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Direito_das_Sucessões I - FGV

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ROTEIRO DE CURSO
2010.1
1ª EDIÇÃO
DIREITO DAS
SUCESSÕES
VOLUME I
AUTOR: EDUARDO TAKEMI KATAOKA
Sumário
Direito das Sucessões
InTRODUçãO ..................................................................................................................................................................................3
PlanO gERal DO CURSO .................................................................................................................................................................6
 Parte I: Conceitos Fundamentais de Direito das Sucessões ...................................................... 6
 Aula 1: Sucessão: conceito e Fundamentos. Abertura da Sucessão. Tempo e Lugar da Sucessão. 
 Conseqüências da abertura da sucessão............................................................................... 7
 Aula 2: Ordem de Vocação Sucessória. Aceitação e renúncia da herança. Heranças e Legados. 
 Herança Jacente e Herança Vacante. .................................................................................. 19
 Aula 3: Capacidade e Legitimidade para Suceder. Exclusão de Herdeiros e Legatários 
 (indignidade e deserdação). ............................................................................................... 37
 Aula 4: Cálculo da Legítima. Doações Anteriores à Abertura da Sucessão. Colação e Sonegados. ... 45
 Aula 5: Ordem de Vocação Hereditária. Sucessão de Ascendentes e Descendentes. 
 Sucessão concorrente do Cônjuge. .................................................................................... 62
 Aula 6: Ordem de Vocação Hereditária. Sucessão dos cônjuges e companheiros. 
 Sucessão dos colaterais. ..................................................................................................... 75
 Aula 7: Introdução à Sucessão Testamentária. Formas Testamentárias. Liberdade de Testar 
 e os seus Limites. ............................................................................................................... 96
3FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
introdução
O presente programa de Direito das Sucessões está fundado na premissa de que 
os alunos deverão estudar uma média de 30 páginas/semana para as aulas respec-
tivas. A metodologia empregada será aquela socrática, exigindo a participação do 
aluno em diversos níveis: nos debates em sala de aula, escrevendo artigos para a 
Wiki, etc.
A ênfase do curso será no planejamento sucessório, dado o projeto pedagógico 
da Escola de Direito Rio da Fundação Getúlio Vargas. Objetiva-se com a disciplina 
possibilitar que o aluno se capacite para atuar como advogado em operações de 
planejamento sucessório, bem como, avaliar a legalidade das operações realizadas, 
dadas as duas possíveis vertentes de especialização do aluno na Escola.
Todo um direcionamento será dado, portanto, para a formação prática do aluno, 
possibilitando que ele raciocine com os conceitos fundamentais do Direito das Su-
cessões, em um mundo progressivamente mais exigente de soluções ágeis e seguras 
para garantir a gestão e circulação do patrimônio. A sucessão causa mortis é, por 
sinal, uma das formas mais relevantes de circulação patrimonial.
Um planejamento sucessório adequado induz uma sucessão tranqüila e com 
menores custos financeiros e emocionais para a família envolvida. Ademais, quando 
existe um patrimônio cuja gestão é complexa, possibilitar a escolha do sucessor mais 
capaz, ou mesmo garantir a terceirização (profissionalização) da administração é 
uma forma de preservar o próprio patrimônio familiar.
Para o adequado desenvolvimento da proposta, o curso será dividido em duas 
grandes unidades: Fundamentos da Sucessão e Instrumentos de Planejamento Su-
cessório. O inventário enquanto procedimento judicial será discutido apenas de 
forma incidental e limitada, já que o objetivo do curso é precisamente mostrar ao 
aluno como é possível evitar-se um inventário longo e complexo.
Na Primeira Parte serão discutidos os conceitos fundamentais de Direito das Su-
cessões, que são indispensáveis para o estudo proposto. A segunda parte terá parte 
das aulas dedicada ao estudo de instrumentos de planejamento sucessório, tanto 
com o titular do patrimônio ainda em vida, como após a sua morte.
Em cada aula será indicada a bibliografia obrigatória. Está sugerido o livro dos 
Prof. Giselda Hironaka e Francisco Cahali como bibliografia básica. A opção se deve 
à correção dos conceitos ali apresentados, de forma sucinta e didática, bem como às 
fartas citações de jurisprudência, que auxiliam o aluno a compreender a concretiza-
ção e operacionalidade dos conceitos estudados. O aluno pode, contudo, alternativa-
mente ler qualquer manual de Direito das Sucessões que esteja atualizado.
Além disto, ao final desta apostila de curso, será apresentada uma bibliografia 
geral, com aproximações críticas, que permitam ao aluno melhor selecionar a lite-
ratura que deseja consultar. São, também, indicados alguns manuais nesta parte da 
bibliografia.
No que toca às avaliações, a primeira nota será constituída integralmente por 
participação em aula e a escrita de verbetes para a Wiki (20% e 80% da nota, 
4FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
respectivamente). No que toca à participação em sala, contarão: presença em sala 
de aula, pontualidade, intervenções pertinentes e leitura dos textos obrigatórios e 
complementares. A segunda avaliação, no último dia de aula, será realizada por 
intermédio de uma prova, valendo 8,0 (oito pontos) com possibilidade de con-
sulta a legislação não comentada, envolvendo um caso concreto e utilização dos 
instrumentos de planejamento sucessório discutidos para equacionar os diversos 
interesses envolvidos. Ademais, serão atribuídos globalmente 2,0 (dois pontos) pelo 
desempenho no jogo de equipes em planejamento sucessório.
Para a redação de verbetes para a Wiki, é necessário que estes mencionem legisla-
ção, doutrina e jurisprudência a respeito de cada um dos temas. O uso da jurispru-
dência jamais deve ser acrítico, mas sempre comentado, confrontando-se a doutrina 
e a legislação criticamente com a jurisprudência. A extensão de cada verbete deve 
ser de, no mínimo, 1500 palavras e no máximo 2500. A entrega deverá ser feita até 
a 8ª aula do semestre. Todos os temas devem ser escolhidos. Por isso, o aluno deve 
entregar uma lista com 3 possíveis verbetes que, em caso de mais de um interessado, 
será sorteado.
Esta apostila, longe de pretender esgotar os temas apresentados, é apenas um 
roteiro para que o aluno retire das leituras indicadas os conceitos e aspectos funda-
mentais da sucessão.
Lista de verbetes que podem ser usados para a redação de verbetes para 
a Wiki
Herdeiro•	
Legatário•	
Sucessão legítima•	
Sucessão testamentária•	
Legítima•	
Cessão de Direitos hereditários•	
Planejamento sucessório•	
Pacto sucessório•	
Sonegados•	
Colação•	
Inventário•	
Partilha•	
Poder de controle•	
Usufruto•	
Acordo de acionistas•	
Ações sem direito de voto•	
Testamento•	
Testamento público•	
Testamento particular•	
Codicilo•	
5FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Vocação hereditária•	
Aceitação da herança•	
Renúncia da herança•	
Herdeiros necessários•	
Legado•	
Herança•	
Direito de •	 saisine
Deserdação•	
Indignidade sucessória•	
Sucessão por direito de representação•	
Sucessão por direito próprio•	
Fideicomisso•	
Deserdação•	
6FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Plano geral do curso
Parte I: ConCeItos FundamentaIs de dIreIto das suCessões
Nesta primeira Parte de nosso Programa apresentaremos alguns conceitos fun-
damentais e a sua operabilidade.
7FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
aula 1: sucessão: conceito e Fundamentos. abertura da 
sucessão. temPo e lugar da sucessão. conseqüências da 
abertura da sucessão.apresentação geraL da discipLina e metodoLogias de trabaLho e avaLiação
Nesta primeira aula devem ser estudados os conceitos fundamentais do Direito 
das sucessões. O primeiro ponto relevante é saber a diferença entre sucessão em 
geral e sucessão causa mortis. A sucessão implica sempre em uma mudança na titu-
laridade de bens e direitos (por exemplo, o comprador é sucessor do vendedor). Na 
sucessão que estudaremos este sentido é mais estrito: a sucessão se dá em função do 
falecimento de uma pessoa.
Para que o seu patrimônio não fique acéfalo, é preciso transmiti-lo aos herdeiros, 
o que é feito desde logo por força do princípio da saisine (art. 1.784 CC/02). Neste 
sentido, é importante definir quais os direitos que se transmitem, se apenas os pa-
trimoniais não personalíssimos, ou também os direitos da personalidade, havendo 
rica divergência neste sentido.
Da mesma sorte, é preciso que se saiba que os herdeiros não respondem por 
encargos superiores às forças da herança (intra vires hereditatis). Ou seja, não é pos-
sível receber mais dívidas do que bens no sistema do Direito Brasileiro (art. 1.792 
CC/02).
A sucessão se abre no momento da morte do autor da herança e no local onde 
ele tinha o seu domicílio. Estas definições são relevantes para que se possa avaliar a 
competência para julgar a sucessão e as regras que definem a sucessão (tempus regit 
actum).
A sucessão também pode ter diferentes fundamentos: os laços familiares (su-
cessão legítima), ou a vontade do autor da herança (sucessão testamentária). Na 
primeira forma de sucessão, incidem as regras legais de sucessão, ao passo que na 
segunda torna-se eficaz negócio jurídico feito pelo autor da herança ainda em vida 
dando destino ao seu patrimônio.
Esta, por sinal, a grande virtude da sucessão testamentária no planejamento su-
cessório: permite que o autor da herança determine vários aspectos de como se 
fará a divisão, e conseqüentemente, gestão de seu patrimônio depois de sua morte. 
Ativos estratégicos podem ser destinados a sucessores estratégicos. Direitos reais 
constituídos de modo a proteger determinados herdeiros, entre outras possibilida-
des. Estas questões serão estudadas no momento próprio.
Existem diferentes efeitos patrimoniais relevantes na abertura da sucessão. O 
primeiro deles é precisamente a passagem da titularidade dos bens do defunto para 
os herdeiros, incumbindo-lhes a gestão do patrimônio, segundo regras próprias.
Da mesma sorte, é possível alienar-se bens da herança individualmente conside-
rados, assim como o direito a sucessão como um todo. Estes negócios jurídicos são 
regulados pelas normas pertinentes do Código Civil.
8FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Leitura obrigatória para a auLa
HIRONAKA, Giselda Maria e CAHALI, Francisco José. Direito das Sucessões. 
