossos dias, crescendo 
sempre, como era natural. Mas não tiveram realmente nenhuma importância nos destinos de 
Deodoro — e da nossa História.
Importante realmente, e decisiva, foi a posição do Congresso em relação ao Marechal, em virtude 
do seu conteúdo de classe. A Assembléia Constituinte, eleita em 15 de setembro de 1890, como diz 
Rocha Pombo, "não era propriamente o que se pudesse chamar a flor da intelectualidade nacional 
naquele momento".
Também não se caracterizava por ser — apesar da intervenção direta do governo nas eleições — 
uma Assembléia politicamente homogênea, pois que, ao lado de alguns republicanos históricos, de 
outros de "16 de novembro", havia muitos monarquistas, inclusive o próprio Saraiva que viera 
Senador pela Bahia, mercê do seu grande prestígio e qualidades pessoais. É digno de notar-se que 
Silva Jardim, o mais ardoroso e radical dos republicanos, não conseguira eleger-se. O povo que o 
aplaudia nas ruas, durante os anos da propaganda, não se sentia suficientemente entusiasmado para 
acorrer às urnas. Na verdade, só as classes médias votaram, nas cidades. Entre os membros da 
Constituinte, nada menos de 38 vinham da monarquia, 128 eram bacharéis, muitos dos quais 
representantes dos senhores de terras, 55 eram militares.
A Constituinte representava, antes de tudo, as fortes correntes em que se dividiam os Republicanos 
nos anos da propaganda: de um lado os idealistas ou românticos, representando setores das classes 
médias, entre as quais agora, uma vez que havia um militar na Chefia do Governo, podiam incluir-
se os militares — em suma, a pequena burguesia urbana, mais ou menos letrada e imbuída das 
idéias francesas de liberdade, igualdade e fraternidade. E de outro, o grupo objetivista, realista, 
representando as classes possuidoras, os donos das terras, os fazendeiros de café, que se expressava, 
política e economicamente, no "coronelismo".
Deodoro representava essa pequena burguesia urbana, de que o exército era parte, e só podia apoiar-
se nela. Mas em nenhum país, nem mesmo no Brasil, onde se diz que tudo pode acontecer, e em 
nenhuma época histórica, pôde a pequena burguesia, classe flutuante de mil camadas heterogêneas e 
antagônicas, ser dona do poder por muito tempo. O Estado é sempre a expressão de uma classe mais 
ou menos homogênea apoiada em sólidas bases econômicas: a posse dos meios de produção. E estes 
se achavam em mãos do grupo que não estava no poder. O governo republicano deveria pertencer, 
como seria lógico, aos donos das terras e dos meios de produção, isto é, aos republicanos 
objetivistas e realistas, os fazendeiros de café de São Paulo. Entretanto, por causas fortuitas, uma 
complicação militar de interesse secundário, caiu o poder em mãos do exército. Tal governo, apesar 
do efêmero apoio de uma parte das classes médias, somente poderia manter-se no poder pela força 
das armas. Esse antagonismo imediato entre a maioria da Constituinte e o governo do Marechal 
Deodoro, só podia ser liquidado pela destruição de um ou de outro.
"Todo o mal que a República está experimentando, queixa-seLucena em carta a Cesário Alvim, 
provinha principalmente dos Senhores Glicério e Prudente". Glicério e Prudente eram os dois mais 
destacados líderes dos republicanos paulistas. Para que Deodoro fosse eleito — foi necessária a 
ameaça clara — e às vezes por cartas anônimas aos Constituintes — de reação pelas armas, a 
"procissão na rua" como se dizia então. As forças navais não ficaram atrás nas ameaças indiretas. 
"À marinha muito agradaria que Deodoro fosse eleito", insinuava Custódio aos parlamentares.
"O Ditador será Presidente por bem ou por mal", escrevia um general a Campos Sales.
"Já eles próprios (os oficiais do exército), conta Campos Sales, deixavam transparecer que a melhor 
hipótese, a que menos desgraças acarretaria, seria a eleição de Deodoro". Ainda assim teve 
Prudente, o candidato dos fazendeiros, 97 votos contra 129 dados ao Marechal Deodoro. Deodoro 
não podia governar com um Parlamento que só o elegera sob ameaça de intervenção armada. E 
dissolveu-o. 
Mas Lucena acusa, em carta a Cesário Alvim: "A dissolução é obra de Prudente".
A História apresenta por vezes aspectos curiosos e surpreendentes. E, nesse particular, a do nosso 
país é riquíssima. Vimos já quantos fatos aparentemente absurdos se acumularam nessa primeira 
República, e não vamos repeti-los. Ao estudar a queda do Império, em nosso volume anterior, 
frisamos que a sua derrocada não se deveu propriamente ao golpe militar de 15 de novembro, mas 
sim ao fato de que, em virtude de muitos fatores, alguns recentes, outros remotos, o regime se 
encontrava sem apoio em nenhuma das classes sociais em que se dividia a população, a não ser 
talvez alguns poucos antigos e decadentes barões do açúcar. Deodoro não fez mais do que dar um 
empurrão no velho regime, que desabou como se estivesse inteiramente corroído pelo cupim. O 
mesmo iria acontecer ao Marechal.
A sua disputa com o primeiro ministério, no Governo Provisório, o ministério da revolução 
republicana, em torno de questões realmente de somenos, redundara na demissão coletiva do 
mesmo.
Dele faziam parte, além de Rui Barbosa, figura de grande prestígio nacional, principalmente por sua 
decisiva participação na campanha abolicionista, alguns nomes de republicanos históricos dos mais 
eminentes: Aristides Lobo, como Ministro do Interior, Benjamin Constant como Ministro da 
Guerra, Quintino Bocaiúva, no Ministério do Exterior, Demétrio Ribeiro — líder positivista e 
republicano do Rio Grande do Sul, na Agricultura e, por fim, Campos Sales, como representante 
dos republicanos paulistas, na pasta da Justiça. Se excetuarmos este último, cuja presença somente 
se justificava porque os republicanos paulistas não podiam ficar, como era óbvio, fora do governo, 
todos os demais, inclusive o próprio Chefe do Governo, pertenciam a essa elite intelectualizada e 
culta das classes médias que o golpe de Deodoro havia colocado no poder. Esse ministério era sem 
nenhuma dúvida o retrato fiel das novas classes que haviam ascendido ao poder, as classes médias.
Na História, porém, nem sempre os homens têm consciência do papel que desempenham e 
raramente tomam conhecimento das forças ocultas que impulsionam os seus atos. Deodoro, Chefe 
do Governo da República, embora sangue e espírito das classes médias, continuou a agir e pensar 
dentro da tradição monárquica, na qual cresceu e se formou. Aceitando os pedidos de demissão dos 
seus ministros, age, como o Imperador, dentro da tradição monárquica. Convidando o Barão de 
Lucena, homem do Norte, ainda a tradição monárquica — para formar um novo ministério, confere-
lhe praticamente as funções de primeiro Ministro, — sempre a tradição monárquica!
Lucena, amigo pessoal de Deodoro, sempre fora monarquista. Desgostoso, por questões pessoais, 
com o governo liberal pré-republicano, achava-se predisposto a aceitar a República, mesmo sem ser 
republicano. Homem realmente capaz, sob certos aspectos ilustrado e de bom-senso, como o 
provam as cartas que escreveu a Cesário Alvim, estava longe, todavia, de ser o homem do 
momento, o qual exigia, antes de tudo, um republicano de prestígio que inspirasse confiança ao 
povo e ao Congresso. Mas essa era a República dos absurdos.
