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AÇÃO RESCISÓRIA 1. Conceito De maneira sucinta, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos Barros (2011) conceitua ação rescisória como o remédio jurídico que visa reparar a injustiça de uma sentença transitada em julgado. De cunho desconstitutivo, visa ela a extinção da imutabilidade dos efeitos materiais da sentença de mérito, por alguma das hipóteses previstas no art. 485 do CPC. Não suspende ela a executibilidade da sentença, a menos que haja concessão de medidas de natureza cautelar ou antecipatória da tutela. Cumpre ressaltar que no novo Código de Processo Civil o antigo art. 485 supra citado corresponde ao art. 966. Tais hipóteses serão melhor explicadas no tópico referente a requisitos. Didier e Cunha (2013) acrescentam ainda que a ação rescisória não é recurso, por não estar prevista em lei corno recurso. Além disso, enquanto os recursos não formam novo processo, nem inauguram uma nova relação jurídica processual, as ações rescisórias geram a formação de nova relação jurídica processual, instaurando-se um processo novo. 2. Legitimidade Conforme prevê o Novo Código de Processo Civil em seu art. 967, Têm legitimidade para propor a ação rescisória: I - quem foi parte no processo ou o seu sucessor a título universal ou singular; II - o terceiro juridicamente interessado; III - o Ministério Público: a) se não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção; b) quando a decisão rescindenda é o efeito de simulação ou de colusão das partes, a fim de fraudar a lei; c) em outros casos em que se imponha sua atuação; IV - aquele que não foi ouvido no processo em que lhe era obrigatória a intervenção. Parágrafo único. Nas hipóteses do art. 178, o Ministério Público será intimado para intervir como fiscal da ordem jurídica quando não for parte. Cumpre acrescentar que o referido art. 178 trata das hipóteses de obrigatoriedade de intervenção do Ministério Público, nos processos que envolvam interesse público ou social; interesse de incapaz; e litígios coletivos pela posse de terra rural ou urbana. Didier e Cunha (2013) explica que a legitimidade para intentar a ação rescisória com fundamento em colusão para fraudar a lei é do Ministério Público, entretanto tal legitimidade não é exclusiva, podendo a rescisória, nesse caso, ser intentada também por terceiro juridicamente interessado, por uma das partes que não participou do conluio ou mesmo por quem fez parte do conluio. O brilhante autor acrescenta ainda que é terceiro legitimado aquele que não participou do processo originário, mas foi prejudicado do ponto de vista jurídico pela decisão nele proferido, ainda que indiretamente, têm legitimidade ativa na condição de terceiro prejudicado os que poderiam ter ingressado no processo primitivo como assistente e litisconsorte. O Código regula expressamente a matéria apenas no que se refere à legitimação ativa para a rescisória, não havendo qualquer disposição expressa a respeito da legitimação passiva. Didier e Cunha (2013) elucidam sobre o tema expondo que todos os partícipes da relação processual oriunda da ação matriz devem ser citados, como litisconsortes necessários, já que o acórdão que será nela proferido atingirá a esfera jurídica de todos. Se o objeto da ação rescisória só disser respeito a algum ou alguns dos participantes do processo originário, somente esses devem ser citados como litisconsortes necessários, e não todos. É possível, ainda, que seja parte da ação rescisória terceiro que não fez parte da ação matriz. Enfim, a legitimidade passiva deve observar o capítulo da decisão que se busca rescindir para identificar quem é o titular atual do direito ali certificado, que será a parte legítima nessa ação autônoma de impugnação. 3. Competência Marcus Vinicius Rios Gonçalves (2011) explica que a ação rescisória de sentença deve ser proposta perante o Tribunal que teria competência para julgar recursos contra ela; se de acórdão, a competência será do mesmo Tribunal que o proferiu, mas o julgamento será feito por um órgão mais amplo. A Constituição Federal estabelece expressamente que compete: a) ao STF (CF, art. 102, I, j); b) ao STJ processar e julgar, originariamente, a ação rescisória de seus julgados (CF, art. 105, I, e); c) aos Tribunais Regionais Federais processar e julgar as ações rescisórias de seus acórdãos e das sentenças dos juízes federais das respectivas regiões (CF, art. 108, I, b). Didier e Cunha (2013) explicam que as decisões de mérito proferidas por juízes de primeira instância são desconstituídas, igualmente, por ação rescisória, que deve ser processada e julgada pelo tribunal ao qual está vinculado o juízo que proferiu a sentença. Assim, proferida a sentença por um juiz federal, a ação rescisória será processada e julgada pelo Tribunal Regional Federal ao qual este ja vinculado o juiz. Por sua vez, a ação rescisória contra sentença de mérito de juiz estadual será processada e julgada perante o respectivo tribunal de justiça. No caso de sentença proferida por juiz estadual investido de jurisdição federal (109, § 3º, CF/88), a competência será do Tribunal Regional Federal da respectiva região. 