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1 INSTITUTO QUALITTAS CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM HIGIENE E INSPEÇÃO DE PRODUTOS DE ORIGEM ANIMAL FLUXOGRAMA DE ABATE DE AVES Cintia Rodrigues Gonçalves Goiânia, fevereiro - 2008 2 CINTIA RODRIGUES GONÇALVES Aluna do Curso de Pós Graduação em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal FLUXOGRAMA DE ABATE DE AVES Trabalho monográfico de conclusão de curso (TCC), apresentado à Instituto Quallitas como requisito parcial para a obtenção do título de Especialização em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal, sob a orientação da Profª. Kellen de Sousa Oliveira. Goiânia, fevereiro – 2008 i 3 FLUXOGRAMA DE ABATE DE AVES Elaborado por Cintia Rodrigues Gonçalves Aluna do Curso de Pós Graduação em Higiene e Inspeção de Produtos de Origem Animal Foi analisado e aprovado com grau: ............................. Goiânia, _____ de ______________ de ________. ________________________________ Membro ________________________________ Membro ________________________________ Professor Orientador Presidente Goiânia, fevereiro - 2008 ii 4 Dedico este trabalho primeiramente a Deus, pelas bênçãos recebidas, aos meus pais e especialmente ao meu noivo pelo incentivo força e apoio, em todos os momentos desta jornada. iii 5 Agradecimento Agradeço primeiramente a Deus, que sempre esteve comigo na alegria e na tristeza, fazendo da derrota uma vitória, da fraqueza uma força. Agradeço às pessoas mais preciosas do mundo, que são meus pais pelo amor dedicação, força e incentivo e palavras de coragem. De vocês recebi o dom mais precioso do universo, a vida, e vocês me ensinaram a vivê-la com dignidade e trilhar os caminhos sem medo e cheio de esperança. Ao meu noivo Dr. Jose Rodolfo que me ensinou que alem do amor, o companheirismo, a felicidade e a amizade podem fazer parte de um relacionamento e que eu possa fazê-lo tão feliz quanto me sinto quando estou ao seu lado. Aos meus irmãos e cunhadas pela paciência dedicação e carinho. A minha avó Valdemira Leite Rodrigues (vó Valdinha – in memorian) que com sua alegria fez parte de momentos especiais da minha vida. iv 6 O coração do homem traça o seu caminho, mas o Senhor lhe dirige os passos. Prov. 16, v.9. v 7 RESUMO O consumo de carne de frango vem aumentando nos últimos anos, devido a sua maior incorporação na dieta e também pela substituição de outras carnes. Este trabalho de pesquisa, então, tem como principal objetivo de levantar dados e informações a respeito das normas e legislações sobre o processamento de carne de frango dentro do fluxograma de abate. Onde é estabelecido técnicas de restrição alimentar e jejum hídrico, métodos de pega ou apanha, o transporte, que deve ser feito de maneira apropriada, descanso dos animais no galpão de espera, pendura dos animais na nória para início de abate, insensibilização que é essencial para que a sangria e a depenagem sejam satisfatórias. Logo em seguida é realizada a evisceração acompanhada de inspeção sanitária, resfriamento das carcaças e dos miúdos, sala de cortes, embalagens, apontamento, congelamento e distribuição. O segmento de abate e processamento de frangos é extremamente carente de informações técnicas e científicas atualizadas. Palavras chaves: carne de frango, fluxograma, abate. vi 8 ABSTRACT The consumption of chicken meat has been increasing in recent years, due to its greater incorporation in the diet and also the replacement of other meat. The objective of this study was gather date and about the rules and laws on the processing of chicken meat in the flow of slaughter. Where is established techniques of restricting food and water fasting, methods of grip or harvesting, transport, which must be done in an appropriate way, in the rest of the animals broiler house of waiting, hangs animals in the beginning of nória for slaughter, it is essential stunning that the bleeding and pluckind are satisfactory. Therefore is accomplishided sanitary inspection cooling of carcasses and viscera, cutting, packaging, pointing, freezing and distribution. The following chickens is extremely deficit in technical information and scientific updated. Key words: chicken meat, Flowchart, slaughter. vii 9 SUMÁRIO Dedicatória ............................................................................................................. iii Agradecimento ....................................................................................................... iv Epigrafe...................................................................................................................v Resumo.................................................................................................................. vi Abstract ................................................................................................................. vii 1. INTRODUÇÃO ..................................................................................................01 2 REVISÃO DE LITERATURA ..............................................................................04 2.1 Jejum e tempo de descanso............................................................................04 2.2 Captura e embarque dos frangos....................................................................06 2.2.1 Pega ou Apanha...........................................................................................06 2.3 Transporte .......................................................................................................09 2.4 Recepção e espera .........................................................................................11 2.5 Desembarque..................................................................................................13 2.6 Pendura...........................................................................................................15 2.7 Atordoamento ou Insensibilização...................................................................17 2.8 Sangria ............................................................................................................23 2.9 Escaldagem.....................................................................................................25 2.10 Depenagem...................................................................................................26 2.11 Evisceração..................................................................................................27 2.12 Inspeção sanitária .........................................................................................30 2.13 Processo de resfriamento das carcaças........................................................32 2.14 Gotejamento..................................................................................................33 2.16 Resfriamento de miúdos...............................................................................34 2.15 Espostejamento de aves (sala de cortes)......................................................35 2.17 Apontamento .................................................................................................38 2.18 Túnel de congelamento.................................................................................38 2.19 Estocagem e distribuição ..............................................................................41 3 CONCLUSÃO.....................................................................................................43 REFERÊNCIAS.....................................................................................................44 ANEXOS ...............................................................................................................49 1 1. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, a avicultura brasileira passou por extraordinárias transformações, tornando o Brasil um dos maiores produtores e exportadores de aves do mundo. O setor avícola passou de uma operação a nível de proprietário de granja para uma economia de escala, possível pela associação de numerosos produtores individuais fornecendo para uma empresa também com capacidade de abate em larga escala. Esse denominado sistema integrado, que prevalece no sul do país, levou a uma eficiência operacional responsável pela posição do Brasil como um dos líderes da avicultura mundial (MENDES, 2002). Produção Mundial de Carne de Frango PRODUÇÃO MUNDIAL DE CARNE DE FRANGO PRINCIPAIS PAÍSES ( 1999 - 2007** ) Mil toneladas ANO EUA CHINA BRASIL EU MÉXICO MUNDO 1999 13.367 8.550 5.526 6.614 1.784 47.554 2000 13.703 9.269 5.977 7.606 1.936 50.097 2001 14.033 9.278 6.736 7.883 2.067 52.303 2002 14.467 9.558 7.517 7.788 2.157 54.155 2003 14.696 9.898 7.843 7.512 2.290 54.282 2004 15.286 9.998 8.494 7.627 2.389 55.952 2005 15.869 10.200 9.200 7.736 2.498 59.092 2006* 16.162 10.350 9.336 7.425 2.610 60.090 2007** 16.413 10.520 9.700 7.530 2.724 61.162 Fonte: USDA / ABEF * Preliminar ** Previsão$ Segundo a Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango (ABEF) o Brasil pode voltar a ter exportações recordes de frangos esse 2 ano. Com a retomada do mercado perdido em 2006, devido à ‘’crise da gripe aviaria’’ e a abertura de novos mercados, o país pode embargar 2,9 milhões de toneladas de frango, o equivalente a uma receita de US$ 3,53 bilhões. O resultado é, respectivamente, 1,8% e 0,6% superior ao melhor desempenho do setor ocorrido em 2005, quando as industrias exportam 2,84 milhões de toneladas e US$ 3,5 bilhões. Considerando 2006, a alta é de 6,8% e 10,2% (ABEF, 2007). PRODUÇÃO BRASILEIRA MENSAL DE CARNE DE FRANGO PRODUÇÃO BRASILEIRA DE CARNE DE FRANGO 2007 (ton) Mês Mercado Interno Exportação Total Jan 589.503 209.050 798.553 Fev 611.457 232.216 843.673 Mar 515.696 303.465 819.161 Abr 566.011 263.720 829.731 Maio 555.047 273.978 829.025 Junho 595.541 259.319 854.860 Subtotal 3.433.255 1.541.748 4.975.003 ABEF - Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frangos Ao mesmo tempo, acompanhando as mudanças no estilo de vida da sociedade no exterior e no Brasil, as necessidades e preferências dos consumidores foram se modificando e a indústria teve que se adaptar a elas. Maiores volumes de frango em corte ou desossados passaram a ser requeridos pelos consumidores em substituição às aves comercializadas inteiras. Na produção houve a necessidade de selecionar geneticamente aves com maiores rendimentos de coxa e peito e, na industrialização houve a necessidade de minimizar defeitos causados pelo manejo pré-abate e durante o abate, que se tornaram evidentes quando a ave é comercializada com osso ou desossada (MENDES, 2002). 3 Seja com a melhoria genética ou com avanços da nutrição, seja no manejo ou na sanidade, a cadeia produtiva avícola como um todo vem buscando alternativas de modernização para o setor a fim de melhorar sempre seus índices de produtividade, não podendo deixar de lado o papel da equipe técnica que é a principal responsável por esse desenvolvimento (BERAQUET, 1994). O objetivo desse estudo foi revisar as normas e legislações sobre o processamento de carne de frango no fluxograma de abate. 4 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 Jejum e tempo de descanso As técnicas de manejo para aves empregadas rotineiramente na granja consistem, na restrição alimentar por quatro a seis horas antes da apanha, em apanhas noturnas, e de oito a nove horas, nos carregamentos durante o dia (BRANCO, 1999), e restrição hídrica a partir do momento da apanha. A restrição alimentar e a retirada da água das aves têm como objetivo reduzir a contaminação de carcaças por conteúdo do trato gastrointestinal durante o processamento. Segundo WABECK (1972), o tempo necessário para minimizar a contaminação é de oito a dez horas, entretanto, DUKE et al. (1997) trabalhando com tempos de jejum de quatro, oito e 12 horas, observaram que períodos de quatro horas foram tão eficientes quanto oito ou 12 horas. ROSA et al. (2000) descrevem que o tempo ideal entre o início do jejum alimentar, incluindo o período de quatro a seis horas de jejum na granja e abate, deve ser de oito a 12 horas. Períodos longos de jejum estão associados ao encolhimento na carcaça causada pela progressiva desidratação. Segundo BENIBO e FARR (1985), este encolhimento se inicia imediatamente após a instauração do jejum. DUKE et al (1997) descrevem que a perda de peso corporal aumenta com a duração do tempo de restrição alimentar, onde de 50 a 70% dessas perdas, nas 5 primeiras quatro horas, são devidas à perda de água e matéria seca das fezes e, após quatro horas, a perda está relacionada com a água dos tecidos musculares. O tempo de descanso, como era proposto para as aves, no período que precedia o abate tinha também, como objetivo, a ressíntese do glicogênio a fim de aumentar as reservas energéticas para uma maior acidificação da carne no post mortem. Entretanto, é sabido que períodos longos de descanso coincidem com longos períodos de jejum, contribuindo para a redução das taxas séricas de glicose e o consumo das reservas de glicogênio, com redução do peso de fígado (MURRA e ROSENBERG, 1953; WARRISS et al, 1993). A fim de reduzir o estresse pré-abate (período que as aves permanecem vivas na indústria) e evitar o desconforto causado pela restrição completa de alimentos e água, o Ministério da Agricultura aboliu o tempo regulamentar de descanso pré-abate. Entretanto, como a capacidade de abater em números de aves é elevada, sendo necessário manter um fluxo de abate, a indústria deve dispor de lotes que estejam na área de recepção. Assim, enquanto as aves aguardam o momento de abate, devem permanecer em instalações cobertas dotadas de umidificadores de ar e ventiladores de grande porte que funcionam em baixas velocidades (retiram o excesso de calor gerado pelas aves que se encontram nas gaiolas localizadas na região interna da carga). É importante agendar o horário de apanha (dia e hora) junto ao abatedouro. Essa ação evita que os frangos passem por longos períodos de espera, antes do abate, reduzindo a perda de peso da carcaça ou a contaminação de carcaças por rompimento de vísceras, principalmente intestinos, que ficam muito sensíveis quando as aves passam por extensos períodos de jejum pré-abate (SAMS e MILLS, 1993).6 2.2 Captura e embarque dos frangos 2.2.1 Pega ou Apanha É o inicio do processo de pré-abate dos animais e onde as preocupações devem começar, pois é onde os animais estarão susceptíveis a iniciar processo de estresse. A captura do frango durante a retirada das aves do galpão para o abate, é um trabalho que a primeira vista pode parecer fácil, mais que no fundo exige muito treinamento e força física por parte das pessoas contratadas para este tipo de tarefa. A captura é uma etapa importante e interfere diretamente na qualidade da carcaça e no custo final do frango. A “pega” manual prevalece como forma de apanha e é a mais utilizada na produção de frango de corte. A mecanização ainda é anti-econômica em função dos elevados investimentos em equipamentos apropriados (LEANDRO et al, 2001). Os métodos de pega mais utilizados são: pelas pernas, asas, pescoço e dorso. O método mais tradicional e ainda mais utilizado em áreas onde a avicultura está em crescimento é pelas pernas, embora seja o que mais causa traumas, principalmente deslocamento de juntas entre o fêmur e a tíbia. A pega pelas asas também eleva os índices de fraturas locais. O método de pega pelo pescoço tem sido contra-indicado em função do aumento de lesões de pele e elevação do estresse para as aves. A pega pelo dorso tem sido a mais indicada para redução dos traumas no carregamento, embora com menos eficiência para a equipe (ROSA et al, 2002). 7 A captura de frangos de corte durante a retirada do lote da granja para o abate é realizada manualmente, no Brasil, por uma equipe formada de 12 a 14 pessoas. Nessa modalidade de apanha, as condenações de carcaça ocasionadas por problemas no carregamento podem atingir percentuais de 20 a 25% (REALI, 1994). A tarefa de apanhar e carregar os frangos não só é fisicamente cansativa como também as condições dentro do galpão podem ser muito desagradáveis. Durante a apanha, as luzes do galpão freqüentemente ficam desligadas (ou significativamente reduzidas) e assim, a equipe trabalha quase no escuro, próximo a cama, onde o nível de poeira pode ser muito alto. Além do ambiente de trabalho desagradável, espera-se que cada operador erga pelo menos mil aves por hora, o que, para aves de 2 Kg em um turno de trabalho de oito horas, significa erguer um peso total de 16 toneladas. Com isso pode haver alta incidência de problemas nas costas relacionados ao trabalho entre os apanhadores e, por causa da natureza do trabalho, não se consegue atrair pessoal muito motivado. Estes fatores claramente influenciam a atenção dada ao bem-estar das aves durante a apanha e o manuseio (DUNCAN, 1986). Embora haja várias oportunidades para que ocorram danos físicos nas aves durante o carregamento, estes geralmente são mínimos por causa da aplicação de diretrizes impostas pelos produtores, supervisores da apanha e abatedouro. É muito difícil avaliar ferimentos (exceto os muito evidentes) nas aves antes do carregamento, pois a operação impede uma inspeção fácil das aves na granja depois de serem carregadas. Às vezes, é possível determinar retrospectivamente danos que podem ocorrer na granja, porem estes danos são mais detectados no descarregamento que na granja (LACY e CZARICK, 1998). Após o carregamento, tem-se adotado uma prática fundamental, com o objetivo de reduzir os efeitos do estresse calórico nas aves, que é a 8 pulverização de água sobre as aves no momento da saída do veículo da granja para o abatedouro. Isso causa não só o aumento do conforto das aves, mas também a redução das perdas por mortalidade e melhorias na qualidade da carne, com diminuição do estresse pré-abate (DUNCAN, 1986). Para um carregamento diurno é necessário a preparação de pequenos círculos de captura, onde se prende de 150 a 200 frangos em cada um. Os círculos são feitos com as próprias caixas, facilitando a captura e evitando grandes movimentações das aves, propiciando uma apanha humanitária sem injuriar as aves. Deve-se trabalhar com seis a oito círculos destes, sendo que à medida que vão sendo liberados, seguem