Chamando Lucena para lhe formar o Ministério, perdeu Deodoro a base em que se poderia apoiar 
para continuar no poder: a simpatia dos republicanos históricos. E Lucena, convidando para 
ministros amigos particulares, homens inteiramente desconhecidos do público, sem nenhum 
passado republicano e alguns mesmo monarquistas, agravou esta situação.
Combatido de um lado pelos monarquistas, de outro pelos republicanos paulistas, de um terceiro 
lado pelos republicanos históricos desconfiados de suas atitudes aparentemente monarquistas e, de 
todos os lados pela imprensa, seu poder somente se assentava em alguns elementos civis isolados e 
em pequenos grupos militares.
Mesmo entre os militares esse apoio era restrito. Ao terem conhecimento da dissolução do 
Congresso, oficiais sediados em Porto Alegre, do 30.°, 13.° e 29.º B. I., enviaram ao Governo Fe-
deral um telegrama de protesto em que "juram empenhar sua palavra de honra em opor resistência 
ao Governo Federal".
Um governo nessas condições não poderia agüentar-se no poder. Dissolvendo o Congresso hostil — 
ainda e sempre a tradição monárquica — durante vinte dias tentou equilibrar-se, com uma 
proclamação patética dirigida ao povo, justificando o seu ato. Mas foi recebida friamente. Era tarde.
Para os republicanos que sonhavam com uma democracia limpa e pura, esse gesto marcou o fim da 
sua breve carreira política. A Ditadura seria para eles uma mancha na curta vida do novo regime.
Quando Custódio, no dia 23 de novembro se põe a manobrar os canhões do encouraçado Riachuelo, 
Deodoro encontra-se só. Tenta ainda articular uma resistência mas compreende que é inútil. A 
política é uma coisa estranha, demasiado complexa, para um Marechal. 
No mesmo dia resigna.
CAPÍTULO II
FLORIANO
Floriano, vice-presidente, como substituto constitucional do Presidente demissionário, tomou posse 
no mesmo dia. Mas nem todos aceitaram essa legalidade. Baseando-se do mesmo modo na 
Constituição, alegaram alguns ser necessário convocar novas eleições. E logo de entrada encontrou 
o novo Presidente uma séria oposição. Em troca, Floriano jamais tomou conhecimento dos 
argumentos jurídicos, das leis, do Parlamento, da Justiça, e da própria Constituição.
Todo o seu período de 3 anos de governo foi uma seqüência de infrações à lei e à Constituição. 
Chegou a nomear Ministro do Supremo Tribunal Federal um médico, o Dr. Barata Ribeiro, — o que 
o Senado, aliás, não aprovou.
Para salvar a Constituição republicana, infringiu todas as leis e a própria Constituição. Em 
compensação, mercê dos seus defeitos e suas qualidades, salvou a República, ou melhor, consolidou 
a República, pois que não havia possibilidades para o renascimento da monarquia.
Floriano é quase um enigma para o historiador. De aparência insignificante, magro, franzino, pálido, 
feições de caboclo, mais parecia um sargento escriturário que um marechal. Não tinha a imponência 
militar nem as barbas proféticas, nem o olhar magnetizador de Deodoro. Mas possuía a 
determinação de um iniciado, aquela chama interior que faz os fortes. Frio, impassível, de aparência 
apática, indiferente ao luxo e às pequenas comodidades materiais da vida, sua mente era 
impenetrável. Floriano não tinha o espírito militar de Deodoro: era um profissional competente, 
desempenhando conscienciosamente suas tarefas. Era também desses raros tipos de homem que nas 
épocas normais da vida quotidiana, passam quase despercebidos, mas que, no fragor da luta, nos 
postos de combate, e nos momentos decisivos, sem perder a impassibilidade, sabem dominar os 
acontecimentos, quando todos em seu redor já perderam a serenidade.
Seus atos, desde a posse, como aconteceu com Deodoro, determinaram uma tempestade. Mas ao 
contrário de Deodoro, que se afogou na tempestade por ele mesmo desencadeada, Floriano soube 
dominá-la.
Estehomem singular concentrava em si todos os absurdos do seu tempo. Amante da tranqüilidade, 
teve o mais agitado período presidencial da nossa História, até 1930, só comparável ao de Artur 
Bernardes. Sendo por formação o mais disciplinado dos oficiais e escravo dos Regulamentos, foi 
também o mais antidemocrático e o mais atrabiliário dos políticos.
"Como liberal que sou, escreve em 1887 a um amigo, não posso querer para o meu país o governo 
da espada", mas foi com a espada que governou do primeiro ao último dia. Tendo em mãos todos os 
poderes como o salvador da República, entregou o poder, de acordo com a Constituição, ao seu 
sucessor legal que era também seu inimigo. E por fim este homem apolítico, que nunca fora 
republicano, foi afinal o consolidador da República.
Quando Deodoro dissolveu o Congresso havia uma paz relativa nos Estados. Os governadores 
eleitos reinavam tranqüilamente em seus pequenos domínios. O Império pertencia a um passado 
longínquo e monarquistas e republicanos, irmanados, se haviam associado para desfrutar das 
vantagens do poder legalmente conquistado.
Todavia, ao tomarem conhecimento daquele ato, a dissolução do Congresso, todos à exceção do 
Governador do Pará, Lauro Sodré, imediatamente, para a segurança dos respectivos assentos, 
hipotecaram solidariedade ao novo Ditador.
E quando Floriano, logo que empossado, decide reconvocá-lo, todos imediatamente — ainda para 
conservar os assentos, — tornam a telegrafar, apoiando e enaltecendo o seu gesto. Floriano porém 
não se impressiona com tanta solidariedade: manda depor todos e empossar novos do seu agrado 
sem dar a menor importância ao fato de haverem sido eleitos. E essa troca de governadores não se 
fez sem lutas e sem sangue.
Mas isso foi apenas o começo.
A legalidade da sucessão de Deodoro por Floriano, como já havíamos dito, não foi aceita por todos. 
Deodoro ainda tinha amigos fiéis, e a Constituição, os seus virtuosos e vigilantes zeladores. Treze 
generais assinam e publicam um manifesto declarando que, de acordo com a Constituição, deveria 
proceder-se a novas eleições, quanto antes. No que, aliás, não tinham razão.
Como resposta, Floriano simplesmente reforma os generais.
Uma passeata cívica, (10 de abril de 1892), encabeçada por alguns generais, em homenagem a 
Deodoro, acaba se transformando numa demonstração anti-Floriano. Este, mais uma vez, não 
hesita. Pessoalmente dá voz de prisão aos generais e manda desterrá-los. E, para prevenir qualquer 
reação, decreta estado de sitio por 72 horas. Os presos são generais, alguns são deputados, estão 
cercados, defendidos, protegidos por imunidades. A nada disso deu importância. Rui Barbosa requer 
habeas-corpus. O Supremo Tribunal Federal nega.
Comentário de Floriano, enquanto aguarda a decisão da Justiça: "Não sei amanhã quem dará 
habeas-corpus aos Ministros do Supremo".
Era a força pura e simples. Enquanto o Congresso reunido discute sobre a legalidade da prisão de 
parlamentares, em virtude do estado de sítio, Floriano comenta: "Vão discutindo que eu vou 
mandando prender".
