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1 - Rodrigues. O que sao RI

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Prévia do material em texto

' .r
•
'
Gilberto Marcos Anfonio Rodngues
•LAÇO ES
INTERNACIONAIS
: Pasír. •{•'
/^j"*"' Copias
L ü
*m*m
INTRODUÇÃO
"Ato funda da China axisle um mandarim mais rico que todos
os reis quo a fábula ou a história cantam. Dela nada conheces,
nem o nome nem o semblante (...) Para que herdes os- seus ca
bedais inundáveis basta que loques essa campainha, posta a teu
lado, sobre um livro. Ele soltará apenas um suspiro, nesses con
fins da Mongólia. Scrã então um cadáver; e tu verás a teus pés
mais ouro do que pode sonhara ambição de um avaro. Tu quo
me lês e és um homem mortal, tocarús tu a campainha?"
EÇA DE QUEIROZ,
em O mandarim
Você, com certeza, vê televisão, ouve rádio ou lê jornais
e revistas. Então, já deve ter percebido que em todos es
ses meios de comunicação há sempre um espaça reserva
do às notícias Internacionais.
Quais são os fatos do mundo? Conflitos armados, mani
festações pacíficas, uma nova descoberta da ciência, encon
tros de chefes de Estado e de governo, desintegração ali,
integração acolá... Será que existe alguma área do conheci-
M
0>
^
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
manto que se propõe a explicar as relações entre os
acontecimentos que fazem o dia-a-dia de nosso planeta?
A disciplina relações internacionais é uma tentativa nes
se sentido. Seu estudo e sua prática podem dar boas pis
tas para compreender e atuar nas relações que ultrapas
sam as fronteiras dos países.
De que trata essa disciplina
A partir de meados da década de 1980, começamos a
testemunhar a mais importante transformação do sistema
internacional desde o término da Segunda Guerra Mundial,
em 1945: o fim da Guerra Fria.
Foram-quarenta-anos-de-sistemático-confronto-ideológi=-
co, de um contínuo estado de tensão entre os Estados Uni
dos (EUA) e a ex-URSS (União Soviética) que, apesar de
não ter se convertido em guerra frontal e direta (por isso
era chamada de "fria"), fomentou a construção de arsenais
nucleares capazes de destruir a Terra inúmeras vezesl Du
ranteJodos_esses anos, a Guerra Fria foi o principal tema
das relaçõeslmlIfTTaclanalS.
Há fenômenos importantíssimos do meio internacional
que passaram a merecer maior atenção da comunidade in
ternacional depois1 do festejado fim da Guerra Fria. Cito al
guns deles: as migrações internacionais (ex., da Europa do
Leste em direção ao Ocidente); a criação, o uso a a trans
ferência de novas tecnologias (ex., no campo da Informáti
ca); a formação de megablocos econômicos (ex., a União
Européia, o MERCOSUL) em meio à globalização da eco
nomia mundial; a expansão da democracia e dos direitos
humanos como valores universais (ex., o fim das ditaduras
O QUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
militares na América Latina); os temas ecológicos (ex.,
biodiversidade, camada de ozônio e efeito estufa) e os
culturais (ex., o conflito entre o Islão e o Ocidente laico e
cristão). Ao abarcar temas tão diversos e revelando Jer_na-
tureza multidisclplinar, fruto das contribuições que reçefee
d_a ciência política, "do direito]...da^ekongmjaj .ija_gej3gr_afja,
da história e da sociologia, a disciplina relações internacio
nais vem sendo estudada de diferentes ângulos.
E, desde" o Início dos anos 50, com o incremento dos
estudos internacionais no campo acadêmico, começaram a
ganhar corpo três grandes visões interpretativas das rela
ções internacionais, também conhecidas como paradigmas.
Por Isso, não há uma concepção única e imparcial do que
vêm a ser relações internacionais. Cada conjunto de teorias
que compõem um paradigma oferece uma yaloraçáo distin
ta dos fatores internacionais e enseja sua própria Interpre
tação das relações internacionais^
Mas deixemos o aperitivo de lado. Nas páginas que se
seguem, começo tratando da salada terminológlca, ao falar
sobre a origem e o porquê da expressão "relações interna
cionais". Em seguida, entro a servir uma entrada: as visões
interpretativas ou paradigmas das relações internacionais.
O prato forte fica por conta dos grandes temas internacio
nais e da possibilidade de formulação de uma agenda mun
dial. Para encerrar, a sobremesa e o cafezinho ensejarão
um bate-papo sobre a inserção do Brasil no cenário inter
nacional.
+ m*m
*m*m
REVIRANDO A SALADA
TERMINOLÓGICA
Que significa o adjetivo "internacional"? Ao pé da letra é
fácil traduzi-lo por "que se realiza entre nações". Contudo,
a disciplina relações internacionais trata apenas das rela
ções Bntre nações? Já veremos que não. Para entender o
porquê dessa denominação é necessário, pois, vasculhar
um pouco da história.
^£> termo 'Internacional'', foi. usado, pela primeira vez. no
campo do direito pelo jurista e filósofo inglês Jeremias Ben-
thàrti, erh sua obra introdução, aos princípios de moral e
legislação, publicada em 17B9 _.
"" Beníham achou melhor substituir a expressão "direito
das gentes" (Law of Natíons), que era a mais usual até
então, por "direito internacional" [International Law). O im
pacto da obra do autor aliado, à influência da Inglaterra,
como potência global da época, ajudaram a disseminar e
assentar o uso da expressão.
Algo importante a considerar sobre a opção terminológi-
ca "Internacional" é a circunstância de ela ter sido cunhada
O 0UE SÃO RELAÇÕES internacionais II
sob o véu da cultura européia ocidental. Os Estados que
foram sendo formados no continent.e_eurQp_e.u._a..p.art)r da
BaixIFÍcfãdir Média^ coincidiam, de maneira geral, com ps
limites nacionais. Quando Bentham adotou sua nova ex
pressão, já havia portanto uma correspondência entre as
nações e a formação dos Estados.
De fato, muitos dos Estados que ganharam contorno
nos mapas da época eram formados somente por uma na
ção. Com algumas exceções (a Alemanha, por exemplo),
os Estados eram nacionais, ou seja, nação = Estado. Com
o tempo, do campo propriamente jurídico a expressão sal
tou para o campo das demais ciências sociais, e as rela
ções entre os Estados passaram a ser denominadas "rela
ções internacionais".
Uma herança viva do processo histórico quo confundiu
Estado com nação manifesta-se ainda hoje na maioria dos
países ocidentais. Trata-se do vínculo que qualquer pessoa
adquire com seu nascimento, a nacionalidade.^A rigor, o
vínculo é com o Estado e não com a nação. Na Alemanha,
"cuja tradição fez distinguir entre nação e Estado, o vínculo
da pessoa com aquele país não se chama nacionalidade e
sim "estatalidade" [Staatsangchõrigkeií).
Ao guardar essa identificação quase absoluta com as
relações entre os Estados, a expressão "relações internacio
nais" chegou a ser posta em xeque por alguns acadêmicos,
dentre eles Spykman, que propôs a denominação "relações
interestatais" (Interestate Relations).
Não obstante, à revelia dessa e de outras tentativas de
dar ares de fidelidade à expressão, acabou prevalecendo
"relações internacionais" para denominar as relações entre
os Estados formados por uma ou mais nações.
^
r <ÇO
12 GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
0Q ~
\l Como se vê, há uma dificuldade terminoiógica, difícil de
O ser superada, em relação à expressão "internacional". Além
de significar as relações entre os Estados, considerados os
principais atores internacionais, ela também refere-se a ou
tros atores que participam ativamente da vida internacional.
São eles: as qrganjzaeões„jnternaclona;s. as empresas
?u^nac'onãÍ2i-«M^J?.l[E52!ã?5Sea não-govèrnamenTais(OTÍGsj, as Igrajas^ os niwmiet^s^pplf^cps e sindicais etc.
" Por"outro"lado, é necessário dizer que no país onde se
dá a maior produção intelectual e editorial do planeta - os
EUA - as relações internacionais assumem outras denomi
nações, tais como política internacional (international poli-
tics) ou política mundial (world politics). Isto se deve à rela
ção "incestuosa" que os estudos internacionais mantêm
¥4*
•è.
com aTciêncía política naquele país.
Vale a pena lembrar a observação que faz o professor
francês Mareei Merle em seu Sociologia des relations inter-
nationales (Sociologia das relações internacionais). Ele diz
que as relações internacionais padecem do fato de desig
nar ao mesmo tempo um campo de investigaçãoe a disci
plina que serve para estudá-lo.
Para ilustrar a explicação de Merle, façamos a seguinte
comparação. Se indagássemos "Qual o objeto de estudo do
direito?", esperaríamos receber algo assim como resposta:
"As leis, os costumes, os princípios gerais e as decisões
dos tribunais que constituem um dado ordenamento jurídi
co". Mas, se formulássemos a mesma pergunta com
respeito às relações internacionais - "Qual o objeto de es
tudo das relações internacionais?" -, poderíamos obter
como resposta: "As relações Internacionais".
Já deu para perceber que toda essa salada terminoiógi
ca pode complicar um pouco a vida dos que se dedicam à
O QUE SAO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
pesquisa ou dos que têm mera curiosidade em assuntos
internacionais. Some-se a isso a riqueza de contribuições
oriundas das diversas ciências humanas, para verificar que
a produção intelectual das relações internacionais padece
de uma ^acentuada dispersão. Não é à toa que os interna-
cionalistalTtêm de se dispor a buscar, continuamente, boas-
doses de ecletismo para poder estudar os problemas mun
diais.