adiante da apanha para aprisionar novos grupos de aves (REALI, 1994). Esta etapa é crucial do ponto de vista de qualidade da carne, uma vez que se a “pega” das aves não for executada de forma correta ou por profissionais aptos para a função, poderá refletir em sérios danos á carcaça. Isso gera traumas e quebra de ossos, sem falar na dor e sofrimento a que são submetidos os animais (LEANDRO et al, 2001). Figura 1: Pega ou apanha de aves 9 2.3 Transporte Após a captura, a etapa seguinte é a de transporte das aves. Embora a apanha, ação de colocar a ave no engradado, e o carregamento são os processos que mais causam injúrias físicas às aves, o transporte também é reportado como um processo que afeta o bem-estar desta espécie. O transporte é realizado em caminhões comuns, utilizando-se caixas plásticas para contê-las. É necessário se atentar principalmente para os aspectos ambientais: temperatura e velocidade do vento, para que problemas como a morte de animais não ocorra durante a viagem (CONTRERAS, 2002). Na fase de transporte, cuidados especiais deverão ser tomados, principalmente no que diz respeito às condições de bem-estar das aves durante o percurso da viagem. Deverão ser levados em conta como: tempo de viagem, tempo de restrição alimentar e água, período do dia (cedo, à tarde ou à noite), condições climáticas (temperatura, umidade relativa do ar e velocidade do vento), densidade de aves nas caixas de transporte, tempo de espera no carregamento e no descarregamento e até as condições das estradas deverão ser consideradas, visto que isso implica em trepidação e solavancos nas caixas de transporte o que poderá causar lesões e estresse nas aves durante a viagem (ROSA et al, 2002). Quanto ao horário, em regiões e/ou em épocas quentes, deve ser realizado em horários de temperaturas mais amenas. Conforme SILVEIRA e SOUZA (2000) quando a densidade populacional das aves transportadas é alta resultará em desconforto, nessa situação, algumas poderão apresentar dispnéia. É óbvio que a temperatura ambiente e a ventilação afetam a densidade 10 populacional. Aves transportadas a uma temperatura ambiente menor que 5ºC mostram-se tranqüilas durante a viagem mesmo quando a densidade populacional é alta, porque elas tentam evitar a perda de calor corporal através do contato físico. Já a temperatura maior que 15ºC ocorrerão grandes agitações até mesmo pânico. A restrição alimentar e de água, é sem dúvida um dos maiores estressores durante o período de viagem, pois causam a perda de peso dos animais e conseqüentemente enfraquecimento, tornando-os mais susceptíveis a traumas. O jejum, no local de produção, não deve ultrapassar o prazo de uma noite, pois a fome pode consistir um fator desencadeante de estresse, levando ao consumo dos recursos energéticos (BORDIN, 2001). Uma taxa de mortalidade aceitável durante o transporte, deve ser inferior a 0,1%. Aves susceptíveis ao estresse, no entanto, podem apresentar taxas dez vezes maiores. A duração do transporte não é o fator principal que contribui para o aumento destes números, sendo a restrição alimentar o fator que tem maior peso. As perdas quase dobram, em dias quentes e úmidos acima de 25ºC (SANTOS, 1997). Existem diversos trabalhos comprovando que o transporte e o manejo pré-abate são estressantes para as aves, pois causam medo nas mesmas. A falta de ventilação para as aves que estão localizadas nas gaiolas no centro dacarga, no caminhão, podem sofrer calor e hipertermia e as aves que se encontram em gaiolas localizadas nas extremidades da carga, no caminhão, podem sofrer frio excessivo provocando estresse e mudanças fisiológicas no pré- 11 abate, assim como, mudanças bioquímicas no post mortem (WARRISS et al, 1993). O transporte dos animais vivos com destino ao abatedouro, mesmo quando obedeça as lotações favoráveis em veículos apropriados, é capaz de estressá-los devido à simples mudança de ambiente e às vicissitudes do trajeto. Durante o transporte, os animais podem ser acometidos por diferentes tipos de estresse: motor, emocional, digestivo, térmico e desequilíbrio hídrico. Além das possíveis alterações na qualidade da carne em decorrência do estresse, outros defeitos em carcaças estão associados ao transporte tais como contusões, calos ou bolhas, esfolamento e arranhões (WARRISS et al, 1993). Até a idade de abate, as aves de produção intensiva são apanhadas e carregadas em veículos para o transporte de seus locais, geograficamente dispersos, de criação para abatedouros centralizados. Os procedimentos de apanha e manuseio, transporte de animais vivos e os problemas associados a isto são os principais fatores determinantes da eficiência e lucratividade na produção comercial de frangos em larga escala (NILIPOUR, 1996). 2.4 Recepção e espera Ao chegar, a carga é pesada na portaria do abatedouro, recebe uma ducha com água sob a temperatura ambiente por aproximadamente dez minutos, em período de clima quente e, em seguida é descarregada manualmente ou mecanicamente em plataforma de recepção dotada de ventilação natural ou 12 artificial. Muitos abatedouros utilizam aspersores de água, que tem como finalidade criar um ambiente ameno na recepção (BERAQUET, 1994). É fundamental que logo que os animais cheguem no abatedouro, os caminhões se dirijam até os “galpões de espera”, equipados com ventiladores e nebulizadores, além de uma iluminação de baixa intensidade, tudo para garantir que o tempo de espera das aves para o abate seja o menos estressante possível. Embora seja recomendável um tempo curto de espera, para que as aves possam ser abatidas em condições menos avançadas de estresse, elas devem permanecer no galpão apenas o tempo mínimo necessário para garantir o fluxo de abate do frigorífico e este tempo deve ser monitorado (PORTARIA Nº. 210, 1998). No galpão de espera, o inspetor do bem-estar deve checar a temperatura ambiente e inspecionar as condições das aves. Se as aves estiverem ofegantes e/ou a temperatura estiver acima de 18ºC recomenda-se ligar os ventiladores e nebulizadores. Não é permitido aos transportadores estacionarem os caminhões de aves fora do galpão de espera ou em qualquer local sem proteção. Os equipamentos do galpão de espera (ventiladores e nebulizadores) devem estar em perfeitas condições de funcionamento, sendo de responsabilidade do inspetor de bem-estar comunicar a área de manutenção de imediato quando verificar irregularidade com os mesmos (DIRECTIVA 93/119/CE, 1993). Os caminhões com as aves vivas são mantidos sob galpões ventilados enquanto aguardam o descarregamento. A boa ventilação é necessária para evitar que as aves morram, devido ao calor excessivo. Grandes ventiladores 13 de baixa velocidade, nas laterais e no teto dos galpões, podem manter a desejável circulação de ar. É importante posicionar os ventiladores de tal forma que removam o calor do meio da carga. Um erro comum é soprar ar somente num dos lados da carga, sem renovar o ar de seu interior, particularmente quando os animais são retidos por mais de uma hora (BERAQUET, 1994). As condições climáticas influenciam na intensidade do estresse que o animal é submetido durante o transporte e também determina a condição na qual os animais iniciam o transporte e sua capacidade de recuperação nas instalações do abatedouro. Temperaturas acima de 18º C aumentam as perdas ocasionadas durante o transporte dos animais. Esse fato torna-se agravante quando predomina o calor úmido, pois o animal apresenta maior dificuldade de eliminar o calor corporal, aumentando assim sua temperatura interna e conseqüentemente prejudicando seu bem-estar. Em situação mais drástica o incremento do batimento cardíaco pode levar o animal à morte. A qualidade da carne é prejudicada com a adição de fatores estressantes tais como, temperaturas mais elevadas predominantes durante os períodos mais quentes do ano como também temperaturas muito baixas (WARRIS et al, 1993). 2.5 Desembarque De acordo com SILVEIRA e SOUZA (2000), o estresse durante o desembarque é semelhante ao do embarque, em ambos os casos a adequação das instalações da plataforma de recepção dos animais do abatedouro é de suma importância. Enquanto a ave sobe a rampa, sua média de batimento cardíaco 14 aumenta linearmente com a inclinação da rampa. Além desse aspecto, contusões podem ocorrer quando há quedas das aves ao proceder o desembarque. Os estabelecimentos de abate devem dispor de instalações e equipamentos apropriados ao desembarque dos animais dos meios de transporte. A recepção deve assegurar que os animais não sejam acuados, excitados ou maltratados (INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3, 2000). A área de desembarque deve estar instalada em local coberto. As caixas onde os frangos são transportados devem ser colocadas com cuidado, individualmente, em esteira, evitando o choque entre elas e movimentos bruscos, minimizando as chances de estresse bem como lesões nos mesmos. As caixas devem ser abertas no momento da pendura a fim de evitar que as aves caiam ou fujam, e as aves que por ventura fugirem das caixas devem ser imediatamente e cuidadosamente recolhidas por um funcionário do setor e colocadas na caixa ou penduradas na nória (PORTARIA Nº. 210, 1998). Depois de totalmente descarregado, o caminhão segue pelo corredor onde irá passar por uma plataforma de lavagem, onde um funcionário com uma mangueira de alta pressão irá remover dos 2 eixos do veículo todo o conteúdo acumulado na carroceria, e em seguida passa por um anel de aspersão onde o veículo sofrerá o processo de desinfecção com produto adequado (DECRETO LEI Nº. 8911, 1964). Figura 2: Desembarque. 