Este era o homem que se achava à testa da Presidência da República, num período verdadeiramente 
excepcional: derrocada financeira; um exército dividido entre monarquistas. deodoristas e 
florianistas; uma Marinha hostil que, na comparação de um cronista da época, era uma espécie de 
sócio comanditário enquanto o sócio gerente — o exército, usufrui os dividendos; os Estados em 
permanente agitação, agravada com as deposições sumárias; o Rio Grande do Sul dividido entre 
uma dezena de caudilhos, tratando de empossar, na época, o seu décimo presidente constitucional; o 
Congresso dividido entre: os republicanos paulistas, (e entre estes se devem incluir os mineiros e 
muitos outros ligados à propriedade da terra e principalmente ao café), impacientes pelo poder e ao 
mesmo tempo receando pela queda da República; os monarquistas, por sua vez, torcendo pela queda 
da República; e, finalmente, os republicanos românticos, acreditando, apesar de tudo, que o melhor 
da República ainda estava por vir. E todos acossando Floriano.
Este homem não podia governar. Por isso mesmo nada fazia no poder senão lutar para manter-se 
nele. E o mais estranho é que não desejava esse poder. Considerou-se feliz no dia em que se livrou 
dele.
Que desejava então Floriano? Um enigma, mas que não interessa à História, a qual somente se 
preocupa com fatos.
Acontece então a Revolta da Armada, cujas causas reais não é ainda possível precisar.
Alguns a atribuem à hostilidade existente entre o exército e a marinha. Assim como Deodoro tentara 
vingar o exército, o Almirante Custódio José de Melo pretende vingar a marinha. De quê? Por quê? 
Pelo processo a que foi submetido Wandenkolk, por sua aventura no Rio Grande do Sul, em favor 
de um dos muitos grupos em luta? É uma hipótese sem sentido. Para outros, e segundo o próprio 
Custódio, o governo de Floriano não era legal, o que certamente só descobriu muito tarde pois fora 
seu ministro da Marinha. Queria, segundo afirma, apenas "restaurar a ordem legal".
Para outros ainda, segundo o depoimento de Torres Homem, a Revolta era apenas "a explosão de 
desejos mal satisfeitos". Custódio desejava ser o substituto de Floriano, que não apoiou a sua 
candidatura. "Vi mais tarde, escreve Torres Homem, uma carta do Contra-almirante Custódio de 
Melo em que pretendia que o Marechal Floriano prometera intervir em favor da candidatura dele à 
presidência da República; bem assim a contestação do destinatário desta missiva, que assegurava ter 
havido apenas apoio a tal pretensão por parte de alguns comandantes de corpos da Capital".
"Foram esses os móveis, continua o mesmo autor, que impeliram o Almirante Melo à Revolta da 
Esquadra".
Essa hipótese é bem mais provável. Custódio jamais fora republicano, e, conforme o demonstrou 
mais tarde, nada tinha de monarquista.
Segundo Oliveira Lima, Custódio era um homem "transbordante de ambição". A História dos países 
sul e centro americanos estava cheia de exemplos de golpes e quarteladas. Era tão fácil tomar o 
poder! Que fora a República senão uma quartelada? Menos ainda: uma simples parada militar! E se 
o próprio Deodoro não resistira a um único navio, vinte quatro horas, quanto tempo resistiria 
Floriano à Esquadra inteira? Talvez fossem esses os seus pensamentos, mas é fato que se enganou. 
Floriano, com mão de ferro e habilidade política surpreendente, manteve a Armada revoltada à 
distância, praticamente inativa, durante seis meses, enquanto encomendava navios nos Estados 
Unidos para combatê-la.
O Almirante Saldanha, dentro daquela seqüência de absurdos que caracterizam esse período da 
nossa história, a princípio declara-se neutro! Mas dias depois, a 9 de dezembro, resolve aderir à 
Revolta com um manifesto em que pretende apelar à nação que declare, — quatro anos depois de 
estabelecida a República, — qual o regime que prefere! É a restauração à vista, pensava-se. — Essa 
declaração, que denuncia "propósitos restauradores" no movimento, tem a virtude de despertar a 
parte mais politizada do povo. E o Congresso ao grito de "a República em perigo!" encontra apoio 
no seio da população, que a ele se une em torno de Floriano, dando-lhe assim, afinal, uma base em 
que se apóie, para governar.
O marechal procura reorganizar suas poucas forças. Não conta com um só navio. As escassas forças 
de terra mal armadas e municiadas pouco podem contra os navios relativamente novos e bem 
armados.
Por um estranho acaso, navios de guerra e mercantes estrangeiros se acham na Guanabara. 
Americanos, ingleses, franceses, portugueses, alemães e italianos: uma liga das Nações. Um artigo, 
visivelmente encomendado, no Jornal do Comércio, de 11 de setembro, insinua que o Rio é uma 
cidade sem defesa e que os navios estrangeiros deveriam proteger os seus nacionais.
A 16 de setembro começa a "intervenção", sendo o Rio declarado cidade aberta. Não pode atacar 
nem se defender, mas não pode ser atacada.
Essa intervenção é, por vezes, levada muito longe.Navios carregados de munições para o governo 
não podem descarregar. Mas isso ainda parece pouco "para a proteção dos estrangeiros". E quando 
alguns comandantes dos navios perguntam delicadamente a Floriano, como receberia um 
desembarque de pequenos contingentes, Floriano responde sem hesitar: a bala.
Essa intervenção se justificava, todavia. Os ingleses têm de proteger 100 milhões de esterlinos de 
investimentos. O governo de Floriano não lhes merece confiança, como aliás todo o regime. 
Preferem a monarquia com a qual faziam tão bons negócios e encarariam com bons olhos a 
restauração.
O governo de Washington, ao contrário, não pretende favorecer a restauração. Prefere a República 
com a qual já havia em 1891 assinado um tratado de comércio. A República tem todos os aspectos 
de uma luta contra a influência inglesa. E apóia Floriano. Mas essa disputa de preferências entre 
americanos e ingleses, que se revela através de pequenos incidentes, resulta afinal sem 
conseqüências.
Os dias e meses se passam enquanto essa guerra teórica não se decide. Alguns navios, desanimados, 
cansados de atordoante imobilidade dentro da baía, cujo magnífico panorama já não lhes causa mais 
efeito, incertos da vitória, conseguem atravessar a barra e desembarcam, sem grandes dificuldades, 
em Desterro (atual Florianópolis) dispostos a prosseguir a luta em terra. Aí organizam uma nova 
Capital e uma nova ofensiva. Quando afinal chegam os navios encomendados, nada mais resta do 
ânimo combatente entre os Revoltosos. É o fim. O mesmo acontece com as forças revoltosas que 
desejam tomar o Paraná e Santa Catarina. O saldo dessa luta inútil e inglória é aterrador: 185 
fuzilados, só na fortaleza de Anhatomirim, ao que parece por ordem direta de Floriano, muito 
embora essas ordens jamais fossem comprovadas.
Afora isso, navios postos fora de combate, estragos de bombardeios e algumas centenas de mortos.
Quais foram afinal os verdadeiros objetivos da revolta? Florianistas e republicanos acusaram-na de 
pretender a restauração, baseados no Manifesto de Saldanha da Gama, de 9 de dezembro.
Mas a 20 do mesmo mês, 11 dias depois, o próprio Saldanha, em outro manifesto, se declara 
partidário de "uma República civil".
Republicanos mais ou menos suspeitos, como Rui, que se declara "contra as ditaduras" ou como 
Patrocínio que com todo o seu republicanismo jamais perdera a sua simpatia pela Princesa Isabel, 
agora herdeira presuntiva do trono, manifestaram-se pelos revoltosos.