Ator, cenário, papel: por que essa linguageiu "teatral"?.
Em qualquer livro ou artigo de revista sobre relações
internacionais, fatalmente se encontrarão os termos "ator",
—cenário-e "papel—a-desfilar-pelo-textoHstoporquerdada-a
influência que os teóricos norte-americanas exercem sobre
os estudo das relações internacionais, a maioria dos auto
res acostumou-se a tomar emprestados os jargões termj-
nológicos da ciência política para usá-los nas investigações
"e-anállses sobre relações internacionais.
Assim, ator internacional-é o agente que participa das
relações internacionais. Pode ser um Estado, uma organi
zação internacional, uma empresa transnacional, uma orga
nização não-governamental etc.
Cenário•• internacional é o local, o espaço geográfico
onde se dão as relações internacionais produzidas pela
participação dos atores internacionais. Pode ser também o
desenho de uma dada situação internacional no espaço e
no tempo.
papel é- a suposta função que um determinado ator
internacional exerce no cenário internacional. Trata-se de
uma "suposta" função, pois cada internacionalista (depen-
•#•
14 GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
dendo de sua opção teórico-metodológica) pode valorar dis
tintamente o papel dos atores Internacionais, dando-lhes
menor ou maior importância.
Os juristas mantêm o seu próprio jargão: no campo do
direito internacional usa-se o termo [sujéitò:;{úe direitos e ou
de obrigações), em vez de ator, para designar os entes (só
são reconhecidos como tais os Estados e as organizações
internacionais) que participam das relações internacionais.
No decorrer do livro, usarei essas expressões com a
maior tranqüilidade, pois ficará claro que não tenho a inten
ção de encenar uma peça de teatro. Nem pregar peça em
ninguém...
&
-Relações-ifiter-naGÍ0nais-e-relações-exter;ioEes-
Já que estou tratando de problemas terminológicos, vou
terminar este capítulo procurando mostrar a diferença entre
relações internacionais e relações exteriores, expressões
que freqüentemente se confundem uma com a outra.
Quando o assunto é relações internacionais o sentido é
amplo; está-se falando sobre as relações entre os diversos
atores internacionais. Tal não Impede que se possa falar
sobre as relações internacionais de um país no mundo. É
lícito falar-se, por exemplo, sobre as relações internacionais
do Brasil. Al o que se pretende saber é a posição do Brasil
no cenário internacional, seja regional, seja mundial, e
qualificar ou quantificar seus objetivos, sua importância,
seu peso cultural,-econômico, político etc.
A expressão "relações exteriores" tem um sentido mais
estrito, üemprè se Tratará das relações de um Estado de
terminado com "Os õUtr05~E5T^tysTl:,üTje^5e-fãtar, poréxem-~
1
O QUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
pio, sobre as relações exteriores do Brasil com a Argentina,
ou com a União Européia (UE).
A política exterior de um Fstado ó a sustância, a es
sência de suas relações exteriores. Ela é da competência
dq. Ç^ãri^^SÍS^Jtel^i^^^^^Ç atuar em. alguns ca
sos, como ratificação de traiados ou autorização para parti-'
cipar.em conflitos armados). '
Nos cursos de Relações Internacionais, de Política
Internacional ou de Preparação à CarrBira Diplomática, o
estudo da política externa de um país ajuda a entender
como e por que ele se relaciona com seus pares, na socie
dade internacional.
A política exterior é formulada e conduzida por um ór
gão específico do Estado, o qual normalmente leva o nome
de Ministério dã^Relãçõe^EXtêTlõTêã-(fTo~S~E5ta"ÜoTrUrfldü5~
é o State Depaiimanl); pode também ser conhecido pelo
espaço físico que o abriga. Por exemplo, na Grã-Bretanha
é o Foreign Office, e na França é o Quai d'Orsay.
No Brasil, é o Ministério das Relações Exteriores, tam
bém conhecido pelo nome de sua antiga sede no Rio de
Janeiro e atual sede em Brasília - o Itamaraty -, o órgão
político-administrativo encarregado de auxiliar o presidente
da República na formulação da política exterior, assegurar
sua execução e manter relações com governos estrangei
ros, organismos e organizações internacionais. 0_miDJstio
das Relações Exteriores é, abajxo do presidente, a autori
dade máxima na condução,dos assuntos externos, do país.
E são os dipJojT^ajasjaje^jierrirojJq^. seryiçp^pjj |^jçptifed_e.r.al,
respondem por. esse Importante trabalho.
^Apesar dessas diferenças, existe um nexo entre as rela
ções exteriores""Bos Estados, traduzidas _em sua atívidads_
diplomática, e as relações internacionais. Na medida em
<o
fy
o
ON
*
*.
lü GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
que os Estados são os principais atores ou sujeitos das
relações internacionais, ao executar sua política exterior,
cada Estado contribui para configurar determinados cená
rios internacionais.
;$C Os.Estados que detêrrt a maior, cota de poder na socie
dade internacional são os qüe em última instância definem
a criação e a execução das regras (políticas, econômicas,
jurídicas etc.) de funcionamento do sistema internacional
(os chamados Estados hegemônicos, como a Inglaterra, no
século XVIII e parte do século XIX, e os EUA, no século
XX). Eles têm a possibilidade de influir muito mais nas rela
ções internacionais, a partir de suas respectivas políticas
exteriores.
Assim, os conflitos ou convergências entre as diversas
políticas exteriores dos Estados são parte da convivência
Internacional e alimentam os distintos caldos de cultura das
relações internacionais.
-*&<$&>
DE ENTRADA: PARADIGMAS DAS
RELAÇÕES INTERNACIONAIS •
Paradioma? Que é isso? Já dei uma dica do que vem a
ser paradigma lá na Introdução, mas, em se tratando de
um termo pouco usual em nosso cotidiano, e ao mesmo
tempo palavra-chave neste capítulo, é Importante esmiuçar
um pouco mais o seu significado.
Nas páginas do Novo Dicionário Aurélio pode-se ler que
paradigma é "modelo, padrão". Em espanhol, o Diccionario
de Ia Real Academia Espanola acusa o significado de
"ejemplo". E em inglês, o Oxford Engllsh Dictionary apre
senta a seguinte definição: "a pattern. exemplar, example".
Esse é o sentido cru da palavra. Na medida em que é tem
perado pelos internacionalistas ele ganha, como seria de
esperar, um sabor próprio, peculiar.
Foi Thomas S. Kuhn quem jnaugurou_,g..uso da.expres
são ''paradigma" no estudo dos feiiômengs.científicos.-a
partir de sua obra A estrutura das revoluções_LçjgnJffísüS
(1962). Ainda que Internacionalistas, como Mareei Merle,
consirJeTem tal expressão Imprecisa, o termo já faz parte
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
do jargão das ciências sociais, inclusive das relações inter
nacionais.
Tomemos a definição que o professor John Vásquez bs-
* tabalece em sua obra The power of power politics. A criti
que. (O poder das políticas de poder. Uma crítica), de
]5,..-] 1983. Ele diz que paradigmas são "as suposições funrJar
-|aC!' mentais que os especialistas fazem sobre o mundo que es-
A ' tão estudando", Segundo Vásquez, as tais suposições fun-
jfWu (lamentais mostram aoespecialista "o que é conhecida so-
»j" bre esse mundo, o que ó rlfismnher.ldn. mmo gfl deve en-
." ,.,,-yi xerpar esse mundo se se quer conhecer_g desconhecido e,
'finalmente, o que merece ser conhecido".
/.ia s*'Ora,- um paradigma das relações Internacionais é, en-
-"^Ttâpj uma visão, uma interpretação, umá perspectiva dos
í^^sfenômenos internacionais ou mundiais, amparada em'algum
,£$P: 7/rnétòdó, cuja pretensão é explicar e dar sentido para os
fatos que estão se desenrolando no cenário internacional.
Um paradigma seria uma maneira de organizar a realidade. ._
*~talcomo_a define o ItaTianísiTmo Umberto Eco.
Quais são os paradigmas das relações internacionais? A
maioria dos internacionalistas reconhece a existência de
três paradigmas: o realista (clássico), o da dependência
(estruturallsta) e o da interdependência (transnaclonal ou
da sociedade global). Incluímos um quarto, o paradigma da
paz, que parece estar se firmando. A seguir, e sem mais
delongas, eles passam a ser servidos, à moda brasileira.
v^^Oparádigma realista
Na teoria das relações Internacionais, o realismo político
é a mais antiga e a mais influente entre as concepções
O QUE SAO nHLAÇÚES INTERNACIONAIS
sobre, os fenômenos internacionais, Também é chamado de
paradigma tradicional ou clássico. Seus antecedentes re
montam à Grécia Antiga. No entanto, foi durante o período
de formação dos Estados nacionais europeus que dois
pensadores modernos, Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes,
inspiraram a geração do realismo político, nos moldes em
que ele veio a desenvolver-se.
Maquiavel, em O Príncipe (1532), obra que ainda hnje é
tida como leitura obrigatória para quem ingressa na política
(ou quer entendê-la), escreveu urna espécie de manual,
onde dá conselhos ao Príncipe, especialmente àquele que
se Inicia na arte de governar. Para o escritor florentlno, que
havia tido ampla experiência como diplomata e consultor
político e militar do governo de Florença, o governante
deve agir segundo algumas regras da natureza humana,
regras que Maquiavel pensava haver aprendido com sua V
vivência.
Um de seus conselhos mais famosos - cuja aplicação
prática pode ser encontrada em incontáveis episódios da
história das relações internacionais - é o que diz: "... na
conduta dos homens, especialmente dos príncipes, contra
a qual não há recurso, os fins justificam os meios. Portan
to, se um príncipe pretende conquistar e manter um Esta
do, os meios que empregue serão sempre tidos como hon
rosos e elogiados por todos".
