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Cruzadas na Idade Média

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Cruzadas na Idade Média
Prof. David
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As cruzadas foram um movimento do ocidente que resultou num grande embate militar desenrolado nos limites da cristandade entre os séculos XI e XIII e na Península Ibérica entre os séculos VIII e XV;
As guerras na região da Palestina e Israel foram chamadas de Cruzadas do Oriente;
Na Península Ibérica as lutas ficaram conhecidas como Reconquista;
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Contexto Gerador:
O Mediterrâneo foi o berço da civilização clássica e, durante a Idade Média, palco de constantes influências culturais: germanos, árabes, nórdicos, judeus, bizantinos e árabes;
À pacificação das migrações germânicas no século VI, sucede a chegada de nórdicos, húngaros e sarracenos nos séculos IX e X;
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Num contexto de estabilidade climática e aumento das colheitas, ocorre um aumento demográfico;
Durante o século XI ainda vigoram esquemas teóricos explicativos da ordenação da sociedade como o esquema trifuncional;
 Nesse esquema, o que justificativa a nobreza era sua função militar e defensiva;
A relativa estabilidade, a ociosidade dos nobres era prejudicial aos poderes políticos que os sustentavam, as monarquias nascentes;
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Os nobres cobravam dos reis ações militares que justificassem contínuas doações de bens e cargos, que causavam agitações no interior da cristandade;
Nessa época também ocorre a cristalização da cristandade. No mundo clássico, o critério que diferenciava os povos submetidos ao Império Romano era ser cidadão, depois do século VI esse critério foi substituído pelo ser cristão;
Esse critério era mais amplo, pois ultrapassa os limites étnicos;
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A cristandade seria, então, o espaço no qual viviam os cristãos;
A partir de 1075 o papa gregório VII começa a propor uma série de reformas eclesiásticas que tem como objetivo fortalecer o poder da Igreja sobre as Monarquias medievais;
A proibição da intervenção dos assuntos eclesiais por laicos causou uma crise com o Sacro Império Romano Germânico, onde cabia ao imperador investir os bispos;
Cada um dos dois “lados” da cristandade teorizam em defesa de seus interesses; p. 101;
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O pedido de auxílio de Bizâncio contra os turcos, seria uma oportunidade de impor a supremacia ocidental ao imperador Bizantino;
Assim, o papa de Roma, ao convocar em 1095, a Cristandade Latina conta a Grega, que deflagraria o início das cruzadas;
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A expansão da cristandade:
Um dos tantos motivos desse movimento tem a ver com uma necessidade interna da expansão das fronteiras da Cristandade, movimento que se daria em várias frentes;
Ao norte: a expansão teria um caráter de colonização e cristianização das regiões correspondentes à Polônia, Hungria e regiões eslavas, que se inicia por volta de 966 e o ano 1000;
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Com a cruz levava-se o arado para os férteis territórios;
Os Normandos se estabelecem na região da Normandia em 911 e dali se expandem em duas frentes: uma para a Inglaterra e outra para a Itália;
Em 1066 o duque da Normandia, Guilherme, o Conquistador, funda o reino da Inglaterra, enquanto isso outra dinastia normanda, os Hauteville se estabelecem ao sul da Itália, em 1038;
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A presença normanda na Itália incomoda o papa Leão IX, que conclama o imperador bizantino para ajuda-lo a combate-los;
Após 1053, o duque normando Roberto Guiscardo, converte seu povo e se torna aliado de Roma;
O reino normando, assim, se torna aliado do papado na luta contra o sacro império romano Germânico do Ocidente;
Outro espaço dessa fronteira de expansão era a Península Ibérica, submetida, a partir de 711 pelos muçulmanos, vindos do Norte da África;
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Desde 1063 as batalhas na Península Ibérica receberiam o nome de Cruzadas, pelo papa Alexandre II;
Esse movimento de Reconquista pode ser visto como um movimento de expansão das fronteiras ocidentais da Cristandade;
Algumas conquistas cristãs acabam tornando-se a fronteira da cristandade, como a cidade de Toledo (1085) ate o século XIII; p. 103;