4. Requisitos Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2011) afirma que a ação rescisória deve atender variados requisitos de admissibilidade, que poderiam ser agrupados em duas grandes categorias: os comuns a todas as ações, como o preenchimento das condições da ação rescisória — possibilidade jurídica do pedido, interesse e legitimidade; e os requisitos específicos. 4.1 As condições da ação rescisória a) Possibilidade jurídica do pedido As hipóteses de cabimento da ação rescisória estão previstas no art. 966 do Novo Código do Processo Civil: Art. 966. A decisão de mérito, transitada em julgado, pode ser rescindida quando: I - se verificar que foi proferida por força de prevaricação, concussão ou corrupção do juiz; II - for proferida por juiz impedido ou por juízo absolutamente incompetente; III - resultar de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei; IV - ofender a coisa julgada; V - violar manifestamente norma jurídica; VI - for fundada em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória; VII - obtiver o autor, posteriormente ao trânsito em julgado, prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável; VIII - for fundada em erro de fato verificável do exame dos autos. § 1o Há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir fato inexistente ou quando considerar inexistente fato efetivamente ocorrido, sendo indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado. § 2o Nas hipóteses previstas nos incisos do caput, será rescindível a decisão transitada em julgado que, embora não seja de mérito, impeça: I - nova propositura da demanda; ou II - admissibilidade do recurso correspondente. § 3o A ação rescisória pode ter por objeto apenas 1 (um) capítulo da decisão. § 4o Os atos de disposição de direitos, praticados pelas partes ou por outros participantes do processo e homologados pelo juízo, bem como os atos homologatórios praticados no curso da execução, estão sujeitos à anulação, nos termos da lei. b) O interesse Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2011) ensina que só teminteresse em propô-la aquele que puder auferir algum proveito da rescisão, alguma melhora de sua situação, caso o julgamento anterior seja rescindido, e outro seja proferido em seu lugar. Para isso, é preciso que o autor da ação rescisória não tenha obtido o melhor resultado possível no processo cujo julgamento se quer rescindir. Flávio Yarshell ensina que “é também a partir do que foi julgado no dispositivo da sentença que se determina o interesse de agir na ação rescisória, havendo grande afinidade desse tema com o do interesse recursal: o que justifica a impugnação, de um modo geral, é o julgamento desfavorável e cuja modificação possa levar, por alguma forma, a situação mais favorável do que aquela imposta à parte ‘sucumbente’”. É possível que ambos os litigantes tenham interesse em ajuizá-la, havendo sucumbência recíproca. E ambos poderão postular a rescisão com o mesmo fundamento. Assim, por exemplo, se a sentença é extra petita, tanto o autor quanto o réu requerer a rescisão por essa razão. c) A legitimidade Já comentado no tópico 2 deste trabalho. 4.2 Outros requisitos Marinoni et al (2015) ensina que para que se admita a ação rescisória, é preciso que haja, além das condições da ação e dos pressupostos processuais, i) decisão que efetivamente aprecie o mérito da demanda, acolhendo ou rejeitando, no todo ou em parte, o pedido formulado (art. 966); ii) ocorrência de coisa julgada em função da preclusão; iii) presença de uma das causas apontadas no art. 966; e iv) não exaurimento do prazo previsto para a ação rescisória (art. 975). 4.3 Requisitos Específicos O art. 966 do Novo Código do Processo Civil enumera um rol taxativo e não comporta ampliações, nem utilização da analogia, para hipóteses que não tenham sido expressamente previstas. O cabimento da ação rescisória limita-se a casos extraordinários, expressamente enumerados em lei. a) Prevaricação, concussão ou corrupção do juiz: Tais defeitos constituem tipos penais, em que pode inserir-se o juiz e que não podem ser chancelados pela incidência da coisa julgada. A prevaricação (art. 319, CP) refere-se à situação em que o juiz, para satisfazer interesse ou sentimento pessoal, retarda ou deixa de praticar ato de ofício, ou ainda pratica ato contra disposição expressa de lei. A concussão (art. 316, CP) liga-se à exigência pelo magistrado de vantagem, pecuniária ou não, indevida em razão de suas funções, para a prática de ato. Por fim, a corrupção, que deve ser passiva (art. 317, CP), importa na solicitação ou recebimento pelo servidor público em razão de suas funções de vantagem indevida ou aceitação quanto à promessa de recebê-la, sem, todavia, exigi-la. Em todos esses casos, a conduta ilícita do magistrado além de confirmar um delito, compromete a seriedade da prestação jurisdicional e ofende o direito ao juiz natural. (MARINONI et al, 2015) b) Impedimento ou incompetência absoluta do juiz: A falta de capacidade subjetiva ou objetiva absoluta do magistrado também é causa