Essa máxima maquiavélica é.o substrato de uma das
características do paradigma realista, aquela que separa a
conduta, d.d Estado (dè seus governantes) de toda a qual
quer moral, seja ela interna ou internacional. O papa do
realismo do pós-guerra, Hans Morgenthau, explorou com
profundidade essa questão em suas obras, cujo teor vere-_
mos mais adiante.
0
&/
té,
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
Enquanto Maquiavel estava preocupado em-dar conse
lhos a governantes, Thomas Hobbes, em seu Leviatâ
(1651), estava mais interessado em explicar o funciona
mento do sistema político. Por isso, dentro da concepção
realista das relações internacionais, sua obra influenciou
multo os pensadores que o sucederam. Que dizia Hobbes?
A base do pensamento hobbesiano é que o ser humano
vive num estado de natureza, onde não há regras, nem
leis, nem igualdade nem justiça Imparcial. É o famoso
"cada um por si e Deus por todos", o império da força bru
ta As reflexões de Hobbes serviram como uma luva para
os realistas sustentarem suas idéias acerca do funciona
mento das relações Internacionais. Somente os mais fortes
teriam mais possibilidades de sobrevivência num mundo
anárquico por-natureza^Q-homem-é lobo para-outro ho-
mem" é a conhecida frase que resume o pensamento de
Hobbes sobre as relações sociais.
Os historiadores das relações internacionais fixam a^Paz
de Vestfália, em 1648, que estabeleceu o Sistema Europeu
cie Estados e criou um equilíbrio de poder entre as potências
da época, como o ponto de partida das relações interna
cionais modernas segundo as pautas do realismo político.
Contudo, tais antecedentes se mesclam com o estudo da
ciência política. Somente no século XX, a disciplina rela
ções internacionais deu seus primeiros passos, com o lan
çamento de obras marcantes sobre os fenômenos interna
cionais. Nessa perspectiva, é interessante notar que o rea-
lismo político irá apresentar-se com sua roupagem interna
cional como reação ao período oenommaoo idealista das
relaço^snnternaciQDais^-
Depois da Primeira Guerra, nos idos da década de
1920, o mundo vivia um período rico em avanços tecnoló
O QUE SAO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
gicos e sociais. Havia, por um lado, um enorme furor com
a Revolução Bolchevique na Rússia, em 1917; por outro, o
fim da Primeira Guerra Mundial e a assinatura do Tratado
de Versalhes, em 1919, que criou a primeira Organização
Intergovernamental do planeta, a Orgapi-/açã" Internacional
ydoJTrahalhn (OIT), a estabeleceu a Sociedade das Nações,
que tinha o apoio do presidente Wilson, dos EUA, a fim de
reunir as nações "civilizadas" para cuidar de assuntos de
interesse mundial etc.
Esse período ficou conhecido como idealista exatamen
te porque albergou o surgimento de uma série de iniciativas
inspiradas em princípios éticos e morais que, transfor
mados em normas jurídicas, serviriam como vetores das
relações internacionais. As práticas tradicionais a conserva-
doras de fazer política internacional foram duramente criti
cadas, como por exemplo a diplomacia de bastidores que
negociava alianças militares secretas. Por outro lado, a pu
blicidade dos tratados internacionais passou a estabelecer,
juntamente com o aprimoramento de regras de diplomacia
multilateral, uma nova maneira de perceber as relações
internacionais - mais aberta e democrática. Com tantos
ventos soprando a favor de mudanças não foi à toa que
durante esse período nasceram as primeiras cátedrasde
relações internacionais, errMJrTív^rsIa^e^^ilr^rTTcãsl
„ Considerado um precursor na matéria, o historiadorjib-
g|ês ;Efj^ar^H-;.Cãrr/,realizou um estudo jnotável. sphré, n
Jp_e^jodo~rü(^iraia que vicejou "após" ò termino7da Primeira
Gu;er)a^unaiai."t>ua avájiáção sobre a inadequação do idea-
lísmo para tratar com os fenômenos internacionais da épo
ca confirmou-se pelas dificuldades que foram comprome
tendo a paz mundial, tal como a negativa do Senado norte-
americano em ratificar a adesão dos EUA à Carta que insti-
nie.
GILREnTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
tuíra a Sociedade das Nações, fato que pôs a pique a
existência da organização. O início da Segunda Queira—
Mundial marcou;o fim do período idealista,jta.célebre obra__
de Carr The twêntyyear's crisis (1919-1939) (Vinte anos de
crise: 19l9-1939]Jlrjçoij_as_bas"ês paraasjnterpretações
realistas das relações internacionais contempof5nêas7
O realisrTÍõTnsere-se no mundo do "serrãTrTbuscar na
análise histórica os argumentos para sustentar suas convic
ções; em contrapartida, o idealismo roalça o mundo do "de
ver, ser", aquele que pode ser instaurado pela racionalidade
do ser humano. Os realistas avocam-se o conhecimento e
a visão fidedigna da realidade - do jeito que o mundo é, e
não como ele poderia ou deveria ser. Por Isso desenvolve
ram uma visão pragmática e pessimista da realidade, que
~exclürã~põssi5iIÍdade~de~condutas altruístas-dos-atores-in-—
ternaclonals.
Com o fim da Segunda Guerra Mundial, o paradigma
realista era o único que havia sobrado em meio aos es
combros deixados pela guerra. E foi em 1948, no alvorecer
da Guerra Fria, que Hàns.MõfgèhthaU: publicou o livro que
viria a converter-se num clássico do estudo das relações
internacionais: Po////cs among nations. The struggle of po
wer and peace (Política entre as nações. A luta pelo poder
e pela paz). De fato, esse livro tornou-se uma espécie de
bíblia, de leitura obrigatória para acadêmicos e para funcio
nários de governo.
Acadêmico judeu-alernão, foragido das garras do nazis
mo, depois de haver transitado por algunspaíses euro
peus, Morgenthau estabeleceu-se definitivamente nos EUA,
onde encontrou o respaldo necessário para o amadure
cimento de suas idéias sobre a política internacional. Mas
foi em seu berço de adolescência e de juventude, a contur-
O Q'JS SAO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
0
bada e fascinante Alemanha da República de Weimar
(1919-1933), que ele identificou a fonte de sua principal
tese: a da importância do poder nas relações internacio
nais.
Chamado de "o novo Maquiavel" por seus críticos, Mor
genthau consolidou nos EUA a teoria do realismo político,
cujo perfil.ficou ontologlcamente estabelecido, logo no início
de sua obra .Política entre as nações, sob o título: "Os seis .,
princípios dò realismo político'1. _
Vamos a eles. O primeiro princípio diz: "0 realismo poli- /
tico sustenta que a política, tal como a sociedade em geral,
é;,'gÓvérnada por leis objetivas que lançam raízes na natu
reza riumanan. Essas "leis objetivas" seriam características •
Inerentes ao ser humano, comparávois às que regem a
conduta dos animais —a luta pela sobrevivência - e qUô sé
refletiriam na conduta dos Estados.
O segundo princípio estabelece que "o principal indica
dor que ajuda o realismo político a encontrar o seu cami
nho em meio à paisagem da política internacional é o con
ceito de interesse definido em termos dP podacSr-Essa é
uma das idéias fundamentais do paradigma realista. Todo e
qualqueMnteresse - p^Jítico^econômiç^J^uJtujaiT.etc.,^_dps
atores_^internacionais deveria_se.r,traduzido,eirj...s.ua„prele,n-
sãõjde^lMnçar^ais^ .si,
O terceiro princípio complementa o segundo: "O realis-
nhp; considerar;que seu çgncelto-chave de Interesse definido
como; poder é uma categoria objetiva corri vàlidàde^únivér-
saj".: Ou seja, países ideologicamente distintos, fossem eles
capitalistas ou comunistas, estariam regidos pelo mesmo
interesse de obter ou Rianter seu poder sobre os demais.
O quarto princípio reza que "o rgalismo_5ustenta que os
princípios morais universais não podem ser aplicados as
©-
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(W o
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Qo o c^-
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k0&qOo^P
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*.
0
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
ações^dos Estados a partir .de.; sua formulação universal
abstraía,' mas devem' ser filtrados: com observância das cir
cunstâncias concretas de tempo e lugar". Com isso, Mor-
.genthau retomava a idéia maquiavélica de que os fins justi
ficam os meios, pois afirma não haver regras morais uni
versais aplicáveis a todas as situações.
Q_gulnto princípio diz que "o; realismo político nega-se n
identificar as aspirações morais de uma haçãcTconcreta
com leis'morais qdó governam 0 universo". Seguindo ã~ló-
gica do principio anterior, Morgenthau nao aceita qua~~os
atores internacionais possam ser submetidos a qualquer
sistema normativo, seja ele moral ou jurídico, consjderando
que o sistema internacional é absojjjíamente^anárquico e
.desprõvido-de_qualquer regulação-supranacional
O sexto e último princípio afirma que "o realismo político
defende sua autonomia da esfera política". Ele consagra a
idéia da separação entre a política interna e a política ex
terna do Estado. Dentro do Estado deve existir o império
da lei, o estado de direito, que limita e autoriza as condutas
dos governantes, enquanto nas relações Internacionais o
Estado não tem de seguir preceitos ou regras preestabele-
cidas._É_aJ_mpério dos mais fortes que atuam à luz de seus
interesses.
