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NOÇÕES BÁSICAS DE DIREITO CIVIL II

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Curso 
Noções II Civil Direito Básicas 
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Conteúdo 
Direito Civil: Parte Geral ....................................................................................... Pág. 8 
Direito das Obrigações ......................................................................................... Pág. 30 
Contratos .............................................................................................................. Pág. 45 
Responsabilidade Civil ......................................................................................... Pág. 83 
Direito das Coisas ................................................................................................ Pág. 87 
Direito de Família ................................................................................................. Pág. 121 
Direito das Sucessões.......................................................................................... Pág. 165 
 
 
 
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1. DIREITO CIVIL: PARTE GERAL 
 
 O Código Civil inicia sua abordagem por meio do livro atinente as 
pessoas. Enquanto o Título I trata das pessoas naturais, o Título II trata das 
pessoas jurídicas, e o Título III encerra o livro inaugural abordando a 
questão do domicílio. 
 A parte geral do Código Civil ainda contempla outros dois livros. O 
livro dos bens, apresentado sob um Título Único, e o livro dos fatos jurídicos, 
apresentado através de cinco títulos, quais sejam, do negócio jurídico (Título 
I), dos atos jurídicos lícitos (Título II), dos atos ilícitos (Título III), da 
prescrição e da decadência (Título IV) e, da prova (Título V). 
 
 
1.1 Pessoas 
1.1.1 Pessoas Naturais 
 
 O artigo 1º do Código Civil inicia dispondo acerca da capacidade, 
estipulando que toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. O 
complemento é dado na sequência, pelo artigo 2º, segundo o qual, a 
personalidade civil tem início com o nascimento com vida, muito embora a lei 
coloque a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Como se 
percebe, é o nascimento que confere à pessoa a capacidade civil. Mas a 
capacidade civil conferida com o nascimento com vida não é uma 
capacidade de fato, naturalmente, a qual só será alcançada mediante o 
enquadramento nas hipóteses legais, dentre as quais se inclui o atingimento 
da maioridade, aos 18 anos de idade, por exemplo. 
 O nascimento com vida confere à pessoa, portanto, mera capacidade 
de direito. 
 Desde a concepção a lei põe os direitos do nascituro a salvo. Direitos 
que lhe garantem a existência, como a obrigatoriedade do fornecimento de 
alimentos, a reserva de herança ou o recebimento de doação. 
 A incapacidade pode ser absoluta ou relativa. Segundo o Código Civil, 
são absolutamente incapazes: 
 a) os menores de dezesseis anos; 
 b) os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o 
necessário discernimento para a prática desses atos; e 
 c) os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua 
vontade. 
 Os absolutamente incapazes não podem praticar atos da vida civil, 
necessitando da intermediação de seus representantes. No caso dos 
menores de dezesseis anos, a representação é exercida pelos pais ou 
representantes legais, já nos demais casos, além destes, pode também ser 
exercida por um curador. 
 Por sua vez, são relativamente incapazes: 
 a) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
 b) os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por 
deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; 
 c) os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
 
 
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 d) os pródigos (aqueles que em razão de desvio de personalidade 
dependem de curador para emprestar, transigir, dar quitação, alienar, 
hipotecar, demandar ou ser demandado, e praticar, em geral, os atos que 
não sejam de mera administração de bens). 
 A incapacidade relativa não inviabiliza a prática de todos os atos da 
vida civil, apenas restringe alguns deles. O relativamente incapaz, para 
prática de determinados atos da vida civil, depende da assistência dos pais 
ou representantes legais, no caso de menoridade, ou destes ou de um 
curador nos demais casos. 
 Qualquer ato praticado por pessoa absolutamente incapaz é nulo, 
enquanto que o ato praticado por relativamente incapaz é apenas anulável. 
 A capacidade do índio é regulada por legislação especial. 
 Consabido, com o término da menoridade termina também a 
incapacidade da pessoa, mas há hipóteses em que essa incapacidade cessa 
ainda durante a menoridade. Isso ocorre nos seguintes casos: 
 a) pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, 
mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, 
ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos 
completos; 
 b) pelo casamento; 
 c) pelo exercício de emprego público efetivo; 
 d) pela colação de grau em curso de ensino superior; 
 e) pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de 
relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis 
anos completos tenha economia própria. 
 
 
1.1.1.1 Direitos da personalidade 
 
 O artigo 11 do Código Civil, estipula que os direitos da personalidade 
são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo seu exercício sofrer 
limitação voluntária. Por isso, são vedados o atos de disposição do próprio 
corpo quando importar diminuição da integridade física ou quando contrariar 
os bons costumes, salvo por exigência médica ou para fins de transplante. 
 Autoriza-se a disposição gratuita do próprio corpo, após a morte, para 
finalidades científicas ou altruísticas, sendo o ato de disposição revogável a 
qualquer tempo. 
 Em razão da indisponibilidade dos direitos da personalidade, dispõe o 
artigo 15 do Código Civil, que ninguém pode ser constrangido a submeter-
se, com risco de vida, a tratamento médico ou a intervenção cirúrgica. 
 A vida privada da pessoa natural é inviolável, podendo-se adotar 
medidas judiciais que visem impedir ou fazer cessar atos que desrespeitem 
essa norma (art. 21, CC). O teor do artigo 21 tutela dois tipos de proteção a 
inviolabilidade da vida privada das pessoas, quais sejam, a preventiva (ou 
inibitória) e a repressiva. A tutela inibitória tende a proteção prévia da 
pessoa, visando evitar-lhe a ocorrência de um dano, ao contrário da tutela 
repressiva, incidente após a consumação do dano. 
 
 
 
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1.1.1.2 Morte 
 
 Após tratar da aquisição da capacidade civil e de arrolar os casos de 
capacidade e incapacidade, o Código Civil informa que a existência da 
pessoa natural termina com a morte, que pode ser real ou presumida. 
 Morte real é aquela cuja comprovação se faz através do atestado de 
óbito, já a morte presumida se verifica mediante a decretação de ausência 
ou sem a necessidade desta. 
 Há declaração de morte presumida, sem decretação de ausência: 
 a) se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo 
de vida; ou 
 b) se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for 
encontrado até dois anos após o término da guerra. 
 Nesses dois casos, a declaração de morte presumida só pode ser 
requerida após esgotadas as buscas e averiguações, cabendo a sentença 
fixar a data provável do falecimento. A fixação de uma data de falecimento é 
importante para fins sucessórios, uma vez que, na mesma data do óbito 
considera-se aberta a sucessão. 
 Contudo, depende da prévia declaração de ausência, anteriormente à 
abertura da sucessão, a situação de desaparecimento fora das hipóteses 
acima mencionadas. Assim, desaparecida uma pessoa de seu domicílio sem 
deixar representante ou procurador a quem caiba a administração de seus 
bens e sem que se tenha notícia da mesma, qualquer interessado ou o 
Ministério Público poderá requerer ao juiz a declaração de ausência e a 
nomeação de
um curador. 
 Ocorre também a necessidade de declaração de ausência, quando o 
ausente deixou mandatário que não queira ou que não possa exercer o 
mandato, ou, ainda, que não possua poderes suficientes para tanto. 
 O legítimo curador do ausente é o cônjuge, desde que não esteja 
separado judicialmente, ou de fato por mais de 2 (dois) anos antes da 
declaração de ausência. Na falta do cônjuge, a curadoria dos bens incumbe 
aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que 
os iniba de exercer tal cargo. Na falta do cônjuge, ascendentes e 
descendentes, incumbe ao juiz escolher e nomear um curador. 
 Após 1 (um) ano da arrecadação dos bens do ausente, poderão os 
interessados requerer a declaração de ausência e a abertura provisória da 
sucessão. Se o ausente havia deixado representante ou procurador, o prazo 
de 1 (um) eleva-se para 3 (três) anos. 
 A sentença que determina a abertura provisória da sucessão possui 
uma peculiaridade, qual seja, produz efeitos somente após o decurso de 180 
(cento e oitenta) dias depois de publicada, embora logo após o trânsito em 
julgado se autorize a abertura do testamento, se houver, e ao inventário e 
partilha dos bens, como se o ausente fosse falecido. 
 Para que os herdeiros possam se imitir na posse dos bens do 
ausente, exige-se que prestem garantia da restituição deles, através de 
penhores ou hipotecas que tenham equivalência com os quinhões 
respectivos. Os que possuam direito à posse provisória, mas que não 
tenham meios de oferecer garantia, serão excluídos, e os bens mantidos sob 
 
