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Mudanças e construção do eu na modernidade

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Mudanças e Construção do Eu na Modernidade 
(Idade Média ao século XVII) 
 
A Idade Média tem como principais características, a economia ruralizada, domínio da 
igreja sobre a população e uma sociedade hierarquizada. Tudo era monopolizado, a população 
era alienada e presa a uma cultura previamente estabelecida. O Teocentrismo era a visão de 
mundo da época, onde Deus é o centro e controlador de tudo e as escolhas de seus servos 
devem ser baseadas no que dizem as escrituras sagradas. É nesse período que começam os 
questionamentos do ‘eu’, surgem dúvidas acerca da liberdade, até então, inexistente. Essas 
incertezas geram angústias e medo do desconhecido. O sujeito passa a identificar-se como um 
ser pensante e capaz de fazer suas próprias escolhas, podemos identificar esse período como 
a passagem da Idade Média ao Renascimento, ou seja, cria-se a idéia de subjetividade 
privada. A partir desse momento, a organização social medieval sofre mudanças, nascem as 
cidades, expansão marítima e de certa forma a exclusão, antes bastante presente, é 
amenizada. Com um olhar mais voltado para si, a busca pela interioridade leva-nos a 
profundos questionamentos em busca da razão, logo, da verdade. Ao deparar-se como ser 
único, o homem começa ter a noção de liberdade e, consequentemente, de responsabilidade. 
Ele é seu próprio senhor, eliminando um pouco aquela visão de que Deus é o controlador de 
tudo. A multiplicidade é outra característica marcante do Renascimento, nela, o indivíduo foi 
capaz de conhecer novos costumes, idéias e hábitos, trazendo assim, mais questionamentos e 
incertezas, mas também, uma visão mais ampla do mundo. A feira de rua torna-se uma 
ilustração bastante significativa ao falarmos em multiplicidade, visto que era marcada pela 
desordem em meio à diversidade. Ao falarmos em multiplicidade, não podemos deixar de citar 
que tanta desordem gerou grandes conflitos internos e externos. O que antes era geral passa a 
ser individual e, consequentemente, diferenças surgem, uma forma de raciocínio da época era 
considerar idéias contrárias, um erro, levando em consideração que apenas sua forma de 
pensar seria a correta e uma forma de combater a idéia do outro seria por meio da 
catequização, ou à condução da verdade. Partindo de outro pressuposto, outra atitude seria a 
auto-crítica, onde não anula-se a verdade do outro, mas a considera, não descartando nem 
uma nem outra, partindo para análise de ambas em busca da verdade. É necessário que a 
partir de agora, o ser humano se construa, observe o mundo e busque os valores que procura 
seguir, ele criará sua própria visão de mundo e a aplicará, de agora em diante, como senhor de 
si. Em um mundo agora tão disperso, Santo Inácio de Loyola propõe a disciplina na liberdade 
humana para que o indivíduo não se perca na construção dessa liberdade, ele deverá seguir 
um caminho correto e esse caminho correto, de certa forma, é o da religião, seguindo suas 
doutrinas na construção da moral que o leve a salvação. Em contrapartida com as idéias de 
valorização do eu, surgem outras correntes de pensamento que criticam essa postura. Em 
meio a tantos questionamentos acerca de si, Montaigne, por exemplo, traz a tona o Ceticismo, 
a descrença em tudo. Uma ilustração dessa visão de mundo é a obra “O elogio da loucura” de 
 
Erasmo de Rotterdam, onde há grande ironia e negação da bondade e valorização humana, 
além de criticar a hipocrisia da Igreja. 
No século XVII começa uma organização das idéias, tão dispersas no século anterior. 
O ceticismo gerou de certa forma, uma insegurança que precisava ser amenizada. Descartes é 
um dos principais filósofos desse movimento, temos como referência “O discurso do Método”, 
onde foi possível ver que a razão se tornaria mais difundida por ser o primeiro livro de filosofia 
a ser escrito em francês e não em latim como eram as obras até então. Descartes propõe uma 
análise metódica em busca da verdade, usando pressupostos de matemática e geometria. O 
que fosse falso ou gerasse dúvidas, não seria considerado, apenas o que fosse realmente 
verdadeiro e comprovado seria considerado. Com esse método ele percebeu que tudo estava 
sujeito a variabilidade e incertezas, ele começa então uma análise interna e pode constatar que 
ele mesmo não é objetivo, pode-se deixar levar e não podendo confiar em si mesmo, também 
não pode deduzir o que é a verdade. Em meio a tantas indagações, ele verifica que apenas 
algo ainda era certo e constante, a dúvida, o pensar, e o sujeito que pratica tal ação, essa nova 
visão deu origem a sua famosa frase “eu penso, logo existo”. A autoconsciência é o ponto 
principal da época. A partir do momento que o homem passa a ter consciência de que ele, 
através da observação e análise, pode chegar a um objetivo, uma verdade, ele entende que 
essa veracidade não será mais procurada nas escrituras previamente estabelecidas. Assim, no 
século XVII, percebemos a importância do eu em busca de sua autoconsciência por meio de 
sua racionalidade. Ilustremos brevemente essa relevância por intermédio da obra da obra de 
Michel Foulcalt em “A história da Loucura”. Antes de todos os questionamentos advindos do 
Renascimento, os loucos eram ignorados visto que eram tratados como doentes contagiosos 
ou possuídos por espíritos malignos, sendo assim, não apresentavam nenhum risco aquela 
sociedade controlada pela religião. A partir do momento que o eu é considerado o principal 
atuante a procura da verdade, qualquer manifestação que possa prejudicar a sanidade desse 
‘eu’, torna-se preocupante e objeto de estudo, desse modo é dito que a loucura, propriamente 
dita, inicia-se nesse período, e, consequentemente, cria-se a necessidade de combater essa 
ameaça. Como não haviam tratamentos nessa época, a única alternativa de defender o homem 
desse possível contágio seria a isolação, surge então os primeiros hospícios. O ser humano 
passou por inúmeros processos de aprendizagem e autoconhecimento através dos séculos. A 
necessidade de se conhecer e buscar a satisfação pessoal são próprios da natureza humana, 
mas esse olhar mais voltado para si ainda é recente. A verdade é que esse processo 
compreensão é eterno e sempre haverá algo para se aprender a fim de conhecer a si mesmo.

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