de ação rescisória. Sendo o juiz absolutamente incompetente (art. 62) ou estando impedido (art. 144) para atuar no processo, sua participação viola de tal maneira o ordenamento jurídico que o resultado da tutela jurisdicional se torna imprestável, e também aqui por ofensa ao direito ao juiz natural. A incompetência relativa (art. 63) e a suspeição do juiz (art. 145) são sanadas pela coisa julgada, não podendo ser invocadas para revivificar a discussão sobre a decisão prolatada. (MARINONI et al, 2015) c) Existência de dolo ou coação da parte vencedora em detrimento da parte vencida, ou, ainda, de simulação ou colusão entre as partes, a fim de fraudar a lei: A lei busca impedir que as partes se sirvam do processo para fins ilícitos. Como estabelece o art. 142, "convencendo-se, pelas circunstâncias, de que autor e réu se serviram do processo para praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos das partes, aplicando, de ofício, as penalidades da litigância de má-fé”. O desvirtuamento da função do processo pode ser invocado depois de concluído o julgamento do feito por meio da ação rescisória. O mesmo se diga quando for verificada a ocorrência de dolo (arts. 145 a 150, CC) ou coação (arts. 151 a 155, CC) da parte vencedora em detrimento da outra. Isso porque, nesses casos, ou a parte vencedora obstaculiza a adequada participação da parte vencida no processo, impedindo suas alegações e produção de provas ou mesmo leva o juiz a interpretar a situação litigiosa de forma indevidamente contrária à parte vencida. A boa fé constitui norma fundamental do novo processo civil brasileiro (art. 5º), daí a razão pela qual nessas circunstâncias impõe-se a desconstituição da coisa julgada. (MARINONI et al, 2015) d) Ofensa à coisa julgada: A coisa julgada impede a rediscussão da sentença. Ora, se é assim, em havendo a propositura de uma segunda demanda idêntica à outra cuja decisão transitou em julgado, mesmo que essa segunda ação seja julgada (sem observância da coisa julgada formada anteriormente), a "coisa julgada" nela formada ofende a coisa julgada anterior. Por isso, esse segundo julgamento, embora possa transitar em julgado, estará sujeito à desconstituição. A grande questão ocorre no conflito dessas coisas julgadas, após o esgotamento do prazo de dois anos existente para a propositura da ação rescisória (art. 975). Findo esse prazo, tem-se em tese duas coisas julgadas - possivelmente antagônicas - convivendo no mundo jurídico, o que certamente não é possível. Parece que, nesses casos, deve prevalecer a segunda coisa julgada em detrimento da primeira. Além de a primeira coisa julgada não ter sido invocada no processo que levou à formação da segunda, essa sequer foi mesmo lembrada em tempo oportuno, permitindo o uso da ação rescisória e, assim, a desconstituição da coisa julgada formada posteriormente. É absurdo pensar que a coisa julgada, que poderia ser desconstituída até determinado momento, simplesmente desaparece quando a ação rescisória não é utilizada. (MARINONI et al, 2015) e) Violação manifesta de norma jurídica: Se, no julgamento, o juiz desrespeita ou não observa manifestamente norma jurídica, sua decisão não se encontra adequadamente justificada à luz da ordem jurídica, não podendo, por isso, prevalecer. A sentença que possui interpretação divergente daquela que é estabelecida pela doutrina e pelos tribunais, exatamente pelo fato de que interpretações diversas são plenamente viáveis e lícitas enquanto inexistente precedente constitucional ou federal firme sobre a questão, não abre ensejo para a ação rescisória. A ação rescisória somente é cabível nos casos de ofensa manifesta à norma jurídica, valendo para qualquer espécie de norma jurídica, sendo irrelevante saber a categoria da norma jurídica em discussão (se constitucional ou infraconstitucional). (MARINONI et al, 2015) f) Fundamento em prova cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal ou venha a ser demonstrada na própria ação rescisória: O julgamento depende do conhecimento adequado dos fatos da causa. Se o magistrado, ao formar seu convencimento sobre os fatos, apóia-se em prova falsa, certamente é induzido em erro na sua valoração. Se o erro é relevante, capaz de alterar o resultado do julgamento, então caberá ação rescisória fundada na apuração da falsidade da prova (art. 966, VI). Entretanto, se a sentença puder sobreviver, ou seja, puder ser mantida no seu resultado, ainda que fundada em prova reconhecida como falsa, não há razão para a desconstituição da coisa julgada. A prova apontadacomo falsa na ação rescisória pode ser assim reconhecida na própria rescisória, ou em outro processo civil ou criminal desde que a parte que pode sofrer as consequências da falsidade tenha deles participado em contraditório. (MARINONI et al, 2015) g) Prova nova cuja existência ignorava ou de que não pôde fazer uso, capaz, por si só, de lhe assegurar pronunciamento favorável: A existência de prova não utilizada (porque desconhecido ou porque dele não se pôde fazer uso), capaz de alterar a compreensão dos fatos envolvidos no litígio, pode dar ensejo à ação