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a administração do curador ou de outro herdeiro que possa oferecer a 
garantia exigida. 
 Em se tratando de ascendentes, descendentes e do cônjuge, uma vez 
provada a qualidade de herdeiros, podem se imitir na posse dos bens 
independentemente de qualquer garantia. 
 Se o sucessor demonstrar que não possui meios à garantia exigida, 
não poderá se imitir na posse do bem, como afirmado, porém, nos termos do 
artigo 34 do Código Civil, poderá ele requerer a metade dos rendimentos do 
quinhão que lhe caberia. 
 Estando os sucessores provisórios na posse dos bens do ausente, 
serão deste representantes ativa e passivamente. 
 A disciplina acerca da possibilidade de alienação dos bens ausente foi 
cautelosa no Código Civil, como diferente não poderia ser. Dessa forma, a 
alienação de bens imóveis do ausente só pode ocorrer mediante autorização 
judicial que vise evitar-lhes a ruína. 
 Em se tratando de bem que gere frutos e rendimentos, há que se 
realizar uma separação em dois grupos: 
 1º) formado pelos descendentes, ascendentes e pelo cônjuge; e 
 2º) formado pelos demais sucessores. 
 No caso do primeiro grupo, isto é, descendentes, ascendentes e o 
cônjuge podem ficar com a integralidade dos frutos e rendimentos dos bens 
a que obtiveram a posse. 
 No entanto, quanto aos demais sucessores, deverão capitalizar 
metade dos frutos e rendimentos que obtiverem em decorrência da posse 
dos bens do ausente, além de prestarem contas, anualmente, ao juiz. 
 Se durante a posse provisória surgir elemento que prove a ocorrência 
do falecimento do ausente, considerar-se-á, nessa data, aberta a sucessão 
em favor dos herdeiros que o eram àquele tempo (art. 35, CC). 
 Todavia, se o ausente aparecer ou se ficar provado que está vivo, 
cessam imediatamente as vantagens dos sucessores que estão imitidos na 
posse dos bens, sendo a todos obrigatória a adoção de medidas que 
assegurem a devolução integral dos mesmos (art. 36, CC). 
 Se passados 10 (dez) anos do trânsito em julgado da sentença que 
decretou a abertura provisória da sucessão, sem que o ausente tenha 
regressado ou que se tenha obtido prova de sua existência, poderão os 
interessados requerer a abertura definitiva da sucessão e o levantamento 
das garantias prestadas. 
 Outra hipótese de requerimento de abertura da sucessão definitiva, 
sem que tenha que se aguardar o decurso de 10 (dez) anos do trânsito em 
julgado da sentença que decretou a abertura da sucessão provisória, é a 
prova de que o ausente conta com pelo menos 80 (oitenta) anos de idade, e 
que de cinco datam as últimas notícias dele. 
 Se o ausente regressar nos 10 (dez) anos seguintes à abertura da 
sucessão definitiva, terá direito a seus bens no estado em que se acharem, 
aos sub-rogados em seu lugar, ou ao preço que os herdeiros e demais 
interessados tenham recebido pelas respectivas alienações. 
 Mas, não regressando o ausente em 10 (dez) anos da abertura da 
sucessão definitiva, e desde que nenhum interessado a tenha promovido, os 
bens arrecadados passarão ao domínio do Município ou do Distrito Federal, 
 
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se localizados nas respectivas circunscrições, bem como ao domínio da 
União, se localizados em território federal. 
 Por derradeiro, em se tratando de morte e extinção da personalidade 
jurídica, cumpre mencionar a figura da comoriência, isto é, da morte 
simultânea de duas ou mais pessoas (art. 8º, CC). A comoriência tem 
relevância especial na seara sucessória. Dessa forma, para fins sucessórios, 
tem consequências diversas o fato de um casal morrer simultaneamente, em 
razão de um acidente de veículo, do que se primeiro falecer o homem, e 
apenas depois falecer a mulher. Como a herança se transmite 
imediatamente após a morte, caso a mulher morra depois, terá herdado 
determinado quinhão hereditário antes de morrer, o que não ocorre se ela 
morrer simultaneamente com seu cônjuge. 
 
 
1.1.2 Pessoas Jurídicas 
 
 O Título II, do Livro I, do Código Civil, aborda temas relacionados às 
pessoas jurídicas. O artigo 40 inicia informando que as pessoas jurídicas são 
de direito público, interno ou externo, e de direito privado. 
 O artigo 41 do mesmo Códex informa que são pessoas jurídicas de 
direito público interno: 
 i) a União; 
 ii) os Estados, o Distrito Federal e os Territórios; 
 iii) os Municípios; 
 iv) as autarquias, inclusive as associações públicas; 
 v) as demais entidades de caráter público criadas por lei. 
 A redação do inciso IV foi alterada pela Lei n.º 11.107/2005 (Lei dos 
Consórcios Públicos), que acrescentou as associações públicas ao 
mencionado rol. No entanto, há que se estar atento, pois os consórcios 
públicos podem adotar o regime público, caso em que serão consórcios 
públicos de direito público, legalmente denominados de associações 
públicas e, portanto, pessoas jurídicas de direito público interno. Mas não se 
deve confundir com os consórcios que adotarem o regime privado, caso em 
que serão consórcios públicos de direito privado, sem a denominação de 
associações públicas e, portanto, regidos pelo Código Civil e não pelo 
regime de Direito Administrativo. 
 Após informar as pessoas jurídicas de direito público, o Código Civil 
elenca as pessoas jurídicas de direito privado: 
 i) as associações; 
 ii) as sociedades; 
 iii) as fundações. 
 iv) as organizações religiosas; 
 v) os partidos políticos. 
 No que se refere as associações e fundações, serão tratadas na 
sequência. Quanto as sociedades, são objeto do módulo de Direito 
Empresarial. Em relação as organizações religiosas, cumpre expor que não 
pode o Estado negar-lhes o reconhecimento ou o registro de seus atos 
constitutivos, uma vez que é livre a sua criação, organização, estruturação 
interna e funcionamento. No que tange aos partidos políticos, há legislação 
 
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específica que lhes disciplina a organização e o funcionamento (art. 44, 
parágrafo terceiro, CC). 
 A existência da pessoa jurídica de direito privado se inicia com a 
inscrição do ato constitutivo no respectivo registro, exigindo-se também a 
averbação de todas as alterações que ocorrerem. O direito de anular a 
constituição de uma pessoa jurídica de direito privado, por defeito do ato 
respectivo, decai em 3 (três) anos, contado o prazo da publicação de sua 
inscrição no registro (art. 45, CC). 
 Obrigam a
pessoa jurídica, os atos dos seus administradores que 
forem exercidos nos limites de seus poderes, definidos no respectivo ato 
constitutivo, a teor do que dispõe o artigo 47, do Código Civil. 
 Quando a administração da pessoa jurídica for exercida 
coletivamente, as decisões devem ser tomadas pela maioria de votos dos 
presentes, salvo disposição diversa constante do ato constitutivo. O direito 
de anular as decisões proferidas coletivamente, nos termos mencionados, 
quando importarem em violação da lei ou do estatuto, ou quando forem 
maculadas por erro, dolo, simulação ou fraude, decai em 3 (três) anos. 
 O artigo 50 do Código Civil estipula que, em caso de abuso 
personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela 
confusão patrimonial, autoriza-se ao juiz, a requerimento da parte ou do 
Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, determinar que os 
efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos 
aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. 
Trata-se do instituto da desconsideração da personalidade jurídica. 
 
 
1.1.2.1 Associações 
 
 Associação é a união de pessoas para fins não-econômicos. Entre os 
associados não há direitos e obrigações recíprocos. Os direitos dos 
associados devem ser iguais, mas não se veda a instituição de categorias 
com vantagens especiais. 
 A qualidade de associado não se transmite, salvo disposição em 
contrário, expressa no estatuto. Quando o associado for titular de quota ou 
fração ideal do patrimônio da associação, a transferência daquela não 
importa, por si só, na atribuição da qualidade de associado ao adquirente ou 
herdeiro, salvo se modo contrário dispuser o estatuto (art. 56, parágrafo 
único, CC). 
 O associado somente pode ser excluído da associação após prévio 
procedimento, no qual se assegure a ampla defesa. O procedimento de 
exclusão deve ser descrito no estatuto da associação. 
 Segundo o artigo 59 do Código Civil, é competência exclusiva da 
assembléia geral a destituição dos administradores e a alteração do 
estatuto, exigindo-se, em ambos os casos, a deliberação da assembléia 
especialmente convocada para essa finalidade, cujo quorum deve ser 
estabelecido no estatuto, assim como os critérios de eleição dos 
administradores. 
 
 
 
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1.1.2.2 Fundações 
 
 Só há que se falar em fundação se sua finalidade for: 
 a) religiosa; 
 b) moral; 
 c) assistencial; ou 
 d) cultural. 
 Para criar uma fundação, exige-se que seu instituidor realize dotação 
especial de bens, por escritura pública ou testamento, devendo especificar a 
finalidade da fundação e declarando, se desejar, a maneira de administrá-la. 
 Quando ocorrer a destinação insuficiente de bens à instituição da 
fundação, os bens a ela destinados serão incorporados em outra fundação 
que apresente finalidade igual ou semelhante, salvo se de modo diverso tiver 
disposto o instituidor (art. 63, CC). 
 O estatuto da fundação deve ser elaborado dentro do prazo fixado por 
seu instituidor, mas, em não havendo estipulação de prazo, reputa-se este 
como de 180 (cento e oitenta) dias. Caso o estatuto não seja aprazadamente 
elaborado, tal incumbência passará ao Ministério Público. 
 Ao Ministério Público Estadual cabe velar pelas fundações situadas 
nas respectivas áreas de suas circunscrições. O parágrafo primeiro do artigo 
66, do Código Civil, estipula que no Distrito Federal incumbe ao Ministério 
Público Federal zelar pelas fundações ali situadas, mas tal dispositivo foi 
declarado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal, tendo sido 
decidido que cabe ao Ministério Público do Distrito Federal zelar pelas 
fundações ali situadas. Para o caso da fundação estender suas atividades 
para mais de um Estado, cabe ao Ministério Público Estadual de cada um 
deles zelar por sua parcela de atuação. 
 Para que se possa alterar o estatuto de uma fundação, exige-se que a 
reforma: 
 i) seja deliberada por dois terços dos competentes para gerir e 
representar a fundação; 
 ii) não contrarie ou desvirtue o fim desta; 
 iii) seja aprovada pelo órgão do Ministério Público, e, caso este a 
denegue, poderá o juiz supri-la, a requerimento do interessado. 
 Alterado o estatuto, este deve ser submetido ao Ministério Público 
para análise. Quando a alteração não houver sido aprovada por votação 
unânime, exige-se que se dê ciência à minoria vencida, a qual poderá 
impugnar a reforma perante o Ministério Público, expondo os motivos da 
votação contrária. 
 Se a finalidade de uma fundação se tornar ilícita, impossível ou inútil, 
bem como se vencido o prazo de sua existência, o Ministério Público, ou 
qualquer interessado, lhe promoverá a extinção, incorporando-se o seu 
patrimônio a outra fundação de finalidade idêntica ou semelhante, salvo 
disposição em contrário, expressa no seu ato constitutivo ou estatuto. 
 