Nabuco, com autoridade, afirma que ela nada teve de monarquista e que os simpatizantes do regime 
deposto jamais haviam pensado em qualquer ação restauradora e que finalmente os monarquistas 
jamais tentaram organizar-se com qualquer objetivo. Na verdade os monarquistas que restavam 
eram muito poucos. A maioria se havia transformado em republicanos históricos ou pelo menos 
toleravam o novo regime e tratavam de organizar a sua vida, dentro das normas da República. As 
verdadeiras causas da Revolta se encontram dentro da natureza do próprio governo, das condições 
sociais que o caracterizavam: não havia uma classe definida economicamente forte, a ocupar o 
poder e o governo por isso mesmo era débil, pois se apoiava unicamente nessa coisa tão frágil que 
se chama Constituição; não havia espírito republicano entre os chefes do governo, como também 
não havia entre os revoltosos. República e Democracia continuavam sendo apenas duas palavras, 
mesmo quando escritas com letras maiúsculas.
Como afirmamos anteriormente, essa Revolta não passou de pura e simples rebelião caudilhesca, à 
moda dos pronunciamentos hispano-americanos. Esse levante veio apenas provar, mais uma vez, 
que um governo sem uma base de classe é incapaz de permanecer no poder a não ser pela força das 
armas.
Isso mesmo compreendeu Floriano. A escolha do seu sucessor se processou à sua revelia, em plena 
revolta (a 25 de setembro). A Convenção do Partido Republicano Federal, reunião formal de alguns 
clubes Republicanos estaduais com o Partido Republicano Paulista, escolheu por unanimidade, 
como candidato, Prudente de Morais que, segundo Pedro Calmon, era o "pretendente nato". E 
Floriano compreendeu e aceitou.
Que teria acontecido se Floriano resignasse e vencesse Custódio? Não seria certamente a volta da 
monarquia mas Prudente não tomaria posse, o governo continuaria por muito tempo em mãos de 
caudilhos salvadores a se revezarem no poder, uma espécie de Rio Grande do Sul da época, em 
ponto grande, governichos de interesses escusos se sucedendo através de golpes e quarteladas, de 
dois em dois meses.
Eis porque afirmamos que Floriano, defendendo o seu governo, derrotando os revoltosos, deu um 
novo rumo à História da República, consolidando de fato o regime. O homem que governou 3 anos 
sem Constituição e contra ela, na realidade defendeu-a e a entregou intacta ao seu sucessor legal.
CAPÍTULO III
A TEMPESTADE DE PAPEL
Nessa longa série de absurdos que foi esse tempestuoso período de nossa história, há um que foi 
sem dúvida o maior de todos e o que melhor caracteriza a fragilidade da estrutura do regime 
dominado pelas classes médias: a chuva de papel que desabou sobre a Capital da República, 
representada pelos milhares de contos de réis que, sob a forma de papel-moeda, começou a gerar 
capitalistas da noite para o dia, num país sem capitais. Os últimos anos de vida do Império, apesar 
da defeituosa infra-estrutura, que era a causa fundamental do atraso do seu desenvolvimento 
econômico, se caracterizaram por uma relativa tranqüilidade financeira em que pesem as muitas 
dificuldades do governo imperial, mercê do sincero empenho dos líderes da monarquia em sanar 
aquelas deficiências por um equilíbrio das finanças do país.
"Esse período", diz Normano, "caracterizou-se pela estabilidade da emissão do papel-moeda, o 
crescimento do comércio estrangeiro, importação de capital do exterior, construção de estradas de 
ferro, melhoria dos orçamentos e do câmbio estrangeiro. O século XIX, o fim do Império — foi o 
período mais brilhante, quando o crédito brasileiro pairava mais alto". A liberdade dos escravos, se 
trouxe a ruína, em alguns casos isolados, a muitos proprietários, refletiu-se rapidamente na econo-
mia nacional, com efeitos muito animadores.
O câmbio achava-se ao par, ainda que com o sacrifício do Tesouro, para conservá-lo a essa altura.
A imigração, sobretudo, começou a afluir em grandes levas, atraída pelas possibilidades que o país 
apresentava logo que o trabalho se tornou livre. Até a abolição, o número de imigrantes jamais 
havia ultrapassado a casa dos 25 mil. Já em 1888 passa a 131 mil indivíduos e somente de janeiro a 
outubro de 1889 já havia atingido a casa dos 150 mil.
Até 1888, o total das empresas organizadas no país atingia a Rs 410.829:000$000, só de maio de 
1888 a novembro de 1889, organizaram-se empresas no valor de Rs. 402.000:000$000.
Ia assim o país adaptando-se rapidamente às novas circunstâncias caracterizadas pelo trabalho livre, 
quando surgiu o golpe de 15 de novembro.
O governo republicano, como todo novo governo, tinha idéias novas, mas as de agora eram 
inteiramente novas, pois não se tratava apenas de uma mudança de simules governo ou de regime, 
mas de uma mudança de classes no poder. A aristocracia rural, latifundiária, o governo dos senhores 
de engenho, essencialmente agrícola, fora derrubada. Assumira o poder um grupo heterogêneo de 
homens que, pela sua formação e relações econômicas sociais e culturais, se achavam vinculados 
umbilicalmente às classes médias urbanas, entre as quais os militares constituíam um setor senão o 
mais importante em número pelo menos o mais forte e homogêneo e que, além disso, dispunha de 
armas.
No governo provisório Rui Barbosa é um exemplar típico dessa classe: é o teórico da democracia e, 
ao mesmo tempo, o lírico das finanças, e em ambos os papéis mistura as idéias francesas de 
liberdade, igualdade e fraternidade ao espírito essencialmente industrialista e capitalista da nação 
norte-americana. Novos caminhosse abrem para o Brasil: a democracia francesa, o federalismo 
norte-americano e uma política econômica, essa sim, inteiramente brasileira.
Antes de tudo, para Rui, é preciso fazer um balanço da situação econômico-financeira do Império. 
O resultado é estarrecedor. Segundo sua exposição ao Chefe do Governo Provisório em 28 de 
dezembro, "a república não encontrou senão dificuldades, compromissos, urgências imperiosas". 
Horroriza-se com "os auxílios à lavoura" (grifado por R. B.), cujo capítulo é, para ele, "dos mais 
graves no inventário de nossos compromissos" (Não nos esqueçamos que Rui Barbosa é um homem 
que nada tem de comum com as classes rurais).
A dívida externa é de 30 milhões de esterlinos o que, ao câmbio de 27, dá Rs 270.395:555$555. Se 
considerarmos que a libra custava aproximadamente Rs 8$000 é fácil calcular o que esta soma 
representaria hoje em dinheiro brasileiro com a libra a NCr$ 5,00.
A dívida interna sobe a mais de 500 mil contos. "A herança que nos deixou a monarquia", como diz, 
passa de 1 milhão de contos de réis.
Como se não bastasse essa grave situação das finanças públicas, uma das primeiras medidas do 
governo provisório é aumentar o soldo das forças armadas, as quais na verdade venciam quantias 
ridículas, — e além disso concede-se-lhes o privilégio de importar mercadorias do consumo para 
seu uso com isenção de direitos alfandegários.
Nesse documento Rui já nos deixa entrever o espírito da sua doutrina econômica: "O país, diz ele, 
lucra com a formação das grandes fortunas, como com o derramamento da riqueza pelas classes 
populares". E ainda: "Ao Estado nesta fase social, cabe sem dúvida grande papel de atividade 
criadora, acudindo todos os pontos onde o princípio individual reclame cooperação suplementar das 
forças coletivas". Idéias de certo modo revolucionárias no que elas têm de intervencionismo estatal, 
— se considerarmos que a doutrina econômica do capitalismo norte-americano era a do absoluto 
abstencionismo estatal, a livre iniciativa, o free enterprise.
Dez meses depois suas idéias parecem mais consolidadas. É a ruptura definitiva com o passado, os 
princípios conservadores monárquicos.
