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EA D Concepções de Didática nas Diferentes Abordagens de Ensino 4 1. OBJETIVOS • Identificar as diferentes abordagens de ensino. • Reconhecer as principais características de cada uma das abordagens apresentadas no contexto da atuação do pro- fessor universitário. 2. CONTEÚDOS • Abordagem tradicional. • Abordagem comportamentalista. • Abordagem humanista. • Abordagem cognitivista. • Abordagem sociocultural. © Didática do Ensino Superior62 3. ORIENTAÇÃO PARA O ESTUDO DA UNIDADE Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante que você leia as orientações a seguir: 1) Para ampliar seus conhecimentos sobre os assuntos abordados nesta unidade é imprescindível que leia os livros da bibliografia indicada. 2) Complemente o seu conhecimento com a leitura críti- ca e profunda desta obra e discuta esta unidade com os seus colegas e com o tutor. 4. INTRODUÇÃO À UNIDADE Na unidade anterior, você estudou o histórico e a conceitu- ação de Didática e pôde refletir sobre o real papel desta área do conhecimento. Nesta unidade, iremos estudar as concepções de Didática nas diferentes abordagens de ensino. Estas concepções serão fun- damentais para que você, como profissional da Educação Superior, compreenda o fenômeno educativo em alguns de seus aspectos, podendo analisá-las e contextualizá-las. Bons estudos! 5. ABORDAGEM DE ENSINO São muitas as formas de se analisar um fenômeno educati- vo, pois em cada uma delas estão presentes as dimensões técnica, cognitiva, emocional, política, social, cultural e humana. De acordo com a abordagem do processo ensino-aprendiza- gem, ganha destaque uma ou outra dimensão, e assim se define a ação docente, mesmo considerando a particularidade de cada professor em suas ações individual e intransferível. Claretiano - Centro Universitário 63© U4 - Concepções de Didática nas Diferentes Abordagens de Ensino As abordagens são diferentes entre si, algumas apresentam o referencial psicológico e filosófico, outras são fundamentadas na prática, são intuitivas ou baseiam-se na imitação de modelos que, consequentemente, diferencia o conceito de homem, mundo e co- nhecimento (MIZUKAMI, 1986). Aqui serão apresentadas as seguintes abordagens: tradicio- nal, comportamentalista, humanista, cognitivista e sociocultural. 6. ABORDAGEM TRADICIONAL A abordagem tradicional não se fundamenta em teorias em- piricamente validadas, mas na prática educativa e em sua trans- missão ao longo dos anos, de modo que garanta ao educando a aquisição dos conhecimentos historicamente construídos. Centrado no que é externo ao aluno (professor, disciplina etc.), esse tipo de ensino considera a Educação como um produto, ou seja, os conteúdos serão selecionados e organizados de manei- ra sistemática e lógica em aulas expositivas. O ensino é centrado no professor, figura essencial para a transmissão de conteúdos. Ao aluno cabe apropriar-se do conhe- cimento ensinado e executar as tarefas dadas pelo docente de ma- neira automática e passiva. A abordagem tradicional é considerada algo homogêneo e, portanto, todos os alunos da sala de aula devem ter o mesmo rit- mo de aprendizagem, o mesmo material didático, enfim, adquirir os mesmos conhecimentos pela memorização. A relação professor-aluno é vertical e a avaliação visa à re- produção dos conteúdos “passados” em sala de aula, priorizando a quantidade de informações dominadas pelo aluno. Há, ainda, a valorização de algumas disciplinas em detrimen- to de outras, daí a diferença na carga horária entre as disciplinas do currículo. © Didática do Ensino Superior64 7. ABORDAGEM COMPORTAMENTALISTA Caracterizada pelo empirismo, a abordagem comportamen- talista considera o conhecimento como uma descoberta do indi- víduo. Como na abordagem tradicional, a ênfase da abordagem comportamentalista é dada ao produto, só que agora programada e dirigida para o aluno. Você sabia que... ––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Os comportamentalistas ou behavioristas são denominados instrumentalistas e os positivistas consideram a experiência ou a experimentação como a base do conhecimento. Para eles, o conhecimento é resultado da experiência. Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) é considerado um representante da “análise funcional” do comportamento. Segundo o pesquisador, as mudanças no comportamento são o resultado de uma resposta individual a eventos (estímulos) que ocorrem no meio. Os princípios de Skinner podem ser divididos em três tópicos: a) O comportamento é positivamente reforçado e irá acontecer novamente, ou seja, o reforço intermitente é particularmente efetivo. b) As informações devem ser apresentadas em pequenas quantidades, para que as respostas sejam reforçadas (“moldagem”). c) Os reforços vão generalizar, lado a lado, estímulos similares (generalização de estímulo), produzindo condicionamento secundário. –––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––– Nesta abordagem, a Educação tem o papel de transmitir comportamentos éticos, práticas sociais, habilidades consideradas básicas para a manipulação e o controle do