São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, pp. 19-38 e 52-69. Em todas as aulas estas 
indicações de leitura incluem a parte de bibliografia, daí o número ser um pouco 
superior ao padrão de 30 páginas. Não é obrigatória, apesar de recomendável, a 
leitura das Referências Doutrinárias (trechos de doutrina que são transcritos ao final 
de cada capítulo).
acórdão para discussão
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ (2003/0053354-3)
RELATOR: MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA
RECORRENTE: EDITORA SCHWARCZ LTDA
ADVOGADO: ANTÔNIO AUGUSTO ALCKMIN NOGUEIRA E OUTROS
RECORRENTE: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-
TROS
ADVOGADO: LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE E OUTRO
RECORRIDO: OS MESMOS
EMENTA
CIVIL. DANOS MORAIS E MATERIAIS. DIREITO À IMAGEM E À 
HONRA DE PAI FALECIDO.
Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam 
como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, 
deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas 
de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como 
bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, 
como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de 
defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, 
são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que 
mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.
Ademais, a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econômicos para além de 
sua morte, pelo que os seus sucessores passam a ter, por direito próprio, legitimidade 
para postularem indenização em juízo, seja por dano moral, seja por dano material.
Primeiro recurso especial das autoras parcialmente conhecido e, nessa parte, par-
cialmente provido.
Segundo recurso especial das autoras não conhecido.
Recurso da ré conhecido pelo dissídio, mas improvido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acor-
dam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformi-
dade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, prosseguindo no julgamento, ante 
9FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
a aposentadoria do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira e o afastamento do Sr. 
Ministro Barros Monteiro, que eram os votos faltantes, decidiu dar por encerrado o 
julgamento deste processo, uma vez que já está aperfeiçoado pela maioria; portanto, 
por unanimidade, conhecer parcialmente do primeiro recurso especial, o dos autores 
e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento; não conhecer do segundo recurso espe-
cial, o das autoras; conhecer do recurso especial da ré e negar-lhe provimento, nos 
termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Brasília, 16 de fevereiro de 2006 (data do julgamento).
MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA
Relator
Documento: 429547 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/03/2006 
Página 2 de 16
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ (2003/0053354-3)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: - As autoras, filhas her-
deiras de Manoel dos Santos, consagrado como Garrincha, promoveram uma ação 
ordinária contra Editora Schwarcz Ltda. (Companhia das Letras Editora, nome fan-
tasia), por esta ter lançado o livro intitulado “Estrela Solitária - Um brasileiro chama-
do Garrincha”, sem autorização das autoras, alegando violação ao direito à imagem, 
ao nome, à intimidade, à vida privada, à honra e todos os conexos da personalidade 
do referido ídolo, execrando a sua memória, postulando pela indenização de danos 
patrimonial e moral. 
Em primeiro grau a ação foi julgada parcialmente procedente, reconhecendo a 
existência apenas de danos morais a serem indenizados no valor equivalente a mil 
salários mínimos, com juros de 6% ao ano, desde a citação, e em honorários advo-
catícios fixados em 10% sobre o valor da condenação.
As partes apelaram.
As autoras, para aumentar o valor da condenação por danos morais, para obter o 
reconhecimento de danos materiais, juros desde o lançamento do livro e honorários 
em 20%.
A ré, buscando a nulidade da sentença por falta de apreciação adequada da prova, 
e, no mérito, a improcedência ou a redução da indenização dos danos morais e a 
aplicação do art. 21 do CPC.
O eg. Tribunal local decidiu, sem discrepância, ter por incabível o dano moral, 
e, por maioria, admitiu o dano material a ser indenizado no valor correspondente 
a cinco por cento sobre o total do preço do livro a ser apurado em liquidação. Os 
declaratórios das autoras foram rejeitados e improvidos os infringentes da ré. As 
autoras interpuseram dois recursos especiais. O primeiro (fls. 565/575), por alega-
do dissídio e violação dos artigos 159 e 1.553 do Código Civil de 1916, buscando 
reparação pelos danos morais em valor correspondente a dez mil salários mínimos, 
postulando pela contagem dos juros a partir do ato ilícito, e que a liquidação seja 
feita por arbitramento.10FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
O segundo (fls. 638/643), com as mesmas postulações do primeiro. 
A ré, por seu turno, também ingressou com recurso especial (fls 669/680), ale-
gando ofensa aos artigos 6º e 126 do CPC, 4º da LICC, 160, I, e 1.526 do Código 
Civil de 1916, e 38, caput, da Lei 9.610/98, isso porque o direito de imagem é 
personalíssimo, não se transmitindo para as filhas, aduzindo, fundamentalmente, 
que elas não teriam legitimidade para ajuizarem a presente ação. 
Devidamente respondidos, os recursos foram obstados na origem, tendo o seu 
curso sido desembaraçado em face do provimento dado aos agravos de instrumento, 
para melhor exame, pelo eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar, então relator. 
Era o de importante a relatar.
Os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam 
como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, 
deixa de merecer proteção a imagem e a honra de quem falece, como se fossem coisas 
de ninguém, porque elas permanecem perenemente lembradas nas memórias, como 
bens imortais que se prolongam para muito além da vida, estando até acima desta, 
como sentenciou Ariosto. Daí porque não se pode subtrair dos filhos o direito de 
defender a imagem e a honra de seu falecido pai, pois eles, em linha de normalidade, 
são os que mais se desvanecem com a exaltação feita à sua memória, como são os que 
mais se abatem e se deprimem por qualquer agressão que lhe possa trazer mácula.
Ademais, a imagem de pessoa famosa projeta efeitos econômicos para além de 
sua morte, pelo que os seus sucessores passam a ter, por direito próprio, legitimidade 
para postularem indenização em juízo, seja por dano moral, seja por dano material.
Primeiro recurso especial das autoras parcialmente conhecido e, nessa parte, par-
cialmente provido.
Segundo recurso especial das autoras não conhecido. 
Recurso da ré conhecido pelo dissídio, mas improvido.
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator):
01. Começo este voto por examinar o segundo recurso das autoras, aquele lança-
do contra o v. acórdão dos embargos infringentes.
Como consignado no relatório, a sentença reconheceu a existência apenas de 
danos morais, a serem indenizados no valor equivalente a mil salários mínimos, com 
juros de 6% ao ano, desde a citação, e em honorários advocatícios fixados em 10% 
sobre o valor da condenação.
Ao julgar a apelação, o eg. Tribunal local decidiu reformar a sentença em dois dis-
tintos pontos: no primeiro, sem discrepância, para ter por incabível o dano moral;no 
segundo, e por maioria, para admitir o dano material, a ser indenizado no Valor 
correspondente a cinco por cento sobre o total do preço dos livros, a ser apurado em 
liquidação de sentença.
O pedido referente a condenação em dano moral não pode ser aqui apreciado, 
pois este tópico foi unanimemente afastado na apelação. Será objeto de apreciação 
quando analisado o primeiro recurso especial das autoras.
Igualmente não merece acolhida a postulação referente à contagem dos juros a 
partir do ato ilícito, e a que pretende que a liquidação seja procedida por arbitra-
11FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
mento. É que esses pontos adotados no v. acórdão da apelação, reformando a sen-
tença, contra os quais se volta a insurgência, foram tomados por maioria, não tendo 
as autoras ingressado com os necessários infringentes, sendo, como se sabe, “inad-
missível recurso especial quando cabíveis embargos infringentes contra acórdão proferido 
no tribunal de origem” (verbete sumular n. 207/STJ).
Nem se diga que seria cabível veicular essas inconformações nesse seu segundo 
recurso especial, ao argumento de que essas conclusões foram adotadas no r. aresto 
dos embargos infringentes interpostos pela ré, o que teria o condão de ensejar nova 
oportunidade para recorrer. É que, sobre essas conclusões, ocorreu a preclusão, obs-
táculo intransponível para a admissibilidade de qualquer recurso, inclusive o especial 
de que ora se cuida.
Com efeito, não conheço do segundo recurso especial das autoras. 
02. Aprecio agora o primeiro recurso especial das autoras e limito-me a examinar 
apenas o pedido referente ao reconhecimento da ocorrência de dano moral e a sua 
conseqüente indenização.
É que os demais pedidos dirigem-se a conclusões chegadas por maioria da Turma 
julgadora da apelação, não tendo as autoras, como acima dito, interposto embargos 
infringentes, sendo “inadmissível recurso especial quando cabíveis embargos infringen-
tes contra acórdão proferido no tribunal de origem” (verbete sumular n. 207/STJ).
Ao relatar o agravo regimental contra a liminar no mandado de segurança que 
concedeu a busca e apreensão dos exemplares disponíveis ao público do livro aqui 
ventilado, o ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, com a sua reconhecida 
autoridade sobre o assunto, assim registrou, com maestria:
“Este relator, por dever de ofício, já que não é entusiasta do futebol, nem torce para 
qualquer time, leu o Livro no último fim de semana para que pudesse proferir este voto. 
Lamentavelmente, constatei que a obra não faz justiça a um grande jogador de futebol 
que por duas vezes levou o Brasil a ser campeão do Mundo. Não se limitou o autor a re-
latar o futebol do Garrincha, a habilidade que o tornou um mito mundial, suas proezas 
nos gramados e vitórias nos campeonatos; infelizmente foi muito além, invadindo a inti-
midade do cidadão Manoel do Santos e apequenando a sua imagem. Se um quadro vale 
por mil palavras, como diz o ditado chinês, a capa do livro em exame é um longo discurso 
contra a imagem do Garrincha. Em lugar do atleta chutando a bola em gol ou dando os 
seus dribles que levavam as galeras ao delírio, mostra um homem deprimido e desolado, 
quase a figura de um farrapo humano. Pior que tudo, a imagem da capa é retratada em 
páginas de dolorosa impiedade, que aos poucos vai despindo o mito, transformando-o em 
profissional derrotado, pai irresponsável, marido infiel e ébrio inveterado. Ao final do 
Livro, Garrincha não passa de um grande logro, autêntico exemplo de fracasso humano.