Justificando a reforma aduaneira protecionista, assim se exprime, em 11 de outubro de 1890: 
"...devemos, por uma proteção lenta e aplicada em cada caso com critério e estudada em seus 
efeitos, ir preparando a indústria nacional, para poder, em época mais ou menos próxima, produzir 
de modo a equilibrar a balança da permuta comercial... Tratemos de passar de um país 
exclusivamente consumidor para um país produtor. O nosso grande erro tem sido aplicar ao Estado, 
em grande escala, o sistema em geral seguido pelos nossos cultivadores: produzir muito café, tratar 
exclusivamente de café, ainda que tenham de comprar tudo o mais, inclusive os gêneros de primeira 
necessidade que com facilidade poderiam produzir. E é preciso dizer aqui que o desenvolvimento da 
indústria não é somente para a Nação uma questão econômica; é mais do que tudo uma questão 
política. No regime decaído, todo de exclusivismo e privilégio, a Nação, com toda a soma de 
atividade social, pertencia a classes ou famílias dirigentes.
"Tal sistema não permitia a criação de uma democracia inteligente e independente, que pudesse 
perturbar a posse mansa e pacífica do poder, que constituía para os privilegiados uma verdadeira 
exploração" (O grifo é nosso).
O problema agora é saber como "cooperar com o princípio individual". Ele o resolve pela 
ampliação das faculdades emissoras —copiando o sistema americano, — a cerca de 10 Bancos. Não 
podendo criar riquezas, iria fabricar dinheiro.
O gabinete liberal de João Alfredo, pelo decreto de 24 de novembro de 1888, iniciava uma 
transformação radical no sistema de emissão de papel-moeda. Esse, que tinha curso forçado, só 
poderia ser emitido doravante à base de lastro ouro. O gabinete de Ouro Preto, também liberal — 
embora politicamente isso não tenha nenhuma significação particular, prossegue a política de João 
Alfredo, autorizando porém ao Banco Nacional o resgate do antigo papel-moeda inconversível por 
notas conversíveis à vista, com lastro metálico, favor que foi posteriormente estendido ao Banco do 
Comércio do Rio de Janeiro e ao Banco de São Paulo, dessa cidade, que entretanto quase não usou 
do direito.
Aparentemente, pois, Rui Barbosa punha em prática a mesma política monetária de Ouro Preto que 
aliás tanto combatera antes da República. A diferença estava em que essas emissões — as de Rui — 
eram lastreadas com títulos da dívida pública federal.
Essa política de incontinência emissória, medida tomada — diga-se de passagem, — sem 
conhecimento dos seus colegas de ministério, de que os Bancos usaram e abusaram, inundou o país 
de papel pintado que tinha apenas um valor fictício, especulativo. Como o aprendiz de feiticeiro, 
Rui viu-se afogado pela tempestade que desencadeara. Em 1889 o dinheiro em circulação somava a 
cerca de 193 mil contos. O governo de Deodoro em poucos meses emitiu 321 mil contos.
A fase que então se chamou de encilhamento, lembrando o jogo das corridas de cavalo, foi um 
desastre para todo o país. Para se ter dinheiro, era necessário apenas um pouco de imaginação, 
inventar um nome qualquer para uma empresa qualquer, como por exemplo Cia. de Melhoramentos 
de Cuiabá, Estrada de Ferro do Acre, ou Cia. para criação de porcos holandeses; a seguir, pedir em 
requerimento o reconhecimento legal desse direito.
Depois era só imprimir ações sem limite que eram vendidas e revendidas passando de 5 a 20 a 50 a 
100 mil réis, por simples pedaços de papel com um nome impresso. Antigos nobres, bacharéis, 
militares, lojistas, cocheiros, enchiam a Bolsa, comprando e vendendo, esquecidos de que uma 
República acabava de ser fundada no Brasil. Mas isso não tinha importância alguma. O que 
importava era que os Bancos emprestavam dinheiro, que o governo garantia juros às empresas fun-
dadas e indenização em caso de malogro!
Escreve um contemporâneo: "Mostrava o crédito elasticidade de borracha. Qualquer um abria 
conta-corrente de simples movimento ou mais ou menos garantida, no valor de centenas de contos 
de réis, citando-se não poucos os que elevaram a milhares e milhares os seus débitos, deixando tão-
somente, como apoio da responsabilidade tomada, papéis pobres e de nenhum valor, além da 
notória reputação de leviandade e até de parvoíce bem assinalada.
"Esse dinheiro tão facilmente conseguido, que se renovava em contínuos empréstimos, era logo 
dividido em duas partes mais ou menos iguais. Uma ia para a continuação e efervescência do jogo e 
o múltiplo movimento das ações que pejavam a praça e cujas cotações enchiam diariamente, à hora 
da bolsa, numerosas tabuletas; outra tinha imediatamente aplicação nas encomendas dos carros e 
cavalos do Rio da Prata etc. etc.". Assim o dinheiro fácil, em vez de ser aplicado com fins repro-
dutores, como sonhara Rui, era empregado em compra de propriedades, de artigos de luxo e até 
mesmo em títulos de nobreza, que Portugal havia transformado em artigo de exportação. O fato é 
que Rui acreditara a princípio haver feito uma grande descoberta, a solução para o problema da falta 
de capitais. Quando se viu atordoado pela chuva de papel não teve outro recurso senão demitir-se. E 
o pretexto era afinal o de não concordar com sua própria invenção: uma garantia de juros para a 
construção de um hipotético porto de Torres, no Rio Grande do Sul que Deodoro queria dar a um 
amigo, Companhia tão necessária e tão segura quanto qualquer das inúmeras Companhias para 
aperfeiçoamento do pirarucu ou para importação de zebras que havia aprovado.
Nessa orgia de papel o povo se esqueceu da República e da Constituição que fora aprovada a 24 de 
fevereiro de 1891. E como se esta fosse apenas um papel a mais nesse imenso mar de papel, 
Deodoro a desrespeitou e Floriano dela não tomou conhecimento.
Lucena, assumindo a chefia do gabinete de Deodoro, planeja uma reforma que tanto se justifica e 
tanto tem a ver com a realidadenacional quanto a de Rui: "extingue os direitos aduaneiros em ouro; 
vende o ouro guardado no Tesouro ou o empresta a Bancos mais ou menos insolváveis, como um de 
Pernambuco. Em apaixonada luta com o Congresso, quer impor uma reforma bancária, que este 
rejeita como um escândalo, que lhe motivará em breve a dissolução".
De qualquer modo esse plano se revelou impotente para deter a derrocada que ameaçava a 
estabilidade da República e fez vacilar a confiança que nela depositavam os países estrangeiros.
Poucos dias depois do golpe de 3 de novembro, Lucena se apressa em telegrafar a Rothschild 
dizendo que reina no país a paz e a tranqüilidade, mas o banqueiro lhe responde que está perfei-
tamente ao par da orgia emissionista: "Aceitamos vossa afirmação quanto à crise política mas 
permiti que discordemos da vossa opinião quanto à crise financeira, atenta a baixa do câmbio e 
depreciação dos fundos brasileiros, que atestam a existência de uma crise muito séria, devido 
sobretudo ao temor de novas emissões, que é indispensável condenar como muito danosas para o 
crédito do Brasil e para os interesses do país".
Mas tudo tem fim e a onda inflacionista, como uma epidemia, acabou por si mesma, não sem 
arrastar na enxurrada Bancos e indivíduos à falência, deixando em seu lugar o descrédito público no 
governo e nas empresas industriais de qualquer espécie.
O país havia atravessado um verdadeiro cataclismo, com um governo em mãos de homens 
inexperientes, teóricos, alheios aos problemas da administração, sonhadores líricos da República.
