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É impossível não comunicar reflexões sobre os fundamentos de uma nova comunicação

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06
“É impossível não comunicar”: reflexões
 sobre os fundamentos de uma nova
 comunicação
Viviane Borelli
Doutoranda em Ciências da Comunicação/Unisinos, bolsista da The International Study
Commission On Media Religion Culture/EUA e professora de Jornalismo da Unifra.
RESUMO
O objetivo é refletir sobre o conceito de comunicação proposto pelos estudos
desenvolvidos pela Escola de Palo Alto, a partir dos anos 40, nos EUA. O artigo resulta
de pesquisa bibliográfica e reflexões teóricas. O conceito de comunicação ultrapassa
a idéia de linearidade, sendo compreendido a partir da complexidade inerente às
interações, relações e vínculos estabelecidos entre os atores sociais.
Palavras-chave: comunicação; Palo Alto; Teoria da Comunicação; interação.
ABSTRACT
The aim of this work is to reflect upon the concept of communication proposed by the
studies developed by Palo Alto School, since the 40s, in the USA. The article results of
a bibliographic research and theoretical reflections. The concept of communication
surpasses the idea of linearity, being understood from the complexity related to the
interactions, relations and links among the social actors.
Key words: communication, Palo Alto, Theory of communication, interaction.
RESUMEN
El objetivo es reflexionar acerca del concepto de comunicación propuesto por los
estudios desarrollados por la Escuela de Palo Alto, a partir de los años 40, en los EUA.
El artículo resulta de investigación bibliográfica y reflexiones teóricas. El concepto de
comunicación ultrapasa la idea de linealidad, siendo comprendido a partir de la
complejidad inherente a las interacciones, relaciones y vínculos establecidos entre
los actores sociales.
Palabras-clave: Comunicación; Palo Alto; Teoría de la Comunicación; interacción.
72 Diálogospossíveis
Viviane Borelli
O objetivo do texto é fazer uma reflexão sobre o conceito de comunicação proposto
pelos estudos da Escola de Palo Alto, fundada em 1942, nos Estados Unidos, tendo com
precursor Gregory Bateson. O interesse em refletir sobre o tema decorre da prática de
ensino na disciplina de Teoria da Comunicação, ministrada no Centro Universitário
Franciscano, e também dos estudos empreendidos para os seminários apresentados no
doutorado em andamento no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação
pela Unisinos.
Compreende-se que os estudos realizados pelos integrantes da Escola de Palo Alto
propõem reflexões interessantes para aqueles que fazem parte do campo da comunica-
ção, seja no papel de pesquisadores, professores ou estudantes.
Uma das principais dificuldades para quem ensina Teoria da Comunicação é discutir
com os alunos o conceito de comunicação, geralmente compreendido e relacionado ape-
nas ao que diz respeito à informação, à passagem de uma mensagem de um emissor
para um receptor. Nesse ponto, o conceito de comunicação proposto pelos pesquisadores
da Escola de Palo Alto, que ficaram conhecidos como integrantes do Colégio Invisível,
ultrapassa os limites impostos por uma comunicação antes compreendida apenas como
transmissão.
A reflexão é fruto de pesquisa bibliográfica que tem sido realizada para a prática de
ensino de Teoria da Comunicação, desde 2003, e também decorre dos primeiros aponta-
mentos realizados para apresentação de um Seminário no curso de doutoramento, em
2004, sobre a Nova Comunicação, título de obra escrita por Yves Winkin1 (1996,1998).
 Primeiras reflexões: mapeando o campo
O objetivo, neste espaço, é apontar alguns dos principais conceitos desenvolvidos
pelos pesquisadores que fizeram parte da Escola de Palo Alto, em que foram delineados
os fundamentos de uma “nova comunicação”. Esses pensadores, liderados por Bateson,
são apontados, por teóricos mais recentes, como precursores de uma pragmática da
comunicação, de uma ação possível, a ser realizada.
Como já foi dito, Winkin escreve que, desde a década de 1950, pesquisadores reuni-
am-se em torno de Palo Alto numa espécie de Colégio Invisível. Para que se possa com-
preender as proposições da escola, é necessário retomar, brevemente, o contexto histó-
rico e uma das principais teorias ensinadas aos estudantes de comunicação.
O período era pós-guerra; ainda triunfavam, nos EUA, os feitos nos campos de bata
1 Winkin é belga, professor da Universidade de Liége, onde implantou e dirige o Laboratório de Antropologia da Comunicação e pesquisa problemáticas
relativas a uma etnografia da comunicação interpessoal ou cultural. Para o autor, uma antropologia da comunicação nasce de uma perspectiva
orquestral da comunicação e trabalho etnográfico.