 
 
 
 
 
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1.1.3 Domicílio 
 
 O Título III encerra o Livro I do Código Civil dispondo sobre o 
domicílio. 
 Via de regra, o domicílio é o lugar onde a pessoa física estabelece 
sua residência com ânimo definitivo. Quando a pessoa possuir diversas 
residências, no entanto, considera-se seu domicílio qualquer delas, desde 
que ela efetivamente viva, alternadamente, em cada qual. 
 Também considera-se domicílio da pessoa física, quanto à profissão, 
o local onde ela exerce sua atividade laborativa. Quando a pessoa trabalhar 
em diversas localidades, considera-se seu domicílio qualquer delas, nos 
mesmos termos acima expostos. 
 Para a pessoa física que não possui residência habitual, considera-se 
domiciliada no local em que for encontrada, a teor do artigo 73 do Código 
Civil. 
 Dispõe o artigo 75 do Código Civil que, quanto às pessoas jurídicas, o 
domicílio é: 
 a) da União, o Distrito Federal; 
 b) dos Estados e Territórios, as respectivas capitais; 
 c) do Município, o lugar onde funcione a administração municipal; 
 d) das demais pessoas jurídicas, o lugar onde funcionarem as 
respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial 
no seu estatuto ou atos constitutivos. 
 Se a pessoa jurídica possuir estabelecimento em diversos locais, 
cada um deles será considerado domicílio para fins dos atos nele praticados. 
 Quando a administração ou a diretoria da pessoa jurídica tiver sede 
no estrangeiro, considera-se domicílio cada uma de suas agências no Brasil, 
sendo cada uma responsável pelos atos nela praticados. 
 Enquanto a pessoa física capaz possui a faculdade de livremente 
alterar seu domicílio, o mesmo não ocorre com o incapaz, com o servidor 
público, com o militar, com o marítimo e com o preso, todos com domicílio 
necessário. Por expressa disposição legal, o domicílio: 
 a) do incapaz é o do seu representante ou assistente; 
 b) do servidor público é o lugar em que exercer permanentemente 
suas funções; 
 c) do militar é o lugar onde servir, e, sendo da Marinha ou da 
Aeronáutica, a sede do comando a que se encontrar imediatamente 
subordinado; 
 d) do marítimo é o lugar onde o navio estiver matriculado; e 
 e) do preso é o lugar em que cumprir a sentença. 
 Por fim, quando se tratar de contratação escrita, autoriza o Código 
Civil que os contratantes especifiquem um domicílio para que sejam 
exercitados e cumpridos os direitos e deveres dele resultantes, o que nada 
mais é do que a faculdade de estipulação contratual de um foro de eleição 
para dirimir eventuais conflitos. 
 
 
 
 
 
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1.2 Bens 
 
 O Livro II da parte geral, do Código Civil, disciplina as relações que 
envolvem bens. Bem é tudo aquilo que possui valor para as pessoas, desde 
que passível de figurar como objeto em uma relação jurídica. 
 Quanto as classes, o Código Civil divide os bens em 3 (três) grupos: 
 a) bens considerados em si mesmos; 
 b) bens reciprocamente considerados; e 
 c) bens públicos. 
 
 
1.2.1 Bens considerados
em si mesmos 
 
 Os bens considerados em si mesmos apresentam várias 
classificações, todas extraídas do Código Civil e a seguir apresentadas. 
 a) Primeiramente, os bens podem ser divididos em imóveis e móveis: 
 a.1) bem imóvel é todo aquele que não pode ser transportado sem 
que ocorra a perda de sua substância, ainda que se trate de uma perda 
meramente parcial. São bens imóveis, o solo e tudo quanto se lhe incorporar 
natural ou artificialmente (art. 79, CC). Nesse contexto, um bem pode ser 
considerado imóvel por diferentes motivos: 
 a.1.1) bem imóvel por natureza, além do solo, são as árvores e os 
frutos pendentes, por exemplo. 
 a.1.2) bem imóvel por acessão física artificial, é o conjunto de bens 
incorporados de maneira permanente ao solo, como construções. 
 a.1.3) bem imóvel por acessão intelectual é aquele que, inicialmente, 
não detém tal característica, mas que é tornado imóvel por intenção do seu 
proprietário, como o maquinário industrial de uma empresa, por exemplo. 
 a.1.4) bem imóvel por determinação legal é aquele considerado 
imóvel por vontade do legislador. Estipula o Código Civil que consideram-se 
imóveis para efeitos legais: i) os direitos reais sobre imóveis e as ações que 
os asseguram; e ii) o direito à sucessão aberta. 
 Estipula, ainda, o Código Civil, que não perdem o caráter de imóveis: 
i) as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, 
forem removidas para outro local; e ii) os materiais provisoriamente 
separados de um prédio, para nele se reempregarem. 
 
 a.2) bens móveis, por sua vez, são aqueles suscetíveis de movimento 
próprio ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da 
destinação econômico-social. Assim como os bens móveis, os imóveis 
também podem ser subdivididos em: 
 a.2.1) bem móvel por natureza, isto é, aquele que pode ser extraído 
sem alteração de sua substância ou de sua destinação econômico-social, 
como os animais, por exemplo. 
 a.2.2) bem móvel por antecipação, é aquele originariamente 
pertencente a um bem imóvel e dele separado, isto é, tornado móvel por 
vontade humana, como por exemplo, a derrubada de árvores para 
transformação em lenha. 
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a.2.3) bem móvel por determinação legal, assim considerados: i) as 
energias que tenham valor econômico; ii) os direitos reais sobre objetos 
móveis e as ações correspondentes; e iii) os direitos pessoais de caráter 
patrimonial e respectivas ações. 
 Por derradeiro, quanto aos materiais designados a alguma 
construção, enquanto não empregados, conservam sua qualidade de 
móveis, bem como a readquirem quando demolido algum prédio. 
 
 b) O Código Civil também fornece a distinção entre bens fungíveis e 
infungíveis: 
 b.1) bens fungíveis são os bens móveis que podem ser substituídos 
por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. 
 b.2) bens infungíveis, ao contrário, são insubstituíveis diante da 
impossibilidade de obtenção de um objeto que possua a mesma espécie, 
qualidade e quantidade. Um bem imóvel, por exemplo, é um típico exemplo 
de bem infungível. 
 
 c) Os bens também podem ser classificados como consumíveis ou 
inconsumíveis: 
 c.1) bens consumíveis são os bens móveis cujo uso importa em 
destruição imediata da sua substância. Consideram-se também bens 
consumíveis aqueles destinados à alienação. Os alimentos são típicos 
exemplos de bens consumíveis. 
 c.2) bens inconsumíveis, ao contrário, são aqueles que não perdem 
sua substância, não obstante seu uso reiterado. Um geladeira, por exemplo, 
é um bem inconsumível. 
 
 d) Os bens ainda podem ser classificados como divisíveis ou 
indivisíveis: 
 d.1) bens divisíveis são aqueles que podem ser fracionados sem que 
tenham sua substância perdida ou alterada, sem que tenham seu valor 
reduzido, e sem que causem prejuízo ao uso a que se destinam. 
 d.2) bens indivisíveis, ao contrário, são aqueles que não são passíveis 
de fracionamento, sob pena de terem sua substância perdida ou alterada, de 
ter seu valor reduzido ou de causar prejuízo ao uso a que se destinam. A 
indivisibilidade do bem pode decorrer: 
 d.2.1) da natureza, como no caso de animais, por exemplo; 
 d.2.2) de determinação legal, quando a lei determina a indivisibilidade 
de algo que, originariamente, poderia ser fracionado; ou 
 d.2.3) da vontade das partes, quando por contrato se estabelece que 
um bem divisível será considerado indivisível. 
 
 e) Por fim, quanto aos bens considerados em si mesmos, o Código 
Civil realiza uma divisão entre bens singulares e bens coletivos: 
 e.1) bens singulares são os que, embora reunidos, são considerados 
de per si, independentemente dos demais. Por exemplo, um boi continua 
sendo considerado singular, ainda que incluído no rebanho. 
 e.2) bens coletivos são aqueles formados pela pluralidade de bens 
singulares, de modo a formar uma universalidade. Essa universalidade pode 
 
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ser de fato ou de direito. Será de fato, quando a pluralidade de bens 
singulares pertencerem a uma mesma pessoa e tiver destinação unitária, 
podendo ser objeto de relações jurídicas próprias, inclusive. No entanto, será 
de direito, quando for constituída por um complexo de relações jurídicas, de 
uma pessoa, dotadas de valor econômico. É típico exemplo de 
universalidade de fato: uma biblioteca; enquanto que é típico exemplo de 
universalidade de direito: uma herança. 
 