rescisória quando relevante para, por si só, assegurar "pronunciamento favorável" (art. 966, VII). Tal prova deve ser capaz de, por si só, gerar resultado favorável ao autor da ação rescisória. Essa prova, embora chamada de "prova nova", pode ser usada na rescisória quando era ignorada ou não pôde ser usada no processo que deu origem à sentença rescindenda, ainda que existente antes dela. (MARINONI et al, 2015) h) Fundamento em erro de fato verificável do exame dos autos: Por fim autoriza- -se a rescisão da coisa julgada quando a sentença de mérito esteja calcada em erro de fato. Não se trata, aqui, de documento novo nem de prova falsa. Para a admissão da rescisória fundada em "erro de fato" é preciso que exista nexo de causalidade entre ele e a sentença rescindenda. E necessário, em outras palavras, que um erro de fato tenha determinado o resultado da sentença. Afirma-se que "há erro de fato quando a decisão rescindenda admitir um fato inexistente ou quando considerar inexistente um fato efetivamente ocorrido" (art. 966, §1º, primeira parte), sendo "indispensável, em ambos os casos, que o fato não represente ponto controvertido sobre o qual o juiz deveria ter se pronunciado” (art. 966, §1º, infine). Portanto, a admissão da ação rescisória nesse caso e subordinada aos seguintes requisitos: i) que a sentença esteja baseada em erro de fato; ii) que esse erro possa ser apurado independentemente da produção de novas provas; iii) que sobre o fato não tenha havido controvérsia entre as partes; e iv) que não tenha havido pronunciamento judicial sobre o fato. Se o fato foi objeto de cognição mediante prova no curso do raciocínio que o juiz empregou para formar seu juízo, não cabe ação rescisória. Mas se o fato foi suposto, no raciocínio, como mera etapa para o juiz chegar a uma conclusão, a ação rescisória é admissível. (MARINONI et al, 2015) 5. Efeitos Diddier e Cunha (2013) enunciam que a ação rescisória, devido ao seu caráter constitutivo negativo ou desconstitutivo, produzindo-se efeitos ex tunc, tendo, portanto, eficácia retroativa para desfazer tudo que se realizou a partir da sentença ou do julgado rescindendo. O renomado autor traz um pronunciamento do STJ para bem explicar os efeitos da ação rescisória, trazendo uma exceção à regra: "Via de regra, a rescisão da sentença de mérito, embora ostente decisão de natureza desconstitutiva, tem efeitos ex tunc, ou seja, retroage para atingir todas as situações decorrentes da relação jurídica discutida no processo original. Excepcionalmente, dada a efetividade da sentença transitada em julgado, que repercute no mundo jurídico desde logo, devem ser ressalvadas determinadas situações havidas sob a coisa julgada até então existente, sobretudo quando envolvem terceiros de boa-fé, [...]". (STJ, 1° S., SR n. 3.788-PE, rei. Min. Benedito Gonçalves, j. em 14.04.2010, publicado no DJe de 21 .05.2010) 6. Procedimentos Adota-se as lições de Marcus Vinícius Rios Gonçalves (2011) para explicar os procedimentos da ação rescisória: a) Petição inicial: A petição inicial deve conter os requisitos do art. 282, do CPC, e indicar os três elementos da ação: as partes, o pedido e a causa de pedir. Ao formular o pedido, o autor poderá cumular a pretensão ao “juízo rescindente” e ao “juízo rescisório”, se caso. Nem sempre será o caso de cumulação das duas coisas. Haverá aqueles em que bastará rescindir o julgado, sem necessidade de proferir outro em substituição, como no caso de segunda sentença proferida quando já havia outra anterior, transitada em julgado; há outros, ainda, em que o juízo rescisório não poderá ser feito pelo mesmo órgão que fez o rescindente, como no caso da rescisão por incompetência absoluta do juízo. Mas, como ensina Flávio Yarshell, “conquanto a lei diga que ao autor compete, na elaboração da petição inicial, cumular ao pedido de desconstituição o de novo julgamento da causa, é de se reputar como implícito o pedido relativo ao chamado juízo rescisório, na exata medida da procedência o juízo rescindente. Não haveria sentido em se desconstituir a decisão de mérito e, a pretexto de que não teria havido pedido de novo julgamento, o tribunal interromper aí seu julgamento”. O pedido do juízo rescisório está implícito no do juízo rescidente, quando for o caso, e apesar da redação do art. 488, I, do CPC. A rescisão pode englobar a sentença toda, ou apenas um dos seus capítulos, caso em que somente estes serão substituídos pela nova decisão. A causa de pedir deve corresponder a uma ou mais das hipóteses do art. 485. (GONÇALVES, 2011) (Grifo nosso – art. 282 substituído pelo art. 319 do NCPC; art. 485 substituído pelo art. 966 do NCPC) b) Caução: O art. 968, II, obriga o autor a “depositar a importância de cinco por cento sobre o valor da causa, que se converterá em multa caso a ação seja, por unanimidade de votos, declarada inadmissível ou improcedente”. Sem o depósito, a petição inicial será indeferida. Caso a rescisória venha a ser julgada procedente, o dinheiro será restituído ao autor. Também haverá restituição se o resultado lhe for desfavorável, mas não por unanimidade de votos. Mas