Floriano, ao assumir a presidência, convida para gerir as finanças um homem que tem os pés no 
chão, um desses republicanos históricos não dado a arroubos oratórios e que nos seus discursos 
pouco usava a palavra democracia: o paulista Rodrigues Alves. Suas idéias de governo são simples: 
economia, e nada de planos mirabolantes e salvadores.
Mas primeiro é preciso engolir muito papel. O ato do governo de Floriano pondo fim à jogatina 
desenfreada, entretanto, "criou uma atmosfera de queixas. Em breve essas queixas se transformaram 
em vinditas dos que haviam enriquecido da noite para o dia e dos que ainda pensavam enriquecer". 
E além disso, as lutas políticas, a falta de apoio de uma classe homogênea, a falta de uma diretriz 
firme, construtora, num país que procura tomar pé, para começar a trabalhar, causam a demissão de 
Rodrigues Alves. Ainda não havia chegado a sua época.
Aliás, com a revolta da Armada, quaisquer planos são agora impossíveis. Como diz José Maria 
Belo, vive o governo o dia a dia dos expedientes que lhe sugerem os seus improvisados con-
selheiros, os seus efêmeros ministros.
Na realidade o governo só tem um plano e luta por ele: manter-se no poder, salvar a República das 
mãos dos aventureiros, descontentes e aproveitadores de toda a sorte. Salvar a República, enfim. E 
conseguiu-o.
CAPÍTULO IV
O CAFÉ E A ESPADA
Mais do que uma luta entre republicanos e restauradores, o que o governo provisório teve de 
enfrentar — e perdeu — foi a luta entre os republicanos idealistas ou românticos, — as classes 
médias —, e os republicanos realistas ou objetivistas ou seja os fazendeiros de café, os proprietários 
da terra, os senhores dos latifúndios.
É ainda a luta de classes o que predomina nesse curto mas agitado período da nossa vida 
republicana. E essa luta se encontra perfeitamente caracterizada mesmo numa rápida análise dos 
fatos cruciais desse período.
Já tivemos oportunidade, no volume anterior, de mostrar como essa divisão de classes se manifesta 
na organização do movimento republicano, no período de pregação política. Essa divisão de classes 
era perfeitamente caracterizada não apenas pela composição social dos dois principais grupos 
republicanos, o de São Paulo e o do Rio, mas também pelos seus interesses econômicos — girando 
principalmente em torno da abolição — e pelas suas aspirações políticas.
Ambos os grupos ansiavam pelo poder, mas na verdade somente o grupo realista de São Paulo, os 
fazendeiros de café, sabiam realmente o que iriam fazer com ele. Enquanto isso, os republicanos 
românticos giravam em torno de palavras e frases, sonhavam com uma República democrática 
teórica que lhes parecia ser o governo ideal de um povo livre e feliz.
Mas, não obstante essa ânsia pelo poder, os realistas nada fizeram para conquistá-lo, pois que, na 
verdade, não se sentiam suficientemente fortes para isso. Como vimos, a monarquia foi afinal 
derrubada por um golpe militar. Esse grupo militar, social, econômica e politicamente, e mesmo 
filosoficamente, por motivos que expusemos no volume anterior, se achava mais próximo do grupo 
dos republicanos românticos, que era constituído pelas classes médias urbanas.
E quando o poder caiu em suas mãos no dia 15 de novembro, naturalmente rodeou-se de elementos 
da vanguarda dessas classes médias, como Aristides Lobo, Quintino Bocaiúva, Demétrio Ribeiro, 
Rui Barbosa que afinal fizeram parte do governo provisório.
Fizeram ainda parte do primeiro ministério de Deodoro, dois paulistas o que de nenhum modo tira o 
caráter essencialmente pequeno-burguês desse governo: um era Campos Sales que se achava no 
ministério como um reconhecimento ao Partido Republicano Paulista, cujo papel na propaganda 
republicana era impossível desprezar. Outro foi Glicério, mas este era mais político que fazendeiro 
e, por sua visão política, era o elemento mais radical do Partido Republicano Paulista e, por isso 
mesmo, uma espécie de traço de união entre os dois grupos.
Igualmente significativo foi o papel dos intelectuais no novo governo, o que para R. Magalhães Jr. 
constitui apenas um "aspecto pitoresco" da nossa História quando na realidade é justamente um 
aspecto sintomático do que foi o governo provisório e a primeira república: o paraíso dos setores 
mais cultos e intelectuais das classes médias.
Magalhães Jr. nos lembra:
"O primeiro juiz nomeado pelo governo Provisório foi o de Campos. Chamava-se José Pereira da 
Graça Aranha. O secretário do governo do Ceará era um escritor provinciano de grande talento, 
Manuel de Oliveira Paiva que havia de ficar famoso como autor do romance "Dona Guidinha do 
Poço". O secretário do governo do Piauí era um moço cearense, formado pela Faculdade de Direito 
do Recife, o Dr. Clóvis Beviláqua.
O secretário do governo do Estado do Rio de Janeiro é o Dr. Raimundo Correia, o poeta das 
"Pombas" e do "Mal secreto". Nomeado juiz, vai para o seu lugar o poeta Luiz Murat. Eleito este 
deputado, passa a vaga ao cidadão Henrique Coelho Neto, que seria uma das figuras mais 
significativas das letras brasileiras, embora muito injustiçado e hoje quase ignorado, apesar das 
páginas admiráveis de "Sertão" e de outros livros. O governador de Sergipe, Felisberto Freire, é um 
intelectual de incontestável merecimento, cuja nomeação é saudada em artigo de João Ribeiro na 
"Cidade do Rio", dizendo este que bastava tal ato para justificar que se desse um viva à República. 
O secretário do Ministro da Justiça é Lúcio de Mendonça, poeta e panfletário, e o do Ministro do 
Interior é Medeiros de Albuquerque, também poeta e também panfletário, — mas um e outro podem 
ser considerados "históricos". Na Paraíba do Norte, o secretário do governo é um jovem intelectual 
chamado Epitácio da Silva Pessoa, que inicia, desse modo, uma carreira política que o levará, trinta 
anos depois, à presidência da República. O próprio ministério do governo Provisório apresenta 
uma constelação de intelectuais, alguns dos grandes nomes do jornalismo da época: Rui Barbosa, 
Quintino Bocaiúva, Aristides Lobo".
Observa ainda o mesmo autor que "no governo de Floriano, porém essa política começou a se 
inverter, com as deportações de jornalistas e escritores. Entrava em declínio o prestígio dos es-
critores ...".
Mais uma vez, a nosso ver se engana Magalhães Jr. O que houve ao contrário foi o declínio do 
prestígio da República perante os olhos desses escritores e intelectuais. A ditadura, a prisão de 
generais e deputados, a violentarepressão aos rebeldes da revolta da armada, tudo isso fazia ruir por 
terra os seus "puros ideais republicanos". Não era aquela a República dos seus sonhos.
De fato, a República dos seus sonhos nunca existira a não ser na imaginação das almas cândidas e 
românticas.
Mas em nenhum período da História jamais se viu uma classe que não domina os meios de 
produção, conseguir manter-se no poder.
Conquistar o poder é fácil. Difícil é manter-se nele. Diz Lenine que o governo de um país é o estado 
maior das classes dominantes e se assenta invariavelmente no domínio econômico. O poder político 
significa o domínio dos postos-chaves da administração e das forças armadas. Ele se apóia no 
domínio econômico, na posse dos meios de produção, isto é, em nosso país, naquele momento, a 
terra.