 
1.2.2 Bens reciprocamente considerados 
 
 Determinados bens podem existir ou serem considerados apenas em 
razão de outro, por isso foram disciplinados pelo Código Civil no capítulo 
chamado “dos bens reciprocamente considerados”. 
 A divisão que há que se fazer é entre bens principais e bens 
acessórios. Bem principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou 
concretamente, enquanto que bem acessório é aquele que supõe a 
existência do principal. 
 Os bens acessórios comportam quatro subdivisões, quais sejam: 
 a) frutos, isto é, utilidades produzidas pelo bem principal, os quais 
podem ser naturais, industriais ou civis. Frutos naturais, por exemplo, são os 
frutos produzidos por uma árvore. Frutos industriais, os produzidos por uma 
empresa, como livros em uma editora, por exemplo. Frutos civis, por sua 
vez, são os frutos do capital, os rendimentos do bem. 
 b) produtos, isto é, utilidades que se esgotam após a extração. O 
petróleo, assim como todos os recursos naturais não-renováveis são típicos 
exemplos. 
 A teor do artigo 95 do Código Civil, tanto os frutos como os produtos, 
apesar de ainda não separados do bem principal, podem ser objeto de 
negócio jurídico. 
 c) benfeitorias, isto é, melhoramentos no bem principal, as quais 
podem ser necessárias, úteis ou voluptuárias. Benfeitorias necessárias são 
as que visam conservar o bem ou evitar que ele se deteriore. Benfeitorias 
úteis são as que lhe aumentam ou facilitam o uso. Benfeitorias voluptuárias, 
por sua vez, são as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso 
habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado 
valor. 
 d) pertenças, isto é, bens que não constituem partes integrantes do 
bem. As pertenças destinam-se, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou 
ao aformoseamento de outro bem. Um aparelho de ar condicionado em uma 
residência é um típico exemplo de pertença. A teor do artigo 94 do Código 
Civil, é importante memorizar que os negócios jurídicos que dizem respeito 
ao principal não abrangem as pertenças, salvo se a lei dispuser de modo 
contrário, se assim se estipular em contrato ou se for inerente às 
circunstâncias do caso. 
 
 
 
 
 
19 
1.2.3 Bens públicos 
 
 O último capítulo atinente a abordagem dos bens no Código Civil é 
referente aos bens públicos. 
 Bens públicos são os de domínio nacional, pertencentes às pessoas 
jurídicas de direito público interno, enquanto que todos os demais são 
considerados bens particulares, seja qual for a pessoa a que
pertencerem 
(art. 98, CC). 
 Os bem públicos são divididos em três grupos: 
 a) os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e 
praças; 
 b) os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a 
serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou 
municipal, inclusive os de suas autarquias; e 
 c) os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas 
de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma 
dessas entidades. 
 Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são 
inalienáveis, aliás, a inalienabilidade é a regra-matriz relacionada aos bens 
públicos. Já os bens dominicais podem ser alienados, observadas as 
exigências legais. É em razão da permissão à alienação dos bens 
dominicais que o parágrafo único do artigo 99 do Código Civil estipula que, 
não dispondo a lei em contrário, consideram-se dominicais os bens 
pertencentes às pessoas jurídicas de direito público a que se tenha dado 
estrutura de direito privado. 
 Em se tratando de bens públicos, há que se frisar que não passíveis 
de usucapião, nos termos dos mandamentos constitucionais (art. 183, §3º e 
191, parágrafo único) e legal (art. 102, CC). 
 O uso comum dos bens públicos pode ser gratuito ou retribuído, 
conforme for legalmente estabelecido pela entidade a cuja administração 
pertencerem, nos termos do artigo 103 do Código Civil. 
 
 
1.3 Fatos jurídicos 
 
 O livro III, da parte geral, do Código Civil trata dos fatos jurídicos. Os 
fatos são situações cotidianas da vida humana, podendo ou não ter 
relevância jurídica. Ao Direito, naturalmente, só interessam os fatos que 
alcancem relevância jurídica, quando então recebem o título de fatos 
jurídicos. 
 Os fatos jurídicos podem decorrer de eventos naturais, mas também 
podem decorrer da vontade humana, quando então passam a ser chamados 
de atos jurídicos. 
 A doutrina classifica os fatos jurídicos em: 
 a) ordinários, isto é, de acontecimentos regulares, como casamentos, 
nascimentos e óbitos; e 
 b) extraordinários, isto é, de acontecimentos excepcionais, como 
casos fortuitos e de força maior. 
 
20 
 Já os fatos jurídicos decorrentes da vontade humana, por isso 
chamados atos jurídicos, comportam uma subdivisão: 
 a) ato jurídico strictu sensu; 
 b) negócio jurídico; e 
 c) ato ilícito. 
 O ato jurídico strictu sensu é a conduta humana relevante para o 
Direito e em consonância com a lei, ao contrário do ato ilícito, que é conduta 
humana contrária a lei. Já o negócio jurídico é auto-regulação, nos limites 
legais, de determinados interesses particulares, como será exposto na 
sequência. 
 
 
1.3.1 Negócio Jurídico 
 
 Os negócios jurídicos tem sua razão de ser depositada na autonomia 
da vontade entre particulares, fruto da liberdade de negociação a todos 
conferida. Essa liberdade, no entanto, não é absoluta, estando sujeita a 
diversas restrições. 
 
 
1.3.1.1 Classificação dos negócios jurídicos 
 
 Os negócios jurídicos podem ser classificados sob diferentes óticas, 
dentre as quais destacam-se: 
 a) Quanto à existência: 
 a.1) negócios jurídicos principais, quando sua existência não 
depender de nenhum outro, como a locação, por exemplo; ou 
 a.2) negócios jurídicos acessórios, quando sua existência estiver 
condicionada à existência de outro negócio jurídico, como a fiança, por 
exemplo. 
 
 b) Quanto à formalidade: 
 b.1) negócios jurídicos solenes, quando a lei determinar a observância 
de determinadas formalidades; ou 
 b.2) negócios jurídicos não-solenes, quando a lei nada disciplinar, 
podendo o negócio ser celebrado sem qualquer requisito especial de forma. 
 
 c) Quanto ao conteúdo: 
 c.1) negócios jurídicos patrimoniais, isto é, relacionados a bens ou 
direitos de ordem patrimonial; ou 
 c.2) negócios jurídicos extrapatrimoniais, isto é, referentes a direitos 
sem conteúdo econômico, tal como os direitos de personalidade. 
 
 d) Quanto ao tempo em que produzem seus efeitos: 
 d.1) negócios jurídicos inter vivos, quando a manifestação de vontade 
produz efeitos durante a vida do agente; ou 
 d.2) negócios jurídicos causa mortis, quando a manifestação de 
vontade produz efeitos após a morte do agente. 
 
 
21 
 e) Quanto às vantagens: 
 e.1) negócios jurídicos onerosos, quando ambas as partes possuem 
ônus e vantagens recíprocas; ou 
 e.2) negócios jurídicos gratuitos, quando apenas uma das partes 
aufere vantagens, como em uma doação simples, por exemplo. 
 
 f) Quanto aos efeitos: 
 f.1) negócios jurídicos constitutivos, com a produção de efeitos a partir 
da conclusão dos mesmos, como na consumação de um contrato de compra 
e venda, por exemplo; ou 
 f.2) negócios jurídicos declaratórios, com a produção retroativa de 
efeitos, como no reconhecimento da paternidade, por exemplo. 
 
 g) Quanto ao exercício dos direitos: 
 g.1) negócios jurídicos de disposição, isto é, os que autorizam a 
manifestação do exercício de todos os direitos sobre o objeto, tal como 
ocorre com a alienação de um dado bem, em que o alienante transfere todos 
os direitos sobre o objeto ao adquirente; ou 
 g.2) negócios jurídicos de administração, isto é, os que autorizam a 
manifestação restrita de direitos sobre o objeto, não se possibilitando a 
alteração da substância do mesmo, tal como ocorre em uma locação, em 
que o locador transfere apenas restritos direitos ao locatário. 
 
 h) Quando à manifestação de vontade: 
 h.1) negócios jurídicos unilaterais, quando a manifestação de vontade 
é de apenas uma das partes, como em um testamento, por exemplo; ou 
 h.2) negócios jurídicos bilaterais, quando a manifestação de vontade é 
proveniente de ambas as partes envolvidas, formando um consenso. 
 