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A expansão muçulmana e seus espaços de ocupação:
O monoteísmo islâmico expande-se pelas mãos dos continuadores de Maomé, os califas, para o Ocidente e para o Oriente desde o século VII, da Península Arábica até a Península Ibérica;
Esta ampla dimensão de espaços islamizados pressupõe etnias, culturas e dialetos diferenciados, por isso falamos em muçulmanos e não em árabes;
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Esse movimento de expansão para o Ocidente dificulta o controle pela península Arábica e gera uma divisão de poder entre os espaços, o que gera uma divisão política, porém não religiosa;
Na Península Arábica, sede da dinastia Omíada, com capital em Damasco, é de onde se inicia o movimento de expansão, em 750 essa dinastia é substituída pelo Califado Abássida, que muda a capital para Bagdá;
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Outro espaço de ocupação é o Norte da África onde a dinastia Fatimíadas é a autoridade desde 909 até 1090;
Após 1110 a dinastia dos almôadas ascende ao poder, ficando até o século XIII; a partir daquele momento a dinastia muçulmana dos mamelucos sediada no Egito, domina o litoral da palestina e parte da atual Tunísia;
O terceiro espaço é a Península Ibérica: a fuga de Abd-al-Raman I, devido ao um golpe em Damasco, chega a Península Ibérica em 750;
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A Península Ibérica seria ainda ocupada sucessivamente pelos amorávidas e almôadas, entre os séculos XII e XIII;
A expansão muçulmana, entretanto, tem momentos de crise e fragmentação política (com a transição de dinastias) alternados com momentos de renovada unidade política;
No entanto, a convivência de séculos de encontros de culturas diferentes geraria espaços de conhecimento mutuo e interação cultural; no caso da Península Ibérica em especial: p. 105-106
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Inicialmente a expansão muçulmana para o Oriente presta um favor imediato aos Bizantinos, ao conquistar em 651, seus inimigos históricos, o Império Sassânida, na Pérsia;
Porém, o objetivo final dos muçulmanos é conquistar o império bizantino, pretensão esta contida em 678 pela vitória de Constantino III e consequente inflexão da expansão em direção ao norte da África;
Enquanto isso, Jerusalém, ainda estava aberta para peregrinações de judeus, cristãos e muçulmanos;
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Durante o século IX a maior presença de turcos e seldjúcidas, povos da Ásia Central, islamizados em territórios bizantinos investem contra Bagdá e continuam sua investida por toda a Ásia Menor, Síria e Palestina;
Na tentativa de equilibrar a força com seus inimigos, o Império Bizantino amplia os privilégios e monopólios comerciais de seus aliados de conveniência, os venezianos (rotas, tributos e produtos);
Neste contexto é que Aleixo I pede ajuda ao Ocidente, para o envio de mercenários para combater os turcos na Anatólia;
A resposta veio do Concílio de Clermont Ferrand: pp. 107
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As cruzadas do Oriente:
As fontes latinas referentes as Cruzadas compõem-se, grosso modo, de autores franceses e germânicos;
Os relatos promovidos por autores recém chegados e pouco conhecedores da cultura e valores da região criam quase sempre uma visão distorcida dos acontecimentos;
As canções de gesta seguem o estilo provençal e o tema do cristão cativo em mãos muçulmanas lhe é muito caro;
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O caráter cruzadístico está presente no discurso de construção desses relatos que fixam o ideal do cavaleiro cristão;
Outras fontes oriundas dos judeus e muçulmanos oferecem um contraponto a perspectiva ocidental;
Atualmente, muitas teorias tentam explicar os motivos da convocação das Cruzadas para libertar a Terra Santa;
Quase todas convergem para a ideia de que tenha sido aquele momento importante para a busca de novos espaços de ocupação no sentido de promover uma diminuição da pressão interna em função da organização da sociedade feudal;
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Desta maneira, segundo alguns teóricos, as Cruzadas teriam servido para canalizar a violência dos cavaleiros para fora da Cristandade numa atividade que lhes parecia digna e socialmente aceita;
Outra motivação seria a busca pela ampliação de mercados que servissem à crescente economia das Repúblicas Italianas;