Se tal não bastasse, atenta ainda o Livro agressivamente contra a intimidade do Gar-
rincha, trazendo a público relato de fatos da sua mais restrita privacidade, desde a sua 
meninice até a sua morte. Seus dotes sexuais, seus vícios ocultos, seus casos amorosos, seus 
fracassos na cama, tudo é investigado com microscópio e depois ampliado e divulgado sem 
retoques. Nem mesmo a intimidade de sua vida familiar foi poupada. Seria de mau gosto 
reproduzir aqui trechos de alguns capítulos do Livro; seria grosseiro e deprimente, mas se 
alguém quiser conferir verifique fls. 29/30, 32, 45, 74/75, 77, 90, 199, 217/218 etc.
12FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
É bem verdade que a Constituição Federal, em seu artigo 5, inciso IX, garante a 
liberdade de expressão da atividade intelectual, artistica, científica e de comunica-
ção, independentemente de censura ou licença. Até que ponto, entretanto, escudado 
nessa liberdade de expressão pode alguém invadir a intimidade alheia, conspurcar a 
sua imagem ou dela tirar proveito econômico? Tenho como certo que o limite é en-
contrado no próprio texto constitucional tendo em vista que logo no inciso seguinte 
(nº X, do artigo 5) ele garante a inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da 
honra e da imagem das pessoas. Ensina a melhor doutrina que sempre que direitos 
constitucionais são colocados em confronto, um condiciona o outro, atuando como 
limites estabelecidos pela própria Lei Maior para impedir excessos e arbítrios. As-
sim, se o direito à livre expressão da atividade intelectual contrapõe-se o direito à 
inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem segue-se como 
conseqüência lógica que este último condiciona o exercício do primeiro.
À luz destes princípios,pondera o insigne Carlos Alberto Bittar que na divulga-
ção da imagem é vedada qualquer ação que importe em lesão à honra, à reputação, 
ao decoro (ou à chamada imagem moral ou conceitual), à intimidade e a outros 
valores da pessoa (uso torpe)... Não são permitidas, pois, quaisquer operações que 
redundem em sacrifício desses valores, que receberão sancionamento em confor-
midade com o bem violado e nos níveis possíveis. (Os Direitos da Personalidade, 
Forense Universitária, 1988, p. 90/91).
O direito à privacidade, por seu turno, segundo doutrina da Suprema Corte dos 
Estados Unidos universalmente aceita, é o direito que toda pessoa tem de estar só, 
de ser deixada em paz e de tomar sozinha as decisões na esfera de sua privacidade. 
O ponto nodal desse direito, na precisa lição do já citado Carlos Alberto Bittar, 
encontra-se na exigência de isolamento mental ínsita no psiquismo humano, que 
leva a pessoa a não desejar que certos aspectos de sua personalidade e de sua vida 
cheguem ao conhecimento de terceiros. Limita-se, com esse direito, o quanto pos-
sível, a inserção de estranho na esfera privada ou íntima da pessoa. São elementos: a 
vida privada, o lar, a família etc... No campo do direito à intimidade são protegidos, 
dentre outros, os seguintes bens: confidências, informes de ordem pessoal, recorda-
ções pessoais, memórias, relações familiares, vida amorosa ou conjugal, saúde física 
ou mental, afeições, atividades domésticas etc. Esse direito, conclui, reveste-se das 
conotações fundamentais dos direitos da personalidade, devendo-se enfatizar a sua 
condição de direito negativo, ou seja, expresso exatamente pela não exposição a 
conhecimento de terceiro de elementos particulares da esfera reservada do titular. 
Nesse sentido, pode-se acentuar que consiste no direito de impedir o acesso a tercei-
ros nos domínios da confidencialidade (obra citada p. 103/104).
Costuma-se ressalvar, no tocante à inviolabilidade da intimidade, a pessoa do-
tada da notoriedade, principalmente quando exerce vida pública. Fala-se então nos 
chamados “direito à informação e direito à história” a título de justificar a revelação 
de fatos de interesse público, independentemente da anuência da pessoa envolvida. 
Entende-se que, nesse caso, existe redução espontânea dos limites da privacidade 
(como ocorre com os políticos, atletas, artistas e outros que se mantêm em contato 
com o público). Mas o limite da confidencialidade persiste preservado ; sobre fatos 
13FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
íntimos, sobre a vida familiar etc não é lícita a divulgação sem o consentimento do 
interessado.
E assim é, segundo essa mesma doutrina, porque a vida dessas pessoas com-
preende um aspecto voltado para o exterior e outro voltado para o interior. A vida 
exterior, que envolve a pessoa nas relações sociais e nas atividades públicas, pode 
ser objeto das pesquisas e das divulgações de terceiros, porque é pública. A vida 
interior, todavia, que se debruça sobre a mesma pessoa, sobre os membros de sua 
família, sobre seus amigos, integra o conceito de vida privada, inviolável nos termos 
da Constituição.
Dir-se-á a esta altura: mas Garrincha já morreu e a morte extingue a personali-
dade, e com ela a honra, a imagem, a intimidade etc. por se tratar de bens persona-
líssimos. O morto não é sujeito de direito, mormente personalíssimo. Tenha-se em 
conta, todavia, que o Código Penal pune a Calúnia contra os mortos (art. 138, § 
2º), sendo ainda certo que a Lei de Imprensa vai ainda além no seu artigo 24, punin-
do não só a calúnia contra os mortos, mas também a injúria e a difamação.
Como se vê, mesmo depois da morte a memória, a imagem, a honra e a inti-
midade das pessoas continuam a merecer a tutela da lei. Essa proteção é feita em 
benefício dos parentes dos mortos para se evitar os danos reflexos que podem sofrer 
em decorrência da injusta agressão moral a um membro da família já falecido. Assim 
como a morte do chefe da família acarreta dano material reflexo aos seus dependen-
tes, por ficarem sem o sustento, a ofensa aos mortos atinge também reflexamente 
a honra, a imagem, a reputação dos seus familiares sobreviventes. Quem gostaria 
que fosse divulgado que é filho de um beberrão, de um irresponsável e mulherengo? 
Quem não se empenharia em impedir que a memória do seu falecido pai fosse assim 
conspurcada. Se a honradez ou a boa fama de um nosso antepassado reflete sua luz 
benéfica sobre o nosso nome e a lembrança da honorabilidade dele constitui um 
prestígio para nós no seio da sociedade, de modo que a sua boa fama se torna um 
direito nosso, o descrédito lançado sobre a memória de um nosso parente morto 
projeta igualmente sobre nós sua sombra funesta e de certo modo nos comunica o 
mesmo desdouro, vexando-nos e diminuindo o nosso valor moral. O respeito aos 
mortos outra coisa não é que o respeito à integridade moral dos seus descendentes 
e a consideração que desfrutam junta à sociedade. O direito violado pela ofensa aos 
mortos é, portanto, um verdadeiro e próprio direito que reside na pessoa dos seus 
parentes supérstites.
Há um último aspecto a ser destacado. Garrincha morreu pobre, nada deixou de he-
rança à sua numerosa prole, a não ser seu nome, a sua lembrança, a sua imagem. Além 
do aspecto moral até aqui ressaltado, essa imagem, se tem algum valor econômico, perten-
ce aos seus herdeiros, cabendo a eles, e só a eles, o direito de explorá-la. Entender de outra 
forma é admitir a apropriação indébita desse patrimônio dos herdeiros de Garrincha. 
Importa então em dizer que exploração econômica do nome, imagem e fama de Mané 
Garrincha, quer através de livros, quer de filmes ou outra forma qualquer, depende da 
expressa autorização dos seus herdeiros. Essa foi a única herança deixada por Garrincha e 
a Justiça não pode permitir que terceiros dela se apropriem em detrimento de sua prole.” 
(fls. 611/615).
14FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Verifica-se, assim, terem as autoras sofrido danos morais que reclamam indeni-
zação, que, pelas peculiaridades da espécie, estipulo no valor correspondente a cem 
salários mínimos para cada uma.
É nesses termos que, conheço parcialmente deste primeiro recurso especial das 
autoras, e nessa parte, dou-lhe parcial provimento. 03. Aprecio, por fim, o recurso 
especial da ré, e o faço valendo-me, pela falta de erudição equivalente, do judicioso 
voto do ilustre Desembargador Sérgio Cavalieri Filho, de onde extraio os seguintes 
trechos: “A matéria que se coloca no presente recurso envolve basicamente os direitos da 
personalidade. Consiste em saber se são ou não sempre intransmissíveis ou se há, em certas 
situações, transmissibilidade de direitos. Ninguém desconhece que os direitos da persona-
lidade extinguem-se com a morte, o que os torna física e juridicamente intransmissíveis. 
Mas não se pode igualmente desconhecer que a personalidade das pessoas famosas prejetam 
efeitos jurídicos para além da morte e que afetam os seus sucessores. É o que ocorre, por 
exemplo, com pessoas já falecidas cuja imagem continua sendo explorada comercialmente 
através de filmes, vídeos, fotografias, publicidade, livros, memórias, biografias etc. Os efei-
tos econômicos daí decorrentes incorporam-se ao patrimônio dos herdeiros do falecido e só 
por eles podem ser comercialmente explorados. O mesmo pode ocorrer quanto aos efeitos 
morais. Os ataques e ofensas à memória do morto são ofensas aos seus parentes próximos, 
causando-lhes sofrimento e revolta. Dessa forma, os parentes próximos de pessoas famosas 
falecidas passam a ter um direito próprio, distinto dos direitos de que era titular o de 
cujus, que os ligitima para, por direito próprio, pleitearem indenização em juízo.
Tal é a espécie dos autos, porquanto as autoras pleiteiam indenização, por direito 
próprio, por danos materiais e morais que alegam ter sofrido pela publicação não autori-
zadada biografia do seu falecido pai. Como atleta famoso do futebol, a imagem, o nome 
e os feitos do biografado projetaram efeitos patrimoniais para além de sua morte, que se 
incorporaram ao patrimônio das autoras.