15 2.6 Pendura Esta área deve estar instalada em local coberto, protegido de ventos e da incidência de raios solares. A luminosidade deve ser reduzida, mantendo o ambiente escurecido. Segundo BERAQUET (1994), deve-se manter baixa a iluminação na área de atordoamento e matança, a fim de minimizar a excitação das aves. Para este ambiente, iluminação azul ou vermelha é a ideal. O setor de pendura deve ser um ambiente com o mínimo de ruídos possíveis, evitando assim qualquer tipo de excitação, a iluminação deve ser de baixa intensidade, feita por lâmpadas frias com cerca de 150 Lux (RIISPOA), protegidas com acrílico, evitando qualquer tipo de acidente de trabalho, como explosões e queda. A ventilação deve ser de uso adequado visando o conforto térmico das aves e iluminação natural do setor, já previamente protegida com telas mosqueteiras impedindo a entrada de qualquer tipo de inseto ou praga (PORTARIA Nº. 210, 1998). Deve-se remover as aves das caixas segurando-as firmemente pelas canelas e prendendo-as seguramente aos suportes, evitando que fiquem dependuradas por uma perna só, o que poderia causar sofrimento ao animal, podendo acarretar também quedas durante o trajeto. Os operadores devem ser treinados para colocar as aves nos suportes sem excitá-las ou injuriá-las (INSTRUÇÃONORMATIVA Nº 3, 2000). Conforme as aves são removidas das caixas, são penduradas pelas pernas em suporte ligadas a nória, que é o ponto inicial da operação de abate. Deve-se remover as aves das caixas segurando-as firmemente pelas canelas e 16 prendendo-as seguramente aos suportes sem excitá-las ou injuriá-las (BERAQUET, 1994). Não são permitidas situações em que as aves batam ou encostem suas cabeças em calhas ou qualquer outro aparato. A nória deve possuir um parapeito para que as aves sejam conduzidas com conforto. As aves mortas devem ser destinadas à fábrica de subprodutos e o número de aves mortas deve ser registrado e informadas a área agropecuária e ao Serviço de Inspeção Federal (SIF). O ideal é os ganchos estarem molhados no momento da pendura e permanecer assim até o atordoamento, a fim de facilitar a condutibilidade elétrica (DIRECTIVA 93/119/CE, 1993). O tempo em que a ave permanece na nória, antes do atordoamento, depende da velocidade da linha de abate, um mínimo de quarenta a sessenta segundos, é aconselhável para acalmá-las, evitando problemas no atordoamento. Essas operações na área de pendura são importantes por seus efeitos na qualidade, e está relacionado à eficiência da sangria e aos efeitos provenientes de manuseio impróprio (BERAQUET, 1994). Figura 3 e 4: Pendura 17 2.7 Atordoamento ou Insensibilização O primeiro equipamento de processamento é o atordoador ou insensibilizador. A insensibilização é essencial para que a sangria e a depenagem sejam satisfatórias (BERAQUET, 1994). A insensibilização propriamente dita, segundo a INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3 (2000), é o processo aplicado ao animal, para proporcionar rapidamente estado de insensibilidade, mantendo as funções vitais até a sangria. De acordo com MCGUIRE (2002), a insensibilização ocorre quando uma certa quantidade de corrente passa através do sistema nervoso central das aves por um determinado tempo. O estado de inconsciência induzido pela eletricidade resulta na inibição dos impulsos dos sistemas reticulares e somatosensoriais do animal proporcionando logo em seguida, uma sangria sem dor para o animal. O atordoamento ou insensibilização é uma etapa fundamental para se garantir o abate dentro dos princípios humanitários, uma vez que este garantirá a inconsciência dos animais antes da sangria. Dentre as formas mais comuns de atordoamento tem-se o atordoamento elétrico e o atordoamento por gás. O atordoamento elétrico é um dos mais utilizados na insensibilização dos animais, consiste basicamente na aplicação de um choque elétrico aplicado na cabeça dos animais para que a corrente elétrica passe pelo cérebro e o leve a um estado de inconsciência e insensibilidade (DIRECTIVA 93/119/CE, 1993). Neste método de atordoamento, as aves passam após a pendura, por uma chuveirada de água. Os frangos são conduzidos pela nória para passarem pelo insensibilizador, este é geralmente uma “calha” com barras em 18 suas laterais limitando o movimento das aves obrigando que estas se mantenham em contato com a água. As aves deverão permanecer dependuradas pelos pés, antes da sangria, para que haja fluxo de sangue à cabeça (INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 17, 1999). O atordoamento elétrico aplicado em aves acontece quando estas passam com suas cabeças imersas em um tanque com água (ou salmoura) e são submetidos à aplicação de uma corrente elétrica durante um período médio de sete segundos, para que atinjam a inconsciência, o que provoca o fenômeno denominado eletronarcose. É muito importante que esta operação seja bem executada, pois as aves seguirão respectivamente para a sangria e escalda, e não estando inconscientes poderá resultar em problemas de bem-estar (dor e sofrimento) além de riscos de contaminação da carcaça (ingestão de água na escalda) e comprometimento do processo de sangria (RAJ, 2001). Deve-se levar em conta a amperagem da corrente elétrica que as aves recebem individualmente, pois isso determina a eficiência do atordoamento e qualidade final da carne. Os vários tipos de ondas e freqüências de correntes elétricas que se empregam comercialmente (geralmente uma corrente alternada de 50 Hz), podem ter diferentes efeitos nas aves (NUNES, 2002). Por razão de sacrifício humanitário e do bem-estar animal, é estipulada uma corrente e uma amperagem, evitando assim problemas mais comuns como: insensibilização inadequada e sofrimento das aves durante a sangria (INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3, 2000). Diferentes tipos de atordoadores estão disponíveis. Um tipo padrão com uma corrente alternada opera com freqüência de 60 Hz, enquanto o de alta 19 freqüência usa 400 Hz. Atordoadores de corrente contínua são de alta voltagem e usam 100V, para corrente alternada recomenda-se 50V, para corrente contínua, recomenda-se 90V (BERAQUET, 1994). O tempo de atordoamento deve ser monitorado e seguido de sangria em no máximo 12 segundos. Os eletrodos devem ser higienizados periodicamente e estar em boas condições de manutenção. O inspetor do bem- estar animal deve avaliar os reflexos imediatamente após o atordoamento, observando presença de pescoço arqueado, pernas estendidas, asas suspensas junto ao corpo e ausência de reflexo palpebral. O tempo de recuperação das aves após o atordoamento também é avaliado através da rigidez muscular do pescoço (INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 17, 1999). As patas das aves são molhadas com água para que ao entrar em contato com o metal dos ganchos, se assegure o fluxo de corrente. O controle do equipamento tem sido redimensionado para mostrar e monitorar continuamente a voltagem e os níveis de corrente (MCGUIRE, 2002). Só o conhecimento da voltagem e da amperagem não irão assegurar a qualidade e uniformidade desejadas no atordoamento. É preciso entender que as aves, apesar de aparentemente uniformidade, são fisicamente diferentes, não apenas porque são de sexos diferentes, mas também porque são, dentro do mesmo sexo, constituídas fisicamente de maneiras distintas, e estas diferenças se manifestam em vários aspectos físicos destas aves. Estas variações de ave a ave, ainda que do mesmo sexo, conferem diferentes resistências à passagem da corrente elétrica por seus corpos no momento do 20 atordoamento, interferindo na uniformidade e qualidade do processo (NUNES, 2002). A voltagem não deve ser muito alta, para não causar quebra da asa ou movimentos bruscos antes da sangria. Os movimentos reduzem a perda de sangue e dificultam o alinhamento correto da cabeça para a sangria (BERAQUET, 1994). As correntes empregadas podem provocar parada cardíaca nas aves. Como critério para selecionar e fixar as correntes mínimas a serem utilizadas na eletronarcose, a parada cardíaca pode ser utilizada, pois este método é o único que produz uma morte cerebral rápida em aves; a indução da parada cardíaca pelo atordoamento elimina a possibilidades de recuperação da consciência das aves em caso de demora da sangria (RAJ, 2001). Pontas vermelhas e clavículas quebradas geralmente acompanham asas quebradas por alta voltagem. O coração não tem tempo de se recuperar suficientemente para que a sangria seja suficiente. A dilatação dos vasos sanguíneos, com o acúmulo de sangue, pode ocasionar coágulo e manchas que aparecem nas operações posteriores. Para assegurar um bom atordoamento, recomenda-se molhar os pés das aves com um fino jato de água antes delas atingirem o atordoador (BERAQUET, 1994). De acordo com a PORTARIA Nº 210 (1998), a insensibilização deve ser preferencialmente por eletronarcose sobimersão em líquido, cujo equipamento deve dispor de registros de voltagem e amperagem e esta será proporcional à espécie, tamanho e peso das aves. Deve-se levar em consideração ainda à extensão a ser percorrida sob imersão. 