E, por fim, alguns historiadores
defendem que o grande catalisador do movimento, foi a psicologia coletiva: a possibilidade de longas jornadas, guiadas por um senhor poderoso ou rei durante toda a jornada, além de angariar indulgências, no contexto da guerra santa contra o infiel;
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As intenções destas várias pessoas são apresentas na passagem de um cronista anônimo: pp. 109;
A chamada Guerra Santa viria num momento propicio, além de acontecer fora das fronteiras, onde haveria potencial espaço para a expansão, em que o discurso da Igreja justificava o uso da violência;
A convocação oficial da Primeira Cruzada, ocorre em 25 de novembro de 1095, pelo papa Urano II;
O teor da convocação exorta os cristãos a lutarem contra os inimigos de Cristo, os “infiéis”;
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Os relatos da convocação demonstrar um tom de otimismo e entusiasmo com a convocação: pp. 109/110;
O fervor religioso foi ressonante, já em março de 1096, Pedro, o Ermitão, arrasta consigo de 15 a 20 mil pessoas com o intuito de libertar o Santo Sepulcro;
Outra Cruzada voluntária foi a Cruzada das Crianças, ocorrida em 1212, parte da França e atrai cerca de 30 mil crianças e adolescentes conduzidos por alguns adultos;
Para a autora, estes exemplos denotam a participação das massas no movimento: pp. 110;
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Organização:
A prerrogativa de convocação das oito Cruzadas era dos papas;
Quem financiava as Cruzadas eram os seus executores, os reinos e o Sacro Império Romano Germânico;
O papado faria sua parte, autorizando o desvio de seus tributos eclesiásticos arrecadados nas localidades para os organizadores das Cruzadas
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Nas quatro primeiras Cruzadas os grupos concentravam-se às portas de Constantinopla, mas as rotas até este ponto variavam muito em função do local de onde tinham partido;
As quatro últimas cruzadas se dirigem diretamente para o Egito, onde os mamelucos começam a ameaçar o Mediterrâneo Oriental;
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A primeira Cruzada:
Liderados por alguns nobres os cruzados partem da França e chegam a Constantinopla entre novembro de 1906 e abril de 1907;
Outro grupo foi liderado por Boemundo, que trazia os normandos da Sicília, que chegam em abril de 1907;
O imperador Aleixo I vê com desconfiança a presença dos normandos, inimigos tradicionais de Bizâncio;
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As palavras da filha do imperador dão o tom da distancia entre a cristandade Latina e Bizâncio: pp. 113;
Essa desconfiança é traduzida no juramento de fidelidade dos cruzados para com o império bizantino;
As batalhas se desenvolvem por cerca de dois anos, até 1099 quando os cruzados entram em Jerusalém;
Os moradores cristãos tinham tido permissão para deixar a cidade, entretanto, isto não impediu 3 dias de saques, pilhagens e carnificina;
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As vitórias do Ocidente 	causaram grande atração para a Cristandade, a ponto de em 1110 o papa Pascoal proibir os Cruzados da Península Ibérica de abandonarem as batalhas e partirem para a Terra Santa;
Embora houvesse instabilidade constante dos moradores dos reinos francos na Síria, geraria um clima de convivência e interação entre as comunidades; pp. 114;
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Natureza das Ações Militares:
A “lógica” da guerra: basicamente uma guerra de cerco e assédio posto sobre cidades amuralhadas e castelos, acompanhados de saques e pilhagens e não eram realizadas batalhas campais entre os exércitos;
A organização da batalha se dava em função das hostes: P. 115;
Acostumados as lutas localizadas de conquista de castelos e senhores, os cruzados tomam aos muçulmanos, cidade a cidade;
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O estabelecimento dos reinos francos da Síria fez-se da construção de várias fortalezas, rodeadas de castelos menores que se comunicavam entre si através do fogo nas muralhas;
A aproximação dos invasores, cristãos ou muçulmanos, gerava uma predisposição para as negociações de paz;
Os indivíduos mais importantes eram feitos reféns e por eles eram cobrados resgates;
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Caso não houvesse predisposição para a paz, o cerco promovia o desmantelamento do envio de agua e alimentos para a cidade na perspectiva de vencer mais rápido as resistências;