O novo Código Civil, atento aos princípios constitucionais e a toda legislação esparsa 
em nosso ordenamento jurídico relativos a esta matéria, disciplina os direitos da perso-
nalidade em seus arts. 11/21. Em seu art. 11 estabelece, após ressalvar casos previstos em 
lei, a intransmissibilidade e a irrenunciabilidade dos direitos da personalidade. Prevê, 
todavia, no parágrafo único do art. 12, que qualquer ameaça ou lesão a esse direito 
gera perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei e, em se tratando de 
morto, como no caso presente, os herdeiros indicados e o cônjuge são legitimados para 
buscar o ressarcimento ou a indenização decorrente de lesão. Concernente ao mérito, 
cumpre assinalar que a biografia de uma pessoa relata fatos relacionados com o seu nome, 
imagem, intimidade e outros aspectos vinculados aos direitos da personalidade. Sendo 
assim, e à luz dos princípios acima expostos, é forçoso concluir que terceiros não podem 
se apropriar desses direitos e publicar obra biográfica de pessoa já falecida sem a auto-
rização dos herdeiros, por mais erudita que seja a obra e nobres os seus propósitos. O 
exercício da livre manifestação do pensamento, da expressão intelectual e da profissão não 
autorizam a apropriação dos direitos de outrem para fins comerciais e de lucro, por se 
encontrar isso fora do direito de informar. Configura locupletamento sem causa explorar 
comercialmente a popularidade do biografado sem autorização de quem de direito ou 
sem lhe dar a devida participação. De forma ainda mais explícita, em seu art. 20 e seu 
15FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
parágrafo único o novo Código Civil prevê a prévia autorização para a divulgação de 
escritos, a transmissão da palavra, publicação, a exposição ou a utilização da imagem 
de uma pessoa, pena de render ensejo a indenização, ocorrendo lesão a honra e 
a boa forma ou respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais. Destaca, em 
seu parágrafo único, que em se tratando de morto, o caso presente, são partes legítimas 
para requerer a proteção o cônjuge, os ascendentes ou os descendentes. Diante do acima, 
embora não tenha entrado em vigor o novo Código Civil, revelam as normas atinentes 
ao direito da personalidade o pensamento jurídico extraído das esparsas normas legais 
hoje existentes e em vigor em nosso país, bem como da doutrina e da jurisprudência. No 
julgamento do Recurso Especial nº 268.660-RJ, interposto contra acórdão de minha 
relatoria prolatado na Apelação Cível nº 8.250/97, a Quarta Turma do STJ, relator o 
Min. Cesar Asfor Rocha, assim se pronunciou sobre questão idêntica: “Vê-se, assim, ser 
certo que os direitos da personalidade, de que o direito à imagem é um deles, guardam 
como principal característica a sua intransmissibilidade. Nem por isso, contudo, deixa de 
merecer proteção a imagem de quem falece, como se fosse coisa de ninguém, porque ela 
permanece perenemente lembrada nas memórias, como bem imortal que se prolonga para 
muito além da vida, estando até acima dela, como sentenciou Ariosto. Daí porque não 
se pode subtrair da mãe o direito de defender a imagem da sua falecida filha, pois são os 
pais aqueles que, em linha de normalidade, mais se desvanecem com a exaltação feita à 
memória e à imagem do falecido filho, como são os que mais se abatem e se deprimem por 
qualquer gesto que possa lhes trazer máculas. Daí porque têm eles legitimidade ativa para 
postular reparação por ofensas morais feitas à imagem de seus filhos, o que digo apenas de 
passagem já que o dano moral não foi aqui reconhecido e nem está mais sendo questio-
nado. Ora, se é assim com razão maior se dá quando se cuida de buscar indenização pela 
ocorrência de dano material, por veiculação indevida e desautorizada da imagem da fi-
lha falecida pois a mãe também postula por direito próprio na condição de sua sucessora.” 
A prévia autorização é um mecanismo protetor e permite garantir aos herdeiros a justa 
remuneração do correspondente uso da imagem e da exploração comercial da obra de bio-
grafia, evitando que terceiro sem título jurídico algum obtenham ganhos remuneratórios. 
Destarte, a prévia autorização dos herdeiros de Garrincha para a exploração comercial de 
sua biografia era medida indispensável, certo que o v. acórdão centra o seu fundamento 
como razão de decidir neste ponto essencial, destacando que a ilicitude, que gera o direito 
a indenização do dano material, foi a publicação não autorizada e se correto afir-
mar que os direitos da personalidade são intransmissíveis, nem por isto deixam 
de merecer proteção em favor de familiares próximos. Não há nenhum reparo a ser 
feito no v. acórdão, estando em perfeita sintonia com os princípios legais encontrados em 
nosso ordenamento jurídico, inclusive a transmissibilidade dos direitos contemplados nos 
incisos I a IV, do art. 24 da Lei 9.610/98, que são da personalidade.” (fls. 557/560). 
Quanto à compensação dos honorários, observo que esta Quarta Turma tem enten-
dido que, em ação de reparação de danos morais, sendo os honorários advocatícios 
fixados sobre o valor da condenação, o acolhimento parcial do valor da indenização 
postulado na inicial, do que decorre diminuição do quanto ali requerido, já importa 
em que os honorários sejam tidos como distribuídos e compensados. Com efeito, 
conheço do recurso da ré pelo dissídio mas para lhe negar provimento.
16FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
04. Diante de tais pressupostos, dos recursos das autoras, o primeiro conheço 
parcialmente e, nessa parte, dou parcial provimento, não conhecendo do segundo; 
e o recurso da ré conheço pelo dissídio, para negar-lhe provimento, em face do que 
a ação é julgada parcialmente procedente para, reconhecendo a ocorrência de danos 
materiais e morais, condenar a ré a pagar às autoras, as indenizações, a título de 
dano moral, no valor correspondente a cem salários mínimos para cada uma, com 
incidência de juros de mora de seis por cento ao ano deste a data do lançamento do 
livro, e, a título de dano material, no valor correspondente a cinco por cento sobre 
o total do preço do livro a ser apurado em liquidação, com juros de seis por cento 
ao ano contados a partir da citação, já que este ponto não foi atacado via embargos 
infringentes, ocorrendo a preclusão. 
RECURSO ESPECIAL Nº 521.697 - RJ (2003/0053354-3)
VOTO
EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR
(PRESIDENTE): Srs. Ministros, também estou de acordo com o Sr. Ministro-
Relator. Entendo que é devido dano moral, sem dúvida nenhuma, e creio que é 
muito razoável que se compreenda que um ataque ao pai ou à mãe já falecidos fere 
um direito dos filhos. Isso é tão óbvio, que dispensa maiores justificativas a respeito. 
Por isso, acompanho o eminente Relator, e, também, em relação ao valor do dano 
moral, em função dos parâmetros que têm sido aqui observados em vários preceden-
tes. Quanto ao recurso da ré, dele também conheço, mas nego-lhe provimento. 
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Número Registro: 2003/0053354-3 RESP 521697 / RJ
Números Origem: 200300053600 2270
PAUTA: 18/09/2003 JULGADO: 18/09/2003
Relator
Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. WASHINGTON BOLÍVAR DE BRITTO JÚNIOR
Secretária
Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
AUTUAÇÃO
RECORRENTE: EDITORA SCHWARCZ LTDA
ADVOGADO: ALEXANDRE LESSMANN BUTTAZZI E OUTROS
RECORRENTE: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-
TROS
ADVOGADO: LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE E OUTRO
RECORRIDO: OS MESMOS
ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Ato Ilícito - Dano 
Material c/c Moral17FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
SUSTENTAÇÃO ORAL
Sustentaram, oralmente, os Drs. LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE, pelas 
Recorrentes/Recorridas MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-
TROS; e ANTÔNIO
AUGUSTO NOGUEIRA, pela Recorrente/Recorrida EDITORA SCHWAR-
CZ LTDA.
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe 
na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Após o voto do Sr. Minis-
tro Relator, seguido dos votos dos Srs. Ministros Fernando Gonçalves e Aldir Passa-
rinho Junior, conhecendo em parte do primeiro recurso especial dos autores e, nessa 
parte, dando-lhe parcial provimento, não conhecendo do segundo recurso especial 
das autoras e conhecendo do recurso especial da ré, mas negando-lhe provimento, 
pediu vista dos autos o Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira. Os Srs. Ministros 
Fernando Gonçalves e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr.
Ministro Relator. Aguarda o Sr. Ministro Barros Monteiro.
O referido é verdade. Dou fé.
Brasília, 18 de setembro de 2003
CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
Secretária
Documento: 429547 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/03/2006 
Página 15 de 16
Superior Tribunal de Justiça
CERTIDÃO DE JULGAMENTO
QUARTA TURMA
Número Registro: 2003/0053354-3 REsp 521697 / RJ
Números Origem: 200300053600 2270
PAUTA: 18/09/2003 JULGADO: 16/02/2006
Relator
Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA
Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR
Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. DURVAL TADEU GUIMARÃES
Secretária
Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
AUTUAÇÃO
RECORRENTE: EDITORA SCHWARCZ LTDA
ADVOGADO: ANTÔNIO AUGUSTO ALCKMIN NOGUEIRA E OU-
TROS
RECORRENTE: MARIA CECÍLIA DOS SANTOS CARDOSO E OU-
TROS
ADVOGADO: LUIZ EDUARDO SALLES NOBRE E OUTRO
18FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
RECORRIDO: OS MESMOS
ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Ato Ilícito - Dano 
Material c/c Moral
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na 
sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: Prosseguindo no julgamento, 
ante a aposentadoria do Sr. Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira e o afastamento 
do Sr. Ministro Barros Monteiro, que eram os votos faltantes, a Turma decidiu dar 
por encerrado o julgamento deste processo, uma vez que já está aperfeiçoado pela 
maioria; portanto, a Turma, por unanimidade, conheceu parcialmente do primeiro 
recurso especial, o dos autores e, nessa parte, deu-lhe parcial provimento; não co-
nheceu do segundo recurso especial, o das autoras; conheceu do recurso especial da 
ré e negou-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator.
Brasília, 16 de fevereiro de 2006
CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK
Secretária
Documento: 429547 - Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 20/03/2006 
Página 16 de 16
caso gerador
Marina Morena faleceu na cidade de São Paulo em 28/01/2002, deixando vários 
imóveis naquela cidade, bem como uma grande quantidade de contas bancárias 
abertas, aplicações financeiras e o seu apartamento no Rio de Janeiro, local onde 
passava a maior parte da semana, apesar de trabalhar em São Paulo. Marina tinha 
dois filhos: Antônio e Carlos. Este último resolve ceder os seus direitos hereditários 
para Jobim, usando um instrumento particular, por R$ 10.000.000,00 (dez mi-
lhões de reais), mas é enganado por este em relação ao valor, já que ele sabia valer 
a herança mais de R$ 20.000.000,00. Jobim sabia, ainda, que Carlos tinha neces-
sidade de um grande volume de capital para a construção de um novo edifício de 
onde ele esperava retirar o lucro necessário para pagar o tratamento médico de seu 
filho Waldemar, necessitado de um tratamento no exterior que custaria mais de R$ 
5.000.000,00. 