não haverá restituição em caso de desistência, ou de extinção por abandono. Quando o autor for o Ministério Público, pessoa jurídica de direito público ou beneficiário da justiça gratuita, não haverá necessidade de caução. A Súmula 175 do STJ estabelece: “Descabe o depósito prévio nas ações rescisórias propostas pelo INSS”. Tal solução estende-se às demais autarquias e pessoas jurídicas de direito público. (GONÇALVES, 2011) c) Indeferimento da inicial: O art. 968, do NCPC, autoriza o indeferimento da inicial nas mesmas situações em que isso ocorre nos outros processos (CPC, art. 330). Também haverá o indeferimento se não for recolhida a caução exigida pelo art. 968, II, do NCPC. O relator tem poderes para indeferir a inicial, cabendo agravo interno ou regimental para o órgão que seria o competente para julgar a ação. Discute-se sobre a possibilidade de algum recurso contra o indeferimento da inicial. Não cabe apelação, porque não houve sentença, mas acórdão, pois se trata de ação de competência originária do tribunal. Só se admitirão eventuais recursos nos regimentos internos do tribunal. (GONÇALVES, 2011) d) Tutela antecipada: O art. 969 do NCPC passou a regulamentar expressamente o assunto, ao determinar que “A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a concessão de tutela provisória.” A concessão da tutela de urgência há de ser excepcional, uma vez que há sentença ou acórdão transitado em julgado. Para o deferimento é indispensável a plausibilidade do pedido de rescisão e o risco de prejuízo irreparável ou de difícil reparação, caso o cumprimento da sentença não seja suspenso. Cumpre ao relator da ação rescisória apreciar o pedido de liminar. (GONÇALVES, 2011) e) Citação e defesa: O relator determinará a citação dos réus, assinalando-lhes o prazo nunca inferior a quinze nem superior a trinta dias.Questão altamente controversa é a da aplicação dos arts. 180, 183 e 229 do NCPC, que determinam a duplicação do prazo quando os réus forem o Ministério Público, a Fazenda Pública, e quando houver litisconsortes com advogados diferentes. A redação do art. 970 dá a impressão de que não, pois o dispositivo já concede ao juiz certo arbítrio na fixação do prazo, facultando-lhe ampliá-lo, conforme o caso, até trinta dias. Mas o STF, por sua primeira turma, decidiu que o prazo dos arts. 180 e 183 são aplicáveis à ação rescisória, sob o fundamento de que o prazo do art. 970 é legal, e não judicial. A citação poderá ser feita pelos meios previstos em lei. Em caso de revelia dos réus, não haverá a presunção de veracidade decorrente da revelia, uma vez que já existe sentença transitada em julgado. Ainda que o réu não conteste, o autor não se exime do ônus de comprovar as hipóteses do art. 966. Além da contestação, o réu poderá apresentar exceções rituais, que se processarão na forma do regime interno. Admite-se a reconvenção, desde que presentes os requisitos do art. 343 do NCPC. Apresentada ou não a resposta, o processo seguirá pelo procedimento ordinário. Se houver necessidade de provas, o órgão julgador expedirá carta de ordem, determinando ao juiz da comarca onde a prova deva ser produzida, a sua realização, com prazo de 45 a 90 dias para a devolução. (GONÇALVES, 2011) Concluída a instrução, será aberta vista, sucessivamente, ao autor e ao réu pelo prazo de dez dias, para razões finais. Em seguida, os autos subirão ao relator, procedendo-se ao julgamento (NCPC, art. 973). f) A intervenção do Ministério Público: Gonçalves (2011) ensina que o Ministério Público intervém em todos os processos de ação rescisória, ainda que não tenha intervindo no processo originário, porque há um interesse público que, pela natureza da lide, se manifesta sempre nesse tipo de ação. Quando não for parte, o Ministério Público atuará como fiscal da lei, manifestando-se na forma do art. 179, do NCPC. g) O julgamento: Depois de colhidas as manifestações das partes e do Ministério Público, a ação rescisória será julgada, na forma do art. 974, do NCPC. Cumprirá ao tribunal, em caso de procedência, rescindir a sentença (juízo rescindente) e, se for o caso, promover o novo julgamento (juízo rescisório). Também o será, caso haja improcedência, ou a rescisória seja considerada inadmissível, mas não por unanimidade de votos. Se a improcedência ou rejeição for unânime, o autor perderá em favor do réu a caução, a título de multa, nos termos do art. 968, II, do NCPC. (GONÇALVES, 2011) h) O juízo rescisório — a quem cabe fazer: O julgamento da ação rescisória pode ser dividido em dois momentos: aquele em que o tribunal verificará se é caso de rescindir a sentença ou o acórdão; e o posterior, que depende do acolhimento do primeiro, em que se decidirá se é caso de promover o novo julgamento, passando- se a ele, em caso afirmativo. A rescisória pode ter por objeto sentença ou acórdão. Se contra a sentença não foi interposto recurso, ou os recursos interpostos nem foram conhecidos, é a sentença que transita em julgado, e a rescisão será dela; se contra a sentença foi interposto recurso, conhecido, o acórdão a substituirá, tenha ele mantido ou reformado a sentença