73Diálogospossíveis
 Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)
lha; muitos eram os avanços tecnológicos, especialmente em relação à engenharia. Sur-
gia, nesse período, um ‘modelo transmissional’, proposto por Shannon (1949), como um
esquema de sistema geral de comunicação (reconhecido depois como uma teoria da
informação). Nessa transmissão, uma fonte de informação produz uma mensagem, trans-
formada em sinais por um emissor, que a transporta por um canal para um receptor, que
reconstrói a mensagem para o destinatário (quem deve receber a mensagem). Nesse
processo, a mensagem pode ser perturbada por ruído2 .
Esse “modelo linear e telegráfico” ganha boa repercussão entre pesquisadores da
época. Porém, havia pensadores insatisfeitos com essa visão e isso os impulsionou na
busca de vias alternativas para pensar a comunicação fora dos limites impostos pela
idéia de transmissão de uma mensagem de um ponto para outro. Em reação à idéia de
“comunicação pela máquina” e ao “linearismo” vigente (dominantes nos anos 40 e 50),
alguns pesquisadores norte-americanos decidem investir em outros horizontes, procu-
rando refletir sobre a comunicação a partir de lógicas da comunicação interpessoal.
Começam a nascer idéias que geram o Colégio Invisível, analogia ao fato de pesquisado-
res das mais diversas áreas teóricas3 (antropologia, etnografia, psicanálise, psiquia-
tria, lingüística) e geográficas darem início à formulação de comunicação fora do
paradigma linear.
Nesse contexto, é importante ressaltar que a nova comunicação se funda em
alguns pressupostos teóricos que estavam em desenvolvimento na época, como a teoria
geral dos sistemas, elaboração de Ludwig von Bertalanffy (1950), e o princípio da retroação
ou feedback num esquema circular da cibernética de Norbert Wiener (1948). É a partir
de noções como sistema e circularidade que Gregory Bateson (1904-1980) começa a
formular uma teoria geral da comunicação. Bateson e seus interlocutores da Escola de
Palo Alto defendiam que a comunicação deveria ser estudada a partir de um modelo
próprio, das ciências humanas, e não a partir de lógicas matemáticas.
A teoria geral dos sistemas”, que vai inspirar especialmente Bateson, começa a
ser desenvolvida pelo biólogo Bertalanffy com o intuito de compreender a realidade a
partir de múltiplas inter-relações, de dependências entre seus elementos numa relação
mais global, em que há interações entre as partes e, por isso, necessidade de observar
as coisas de forma sistêmica. Opondo-se ao modelo da física estática, Bertalanffy passa
2 O modelo de Shannon é reproduzido em várias obras, com em WINKIN (1998), POLISTCHUK E TRINTA (2003), WOLF (1987) entre outros. O modelo
proposto pelo engenheiro Shannon representa uma proposição de quem trabalhava na companhia Bell Telephone em busca de melhores rendimentos
para os sistemas de comunicação da época – telégrafo, telefone. O modelo teórico-matemático da comunicação ficou conhecido como o modelo de
Shannon e Weaver, pois tem a marca de outro engenheiro, Warren Weaver.
3 Predominam as formações antropológicas (Bateson, Birdwhistell, Hall e Goffman) e psiquiátricas (Jackson, Watzlawick e Scheflen), como descreve
Winkin (1998, p.83).
74 Diálogospossíveis
Viviane Borelli
a estudar a biologia como uma ciência para todas as ciências, em que os organismos
vivos são vistos como organizações.O biólogo formulou pelo menos dois princípios: 1) de que o todo é formado pela
interdependência das partes e 2) de que é necessário tentar compreender a sociedade,
cada vez mais complexa, a partir de abordagens sistêmicas, interdisciplinares.
Bateson vai se interessar também pelo mecanismo de retroação ou feedback, abor-
dado pela teoria cibernética do filósofo matemático Wiener, para desenvolver suas pró-
prias teorias. Segundo essa idéia, o sistema não funciona de forma linear (de A para B),
mas num esquema circular, pois há adaptações e movimentos constantes (mecanismos
de idas e voltas). Pelo mecanismo de retroalimentação, há possibilidade de adaptações
e ajustes no próprio organismo e nas relações com outros sistemas (seu entorno).
Tendo como pano de fundo esses dois pressupostos – sistêmico (elementos em
interação) e circular (há relações de ida e volta, que retroagem constantemente), Bateson
desenvolve um percurso reflexivo muito extenso, estabelecendo questões teóricas im-
portantes, freqüentemente retomadas por estudiosos na compreensão do fenômeno da
comunicação.
Bateson, conhecido por ter muitas idéias teóricas e pouca aproximação com procedi-
mentos metodológicos, inicia suas formulações teóricas a partir de observações no cam-
po das ciências naturais. O zoólogo inicia observações de relações entre os animais
mas, no final dos anos 20, parte para um trabalho antropológico e passa a conviver com
tribos na Nova Guiné, encontrando suporte ‘metodológico’ na antropóloga Margaret Mead,
com quem casaria depois.