Antonio, inconformado, resolve questionar judicialmente esta alienação, sus-
tentando que lhe deveria ser dado o direito de preferência para adquirir os bens do 
acervo hereditário.
Pergunta-se: qual o foro competente para processar o inventário de Marina? 
Qual a lei aplicável a esta sucessão? A alienação feita por Carlos é válida? Pode ser 
questionada por Antônio? Com que fundamento(s)? O filho de Carlos pode ques-
tionar a alienação dos bens feita por seu pai? E o próprio Carlos? Comente estes 
aspectos do caso e os demais que entender relevante.
19FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
aula 2: ordem de vocação sucessória. aceitação e renúncia da 
herança. heranças e legados. herança Jacente e herança 
vacante.
Nesta segunda aula, será iniciado o estudo das formas de sucessão (a título sin-
gular e a título universal), bem como da ordem legal de sucessão estabelecida pelo 
Código Civil. Regras sobre a aceitação e renúncia da herança. Conseqüências da 
não aceitação pelos herdeiros da herança.
Inicialmente é importante destacar que a sucessão não é obrigatória. Ou seja, o 
sucessor, uma vez aberta a sucessão pode aceitar a herança, ou rejeitá-la. A aceitação, 
trata-se de ato gratuito, pode ser tácita, ao passo que o ato jurídico de renúncia é 
formal.
Existem dois tipos de sucessores no Direito: herdeiros e legatários. Os herdeiros 
têm direito a uma fração da herança, ao passo que os legatários a um bem específico 
(um é sucessor universal, o outro singular). Podemos ter herdeiros legítimos ou 
testamentários; legatários apenas por testamento.
No que toca aos herdeiros, existe uma ordem de vocação para suceder. Ou seja, 
existem pessoas que recebem antes de outras, sendo que, ao contrário do que acon-
tece, por exemplo na falência onde todos os credores virão a receber, a existência de 
uma classe de herdeiros, em geral exclui a seguinte, apesar desta regra comportar ex-
ceções (por exemplo, a sucessão conjunta do cônjuge e o direito de representação).
Quando não existem herdeiros que possam suceder, temos primeiro a jacência e 
posteriormente a vacância da herança, segundo as regras do Código Civil.
Observe-se que para fazer os casos geradores adequadamente sugere-se 
acórdão para debate (ainda do tema da auLa passada)
RECURSO ESPECIAL Nº 54.519 - SP (1994/0029276-7)
RELATOR: MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR
RECORRENTE: CYBELE APARECIDA D’ÁVILA GALLO MARTINELLI 
E OUTROS
ADVOGADO: RENATO VASCONCELOS DE ARRUDA E OUTROS
RECORRIDO: NATAL RUBENS ALEOTTI E OUTROS
ADVOGADO: ERASMO VALLADÃO AZEVEDO E NOVAES FRANCA E 
OUTROS
RECORRIDO: PEDREIRA CACHOEIRA S/A E OUTROS
ADVOGADO: ADALBERTO JOSÉ DE CAMARGO ARANHA E OU-
TROS
RECORRIDO: CLEONICE TURRINI GALLO
ADVOGADO: MARCOS FURKIM NETTO
RECORRIDO: MARIA MARINA ALEOTTI TEIXEIRA DE CARVA-
LHO
20FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
ADVOGADO: ARYSTOBULO DE OLIVEIRA FREITAS E OU-
TROS
EMENTA
CIVIL E PROCESSUAL. RECURSO ESPECIAL.
PREQUESTIONAMENTO. INSUFICIÊNCIA. INVENTÁRIO. VENDA 
DE AÇÕES AO PORTADOR PELA VIÚVA MEEIRA DO TITULAR. AÇÃO 
DECLARATÓRIA DE NULIDADE E REINTEGRAÇÃO DE POSSE MOVI-
DA POR CO-HERDEIROS DO ESPÓLIO. UNIVERSALIDADE DOS BENS. 
LEGITIMIDADE ATIVA RECONHECIDA. POSSIBILIDADE JURÍDICA DA 
AÇÃO CONTRA TERCEIROS COMPRADORES. ILEGITIMIDADE PASSI-
VA DA EMPRESA. SÚMULA N. 211-STJ. CC, ARTS. 57 E 1.580, PARÁGRA-
FO ÚNICO. CPC, ART. 992, I.
I. Incidência da Súmula n. 211 do STJ em relação a normas legais suscitadas no 
especial, mas não prequestionadas.
II. Os herdeiros têm legitimidade ativa para propor ação declaratória de nulidade 
de ato processual praticado pela inventariante e viúva meeira, em detrimento dos 
seus direitos no espólio de seu pai, consubstanciado pela venda, a terceiros, de ações 
ao portador de sociedade comercial a todos pertencente, ante o princípio da univer-
salidade que rege os bens deixados pelo de cujus, até a sua partilha. 
III. Ilegitimidade passiva, de outro lado, da sociedade anônima cujas ações foram 
negociadas, por não haver praticado qualquerato atinente à controvérsia jurídica 
sub judice.
IV. A venda de bens sonegados a terceiros e o direito às perdas e danos dos lesados 
em relação ao inventariante, prevista no art. 1.783 do Código Civil anterior, não ex-
clui a pretensão de nulificação da venda a terceiros e a recomposição do patrimônio 
do espólio, se esta foi a via legal escolhida pelos herdeiros.
V. Recurso especial conhecido em parte e parcialmente provido.
ACÓRDÃO
Vistos e relatados estes autos, em que são partes as acima indicadas, Decide a 
Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, à unanimidade, conhecer em parte 
do recurso e, nessa parte, dar-lhe parcial provimento, na forma do relatório e notas 
taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente 
julgado.
Participaram do julgamento os Srs. Ministros Jorge Scartezzini, Barros Monteiro e 
Cesar Asfor Rocha. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Fernando Gonçalves.
Custas, como de lei.
Brasília (DF), 14 de junho de 2005(Data do Julgamento)
MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR
Relator
RECURSO ESPECIAL Nº 54.519 - SP (1994/0029276-7)
RELATÓRIO
EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR:
Adoto o minucioso relatório da sentença singular, verbis (fls. 423/430):
21FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
“CYBELLE APARECIDA D’AVILA GALLO MARTILENELLI e s/m REYNAL-
DO MARTINELLI FILHO, YVONE CECÍLIA D’AVILA GALLO, EDUARDO 
FRANCISCO D’AVILA GALLO, SÉRGIO ROBERTO D’AVILA GALLO e ESPÓ-
LIO DE WALDOMIRO ANTONIO D’AVILA GALLO ajuizaram a presente ação 
ordinária contra PEDREIRA CACHOEIRA, na pessoa de seu representante legal, Natal 
Rubens Aleotti e os ESPÓLIOS DE VICENTINA BIANCO ALEOTTI e AMBRÓSIO 
ALEOTTI e seus herdeiros NATAL RUBENS ALEOTTI e s/m ROSA MARIA ALE-
OTTI, MARIA MARINA ALEOTTI TEIXEIRA DE CARVALHO e ESPÓLIO DE 
JARBAS TEIXEIRA DE CARVALHO, por ela representado, e CLEONICE TURRINI 
GALLO, sustentando que Waldomiro Gallo, pai dos autores faleceu em 27 de outubro de 
1.976; estando em curso inventário de seus bens perante o Juízo da 7º Vara de Família e 
Sucessões da Capital, tendo como inventariante Cleonice Turrim Gallo, também reque-
rida nesta ação. Por ocasião da abertura da sucessão, deveria constar dos bens a inven-
tariar as ações da Companhia Pedreira Cachoeira S/A, das quais o casal era titular, pois 
casados sob o regime de comunhão universal de bens, o que não ocorreu. Constatando-se 
ao final que estes bens não foram declarados, Cleonice Turrim Gallo os havia cedido a 
Ambrósio Aleotti por instrumento particular de transferência de ações celebrado em 27 de 
janeiro de 1.980, pendente o inventário, sem a necessária e imprescindível autorização 
judicial.
Entendendo que não poderia a viúva dispor dos bens do falecido marido, até porque, 
apesar de serem marido e mulher, a mulher possuía 715.822 ações, enquanto o varão 
1.100.977, em razão do regime de bens do casal, ambos possuíam cada ação, já que a 
ação é indivisível, nos termos do art. 28 da Lei nº 6.404/76 e o próprio estatuto social, 
resulta que a ação só pode ser adquirida em condomínio, de sorte que todas as ações eram 
do casal Waldomiro Gallo e s/m.
Falecido o cônjuge varão, cumpria à inventariante ter arrolado as ações para saber-se 
quais ações lhe caberiam por efeito da meação. 
Ademais, tinha entre os herdeiros um incapaz, Sérgio Roberto D’Avila Gallo, tendo à 
época do falecimento do marido 16 anos.
Assim, Cleonice cedeu a Ambrósio as ações da Pedreira Cachoeira S/A, das quais não 
tinha a titularidade; questão agravada pela existência de um menor entre os herdeiros. 
De outra parte, Ambrósio adquiriu a non domino, nada adquiriu, estando o negócio 
eivado de nulidade absoluta. Tomaram conhecimento os autores, de que o adquirente 
Ambrósio e s/m faleceram, deixando em testamento as ações ao filho Natal Rubens Aleot-
ti; estando em curso inventário de seus bens. Fizeram relatório da situação da empresa; 
teceram outras considerações e finalizaram pedindo fosse declarada nula a cessão das 
ações da Pedreira Cachoeira S/A reconhecendo serem elas todas de propriedade do Espó-
lio de Waldomiro Gallo; e por conseqüência pertencerem ao Espólio as respectivas ações 
derivadas daquelas (bonificações e subscrições); reintegrá-lo na posse das referidas ações; 
bem como condenar Cleonice a compor perdas e danos decorrentes da transferência ilegal. 