O assédio as cidades fazia-se por meio dos lançamentos de escadas e pontes sobre os fossos e gatos, cordas com ganchos, capazes de abrir flancos nas muralhas;
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As torres móveis tinham vários andares e eram mais altas que as muralhas: no piso térreo estaria um aríete, um tronco reforçado para o arrombamento dos portões, no andar intermediário, arqueiros e no andar superior da torre ficava uma passarela de assalto de onde penetravam nos passadiços que rodeavam o interior da muralha;
Ocorrido o rompimento dos portões e da muralha restava aos sitiados resistir da maneira que pudessem;
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Os invasores pilhavam e matavam o que existia no interior das muralhas;
A guerra intitulada santa pelos dois lados em luta, resultava em grande número de mortos e numa grande destruição que exigia constantes esforços de reconstrução;
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A continuidade do Movimento:
Em resposta a ocupação cristã os muçulmanos lançam mão do Jihad para libertar os territórios conquistados pelos europeus;
O imperador bizantino, insatisfeito com os cruzados, por não lhe reconhecerem a autoridade sobre os territórios conquistados, acaba por fazer aliança com o sultão de Bagdá, em 1112, contra os cruzados;
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A reconquista islâmica do Condado de Edessa, em 1144, é o motivo oficial da convocação da Segunda Cruzada;
O Papa Eugenio III em 1146 oficializa o pedido de socorro dos reinos francos feitos diretamente a Roma;
A grande quantidade de nobres que partem nesta cruzada, paradoxalmente, daria o tom de fragilidade da aliança: as disputas políticas entre eles deram resultado em ataques desagregados que gerariam os primeiros desastres militares sofridos pelos cruzados;
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A presença de um líder muçulmano, Zengi, capaz de unificar o mundo muçulmano, da nova força para o contra-ataque dos islâmicos;
A terceira cruzada, iniciada em 1189, com o intuito de reconquistar Jerusalém daria continuidade a anterior tendência à desagregação das forças cristãs, embora também contasse com membros importantes da nobreza;
O maior resultado desta cruzada é a realização de acordo com os muçulmanos: p. 119;
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As cruzadas do século XIII:
O papa Inocêncio III, convocaria a quarta cruzada (1202), mas só manteve uma influência teórica sobre o movimento;
O motivo alegado, era a apoiar o que restava dos reinos francos após o tratado realizado entre Saladino e Ricardo Coração de Leão;
Os interesses comerciais venezianos dariam o tom do encaminhamento dos preparativos, que não contariam com a presença de nenhum rei;
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Os cruzados já convertidos para a condição de mercenários, deveriam, no caminho, prestar serviço aos venezianos: conquistar a cidade de Zara no litoral Adriático;
A reconquista de Jerusalém terrestre, considerada pelos religiosos a imagem da Jerusalém celeste, continuava a ser o objetivo oficial das Cruzadas, entretanto o discurso da igreja tornava-se anacrônico, no momento de enriquecimento comercial e urbano que caracteriza o século XIII;
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O fraco resultado da quinta cruzada, faz com que o papa Inocêncio III, convoque a sexta, em 1215;
Entretanto, poucos reis atendem ao seu chamado, uma vez que estavam envolvidos com problemas internos de seus próprios reinos;
Aqueles que atenderam ao chamado foram guiados direto ao Egito, na inflexão dos objetivos das cruzadas;
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Legados no Imaginário Atual:
O conceito de Guerra Santa ou Cruzada, fixou-se no imaginário coletivo como uma luta justificável contra aquele que difere em suas concepções e interesses, dos valores e crenças predominantes num determinado espaço;
Em muitos momentos o discurso foi reutilizado, como na expansão europeia para a América e África;
No entanto, o uso contemporâneo das cruzadas pouco tem a ver com o seu significado medieval: trata-se de uma metáfora política que tenta justificar os interesses dos grupos ou potências;
As Cruzadas foram fruto de uma realidade medieval e um contexto histórico nunca se repete;

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