Em 1936, Bateson publica sua primeira obra, Naven, considerada um fracasso pelas
proposições que estabelece: a partir da criação do conceito de cismogênese, defende
que há dois tipos de interações – simétricas (em que as ações se realizam num mesmo
fluxo) e complementares (ocorrem em vários níveis). O conceito de interação comple-
mentar revoluciona a teoria de que o emissor tem pleno controle sobre o receptor. Bateson
contribui com os estudos em recepção, mostrando que o receptor tem poder de fazer
seus próprios vínculos.
Para Winkin (1998, p.38), a reação ao pensamento de Bateson – reflexão sobre as
alternâncias: processos de equilíbrio e desequilíbrio, possibilidades de crises e explo-
sões (movimentos em espiral) – deu-se por causa da teoria funcionalista vigente, em
que eram preconizados equilíbrio e harmonia (movimentos lineares).
Analisando-se a biografia de Bateson, percebe-se que seu pensamento percorreu um
caminho diverso da maioria dos teóricos da época (talvez por isso tenha sido tão pouco
compreendido). Enquanto os seguidores da Escola de Chicago, com auge nos anos 30,
75Diálogospossíveis
faziam longas descrições e observações de campo, com muitos dados etnográficos, Bateson
os concebia apenas como “materiais ilustrativos”, pois o que importava era a “elabora-
ção teórica” (Winkin, 1998, p.37-8). Esse princípio ia justamente na contramão de
Chicago, que tinha pouca preocupação com a teoria e muito com o empirismo. Outra
diferença importante entre as duas escolas é que, enquanto os pesquisadores da Escola
de Chicago se preocupavam em analisar grupos marginais ou grandes organizações soci-
ais, os pensadores de Palo Alto dirigiam seus olhares para as pequenas interações, os
‘pormenores da sociedade’.
Porém, observa-se que, na obra de Bateson, há alguns traços de um dos métodos de
pesquisa bastante utilizados na época, o interacionismo simbólico4 (expandido justa-
mente a partir de Chicago), que tinha como premissa principal a natureza simbólica da
vida social, o estudo da interpretação a partir dos símbolos provenientes dos atores em
suas “atitudes interativas”. De um certo ponto de vista, Bateson leva alguns desses
pressupostos interacionistas para tentar compreender a comunicação5 : ela é condição
para que haja interação e a sociedade é considerada uma comunidade (que partilha, que
põe em comum, como o sentido etimológico de comunicação) de ação e comunicação.
Essas redes teóricas mostram que não há um discurso fundador, mas uma multiplicidade
discursiva em constante construção.
Com um longo trabalho etnográfico, Bateson viria, mais tarde, a criar o conceito de
duplo vínculo 6, a partir de observações entre pais e filhos nas aldeias de Bali. A hipótese
refere-se a uma rede de relações contraditórias, paradoxos, trocas, estímulos e reações
que têm sempre uma ação retroativa, uma circularidade que se repete, em que alguns
códigos são mais redundantes que outros. Se essas configurações forem conhecidas,
será possível fazer avaliações e mudar as condutas7 .
As idéias das interações simétrica e complementar continuam muito vivas no pensa-
mento de Bateson. Ainda nos anos 40, o pensador ouve falar de feedback e procura,
então, dar seguimento à proposta de elaborar uma teoria geral da comunicação a partir
da cibernética e da teoria dos tipos lógicos (Whitehead e Russel), passando a mergulhar
no mundo da psiquiatria. Em 1956, Bateson e alguns colaboradores apresentam o que
4 O interacionismo simbólico, modelo teórico de como podemos descrever as ações, foi inaugurado por Herbert Blummer, que criou o termo em 1937,
seguindo ensinamentos de George Herbert Mead, que teve herança teórica de Georg Simmel. O interacionismo simbólico está ligado teoricamente à
Escola de Chicago.
5 O objetivo aqui não é contrapor uma ‘Escola’ a outra, mas simplesmente tentar compreender os pressupostos de Palo Alto, mesmo porque alguns
teóricos passaram pelas duas escolas, como é o caso de Goffman (enquadrado por muitos autores como 3a geração de Chicago, tendo seus principais
fundamentos em Palo Alto). As duas escolas são ‘enquadradas’ no campo da pragmática da comunicação.
6 O termo original é double bind e foi traduzido para português de várias formas. SFEZ (1994) utiliza o termo como dupla restrição. Convencionei
duplo vínculo por ser a forma mais comum em português.
7 Alguns desses conceitos desenvolvidos por Bateson e Watlawick são aplicados em Programas de Neuro-linguística.
 Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)
76 Diálogospossíveis
seria a hipótese do duplo vínculo, a partir de experiências com esquizofrênicos. Porém,
a teoria apresenta muitas contradições e se aproxima, dizem os críticos, de uma teoria
behaviorista.
Mesmo com as críticas, Bateson segue seus estudos, sempre com auxílio de novos
integrantes, na tentativa de compreender as interações, as experiências que se desen-
rolavam entre as pessoas, não importando a que ambiente se aplicavam (acreditava que
as questões de interação poderiam ser aplicadas a qualquer campo de conhecimento).