21 Uma proposta para o atordoamento de aves é utilização de gases, em que é criada uma atmosfera controlada com uma mistura de gases. Nesse método são usados: anóxia induzida com 90% de argônio e outros gases inertes misturados com ar; uma mistura de 30% de dióxido de carbono e 60% de argônio e outros gases inertes. Essas misturas de gases são indicadas, pois: a) a indução por anóxia é mais suave e as aves entram espontaneamente neste estado; b) a indução de inconsciência, com a mistura de dióxido de carbono-argônio, é rápida e a maioria das aves entram voluntariamente neste estado; c) as aves recobram a consciência, mesmo em concentrações elevadas de dióxido de carbono (RAJ, 2001). As aves devem ser atordoadas, antes de serem sangradas, para tornarem-se insensíveis à dor do corte das artérias, e assim estar consoante com a legislação de bem-estar animal, e para serem posicionadas adequadamente para o corte de sangria, seja ele manual ou automático. O atordoador, de acordo com NUNES (2002) exerce função importante dentro do processamento e cujos desdobramentos podem afetar a qualidade, e o rendimento e a eficácia de operações decisivas. Precisa-se entender que o atordoador funciona como um circuito paralelo, e que cada ave, neste circuito, atua como uma resistência elétrica comum igual às de um circuito elétrico convencional. A voltagem que alimenta o circuito é igual para todas as resistências, enquanto que a corrente é dividida pelo número de resistências que compõem este circuito. O número de frangos com a cabeça imersa na área da cuba e o quinhão de corrente que caberá a cada vez será ditado pela sua 22 resistência, segundo o estabelecimento pela Lei de Ohm. Todo atordoador deve, estar equipado com um voltímetro e um amperímetro de qualidade, instrumentos que devem ser calibrados periodicamente assegurando a veracidade da leitura feitas em seus mostradores. Os gerentes de produção dos matadouros devem estar comprometidos com o bem-estar animal. Gerentes que pregam o bom manejo e o uso das práticas corretas de insensibilização, são aqueles que insistem que seus empregados manejem e insensibilizem corretamente os animais (GRANDIM, 2000). É de responsabilidade dos supervisores assegurar a consistência dos procedimentos operacionais que podem interferir nos resultados do atordoamento: a pendura e posição das aves nos ganchos, ajuste do atordoador ao lote em processo, manutenção do nível de água na cuba, manutenção da concentração de sal na água (quando usado) e ajuste dos parâmetros operacionais de acordo com o lote em processo (INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3, 2000). Figura 5 e 6: Tanque de insensibilização. 23 2.8 Sangria Se o atordoamento foi realizado adequadamente, as aves chegam quietas ao local de sangria, assegurando um melhor corte. O tempo entre o atordoamento e sangria deve ser de 12 a 15 segundos. O SIF exige que a sangria seja realizada no prazo máximo de 12 segundos. O abate sem prévia insensibilização só é permitido para o atendimento de preceitos religiosos ou de requisitos de paises importadores. A operação de sangria pode ser realizada manual ou mecanicamente. Na operação manual o operador corta as veias jugulares, com pouco ou nenhum contato com os ossos do pescoço (BERAQUET, 1994). A operação de sangria consiste basicamente no corte dos grandes vasos de circulação de sangue (artérias carótidas e veias jugulares) o corte deve ser realizado através de movimento rápido e ininterrupto, e deverá ser iniciada logo após a operação de insensibilização dos animais, de modo a provocar um rápido e completo escoamento do sangue, antes que o animal recobre a consciência. O tempo de sangria deve ser de três minutos (PORTARIA Nº. 210, 1998). Há diversos tipos de sangradores mecânicos. Em princípio, o pescoço da ave é conduzido contra uma lâmina circular rotativa ou facas, que realizam o corte. A posição da cabeça e do pescoço da ave pode resultar em diferentes tipos de corte. O corte sob a mandíbula inferior rompe as artérias carótidas e ambas as veias jugulares, maximizando o sangramento. Neste caso, o corte da traquéia deve ser evitado, afim de que a ave continue a respirar e facilite 24 o sangramento. Cortando-se somente um lado do pescoço, há riscos de se cortar as vértebras (BERAQUET, 1994). Nos processos de sangria automatizada, torna-se necessário à supervisão de um trabalhador que acompanhe o processo de sangria de perto, isso deverá ser feito para se prevenir eventuais falhas dos equipamentos ou no processo de degola. Esta medida é muito importante, pois evita que os animais alcancem o tanque de escaldagem ainda se debatendo, o que poderá resultar em traumas a carcaças além de dor e sofrimento desnecessários aos animais (DIRECTIVA 93/119/CE, 1993). O sangramento da carcaça deve ser completo, para assegurar que as aves não estejam respirando ao entrar no tanque de escaldamento. Isto evita a entrada de água nos pulmões e previne a contaminação do produto. O tempo recomendado de sangramento varia de 55 a 100 segundos, dependendo dos efeitos do atordoamento, do tempo de atordoamento até à sangria e do tipo de corte efetuado (BERAQUET, 1994). Ave que apresente pele com coloração laranja-avermelhada é resultante de sangria mal feita. Quando a ave não passa pelo disco sangrador, ou o corte e feito de maneira errada a ave terá pele avermelhada, indicando um cadáver. Cadáveres não devem exceder a uma ou duas aves por 1000 abatidas. Cerca de 80% do sangue é liberado nos primeiros 40 segundos; é essencial utilizar um sangramento de pelo menos 60 segundos para evitar a contaminação de água de escaldamento com sangue. O SIF recomenda três minutos como o tempo mínimo para uma boa sangria, antes do qual não é permitida nenhuma outra operação. Uma regra geral para determinar se a sangria está sendo 25 realizada adequadamente é observar se as aves ainda movimentam as asas na entrada do tanque de escaldamento (BERAQUET, 1994). A operação de sangria, segundo a INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº 3 (2000), deve ser iniciada logo após a insensibilização do animal, de modo a provocar um rápido, profuso e mais completo escoamento de sangue, antes que o animal recupere a sensibilidade. A operação de sangria é realizada pela secção dos grandes vasos do pescoço, no máximo um minuto após a insensibilização. 2.9 Escaldagem Tem por finalidade uma prévia lavagem da ave e o afrouxamento das penas através da abertura dos poros, para facilitar a depenagem. Nessa fase pode ocorrer perdas da qualidade da carcaça. Se a temperatura da água for muito alta ou o tempo de permanência for exagerado, podem ocorrer queimaduras do peito, coxas, e asas, causando uma coloração branca e endurecimento da carne (AVESERRA, 2006). Figura 7 e 8: Sangria 26 Os tanques de escaldagem se localizam em sala própria, juntamente com as máquinas de depenagem (depenadeiras), completamente separadas por paredes das demais áreas operacionais. Os tanques possuem um sistema automático de alimentação de água, com um sistema de borbulho através de bicos de ar, com a função de movimentar todo o volume de água de cada tanque, para que a água se mantenha com a mesma temperatura uniformementedentro de cada tanque (PORTARIA Nº. 210, 1998). Tempo e temperatura são os parâmetros a serem controlados nessa operação de escaldamento. Geralmente, utiliza-se temperaturas de escaldamento de 52 a 54°C. O tempo varia entre um minuto e meio a dois minutos e meio, dependendo da temperatura do escaldamento (BERAQUET, 1994). 2.10 Depenagem Após o processo de escaldagem, as aves entram numa série de máquinas de depenagem. Essas máquinas têm a função específica de retirar todas as penas das asas, pernas, pescoço, corpo e sambiquira através de uma série de bancais com dedos de borracha pequenos e firmes. Esses dedos de borracha são usados de acordo com o peso do frango, sendo este o fator que determina sua dureza (BERAQUET, 1994). Esta operação tem um aspecto microbiológico muito importante, pois objetiva a diminuição dos riscos de introdução da microflora externa na musculatura. Apesar das preocupações, as contagens microbianas geralmente aumentam nesta fase, como resultado da contaminação cruzada e este é um fato 27 inevitável, mesmo usando uma tecnologia mais moderna (CLARK e LENTZ, 1968). Na parte final, os tambores têm dedos mais longos e flexíveis, que permitem uma ação mais suave. Geralmente, três ou quatro depenadores são usados em seqüência, seguidos por um depenador para remoção das penas da coxa, da asa e do pescoço. Os depenadores devem estar posicionados próximos aos escaldadores, de maneira que a temperatura da pele não diminua muito entre uma operação e outra. O ajuste dos dedos deve ser feito de modo a evitar a abrasão da pele ou mesmo a quebra das asas. Todas as máquinas de depenagem possuem aspersores de alta pressão de água, com função de lavar a carcaça do animal e ajudar na retirada das penas (BERAQUET, 1994). 