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Universidade Federal da Bahia Instituto de Física FIS123 – Física Geral e Experimental III-E EXPERIÊNCIA 11 DEFLEXÃO DE FEIXE DE ELÉTRONS - RELAÇÃO CARGA E MASSA (e/m) Luciano Pereira Marcel Lobão Salvador Novembro de 2015 Objetivo Estudo e discussão dos princípios da força eletromagnética e cálculo da relação entra a carga e a massa do elétron. Introdução Ao se mover um campo magnético ���⃗ e num campo elétrico ���⃗ , ambos uniformes, com uma velocidade ���⃗ , o elétron terá sua trajetória defletida por conta da Força de Lorentz, calculada pela expressão ���⃗ = �(���⃗ + ���⃗ ����⃗ ). Esse fenômeno pode ser observado a partir da emissão de um feixe de elétrons, a partir de um canhão que os impulsiona, em um campo elétrico e magnético, o que também pode ser usado para estimar a relação entre a carga e a massa do elétron e a sua velocidade. O canhão de elétrons pode ser representado a partir do diagrama da figura 1 que representa um circuito similar utilizado em aparelhos de TV antigos: Figura 1: Representação do canhão de elétrons. As medições foram feitas a partir do dispositivo apresentado na figura 2. Figura 2: Tubo de desvio de feixe de elétrons. Como a força magnética age sempre perpendicular à velocidade e não realiza trabalho sobre a partícula, então esta age como uma força centrípeta de acordo com a dedução: �� = ��� � ∙ � ∙ � = � ∙ �� � � = � � ∙ � ∙ � Sendo a velocidade dada a partir da tensão entre o ânodo e o cátodo do canhão de elétrons pela fórmula: � = �2 ∙ � � ∙ � (1) Podemos calcular a relação entre a carga e massa do elétron pela substituição na equação anterior, resultando em: � � = �� (�∙�)� (2) Considerando agora a partícula se movendo perpendicularmente a um campo elétrico, está apresentará uma trajetória parabólica (não mais circular como no caso da força magnética) �����⃗ = � ∙ ��⃗ = � ∙ �⃗ � = � � ��� ; � = � � Sendo y a deflexão vertical e v a velocidade linear na direção do eixo �������⃗ , temos: � = � � ∙ � � ∙ � ∙ � � � � � � � = �� � ∙ � � � � � (3) No caso da partícula se mover perpendicularmente a ambos os campos, podemos determinar a relação carga e massa do elétron a partir do equilíbrio entre as forças elétrica e magnética: �� = �� � ∙ � = � ∙ � ∙ � � = � � Substituindo na equação (2): � � = � �� ∙ � � � � 2 (4) Materiais Utilizados 2 fontes de corrente contínua (CC) de alta tensão; 1 fonte CC de baixa tensão; 1 par de bobinas; Ampola de vidro evacuada; Suportes plásticos; Cabos e adaptadores para alta tensão, Metodologia Parte 1 - Deflexão magnética A primeira parte do experimento foi realizada a partir do desvio do feixe unicamente devido ao campo magnético. Com uma diferença de potencial entre o ânodo e o cátodo (��) de 3000 V, foi variada a corrente elétrica nas bobinas (variando assim o campo magnético) para a verificação do comportamento do feixe de elétrons. Depois, com a corrente nas bobinas mantida constante, foi variada a diferença de potencial entre o ânodo e o cátodo. Então, verificou-se que, para uma �� de 3000 V e uma corrente de 0,35 A nas bobinas, o raio da curva feita pelo feixe se altera. Em seguida, foi feita uma tabela para os raios de trajetória do feixe para uma �� de 3000 V e variando a corrente nas bobinas de 0 à 1,5 A. Parte 2 - Deflexão elétrica A segunda parte foi feita com o desvio do feixe unicamente devido ao campo elétrico. Analogamente à primeira parte, foi variada a �� e a diferença de potencial entre as placas (��) para verificar o efeito que essas variáveis causam no feixe. Em seguida, com uma �� constante de 3000 V, foi feita uma tabela para os valores de deflexão do feixe para uma �� variável. Parte 3 - Deflexão eletromagnética Na terceira parte foi analisado o equilíbrio entre as forças elétrica e magnética a partir da compensação dos campos elétrico e magnético. Mantendo uma �� de 4000V, foi feita uma tabela de comparação de campos organizada em �� aplicada e corrente que causa o equilíbrio