•—^TvTorgenthau fez escola e o realismo político veio a tor
nar-se o principal paradigma das relações internacionais
nos EUA. Q_ realismo tinha o mérito de explicar as aspira
ções hegemônicas, além He justificar as inúmeras açõ~e"s~
impenalistas empreendidas pela superpotência ocidental. O
interessante da_evolução das teorias ae política interna-
~cionaj_ou de política mundial nos celeiros acadêmicos rtoT-
"te-americanos é a participação sistemática de acadêmicos!
Tia'formulação da política üxterlor norte-americana, uma
0 QUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
prática que se generalizou nas sucessivas administrações
da Casa Branca, depois da Segunda Guerra Mundial. O
próprio Morgenthau trabalhou com o governo rios EUA, no
início da Guerra Fria. E. de uma plêiade de acadêmicos
realistas que imprimiram sua marca nas administrações
norte-americanas e no próprio destino das relações interna
cionais da determinadas épocas, cabe destacar, entre ou
tros, a embaixador George Kennan e o ex-secretário de Es
tada Henry Kissinger.
Embora os EUA, por sua posição hegemônica no Oci
dente, tenham favorecido e alimentado a produção intelec
tual dos representantes do realismo, um autor francês,
gaymondi Aron.rtambém produziu um conjunto importante
de obras.realistas, das quais se destaca Paix et guerre en-
tre les natlons (Paz e guerra entre as nações), de 1962. Õ
pensamento de Raymond Aron influenciou muito as corren
tes realistas européias, e igualmente o governo da França,
do general de Gaulle, pois Aron serviu como consultor do
governo gaullista.
As principais características do paradigma realista po
dem ser sumarizadas em três aspectos fundarpentais:
' fã) Política interna e política internaãÕnáTsão considera
das duas áreas distintas e independentes entre si. O para-
"dígma realista descarta que os princípios morais (incluídos
os princípios democráticos) que norteiam a política interna
dos países democráticos possam ser aplicados às relações
internacionais. Na política internacional prevalecem as
questões de poder e de segurança, as quais, constituem a
"alta política" {high politics), em detrimento dos demais te-
mas~~ínternacionais, coma por exemplo, a economia, os
quais constituem problemas de "baixa política" (low poli
tics).
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
Como conseqüência desse quadro de anarquia perma
nente e inexorável das relações internacionais desenhado
pelos realistas,.-a maior preocupação do Estado deveria ser
com a sua segurança ou, nos termos em guTlicou conheci
da,a segurança nacional, traduzida numa entase das rela
ções diplomático-estratégícas entre os Estados. Para os
países acidentais total ou parcialmente alinhados aos EUA
durante o período da Guerra Fria, a segurança nacional
relacionava-se à contenção do expánsionismo soviético no
"plano internacional e ao combate áÕ^_movlmentos_de_
esquerda e das manifestações civis coíêtivas (como o
'sindicalismo) com inspiração sociajjsia^_
Veja-se o exemplo da América Latina. Durante o período
da Guerra Fria, muitos governos civis foram derrubados por
golpes-militares- apoiados -pelas-elites-locais e pela Agência-
de Inteligência Norte-Americana (CIA), Foi o que ocorreu
com a Guatemala (1954), com o Brasil (1964), com o Chile
(1973) etc. Tais governos autoritários assimilaram a lógica
blpolar da Guerra Fria e desenvolveram sua própria doutri
no geopolítica. Um dos principais expoentes dessa corrente
foi o general brasileiro |^|^ ^MÍ3Õ"D£3,,tBJ*SÍ[váj que ela
borou a Doutrina da Segurança Nacional, espelhada em
sua mais "conhecida obra: Geopolítica do Brasil (1967).
Em sendo os Estados soberanos e livres num mundo
anárquico, como sustenta o paradigma realista, eles não se
riam submetidos a nenhum regime de subordinação, como
ocorre no plano interno: o poder público em relação à
Constituição, por exemplo. |§!a^E^M^ÍÈI^^ijÍÍlÍ^^^í^§-
li^^lMl!^^Í^Ííã^2^K^^^^^^^^!l^»^Í^^Í"
ciohais;.:'cpérçitlyas,:.más apenas'.normas ,e-princípios,'como
q do •pacTâr'sunT-se^aqaTa J^^açtõs^^evení'''ser, cumpri
dos), para orientar e harmonizar lã conv[yêncjáJrjtèxnaciç-
O QUS SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
naL^^e^rog^Blo realffla i, baajcamgofe^Jiua-DffivalBce
ncTdJrj^oJatejjTi^^
(bj) Outra característica importante que personlfica_o_
paradlqmarealista é sua definição de ator internacional.
Para os realistas, somente os Estados sao reconhecidos
como atores internacionais. As relações internacionais se
traduziriam, assim, em relações interestatais, uma vez que
somente os Estados têm relevância no sistema interna
cional, segundo a visão realista.
No éXerçíçip de seu papel, os .Estados :sãq .considera
dos'atdies.; racionais, ou seja, eles se comportam .atenden
doàós interesses nacionais definidos em termos de poder.
Os realistas não admitem que o Estado possa desviar-se
de sua conduta lógica, levado pelas paixões de seus gover
nantes pu-porpressões de outros-atores-não-governamen--
tais. Uma negociação Internacional entre dois Estados po
deria então ser representada coma num jogo de xadrez:
cada jogador equivalente a um Estado.
Ainda com respeito ao caráter exclusivamente estatal
das relações internacionais, é de se lembrar que elas são
materializadas na configuração do direito internacionaLfitu-
blico, uma vez que somente os Estados^são reconhecidos -»J^
comõ~sU|èHub-, pui exeirrfjTõTpara negociã~r7firmar e ratificar^
tijtnrkis-iniernanTõpais, matéria regulada pela Convenção
dè Viena sobre Direitos dos Tratados, de 1969Í-.;Recente
mente; ás.-organizações intergoyernamentais^ (tais como a
^B^^^^^^âSnil^íSWf: sfa/us. de.sujeito,'mas as
empresas;:transnãcipriais} e ás '.ONGs, consideradas atores
dêspidós^dòj.èoberariia, não têm.relevância.para as rela
ções Jurídicas internacionais, ainda que tenham um poder
de fato, em alguns casos superior áo de muitos países.
Obviamente há exceções, podendo-se citar a Direito Comu-
p
m
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
nitário Europeu; que dá status de sujeito a pessoas jurídi
cas de natureza privada.
fcfr-Q poder traduzido na possibilidade rie usar a força, é
a obsessão do paradigma^realista. As relações Intemacin-
nais, em sendo essencialmente conflitivas, marcadas pelo
império da força, só podem ser vistas, interpretadas e en
tendidas como uma luta constante pelo domínio do poder,
mediante o uso da força. Dai que a paz e„a_segtjr.anc.a
internacionais só podem ser alcançadas, segundo o realls-
©9^Sf^SptC< |^|>>Bqullíbrlo de poder (balance of power)
entre' os'Estado '^.•*
.Terminada a Segunda Guerra Mundial, a repartição do
espólicTdj]s_yencidos e o estabelecimento de uma nova or-
_dem mundial foram feitos exclusivamente pelas" potências"
vencedoras. A criação do Conselho de Segurança da ONU,
sua conformação e sua sistemática refletem o novo equilí
brio de poder que se instaurava. O paradigma realista
amadureceu sob o Influxo do chamado equilíbrio bipolar do
poder internacional - EUA e aliados (economias capita
listas) vs. URSS e aliados, (economias planiflcadas).
__ No campo diplomático-estratéojco, foram criadas duas
alianças continentais, representando os dois pólos de poder
rjjuiKüaJ^riã~[rm lado, a Organização do TratadrTdo Atlãrilictr
Norte (OTAN), englobando países da Europa Ocidental e
os EUA; de outro lado, o Pacto de Varsóvia, reunindo a
então URSS e os países da Europa Oriental, que forma
vam a conhecida "Cortina de Ferro", separando o mundo
capitalista do mundo comunista, em território europeu.
O OUc SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
DopoIs""dlF~Fiãvar reinado absoluto, durante aproximada
mente trezentos anos, na década de 1960 o paradigma rea
lista r.oméçnn--e--ceuer espaço a concepções que ofereciam
outras explicações para os fenômenos internacionais. Nes
se momento surgiu o paradigma da dependência~!T\oqq
veio à tona o paradigma da interdependência, ambos anali
sados mais adiante. Durante os' anos BO, Inspirados pela """*>.
política externa do presidente Reagan, que reabilitou a poli- J
tica de terror nuclear, os autores realistas ressurgiram com /
nova vestimenta, aproveitando suas antigas características /
mas agregando outras que lhes conferiam a possibilidade (
de adaptar-se aos novos fatores das relações internacio
nais.
Essa nova configuração do paradigma realista incorpo-
rou métodos considerados "científicos" de análise, tratando
de dar mais credibilidade à visão realista das relações irTC
térnacionaTs. Seu principal representante, Kénneth Waltz;
escreveu Theory of International <£8MÍBBS-(Teona das rela- >V**
ções Internacionais), de JBfiíU. onde procurou estabelecer
uma verdadeira teoria gera) sobre a política Internacional.
Wajfe enfatizou: a; estrutura na gqaljse<do s/sre/pa irjtêr-
pàç/0na/-em/detnmenta,,do comportamento- dos-atqres, Com
isso, elevou, a, um'nível muito mais abstrato o paradigma
realjsta,tratando; de; explicar que d sístemarpossui uma -ló
gica e él preciso'entende |a para .eritã'o!eompreeri'der'as
condutas, dós atores- e bs fenômenos internacionais;
Atualmente, encontrar um realista puro, um autêntico
discípulo de Morgenthau, é algo um tanto quanto raro. A
visão neo-realista, ao incorporar novos métodos e privilegiar
a análise da estrutura do sistema internacional, abriu um
r*
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
~* íiovo leque, um novo "mercado" de especulação mais afina
ndo com o instrumental das ciências exatas. Nesse sentido,
/o neo-realismo acompanha a tendência geral das ciências( sociais em buscar nos números, nas fórmulas, nas leis na
turais o anteparo de suas formulações.