 
1.3.1.2 Elementos constitutivos do negócio jurídico 
 
 Primeiramente, para que um negócio jurídico tenha validade, exige-
se: 
 a) agente capaz; 
 b) objeto lícito, possível, determinado ou determinável; 
 c) forma prescrita ou não defesa em lei. 
 Sem a presença concomitante de tais requisitos, o negócio jurídico 
será absolutamente nulo. 
 O agente capaz é elemento constitutivo essencial do negócio jurídico, 
como se mencionou, daí decorrendo a justificativa para que o absolutamente 
incapaz seja representado, e para que o relativamente incapaz seja assistido 
na feitura do mesmo. O negócio jurídico celebrado com pessoa 
absolutamente incapaz e sem representação é nulo (art. 166, I, CC), 
enquanto que o celebrado com relativamente incapaz e sem assistência é 
anulável (art. 171, I, CC). 
 A representação pode ter sua origem fundada na lei, como no caso 
dos pais que representam os filhos, também pode ter sua origem fundada 
em uma decisão judicial, como na nomeação de um inventariante, e, por fim, 
 
22 
pode ter sua origem na manifestação de vontade de um interessado, quando 
o mesmo outorga mandato a um representante. 
 É importante salientar que a incapacidade relativa de uma das partes 
não pode ser invocada pela outra em benefício próprio, e também não 
aproveita aos co-interessados capazes, exceto se for indivisível o objeto do 
direito ou da obrigação comum (art. 105, CC). 
 Como visto, também há necessidade da presença de um objeto lícito 
e possível para que se possa ter um negócio jurídico válido. Objeto lícito é o 
que está em conformidade com a lei, com a moral e com os bons costumes. 
Por sua vez, objeto possível é aquele suscetível de cumprimento, pois 
somente dessa maneira haverá viabilidade e, consequentemente, validade 
do negócio jurídico. Por exemplo, não se pode admitir como válido um 
negócio jurídico de compra e venda de terrenos em uma das Luas de 
Saturno, haja vista a impossibilidade de seu objeto. 
 Nesse contexto, é importante mencionar que a impossibilidade inicial 
do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, tão pouco se cessar 
antes de ser realizada
a condição a que o negócio jurídico estiver 
subordinado (art. 106, CC). 
 Portanto, o objeto do negócio jurídico deve ser determinado (via de 
regra), mas também pode ser determinável, isto é, cuja determinação se 
projeta para o futuro e, uma vez operada, valida o negócio. 
 Por derradeiro, há que se expor que o negócio jurídico pode ser 
celebrado com base na liberdade de forma, salvo se a lei expressamento o 
exigir. O artigo 108 do Código Civil estipula que não dispondo a lei em 
contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos 
que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos 
reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo 
vigente no País. O citado artigo 108, pois, é típico exemplo de forma 
especial exigida para validade do negócio jurídico a que faz referência. 
 
 
1.3.1.3 Elementos acidentais do negócio jurídico 
 
 Expostos os elementos constitutivos, cumpre apresentar os elementos 
acidentais dos negócios jurídicos, elementos estes inseridos por cláusulas 
acessórias e que destinam-se à alteração de algum de seus elementos 
naturais. Elementos naturais são aqueles inerentes à própria natureza do 
negócio celebrado, como a entrega imediata de um bem após a celebração 
de um contrato de compra e venda, por exemplo. 
 São elementos acidentais do negócio jurídico: 
 a) Condição 
 Condição é o evento futuro e incerto que subordina a produção de 
efeitos do negócio jurídico. A condição só pode ser incluída em negócio 
jurídico por vontade das partes, sendo consideradas lícitas toas as 
condições que não forem contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons 
costumes. São vedadas as condições que privarem de todo efeito o negócio 
jurídico, ou que o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes. 
 Nos termos do artigo 123 do Código Civil, também são inválidos os 
negócios jurídicos que forem subordinados: 
 
23 
 i) as condições física ou juridicamente impossíveis, quando 
suspensivas; 
 ii) as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita; 
 iii) as condições incompreensíveis ou contraditórias. 
 Ainda sobre as condições não permitidas, estipula o artigo 124 do 
Código Civil, que reputam-se como inexistentes as condições impossíveis, 
quando resolutivas, e as de não fazer coisa impossível. 
 As condições, a teor do exposto, podem ser suspensivas ou 
resolutivas. 
 Condições suspensivas são as que retardam a produção de efeitos do 
negócio jurídico até que se implemente um determinado acontecimento. Por 
exemplo, a doação de um apartamento condicionada a conclusão de um 
curso de graduação. Nos termos do artigo 125 do Código Civil, enquanto 
não verificada a implementação da condição, não se adquire o direito a que 
o negócio visa conferir. Em outras palavras, no contexto do exemplo 
mencionado, concluída a graduação, efetiva-se a doação em benefício do 
graduado. 
 Se alguém dispuser de uma coisa que está sob condição suspensiva 
e, pendente esta, fizer quanto àquela novas disposições, estas não terão 
valor, realizada a condição, se com ela forem incompatíveis (art. 126, CC). 
 A prescrição, por exemplo, não corre enquanto pendente a condição 
suspensiva relacionada ao negócio jurídico respectivo. 
 Por sua vez, condições resolutivas são as que condicionam a extinção 
dos efeitos do negócio jurídico uma vez que se implementem. Por exemplo, 
o usufruto de um apartamento, condicionado ao tempo de duração de 
determinado curso de graduação. Nos termos do artigo 127 do Código Civil, 
enquanto não se realizar a condição, vigora o negócio jurídico, podendo-se 
exercer desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido. Em outras 
palavras, no contexto do exemplo citado, terminada a graduação, termina 
também o direito ao usufruto do apartamento. 
 Sobrevindo condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o 
direito a que ela se opõe, mas se aposta a um negócio de execução 
continuada ou periódica, a sua realização, salvo disposição em contrário, 
não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com 
a natureza da condição pendente e conforme os ditames da boa-fé (art. 128, 
CC). 
 A condição não pode ser operada de maneira maliciosa, seja ela 
suspensiva ou resolutiva, dispondo o artigo 129 do Código Civil que reputa-
se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for 
maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, 
ao contrário, não verificada a condição maliciosamente levada a efeito por 
aquele a quem aproveita o seu implemento. 
 Seja no caso de condição suspensiva, seja no caso de condição 
resolutiva, ao titular de direito eventual só é dado praticar atos destinados a 
conservação do objeto. 
 
 b) Termo 
 Termo é a indicação do momento em que se inicia, ou em que se 
encerra a produção de efeitos do negócio jurídico. Diferentemente da 
 
 
24 
condição, que é um evento futuro e incerto, o termo fixa um marco futuro e 
certo para produção de efeitos do negócio jurídico. Por exemplo, pode-se 
fixar uma data ou um acontecimento como marco para produção de efeitos 
de determinado negócio jurídico. 
 Estipula o artigo 131 do Código Civil, que o termo inicial suspende o 
exercício, mas não a aquisição do direito, enquanto que o artigo 135 dispõe 
que quanto ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as disposições 
relativas à condição suspensiva e resolutiva. 
 Via de regra, os prazos são computados excluindo-se o dia do 
começo e, incluindo-se o do vencimento. Se o dia do vencimento cair em 
feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o dia útil seguinte. 
 Nos testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos 
contratos, em proveito do devedor, exceto, quanto a esses, se do teor do 
instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício 
do credor, ou de ambos os contratantes (art. 133, CC). 
 
 c) Encargo 
 O encargo é a atribuição de um ônus à pessoa favorecida na relação 
negocial. O encargo não suspende a aquisição, tão pouco o exercício do 
direito, exceto quando expressamente imposto, pelo disponente, como 
condição suspensiva. Por exemplo, a doação de uma casa com o encargo 
de não se alterar a cor da fachada. 
 A cláusula que incluir encargo ilícito ou impossível será reputada 
como não escrita, salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, 
caso em que se invalida o negócio jurídico. 
 
 
1.3.1.4 Validade do negócio jurídico 
 
 Estando ausente algum elemento essencial do negócio jurídico, o 
mesmo poderá ser nulo ou anulável. Enquanto a nulidade absoluta é 
arguível a qualquer tempo, por qualquer pessoa ou pelo Ministério Público, 
não havendo que se falar em convalidação, a nulidade relativa é arguível 
apenas no limites dos prazos estabelecidos em lei, apenas pelos 
interessados, admitindo-se sua convalidação. 
 A declaração de nulidade absoluta produz efeitos retroativos (ex tunc), 
enquanto que a declaração de nulidade relativa produz efeitos a partir da 
respectiva decisão (ex nunc). 
 
 
1.3.1.5 Defeitos do negócio jurídico 
 
 A manifestação de vontade é elemento essencial à validade do 
negócio jurídico. Entretanto, essa manifestação de vontade pode ser 
maculada por determinados defeitos, quais sejam, erro, dolo, coação, estado 
de perigo, lesão de direito, fraude contra credores e simulação, os quais 
serão sequencialmente expostos. 
 
 
 
25 
a) Erro ou ignorância 
 O erro (ou a ignorância) é uma falsa noção sobre alguma coisa, sobre 
alguma pessoa ou sobre algum objeto, capaz de influenciar a manifestação 
de vontade do agente. A presença do erro torna anulável o negócio jurídico 
celebrado, desde que o erro seja substancial (art. 138, CC). Considera-se 
que o erro é substancial quando: 
 I) interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da declaração, 
ou a alguma das
qualidades a ele essenciais; 
 II) concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem 
se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo 
relevante; 
 III) sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for o 
motivo único ou principal do negócio jurídico. 
 Fora dessas hipóteses, o erro pode ser apenas acidental, caso em 
que não acarretará a anulabilidade do negócio jurídico. 
 O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a 
declaração de vontade, não viciará o negócio quando, pelo seu contexto e 
circunstâncias, for possível identificar a coisa ou a pessoa a que cogitava 
(art. 142). 
 Já o erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de 
vontade (art. 143, CC). 
 O erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, 
a quem a manifestação de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na 
conformidade com a vontade real do manifestante (art. 144, CC). 
 