das forças (deflexão nula do feixe). Discussão dos Resultados O circuito para obtenção dos dados experimentais foi construído de modo que os campos sejam obtidos a partir de uma relação linear. O campo magnético pode ser calculado a partir da corrente nas bobinas (� = 0,0042 ∙ �) e o campo elétrico a partir da �� (� = ��/�). A velocidade dos elétrons no feixe deve ser calculada a partir da equação � = �2 ∙ � � ∙ ��. Parte 1 Com o aumento da corrente nas bobinas, observa-se um desvio para baixo do feixe de elétrons (uma diminuição do raio de trajetória). Como a velocidade dos elétrons tem sentido para a esquerda, pela regra da mão direita podemos afirmar que o campo magnético é direcionado no sentido para “dentro do papel”. Com o aumento da ��, o raio da trajetória aumentou. A força magnética atua como forca centrípeta, então com base na fórmula (� = � ∙ ��/�) o comportamento foi o esperado, pois o aumento da intensidade do campo magnético (aumento da força magnética) diminuiu o raio e o aumento da velocidade dos elétrons (aumento da Ua) aumentou também o raio. A figura 3 representa o diagrama com a resultante da ação do campo magnético sobre a partícula. A força resultante da ação do campo magnético sobre um elétron de prova qualquer está representada no esquema da figura 3. Importante destacar que como o elétron possui carga negativa, a força passa a ser direcionada em sentido oposto ao apresentado. Figura 3: A força resultante da ação do campo magnético sobre um elétron de prova. Com uma ��de 3000V e uma corrente nas bobinas de 0,35 A, obteve-se o valor de 8,91 ∙ 10�� para a relação carga-massa do elétron. Comparando-se com o valor correto estabelecido (1,759 ∙ 10���/��) temos uma discrepância de 49,34%. Com a variação da corrente nas bobinas, mantendo-se ��, obtivemos os valores apresentados na tabela 1 e gráfico 1. � (A) � (cm) � (cm) � (cm) �/� (C/kg) 0 0 8.5 inf. - 0,25 -1,5 8.5 34,08 8.69E+10 0,50 -1,6 5.5 16,11 1.27506E+11 0,75 -2 4.5 10,00 1.62091E+11 1,00 -1,9 3.5 7,53 1.92374E+11 1,25 -1,1 1.5 4,64 8.67077E+11 1,50 -2,2 2.5 4,74 2.34447E+11 MÉDIA 1.60672E+11 Tabela 1: Raio de trajetória calculado a partir da corrente nas bobinas. Gráfico 1: Relação entre raio de trajetória e corrente nas bobinas. Os pontos foram comparados com os valores calculados a partir da equação proveniente do método dos mínimos quadrados (MMQ). A partir dessa análise, o quinto ponto (destacado no gráfico e na tabela) foi descartado, devido a alta discrepância entre o valor calculado a partir dos dados experimentais e o calculado a partir da equação proveniente do MMQ (64,5 %). A equação de base para o MMQ foi do tipo potência, devido à dedução analítica a partir da equação (2) e considerando � = 0,0042 ∙ �. � � = 2� (� ∙ �)� � = � � � ∙ 1 2� ∙ ��� 0,0042 A equação encontrada foi � = 0,0421 ∙ ���,��, portanto � � � ∙ � �� ∙ ��� �,���� = 0,0421, o que leva ao resultado �/� = 1,89 ∗ 10���/��, que possui uma discrepância de 7% em relação ao valor de referência disponível na literatura. A partir da média dos valores de e/m calculados em cada ponto, obteve-se o resultado �/� = (1,61 ±0,51) ∙ 10�� �/�� (desvio relativo de 31,72%), valor que apresenta uma discrepância de 9% em relação à referência. Ambos os valores encontrados apresentaram uma aproximação razoável do resultado esperado (menor que 10% em relação à referência), sendo o calculado através do MMQ obtido com maior precisão, uma vez que a média apresenta um desvio relativo bastante elevado. Parte 2 Com a �� constante, notou-se que um aumento da �� ocasionou um aumento da deflexão do feixe. Com a ��constante, notou-se que um aumento a �� ocasionou numa diminuição da deflexão do feixe. A força elétrica atua de modo a defletir o feixe de elétrons, ao contrário da força magnética que atua como força centrípeta. A força resultante da ação do campo elétrico sobre um elétron em trajetória num campo elétrico está representada na figura 4. Importante destacar que, como o elétron