de primeiro grau. Por isso, é ele que transita em julgado e será objeto de rescisão. Cumpre ao órgão julgador da ação rescisória proferir o novo julgamento quando for o caso, isto é, quando isso for necessário e possível. A competência para proferir o juízo rescisório é do mesmo órgão que fez o juízo rescindente, não importante que a rescisão seja de sentença ou de acórdão. Rescindida a sentença, não será o juízo que a prolatou quem proferirá outra no seu lugar, mas o Tribunal que a rescindiu. Não há ofensa ao duplo grau de jurisdição, pois se está diante de um caso de competência originária do tribunal. Ficam ressalvados os casos de rescisão por incompetência, em que haverá necessidade de remessa ao Tribunal ou ao juízo competentes. (GONÇALVES, 2011) i) Recurso: Se ele padecer de obscuridade, omissão ou contradição, cabem embargos de declaração; se julgar procedente a ação e não for unânime, cabem embargos infringentes. E eventual recurso extraordinário ou ordinário, nos casos dos arts. 102, III e 105, III, da CF. (GONÇALVES, 2011) j) Prazo: O art. 975, do NCPC, estabelece que Art. 975. O direito à rescisão se extingue em 2 (dois) anos contados do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. § 1º Prorroga-se até o primeiro dia útil imediatamente subsequente o prazo a que se refere o caput, quando expirar durante férias forenses, recesso, feriados ou em dia em que não houver expediente forense. § 2º Se fundada a ação no inciso VII do art. 966, o termo inicial do prazo será a data de descoberta da prova nova, observado o prazo máximo de 5 (cinco) anos, contado do trânsito em julgado da última decisão proferida no processo. § 3º Nas hipóteses de simulação ou de colusão das partes, o prazo começa a contar, para o terceiro prejudicado e para o Ministério Público, que não interveio no processo, a partir do momento em que têm ciência da simulação ou da colusão. A Súmula 401 do Superior Tribunal de Justiça acrescenta que “o prazo decadencial da ação rescisória só se inicia quando não for cabível qualquer recurso do último pronunciamento judicial”. O prazo se justifica por razões de segurança jurídica: não seria razoável que, por tempo indefinido, se pudesse desconstituir decisão transitada em julgado. Ele tem natureza decadencial, pois a ação é desconstitutiva dos julgados anteriores. Aplica-se a regra geral do art. 240, § 1º, do NCPC: “A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo incompetente, retroagirá à data de propositura da ação”. Em síntese, se o recurso não é conhecido, a rescisória terá por objeto a sentença, mas o seu prazo só contará a partir do trânsito em julgado do acórdão de não conhecimento. A contagem do prazo traz problemas quando partes distintas da sentença transitarem em julgado em momentos diferentes, quando há apelação parcial. O objeto do recurso não transita em julgado, mas a parte incontroversa sim. Tem decidido o STJ que: “Se as partes distintas da sentença transitarem em julgado em momentos também distintos, a cada qual corresponderá um prazo decadencial próprio” (STJ, 6ª Turma, REsp 212.286, rel. Min. Hamilton Carvalhido). Se o objeto da rescisória é decisão interlocutória que examina o mérito, o prazo de dois anos correrá a partir do momento em que ela transite em julgado, e não somente após o julgamento final do processo. (GONÇALVES, 2011) 7. Análise Jurisprudencial 7.1 Caso Procedente a) Resumo A ação rescisória em análise tem como autor OBRAS SOCIAIS DA ORDEM ESPITITUALISTA CRISTA VALE DO AMANHECER e réu AUAD FORTE EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA, onde o autor, com fundamento no artigo 485, incisos V e VI, do CPC, propôs a presente Ação Rescisória em face do réu a fim de desconstituir sentença proferida nos autos da Ação de Rescisão Contratual c/c Reintegração de Posse movida em seu desfavor. Trata-se de um caso em que a juíza da ação rescindenda não se ateve à aplicação da legislação que deveria ser aplicada no caso, qual seja, a Lei 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e o Decreto-lei nº 58/37, que dispõe sobre o loteamento e venda de imóveis urbanos e rurais. Além disso, a jurisprudência é pacífica ao exigir, para o desfazimento do contrato de promessa de compra e venda, a prévia interpelação do devedorpara constituí-lo em mora. Nos autos do processo rescindido, o aviso de recebimento dos correios não serve de prova de entrega da notificação que continha, por lhe faltarem elementos como o carimbo dos correios, assinatura e matrícula do carteiro ou comprovante de sua postagem. Logo, não havendo a constituição regular de mora, falta à autora o pressuposto válido do processo, conforme art. 267, IV, CPC. b) Tese do autor O autor propôs a ação com fundamento no artigo 485, incisos V e VI, do CPC, que trata: V- violar literal disposição da lei, e VI – se fundar em prova, cuja falsidade tenha sido apurada em processo criminal, ou seja, provada na própria ação rescisória. Alegou-se que a magistrada da ação rescindenda considerou que a existência de cláusula resolutiva expressa no referido contrato permite sua rescisão automática, sem