Como os herdeiros de Waldomiro Antônio D’Avila Galo são menores, pedem a interven-
ção da M.P. Com os demais pedidos de estilo, instruíram com documentos de fls. 20/132. 
Com vista, o Dr. Curador subscreveu as razões da inicial (fls. 135/137). Pedreira Ca-
choeira S/A contestou (fls 281/288), sustentando em preliminar ilegitimidade de parte, 
22FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
porque à sociedade pouco importa quais sejam os titulares das ações, não lhe cabendo 
escolher ou reconhecer se legítimo o patrimônio dos autores; não havendo nos seus registros 
qualquer transferência em livro próprio, mesmo porque as ações eram ao portador; não 
praticou qualquer ato que legitimasse a transferência.
Quanto ao mérito, reiterou a preliminar. Maria Marina Aleotti Teixeira de Car-
valho contestou (fls. 338/342), sustentando em preliminar que a demanda foi ajui-
zada também contra o Espólio de seu ex-marido, Jarbas Teixeira de Carvalho, cujo 
inventário está encerrado, de sorte que deve ser renovada a citação. Quanto ao mé-
rito, que desconhece a concretização de qualquer alienação das ações da Pedreira 
Cachoeira S/A. 
De qualquer forma, as ações, cuja transferência impugnam os autores, ao que 
consta, eram ao portador, razão porque a transferência e cessão em questão não 
reclamou registro em livro próprio de transferência de ações da Pedreira Cachoei-
ra S/A. Também, os autores alegam terem sido proprietários de ações, o que não 
provam. Também não podem reclamar a totalidade das ações, pois aos herdeiros 
caberia apenas a metade das ações cabentes ao espólio, já que outra metade caberia 
à co-ré. Por outro lado, a transferência das ações opera-se pela simples tradição, não 
havendo necessidade da transferência; o detentor, segundo a Lei nº 6.407/76, art. 
33, presume-se proprietário.
Desta sorte, a co-requerida Cleonice Gallo, em posse das ações, poderia aliená-
las, sem qualquer vício que maculasse o ato. Resulta portanto, que o negócio jurídico 
realizado entre Cleonice Gallo e Ambrósio Aleotti reputa-se perfeito, não havendo 
fundamentação ao pedido dos autores.
No tocante à reintegração na posse das ações da Pedreira Cachoeira S/A, igual-
mente há que ser indeferida, porque não há prova do domínio (art 505 do C.C.) E 
quanto ao pedido de indenização, deve ser indeferido, porque não há fato imputável 
e causador de danos aos autores. Com outras considerações, pediu a improcedência 
e consectários legais. Natal Rubens Aleotti e s/m Rosa Maria Aleotti contestaram 
(fls. 344/357), sustentando em preliminar ilegitimidade de parte dos autores, por-
que deveria ser o Espólio de Waldomiro Gallo a figurar no pólo ativo, cabendo a 
representação à inventariante; e os autores integrarem a lide como litisconsortes 
assistentes. Ainda em preliminar, que se deveria determinar que o Espólio de Waldo-
miro Gallo integrasse a lide, conforme jurisprudência colacionada; e no pólo passivo 
deveriam figurar, além de Cleonice Turrim Gallo, o Espólio de Ambrósio Aleotti e 
o Espólio de Vicentina Bianco Aleotti. Os herdeiros, filhos de Vicentina e de Am-
brósio seriam
partes ilegítimas. Ainda em preliminar, que a ação está prescrita, conforme dou-
trina colacionada, porque o documento particular de compra e venda ocorreu em 27 
de janeiro de 1.980; de sorte que em se tratando de coisa móvel, ocorreu a prescrição 
aquisitiva. Sustentou ainda a impossibilidade jurídica do pedido, vez que a preten-
são de direito material está prescrita e inépcia da inicial, porque contém pedidos 
incompatíveis entresi. Quanto ao mérito, consta que todas as 1.823.129 ações da 
Pedreira Cachoeira S/A, vendidas por Cleonice Turrim Gallo ao Sr Ambrósio Aleotti 
eram ao portador.
23FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Como tal, nos termos do art. 33 da Lei nº 6.404, de 15 de dezembro de 1.976, 
o detentor de ações ao portador é seu proprietário, operando-se a transferência por 
simples tradição, de sorte que há como admitir que a própria mãe dos autores, 
inventariante dos bens deixados por Waldomiro Gallo tivesse apropriado daquelas 
ações para vendê-las a terceiro.
De outro lado, não se pode admitir que Ambrósio Aleotti, sócio dos autores e condô-
mino em diversos bens de raiz fosse praticar ato de má-fé, eivado de dolo ou fraude. Mes-
mo a alegada menoridade de um dos autores, este foi emancipado em 1.981, deixando 
escoar in albis o prazo estabelecido pelo art. 619 do C.P.C.
Teceram outras considerações evidenciando má-fé dos autores, que ainda não tinham 
partilhado os bens e finalizou pedindo a improcedência e consectários legais. Espólio de 
Vicentina Bianco Aleotti e Ambrósio Aleotti contestaram (fls. 359/372) denunciando à 
lide Cleonice Turrini Gallo, vendedora das ações, para responder pela evicção. No mais, 
ainda que com outras palavras, reiteraram as teses defendidas por Natal Rubens Aleotti 
e s/m. Cleonice Turrim Gallo contestou (fls. 403/405) sustentando que quando do fale-
cimento do marido, pendia na 5ª Vara da Justiça Federal do Rio de Janeiro uma ação 
executiva promovida pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico – BNDE 
contra a Pedreira Cachoeira S/A, Natal Rubens Aleotti e s/m Rosa Maria Aleotti, Am-
brósio Aleotti e s/m Vicentina Bianco Aleotti, Alfredo Bruno Gomes Martins e s/m Yvone 
Crissiuna Gomes Martins, e também contra Waldomiro Gallo e s/m Cleonice Turrini 
Gallo, ora contestante. A dívida cobrada naquela execução decorria de empréstimo efe-
tuado pelo BNDE à Pedreira Cachoeira S/A., figurando a ré e seu marido como terceiros 
garantes, decorrentes de fiança prestada à empresa em favor do credor.
Em virtude do longo relacionamento negocial e da amizade que Ambrósio Aleotti 
manteve com Waldomiro Gallo, marido da contestante, esta se impressionou quando após 
a morte de Waldomiro, Ambrósio a procurou para comprar ações da Pedreira Cachoeira 
afirmando que sua casa no Bairro de Higienópolis poderia ser comprometida na execução 
promovida pelo BNDE. Anteriormente, aconselhada pelo mesmo Ambrósio, deixou de 
arrolar as ações na Pedreira Cachoeira S/A. no inventário de seu marido, pois, sempre 
segundo ele, com isso poderia perder a sua casa que estaria garantindo a dívida noticia-
da. Foi, segundo os conselhos de Ambrósio que agiu como agiu, acabando por lhe ceder 
as ações da Pedreira Cachoeira S/A. tendo o cessionário, na cláusula 5ª do ‘instrumento 
particular de cessão e transferência de ações’ se obrigado a honrar perante o BNDE even-
tual responsabilidade da ré e de seu marido, pactuando-se ainda, que Ambrósio e tercei-
ros ficavam...’sem direito a qualquer execução ou reembolso contra o referido Espólio e a 
cedente’. A contestante fez o que melhor entendeu correto para a família, pensando que 
podia ceder as ações da forma como fez, pois assim fora aconselhada na transação.
Além disso, Ambrósio Aleotti era sócio majoritário e diretor da Pedreira Cachoeira 
S/A., circunstâncias que tranquilizaram a ré no sentido de que estava fazendo tudo 
conforme a lei. Infelizmente, parece que não estava, tendo que se sujeitar a este processo, 
indispondo-se com os filhos. Por estes fatos, entende ter sido levada a erro, confessa a ação. 
(instruiu com documentos de fls. 407/412).
Réplica a fls. 416/429. O Dr. Curador subscreveu a réplica, pelo afastamento das 
preliminares, e produção de provas.”
24FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
A ação foi julgada improcedente em 1o grau (fls. 423/434). Em 2ª instância, a 
4ª Câmara do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por maioria, negou pro-
vimento à apelação dos autores e deu provimento ao recurso adesivo, para, acatando 
a preliminar de ilegitimidade ativa dos autores e de ilegitimidade passiva de parte 
dos réus (fls. 529/533), extinguir a ação por força do art. 267, VI, do CPC. Foram 
opostos embargos declaratórios (fls. 536/548), rejeitados às fls. 556/558.