 b) Dolo 
 O dolo é a intenção deliberada de uma parte enganar a outra, a qual 
apenas celebra o negócio jurídico em razão dessa falsa percepção da 
realidade. No que tange ao vício do negócio jurídico, o dolo pode ser dividido 
em: 
 b.1) dolus bonus, quando decorre da simples adjetivação exagerada 
de um produto, a qual não tem o condão de invalidar o negócio celebrado; e 
dolus malus, quando há intenção manifestamente ilícita, isto é, intenção de 
lesionar a parte contrária, a qual constitui causa de anulabilidade do negócio. 
 b.2) dolus causam, ou dolo principal, isto é, os negócios jurídicos que 
tem como causa de celebração o dolo, sendo, pois, anuláveis; e dolus 
incidens, ou dolo acidental, isto é, uma situação que leva o agente a celebrar 
o negócio jurídico em desvantagem, mas não como causa determinante à 
sua celebração, como ocorre no caso de dolo principal. Em outras palavras, 
o dolo acidental tem cunho acessório, pois não foi determinante à realização 
do negócio, o qual teria sido realizado, embora por outro modo. O dolo 
acidental não gera anulabilidade do negócio, mas obriga à satisfação das 
perdas e danos. 
 b.3) dolo positivo (ou comissivo), quando praticado mediante uma 
ação que induz artificialmente o agente a celebrar o negócio jurídico; e dolo 
negativo (ou omissivo), quando há omissão de informações que, se 
mencionadas, dariam causas a não celebração do negócio (art. 147, CC). 
 b.4) dolo de terceiro, passível de dar causa a anulação do negócio 
jurídico, desde que a parte a quem aproveite dele tenha ou devesse ter 
 
26 
conhecimento, mas, em caso contrário, ainda que subsista o negócio 
jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem 
ludibriou (art. 148, CC). 
 b.5) dolo do representante legal (pais em relação aos filhos, por 
exemplo), que só obriga o representado a responder civilmente até o limite 
da importância a que teve proveito. Entretanto, se o dolo for de 
representante convencional (constituição de representante mediante 
mandato), o representado responderá solidariamente como ele por perdas e 
danos. 
 b.6) dolo de ambas as partes, caso em que nenhuma delas poderá 
alegá-lo para anular o negócio ou para reclamar indenização. 
 
 c) Coação 
 A coação é a violência física ou moral que retira do agente a liberdade 
de atuação. Estipula o artigo 151 do Código Civil, que a coação, para que 
seja apta a viciar a declaração de vontade, deve gerar fundado temor de 
dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. 
Caso a ameça diga respeito a pessoa não pertencente a família do agente, 
caberá ao juiz decidir, consideradas as circunstâncias do caso, se houve ou 
não coação. 
 Não se considera coação a ameaça ao exercício normal de um direito, 
tão pouco o simples temor reverencial (art. 152, CC). 
 A coação pode ser exercida pela própria parte interessada, mas 
também pode ser praticada por terceiro, caso em que ambos responderão 
solidariamente por perdas e danos. No caso da coação ser praticada por 
terceiro, sem que a parte dela beneficiada tivesse conhecimento, subsiste o 
negócio jurídico, mas o terceiro responde por todas as perdas e danos que 
causou ao coacto. 
 
 d) Estado de perigo 
 O estado de perigo configura-se quando alguém, premido da 
necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano 
conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa (art. 
156, CC). Quando se tratar de pessoa não pertencente à família, a decisão 
caberá ao juiz, consideradas as circunstâncias do caso. 
 Quando alguém vende um bem por um preço vil, acometido do 
desespero de pagar um tratamento médico para um familiar, tal negócio será 
passível de anulação se provado o estado de perigo. 
 
 e) Lesão 
 A lesão configura-se quando uma pessoa, sob premente necessidade, 
ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional 
ao valor da prestação oposta. A desproporção das prestações devem ser 
apreciadas segundo os valores vigentes à época em que foi celebrado o 
negócio jurídico. 
 Nos termos do parágrafo segundo, do artigo 157, do Código Civil, não 
se decretará a anulação do negócio, se oferecido o suplemento suficiente, 
ou se a parte favorecida concordar com a redução do proveito. 
 
 
27 
 f) Fraude contra credores 
 A fraude contra credores é a conduta do devedor insolvente, ou na 
iminência da insolvência, que dilapida seu patrimônio com a finalidade de 
frustar credores e evitar possíveis execuções judiciais. 
 Estando o devedor na situação acima mencionada, são 
presumivelmente fraudulentos os negócios por ele praticados a título de 
transmissão gratuita de bens ou de remissão (perdão) de dívida. 
 Mas não apenas os contratos gratuitos, tendo o artigo 159, do Código 
Civil, estipulado que serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do 
devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para 
ser conhecida do outro contratante. 
 Podem alegar a fraude contra credores para obter a anulação dos 
negócios jurídicos celebrados pelo devedor, os credores quirografários e 
também os credores cuja garantia de crédito se torne insuficiente com a 
fraude praticada. 
 Nos termos do artigo 160 do Código Civil, se o adquirente dos bens 
do devedor insolvente ainda não tiver pago o preço e este for, 
aproximadamente, o preço de mercado, ficará desobrigado se o depositar 
em juízo, requerendo a citação de todos os interessados. Todavia, se o valor 
a ser pago for inferior ao de mercado, o adquirente, para conservar os bens, 
poderá depositar o preço que lhes corresponda ao valor real. 
 No caso de fraude contra credores, a ação a ser ajuizada é a 
denominada ação pauliana, que poderá ter, no pólo passivo, o devedor 
insolvente, a pessoa que com ele celebrou o negócio considerado 
fraudulento, ou terceiros adquirentes que tenham procedido de má-fé. Com a 
ação pauliana, o credor pode obter a anulação do negócio fraudulento e a 
reintegração de seu objeto ao patrimônio do devedor, para que possam os 
credores promover-lhe as competentes medidas executivas. 
 Anulados os negócios fraudulentos, a vantagem resultante reverterá 
em proveito do acervo sobre o qual se tenha de efetuar o concurso de 
credores (art. 165, CC). 
 É importante esclarecer, por derradeiro, que a fraude contra credores 
não se confunde com a fraude à execução. Enquanto a primeira é um 
instituto previsto pelo direito civil e que objetiva anular negociações 
fraudulentas e recompor o patrimônio do devedor para que apenas então 
obtenha-se a possibilidade de um processo executório frutífero, a segunda é 
um instituto previsto pelo processo civil, constitui ato atentatório à dignidade 
da justiça e se verifica quando o devedor dilapida seu patrimônio após o 
ajuizamento de uma demanda executiva. 
 
 g) Simulação 
 A simulação é a criação de uma aparência de direito, com a finalidade
de ludibriar terceiros e de escusar os contratantes da observância da lei. A 
simulação exige a declaração bilateral de vontade, ou seja, nesse caso não 
é uma das partes contratuais que sofrerá lesão, mais sim terceiros. 
 Por meio da simulação, podem as partes não realizar negócio algum, 
caso em que se diz que a simulação é absoluta, ou seja, o negócio 
celebrado é absolutamente aparente, sem qualquer correspondência prática; 
 
28 
mas também podem as partes celebrar negócio diferente do que aparentam 
ter contratado, quando se diz que a simulação é relativa. 
 Dispõe o artigo 167 do Código Civil que é nulo o negócio jurídico 
simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e 
na forma. Segundo aludido dispositivo, haverá simulação nos negócios 
jurídicos quando: 
 I) aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas 
daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem; 
 II) contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não 
verdadeira; 
 III) os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados. 
 Em todos os casos, ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé 
em face dos contraentes do negócio jurídico simulado. 
 
 
1.3.2 Atos jurídicos ilícitos 
 
 Acerca dos atos jurídicos ilícitos, melhor exposição será apresentada 
em capítulo próprio, destinado à responsabilidade civil. 
 
 
1.3.3 Prescrição e decadência 
 
 A prescrição relaciona-se a pretensão de exigibilidade de um direito, 
já a decadência se relaciona diretamente ao próprio direito. Tanto a 
prescrição como a decadência se relacionam com o decurso do tempo. A 
prescrição relaciona-se com o direito processual (de ação), basicamente, 
enquanto que a decadência macula o próprio direito material. 
 O prazo prescricional só pode ser fixado por lei, já o prazo 
decadencial pode ser fixado por lei ou por convenção entre as partes. 
 A prescrição pode ser objeto de renúncia, expressa ou tácita, a qual 
terá validade desde que não cause prejuízo a terceiro. Não se admite, 
também, a renúncia anterior ao término do prazo prescricional. A 
decadência, por sua vez, não admite renúncia. 
 Tanto a prescrição como a decadência podem ser alegadas em 
qualquer grau de jurisdição, e podem se reconhecidas a requerimento da 
parte ou de ofício, salvo no caso de decadência convencional (pactuada 
entre as partes), quando não tem cabimento sua declaração de ofício. 
 Estipula o Código Civil que não corre a prescrição: 
 a) entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal; 
 b) entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar; 
 c) entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante 
a tutela ou curatela; 
 d) contra os absolutamente incapazes; 
 e) contra os ausentes do País em serviço público da União, dos 
Estados ou dos Municípios; 
 f) contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo 
de guerra; 
 g) pendendo condição suspensiva; 
 