necessidade de notificação da outra parte, e não se ateve à aplicação da legislação que deveria ser aplicada no caso, qual seja, a Lei 6.766/79, que dispõe sobre o parcelamento do solo urbano e o Decreto-lei nº 58/37, que dispõe sobre o loteamento e venda de imóveis urbanos e rurais. A magistrada ignorou, portanto, a previsão das referidas leis quanto à indispensabilidade da prévia interpelação do devedor quando a ação pretender a rescisão contratual da promessa de compra e venda fundada no inadimplemento, e ignorando, assim, a validade do Aviso de Recebimento dos Correios que continha a notificação da devedora, o qual carecia de elementos de validade essenciais. Assim, a sentença rescindenda feriu o art. 267, IV, do CPC, por lhe faltar pressuposto de constituição válida e regular do processo c) Motivos de deferimento O pedido foi conhecido com base nos termos do art. 485, inciso V, da Lei Processual Civil, reconhecendo que a sentença ou acórdão foi proferido contra literal disposição de lei. A decisão do juízo foi que a ação de Rescisão Contratual c/c Reintegração de Posse rescindenda está fulminada pelos vícios da ausência de pressuposto de constituição válida e regular do processo, devendo, pois, ser extinta, nos termos do art. 267, inciso IV, do Código de Processo Civil. Assim, a ação rescisória foi julgada procedente, vez que demonstrada a violação literal a disposição de lei. Os motivos da decisão se baseiam na invalidade do Aviso de Recebimento dos Correios que serviu à propositura da ação, insuficiente para afirmar que foi encaminhado ao endereço ali constante, conforme detalhado no resumo do caso. Logo, o AR apresentado pela autora quando da propositura da ação de rescisão contratual não possui o condão de demonstrar, de forma inequívoca, que a referida correspondência tenha sido efetivamente enviada ao endereço da devedora, não havendo, pois, se falar em constituição em mora. Conclui-se, assim, que não havendo a constituição regular da mora, falta à autora o pressuposto válido do processo, o que acarreta a extinção do feito, sem resolução de mérito, segundo o artigo 267, inciso IV, do Código Processual Civil. d) Referência (TJGO, ACAO RESCISORIA 336749-29.2014.8.09.0000, Rel. DR(A). MARCUS DA COSTA FERREIRA, 2A SECAO CIVEL, julgado em 05/08/2015, DJe 1850 de 18/08/2015) 7.2 Caso Improcedente a) Resumo A ação rescisória em análise tem como autor o MUNICIPIO DE GOIATUBA e como ré LUCIENE ADELIA ROCHA SILVA, onde o autor busca rescindir decisão monocrática de Ação de Cobrança proferida pela Desembargadora Beatriz Figueiredo Franco. Na ação originária, a ré ajuizou ação de cobrança em desfavor do MUNICÍPIO DE GOIATUBA, alegando que é servidora pública municipal, ocupante do cargo de gari e, por essa razão, requereu o recebimento do adicional de insalubridade, no valor de 40% (quarenta por cento) do seu vencimento, relativo aos últimos cinco anos anteriores ao ajuizamento da citada demanda. A sentença julgou parcialmente procedente o pedido inicial, para condenar o Município Réu a pagar à Autora as prestações vencidas do adicional de insalubridade, no importe de 30% (trinta por cento) do seu vencimento, contadas a partir da propositura da ação, determinando a inclusão do referido valor em folha de pagamento, acrescido de correção monetária e juros de mora de 1% (um por cento) ao mês. O Município interpôs apelação cível que foi julgada improcedente. Visando rescindir a referida decisão, o MUNICÍPIO DE GOIATUBA aduz que houve error in procedendo do magistrado, uma vez que ele julgou antecipadamente a lide, sem realizar a perícia judicial necessária ao esclarecimento do grau de insalubridade a que estava exposto a Servidora. b) Tese do autor A fim de rescindir a decisão originária, o MUNICÍPIO DE GOIATUBA aduz que houve error in procedendo do magistrado, uma vez que ele julgou antecipadamente a lide, sem realizar a perícia judicial necessária ao esclarecimento do grau de insalubridade a que estava exposto a Servidora. Salienta que houve violação literal de disposição de lei (artigo 485, inciso V, do Código de Processo Civil), baseado nas seguintes teses: a)Violação ao artigo 333, inciso I, do Código de Processo Civil, o qual estabelece a regra de distribuição do ônus probatório; b) Violação à norma regulamentadora nº 15 da Segurança e Medicina do Trabalho, que fixa os percentuais e os graus de insalubridade; c) Violação ao artigo 195 da Consolidação das Leis Trabalhistas, que determina a obrigatoriedade de realização de perícia por um médico do trabalho, ou engenheiro do trabalho; e d) Violação ao artigo 145 do Código de Processo Civil, o qual preceitua que, quando o fato depender de conhecimento técnico, ou científico, o juiz deverá ser assistido por perito nomeado. Para tanto, pugna pela antecipação dos efeitos da tutela, para suspender o cumprimento da sentença prolatada na ação de cobrança, em trâmite na comarca de Goiatuba. Ao final, pleiteia a rescisão da decisão monocrática com fundamento no artigo 485, inciso V, do Código de Processo Civil, a fim de que seja declarada nula a sentença, determinando o regular