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Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 59 3.6 – Manancial Os principais tipos de mananciais existentes são : subterrâneo, superficial e água de chuva. Os mananciais subterrâneos são constituídos pelas nascentes, minas d’água e lençóis subterrâneos. Os lençóis subterrâneos podem freáticos ou artesianos. Nos lençóis freáticos á água se encontra livre, submetida à pressão atmosférica, onde o nível d’água do poço escavado coincide com o nível do lençól d’água. Nos lençóis artesianos ou confinados a água se encontra confinada por camadas impermeáveis onde a pressão geralmente é maior que a atmosférica. Logo, para este tipo de lençol o nível do poço se encontrará acima do nível do lençol. Os mananciais superficiais são constituídos pelos córregos, ribeirões, rios, lagos, represas e etc. A água de chuva pode ser utilizada como manancial abastecedor, sendo armazenada em cacimbas, que são reservatórios que acumulam a água de chuva captada na superfície dos telhados das residências ou a que escoa pelo terreno. A seguir tem-se uma captação típica de água de chuva. A tabela 6 a seguir apresenta uma comparação entre os diferentes tipos de manancial no que se refere aos aspectos qualitativos e quantitativos. Tabela 6 – Comparação entre os tipos de mananciais Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 60 As águas dos mananciais devem preencher requisitos mínimos de qualidade do ponto de vista físico, químico e bacteriológico, assim como no que diz respeito aos aspectos quantitativos. 3.6.1 – Escolha de um Manancial O processo de escolha de um manancial deve levar em conta além da qualidade e quantidade de água disponível, as condições de acesso, a disponibilidade de energia elétrica, as condições topográficas, a distância ao ponto de consumo entre outros. 3.7 – Captação A captação é um conjunto de estruturas e dispositivos construídos ou montados junto à um manancial, para a retirada de água destinada a um sistema de abastecimento. A escolha do local de captação deve levar em conta os seguintes critérios, de uma maneira geral : § Assegurar condições de fácil entrada de água em qualquer época do ano; § Assegurar a melhor qualidade de água do manancial, livre de possíveis fontes poluidoras; § Garantir o funcionamento e a proteção contra danos e obstruções; § Favorecer a economia das instalações; § Facilitar a operação e manutenção ao longo do tempo; § Facilitar a execução das estruturas de captação; § Proteger as instalações contra inundações; § Nível de segurança contra danos e sabotagens ao sistema. 3.7.1 – Projeto de Captação Seqüência típica de um projeto de captação : Definição do manancial. Definição do local de captação. Definição do tipo de estrutura de captação. função Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 61 3.7.2 – Captação de Águas Superficiais Os componentes principais de uma unidade de captação de águas superficiais, que podem existir ou não em função das condições da captação são : q Barragens ou vertedouros para manutenção do nível ou para regularização da vazão; q Dispositivos para impedir a entrada de materiais flutuantes ou em suspensão na água. No caso de materiais flutuantes (folha, galhos, plantas, e etc.) são empregadas grades e telas. No caso de material em suspensão (areia e etc.) são utilizadas caixas de areia ou desarenadores; q Dispositivos para controlar a entrada de água (comportas, válvulas ou registros e adufas); q Canais ou tubulações de interligação e órgãos acessórios; q Poços de sucção e casas de bombas para alojar os conjuntos elevatórios quando necessários. A Figura 10 a seguir apresenta alguns destes elementos : Figura 10 – Elementos principais de uma captação típica Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 62 Principais tipos de tomada d’agua e estruturas complementares de captação de águas superficiais q Dispositivos para manutenção de nível : barragens, vertedouros e enrocamentos, que são obras executadas em um rio ou córrego, ocupando toda a sus largura, com a finalidade de elevar o nível a montante para assegurar submersão permanente das canalizações de captação. q Dispositivos para armazenar água : barragens de regularização e açudes que armazenam água em período de estiagem, quando as vazões reduzidas do curso d’água seriam menores que a demanda do sistema abastecedor. Similares a barragem de manutenção de nível. q Dispositivos para retenção de materiais : grades (Figura 11), crivos e telas (retenção de materiais flutuantes) e caixa de areia (retenção de material em suspensão). Figura 11 – Grade de proteção do dispositivo de