C Oparadigma da dependência \
Qüãridpjse^peosa em:-dependência, cogita-se sobre re
lações pautadas pélá desigualdade, .'em 'que há atores do
minantes:e'atores dominados,; exploradores-!é .explorados.
Voltado principalmente para as relações econômicas inter
nacionais, o dependentismo tem como eixo contraia visão
de que o sistema internacional padece de desequilíbrios;"
estes geram situações de injustiça em que a condição de
pobreza de alguns Estados e conseqüência da riqueza de
outros. Tradução: uns comem lagosta ou tilet mignon, e vi~
vem bem alimentados à custa de outros que têm menos,
ou nada têm, e estão a lutar por um pão com manteiga...
Se você suspeitou de que "ai tem dedo marxista", acer
tou. De fato, o paradigma da dependência é também co
nhecido como festruturàlista" ou nè.ornarX.|sta", exatamente
peja influência quo ds teorias. niárXístâs exerceram, príhci-
M^, •,pálrriente- ã teoria, do Imperialismo elaborada porVRõsâíLu-
xérnt)urgò-.-,e^Lenirij-fia interpretação,-dos,fenômeriós econô
micas .í níê/nâçiona\s,Ji.*
Mas, apesar do impacto que a corrente marxista causou
no mundo, especialmente depois da Revolução Bolchevi-
que, em outubro de 1917, e do surgimento de Estados co-
"1 munlstas, como a ex-URSS, China, Cuba etc, a visão mar-
I xlsta nunca foi considerada como um paradigma por si só.
O OUfi SAO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Alguns internacionalistas, como o espanhol Celestino dei
Arenal, atribuem ao caráter eminentemente ocidental da teo
ria das relações Internacionais e à hegemonia do paradig
ma realista na interpretação do conflito Leste-Oeste__essa _
não configuração do marxismo como um paradigma Inde-
pendente^.^.—
-—SérrThaver sido alçada à condição de paradigma, a cor
rente marxista proporcionou as ferramentas teóricas para
as nações que buscavam obter sua independência em rela
ção às potências hegemônicas, pelos idos dos anos 50 e
60, Muitos desses países ainda lutavam por sua inde
pendência política, durante o processo de descolonização
da África e de partes do Oriente Médio e da Ásia; outros,
já independentes no campo político, almejavam diminuir
sua fragilidade no campo econômico. Estes eram, em sua
maioria, países latino-americanos.
Corn a criação da CEPAL (Comissão Econômica para a
América Latina e Caribe), um dos organismos especializa
dos do Conselho Econômico e Social da ONU, com sede
em Santiago, no Chile, a inteleçtualidadejatino-americana
começou a produzir, a partir jte uma visão autóctone, um
conjunlõ^de teorias sobre o desenvolvimento econômico.
Desse estorço sufglu aquela que viria a ser a maior contrl-
buição do chamado Terceiro Mundo para a disciplina rela
ções Internacionais: a teoria da dependência.. . ... ^..
-Nauí' PVèbiseh, .ácdnóríiista .:argentin.0| :foi:'o :-pfIrriêíro
s,éçretarió-rj.éj;ãl. :ç|á.;C
Varias* gerações -de Intelectuais ratina-amèfíçgriqs 'Prebjsçh
desenvolveu .Uma. teofiã. alternativa, do comércio intèr.nácio-
riaTe paslçuáutilizar os lermos oèntfo,, pára designar os
países-.riços-,' e-periferia, :para referir-se aos países, pobres..
P
•*.
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
Ele achava que havia uma forte tendência de aumentar
a brecha entre o centro industrializado e a periferia subdesenvolvida nas relações econômicas internacionais. Por isso
acreditava que os países periféricos, de economia agro-
exportadora, deveriam desencadear um amplo processo de
substituição de_JmpQjlâções, como única possibilidade de
converterem-se em países industrializados.
A partir do pólo de produção e de inspiração intelectual
da CEPAL, outros economistas e pensadores de outras
áreas, interessados também na problemática do desenvol
vimento, tentaram analisar o fenômeno do subdesenvolvi
mento dos países latino-americanos, buscando conciliar,
ou mesmo ir além da visão econômica, com interpretações
e categorias sociológicas de análise.
fPésse esfdfçó.acadêmico,.que teve nos cientistas sociais
Çeís,q.. Furtadq,', Fernando Henrique Cardoso, Hélio JaguarJ-
be, Theotqni.o dos,SaritQs.e Osvaldo Sunkel alguns de seus
principaJs^;;ex'po'énte.s', nasceu nos anos 60 a teoria da de
pendência.
Em Dependência e desenvolvimento na América Latina
(1969), um dos clássicos da teoria da dependência, Fer
nando Henrique Cardoso e Enzo Faletto destacaram o con
ceito de dependência como aquele instrumento teórico que
acentua tanto os aspectos econômicos do subdesenvolvi
mento como os processos de dominação de alguns países
sobre outros e também de umas classes sobre outras, den
tro de um contexto de dependência nacionalÂ'sslmV^Q-!còpce||o de \dependcriclatratava:.de;denons-
iia: qué..a .'qqmlnáção'.exlstja;'de. fora.para.jderitro':(divisão
ínternacionai dó -'trabalho "'favorável aos '.paíscr., flesényqlyii
dqs)';q tárnbérri 'rio centro pára. dentro'{elites. íóbãjs ~ rurais
e 'urbanas»— dá:periferia aliadas aos ihtercssís do capltalis-
O QUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
mo internacional, em detrimento dos interesses verdadeirar
mente nacionais).
O reconhecimento dos atores internacionais e de seus
papéis no dependentismo é bastante distinto do realismo.
Na explicação dos fenômenos internacionais, o dependen
tismo não se atem aos papéis específicos que um ou outro
ator pode desempenhar no sistema internacional. Isso é
compreensível, porque os dependentistas estavam mais
preocupados em analisar as estruturas e a partir delas for
mular suas teses.
Para o dependentismo os Estados são atores importan
tes do sistema, mas não são os únicos. As_ organizações
internacionais (governamentais e não-governamentals), as
empresas multinacionais e os movimentos de libertação nás
cional são atores que o dependentismo não só reconhece.,
como lhes dá importância. Vejamos caso a caso.
Por que enfatizar o papel das organizações internacio
nais? Porque começava a tornar-se evidente que os países
menos desenvolvidos tinham mais possibilidades de defen
der seus interesses em. foros internacionais multilaterais do
que se tivessem de fazê-lo bilateialmente com países mais
fortes.
Por que reconhecer - e denunciar —o papel das empre
sas multinacionais? Lembremos o caso da famosa United
Fruit Company, empresa de capital norte-americang_qjê
atuava em países da América CerrlrãCe que dispunha.de
mais poder que os próprios governos das pequenas_e_fra-
géis republicas agroexportadoras daquela região. ::.Os4feori-;
qqsMdep;endéM^
m'Q .Internáçjqnaj -é né|e.:ides,eor3riram que as- multinacionais
aturavam corno braço político, de. seus -governoç-em proveito
dé: seüsf'.próprios' interesses' econômicos; -constituindo ver-
O
P
^ O
X
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
dadelròs ato/es a influirnos-destinos dos países menos de
senvolvidos.
Por que destacar os movimentos de libertação nacional?
Ora, o processo de descolonização da África e da Ásia con
frontava as metrópoles (países independentes do centro)
com as colônias (nações da periferia). Sem o reconheci
mento de tais movimentos pela comunidade internacional, a
luta pela Independência teria sido considerada ilegítima. O
papel da Assembléia Geral da ONU foi fundamental no
estabelecimento de novas regras de direito internacional,
cujo marco encontra-se na.Tj,esojU£ã^^
brò:.dê -197Òa.qué.'e.stabBlè^
AL?.!Z!S£Í0J.1â!,L-.
O direito internacional, aliás, pode ser um Importante
instrumento de defesa na visão dependentista. Na medida
Lem que o sistema internacional ganhe um crescente com
plexo de normas internacionais de validade e aplicação uni
versais, os países menos favorecidos podem valer-se de
tais regras para protestar, denunciar e impedir as ações
unilaterais de países desenvolvidos, sejam ações militares,
sejam ações de natureza econômica.
Uma terceira característica básica do dependentismo é
a sua visão pessimista quanto àjossíbilidãõe de convlvelv"
cjajial^õnjca^emreos atorcTlnternacionais. Neste para
digma prevalece a idéia de que todos~ãs~ceTrários Internacio
nais sempre implicam um jogo de soma zero, onde há
sempre um. ganhador e um perdedor. Daí que a coopera
ção entre os países ricos e pobres não passaria de um
instrumento paliativo e de legitimação do statu quo. Uma
negociação entre um país desenvolvido e outro em desen
volvimento poderia ser representada, segundo o dependen
O QUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
tismo, como sendo um jogo do xadrez em que os menos
desenvolvidos jogariam sem algumas peças Importantes.
Desde o início do jogo...
Entretanto, o reconhecimento de outros atores internacio
nais não desfigurou a importância do Estado como ator
central no paradigma dependentista. Isso se justifica na
medida biti que ele, o Estado, é visto como um Instrumen
to, um melo fundamental de que dispõem os países em
desenvolvimento para proteger e fomentar suas economias,
A_estatlzaçáo das companhias dB petróleo no México, pro-
movida pelo então presiden.tQ_Lazaro_Card.enas,, no. inicio
da Segunda Guerra Mundial, constitui um marco hjstórico
dessa competiçãõ~crescente__entre _os Estados em desen-
yõlyímen]a gás emgresas mj.il]inaclanals.
