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Direito Constitucional I - Caso Concreto n3(2)

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Caso concreto nº: 3 DATA: 24/08/2014 
Disciplina: Direito Constitucional I. Professora: Isabella Figueiredo. 
Aluno: Pedro Leonardo Souza Alves. Matrícula: 201307039049. 
Turma: 2001. Turno: Vespertino. Sala: E-202. 
Tema: Interpretação Constitucional 
 
1. Ronaldo, militar do exército, estava matriculado no Curso de Direito 
numa Universidade Particular de Pernambuco, quando foi transferido ex 
officio da Unidade sediada em Boa Viagem para a Unidade localizada no 
Município do Rio de Janeiro. 
Por conta do seu deslocamento e da necessidade de dar continuidade 
aos estudos na Cidade do Rio de Janeiro, o militar solicitou à Sub-reitoria 
de Graduação da UERJ, transferência do curso de Direito da referida 
Universidade Particular para o mesmo curso na Universidade do Estado 
do Rio de Janeiro, com base na Lei n° 9.536/97. 
O pedido do militar foi indeferido pela Sub-reitora da UERJ, com 
fulcro no ato normativo interno desta Universidade (Deliberação n° 
28/2000), o qual regula esta matéria, uma vez que a Universidade de 
origem do militar era uma instituição de ensino superior particular. 
O militar impetra mandado de segurança alegando, em sua defesa, 
os seguintes argumentos: 
 
I. que o seu direito está amparado pelo parágrafo único do artigo 49 
da Lei Federal n° 9536/97 – dispositivo este que regulamenta o 
parágrafo único da Lei Federal n° 9.394/96 (estabelece as 
diretrizes e bases da educação nacional); 
II. que a norma restritiva do art. 99 da Lei 8.112/90 (entidades 
congêneres) não se aplica aos militares; 
III. que o ato normativo n° 28/2000, no qual o sub-reitor se baseou 
para indeferir o pedido de transferência, “tem vício de ilegalidade 
a negativa de matrícula”, pois contraria o conteúdo da Lei nº 
9536/97, uma vez que a Lei federal não exige o caráter 
congênere entre instituições de ensino; 
 
Diante da situação acima descrita, questiona-se: qual a interpretação 
constitucional mais adequada para a solução deste conflito? 
 
Para uma boa interpretação constitucional é preciso verificar, no 
interior do sistema, quais as normas que foram prestigiadas pelo 
legislador constituinte ao ponto de convertê-las em princípios regentes 
desse sistema de valoração. Impende examinar como o constituinte 
posicionou determinados preceitos constitucionais. Alcançada, 
exegeticamente, essa valoração é que teremos princípios. Estes são mais 
do que normas, servindo como vetores para soluções interpretativas. De 
modo que é preciso, para tal, conhecer cada sistema normativo. 
No caso concreto supracitado, a Constituição deve ser encarada como 
uma lei e, assim, o elemento gramatical ou filosófico seria o mais 
adequado para ser utilizado na tarefa interpretativa para a solução 
desejada, uma vez que, nesse caso, a análise da norma se realiza de 
modo textual e literal, oras, afinal de contas, se está contido na lei que: 
 
 “A transferência ex officio a que se refere o parágrafo 
único do art. 49 da Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 
1996, será efetivada, entre instituições vinculadas a 
qualquer sistema de ensino, em qualquer época 
do ano e independente da existência de vaga, 
quando se tratar de servidor público federal civil 
ou militar estudante, ou seu dependente 
estudante, se requerida em razão de comprovada 
remoção ou transferência de ofício, que acarrete 
mudança de domicílio para o município onde se 
situe a instituição recebedora, ou para localidade 
mais próxima desta”. 
 
Logo, é possível concluir que Ronaldo, uma vez apresentado todos os 
critérios para o cumprimento da norma, tenha direito de exercê-lo sem 
qualquer impedimento. 
 
Por isso, a interpretação de uma norma constitucional levará em 
conta todo o sistema, tal como positivado, dando-se ênfase, porém, para 
os princípios que foram valorizados pelo constituinte. Também não se 
pode deixar de verificar qual o sentido que o constituinte atribui às 
palavras o texto constitucional, perquirição que só é possível pelo exame 
do todo normativo, após a correta apreensão da principiologia que 
ampara aquelas palavras. 
 