29 
 h) não estando vencido o prazo; e 
 i) pendendo ação de evicção. 
 Ainda, quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no 
juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença 
definitiva (art. 200). 
 A interrupção da prescrição é o recomeço da contagem do prazo, da 
data do ato que a interrompeu ou do último ato do processo para interrompe-
la. A teor do artigo 202 do Código Civil, a interrupção da prescrição pode 
ocorrer uma única vez e dar-se-á: 
 a) por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, 
se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual; 
 b) por protesto, nas condições do inciso antecedente; 
 c) por protesto cambial; 
 d) pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em 
concurso de credores; 
 e) por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor; 
 f) por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe 
reconhecimento do direito pelo devedor. 
 Via de regra, o prazo prescricional é de 10 (dez) anos, desde que a lei 
não haja fixado prazo menor. Excepcionando a regra, dispõe o artigo 206 do 
Código Civil que prescreve: 
 a) em 1 (um) ano: 
 a.1) a pretensão dos hospedeiros ou fornecedores de víveres 
destinados a consumo no próprio estabelecimento, para o pagamento da 
hospedagem ou dos alimentos; 
 a.2) a pretensão do segurado contra o segurador, ou a deste contra 
aquele, contado o prazo: 
 a.2.1) para o segurado, no caso de seguro de responsabilidade civil, 
da data em que é citado para responder à ação de indenização proposta 
pelo terceiro prejudicado, ou da data que a este indeniza, com a anuência do 
segurador; 
 a.2.2) quanto aos demais seguros, da ciência do fato gerador da 
pretensão; 
 a.3) a pretensão dos tabeliães, auxiliares da justiça, serventuários 
judiciais, árbitros e peritos, pela percepção de emolumentos, custas e 
honorários; 
 a.4) a pretensão contra os peritos, pela avaliação dos bens que 
entraram para a formação do capital de sociedade anônima, contado da 
publicação da ata da assembléia que aprovar o laudo; 
 a.5) a pretensão dos credores não pagos contra os sócios ou 
acionistas e os liquidantes, contado o prazo da publicação da ata de 
encerramento da liquidação da sociedade. 
 b) em 2 (dois) anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a 
partir da data em que se vencerem. 
 c) em 3 (três) anos: 
 c.1) a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos; 
 c.2) a pretensão para receber prestações vencidas de rendas 
temporárias ou vitalícias; 
 
30 
 c.3) a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações 
acessórias, pagáveis, em períodos não maiores de um ano, com 
capitalização ou sem ela; 
 c.4) a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa; 
 c.5) a pretensão de reparação civil; 
 c.6) a pretensão de restituição dos lucros ou dividendos recebidos de 
má-fé, correndo o prazo da data em que foi deliberada a distribuição; 
 c.7) a pretensão contra as pessoas em seguida indicadas por violação 
da lei ou do estatuto, contado o prazo: 
 c.7.1) para os fundadores, da publicação dos atos constitutivos da 
sociedade anônima; 
 c.7.2) para os administradores, ou fiscais, da apresentação, aos 
sócios, do balanço referente ao exercício em que a violação tenha sido 
praticada, ou da reunião ou assembléia geral que dela deva tomar 
conhecimento; 
 c.7.3) para os liquidantes, da primeira assembléia semestral posterior 
à violação; 
 c.8) a pretensão para haver o pagamento de título de crédito, a contar 
do vencimento, ressalvadas as disposições de lei especial; 
 c.9) a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro 
prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. 
 d) em 4 (quatro) anos, a pretensão relativa à tutela, a contar da data 
da aprovação das contas. 
 e) em 5 (cinco) anos: 
 e.1) a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de 
instrumento público ou particular; 
 e.2) a pretensão dos profissionais liberais em geral, procuradores 
judiciais, curadores e professores pelos seus honorários, contado o prazo da 
conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato; 
 e.3) a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu 
em juízo. 
 Por fim, quanto a decadência há que se mencionar que não se 
aplicam as normas que impedem, suspendem ou interrompem o curso de 
seu prazo, salvo disposição legal em contrário. 
 
 
2. DIREITO DAS OBRIGACÕES 
 
 O direito obrigacional inaugura a Parte Especial do Código Civil. 
Obrigação é o vínculo jurídico (patrimonial) estabelecido entre sujeitos, que 
tem por objeto um bem ou serviço. 
 Segundo Washington de Barros Monteiro, obrigação é um relação 
jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo 
objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, 
devida pelo primeiro ao segundo,
garantindo-lhe o adimplemento através do 
seu patrimônio (1997, p.8). 
 As obrigações sempre envolvem prestações recíprocas. A figura do 
credor representa aquele que recebe o bem ou serviço e, em troca remunera 
o devedor, que é assim chamado por possuir o dever de prestar o serviço ou 
 
31 
entregar o bem pactuado. Como se percebe, para o emprego dos termos 
credor e devedor, tem-se por ótica a obrigação. Credores e devedores o são, 
portanto, em relação a obrigação. No direito obrigacional os termos credor e 
devedor não adotam a ótica remuneratória, caso em que o credor seria 
aquele que tem quantia a receber, isto é, aquele que deve realizar a 
obrigação, enquanto que devedor seria o que tem o dever de por ela pagar, 
isto é, aquele que recebe a obrigação. 
 A natureza da prestação obrigacional pode ser positiva, isto é, de 
entregar ou fazer algo, mas também pode ser negativa, isto é, de abstenção 
de algo. 
 Nesse contexto, há que se apresentar os três elementos que compõe 
as obrigações: 
 a) elemento pessoal (ou subjetivo): os sujeitos ativo (credor) e passivo 
(devedor); 
 b) elemento material (ou objetivo): o objeto da obrigação, que consiste 
em uma prestação lícita e possível; e 
 c) vínculo jurídico: o nexo de co-relação entre os sujeitos 
obrigacionais. 
 
 
2.1 Classificações 
 
 As classificações atribuídas às obrigações exigem atenção especial 
do candidato a exames públicos, dado a frequência com que são objeto de 
questionamento. 
 a) Obrigação de dar 
 A obrigação de dar consiste na entrega de algo, que pode ser certo ou 
incerto. 
 
 a.1) Obrigação de dar coisa certa 
 Perante a obrigação de dar coisa certa, o devedor se obriga a 
entregar ao credor objeto determinado e individualizado. A obrigação de dar 
coisa certa abrange seus acessórios, salvo se o contrário resultar do título 
ou das circunstâncias do caso. 
 Se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou 
pendente a condição suspensiva, a obrigação ficará resolvida para ambas as 
partes. Entretanto, se a perda tiver ocorrido por culpa do devedor, ele 
responderá pelo equivalente mais perdas e danos (art. 234, CC). 
 Se houver deterioração da coisa sem culpa do devedor, o credor pode 
resolver a obrigação, ou pode aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor 
que perdeu. Entretanto, se a deterioração tiver ocorrido por culpa do 
devedor, o credor pode exigir seu equivalente, ou aceitar a coisa no estado 
em que se encontrar, tendo o direito, em ambos os casos, de ser indenizado 
por perdas e danos. 
 Quanto aos frutos, estipula o parágrafo único do artigo 237, do Código 
Civil, que os frutos percebidos são do devedor, sendo os pendentes do 
credor. 
 Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta se perder antes da 
tradição, sem culpa do devedor, o credor sofrerá a perda, e a obrigação se 
 
32 
resolverá, excetuados seus direitos adquiridos até o dia da perda (art. 238, 
CC). Entretanto, se a coisa se perder por culpa do devedor, ele responderá 
pelo equivalente, mais perdas e danos. 
 Se a obrigação for de restituir, e a coisa se deteriorar sem culpa do 
devedor, o credor irá recebê-la no estado em que se encontrar, sem direito a 
indenização. Entretanto, se a deterioração ocorreu por culpa do devedor, 
este responderá pelo equivalente, mais perdas e danos. 
 
 a.2) Obrigação de dar coisa incerta 
 Perante a obrigação de dar coisa incerta, o devedor se compromete a 
entregar ao credor prestação que era genérica no início da relação, mas que 
se determinou no momento do pagamento, por um ato de escolha. É este 
ato de escolha que individualiza e determina a coisa a ser entregue ao 
credor. Antes da escolha, a obrigação é de dar coisa incerta, e, após, é de 
dar coisa certa (art. 245, CC). 
 Estipula o artigo 243 do Código Civil, que a coisa incerta deve ser 
indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. Via de regra, o direito de 
escolha pertence ao devedor, mas nada impede que se pactue que tal direito 
seja exercido pelo credor. 
 Quanto a escolha, vige a regra da ponderação, isto é, o devedor não 
precisa escolher o objeto de melhor qualidade para entregar ao credor, mas 
também não pode escolher o de pior qualidade, nos termos do artigo 244 do 
Código Civil. 
 É importante memorizar que, antes da escolha, o devedor não pode 
alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por caso fortuito ou força 
maior (art. 246, CC). 
 
 b) Obrigação de fazer 
 De conteúdo positivo, a obrigação de fazer consiste na prática de um 
ato ou de um serviço, por parte do devedor. Pactuado o cumprimento de 
obrigação de fazer, se o devedor se recusar de cumpri-la, deverá indenizar o 
credor por perdas e danos. Entretanto, se a obrigação se tornar impossível 
de ser cumprida, sem culpa do devedor, restará resolvida. 
 Quando o devedor se recusar ou estiver em mora quanto ao 
cumprimento do ato ou serviço, e o mesmo puder ser realizado por terceiro, 
o credor poderá mandar que este o execute à custa do devedor, sem 
prejuízo da indenização cabível (art. 249, CC). Em caso de urgência, o 
credor pode, independentemente de autorização judicial, executar ou 
mandar executar o ato ou serviço, sendo ressarcido posteriormente. 
 
 c) Obrigação de não fazer 
 De caráter negativo, a obrigação de não fazer consiste na abstenção 
de ato. Por exemplo, quando um locador exige do locatário que não tenha 
animais no apartamento locado, nada mais se está a fazer do que a 
pactuação de uma obrigação de não fazer. 
 Caso o devedor pratique o ato a que se havia comprometido a não 
praticar, estará em inadimplência. Se a prática de ato ocorreu sem culpa do 
devedor, extingue-se a obrigação. Entretanto, se praticado pelo devedor 
voluntariamente, o credor pode exigir que o devedor o desfaça, sob pena de 
 
 
33 
ser desfeito à sua custa, ressarcindo o culpado perdas e danos (art. 251). 
Em caso de urgência, o credor pode desfazer ou mandar desfazer, 
independentemente de autorização judicial, sem prejuízo do ressarcimento 
devido. 
 