Vaie lembrar que a formação do paradigma da depen
dência revelou-se em importantes fatos que evidenciaram a
insatisfação dos países menos desenvolvidos com a desi
gualdade econômica mundial. Maí^s^y^^lgbal^l^/j^çãõ
dá Conferência das.jvjaçôes Unidas ":para: o Comércio e
Desenvolvimento (UNCTAD), èrn -1963, avivou os debates e
gerou posições de'.blõob, entre os países subdesenvolvidos,
contribuindo, ná prática, para a tomada de consciência
mundial sobre as desigualdades entre o Norte o o Sul Nos
prxmórdios dos ano? .70, a proposta de criar u,ma nova or
dem econômica Internacional representou, ó. ápice..desse
mp.vlmeritp^ países désênvójvidós opuseram-
se à esperada mudança na divisão do bolo, internacional,"
Na América Latina a principal iniciativa intergovernamen-
tal inspirada nas teorias cepalinas foi a negociação e apro
vação do Tratado de Montevidéu, em 1960, que criou a As
sociação Latino-Amerlcana de Livre Comércio (ALALC).
Este organismo tinha o objetivo de estimular o chamado
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
comercio Intra-regional entre os países latino-americanos o
que - supunha-se - poderia diminuir o nível de dependên
cia da America Latina em relação aos mercados europeu e
norte-americano.
Não deixa de ser interessante verificar uma outra face
da produção intelectual do paradigma da dependência Al
gumas reflexões sobre a dependência dos países do Sul
especialmente na América Latina, realizadas nos campos
literário e teológico, contribuem tão ou mais fortemente do
que muitos estudas acadêmicos. Por exemplo, escritores e
poetas como os uruguaios Eduardo Galeano e Mario Bene-
dettj Vêm ..produzindo importantes obras de crítica e denún
cia da exploração dos países pobres pelos ricos; no campo
da teologia, teólogos como Frei Beto. Leonardo e Clodovis
Bofr, Pedro Gasaldáliga, o-peruano GusTãvo~Gntiérréz en- "
tre outros, contribuíram na criação de uma visão terceiro-
mundista da Igreja Católica, conhecida como Teolocia da
Libertação. a
Oparadigma da inlérdepeiidchcja
- ,_(ot|_da sociedade glohnj) -*-"'
Quando o canadense Marshall McLuhan fez publicar
uma das mais polêmicas obras deste século, The médium
is the message (O meio é a mensagem), de 1967, onde cie
dizia que os meios de comunicação de massa, em especial
a televisão, transformariamo mundo em uma imensa "al
deia global", ainda não se tinha muito clara a noção da
revolução tecnológica que estava por acontecer.
A produção em escala industrial converteu a televisão
num dos mais populares bens de consumo dos últimos
O QUE SÂO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
tempos. Por conta disso, a telinha permitiu que milhões de
pessoas, famílias de todas as classes sociais, nacionalida
des e religiões passassem a ter acesso aos fatos da mun
do, recebendo em sua casa informações yisuais„,nít|dasl
colhidas in loco. NunçaV^
qeçtãçja entre sr como tem estado há pouco mais dèfdüãs
•ú!é'c$daê.7E essa tendência de diminuição das distâncias
pela tecnologia dos meios de comunicação e de transporte
não pára aí. Esfamos a presenciar a multiplicação e sofisti
cação das redes ge inlormática e de arteTatqs de_ uso_pes-
s_o_aj1 cõrnõ o computador, o fac-símile (fax), que_estã£j2jjarj-
do um mundo'nóvÓV^àrJmiravej na^ süaTápTdgz."nraUcidade
e poder de armazenamento e transmissão de conhecimento.
Nos centros acadêmicos e empresariais, verdadeiros
oráculos do mundo contemporâneo, o que mais se diz hoje
em dia é que entramos na era da globalização econômica.
to,_.?ós;ilr.ecuí:^q^
transpórfffio,:.ãv;form^
rçjtáfjiiajs^
çomp.vãiídds: ê:^òpej^"ntes •para"p-. merc.adQ^riternacional.
Cólrfísso, um simples' brlrTqüélílõTcomo um carrinho"eletrô-
nico, tem partes que poderiam ser produzidas no Brasil, ou
tras no Japão, e a montagem poderia ser feita em Hong
Kong, por exemplo. Esse mesmo brinquedo utilizaria pilhas
fabricadas no México ou nos EUA.
Diz-se que a economia internacional transnacionalizou-
se. O capital Internacional corre atrás daqueles países que
lhe oferecem melhores oportunidades de retorno do investi
mento (mão-de-obra qualificada, estabilidade econômica e
política, legislação mais favorável ao capital estrangeira
etc). Aquela velha história de que os países deveriam dedi-
GILBERTO MARCOSANTÔNIO RODRIGUES
car-se a produzir o que lhes é naturalmente mais fácil (teo
ria das vantagens comparativas, de David Ricardo), ainda
defendida por alguns economistas liberais, passou a ter ín
fima..validade... Ar.4evo\uçãp-) biojecnpl.ógica,; com. aplicações
em,,ágdçu!tüf:aí^
róu. õ .antigo^quadto de determinismo geográfico •Oòm teo-
ndjogia. de pohtá^ podése produzir quase tudõ,^em'"qual
.qúèfjúgar.'
Um cenário como esse, recheado de profundas transfor
mações comunicacionais, econômicas, culturais e tecnológi
cas, alterou radicalmente o espectro de análise. Os para
digmas clássico e da dependência, embora em diferentes
níveis, não puderam assimilar a demanda de novos fatores
Internacionais, motivo pelo qual começaram a surgir, desde
_J.ns. da década de. .1.960,.as primeiras obras .que .lançaram
as bases do paradigma da interdependência.
Mas, assirrj como-o paradigma realista, o, paradigma, da
interdependência^ lança, ,sUas, raízes' ôjrú antigas escolas de
PÇnsamerntãr que.vão.dos estóióo.s. ate |m„manuètkáqt ;Efii
sy|.,çõbfíguração .contemporânea1, ^oi em meio a um ajtibien-
l^^°ãdv m|C'° |6--'gpyer,n'amê'rilálÍ^â,rJc'êâado eacomodado na
''IcgjcáVdá: ^
americanos começaram a.perceber q.üe certos fenômenos
tóna-nüTipãradigfria.irèálistar'. j
> A hegemonia norte-americana fora seriamente questio-
r nada depois da derrota no Vietnã, em fins dos anos 60. A
primeira crise do petróleo, em 1973-74, e a decisão do en
tão presidente Nixon de romper com o sistema de Bretton
Woods, não mais permitindo a conversibilidade do ouro em
dólar americana, foram eventos que desnudaram a fragili
dade da economia ocidental. Por outro lado, o progresso
i.:..
O OUE SAO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
tecnológico, que aumentou as possibilidades e a eficiência
dos meios de comunicação e transporte, reduziu as distân
cias físicas do planeta e aumentou os intercâmbios demo
gráficos, econômicos e culturais. Diante de tais mutações,
os internacionalistas começavam a buscar fora das concep
ções realistas a explicação para os fenômenos interna
cionais que cada vez mais ganhavam espaço. ...;_. .,-*.:.
^p-aConr o lançamento da.Jóbna- Ppwpr; and iqter.dé.pendêri'ó'è.
Wórlb' pdlitics th ttãhsitionJPodete. interdependência A, p:d- \|
lítlca mundial, em. transição), em XÚ77<,%^o^m^^BühÈoê^p 7^i
Joseph 'Nyê; analisando a diminuição do poder hegemônico' \
dos EUA, transformaram-se nos principais/expoentes de '
uma.nóvá corrente de pensadores" que surgia naquele país.
Eles lançaram a pedra angular do paradigma da sociedade
global ou da Interdependência. --•-— —
Keohane e Nye, ao tratarem do conceito de Interde
pendência, dizem: "Na política mundial, interdependência
refere-se a situações caracterizadas por efeitos recíprocos
entre países ou entre atores em diferentes paises'\_Q,.p.ar.a-
digma da interdependência, ao contrário do realista, abre
as portas para os atores náo-governamentais, e reconhece.
ó~poder que as empresas multinacionais ou transnacionais
exercem sobre as relações fnternicionjiis. Os interdepen-
defTtlstas admitem qúe muitas decisões tomadas nos escri
tórios das grandes empresas transnacionais têm um peso
maior que multas daquelas tomadas nas sedes de gover
nos. O Estado-nação e seu elemento fundamental - a so
berania - perdem importância e tendem a desaparecer no
universo percebido e analisado peio paradigma interdepen-
dentista.
Outro pilar de sustentação do interdependentisrno/globa-
lismo é a realidade dos temas cuja natureza é comprovada-
%#
t^
p
IÉ.