2.11 Evisceração Os trabalhos de evisceração deverão ser executados em instalação própria, isolados através de paredes da área de escaldagem e depenagem, compreendendo desde a operação de corte da pele do pescoço, até a toillete final das carcaças. As carcaças que chegam por esteira são penduradas na trilhagem aérea (nória) do setor para se iniciar o processo de evisceração das mesmas. A nória deve ser disposta sob uma calha de 0,60m de largura e 0,30m de altura das carcaças, não permitindo em hipótese alguma que as aves dependuradas toquem na calha. A calha disporá de água corrente sob pressão adequada, fornecida através de um sistema de canos perfurados e ralos coletores de resíduos dispostos pela calha, evitando acúmulo na seção (PORTARIA Nº 210, 1998). 28 Deve-se obedecer ao espaço de 1m por funcionário, para que estes possam realizar suas funções de maneira correta, e sem prejudicar os funcionários ao lado. É necessário a presença de esterilizadores de facas posicionados em locais estratégicos do setor, com temperatura de 85ºC para a eficiente esterilização das facas usadas no setor (PORTARIA Nº 210, 1998). As aves são evisceradas e preparadas para o consumo pela remoção da cabeça, vísceras, pés, papo e pulmões da carcaça depenada. Na linha de evisceração existem variações quanto ao local de remoção da cabeça - com ou sem pescoço - e dos pés. Essa operação também inclui a coleta de miúdos, que normalmente requer a limpeza da moela, coração e fígado. Nessa etapa, as aves são examinadas pelos inspetores federais, que verificam sua sanidade. Também nessa etapa é feita a remoção de ferimentos, edemas e ossos quebrados. As seguintes operações compreendem o processo de evisceração: - As aves depenadas são suspensas na linha de evisceração, pela junta da coxa, na nória, que as move pela linha de evisceração. A primeira operação pode ser a remoção da sambiquira, manual ou mecanicamente. Nesse caso, certo cuidado é necessário para não remover tecidos em excesso; - Corte da pele do pescoço e da traquéia: desprendimento do pescoço; - Extração da cloaca: na remoção mecânica, corta-se ao redor da cloaca com uma lâmina rotatória. Em equipamentos com vácuo, é feita a evacuação do intestino grosso. Esse tipo de máquina ajuda a evitar a contaminação fecal. No método manual, o operador segura a cloaca entre o dedo indicador e polegar e faz dois cortes transversais próximos a ela, de tal forma que 29 o intestino possa ser retirado ate 1/3 do comprimento do dorso. Falhas nessa operação podem causar contaminação fecal; - Abertura do abdômen: é feita uma incisão próxima à cloaca para permitir a remoção das vísceras. Na abertura automática a incisão é feita longitudinalmente. - Eventração (exposição de vísceras): essa operação pode ser executada manual ou mecanicamente. Se feita manualmente, a mão é cuidadosamente introduzida na cavidade abdominal, para não desprender a gordura cavitária. Os dedos indicador e médio são usados para segurar firmemente a moela. Gira-se a mão, puxando a moela e arrastando as vísceras para fora. As vísceras, ainda ligadas à carcaça, ficam dispostas em um dos lados da cauda na forma requerida pela inspeção. A remoção mecanizada das vísceras é feita de maneira sincronizada com a velocidade da linha. Cada ave é seguramente posicionada e um mecanismo - com a forma de colher, ou mão espalmada - entra na cavidade abdominal e retira as vísceras. Geralmente, os pulmões e o papo são removidos. Um ajuste na máquina é necessário para evitar a perda de gordura abdominal e danos ao fígado, com o rompimento da vesícula biliar; - Inspeção: é feita sob supervisão do serviço federal, que determina se a ave é sadia ou se necessita de remoção de partes com injúrias, ossos quebrados; - Retirada das vísceras (miúdos): depois que as carcaças são inspecionadas e julgadas sadias, coração, fígado, e moela são removidos das vísceras. Deve-se evitar o rompimento da vesícula biliar e a contaminação do 30 fígado nessa operação. O saco pericardeal é removido do coração. O coração e o fígado são encaminhados para um resfriador. As moelas são abertas, lavadas internamente e têm a cutícula removida; - Extração dos pulmões: os pulmões são removidos por pistola a vácuo operada manualmente. Com a remoção automática das vísceras, cerca de 90% dos pulmões são cuidadosamente removidos; - Toilette: remoção do papo, esôfago e traquéia remanescente; - Lavagem externa e interna: a lavagem final das carcaças: feita externamente com chuveirinho e internamente com equipamento tipo pistola - visa à remoção de materiais estranhos, como sangue, membranas, fragmentos de vísceras etc. Em seguida as carcaças seguem para o processo de resfriamento por imersão em água (BERAQUET, 1994). A lavagem final por aspersão das carcaças após a evisceração, deve ser efetuada por meio de equipamento destinado a lavar eficazmente as superfícies internas e externas. As carcaças poderão também ser lavadas ‘’internamente’’ com equipamento tipo ‘’pistola’’, ou similar, com pressão d’água adequada. A localização do equipamento para lavagem das carcaças deverá ser após a evisceração e imediatamente anterior ao sistema de pré-resfriamento, não se permitindo qualquer manipulação das carcaças após o procedimento de lavagem (PORTARIA Nº 210, 1998). 2.12 Inspeção sanitária A inspeção post mortem é efetuada, em todas as carcaças e vísceras das aves que tem como objetivo retirar da linha os casos anormais e ou 31 suspeitos e conduzi-los ao DIF (Departamento de Inspeção Final), para o julgamento e destino adequado. O método de exame é visual, feito por meio de palpação e cortes e é realizado nas linhas de inspeção por funcionários auxiliares treinados para esta função (DIPOA, 1997). A inspeçãosanitária é feita sob supervisão do SIF, que determina se o frango é sadio ou necessita ser rependurado para a nória do DIF para remoção de partes com injúrias. As vísceras acompanham a carcaça de onde foram evisceradas com sincronia total, no caso do pacote de miúdos apresentarem algum problema é destinado diretamente para FSP (Fábrica de Subprodutos). Neste ponto é verificado as carcaças que apresentam alguma alteração (hematomas, fraturas, riscos na pele, dermatose) ou contaminação (biliar, fecal), podendo estas serem condenadas parcialmente ou totalmente após análise dos agentes de inspeção e autorização de um Médico Veterinário responsável do SIF. A inspeção e dividida em 3 linhas: ⇒ Linha A – exame interno da carcaça; Realiza-se por meio da visualização da cavidade torácica e da abdominal (pulmões, sacos aéreos, rins, órgãos sexuais). ⇒ Linha B – exame das vísceras; Visa o exame do coração, fígado, moela, baço, intestinos e nas poedeiras, ovários e oviduto. ⇒ Linha C – exame externo da carcaça; Realiza-se por meio da visualização das superfícies externas (pele e articulações); 32 Nesta linha, efetua-se a remoção de pequenas contusões, de membros fraturados, de pequenos abscessos superficiais e localizados e de calosidades (DIPOA, 1997). 2.13 Processo de resfriamento das carcaças Depois de eviscerados, os frangos são transportados via nória para uma sala com temperatura ambiente inferior ou igual a 12ºC, sendo submetidos a dois resfriadores contínuos por imersão em água do tipo rosca sem fim, respectivamente chamados de pré-chiller e chiller. Essa etapa tem o objetivo de abaixar a temperatura das carcaças de 35ºC para próxima de 6ºC, evitando proliferação de microorganismos (PORTARIA Nº.210, 1998). A carcaça deve ser resfriada rapidamente para diminuir o crescimento de microorganismos deteriorados e prevenir a multiplicação de microorganismos patogênicos; de acordo com o código de prática da C.E.E. (Comunidade Econômica Européia) a vazão de água do “Chiller” deve ser monitorada, sendo que se calcula 1 a 2 L/carcaça. A temperatura da água é outro fator importante devendo ser inferior a 16°C na entrada e na saída abaixo de 4°C (MEAD, 1982). O pré-chiller tem a função de fazer um pré-resfriamento nas carcaças, quando o Chiller sozinho não consegue realizar o resfriamento de forma eficiente, baixando a temperatura para cerca de 6 a 7ºC na saída do Chiller (BALDINI, 1994). 33 O tanque é alimentado com gelo durante todo o processo de resfriamento das carcaças. A alimentação de água deve ser constante e em sentido contrário à movimentação das carcaças (contracorrente) na proporção mínima de 1,5 litros por carcaça (PORTARIA Nº 210, 1998). Logo em seguida as carcaças caem no chiller. O funcionamento do chiller é semelhante ao do pré-chiller, modificando apenas a temperatura da água para 4ºC e a vazão que passa para 1 litro por carcaça. O borbulhamento é um processo utilizado com a função de ajudar na limpeza das carcaças, mas se for exagerado pode aumentar a absorção de água pelas carcaças, comprometendo a apresentação e durabilidade do produto. A porcentagem máxima permitida de absorção de água é de 8% do peso total da carcaça (PORTARIA Nº. 210, 1998). 