O domínio político significa igualmente a existência de um apoio pelo menos tácito de parte da 
população que aceita a legitimidade desse poder e acredita na sua capacidade de resolver os seus 
problemas e por isso mesmo o sustenta e defende ou pelo menos o tolera.
Qual era a base principal do governo monárquico? A aristocracia rural, essa classe mista ao mesmo 
tempo burguesa e agrária que era a possuidora dos latifúndios e da população miserável que neles 
habitava e a eles estava vinculada, completamente alheia à vida política do país. Dentro dessa 
aristocracia rural destacava-se o setor dos senhores do açúcar, donos dos postos-chaves da 
administração e das forças armadas. O governo imperial se apoiava pois nessas forças políticas e 
econômicas.
Com o deslocamento da força econômica para novos setores da aristocracia rural, os fazendeiros de 
café, tornava-se necessária uma recomposição do governo e, nesse sentido, a República parecia 
ideal. Para se assenhorear do poder os grupos do café não podiam contar com as forças armadas, 
mais ligadas às classes médias, nem com o apoio da população, cuja existência ignorava. Mas podia 
apoiar-se nessas classes médias urbanas que também desejavam a República, servindo assim, 
indiretamente, aos interesses dos senhores do café.
Havia apenas um pequeno problema: como derrubar o Trono e estabelecer a República com tão 
fracas bases? Enquanto os chefes republicanos cogitavam de resolvê-lo, Deodoro, movido embora 
por outros interesses, trabalhava para eles.
Só que Deodoro, ao derrubar o Império por conta própria, apoiado apenas em um grupo de oficiais 
e dois ou três líderes republicanos, em vez de entregar o poder aos fazendeiros de café, ficou com 
ele. Por pouco tempo, entretanto. Esse é porém o destino das classes médias: fazer a cama para 
outras classes se deitarem nela. Assim foi na França de 1789 em que o Terror de Robespierre e 
Danton preparou o bolo para Napoleão dele se apoderar em benefício da burguesia francesa. Assim 
foi o golpe de Kerensky em 1917 que abriu o caminho para a Revolução de novembro e o 
proletariado russo.
Vimos acima como o golpe de Deodoro abriu o caminho para o novo regime. Não se deve porém 
inferir daí que se o Marechal não tivesse tomado a atitude que tomou, encabeçando à última hora o 
movimento que derrubou o Trono, a República não teria vindo. Mas é fora de dúvidas que talvez 
demorasse mais um pouco.
Também não se deve equiparar Deodoro a muitos dos generais centro e sul-americanos que 
matavam o tempo derrubando e implantando governos. Deodoro não tinha ambições pessoais e as 
circunstâncias particulares de nosso país, entre as quais podemos citar a unidade que lhe deu o 
regime imperial, não permitiam naquele momento que tais grupelhos militaristas tivessem êxito. Foi 
o que vimos na derrota de Custódio. Ninguém havia no governo provisório com menos ambições 
pessoais, quer de poder, quer de quaisquer outros proveitos. Colocado, por força das circunstâncias, 
na chefia de um governo republicano sem o haver desejado e para o qual não tinha nenhuma 
vocação, nem o necessário conhecimento dos problemas nacionais, nem a habilidade política, seu 
destino era aquele mesmo que teve.
Já vimos que o governo provisório não tinha nenhum ponto de apoio. As próprias forças armadas 
estavam divididas, o povo não fora consultado.
É verdade que a República foi imediatamente aceita por todas as classes, se excetuarmos os 
senhores do açúcar que aliás rapidamente se adaptaram ao novo regime. Os fazendeiros de café 
receberam-na com satisfação.
E os indiferentes, que constituíam a maioria, tornaram-se imediatamente republicanos-históricos, 
cada qual se julgando com maiores direitos a uma recompensa pela sua atividade pró-república.
Quanto à população rural, constituindo mais de 70% da população total do país, a mudança de 
regime político a afetara tanto como a morte de um gato na China.
Como se explicam pois essas agitações revolucionárias, os desmandos políticos, o divórcio entre o 
Parlamento e o poder executivo, a insatisfação geral do povo a partir dos primeiros meses da 
implantação do novo regime?
A explicação está a nosso ver em dois fatos ou duas circunstâncias capitais que caracterizaram a 
proclamação da República em nosso país.
O primeiro é o fato de que a República foi proclamada por determinados setores das classes médias 
que não podiam por isso mesmo, pelo fato de serem classes médias, manter-se no poder. Este 
pertencia logicamente, historicamente e economicamente aos fazendeiros de café que desejavam o 
poder e que tudo fizeram para isso, menos uma nova revolução, porque tal não foi necessário.
O segundo é que as ilusões dos republicanos românticos se desfizeram com a dura realidade: a 
República não era aquela deusa sem mácula com que sonhavam.
Deodoro mostrou-se desde logo incompatibilizado com o novo regime. A liberdade de imprensa, 
por exemplo, nos últimos anos da monarquia, praticamente não tinha limites. O gosto dos escribas 
brasileiros pelas diatribes, pelos insultos apaixonados, se extravasava lindamente através da 
imprensa. Quem desejasse insultar um inimigo, vingar-se de um desafeto pessoal, combater um 
político, xingar um ministro, editava um jornal, dizia o que queria, lavava a alma e dormia 
tranqüilo.
Pedro II, acreditando piamente reinar não apenas no país mas na alma do povo, tolerava tudo.
Deodoro não era assim. Como militar tinha em mais alto grau o sentido da disciplina, da hierarquia 
e da honra da farda. Qualquer restrição à sua pessoa, como indivíduo ou como Presidente da 
República, era levada à conta da sua farda e de todo o exército. Completamente alheio às ilusões 
democráticas que enchiam as cabeças dos seus companheiros de governo, civis educados nas 
famosas "idéias francesas", a crítica lhe era intolerável. Daí suas medidas de restrição à liberdade de 
imprensa, de espancamento de jornalistas, de empastelamento de jornais. Isso foi, porém, um dos 
seus menores erros. 
O mais importante e decisivo deles foi não compreender o significado mais profundo do movimento 
republicano e desconhecer as mutações de caráter econômico que se processavam no país.
A Assembléia Constituinte eleita em setembro de 1890 era formada de grupos heterogêneos em que 
se encontravam desde alguns monarquistas até aos mais puros republicanos históricos de todas as 
idades, os "republicanos da Rua do Ouvidor", como eram conhecidos. O grupo mais forte todavia 
era constituído pelos republicanos realistas, pelos fazendeiros de café, o mais eminente dos quais 
era o Senador Prudente de Morais, antigo deputado republicano e candidato natural à presidência da 
República.
Mas Deodoro, e o grupo de militares que o rodeava, na sua pureza política, achava que podia 
governar sem o apoio econômico desses fazendeiros e seus representantes, parentes e dependentes. 
Os coronéis do interior encheram a Constituinte. Foi preciso a ameaça de pôr a "procissão na rua" 
— antiga expressão para designar os canhões do exército, para que Deodoro vencesse, obrigando os 
"casacas" a "engolirem a espada". Daí por diante a separação entre Deodoro e Prudente — e os 
respectivos grupos — se tornou mais profunda. A eles atribui Lucena com razão a quedado governo 
de Deodoro. Observa muito bem Assis Cintra. "De um lado Deodoro, o Chefe do governo com seu 
Ministério favorito, o Barão de Lucena — e de outro o grupo chamado dos paulistas, liderado por 
Campos Sales".
Mais sintomático ainda desse alheamento da realidade é a sua mensagem ao Congresso na abertura 
da 1.ª Legislatura, em 15 de junho de 1891: nem uma palavra sobre o café: ao contrário, imbuído 
ainda das idéias já superadas do tempo da monarquia, que aprendera na juventude e nas quais vivia 
ainda em pensamento, achava-se profundamente preocupado com a crise... do açúcar! Quer que se 
multipliquem as usinas, garantia de juros de 6% ao ano aos Bancos que emprestarem dinheiro a essa 
lavoura em plena ruína internacional!