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
mente Internacional. ;Temas; tais. como meio ambiente mi
grações, finanças Internacionais etc,envolvem atores e for
mam, cenários :que-necessariamente fogem do controle me-
suprahãCípnal;- adiriiril§tfgçãp.mundiaketcv B^tal -perspecti
va-,az^mm..ê^Jjaèejdas organiz-açõ:esSjMà5>^
gionais (,ex._j Uniag. Européia) e.rriundiaig-./á ONÜnTãôTo
menteiço.nSi.derágó"^:'-^ ' ** —-^—"-"—-
Não é difícil imaginar qual é o papel do direito interna
cional no paradigma ínterdependentista. Amultiplicidade de
atores envolvidos em torno de questões comuns exige
normatizaçao e jurisdição internacional para cuidar de for
ma imparcial dos assuntos mundiais. Poder-se-ia pensar
de imediato, na .Corte .-Internacional:de Justiça da ONu'
Com efeito, ela tem ajudado a resolver uma série de pro
blemas globais, principalmente aqueles relacionados aos
espaços .comuns, como o espaço marítimo, por exemplo
l^^3Mi&&iããli4a^decisões; Q|m^|mM^ggbãjg^^ 0gãgQ^-^u
com; o', casom^ràquá^vs^Ã^Coj\c\énjdõ^orlTaÃ^á
^^o^^ágoer^fares. éíparamilftarês .cÕnlrT^ór
rEÇfinh^ram^:a^conrpetê^
r^MtMdilig^érjnoJiaajanír :" ~ :~~.r^-vrí-r^.-,r^rrnr*-^y
O globalismõ aposta nõ direito internacional como um
instrumento importante para harmonizar as relações interna-
cionals, apesar de sua aparente fragilidade quando se trata
de .mpor a justiça face às ações realistas das potências.
O aumento do número de conferências internacionais
promovidas pela ONU está a demonstrar a necessidade de
O OUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
discutir e regular globalmente temas que afetam todo o pla
neta. O tema do meio ambiente é dos mais exemplifiçatj-
vos. Tome-se o caso da mudança climática. Se urn_rjegye,-
nõ grupa de países (ex.: os países nórdlcos) decidisse Qgp
mais permitir a emissão de COp na atmosfera dentro de
seus territórios, acaso tal decisão teria o poder de_imP£dir
que a Terra viesse a sofrer um aquecimento global no futu
ro? Infelizmente, não. Por isso foi preciso negociar e apro-
var. uma convenção internacional.sobre o assunto durante a
Rio/92, a fim de que todos os países estabelecessem uma
estratégia comum para impedir que o planeta venha a so
frer o chamada "efeito estufa", um aumento da temperatura
global devido às emissões de C02 na atmosfera, que pode
rá tanto aumentar -os atuais níveis dos oceanos (gerando
Inundações) quanta provocar a desertificação dos solos, em
diversas regiões da Terra.
A rede davínculos de interdependência entre os ateres
estatais' e os -demais atores internaçiQnajs provoca, um. au
mento na. demanda por meios riesolução pacífica de
controvérsias,. Á nfignoiàçáõ é o principal-deles. Por que
riegóõiHr? Sc um ator internacional tem um objetivo e não
pode alcançá-lo" sozinho, dependendo, pois, da atuação (ou
omissão) rio outro(s) para,obter seu dèsider^tcr das;çluas
qma: .ou haverá um ..conflito que poderá redundar.em vio
lência*^ lísq ria.fdrço, ou haverá cooperação mediante ne
gociação, em que todos se propõem a'atingir um ,ou mais
fins.'Ao evidenciar-o alto custo dos conflitos, o globalismõ
anuncia-as:.vantagens. da solidariedade e da cooperação
para todos, os atores que necessariamente convivem-num
grande!.mercado articulado, e habitam um espaço único e
indivisível:1 a biosfera.
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
Para quem se interessa pelo tema da negociação Inter-
T2f£S2 Sabfr qUe' Se9Und° ° inter^Pen5dentismo.
•S;^ - ''" t5C3nh8f?end0"SO: ? poder#'a' iri/Juência dos'ato ^.nap-goyername-itais, c jógo^reclsaría ter mais dè um
l^U!eirp:.pará,-ser compreendido: dprmbiro ifâbulelrü- o dás
^Z ^S^^^P^I^^^é oEstado'negocia'faosições
/\ C0^^-;m^-, ° 'sÇ9undo,,o .das-neqooiacõés intranà'^
>p.^^#^;i°^.^6ínb-"e96gia com -os- atores rfomêsficos
oinoicHíos..bLrü=rae,a etp). Num mundo'globalizado a ner-
mariente interação, entre. o. primeiro e ô segurido tabuleiros1
um exercendo.influência sobro o outro, é inevitável.
Resumindo, o paradigma da interdependência tem as
seguintes características:
^L?nOEcffaí!0"naÇ,à0 nã° é ° Único ator 'ntornacfonal dasrelações internacionais. As organizações governamentais
mundiais e regionais, bem como as empresas íSSSS
nais, as ONGs, as Igrejas e até mesmo os-indivíduos são
mSTí «UB .,0flüm PapéíS às V62es mais importantes oumais Influentes do que os exercidos pelos Estados Essa é
uma das diferenças marcantes entre o paradigma realista e
o inlordependentista. B
.. ^s-§mpresas transnacionais têm reconhecido o seu fan-
tast.co poder internacional eJiãjLjWsia^m^^
^proja^omstas das relações e^JôSa^^
ONGs se transnaconallzam e ganham destaque por seu
poder de pressão e de mobilização da opinião pública "
^gsa^fuj-ajfdade de atores Internacionais tesCB/ítralfea
as tradic.onals^üIrBãird^^^^
O OUE SAO RELAÇÕES INTERNAÜIONAIS
rin-o tanto geográfica quanto tematicamente. Tais instâncias
de poder encontram-se vinculadas por emaranhados mais
ou menos complexos de redes de interdependência, cuja
natureza é cada vez mais global e menos estatal ou regio
nal?;(fâV-Ás questões de estratégia política/militar perdem Impor
tância dentro da lógica globalista. São os temas econumi-
cos, amhiantais. demográficos^ |odplsi.afqueje8_oue crfem
rei^^jnjj^
tlTem~osJ)r^cJr^^
íãções Internáclonajs. Conceitos lapidares do realismo,
comaTTnieFèsse' nacional" e "soberania do Estado", que dis-
tingulam e separavam rigidamente a esfera nacional da in
ternacional, passam a ser gradativamente relativizados pela
ascendência de interesses globais que vinculam e amarram
todos os atores em torno dos mesmos tomas. Nessa esteira,
entram as organizações internacionais regionais e mundiais
como possíveis depositárias de governos supranacionais
sobre temas de natureza global. O FMI, no campo financei
ro, e a União Européia, no campo político-econômico, cons
tituem dois exemplos atuais de Instâncias supranacionais,
uma de política financeira mundial e a outra de política re
gional de Integração.
Um paradigma da paz?
Ao contrário doTTopícóT"ãnteriores, este.constitui uma
indagação. Por quê? Os estudos e as pesquisas sobre o
fenômeno da paz são recentes nas relações Internacionais
e ainda não são aceitos pela maioria dos internacionalistas
como formadores de um paradigma. Não obstante, é cada
*.
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
dia maior onumero de Instituições acadêmicas que promo
vem estudos.- e adotam disciplinas voltadas para o estudo
do fenômeno.da paz no mundo
na^^ÊMÊFWl^^ norue9uês, éum pioneiroiu!; ma eria. Fumador e diretor cg InternàliõnalPe^Rê-sjerch: IristilutewiPRU,: £ Osio (Norufi ,<^M$.
tMm$.m$°&\do "P*'. ení: 1964; fincando SsTteàes
ao.paradlgma.-dà-.^az?
bgpf&$&m?m..'í^í^fe ;s;g;...fica a InjeqráoãQ da
s^^pã3SA\wS337ptt, aJffiTSSKScepçao. so deve ser concebida como úma^on eqüénda de
"ca?o aZ ^^«5?5riQ"í«i5"-nnaniento; adesmiIt nzlçao, a proteção dos direitos humanos, o combate às injusti
ças socio-economlcas, bem como a formulação e o apren
dizado da convivência pacífica, por melo da educaçãoTa
a paz, refletem essa nova visão. ' P
:^auFídoGaltpng^ã violência é fruto de uma rede de
te.nspeSíde. natureza ^sócip.econômicá, que se manifesta
TtZ t PP"Cgr '* ?É4 |^àtf doá conffitos como fr uodas disparidades socio-econômicás ha' sociedade
Nas áreas cultural, científica e educacional a UNESCO
com sede em Paris, lançou há algum tempo oprojeto S£
cação para aPaz", oqual congregou escolas de vários paí
ses visando articular o ensino cam a perspectiva da paz
Outras organizações, como a Universidade para a Paz criada pela ONU e estabelecida em San José (Costa Rica) a
Universidade de Uppsala (Suécia) e a Academia de Direito
O QUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS 45
Internacional de Haia (Países Baixos), também possuem
programas de resolução pacífica de conflitos e de educa
ção para a paz. No Brasil, duas Instituições merecem ser
citadas: a Núcleo de Estudos sobre a Violência, ria Univer
sidade de São Paulo, e a Fundação Cidade da Paz, em
Brasília, onde funciona a Universidade Holística.
Para o paradigma da paz a perspectiva educacional e
importantíssima, na medida em que se assume que a vio
lência não é atávica, não é inerente ao ser .humano,.mas
um produto de sua cultura.'Q velho proveibio latino-; si vis
paderr) para bellum (se queres a paz, prepara te para a
guerra) deve ser substituído por âlyís pacem para 'pacém
(se queres a paz, prepara-te para a paz)..=• Para alcançar a
v/erriarieira paz —positiva - é necessário, portanto, substi-
tulr a cultura da guerra pela cultura da paz.