Tema: Princípio da razoabilidade 
 
2. O Estado do Tocantins publicou edital no Diário Oficial do Estado de 
concurso público para o preenchimento de vagas para o cargo de policial. 
Uma das provas é a realização de testes físicos e um dos testes exige 
que os candidatos façam a seguinte atividade: “Flexões abdominais: 
consiste em o candidato executar exercícios abdominais, por flexão de 
braços, deitado em decúbito ventral, em um maior número de repetições 
dentro de suas possibilidades, no período de um minuto, obedecendo à 
tabela de pontuação abaixo: ...” 
Em função da redação incoerente do texto desse teste, o Estado 
publicou uma errata do edital no mesmo órgão oficial de imprensa, duas 
semanas antes de iniciarem as provas, com a seguinte redação: “Flexões 
abdominais: consiste em o candidato executar exercícios abdominais, por 
flexão de tronco, em decúbito dorsal em um maior número de repetições 
tocando os cotovelos nos joelhos ou coxas, no período de um minuto.” 
Como os candidatos já haviam se inscrito na prova no momento da 
percepção do equívoco da referida redação, muitos deles se 
consideraram surpreendidos, no dia da realização desse teste físico, pois 
não tomaram conhecimento da errata do edital. 
Alguns desses, que não conseguiram passar na prova de esforço 
físico, ingressaram com mandado de segurança com a alegação de que 
esse teste deve ser desconsiderado como critério de aprovação, pois foi 
incluído após as inscrições, apenas duas semanas antes do começo das 
provas e porque não foi publicado num jornal de grande circulação para 
que todos tivessem a chance de tomar conhecimento da modificação. 
Assim, alegam que houve ofensa ao princípio da razoabilidade. 
 
A quem assiste razão no caso? Dê os fundamentos jurídicos cabíveis 
(fundamentos normativos, jurisprudenciais e doutrinários). 
 
A razão no caso assiste aos candidatos, uma vez que o princípio da 
proporcionalidade ou da razoabilidade, em essência, consubstancia uma 
pauta de natureza axiológica que emana diretamente das ideias de 
justiça, equidade, bom senso, prudência, moderação, justa medida, 
proibição de excesso, direito justo e valores afins; precede e condiciona a 
positivação jurídica, inclusive de âmbito constitucional; e, ainda, 
enquanto princípio geral do direito, serve de regra de interpretação para 
todo o ordenamento jurídico. Trata-se de princípio extremamente 
importante, especialmente na situação de colisão entre valores 
constitucionalizados. 
 
Art. 2.º, VI, da Lei n. 9.784/99: “A Administração Pública obedecerá, 
dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, 
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, 
contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.” 
Parágrafo único. “Nos processos administrativos serão observados, entre 
outros, os critérios de: VI — adequação entre meios e fins, vedada a 
imposição de obrigações, restrições e sanções em medida superior 
àquelas estritamente necessárias ao atendimento do interesse público”. 
 
MANDADO DE SEGURANÇA. PROCESSUAL CIVIL. 
PRELIMINARES JÁ REJEITADAS EM SEDE DE AGRAVO 
REGIMENTAL. DESNECESSIDADE DE NOVO 
PRONUNCIAMENTO DA CORTE SOBRE REFERIDAS 
MATÉRIAS NO MESMO PROCESSO. DECISÃO FINAL. 
EFEITOS DECLARATÓRIO E PARCIALMENTE 
CONSTITUTIVO. Desnecessário se mostra novo 
pronunciamento da Corte sobre matérias já examinadas 
em sede agravo regimental no mesmo processo, tendo 
o julgamento final a ser proferido, unicamente, os 
efeitos declaratório e parcialmente constitutivo, esteúltimo por força do âmbito meritório. MÉRITO. 
CONCURSO PÚBLICO PARA DELEGADO DE POLÍCIA. 
TESTE DE APTIDÃO FÍSICA. LESÃO AOS PRINCÍPIOS 
DA RAZOABILIDADE, PROPORCIONALIDADE, 
LEGALIDADE, IGUALDADE E PUBLICIDADE. DIREITO 
LÍQUIDO E CERTO FUSTIGADO. INVALIDAÇÃO DO ATO 
ADMINISTRATIVO. CONCESSÃO DA SEGURANÇA. 
INCIDÊNCIA DO ARTIGO 1º, DA LEI 1.533, DE 31 DE 
DEZEMBRO DE 1951 C/C CAPUT DO ARTIGO 37, DA 
CONSTITUIÇÃO FEDERAL. I. Lesionador dos 
Princípios da Razoabilidade, Proporcionalidade e 
Igualdade, a realização de teste de aptidão física 
que cria tratamento diferenciado além do 
imprescindível para o exercício do cargo objeto do 
concurso, mormente quando subsistir meio alternativo 
para que a comissão chegue aos resultados sem 
lesionar direito líquido e certo e impor sacrifícios que 
exijam habilidades desnecessárias para que se chegue 
ao mesmo fim. II. Fere o princípio da legalidade, a 
realização de teste com caráter eliminatório, sem 
previsão legal deste, sendo insignificante tal 
materialização de previsão apenas em sede de regra 
editalícia. III. A publicação de errata que modifica 
prova inerente a concurso público, sem veiculação 
em jornal de grande circulação, fustiga o Princípio 
da Publicidade, este expressamente previsto no 
caput, do artigo 37, da Constituição Federal. IV. 
Inconsistente o ato administrativo, que em um só 
certame lesiona inúmeros princípios constitucionais, 
dissociando-se da sua finalidade, por inoportuno, 
inconveniente e ilegal, sendo necessário sua invalidação 
pela própria administração ou por provocação do Poder 
Judiciário, através do meio judicial eficaz. 
 
(TJ-MA - MS: 84912002 MA , Relator: CLEONICE 
SILVA FREIRE, Data de Julgamento: 28/03/2003, SAO 
LUIS)

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