Inconformados, os autores Cybele Aparecida D’Avila Gallo Martinelli e outros 
interpõem, pela letra “a“ do autorizador constitucional, recurso especial alegando, 
em síntese, que a ação declaratória de nulidade de ato jurídico, cumulada com rein-
tegração de posse e indenização por perdas e danos foi proposta pelos co-herdeiros 
do espólio de Waldomiro Gallo contra a empresa Pedreira Cachoeira S.A. e outros, 
para dêsconstituição da cessão das ações da empresa-ré pela inventariante e viúva 
meeira, Cleonice Turrini Gallo, em 27.01.1980, que não haviam sido colacionadas 
e, ainda, alienadas sem autorização judicial, ainda mais que existia entre os herdeiros 
um menor, vítima da sonegação de bens. Aduzem que (fls. 565/567):
“4. Invocaram-se, como protegendo, o direito dos Aa.-recorrentes os seguintes textos 
federais de lei: 1º) art. 53, inc. II, do Código Civil, salientando-se serem, por lei, indi-
visíveis os bens da herança; art. 44, inc. III, do Código Civil, sublinhando ser a suces-
são aberta e os bens que a compõem, bens imóveis; 2º) art. 57, inc. I, do Código Civil, 
observando-se que a herança se constitui numa universalidade; 3º) art. 1.580 e 
seu parágrafo único, do Código Civil, porque, pertencentes as ações à universalida-
de da herança, e, por isso indivisíveis, o negócio através do qual foram alienadas 
foi nulo, sendo lícito a qualquer co-herdeiro, com legitimidade para isso, recupe-
rá-las da posse de terceiro, em cujas mãos ilegitimamente se encontrem, sem que 
este possa [sequer] pretender ilegitimidade de parte do herdeiro, nos precisos e 
inequívocos termos do art. 1580 e seu parágrafo único, do C. Civil; 4º) a ausência 
de autorização judicial, que houvesse antecedido ao negócio, ademais, violou o art. 992, 
inc. I, do Código de Processo Civil; 5º) demonstrou-se que as ações, objeto dessa alie-
nação ilícita, porque o falecido e sua mulher, foram casados sob o regime da comunhão 
universal, eram, ambos, por isso mesmo, antes do falecimento de Waldomiro Gallo, con-
dôminos em cada uma das ações; 6º) deixou-se claro que, em face do art. 28, da Lei das 
Sociedades por Ações (lei 6.404/1976) e em face do estatuto social da Pedreira Cachoeira 
S.A., ré e recorrida, conquanto em relação à sociedade as ações sejam indivisíveis, e, pois, 
deve haver, em relação à sociedade um só titular, a circunstância do falecido e sua 
viúva terem sido casados sob regime comunhão universal, tornava-os condômi-
nos em todas as acões, independentemente do nome de quem essas estavam. E, 
justamente por isto, não poderiam deixar de ter sido arroladas, porque eram e 
são bens Espólio e, muito menos, poderiam ter sido alienadas, como o foram. 7º) 
como conseqüência, fixou-se na petição inicial que a venda foi a non domino, 
o que constitui uma nulidade de pleno direito (pet. in., itens 1.9 e 2.1). A tudo 
isto, em essência, o E. Tribunal de Justiça de São Paulo, pura e simplesmente, 
acabou decidindo pela ilegitimidade ativa dos autores, e, por isso, era inviável a 
demanda. Textualmente, nos embargos de declaração restou dito que ‘Resolvido 
que inviável a demanda não há mais o que resolver’ (V. Ac. dos embargos de 
25FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
declaração, fls. 558, § 3º, medio-grifou-se). Deixou o V. Acórdão de aplicar os 
arts. 442 inc. III, 53, 57 e principalmente, o art. 1580, parágrafo único, todos 
do Código Civil; e ao art. 992, inc. I, do Código de Processo Civil. Quanto a este 
último, onde a lei confere legitimidade aos autores-recorrentes, o V. Acórdão, 
pura e simplesmente, ignorou o estabelecido na lei civil. Negou-lhevigência o V. 
Acórdão, da forma mais ostensiva possível. Ignorou-lhe a existência.”
Salientam, ainda, quanto ao art. 1.580 e seu parágrafo único do Código Civil 
anterior, que é certo que a ação poderia, também, ter sido proposta pelo Espólio de 
Waldomiro Gallo, mas que isso não exclui a legitimidade ativa concorrente dos co-
herdeiros, por serem também co-titulares dos bens, nos termos do art. 1.572, e tal 
não foi reconhecido pelo aresto estadual. Indicando a vulneração aos arts. 44, III, 
53, 57, 1.580 e parágrafo único, do Código Civil revogado e 992, I, do CPC, pedem 
os recorrentes, ao final, que (fl. 575): –7.1 Deve ser reformado o V. Acórdão, para, eli-
minada a carência da ação, e, reconhecida a legitimidade ativa dos Aa.-recorrentes 
e a passiva dos Rr.-recorridos, se venha a decidir as ações pelo seu mérito, cancelada 
a sucumbência–. Contra-razões às fls. 578/589 por Natal Rubens Aleotti e outros, 
alegando que a ação somente poderia ter sido promovida contra a ré Cleonice Tur-
rini Gallo, mãe dos autores, porquanto sendo indivisível seu direito hereditário, e 
aqui alusivo a ações ao portador, não têm eles direito de ação judicial contra a socie-
dade comercial, mas apenas contra a representante do condomínio instituído com 
o falecimento de Waldomiro Gallo, Cleonice, de acordo com os arts. 28 da Lei n. 
6.404/1976 e 627 da lei substantiva civil. Acrescentam que em se cuidando de ações 
ao portador, desnecessária a autorização judicial para sua cessão, por se presumir a 
titularidade de seu detentor, qual seja, a viúva meeira Cleonice, natureza aquele que 
não se altera pela sucessão. Dizem, mais, que mesmo que não trazida à colação, a ação 
correta seria a de sonegados, respondendo a inventariante pela perda da sua parte 
sobre tais bens, além de responder por perdas e danos (art. 1.783 do Código Civil). 
Esta é a sanção prevista, e não a invalidade do ato em relação a terceiros adquirentes. 
Destacam que esse fundamento do acórdão não foi atacado no especial, atraindo a 
incidência da Súmula n. 283 do C. STF à espécie. Argumentam, também, que a 
legitimidade ativa é do espólio e não dos co-herdeiros e que da legitimidade passiva 
devem ser excluídos os herdeiros do comprador das ações, já falecido, Ambrósio 
Aleotti, eis que tampouco realizada a partilha de seus bens. Finalizam, dizendo (fls. 
588/589): –12) Ante o exposto, e o mais que será acrescentado pelos Eminentes Ministros 
Julgadores, requer-se, preliminarmente, o indeferimento do presente recurso especial, e, no 
mérito, o seu improvimento. Na absurda hipótese de ser o mesmo conhecido e provido – o 
que se admite, data venia, por amor ao debate - requer-se, então, retornem os autos ao 
Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo, a fim de que a Colenda Quarta Câmara Civil 
prossiga no julgamento, apreciando as demais preliminares e, se porventura passar ao mé-
rito, também o pedido de denunciação da lide da vendedora das ações, objeto do recurso 
adesivo de fls. 470 e seguintes”. O recurso especial foi admitido na instância de origem 
pelo despacho presidencial de fls. 595/596. Parecer da douta Subprocuradoria-Geral 
da República às fls. 614/621, pelo Dr. Pedro Henrique Távora Niess, no sentido do 
parcial conhecimento e provimento, em parte, do recurso especial, litteris: –3.2. 
26FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Reconhecida a legitimidade ativa da parte deve a ação prosseguir em face dos demais 
réus cuja ilegitimidade não fora declarada, quais sejam: o espólio de AMBRÓSIO ALE-
OTTI, o de VICENTINA BIANCO ALEOTTI, e CLEONICE TURRINI GALLO, 
porque é de se constatar que a empresa Pedreira Cachoeira S.A. não é terceiro que possui 
o bem reclamado, tampouco cada um dos outros co-demandados, individualmente, uma 
vez que as ações fazem parte do montante deixado por AMBRÓSIO ALEOTTI. Ante o 
exposto, o parecer é pelo conhecimento parcial do recurso e, na parte conhecida pelo seu 
parcial provimento, devendo os autos retornarem ao Tribunal de origem a fim de que seja 
apreciada a matéria de fundo da demanda–. 
O processo foi sucessivamente distribuído, no STJ, aos eminentes Ministros 
Fontes de Alencar, Bueno de Souza e a este relator. É o relatório.
RECURSO ESPECIAL Nº 54.519 - SP (1994/0029276-7)
VOTO
EXMO. SR. MINISTRO ALDIR PASSARINHO JUNIOR
(Relator): Trata-se de ação declaratória de nulidade de ato jurídico, cumulada 
com reintegração de posse e indenização por perdas e danos movida por co-herdei-
ros do Espólio de Waldomiro Antonio D’Avila Gallo, contra a viúva meeira, Cleo-
nice Turrini Gallo, e mais os adquirentes-cessionários de ações da empresa Pedreira 
Cachoeira S/A, bem assim em desfavor, também, da própria pessoa jurídica, objeti-
vando, fundamentalmente, a desconstituição da alienação e o retorno das mesmas 
ao patrimônio do espólio. Em 2o grau a ação foi extinta com base no art. 267, VI, 
do CPC, sem julgamento do mérito, entendido que faltou aos autores legitimidade 
ativa ad causam, bem assim que igualmente figuraram indevidamente no pólo pas-
sivo a empresa Pedreira Cachoeira S.A. e os adquirentes das ações. O voto condutor 
do acórdão estadual, de relatoria do eminente Desembargador Cunha de Abreu, 
que improveu a apelação dos autores e acolheu o recurso adesivo dos réus, está assim 
fundamentado (fls. 530/532): “Expungido este processado de tudo aquilo não essencial 
ao seu desate, tem-se: a) os autores são filhos do casal de Waldomiro Gallo e Cleonice 
Turrini Gallo, viúva-inventariante do varão (fls. 31) com quem era casada sob o regime 
de comunhão universal de bens; b) estando em curso a sucessão e por razões melhormente 
aduzidas no corpo dos autos, vendeu Cleonice diretamente a terceiro, no caso Ambrósio 
Aleotti, lote de ações de sociedade anônima familiar, anotado que os títulos não foram 
arrolados no processo sucessório, nada obstante e como cediço detectarem-se interesses de 
terceiros, inclusive menores; c) daí em diante pulverizaram-se as ações redundando em 
que o adquirente-vendedor e os últimos titulares conhecidos das mesmas, mais a própria 
sociedade emissora erigiram-se nos componentes do pólo passivo; d) a demanda objetiva 
a declaração de nulidade do primitivo negócio entre Cleonice e Ambrósio, ipso facto 
anulados subsequentes efeitos, retornando a situação ao estado anterior, com todas as 
conseqüências daí derivadas (releia o pedido de fls. 16/17). Repetindo.
A inquinação vestibular desenganadamente se volta contra ato da inventariante Cle-
onice, que tendo vendido as ações desencadeou a lesão patrimonial noticiada e mote 
do pedido. Cleonice, demonstrando inusitada bonomia e eqüidistância dos contendores, 
confessou a ação consoante leitura da peça de fls. 369/371,como de resto percuciente-
mente detectado pelo digno magistrado oficiante, (fls. 428/430) colocando-se a mercê do 
27FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
Juízo. O inventário de Waldomiro ainda não se encerrou, de molde que passível em tese 
o monte mór de sofrer alterações.