captação Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 63 Figuras 12 e 12.1 – Caixas de areia ou desarenadores Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 64 q Dispositivos para controlar a entrada de água : destinam-se a regular ou vedar a entrada de água para o sistema, quando se objetiva efetuar reparos ou limpezas em caixas de areia, poços de tomada, válvulas de pé ou tubulações. Figura 13 - Comporta Figura 14 - Válvula Figura 15 - Adufa Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 65 q Captações em Canais de Derivação: para grandes e médias vazões em rios de pequena variação de nível. q Captações em Barragem de Nível para pequenas e médias vazões : quando o nível mínimo ou a vazão mínima não atende a demanda. Emprego de caixa de captação ou caixa de tomada. Figura 16 - Captações em Canais de Derivação Figura 17 - Captações em barragem de nível para pequenas e médias vazões Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 66 q Captações em Barragem de Nível para grandes vazões (ex: 40 m3/s): quando o nível mínimo ou a vazão mínima não atende a demanda. q Captações em Poços ou Tubulões: captação em rios para pequenas ou médias vazões – até 500 l/s. Figura 18 - Captações em Barragem de Nível para grandes vazões Figura 19 - Captações em Poços ou Tubulões Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 67 q Captações em Lagos e Represas: emprego de torre de tomada d’água, que permite a captação em diversas profundidades, pois em lagos e represas a qualidade da água varia bastante de acordo com a profundidade. Figura 20 - Captação em lagos e represas para pequenas vazões Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 68 q Captações direta na margem: quando o nível mínimo do curso d’água é suficiente para atender a demanda. Figura 21 – Captações diretas na margem Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 69 Principais fatores a considerar em um projeto de Captação Superficial : a) Vazões e Níveis do Curso D’água O estudo de vazões e níveis de um curso d’água é realizado poe métodos hidrológicos apropriados : q Métodos baseados em dados pluviométricos (chuvas); q Métodos baseados em dados fluviométricos (métodos estatísticos que utilizam medições diretas de vazão e longosperíodos de observação; são mais precisos que os anteriores). Principais finalidades do estudo de vazões dos cursos d’água : q Determinação do tipo de captação : q Determinação dos níveis máximo e mínimo; q Dimensionamento das estruturas hidráulicas destinadas a escoar as maiores vazões (vertedores). As vazões mínimas e máximas estão sempre associadas a um período de retorno ou de recorrência (TR) de acordo com o tipo de obra a executar. Para obras de captação TR varia de 20 a 50 anos. É necessário a determinação dos níveis mínimo e máximo do curso d’água no local da tomada d’água, pois : q A boca de captação deve situar-se sempre abaixo do nível d’água mínimo; q As estruturas de superfície, motores, casas de bomba etc, devem estar sempre a uma altura segura acima do nível d’água máximo. O Tempo de Recorrência para o cálculo do nível d’água máximo segundo a NBR 12213/92 deve ser de 50 anos. Se Vazão Mínima > Demanda : Tomada Direta; Se Vazão Mínima < Demanda < Vazão Média : Barragem ou Açude de Regularização; Se Vazão Média < Demanda : Não é possível utilizar o manancial. Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 70 b) Princípios gerais para localização de tomadas d’água e cuidados a adotar q De preferência a tomada d’água deve ser implantada em trechos retilíneos dos cursos d’água (NBR 12213/92), ou quando em curva, junto a sua curvatura externa (margem côncava (margem côncava), onde as velocidades da água são maiores. Evita-se assim os bancos de areia que poderiam obstruir as entradas de água. Na margem côncava as profundidades são sempre maiores e podem oferecer melhor submersão da entrada da água. Deve-se sempre que possível evitar a captação em trecho de curva; q Nas tomadas d’água deve-se sempre procurar os angulos de 90º e 120º com o curso d’água, pois são os que carregam menos partículas para o canal (valores mais usuais); q Deve-se sempre que possível evitar margens instáveis e passíveis de erosão. Se a captação for direta deve-se sempre proteger as margens instáveis; q Sempre localizar a montante dos pontos de lançamento de esgotos e demais cargas poluidoras; q As obras de captação devem sempre ficar protegidas da ação erosiva das águas e dos efeitos decorrentes de remanso e da variação de nível do curso d’água; q A velocidade máxima de aproximação na entrada das tomadas d’água é de 0,60 m/s para reduzir entrada de material grosso em suspensão no sistema. c) Material em Suspensão A areia é o principal sólido que pode causar problema aos equipamentos e partes móveis da captação ou então causar assoreamento no sistema. Partículas de areia com diâmetro igual ou superior a 0,20 mm são consideradas prejudiciais ao sistema. Os sólidos decantáveis se mantêm em suspensão devido à agitação ou velocidade de escoamento da água. São retirados por dispositivos conhecidos como caixas de areia ou desarenadores, cujo escoamento a baixa velocidade promove a decantação de tais sólidos. Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 71 Cerca de 70 % das partículas com diâmetro igual ou superior a 0,20 mm são transportados em geral na terça parte inferior da lâmina d’água de um curso d’água, logo deve-se evitar localizar a captação nesta profundidade. Em um rio de leito arenoso cerca de 50 a 60 % das partículas tem diâmetro igual ou superior a 0,20 mm. Portanto deve-se procurar remover as partículas com diâmetro igual ou superior a 0,20 mm depois da captação e antes da entrada no sistema. As velocidades médias de sedimentação das partículas podem ser vistas na tabela 7 a seguir : Tabela 7 - Velocidades média de sedimentação de partículas de areia (peso específico = 2,65 g/cm3) Velocidade – vs (cm/s) Diâmetro (mm) 10o C 20o C 0,10 0,8 0,9 0,12 1,1 1,2 0,17 1,7 2,0 0,20 2,1 2,4 0,25 2,7 3,4 0,30 3,2 4,3 0,40 4,2 6,0 0,70 7,3 11,0 1,00 10,0 15,0 c.1) Dimensionamento de Desarenadores ou Caixa de Areia Recomendação da Norma NBR 12213/92 : q Deve existir preferencialmente 2 (dois) desarenadores dimensionados para a vazão total, considerando-se um fora de serviço; q O desarenador pode ser dispensado quando for comprovado que o transporte de sólidos sedimentáveis não é prejudicial ao sistema; q Deve ser dimensionado com velocidade crítica de sedimentação das partículas igual ou inferior a 0,021 m/s; Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 72 q Deve ser dimensionado com velocidade de escoamento longitudinal igual ou inferior a 0,30 m/s (porém maior que 0,10 m/s); q O comprimento do desarenador obtido pelos critérios estipulados deve ser multiplicado por um coeficiente não inferior a 1,50. d) Captação em Lagos e Represas A captação em lagos e represas geralmente é feita através de uma torre de tomada d’água, pois as águas represadas, propiciam o aparecimento de algas principalmente nas camadas superiores, onde a temperatura é mais elevada e a penetração dos raios solares mais intensa. Por outro lado, as camadas inferiores podem conter em determinadas épocas do ano, principalmente no verão, água com excessivo teor de matéria orgânica em decomposição, com a produção de compostos causadores de gosto e cheiro desagradáveis. Logo a captação deve apresentar níveis nas tomadas d’água devido à qualidade da água do manancial ao longo da profundidade. e) Reservatórios de Acumulação As barragens são estruturas implantadas nas calhas dos rios e que modificam o seu regime, algumas apenas no que se refere aos níveis d’água, as “barragens regularizadoras de níveis d’água”; outras alteram o regime de níveis d’água e vazões, denominadas de “barragens regularizadoras de vazões”. As barragens regularizadoras de níveis d’água correspondem aos aproveitamentos “ao fio d’água” e destinam-se a elevar os níveis de estiagem e afogar convenientemente as estruturas de captação das vazões de consumo. As barragens regularizadoras de vazões dos rios, também chamadas de Reservatórios de Acumulação tem maior altura do que as anteriores e acumulam em sua bacia hidráulica os volumes de água que vão suprir as deficiências das vazões de estiagem dos rios. Os reservatórios de acumulação podem atender a uma ou mais finalidades : abastecimento d‘água, aproveitamento hidrelétrico, irrigação, controle de enchentes, regularização de curso d’água, navegação e etc. Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 73 No caso de abastecimento de água são empregadas quando as vazões médias do curso d’água são superiores às necessidades de consumo e as vazões mínimas do curso d’água são inferiores a essas necessidades. Caso as vazões mínimas sejam superiores às vazões de consumo não haverá necessidade da construção de reservatório de acumulação. Efeitos do represamento sobre a qualidade da água Efeitos favoráveis do represamento : q Diminuição da turbidez, devido a sedimentação de matérias em suspensão; q Redução da cor, devido à ação da luz solar e à ação química da coagulação, seguida de sedimentação das partículas; q Redução dos microorganismos patogênicos devido as condições desfavoráveis à sua vida no lago. Efeitos desfavoráveis do represamento : q Decomposição da matéria orgânica