E não era apenas a subestimação da importância do café na economia nacional. Havia ainda, a 
irritar os senhores do café, a tendência nitidamente industrialista do governo, claramente entrevista 
através dos sucessivos relatórios e discursos de Rui Barbosa. Era a visível influência dessa vez, não 
apenas das idéias francesas mas das idéias predominantes nos Estados Unidos com o seu já colossal 
desenvolvimento industrial. Assim como a França havia sido o paradigma das idéias políticas 
burguesas de liberdade, igualdade e fraternidade, os Estados Unidos se haviam transformado, para 
as classes médias, no exemplo vivo do que pode o desenvolvimento industrial para o progresso de 
uma nação.
Mas o industrialismo nada tinha a ver com os interesses dos fazendeiros de café, dos senhores dos 
latifúndios, para quem o Brasil deveria ser e o seria ainda por muitos anos, durante todo o período 
de predomínio do PRP, essencialmente agrícola. Tais foram as fundamentais causas que colocaram a 
maioria do Congresso contra Deodoro e o seu governo.
A substituição do seu primeiro ministério pelo Barão de Lucena e os seus ilustres desconhecidos 
não melhorou a situação. Prudente e os que o apoiavam continuaram em sua oposição ao governo 
de Deodoro até que este não teve outro recurso para poder governar, como julgava dever fazê-lo, 
senão fechar o Congresso.
O novo governo de Floriano, política, econômica e socialmente, era uma continuação do governo 
anterior, nada mais, no fundo, que um governo representativo dos interesses das classes médias, em 
que pesem suas preocupações pelos grandes problemas nacionais.
É digno de nota entretanto que, apesar de suas medidas totalmente anticonstitucionais, prendendo 
generais e deputados, depondo e empossando governadores a seu bel-prazer, não sofreu grande 
oposição do Congresso. Antes de tudo pelo fato de haver deposto os amigos de Deodoro e 
reconvocado o Parlamento. Em seguida pela sua decidida defesa da República na revolta da es-
quadra, cuja vitória poderia significar, segundo temiam os cafesistas, a volta da monarquia e dos 
barões do açúcar. Assim, Prudente, ao tomar posse do cargo de presidente da República, atribui 
claramente, ao movimento, em sua primeira mensagem ao Congresso, intenções restauradoras.
Mas a posição dos cafesistas em relação a Floriano, era de expectativa, de apoio moral contra a 
restauração e nunca adesão. Floriano compreendeu imediatamente que não poderia governar senão 
pela força, pois o apoio que tinha do Congresso e do povo era momentâneo e precário. As agitações 
nos Estados continuavam, assim como na própria capital.
Com um poder quase ilimitado nas mãos, depois da vitória sobre a esquadra revoltada; o Congresso 
atemorizado; alvo de verdadeira idolatria por parte do povo, pelas suas atitudes corajosas, seria para 
Floriano muito fácil continuar. E todavia não o fez. Seria mais um general dos muitos que 
infelicitaram as nações sul-americanas. Era evidente que não se interessava pelo poder.
O Partido Republicano Federal, organização esdrúxula que se constituíra no Rio desde abril de 1393 
e não passava de uma extensão da força do PRP aos Estados, realizou uma convenção quase às suas 
costas, sem sequer lhe dar conhecimento das combinações políticas que se processavam para 
entregar o poder aos fazendeiros de café. Uma vez indicado Prudente pela convenção do Partido 
para sucedê-lo, apesar de instado pelos seus amigos para continuar no poder, Floriano preferiu 
recolher-se à vida privada e desinteressar-se pelo que viria depois, convencido de que a experiência 
de governar pela violência não era das mais agradáveis.
Ainda aí é o caráter de um homem dando rumo à História. No dia da posse do novo presidente, em 
vez de enfeitar-se com trajes de gala e condecorações e arrumar a sua vida com uma cadeira de 
senador, como se tornaria hábito na 2.ª República, simplesmente retirou-se para a sua casinha de 
Sta. Alexandrina onde, de chinelos, se pôs tranqüilamente a regar o seu jardim. (Eis um homem à 
espera de uma biografia).
Encerrava-se assim a 1.ª República, a república das classes médias e dos militares — a república 
onde dominou sobretudo a espada — e nascia a 2.ª República, a era do café e do PRP, o Partido em 
cujas mãos se encontrava a riqueza do país e em cujas terras vivia a maioria da população brasileira. 
Terminava a era dos sonhos românticos com o fracasso da República idealista que não chegou a 
existir.
Como diz Pedro Calmon, que vislumbrou a separação entre as duas Repúblicas: "O país varrera de 
si a fantasia dos dogmas franceses, que o tinham empolgado nos últimos anos do Império. Queria 
trabalhar. Pedia paz. Nessa atmosfera de saturação, de desencanto e de fadiga é que submerge a 
República teórica, que não fora exeqüível e se impõe a República que pudemos ter. A que foi 
possível".
Entramos assim na 2.ª República, a que foi possível. Abre-se um novo período na História do 
Brasil, o reinado do Café, durante o qual, por 36 anos, estaria o poder em mãos da aristocracia rural 
do café e dos senhores de terras.
SEGUNDA PARTE
O REINO DO CAFÉ
CAPÍTULO I
PANORAMA DA 2ª REPÚBLICA
Ao raiar do século XX abre-se um período realmente novo na História do mundo.
O fim do século anterior havia sido para todos os povos mais ou menos civilizados da Europa e da 
América, um longo período de paz e tranqüilidade social.
Paris se havia transformado em centro do mundo e o espírito francês atraía todas as atenções para as 
artes, para as ciências, para a alegria de viver. Reinava la belle époque. A burguesia, bem instalada 
no poder, acreditava haver atingido a mais alta perfeição possível nas sociedades humanas, sonhada 
pelos homens e desejada por Deus.
Mas o capitalismo, como se agisse movido por uma força interna incontrolável pela vontade dos 
homens, por um influxo interno criador de si mesmo, crescia e se expandia. Da concentração de 
capitais havia evoluído para a formação de trustes e cartéis e derramava-se pelo mundo, esmagando 
e dominando os países menos desenvolvidos. Depois de saturar os respectivos mercados internos, 
os apetites das nações mais ricas transbordavam das próprias fronteiras, tornando necessária a 
divisão do mundo em zonas de influência, entre essas nações capitalistas mais fortes, para o 
domínio completo dos mercados e das fontes de matérias-primas. O capitalismo entrava em uma 
nova etapa de seu desenvolvimento e se transformava em imperialismo.
Esse é o primeiro fato proeminente desse período. O segundo é a Primeira Guerra Mundial de 1914-
1918 que arrastou a um conflito sangrento, com desperdício de milhões de vidas, a quase todos os 
países da Europa e a alguns da América. Essa guerra, como hoje todos sabem, foi apenas uma luta 
organizada pelos trustes internacionais em disputa dos mercados mundiais, a fim de proceder a uma 
nova divisão do mundo.
O terceiro fato proeminente é a Revolução Russa de 1917 em que pela primeira vez uma nova 
classe, o proletariado, atinge o poder econômico e político.
O quarto é a crise mundial de 1929/30 que, começando nos Estados Unidos, como uma nova 
espécie de reações em cadeia, foi atingir a quase todas as nações com um longo cortejo de desem-
prego e fome.
Finalmente um quinto fato de alta transcendência deve ser mencionado: o início

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