 d) Classificação quanto ao objeto: 
 d.1) obrigações simples, ou seja, quando os elementos da obrigação 
são unitariamente identificados, isto é, há um credor, um devedor e um 
objeto. 
 d.2) obrigações compostas (ou complexas), isto é, quando há 
pluralidade de um, alguns ou de todos os elementos da obrigação, isto é, 
pluralidade de credores e/ou devedores e pluralidade de objetos. Em 
havendo pluralidade de objetos, há que se apresentar duas subdivisões: 
 d.2.1) obrigações conjuntas (ou cumulativas), são aquelas em que 
todos os objetos pactuados devem ser entregues pelo devedor ao credor; e 
 d.2.2) obrigações alternativas, são aquelas em que vários objetos são 
previstos como possíveis à extinção da obrigação, mas o cumprimento de 
apenas um deles é suficiente. Quanto ao cumprimento das obrigações 
alternativas, dispõe o artigo 252 do Código Civil, que cabe ao devedor o 
direito de escolha, exceto se o contrário se estipulou. Não é permitido ao 
devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em 
outra. 
 No caso de pluralidade de pessoas com a possibilidade de opção 
acerca da prestação a ser cumprida, em não havendo unanimidade, caberá 
ao juiz decidir. Da mesma forma, se a faculdade de escolha tiver sido 
atribuída a terceiro, e este não quiser, ou não puder exercê-la, caberá ao juiz 
a escolha se não houver acordo entre as partes. 
 Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se 
tornar inexequível, subsistirá o débito quanto a outra (art. 253, CC). Mas, se 
pode culpa do devedor nenhuma das prestações puder ser cumprida, não 
competindo a escolha ao credor, ficará aquele obrigado a pagar o valor da 
prestação que por último se impossibilitou, mais perdas e danos. 
 Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações se tornar 
impossível por culpa do devedor, o credor terá
o direito de exigir a prestação 
subsistente ou o valor da outra, mais perdas e danos. Se, no entanto, o 
devedor der causa à perda de todas as prestações, o credor pode reclamar 
o valor de qualquer delas, mais perdas e danos (art. 255, CC). 
 Naturalmente, se todas as prestações se tornarem impossíveis sem 
culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. 
 
 e) Obrigações divisíveis e indivisíveis 
 A divisibilidade da obrigação presume sua possibilidade de 
fracionamento e, consequentemente, a possibilidade de sua execução ser 
diferida no tempo, isto é, uma obrigação divisível pode se resolver 
instantaneamente, mediante a entrega do objeto e o pronto exaurimento de 
seu conteúdo, mas também pode se resolver periodicamente, isto é, em 
parcelas de execução. 
 As obrigações indivisíveis, por não comportarem fracionamento, 
também não comportam a execução periódica, o que é com elas 
 
34 
incompatível. A indivisibilidade de um objeto pode decorrer de sua própria 
natureza, mas também pode ser fundada em motivo de ordem econômica, 
ou em função de causa determinante do negócio jurídico. 
 Nos termos do artigo 257 do Código Civil, havendo mais de um 
devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se 
dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou 
devedores. 
 As obrigações indivisíveis, ao contrário, são únicas. Em havendo dois 
ou mais devedores em uma obrigação indivisível, cada um fica obrigado pelo 
todo. Aquele que paga a dívida em nome dos demais, sub-roga-se no direito 
do credor em relação aos outros coobrigados. Já se a pluralidade for de 
credores, cada um destes poderá exigir a dívida inteira, caso em que o(s) 
devedor(es) se desobrigarão, pagando: 
 I) a todos conjuntamente; ou 
 II) a um, dando este caução de ratificação dos outros credores. 
 Quando um só credor recebe a dívida toda, cada um dos demais tem 
o direito de exigir a parte que lhes cabe. 
 Se um dos credores perdoar (remitir) a dívida, a obrigação se mantém 
em relação aos demais, os quais deverão descontar a quota do credor 
remitente quando receberem o objeto. 
 Convertida a obrigação originariamente indivisível em perdas e danos, 
ela perde seu caráter de indivisibilidade. Se todos os devedores deram 
causa à perda do objeto, todos responderão por partes iguais, mas de um só 
for a culpa, ficarão exonerados os outros, respondendo só esse pelas perdas 
e danos. 
 
 f) Obrigações solidárias 
 O instituto da solidariedade se faz presente em obrigações com 
pluralidade de sujeitos, seja de credores, de devedores, ou de ambos. Há 
solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou 
mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado à dívida toda (art. 
264, CC). 
 A solidariedade não se presume, ou resulta da vontade legal ou é 
convencionada por vontade das partes. Silente a contratação e nada 
dispondo a lei, não há que se falar em solidariedade. 
 f.1) Solidariedade Ativa 
 A solidariedade ativa é aquela formada pelo conjunto de credores da 
obrigação, o que confere a cada um, individualmente, o direito a exigir do 
devedor o cumprimento da prestação por inteiro. Se apenas um ou alguns 
credores solidários demandaram o devedor comum, este pode pagar a 
qualquer outro que ainda não o tenha feito. 
 O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até 
o montante do que foi pago (art. 269, CC). Se um dos credores solidários 
falecer e deixar herdeiros, cada um destes só terá direito a exigir e receber a 
quota do crédito que corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a 
obrigação for indivisível, caso em que há não possibilidade de 
fracionamento. 
 Ainda que a prestação seja convertida em perdas e danos, a 
solidariedade subsiste para todos os efeitos (art. 271, CC). 
 
35 
 O credor que perdoar (remitir) a dívida ou que receber o pagamento 
responderá aos outros pela parte que lhes caiba (art. 272, CC). 
 Se o devedor possuir exceções pessoais com relação a um credor, 
não poderá opô-las aos demais, a teor do que dispõe o artigo 273 do Código 
Civil. 
 O julgamento contrário a desfavor de um dos credores solidários não 
atinge os demais, já o julgamento favorável aproveita-lhes, a menos que 
fundado em exceção pessoal ao credor que o obteve (art. 274, CC). 
 
 f.2) Solidariedade Passiva 
 A solidariedade passiva obriga a qualquer dos devedores, 
individualmente, ao pagamento da integralidade da dívida. 
 Ao credor é dado o direito de exigir e receber de um ou de alguns dos 
devedores, parcial ou totalmente, a dívida comum. No caso de pagamento 
parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo 
restante. 
 A propositura de ação pelo credor em face de um ou alguns dos 
devedores não importa em renúncia da solidariedade (art. 275, parágrafo 
único, Código Civil). 
 No caso de falecimento de um dos devedores solidários, se ele deixar 
herdeiros, estes serão obrigados apenas ao pagamento da quota que 
corresponder ao seu quinhão hereditário, salvo se a obrigação for indivisível. 
Nesse caso, todos reunidos serão considerados como um devedor solidário 
em relação aos demais devedores. 
 O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele 
obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da 
quantia paga ou relevada (art. 277, CC). 
 Qualquer estipulação contratual entre um dos devedores solidários e 
o credor, seja através de cláusula, condição ou obrigação adicional, não tem 
o condão de agravar a posição dos outros devedores, salvo se estes 
consentirem. 
 Se por culpa de um dos devedores a prestação tornar-se impossível, 
subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente, mas pelas perdas e 
danos só responde o culpado (art. 279, CC). Todos os devedores 
respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta 
somente contra um, mas o culpado responde aos outros pela obrigação 
acrescida. 
 A exceções pessoais opostas por um devedor não aproveitam aos 
demais. 
 É dado ao credor a faculdade de renunciar à solidariedade em favor 
de um, de alguns ou de todos os devedores. Se o fizer em favor de um ou de 
alguns, a solidariedade subsistirá quanto aos demais. 
 O devedor que satisfaz a dívida por inteiro tem o direito de exigir de 
cada um dos co-devedores a sua quota. Em havendo um devedor 
insolvente, sua quota será igualmente dividade por todos, presumindo-se 
iguais, no débito, as partes de todos os co-devedores. No caso de rateio 
entre os co-devedores, contribuirão também os exonerados da solidariedade 
pelo credor, pela parte que na obrigação incumbia ao insolvente (art. 284, 
CC). 
 
36 
 Caso a dívida solidária interesse exclusivamente a um dos devedores, 
responderá este por toda ela para com aquele que pagar. 
 
 g) Classificação quanto aos sujeitos: 
 g.1) obrigação única, isto é, aquela que conta apenas com um credor 
e um devedor; 
 g.2) obrigação múltipla, isto é, aquela em que concorrem vários 
credores e/ou vários devedores. A obrigação múltipla pode ser conjunta, isto 
é, aquela em que cada titular responde ou tem direito apenas a sua quota 
parte, ou, solidária, isto é, aquela em que cada titular responde ou tem 
direito a integralidade da prestação. 
 
 h) Obrigações de meio, isto é, aquelas em que o devedor tem o dever 
de empregar todos os métodos possíveis ao alcance de determinado 
objetivo, mas sem que com este se comprometa, em razão de fatores 
alheios a sua vontade. Por exemplo, as atividades do médico e do 
advogado. 
 
 i) Obrigações de resultado, isto é, aquelas que o devedor se obriga a 
entregar o resultado prometido e pré-determinado. Por exemplo, um pintor 
que celebra contrato para pintura de uma residência. Na obrigação de 
resultado, o devedor será exonerado da responsabilidade se provar que a 
falta do resultado previsto decorreu de caso fortuito ou força

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