mundo e do ambiente (MIZUKAMI, 1986). Os comportamentos desejados para os alunos serão insta- lados e mantidos por reforços como elogios, notas, prêmios, re- conhecimento, diploma, aprovação no fim do ano letivo, status, entre outros. Para Skinner (apud MIZUKAMI, 1986), o ensino e a apren- dizagem eficaz devem ocorrer por meio destes arranjos e de conteúdos transmitidos, visando objetivos e habilidades que de- senvolvam as competências. Para isso, é preciso que o professor considere os elementos de ensino, tanto quanto as respostas dos Claretiano - Centro Universitário 65© U4 - Concepções de Didática nas Diferentes Abordagens de Ensino alunos, uma vez que é por meio dessas respostas que o profes- sor atuará e cumprirá sua responsabilidade, considerando fatores como tempo, esforços e custos. Desse modo, o professor deverá proporcionar e articular si- tuações de reforço ao aluno, de modo que promova e possibilite a ocorrência de respostas desejadas para os objetivos finais e inter- mediários traçados no planejamento. Para tanto, a metodologia utilizada é a individualizada, a qual implica, segundo Mizukami (1986): • a especificação de objetivos; • o envolvimento do aluno; • o controle de contingências; • o feedback constante que forneça elementos que especi- fiquem o material em pequenos passos e no respeito ao ritmo individual de cada aluno. Ao dividir a matéria a ser ensinada em pequenos passos, fa- cilitará a aprendizagem do aluno, que, em seu próprio ritmo, de- monstrará na avaliação o que aprendeu e se atingiu os objetivos desejados, conforme Mager (apud MIZUKAMI, 1986): • primeiro: o que se quer ensinar; • segundo: em que nível se quer que o aluno aprenda; • terceiro: quais as condições materiais, procedimentos e outros às quais o aluno deve responder. Todas as matérias têm a mesma importância e a avaliação acontecerá no decorrer do processo de ensino-aprendizagem para que o educando saiba os resultados obtidos e modele seus com- portamentos acerca da aprendizagem; acontecerá também no fi- nal do processo com o objetivo de verificar se os comportamentos desejados foram adquiridos pelos alunos (MIZUKAMI, 1986). © Didática do Ensino Superior66 8. ABORDAGEM HUMANISTA A abordagem humanista assume a educação do homem de maneira ampla e não apenas no âmbito escolar. O ensino passa a ser centrado no aluno e em seu desenvolvimento intelectual e emocional. Essa abordagem considera as características encontradas no indivíduo aprendente e destaca as relações interpessoais, a capa- cidade de construir, organizar, bem como de atuarcomo uma pes- soa integrada à realidade. Partindo do enfoque dado ao sujeito, a abordagem busca o desenvolvimento da autonomia. A escola, por sua vez, deve ser um espaço que proporcione o desenvolvimento da criança, respeitando suas características no método não diretivo. A não diretividade é considerada um conjunto de técnicas em que o professor se abstém de intervir diretamente no campo cognitivo e afetivo do aluno. Desse modo, o professor não dirige o processo de aprendizagem, mas facilita a comunicação do estu- dante consigo mesmo, para que este possa estruturar seu apren- dizado. O professor passa, portanto, a ser o mediador da aprendiza- gem e não apenas o transmissor. Ainda cabe ao profissional desen- volver um repertório de estratégias de ensino e um estilo próprio para facilitar a aprendizagem do aluno. Isso porque o professor também é considerado como um ser único que possui particula- ridades. Dessa forma, o processo de ensino dependerá também do caráter individual do professor e de sua relação com cada aluno. Os recursos são importantes, mas em um segundo plano, pois a ênfase aqui é atribuída à relação pedagógica, a um clima favorável ao desenvolvimento das pessoas e ao desenvolvimento de um cli- ma que possibilite a liberdade para aprender. Claretiano - Centro Universitário 67© U4 - Concepções de Didática nas Diferentes Abordagens de Ensino É importante ficar claro que nesta abordagem os conteúdos não são desvalorizados, mas devem ser significativos ao educando, e a avaliação não é padronizada e tampouco reduzida à atribui- ção de notas. É preciso então que se trabalhe com o educando para que ele possa participar e assumir responsabilidades em sua aprendizagem, o que aponta a importância de se trabalhar com a autoavaliação. 9. ABORDAGEM COGNITIVISTA A abordagem cognitivista estuda cientificamente a apren- dizagem como mais um produto do ambiente, das pessoas ou de fatores que são externos ao educando (MIZUKAMI, 1986, p. 59). Nessa abordagem, é valorizada a forma como o aluno lida com os estímulos ambientais, organiza os dados, sente e resolve problemas, adquire conceitos e emprega símbolos verbais. Embo- ra haja uma preocupação com as relações sociais, a capacidade do indivíduo de integrar as informações e processá-las tem maior peso, o que explica o fato de a abordagem cognitivista ser conside- rada interacionista. O principal representante desta abordagem é Jean Piaget, que traz a noção de desenvolvimento humano por fases que se relacionam e se sucedem (sensório-motor, pré-operatório, opera- tório