Segundo Winkin (1998, p.48), Bateson e sua equipe insistiam no fato de que a teoria do
duplo vínculo não poderia ser entendida em termos de estímulo – resposta (obediência –
recompensa), mas em “termos de pessoas tomadas num sistema permanente que pro-
duz definições conflituais da relação”. Essa abordagem influenciou, nos anos 60, estudi-
osos da terapia familiar, como Don Jackson, John Weakland e Jay Haley. Esses pensado-
res entendem a família como um sistema governado por regras, que está sempre em
equilíbrio, graças à busca de reorganização constante (eles concebem a família enquan-
to um sistema homoestático). Esses métodos de terapia representaram uma reação ao
modelo freudiano, concebido como causal e baseado apenas no indivíduo. Nota-se que
havia distintas correntes, pois outros psicanalistas de Palo Alto continuavam tratando o
paciente como indivíduo e não como sistema.
Coube ao psiquiatra Paul Watzlawick dar continuidade e aprofundamento a algumas
idéias de Bateson. Uma das primeiras críticas aos colegas de Palo Alto é que “a interação,
como sistema, não se reduz à soma de seus elementos. Aliás, é justamente essa a razão
pela qual eles se inserem no modelo orquestral da comunicação” (Winkin, 1998, p.63).
Watzlawick e alguns colegas desenvolvem uma abordagem diversa em relação ao concei-
to de sistema que vinha sendo concebido na terapia. Para eles,poderia haver duas
situações: mudança 1, que seria uma “modificação no interior de um sistema” e uma
mudança 2, que seria uma “transformação do próprio sistema”.
Dessa forma, o sistema não poderia ser concebido num funcionamento fechado, pois
a “solução de um problema interno poderia vir de fora, gerando uma reorganização dos
elementos num sistema novo” (Winkin, 1998, p.64). É interessante observar que a
noção de sistema vai sendo alterada com o decorrer dos estudos. Muitos o compreendi-
am de forma fechada, mas a maioria o entendia como algo que vai se construindo, seja
a partir de características internas, geradas pelo próprio sistema, ou de fatores exter-
nos a ele.
Em sua teoria da terapia paradoxal, Watzlawick utiliza a linguagem do paciente para
modificar a situação atual, considerando a natureza relacional do sintoma para, depois,
se necessário, tentar uma mudança 2. Porém, como Watzlawick ficou muito preso a uma
Viviane Borelli
77Diálogospossíveis
teoria voltada para a psiquiatria, coube a Ray Birdwhistell, com formação em antropolo-
gia e lingüística, voltar-se ao projeto de uma teoria geral para a comunicação. Em seus
estudos, Birdwhistell funda a kinésica, uma antropologia da gestualidade, estabelecen-
do, a partir de observações de casais de namorados e de gravações feitas por Bateson
na aldeia de Bali, o preceito de que o comportamento social tem regras e códigos própri-
os. Para o antropólogo, cada contexto de interação, em diferentes culturas, apresenta
significados que são socialmente aceitos. Com o passar de suas experiências, Birdwhistell
está convencido de que não é possível um estudo isolado da gestualidade ou da lingua-
gem, pois elas são categorias integradas e que constituem uma multiplicidade de modos
de comunicação (Winkin, 1998, p.77-8).
O psicanalista Albert Scheflen desenvolveu um trabalho complementar ao de
Birdwhistell, procurando realizar uma análise contextual, a partir de pressupostos da
teoria geral dos sistemas, analisando sessões de terapia. Scheflen tenta descrever um
método para estudar o processo global de uma interação, analisando postura, movimen-
tos, o espaço na interação, retomando o trabalho desenvolvido anteriormente pelo an-
tropólogo Edward Hall. Este pesquisador dedicou-se ao estudo do espaço entre os indiví-
duos em interação, o que chamou de proxêmica, acreditando que a cultura poderia ser
decifrável. Hall defendeu a tese de que cada cultura organiza o espaço de maneira dife-
rente, distinguindo quatro distâncias: íntima, pessoal, social e pública. Para ele, a interação
obedece a regras, compartilhando essa visão com outros integrantes do “Colégio Invisí-
vel”, como o antropólogo Goffman, que foi aluno de Birdwhistell.
Goffman dedicou-se ao estudo das normas sociais que orientam a vida cotidiana, a
partir de observações de situações de interação muito corriqueiras, como o ato de jogar,
comer, de tratar os doentes num hospital psiquiátrico, etc. Para ele, nas interações
cotidianas, há uma rede de interações reguladas pelas reações sociais. Ou seja, o com-
portamento é regido por códigos e regras que são determinantes nas interações entre os
indivíduos.
Uma das obras mais reconhecidas de Goffman é a Representação do eu na vida coti-
diana (1956), em que o comportamento social é comparado à encenação teatral. Segun-
do Goffman (1985), todo indivíduo, seja qual for a situação social, apresenta-se diante
dos ‘outros’ com estratégias para tentar dominar as impressões que possam ter dele,
empregando técnicas para a sustentação de seu desempenho, como um ator em cena.