2.14 Gotejamento Destinado ao escorrimento da água da carcaça decorrente da operação de pré-resfriamento. Ao final desta fase, a absorção de água nas carcaças de aves submetidas ao pré-resfriamento por imersão, não deverá ultrapassar a 8% de seus pesos. O gotejamento deverá ser realizado, com as carcaças suspensas pelas asas ou pescoço, em equipamento de material inoxidável, dispondo de calhas coletoras de água de gotejamento, suspensas e dispostas ao longo do transportador (PORTARIA Nº 210, 1998). Após o resfriamento, as carcaças são suspensas pelo pescoço ou asa, para escorrimento da água aderida, antes de sua embalagem. O comprimento da linha de gotejamento está relacionado ao tempo necessário para 34 drenar a água das carcaças, geralmente entre dois minutos e meio a quatro minutos (BERAQUET, 1994). Tem por objetivo a eliminação do excesso de água adquirida durante o resfriamento. A legislação exige, no mínimo, 3 minutos de tempo de gotejamento (GROSSKLAUS et al, 1982). 2.15 Resfriamento de miúdos Os miúdos (moelas, coração, fígado, pés e pescoço) devem ser resfriados, imediatamente, após a coleta e preparação. Os miúdos chegam através de um chute, originado da sala de evisceração. Esses miúdos desembocam em mini-chillers específicos de cada víscera, onde ficam por cerca de 15 minutos sofrendo um processo de resfriamento, para serem selecionados por funcionários no final desse, e enviados em bacias para a embalagem primária (PORTARIA Nº 210, 1998). Fígado: O fígado depois de sair do processo de resfriamento é selecionado na mesa de repasse, sendo descartado no caso de apresentar cor pálida, coloração esverdeada, pontos de necrose e petéquias (DIPOA, 1997). Coração: O coração também é selecionado, e descartando os que apresentam saco pericárdico, petéquias, coloração pálida e nódulos brancos (DIPOA, 1997). 35 Moela: A moela é classificada em relação à presença de corpos estranhos, coloração esverdeada da mucosa, presença de mucosa e perfuração da moela (DIPOA, 1997). Pé de frango e pescoço: O pé de frango passa pelo mesmo processo de resfriamento que as vísceras, sendo selecionado no final desse processo por funcionários com a função de descartar pés quebrados, com hematomas, com presença de mucosa nos dedos e com excesso de escaldagem (DIPOA, 1997). Os pés e pescoço com ou sem cabeça, quando retirados na linha de evisceração para fins comestíveis, deverão ser imediatamente pré-resfriados, em resfriadores contínuos por imersão, obedecendo ao princípio da renovação de água contracorrente e à temperatura máxima de 4°C (PORTARIA Nº.210, 1998). 2.16 Espostejamento de aves (sala de cortes) Este é considerado o maior setor do frigorífico, pois é onde as carcaças sofrem todos os tipos de cortes, variando de acordo com a exigência do cliente e também pode seguir inteiro sem sofrer nenhum tipo de corte sequer. A temperatura do setor não deve ultrapassar 12ºC, visando assim manter a qualidade do produto até o final de seu processamento (PORTARIA Nº.210, 1998). Tradicionalmente, a desossa de carcaças de frango é realizada de forma manual, diretamente da nória, com auxílio de facas apropriadas para se 36 efetuar os cortes ou através de processo automático. Nas duas ultimas décadas, a comercialização de partes e cortes de frangos teve um grande crescimento no país, motivado principalmente pelas exportações de cortes especiais, pela criação e desenvolvimento do mercado interno e, finalmente, pelo inicio da industrialização da carne de frango. Até então, a comercialização interna de partes e cortes de frango era pouco significativa, sendo feito para seus fregueses, principalmente no varejo, onde pequenos açougues e avícolas ofereciam alguns produtos diferenciados do tradicional frango com miúdos (BALDINI, 1994). Nesta época, a comercialização da carne desossada (filés) era pouco expressiva, sendo as partes com osso - coxa, sobre-coxa, peito com osso e asas - as principais opções. Com o crescimento das exportações de cortes especiais, houve a geração de excedentes de peças despadronizadas (por problema de peso, pequenas manchas, contusões diversas etc.) além de determinados cortes que ocasionalmente eram preteridos nas exportações. Estes produtos começaram a ser comercializadosno mercado interno, sofrendo inicialmente algumas restrições devidas ao tradicional consumo de frango com miúdos e carcaças inteiras, e pelos preços relativamente elevados (MARSH, 1985). As exportações trouxeram para o Brasil as técnicas mais aperfeiçoadas de desossa manual. Na década de 80, as linhas de desossa se desenvolveram grandemente, favorecendo a adequação da produtividade, qualidade e diversidade dos cortes produzidos. A industrialização da carne de aves também teve seu papel no desenvolvimento do setor de desossa. Inicialmente como setor de aproveitamento de subprodutos oriundos da desossa 37 (retalhos diversos, filés despadronizados, etc.) e de excedentes de mercado, lançando linhas de produtos tradicionais, similares aos obtidos pelas indústrias de carnes bovinas e suínas tais como: lingüiças, salsichas, fiambres, hambúrgueres, mortadelas etc. Hoje em dia, a industrialização da carne de frango já caminha para um mercado diferenciado, fazendo com que linhas de desossa trabalhem em períodos exclusivos para atender às demandas de matéria-prima deste setor em crescimento. Com a mudança do perfil do consumidor, nos últimos anos, o consumo de partes de frango vem se tornando crescente, e o consumo de cortes desossados (filés) se torna cada dia mais usual. A tendência de mercado para produtos mais saudáveis “mais leves” (menor teor de gordura), aos olhos do consumidor, aliado a sua facilidade e rapidez de preparo, tem contribuído de modo decisivo para o incremento dos setores de corte e industrialização de carne de frango (CONTRERAS, 1991). Uma desvantagem desse método é a textura mais rígida da carne obtida, em relação ao processo convencional. Tem-se estudado a estimulação elétrica das aves, após o abate, para minimizar o problema. No entanto, a estimulação elétrica, associada ao método de desossa a quente, causa uma significativa alteração na cor da carne, tornando-a mais escura do que a obtida pela desossa convencional. Outro fator que deve ser levado em conta é o aproveitamento dos miúdos, dorso, pés e cabeças, possível apenas com a graxaria. A inspeção sanitária das aves também seria prejudicada em alguns casos, pois a inspeção das vísceras não seria realizada, permitindo que alguns cortes de aves doentes, que comumente seriam condenadas, passem desapercebidos, seguindo normalmente pelo processo (GALVÃO, 1991). 38 2.17 Apontamento É o próximo setor no fluxograma do frigorífico e tem como função apontar e registrar todos os produtos que serão encaminhados aos túneis de congelamento. A finalidade do apontamento, nada mais é, do que manter o controle do estoque de produtos encaminhados para os túneis de congelamento, para assim ter um melhor controle da produção (CONTRERAS, 1991). 2.18 Túnel de congelamento Para levar o produto à temperatura desejada, são empregados os chamados congeladores, que podem ser classificados em cinco grupos: circulação forçada de ar, placas, criogênico, imersão e refrigerante líquido. Destes, os dois primeiros são os mais amplamente utilizados, seguidos pelo criogênico. Podem ainda ser construídos de forma a haver processo contínuo, semi-contínuo ou descontínuo, de acordo com a necessidade de cada processador (NEVES FILHO, 1994). O congelamento é feito por meio de congelamento rápido, o que evita a formação de grandes cristais de gelo nos produtos. É utilizado túnel de congelamento a temperatura de -35° a -40°C o tempo de retenção da maioria dos produtos é de quatro horas, para que o produto atinja a temperatura de -18°C (GROSSKLAUS et al.,1982). O túnel de circulação de ar é baseado no princípio de transferência de calor por convecção, utiliza ar à alta velocidade (3 a 8m/s) e baixa temperatura 39 (-35 a -45°C) e é construído nas mais diferentes formas. Uma delas é a estática, onde o produto é disposto sobre bandejas de carrinhos, ou paletes, que são levados ao interior do túnel. A distribuição do ar pode ser feita através de ventiladores instalados ao longo do comprimento do túnel, de forma que o gradiente de temperatura do ar seja menor e com valores relativamente constantes. Já no automático, o produto é transportado ao longo do túnel através de sistemas mecânicos, de forma a permanecer o tempo exigido para o congelamento. Podem utilizar carrinhos, onde a saída corresponde à entrada de outro com o produto a ser congelado, ou esteiras (NEVES FILHO, 1994). Outra versão deste túnel corresponde ao que promove o deslocamento do produto em uma estrutura semelhante a uma estante com várias divisões. Com a entrada de uma carga, o produto é movimentado entre duas divisões através de um sistema hidráulico. Este processo tem prosseguimento com a entrada de nova carga, até que a primeira saia no lado oposto. Recolhido por uma plataforma móvel é deslocado para a divisão inferior