concreto e operatório formal). O objetivo da Educação nessa abordagem não consiste na transmissão de informações, conceitos, entre outros, mas em le- var o aluno a aprender por si só, a descobrir e a construir o co- nhecimento, partindo de seu desenvolvimento. A Educação passa, dessa forma, a proporcionar condições ao desenvolvimento natu- ral do ser humano por meio de experiências motoras, verbais e mentais (MIZUKAMI, 1986). © Didática do Ensino Superior68 Já o ensino passa a basear-se no ensaio, no erro e na solução de problemas para, assim, possibilitar que o aprendente construa e compreenda o conhecimento, sem se fixar na memorização de conceitos. Esta abordagem não adota nenhum método de ensino, mas exige que o professor planeje situações em que o desenvolvimen- to da inteligência seja a prioridade, baseando-se na fase do de- senvolvimento e não na idade cronológica do aluno. Diante dessa configuração, o professor assume o papel de mediador, o agente que proporcionará situações que desafiem o aluno com relação ao conteúdo dado, formando novas noções e operações mentais, além de promover sua autonomia. Partindo do princípio de que o conhecimento não é mensu- rável, a avaliação é feita de maneira qualitativa, por meio de produ- ção livre, e o aproveitamento do aluno a respeito de determinado conteúdo deve se apoiar em diversos critérios, considerando a as- similação e a aplicação em situações variadas (MIZUKAMI, 1986). 10. ABORDAGEM SOCIOCULTURAL Esta abordagem enfatiza aspectos sócio-político-culturais. Juntamente a estes, deve haver a reflexão para que o homem se torne o próprio sujeito da Educação. A ausência da reflexão sobre o homem implica o risco da adoção de métodos educativos e de diretrizes de trabalho que o reduzem à condição de objeto (MI- ZUKAMI, 1986). Desse modo, é impossível, com base nesta abordagem, des- considerar a Educação como processo que se dá em um contexto que não deve ser menosprezado. Paulo Freire é considerado seu maior defensor. Para o autor, a Educação é responsável pela passa- gem da consciência primitiva à consciência crítica. Mizukami (1986) ainda defende que o processo de ensino- -aprendizagem deve superar a relação opressor-oprimido, ou seja, Claretiano - Centro Universitário 69© U4 - Concepções de Didática nas Diferentes Abordagens de Ensino levar o educando à problematização por meio do diálogo. Essa educação problematizadora trata do “dês-velamento” da realida- de e é um esforço permanente, por meio do qual os homens vão percebendo criticamente como estão sendo no mundo. Esse processo deixa para trás o que Paulo Freire chama de “educação bancária”, em que o aluno apenas recebe os conteúdos, armazenando-os, sem saber como e para que utilizá-los. A cultura dominante é desmitificada, ao passo que a linguagem e a cultura dos alunos ganham espaço. Os conteúdos devem ser constantemente analisados para que expressem o sentido do autor e do grupo social e cultural que o utiliza, neste caso, os alunos. Portanto, a consciência ingênua dá espaço para a conscientização do indivíduo. A relação professor-aluno deve ser horizontal, em uma troca permanente, de modo que o aluno aprenda com o professor e o professor aprenda com o aluno. Para tanto, o diálogo torna-se a ferramenta essencial para que o aluno possa participar do proces- so juntamente com o professor. O método utilizado nesta abordagem é o desenvolvido por Paulo Freire, no qual, por meio de um desenho representativo de uma situação existencial real ou construída pelos alunos, busca-se um tema gerador que tem por objetivo explicitar o pensamento do homem sobre a realidade e sua ação sobre ela (MIZUKAMI, 1986). O método utilizado na abordagem sociocultural implica nas seguintes fases: levantamento do universo vocabular dos grupos com que se trabalha; a escolha das palavras geradoras; a criação de situações existenciais típicas do grupo que será alfabetizado; a criação de fichas-roteiro e a elaboração de fichas com a decom- posição das famílias fonéticas correspondentes aos vocabulários geradores, além da ficha de descoberta, contendo as famílias fo- nêmicas, que é utilizada para a descoberta de novas palavras com aquelas sílabas (MIZUKAMI, 1986). © Didática do Ensino Superior70 A avaliação do processo ocorre por meio da autoavaliação ou da avaliação mútua e permanente da prática educativa do pro- fessor e do aluno, não devendo, em hipótese alguma, se restringir a apenas um recorte de todo o processo de ensino. 11. CONSIDERAÇÕES Com base nos conteúdos abordados neste estudo, você pôde conhecer as diferentes abordagens do ensino e seus aspec- tos teóricos. Na Unidade 5, vamos conhecer e compreender a Didática e sua relação com as diferentes áreas do conhecimento, a interdis- ciplinaridade como aspecto essencial para o processo de ensino- -aprendizagem, bem como a influência que as diferentes áreas do conhecimento e a Didática possuem sobre a formação do profes- sor. 12. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA MIZUKAMI, M. G. N. Ensino: as abordagens do processo. São Paulo: Epu, 1986.
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