Para o autor, dentre os vários rituais possíveis, o indivíduo seleciona aqueles que acre-
dita terem a melhor repercussão em situações de interação. Goffman combina bases
teóricas e metodológicas da Escola de Chicago e de Palo Alto, utilizando categorias do
interacionismo simbólico com outras abordagens, como a análise dramatúrgica, para
 Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)
78 Diálogospossíveis
mostrar a retórica da vida cotidiana, trabalhando com etnografia da fala e comunicação
não-verbal.
Segundo Samain (2001), Bateson delineou alguns parâmetros de uma nova comunica-
ção, de uma antropologia da comunicação e de uma epistemologia da comunicação. O
pesquisador brasileiro resume algumas das principais idéias de Bateson para a fundação
de uma epistemologia da comunicação: “o universo é um imenso organismo em cons-
tante interação”; “ o conhecimento deve ser construído no campo do empirismo”; “deve-
se falar numa epistemologia vinculada a um prévio e constante trabalho de observa-
ção”; “todo conhecimento se insere num contexto” e “a observação e experimentação
de construção de conhecimento são sempre constituídas por “informações de diferen-
ças””. Para o autor, a “epistemologia de Bateson busca sempre entender como se cons-
troem as “idéias que nós fazemos das coisas”.
Depois de fazer esse breve mapeamento das idéias desenvolvidas pelos integrantes
do Colégio Invisível, com objetivo principal de compreender o percurso teórico dos pen-
sadores dessa nova comunicação, passa-se à interpretação e análise de seus fundamen-
tos com o intuito de refletir sobre as bases da abordagem para uma teoria da comunica-
ção.
“Nova comunicação”: compreendendo seus fundamentos
Como já foi referido, os integrantes de Palo Alto buscavam uma compreensão da
comunicação a partir de um modelo próprio, rejeitando as bases vigentes na época, de
linearidade e funcionalidade, propostas pelo modelo telegráfico desenvolvido por Shannon
e Weaver. Para eles, a comunicação desenvolve-se em vários níveis e não apenas do
emissor para o receptor, numa relação simétrica.
A comunicação é como uma orquestra sem maestro, na qual todos os músicos são
parte do show e fazem a sua própria música a partir de códigos comuns que orientam
seus comportamentos (seria a partitura). Nesse ponto, parece que a idéia-chave é o
caráter relacional e integrado da comunicação, já que ela se realiza em múltiplas redes
de significação.
A partir do percurso dos vários componentes da Escola, observa-se uma preocupação
geral – a de compreender a interação num contexto cultural diverso e singular, em que
ocorrem várias relações, de diversas ordens e em diferentes níveis, assimétricas. Para
Bateson8 , a comunicação seria uma estrutura que une, uma linha que conecta as pesso
8 Bateson sempre se questiona “qual é a estrutura que liga os seres vivos?”
Viviane Borelli
79Diálogospossíveis
as em interação e que estaria, portanto, entre, como uma espécie de sustentação des-
sas relações interpessoais. A teoria do duplo vínculo ilustra esses movimentos de idas e
vindas, dando-se destaque ao caráter relacional da comunicação, em que múltiplas for-
mas e sentidos são gerados a partir desse jogo de interação.
Essa nova comunicação é encarada não como ato individual, resultante de uma ação
puramente cognitiva, mas como uma instituição cultural, que se realiza num determina-
do contexto social. O indivíduo seria, então, não algo em si, mas um sistema de rela-
ções. A comunicação não seria, assim, fundada na singularidade do eu, mas em algo que
está nas relações entre – em nós (eu e os outros). É interessante observar que essa
concepção pode ser compreendida também como um jogo, no sentido de múltiplas rela-
ções, em que vários integrantes entram em comunicação com suas próprias expectati-
vas (biografias, características psicológicas e sociais, valores e identidades que consti-
tuem seus ethos).
Ao contrário da teoria funcional, em que a comunicação é compreendida como uma
determinação, uma simples atribuição de A para B (emissor-receptor), na perspectiva de
Palo Alto, a comunicação é, sobretudo, relacional, em que os indivíduos participam, são
membros e parte constitutiva dessa comunicação e não meros transmissores ou ‘espec-
tadores’ que têm uma função pré-determinada. Birdwhistell formulou a seguinte propo-
sição, que representa com autoridade a nova concepçãode comunicação: “Não nos co-
municamos, participamos da comunicação”.
A partir de algumas das proposições dos teóricos da escola, percebe-se que as idéias
desenvolvidas auxiliam na compreensão das estratégias que os indivíduos desenvolvem
em seus vínculos com a sociedade. Muitas das observações realizadas pelos teóricos de
Palo Alto remetem ao funcionamento das interações na vida cotidiana, seja em situa-
ções micro ou macro estruturais.