possui carga negativa, a força passa a ser direcionada em sentido oposto ao apresentado. Figura 4: Força resultante sobre um elétron em trajetória em um campo elétrico. Com a variação de ��, diversas medidas de deflexão do feixe de elétrons foram tomadas de acordo com a tabela 2 e gráfico 2. �� (V) � (cm) � (cm) �/� (C/kg) 0 0 8.5 - 500 0.5 8.5 1.57762E+11 1000 1 8.5 1.57762E+11 1500 1.6 8.5 1.6828E+11 2000 2.1 8.5 1.6565E+11 2500 1.6 6.5 1.72661E+11 3000 1 4.5 1.87627E+11 MÉDIA 1.6829E+11 Tabela 2: Valores de �/� obtidos pela posição do feixe de luz com a variação de ��. A partir da média dos valores de �/� calculados para cada medida, obteve- se uma média de �/� = (1,68 ± 0,10) ∙ 10�� �/�� (Desvio relativo de 6%). Este valor apresenta uma discrepância de 4% em relação à referência. Esse método se mostrou ser o mais preciso para este experimento em particular. Parte 3: Com �� medindo 4000 V, foram feitas diversas medidas de corrente nas bobinas, variando a �� de modo que a força magnética se equilibre com a força elétrica. Esses valores estão apresentados na tabela 3 e no gráfico 2: Up (V) i (A) e/m (C/kg) erro calculado erro relativo 0 0 - - - 200 0.02 2.3942E+11 5.28E+09 2.21% 400 0.04 2.3942E+11 5.04E+09 2.11% 600 0.07 1.759E+11 3.64E+09 2.07% 800 0.1 1.5323E+11 3.15E+09 2.06% 1000 0.14 1.2215E+11 2.5E+09 2.05% 1200 0.17 1.1929E+11 2.43E+09 2.04% 1400 0.2 1.1731E+11 2.39E+09 2.03% 1600 0.24 1.0641E+11 2.16E+09 2.03% 1800 0.27 1.0641E+11 2.16E+09 2.03% 2000 0.3 1.0641E+11 2.15E+09 2.03% MÉDIA 1.486E+11 DESVIO PADRÃO 0.501E+11 Tabela 3: Valores de �/� calculados a partir da variação de �� e da corrente �. Gráfico 2: Representação do crescimento da corrente � com o aumento de ��. A média dos valores de �/� apresentados na tabela apresenta uma discrepância de 16% em relação à referência (desvio relativo de 34%), portanto podemos afirmar que houve baixa precisão na medida. A partir dos valores dispostos na tabela 2, utilizou-se o MMQ para ajustar a uma reta e estimar o valor de �/� a partir do coeficiente linear da mesma como está apresentado na dedução a partir da equação (4). � � = 1 2�� ∙ � � � � � � � = � �� ∙ � � �∙�,���� ∙ �� � � � (5) Sendo ��/� o coeficiente linear do gráfico: � � = 1 2� ∙ � 1 � ∙ 0,0042 ∙ 6381,9� � resultando em �/� = 9,75 ∙ 10���/�� (discrepância de 45% em relação ao valor de referência). Para cada valor de �/� calculado na tabela 3, obtivemos o erro de cálculo, considerando erros estimados para os valores de �� e ��(0,2 V) e � (0,02 A). Essas estimativas consideraram as casas decimais apresentadas e as variações observadas durante a medição. O erro foi calculado a partir da equação: � � � = � � ��� � � � �� ∙ ��� + � � ��� � � � �� ∙ ��� + � � �� � � � �� ∙ �� sendo �/� calculado a partir da equação 5. A força resultante da ação dos campos elétrico e magnético sobre um elétron em trajetória nestes está representada na figura 5. Importante destacar que como o elétron possui carga negativa, a força passa a ser direcionada em sentido oposto ao apresentado. A força resultante aqui apresentada sempre terá uma componente perpendicular à velocidade e ao campo magnético e uma paralela ao campo elétrico. Figura 5: Força resultante da ação dos campos elétrico e magnético sobre um elétron em trajetória. Conclusão A partir desse trabalho, podemos afirmar que, dos métodos utilizados, o mais apropriado para determinação da relação carga-massa do elétron foi o de deflexão do feixe de elétrons por um campo elétrico. As medições com o método da compensação de campos obtiveram maior discrepância em relação à referência obtida na literatura. Como esse método envolve a medição tanto de tensões quanto de correntes (os outros dois métodos envolvem a medição de apenas uma dessas duas grandezas), este pode ser considerado o método menos preciso para avaliação da razão entre a carga e a massa do elétron pelo fato de ter mais erros associados com as medições.
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