onde tem inicio o deslocamento em sentido contrário e assim sucessivamente, até que o produto atinja o nível requerido de congelamento. A velocidade de deslocamento pode ser alterada de acordo com a necessidade. Todo este conjunto está sob a ação de um fluxo de ar deslocado a velocidade recomendada, por meio de ventiladores (NEVES FILHO, 1994). Ainda, há o congelador com esteira horizontal, onde são distribuídas as embalagens ou recipientes que contêm o produto. Esta esteira é movimentada por um sistema de transmissão acoplado a um redutor de velocidade, e se desloca em vários níveis no interior do túnel. A disposição dos evaporadores e 40 ventiladores, em função do projeto oferecido, permite o fluxo do ar no sentido transversal ou longitudinal. Em função da capacidade e dimensões dos túneis, ter- se-ia melhor distribuição da temperatura no transversal (NEVES FILHO, 1994). Os túneis de congelamento funcionam a uma temperatura de -36ºC, e o processo de congelamento varia em relação ao produto que esta sendo congelado, no caso do frango inteiro leva cerca de 10h para o produto atingir a temperatura de -25ºC a -35ºC e sair do túnel de congelamento dentro do padrão, pronto para receber sua embalagem final e seguir no processo. Já o túnel de congelamento de cortes e miúdos leva cerca de 15h para o congelamento dos produtos, e estes seguirem no processo (GROSSKLAUS et al.,1982). Outro modelo é o tipo espiral, que possui um ou dois cilindros responsáveis pelo deslocamento de uma esteira, montada em forma de espiral. O espaço requerido é bem menor em relação à esteira horizontal, oferece grande versatilidade e, como a esteira é contínua, permite condições razoáveis de limpeza, através de sistemas especiais. De forma geral, todos os tipos de congeladores até agora citados são mais indicados para produtos embalados. Isto porque no congelamento a granel poderão formar aglomerados ou congelar o produto na superfície de apoio, provocando danos e perda de peso quando retirados mecanicamente. Também a perda de água (ou de peso) através de ação do ar poderá atingir níveis intoleráveis na falta de uma embalagem conveniente (NEVES FILHO, 1994). 41 2.19 Estocagem e distribuição O tempo e a temperatura de estocagem são os fatores mais importantes, afetando diretamente a qualidade do produto. Sua exposição a temperaturas mais altas aumenta significativamente a velocidade da perda de qualidade. A escolha da temperatura de estocagem do produto é determinada após o cálculo do custo de estocagem, período de estocagem máxima desejada e susceptibilidade, relacionadas a alterações de qualidade do produto (NEVES FILHO, 1994). A estocagem de aves congeladas deverá ser feita em câmaras próprias,com temperatura nunca superior a -18°C. As carcaças de aves congeladas não deverão apresentar, na intimidade muscular, temperatura superior a -12°C, com tolerância máxima de 2°C (PORTARIA Nº.210, 1998). Uma câmara de estocagem, tanto no local de produção quanto na distribuição, consiste essencialmente em um recinto devidamente isolado. Assim, a decisão do nível de temperatura é mais de natureza econômica, associada ao produto que se deseja manter. Um ponto crítico é a transferência de produto da câmara até o sistema de transporte e vice-versa. Isto deve ser organizado de tal modo que seja efetuado o mais rápido possível, evitando-se variações de temperatura. Outro ponto a ser considerado é o equilíbrio da temperatura a um valor correspondente à de conservação do produto no interior da carroceria. È necessário que, antes de carregado, o equipamento frigorífico do sistema de transporte opere durante certo tempo, levando a temperatura interna até o valor desejado (NEVES FILHO, 1994). 42 O transporte deve ser compatível com a natureza dos produtos, de modo a preservar sempre suas condições tecnológicas e, conseqüentemente manutenção da qualidade, sem promiscuidade, e/ou outras condições que os comprometam. Os veículos empregados no transporte de carcaças e miúdos deverão possuir carrocerias construídas de material adequadas, a par do isolamento apropriado e revestimento interno de material não inoxidável, impermeável e de fácil higienização e dotados de unidade de refrigeração (PORTARIA Nº.210, 1998). Já a distribuição no varejo é o elo mais crítico da cadeia de frio, onde a técnica e a psicologia de vendas representam grandes problemas para a engenharia de refrigeração. Dados estatísticos mostram que um terço do potencial de qualidade é consumido neste local. O desenvolvimento das vendas nos supermercados é baseado no princípio de que o consumidor, ao procurar um determinado produto, entre em contato com outros, que não pensou em adquirir. Assim lança mão de conservadoras abertas, as quais darão aceso ao produto na parte superior ou frontal. No restante da estrutura é feito um isolamento conveniente, onde o equipamento frigorífico terá que absorver calor de radiação, infiltração de ar e outras fontes. Não deverá ser esquecido que qualquer problema ocasionado ao consumidor pelo produto será associado à marca adquirida, mesmo que o produto tenho saído da fábrica com excelente nível de qualidade, inclusive com reflexos negativos para as demais marcas. Portanto, é de interesse do industrial que o produto atinja o consumidor com a maior qualidade possível, onde a manutenção de temperatura condizente e constante tem importante papel (NEVES FILHO, 1994). 43 3 CONCLUSÃO Apesar da importância da avicultura de corte brasileira, nacional e internacional, o segmento de abate e processamento de frangos é extremamente carente de informações técnicas e científicas atualizadas. Normalmente as informações disponíveis nacionalmente são geradas pela própria indústria, a maior parte delas a partir de tecnologia importada e adaptada para as nossas condições. Devemos considerar que, políticas governamentais sejam direcionadas para essas áreas, uma vez que as exigências externas de nossos “clientes potenciais”, estão cada vez mais severas com relação às normas internacionais. 44 REFERÊNCIAS 1. ABEF. Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango, 2007. Apresenta dados estatísticos sobre as exportações de carne de frangos, assim como os principais produtores mundiais. Disponível em: http://www.abef.com.br/Estatisticas/MercadoMundial/MercadoMundial.php, Acesso em 03 de janeiro 2008. 2. AVESERRA, Relatório de visita técnica, 2006. Disponível em: www2.furg.br/curso/engalimentos/petalimentos/Aveserra.pdf . Acesso em 20 de janeiro 2008. 3. BALDINI, F. Setor de corte e desossa In: Abate e Processamento de Frangos. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, p.25-21, 1994. 4. BENIBO, B.E. & FARR, A.J. The effects of feed and water withdrawal and holding shed treatments on broiler yield parameters. Poultry Science. Champaign, v.64, n.5, p. 920-24. 1985. 5. BERAQUET, N. J. Abate e evisceração. In: Abate e Processamento de Frangos. Campinas: Fundação APINCO de Ciência e Tecnologia Avícolas, p.19-21,1994. 6. BORDIM, L.C. Aspectos que influenciam na qualidade da carne. Revista Nacional da Carne. n. 295. p. 169-170, 2001. 7. BRANCO, J.A.D. Manejo de frango no período pré-abate. In: Simposio Mineiro de Avicultura, 2, 1999. BeloHorizonte. AVIMIG, p.109-119. 1999. 45 8. BRASIL. Decreto – lei nº 8911 de 24 de Janeiro de 1964 – Dispõe sobre a execução dos serviços de limpeza e desinfecção dos meios de transporte utilizados na locomoção de animais vivos. Disponível em: http:/www.agricultura.gov.br/das/dipoa/instnorm3_abate.htm. Acesso em 12 de dezembro 2007. 9. BRASIL. Instrução Normativa. nº 17, de 16 de julho de 1999. Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o abate Humanitário de animais de Açougue. Disponível em: http:/www.agricultura.gov.br/das/dipoa/instnorm3_abate.htm. Acesso em 12 de dezembro 2007. 10. BRASIL. Instrução Normativa. nº 3, de 17 de janeiro de 2000. Regulamento Técnico de Métodos de Insensibilização para o abate Humanitário de animais de Açougue. Disponível em: http:/www.agricultura.gov.br/das/dipoa/instnorm3_abate.htm. Acesso em 12 de dezembro 2007. 11. BRASIL. Portaria nº 210, de 10 de novembro de 1998. Regulamento Técnico da Inspeção Tecnológica e Higiênico-Sanitária de Carne de Aves. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/sda/dipoa/republport210.html. Acesso em 15 de dezembro 2007. 12. CLARK D. S. & LENTZ C. R. Microbiologigical Studies in Pouty Processing in Canadá. Can. Inst. Food Technol. J., 1968. 13. CONTRERAS, C. Boletim CTC – Tecnocarnes – ITAL nº 4: 02, 1991. 14. CONTRERAS, C. Efeitos do transporte no estresse e qualidade da carne de frango. Revista Nacional da Carne, São Paulo, n.279, p. 132, 2002. 15. DIPOA. Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal, 1997. Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/das/dipoa. Acesso em 27 de dezembro de 2007. 46 16. DIRETIVA 93/119/CE do Conselho, de 22 de dezembro de 1993, relativa à proteção dos animais no abate e/ou occisão. Disponível em: www.diramb.gov.pt/data/basedoc/TXT_LC_19662_1_0001.htm. Acesso em 15 de novembro 2007. 17. DUKE, G.E.; BASHA, M.; NOLL, S. 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