Algumas pistas dessa comunicação relacional levam ao texto Da regra às estratégi-
as9, de Pierre Bourdieu, em que o autor define que há sempre estratégias para fugir ou
driblar as regras. Dessa forma, concebe-se a comunicação como algo em permanente
construção pois, mesmo com regras culturais explícitas ou implícitas (convenções, atri-
buições) que permeiam e fundam as interações, os indivíduos em processo de comuni-
cação elaboram suas próprias estratégias para produzir os mais variados sentidos.
Como foi dito no início, muitos dos pesquisadores de Palo Alto se detiveram na
explicitação desses códigos e regras comuns de interação. Questionavam-se sobre a
9 A noção de estratégia prevê uma ruptura com o ponto de vista objetivista, sendo entendida como produto do senso prático. A quebra da regra e o
deslocamento para uma estratégia supõem “uma invenção permanente, indispensável para se adaptar às situações indefinidamente variadas, nunca
perfeitamente idênticas” (BOURDIEU, Pierre. Coisas Ditas. São Paulo: Editora Brasiliense, 1990).
 Ano 4, n.2 (agos./dez. 2005)
80 Diálogospossíveis
escolha de alguns códigos (sejam verbais ou não-verbais), dentre inúmeros, para esta-
belecer significados. Que códigos eram retidos pela cultura para que houvesse comuni-
cação? Em busca de respostas, muitos partiram para estudos de campo, mas o intuito de
compreender a interação em sua complexidade esbarrava em problemas constitutivos
da própria questão.
Em que medida a comunicação, entendida como “um processo social permanente que
integra múltiplos modos de comportamento” (Winkin, 1998, p.32) poderia ser descrita?
Bateson reconhecia a complexidade desses processos, afirmando que “os sistemas de
regras possíveis que duas pessoas podem ter em comum são numerosos e complexos”
(Bateson in Winkin, 1996, p.136). A interação humana é complexa porque não temos
controle sobre os outros, nossas ações podem ser conscientes em muitos momentos,
mas são inconscientes em tantos outros.
A complexidade humana pode ter sido um dos principais empecilhos para a proposi-
ção ímpar de Palo Alto - de que a comunicação deveria ser vista como um todo integrado,
sem comandantes nem comandados, sem ponto de partida ou ponto de chegada (a or-
questra em funcionamento sem partituras e maestro). Na descrição inicial, foi visto que
a maioria dos teóricos acabou direcionando seu olhar a um ou outro enfoque: o gesto, o
espaço interacional, os rituais rotineiros, as metacomunicações, o contexto cultural,
etc, justamente pela complexidade dos objetos que se propunham a observar e analisar.
Bateson, com inspiração na cibernética, a partir da proposição de que as interações
são circulares, defende que somente alguns aspectos do processo de comunicação hu-
mana são conscientes (conclusão tomada a partir da teoria freudiana). Ou seja, a comu-
nicação não é um ato simplesmente cognitivo, que se realiza da forma como é esperado.
Esse caráter de não-controle sobre o que é dito é explicitado pelo fato de que as regras
de percepção são modificadas pela forma como os outros recebem nossas mensagens
(Bateson in Winkin, 1996, p.139).
Para Bateson, essas interações são efetivadas por trocas circulares em que está
sempre presente uma diferença. Isto é, ações de reconhecimento/estranhamento esta-
riam vinculadas a mecanismos de geração de diferenças. Nesse sentido, as relações
interpessoais estão perpassadas por fatores que constituem nossas diferenças como
seres singulares.
Essas questões estão presentes no processo de aprendizagem, pois as interações só
se efetivam a partir do estabelecimento de relações mútuas, que pressupõem códigos
comuns em interação com nossos próprios ‘mundos’, nossa biografia, quer dizer, algo
anterior ao estado atual.
Para definir uma teoria da aprendizagem e suas patologias, Bateson relaciona graus
Viviane Borelli
81Diálogospossíveis
de aprendizagem às várias formas de percepção humana: o primeiro grau seria simples-
mente a ação de receber sinais (grau zero); o segundo estaria relacionado com o que foi
recebido, seria uma reação; o terceiro seria “aprender a maneira de aprender a receber
sinais”; o quarto estágio seria a capacidade de perceber e fazer diferenciações (Bateson
in Winkin, 1996, p.141 e 142).
Esses graus de percepção e aprendizagem foram aplicados por Bateson para compre-
ender a dinâmica das relações, especialmente entre o psiquiatra e seu paciente. Segun-
do ele, a comunicação se realiza a partir de seqüências de aprendizagem do processo
interacional e essas percepções estão relacionadas com a cultura e as regras de funcio-
namento da sociedade.