prosseguimento da ação de cobrança, com a realização de perícia judicial. c) Motivos de indeferimento Sobre a acusação que houve error in procedendo do magistrado por julgar antecipadamente a lide, sem realizar a perícia judicial necessária ao esclarecimento do grau de insalubridade a que estava exposto a Servidora, violando literal disposição de lei, conforme preceitua o artigo 485, V, do Código de Processo Civil, o juiz faz constar que, apesar de o Município Autor, antes da prolação da sentença, ter formulado pedido de produção de prova pericial, tal fato não impede que o magistrado julgue antecipadamente a lide. O princípio dispositivo, vigente no nosso sistema processual civil, é mitigado, especialmente, pelo artigo 130 do Código de Processo Civil, que assim dispõe: “Caberá ao juiz, de ofício ou requerimento da parte, determinar as provas necessárias à instrução do processo, indeferindo as diligências inúteis ou meramente protelatórias.” Dessa forma, percebe-se que, muito embora possa o magistrado determinar a produção de provas que entender necessárias à lide, cabe a ele, também, indeferir as que entender inúteis para elucidação dos fatos. Nesses termos, a prolação de sentença, sem que tenham sido realizadas as provas postuladas pelas partes, não configura cerceamento do direito de defesa, ou ofensa ao princípio do contraditório, mas sim, servem para incentivar os princípios da celeridade e economia processuais. Vale ressaltarque a realização de perícia para aferir a insalubridade da atividade empreendida pela parte Ré, neste caso, resulta desnecessária, tendo em vista a existência de prova documental produzida nos autos, revelando que a Servidora desempenha a função de gari, bem como a concordância do Autor, quanto a este fato, mostrando-se desnecessária a realização de perícia para a caracterização do grau de insalubridade. O juiz entende que, além de insalubre, a atividade do gari é muito penosa, pois, são obrigados a sair pela cidade em contato direto e permanente com tudo que possamos imaginar, desde um simples saco com matéria reciclável a animais mortos, fonte de contaminação de doenças. Além disso, a prova pericial não teria o condão de modificar o grau de insalubridade devido à Ré, uma vez que, a Norma Regulamentadora nº 15, anexo XIV, do Ministério do Trabalho determina ser em grau máximo (30% - trinta por cento) o adicional a ser pago aos trabalhadores de que se expõem ao lixo urbano. A propósito, veja-se o regramento contido no inciso II do parágrafo único do artigo 420 do Código de Processo Civil: “Parágrafo único. O juiz indeferirá a perícia quando: II – for desnecessária em vista de outras provas produzidas.” Ademais, ressalte-se que, no caso, a determinação de dilação probatória seria ofensiva aos princípios da celeridade, economia processual e razoável duração do processo. Em face de tais fatos, cumpre salientar que, na ação rescisória, a violação literal de lei, delineada no inciso V do artigo 485 do Código de Processo Civil, deve ser de tal modo que, o julgado rescindendo viole frontalmente a disposição legal. No caso em epígrafe, de fato, não era necessária a produção de prova pericial, não havendo como reconhecer que houve violação literal de dispositivo de lei, como alega o Município Autor. Na hipótese, verifica-se que a pretensão do Autor é somente a rediscussão da matéria na qual restou vencido, utilizando-se da ação rescisória como sucedâneo recursal, o que não se afigura possível. Destaca-se que a ação rescisória não é ferramenta destinada à correção do julgamento (reexame da matéria de mérito), reavaliação das provas dos autos, não servindo, tampouco, para corrigir injustiças na apreciação da causa. Em face do exposto, o juiz declarou improcedente o pedido rescisório, para manter inalterada a decisão monocrática rescindenda. d) Referência (TJGO, ACAO RESCISORIA 209937-05.2015.8.09.0000, Rel. DES. FRANCISCO VILDON JOSE VALENTE, 2A SECAO CIVEL, julgado em 21/10/2015, DJe 1900 de 29/10/2015) 8. Referências Bibliográficas BRASIL. Código Civil. Lei nº 10.406, de 10 de Janeiro de 2002. VadeMecum. São Paulo: Saraiva, 2010. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. VadeMecum. São Paulo: Saraiva, 2010. BARROS, Carlos Eduardo Ferraz de Mattos. Teoria Geral do Processo e Processo de Conhecimento. 12.ed. São Paulo: Saraiva, 2011. DIDIER JÚNIOR, Fredie; CUNHA, Leonardo Carneiro da. Curso de Direito Processual Civil. 11.ed. Salvador: Editora Juspodivm, 2013. Vol. 3. GONÇALVES, Marcus Vinícius Rios. Direito Processual Civil Esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2011. MARINONI, Luiz Guilherme et al. Novo Curso de Processo Civil. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2015. Vol. 2. MEDINA, José Miguel Garcia. Novo CPC: Quadro Comparativo – CPC/1973 > CPC/2015. Disponível em: <http://portalprocessual.com/wp-content/uploads/2015/06/ quadro-1973-2015-horizontal.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2015. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil. 55.ed. Rio de Janeiro: Forense, 2014. Vol. I.
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