Posta assim a questão, não poderia mesmo a demanda prosperar, qualquer que seja 
o ponto de vista sob o qual se a observe. Veja-se. Acatada a composição ativa da lide, - e 
aceitos os seus termos - não estaria ela bem voltada contra os atuais componentes de seu 
pólo passivo, visto que deveria coerentemente guerrear, única e exclusivamente, o espólio 
de Waldomiro, virtual devedor de seus herdeiros e/ou quem de direito, in casu e porven-
tura Cleonice, a inventariante-vendedora. É que, já se vê, o prejuízo dos autores como 
vestibularmente colocado seria exigente de apuração contra o monte e não contra terceiros 
estranhos a relação sucessória, estes, até prova em contrário, adquirentes-detentores de 
boa-fé. No mesmo diapasão, desemparado o ingresso da sociedade anônima na posição 
passiva, assente que contra ela não se argúi a perpetração de ato vulnerador às normas 
vigentes. Derradeiramente, instalada a lide comoestá, não exibe o pólo ativo a indispen-
sável legitimação visto que, repita-se, a pretensão contra os réus remanescentes deveria, 
na hipótese, - o que se alinha por amor ao debate -, ser patrocinada pelo espólio de Wal-
domiro Gallo. Diante dessa constatação, despiciendo maior adentramento da composição 
do pólo passivo. Diversamente composto estivesse o pólo ativo pela massa dos bens de 
Waldomiro, alvo da ação, passivamente ilegitimados se entremostrariam os atuais réus, 
observado que melhormente substituídos quiçá pela autora das alienações anulandas, a 
própria inventariante Cleonice. Isto posto, mantém-se o resultado de insucesso monocra-
ticamente ditado. Apenas se o exaspera para, atendido o reclamo adesivo de fls. 471/480 
alterar o dispositivo, que passa a ser o do inciso VI do artigo 267 do CPC, extinto o feito 
sem julgamento de mérito.
Diante do que ficou julgado,mantém-se a cominação honorária cujo montante será 
eqüitativamente e na forma da r. sentença (fls. 434) dividido entre todos os contestantes. 
Negaram provimento ao recurso dos autores e deram-no ao
adesivo.” É suscitada no especial, aviado pela letra “a“ do autorizador constitu-
cional, ofensa aos arts. 44, III, 53, 57, 1.580 e parágrafo único, do Código Civil 
revogado e 992, I, do CPC. No tocante aos arts. 44, III e 53 da lei substantiva civil, 
que versam sobre natureza imobiliária do direito à herança e à sua indivisibilidade, 
não foram, em absoluto, objeto de enfrentamento explícito ou implícito no acórdão, 
que tampouco foi complementado em sede de embargos declaratórios, incidindo, 
na espécie, a Súmula n. 211 do STJ, que reza: –Inadmissível recurso especial quanto 
à questão que, a despeito da oposição de embargos declaratórios, não foi apreciada pelo 
Tribunal a quo.” Quanto às demais normas, estão implicitamente abordadas pela 
rejeição do pólo ativo da lide e, em parte, do pólo passivo indicado, os arts. 992 e 
inciso I, do CPC, o art. 57 e o parágrafo único do art. 1.580 do Código Civil, cujo 
prequestionamento permite tenham sua aplicação examinada em sede especial.
Rezam os referenciados dispositivos legais, que: “Art. 992. Incumbe ainda ao in-
ventariante, ouvidos os interessados e com autorização do juiz: I – alienar bens de qual-
quer espécie–.
................................................................................................................
Art. 57. O patrimônio e a herança constituem coisas universais, ou universalidades, 
e como tais, subsistem, embora não constem de objetos materiais”.
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................................................................................................................
Art. 1.580....
Parágrafo único. Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da he-
rança ao terceiro, que indevidamente a possua, não podendo este opor-lhe, em exceção, o 
caráter parcial do seu direito nos bens da sucessão–.
Figuraram no pólo passivo da ação os co-herdeiros de Waldomiro Gallo e no pas-
sivo a empresa Pedreira Cachoeira S.A, a viúva meeira de Waldomiro Gallo, Cleoni-
ce Gallo, os espólios de Ambrósio Aleotti e de sua mulher, que adquiriram as ações 
vendidas pela meeira Cleonice, bem assim os herdeiros desses espólios compradores. 
O parecer da douta Subprocuradoria-Geral da República, de lavra do Dr. Pedro 
Henrique Távora Niess, diz o seguinte (fls. 618/621): –3. Da análise do v. acórdão 
recorrido temos que os autores foram considerados partes ilegítimas, sob o argumento de 
que deveria figurar no pólo ativo da lide a ‘massa dos bens de Waldomiro’ (espólio). Tam-
bém considerou-se legitimada para compor o pólo passivo da atual demanda, dentre os 
que ali figuravam, apenas a ré Cleonice, excluída a legitimidade dos demais réus. Neste 
diapasão, extinguiu-se o processo sem julgamento de mérito, com fulcro no artigo 267, 
VI, do Diploma Processual Civil. Todavia, o v. julgado está a merecer reforma.
Disciplina o artigo 1.580 da Lei Civil de 1916: ‘Sendo chamadas simultaneamente, 
a uma herança, duas ou mais pessoas, será indivisível o seu direito, quanto à posse e ao 
domínio, até se ultimar a partilha. 
Parágrafo único. Qualquer dos co-herdeiros pode reclamar a universalidade da he-
rança ao terceiro, que individualmente a possua, não podendo este opor-lhe, em exceção, 
o caráter parcial do seu direito nos bens da sucessão’.
Diante deste dispositivo conclui-se que a herança é um todo indivisível, uma uni-
versalidade, que enseja a formação de um condomínio entre os herdeiros, que poderão 
reclamá-la, inclusive individualmente, de quem indevidamente a possua, desde que exer-
çam atos possessórios que não excluam os direitos dos demais, reclamando que o bem 
volte ao monte hereditário, e não ao seu patrimônio individual, que só se perfaz com a 
distribuição do seu quinhão, após a partilha.
3.1. No caso dos autos os co-herdeiros e o espólio de WALDOMIRO ANTÔNIO 
D’AVILLA GALLO vieram pleitear a reintegração de posse de ações ao próprio espólio, 
estando perfeitamente legitimado o pólo ativo da lide. Sobre o tema, vale destacar enten-
dimento já esposado por esse E. Sodalício:
‘Ação Reivindicatória. Petição de herança. Segundo o acórdão, trata-se de direitos 
hereditários defendidos pelo espólio, ‘através de sua representante legalmente nomeada’. 
Ora, qualquer dos co-herdeiros pode reclamar de quem indevidamente possua 
a herança. O STJ já admite que a promessa de compra e venda serve como título em 
que se fundar a reivindicatória (REsp’s 32.972 e 55.941). Ausência de ofensa a texto do 
Cód. Civil. 2. Quem tem direito à indenização das benfeitorias é o possuidor de boa-fé; 
caso em que se reconheceu a má-fé. Súmula 7/STJ. 3. Duplo grau de jurisdição. Súmulas 
282, 356 e 284/STF. 4. Recurso especial não conhecido’ (RESP 9605 7/MG, Rel. Min. 
NILSON NAVES, DJ de 22/03/1999, p. 188- N. g.).
‘DIREITOS CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. DECLARATÓRIA AJUIZADA 
POR HERDEIRO PLEITEANDO A INEFICÁCIA, CONTRA SI, DE SENTENÇA 
29FGV dirEito rio
dirEito dAs sucEssõEs
PROFERIDA EM AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE QUE IMPLICOU 
MEAÇÃO DOS BENS DO FALECIDO. DEFESA DA HERANÇA. UM SÓ HER-
DEIRO. INTERESSE. AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO. 
LEGITIMIDADE PASSIVA. DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA. RECURSO 
PROVIDO.
1 - COMO ANOTADO POR ERNANE FIDELIS, ONTOLOGICAMENTE A 
HERANÇA SE DISTINGUE DO ESPÓLIO. ESTE É VISTO DO ÂNGULO DOS 
PRÓPRIOS BENS QUE O CONSTITUEM, ENQUANTO A HERANÇA SE VÊ 
DO ÂNGULO DE POSIÇÃO DOS PRÓPRIOS HERDEIROS.
II - OS DESCENDENTES CO-HERDEIROS QUE, COM BASE NO DIS-
POSTO NO PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 1.580, CC, DEMANDAM EM 
PROL DA HERANÇA, AGEM COMO MANDATÁRIOS TÁCITOS DOS DE-
MAIS CO-HERDEIROS AOS QUAIS APROVEITA O EVENTUAL REIN-
GRESSO DO BEM NA ‘UNIVERSITAS RERUM’, EM DEFESA TAMBÉM 
DOS DIREITOS DESTES.
III - UM DOS HERDEIROS, AINDA QUE SEM A INTERVENIÊNCIA DOS 
DEMAIS, PODE AJUIZAR DEMANDA VISANDO À DEFESA DA HERAN-
ÇA, SEJA O SEU TODO, QUE VAI ASSIM PERMANECER ATÉ A EFETIVA 
PARTILHA, SEJA O QUINHÃO QUE LHE COUBER POSTERIORMENTE.
IV - NA AÇÃO DE DISSOLUÇÃO DE SOCIEDADE DE FATO EM QUE SE 
PLEITEIA A MEAÇÃO DOS BENS DE CONCUBINO FALECIDO, DETÉM 
LEGITIMIDADE PARA FIGURAR NO PÓLO PASSIVO DA CAUSA OS HER-
DEIROS, TENDO EM VISTA QUE A SENTENÇA A SER PROFERIDA PODE, 
INDUBITAVELMENTE, ATINGIR O QUINHÃO DE CADA HERDEIRO.
V - IMPOSSIBILIDADE DE SE INDEFERIR PETIÇÃO INICIAL DE AÇÃO 
PROPOSTA POR HERDEIRO QUE NÃO PARTICIPOU DA DISSOLUÇÃO E 
QUE BUSCA A DECLARAÇÃO DE INEFICÁCIA CONTRA SI DA SENTENÇA 
QUE RECONHECEU A MEAÇÃO DE BENS, ATÉ PORQUE O FUNDAMENTO 
PRINCIPAL É A EXISTÊNCIA DE CONLUIO ENTRE A CONCUBINA E O IN-
VENTARIANTE QUE REPRESENTOU O ESPÓLIO NA DISSOLUÇÃO’ (RESP 
36700/SP, Rel. Min. SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, DJ de 11/11/1996, p. 
43713 – N. g.). ‘PROCESSO CIVIL. AÇÃO PROPOSTA POR NETOS VISANDO 
AO RECONHECIMENTO DA INVALIDADE DE VENDA REALIZADA PELO 
AVÔ (FALECIDO)

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