Mesmo tendo estudado apenas a comunicação interpessoal, Watzlawick desenvolveu
um conceito interessante, em que se pode pensar a comunicação midiática. A partir da
noção de reenquadramento, segundo a qual, para fugir de determinadas situações, ines-
peradas ou que não se tem domínio das regras do jogo interacional, uma das estratégias
é um reenquadre da situação gerada, tendo-se propriedade sobre ela e construindo-se
uma situação 2, ou seja, uma realidade construída sobre a realidade primeira. Dessa
forma, questiona-se sobre os valores que permeiam a atividade midiática de
reenquadramento da realidade. Em que medida essa realidade midiatizada representa
expressões da realidade? É interessante também nos questionar sobre a percepção que
as pessoas referidas pela mídia, especialmente as fontes, têm da construção midiática,
da representação da realidade.
Um dos principais preceitos de Palo Alto é que a comunicação é um processo plural e
está sempre significando. Essa premissa da Escola - de que “é impossível não comuni-
car” - é uma das mais conhecidas, já que os integrantes compartilham dessa hipótese,
cada um com sua marca pessoal: Bateson definiu “nunca ocorre que não ocorra nada”
(Bateson in Winkin, 1996, p.128); Watzlawick especificou “não se pode deixar de comu-
nicar” (Mattelart, 2000, p.70); Goffman disse “não pode não dizer nada” (Winkin, 1998,
p.104); Hall afirmou “não há jeito de não comunicar” (Winkin, 1998, p.94).
A partir desses enunciados, que exprimem um movimento teórico em busca de uma
ciência própria para a comunicação, de uma valoração do caráter simbólico da comuni-
cação, em reação à abordagem mecanicista e telegráfica da época, pode-se repensar a
máxima de René Descartes “Penso, logo existo”. O filósofo francês do século XVII igno-
rava o conhecimento subjetivo para pensar a ciência pois, para ele, as certezas eram
resultantes apenas de um pensamento racional. Nesse sentido, os teóricos de Palo Alto
propuseram-se a pensar de forma diferente esse axioma, em que eles enunciam “é
impossível não comunicar”. Conseqüentemente, a profecia seria “Existo, logo comuni-
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82 Diálogospossíveis
co”, já que, para eles, existir significa estar vinculados, como Bougnoux (1999, p. 31)
refere-se aos pensadores de Palo Alto, através da expressão “Existir é estar vinculado”.
Ressaltando o que já foi dito, a comunicação não reside em nós, mas nas relações
entre nós. O fato é que o processo de comunicação não trata de um ato meramente
cognitivo, mas que só se constitui enquanto tal a partir de uma rede, de um feixe de
relações, em que múltiplos sentidos são produzidos.
A seguir, serão traçadas algumas das principais críticas às proposições de Palo Alto,
buscando-se arrolar idéias para pensar as relações sociais dentro de uma teoria da co-
municação.
 Algumas considerações
A proposição teórica dessa nova comunicaçãocomo gênese para pensar a sociedade,
a inscrição do homem em seu ambiente, gerou algumas reações por parte da comunida-
de científica. Uma das principais críticas a essa visão holística da comunicação é que ela
estenderia suas fronteiras para muitos campos, perdendo seus fundamentos mais signi-
ficativos.
Para algumas críticas, Watzlawick responderia, em 1977, que os preceitos deveriam
ser compreendidos dentro do ponto de vista de Palo Alto, de que “todo o comportamento
na presença de outra pessoa é comunicação” (Mattelart, 2000, p.70).
Críticas semelhantes a Palo Alto foram (e ainda são) feitas ao interacionismo simbó-
lico da Escola de Chicago. As principais razões para desconfiar das proposições das duas
escolas são a limitação a fenômenos de ordem apenas interpessoal, o fato de que as
relações de poder/dominação são ignoradas e que a teoria fica no nível do mundano
esquecendo-se a complexidade das relações macro (JOAS, 1999). Como as duas escolas
concebem as relações sociais como algo em permanente construção e não como mera
atribuição, em que o enfoque está na reciprocidade, é natural que os preceitos delas
sejam contrapostos aos de outras visões, mais centradas na funcionalidade e linearidade
da ação.
A partir dessas constatações, concebe-se que a ação social não pode ser vista como
um ato mecânico, de cumprimento de metas, pois está impregnada de sentidos. A ação
vista apenas como um fim deixa de fora movimentos simbólicos (subjetividades, ideo-
logias, anseios, expectativas, etc) que são construídos no processo e isso pode acarre-
tar num esvaziamento das subjetividades constitutivas das relações sociais.
Outra crítica ao Colégio Invisível é sua audácia de apresentar-se como nova, passan-
do por cima de grandes pensadores (como Marx, Lacan, Husserl). Para SFEZ (1994,
Viviane Borelli
83Diálogospossíveis
p.184), “a rejeição do “velho” vai de mãos dadas com uma característica do pragmatismo
que se desloca para Palo Alto: um reconhecimento roborativo do presente, uma filosofia
da simultaneidade, bem mais otimista e desembaraçada das nostalgias do começo”.
Conforme o autor, uma negação do passado, que é simplesmente arquivado, é um traço
típico da cultura americana. Essas críticas podem ser vistas como o alto preço a ser pago
pelo fato de apresentar-se como novo, pois a expressão pressupõe que algo foi deixado
para trás.