O fim da Guerra Fria e
os paradigmas das relações internacionais
O fim da Guerra Fria parece haver colocado em xeque
o sistema bipolar de equilíbrio mundial, criando um novo
dilema para os internacionalistas. Como será a nova ordem
mundial? Tal como pudemos verificar, o paradigma realista
considera que todo e qualquer sistema internacional neces
sita de um equilíbrio de poder entre as potências, e tal
equilíbrio deve traduzir-se em poder estratéglco-mllltar. .0
que jse.>yê:no-;cenário,dp pós-Gueri-aiFria;;é;.. a.permanência
de üniaí^ a'.potências
com-:JDMJer/;mparc^
trás.corn.podèriò:econômico (JápâoV-•Alemanha/União Euro
péia). •
\
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
A distribuição do poder mundial e sua influência no
equilíbrio do. poder internacional são vistas de diferentes
ângulos. Em.gerai, boa.parte dos realistas.vê o.sistema
internacional ;reg-idq auiaimente àporjã^jsèjà^n|Ca^uperpó^
tencja-;çpm/;cã.paçi(l^ econômica globais', os
E.u/V-; De acüicq còm essa. avaliação,-jâ .exIsTinaumG-ripv?
log;çaunipplar..de poder, mundial, crn.oue os LUA: seriam' o
uuiçd.Estado^á contar c.otri; capacidade de intervenção es•
trátéQipq-rniijtàr-o de i-'derariça para tal.'- crhíódbo planeta
Sptvesse prisma,;as"instâncias multllaterais deveriam ser
apprfejçoadas,-adaptadas, a fim dè. mánter; a hegemonia
noftè-americaha no>mundo.'
Por outro lado, a maioria dos interdependentistas consi
dera que uma de suas principais bandeiras - a importância
-dos fluxos econômicos—éo-que define verdadeiraííiênti-ã
distribuição do poder mundial, cuja natureza é multjpolar(América do Norte, Bacia do Pacífico - com ênfase no Ja
pão - e UE - com ênfase na Alemanha); Segundo a visão
globalista, a nova ordem mundial Já estava em curso antes
mesmo do fim da Guerra Fria, por meio da globalização da
economia e da necessidade de gestão global' de certos te
mas (como o do meio ambiente).
Mesmo admitlndo-se que os EUA mantêm seu poderio
os interdependentistas alegam que os EUA perderam sua
condição de país hegemônico e já não podem mais supor
tar ações militares no cenário internacional (a necessidade
de realizaruma coalizão internacional para expulsar as for
ças iraquianas do Kuwait .seria .uma evidência disso). ,Daí-:a
nécessidade;de:reestruturar as;õrgam
mundiais- (ONU), .oú' regionais;WWiÍ^W&^m^l&-
las-.dè instrumentos efetivos dé...açãò.;estratéglca, distri
buindo custos e responsabilidades entre seus membros
G GUE SÃO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
Igualmente, o globalismõ avaliza o papel das ONGs como
"fiscalizadoras Internacionais", em temas como os direitos
humaqoá e p -meio ambiento.
Os dependpn-istas,. .ao•estabelecer urna.Visão das rela-
çóes"iritbrnac'or.aÍ5 pautada na .(má) distribuição, dai (riqueza
múhdial;''énconfrafri novo•.ter.rono de;:espépujaçãc .no.pós-
âujjrra" Fríg:/Com.iO-.fim ,dp-conflito LosfH-Üeste''fÍcpu mais
fácirpercebe^ o conflito, entre;Um.centro, industrializado õ os
demais \paísoó. evidenciando- .não. só ó "tradicional conflito
Nor'.e-SUl, mas; támbêrrí pÜtro's..'icõrTiõ.-ô.'Léste-:Oeste ná- Eu
ropa;* õ(i ainda entre países do:'tSül-em diferentes graus de
desenvolvimento. Apesar da globalização da economia e do
aumento dos fluxos de comunicação, a periferia está muito
mais frágil e descoberta do que antes. Por quê? Ora, du
rante a "Guerra Fria, muitospaíses periféricos podiam nego
ciar e obter recursos em troca de apoio a um dos dois blo
cos, seja o capitalista, seja o outrora comunista. Esse rico
manancial de recursos que chegavam via cooperação, em
préstimos ou doações deixou de existir com o fim da Guer
ra Fria, já que os antigas blocos não mais necessitam de
apoios estratégicos e/ou ideológicos.
' Como se esboça a nova ordem mundial segundo os
dependentlstas? Dramática para os países da periferia. O
processo de globalização da economia, ao estar estrutura
do na competição tecnológica entre os atores Internacionais
e na redução do papel do Estado na economia, transforma
o cenário internacional num amplo ringue de boxe, onde
os países desenvolvidos seriam lutadores pesos-pesados
e os países em desenvolvimento, lutadores pesos-penas.
Lutas assim não costumam passar do primeiro round...
Há, no entanto, um cenário pior do que aquele onde
grassa a dependência: o tão festejado processo de globali-
<*»
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
zaçao e compelição econômica, ao mesmo tempo que au
menta a conexão e os vínculos entre os atores intemacio-
Pmi:m;^^m-I^WW-:P^m9tiyüs vários>-(não só"'
epOTOn,iços^:masV^
Mll©^^Ustar-sè-^o •ttoyqs,>é^üè^as^p;rÓdutivos;vbci-;
mm^m * Possível'qúé um país possa sefdésconeo-'
tado do sistema Internacional? Os países menos desenvol
vidos com altos índices da analfabetismo, de mortalidade
mrantil etc, que supostamente não oferecem "perigo" para
o sistema (não têm artefatos nucleares, não possuem re
servas ambientais importantes, não são fornecedores de
energia - leia-se combustível fóssil - etc), poderiam sofrer
uma desconexão, que para os países de centro não causa-
flíl—rtmnrintr—t^-o-cn-»^ j .» rr-r :
-grarrdes-tra.islornas. seria como desconectar um apare-
ho ele rico porque ele deixou de funcionar e o seu conser
ta ficaria caro.
Acontinuar navegando nesse rumo, o mundo desenvol
vido poderá levantar verdadeiras muralhas, deixando mi-
hoes de pessoas que vivem na periferia sucumbir no pân
tano do esquecimento. O próprio vínculo de dependência
da periferia com o centro deixaria de existir. Aquestão che
ga a tal ponto que, para alguns países, é melhor ser de
pendente - o que assegura um vínculo de conexão com a
economia mundial - do que ser desconectado - o que lhe
dana status de "peça em desuso" na órbita internacional. O
Haiti e um exemplo dramático de tal situação '
Para o paradigma da paz, ofim da Guerra Fria e a con
seqüente diminuição da ameaça de confronto nuclear refor
çaram um de seus princípios: o de que é possível construir
a paz, promovendo o desarmamento e a desmilitarização
do mundo. Igualmente ele vem destacando os verdadeiros
O QUE SAO RELAÇÕES INTERNACIONAIS
problemas geradores da violência estrutural, como os pro
blemas sócio-econômicos, ambientais e humanitários. Nes
se sentido, as políticas neoliberais começam a ser reconhe- .
cidas como as prováveis causadoras da violência estrutural
em países desenvolvidos, como os EUA. Sua globalização,
estimulada pelo FMI e pelo Banca Mundial, é apontada
como sendo a principal causadora da violência estrutural
em países do Sul, cujos governos têm sido levados a cum
prir programas de ajuste, a fim de continuar obtendo crédi
tos internacionais. Os guerrilheiros zapatistas, que em ja
neiro de 1994 começaram a atuar em Chiapas, no Sul do
México, são uma amostra dessa violência estrutural que
está potencializada nos países do Sul.
Que são Relações Internacionais?
Verificamos a existência de diferentes concepções teóri
cas das relações internacionais. Não poderíamos terminar
este capítulo sem refletir sobre a possibilidade de um con
ceito, de uma definição que possa traduzir o que vêm a ser
relações Internacionais, Independentemente de cada um
dos paradigmas.
Marçef Merle, por. exemplo, considera,.que, enquanto.o
Est,ado.' subsistir como ator e; sua exístêncíase materializar
sobre qm território^ o critério da "fronteira" continua sendo
válido. Pórvissp;"ele-qualifica as relações internacionais _\
corna' "todos os fluxos qiiè; cruzam ae-fronteiras ou' que in- 7
clusive..tendem -á-transcendê-las1'. O^prÕTgSsor-Merie córri-
plementa sua convicção dizendo: "Entre esses fluxos figu
ram logicamente as relações entre os governos dos Esta
dos, mas também as relações entre indivíduos, grupos pú-
GILBERTO MARCOS ANTÔNIO RODRIGUES
blicos ou privados, situados de um lado e de outro de uma
fronteira".
Celestino dei Arenal, professor da Universidade de Ma
dri, e cujo livro Introducción a Ias Relaciones Internaciona
is (1990) oferece uma visão exaustiva sobre a matéria,
propõe a seguinte definição: "São as relaç*ões entro indiví
duos e coletividades humanas que configuram e afetam a
sociedade \^^f\otonar.,^^%J^^B^^È ,da/.autonomia
clòrt*^^;-c'^ ^'afõés;. Iritéfri aojoriais ('djz; támberrí: quq; !'As
relações, ihtérnaciphais, são-, a ciência- que se. ocupa dâ
sociedade .interpâçibnàl.ápahif dâ perspectiva desta mes
ma sociedade internacional, e a teoria das relações interna
cionais é uma teoria da sociedade internacional". Átenden-
do-se ao pensamento do professor Celestino, a sociedade
-intefrraeional-seria-então-c-^bjeto^e-^studo^as-THla^rõss-
internacionais.
'A sociedade internacional - o conjunto de atores de dis
tinta natureza que compartem um espaço comum (o pla
neta Terra) e os fluxos que existem entre eles, a gerar
fenômenos internacionais, nos campos da política, da eco
nomia, dá cultura, do meio ambiente etc. - pode ser con
siderada a protagonista dessa disciplina complexa,
instigante, necessariamente muitldisciplinar que chamamos
da relações internacionais. Assim, leitoras e leitores, termi
namos a parte inicial de nossa refeição. Que tal entrarmos
no prato forte?
-*&<am
m

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