depositada no fundo, diminuindo o teor de oxigênio dissolvido e elevando o teor de gás carbônico (causador da corrosão das estruturas e canalizações metálicas), que favorece a dissolução do ferro, manganês, cálcio, magnésio, elevando a dureza; q Desenvolvimento de microorganismosque podem alterar as características organolépticas da água e interferir em seu tratamento, prejudicando por exemplo a filtração. Q médio curso d’água Vazões Tempo Q curso d’água Q consumo Q mínimo Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 74 Cálculo da Capacidade Útil do Reservatório Para o cálculo da capacidade útil do reservatório de acumulação devem ser considerados como principais parâmetros : q Vazão do curso d’água; q Vazão demandada no abastecimento (geralmente consideradas constante no tempo); q Perdas (evaporação da água e infiltração nos terrenos e no maciço da barragem); q Vazão à jusante da barragem (para outras finalidades : obras de controle, regularização de níveis e etc.). Normalmente considera-se o mês como a unidade de tempo para cálculo e também um intervalo de tempo suficientemente amplo, abrangendo mais de um ciclo hidrológico. Para cálculo emprega-se normalmente o Diagrama de Rippl. O método de Rippl utiliza a curva dos deflúvios acumulados do rio na seção do barramento e a compara com a curva dos deflúvios acumulados de consumo, que mais comumente é uma reta, quando a vazão média de captação é constante. É feito então um balanço em cada instante, entre a vazão de consumo (Qc) representada pelo coeficiente angular (tg â) da reta de consumo e as vazões naturais do rio representadas pelas tangentes (tg á) aos pontos da curva de deflúvios acumulados (CDA), conforme Gráfico A. Entre 0 e 1 as tangentes à CDA, apesar de decrescente, tem inclinações superiores à da reta de consumo, isto é, as vazões do rio são maiores que as de consumo (Q > Qc), há excesso de oferta e o reservatório se replete (enche). Admita-se que em 1, instante em que as tangentes tornam-se paralelas (tg á = tg â, ou Q = Qc) o reservatório está cheio, isto é, seu nível d’água corresponde ao nível d’água normal (Nan), como indicado no Gráfico C. A partir de 1, o rio continua em regime decrescente (Q < Qc) até o ponto de inflexão (PI) do instante 2, que corresponde a um mínimo do seu regime natural. Após 2 as vazões voltam a crescer até o PI do instante 5, tornando-se maiores do que Qc a partir de 3 até 4, instante em que repõe o nível d’água normal do reservatório. Assim sendo o Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 75 reservatório se deplete (esvazia) de 1 até 3 e se reenche ou replete de 3 até 4 (Gráfico B). O tempo decorrido de 1 a 4 configura um “período de operação” do reservatório. Dentro de cada período de operação, definido como acima, pode-se determinar em qualquer instante o volume disponível no reservatório e a parcela que está faltando em relação ao volume correspondente ao nível d’água normal, ou volume útil. Considere no Gráfico D um instante qualquer t, durante o período de operação do reservatório. De 1 a t o rio produz o deflúvio dado pela ordenada t t’, e o deflúvio consumido corresponde à ordenada t t”. Se em 1 o reservatório está cheio (Nan), o volume faltando na bacia hidráulica no instante t será a diferença : (t t” – t t’ = t’t”). Para o instante 3, t’t” assume o seu valor máximo (3’ 3”) e corresponde ao maior volume “em falta” no reservatório nesse período de operação. Nos pontos em que a tangente toca a CDA, como 1 e 4, segmento t’t” se anula, indicando que o reservatório está cheio. Como os períodos de operação são isolados e independentes uns dos outros, escolhe-se entre os definidos no tempo total reproduzido na CDA, aquele que corresponda ao maior dos máximos volumes em falta, cujo valor será o próprio “volume útil” do reservatório. Atendida essa situação mais desfavorável, todos os outros períodos de operação estão cobertos pela capacidade do reservatório. No Gráfico B esse maior valor correspondente ao 1º período de operação é igual à diferença de ordenadas entre as tangentes paralelas a Qc nos instantes 1 e 3, que caracteriza o segmento 3’3” indicado no Gráfico D. Figura 22 - Dimensionamento e Operação de Reservatório de Estiagem – Gráfico D Unidade II – Abastecimento de Água _____________________________________________________________________________________ 76 Gráfico A - Hidrógrafa Gráfico B – Curva de Deflúvios Acumulados – Diagrama de Rippl Gráfico C – Curva de Operação do reservatório Gráfico D – Período de Operação de um Reservatório Figura 22 – Dimensionamento e Operação de Reservatório de Estiagem
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