Algumas das críticas a Palo Alto foi que os estudos resultaram na não criação de uma
teoria da comunicação, mas apenas em teorias da terapia, da esquizofrenia, dos víncu-
los. Muitos livros de teoria da comunicação, inclusive, não abordam uma linha sequer
sobre o Colégio Invisível.
Mesmo que a escola não tenha desenvolvido seus estudos sobre a comunicação de
massa, apreende-se que a contribuição principal repousa sobre as múltiplas facetas da
comunicação espontânea e interpessoal. Nesse sentido, avalia-se que a compreensão do
funcionamento de nossa sociedade passa também pela observação e análise das rela-
ções, dos vínculos estabelecidos no dia-a-dia.
As abordagens teóricas realizadas pelo Colégio Invisível podem ser aplicadas a obje-
tos do campo da comunicação com contribuições no sentido de compreender o conceito
de comunicação de forma mais abrangente, fugindo da idéia linear e reducionista em
que o ato de comunicação resume-se à transmissão de informação.
A partir de uma observação de Hall (Winkin, p.93), de que cada cultura organiza o
seu espaço de maneira diferente – é possível aprofundar as questões do autor em estu-
dos de recepção ou de observação de ambientes, já que essa organização espacial pode
revelar valores, identidades e traços de interações, a partir das relações entre os atores
ou deles como seu ambiente.
Parece no mínimo instigante a proposição de Winkin, que segue os preceitos de Palo
Alto, para pensar a comunicação antropologicamente. A partir de elementos da etnografia,
busca pesquisar situações e comportamentos em que a comunicação aparece como valor
primordial. Se concebemos a comunicação como categoria central na sociedade, ela
deve ser analisada em suas várias formas – interpessoal, tecnológica, via mídias, etc.
Algumas pistas de Palo Alto nos ajudam a compreender as estratégias de construção de
vínculos na sociedade, ou seja, o funcionamento da sociedade a partir das relações que
os indivíduos desenvolvem todos os dias para constituírem-se como sujeitos, que têm
uma identidade, uma biografia, valores, expectativas, desejos, etc.
Os teóricos de Palo Alto nos fazem perceber que a comunicação está presente em
toda atividade cotidiana, provam que não é preciso fazer o que muitos de seus
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antecessores faziam – ir a povoados distantes para perceber a comunicação em rituais
exóticos. A comunicação está nos pequenos rituais cotidianos, nos ‘pormenores’ da
sociedade, em qualquer lugar.
As principais contribuições dos estudos de Palo Alto repousam sobre o fato de que a
comunicação é muito mais que um processo linear de transmissão de uma mensagem de
um emissor para um receptor, pois as interações sociais são marcadas pela complexida-
de constitutiva dos atores sociais. Além disso, compreender como são estabelecidos os
vínculos e as relações passa por um aprofundamento do conceito meramente funcional e
simétrico da comunicação.
Nesse contexto, os teóricos de Palo Alto lançam alguns desafios àqueles que ensinam
as teorias da comunicação, fazendo com que o conceito de comunicação possa ser com-
preendido num jogo relacional, em que os vínculos e estratégias entre os comunicantes
estão em permanente construção.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BATESON, Gregory. Comunicación. In WINKIN, Yves (org.). La nueva comunicación.
Madrid: Kairós, 1996.
BOUGNOUX, Daniel. Introdução às ciências da comunicação; tradução de Maria Leonor
Loureiro. Bauru, SP: EDUSC, 1999.
JOAS, Hans. Interacionismo simbólico in GIDDENS, Anthony e TURNER, Jonathan. Teoria
Social Hoje. São Paulo: Unesp. 1999.
GOFFMAN, Erving. A representação do eu na vida cotidiana. Petrópolis, RJ: Vozes,
1985.
MATTELART, Armand e Michèle. (Tradução de Luiz Paulo Rouanet). História das teorias
da Comunicação. São Paulo: Loyola, 2000.
POLISTCHUK, Ilana e TRINTA, Aluízio Ramos. Teorias da Comunicação. Rio de Janeiro:
Campus, 2003.
RUDIGER, Francisco. Introdução à teoria da comunicação. São Paulo: Edicon, 2003.
SAMAIN, Etienne. Gregory Bateson: rumo a uma epistemologia da comunicação. In
Ciberlegenda, n.5, 2001. Artigo pesquisado em junho no site www.uff.br
SFEZ, Lucien. Crítica da comunicação. São Paulo: Loyola, 1994.
WINKIN, Yves. La universidad invisible. In WINKIN, Yves (org.). La nueva comunicación.
. Madrid: Kairós, 1996.
___. A nova comunicação: da teoria ao trabalho de campo. SP: Papirus, 1998.
WOLF, Mauro. Teorias da Comunicação. Lisboa: Presença, 1987.
Viviane Borelli

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