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Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 1 de 9 APELAÇÃO CÍVEL Nº 1264143-9, DE REALEZA - JUÍZO ÚNICO APELANTE: EDGAR FERNANDO RUFATO APELADO: INDÚSTRIA DE MÓVEIS NOTÁVEL LTDA RELATOR: DES. CLAYTON CAMARGO RELATOR CONVOCADO: JUIZ SUBST. 2º G. VICTOR MARTIM BATSCHKE APELAÇÃO CÍVEL. VIOLAÇÃO DE DESENHO INDUSTRIAL. “CONFIGURAÇÃO APLICADA A RACK”. CONTRAFAÇÃO NÃO CONFIGURADA. AMBAS AS PARTES DETÉM O REGISTRO DO DESENHO INDUSTRIAL. ARTIGO 109 DA LEI 9.279/96. INPI NÃO ASSINALOU IDENTIDADE ENTRE OS DESENHOS NEGANDO PROVIMENTO AO PROCESSO ADMINISTRATIVO DE NULIDADE. PRETENSÃO INDENIZATÓRIA IMPROCEDENTE. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO CONHECIDO E NÃO PROVIDO. VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº 1.264.143-9 da Juízo Único de Realeza, em que é Apelante EDGAR FERNANDO RUFATO e Apelado INDÚSTRIA DE MÓVEIS NOTÁVEL LTDA. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 2 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 2 I. RELATÓRIO Trata-se de Apelação Cível manejada em face da sentença proferida nos autos de Ação Ordinária de Abstenção de Uso sob o nº 0001106-29.2009.8.16.0141 em que o juízo a quo julgou improcedentes os pedidos formulados na inicial, extinguindo o feito com resolução do mérito. Entendeu o juízo que o Autor não é detentor da exclusividade na exploração do desenho industrial da “configuração aplicada em rack”, diante da existência de registro de desenho anterior ao registro nº DI 6703548-5, o que da mesma forma causaria danos a terceiros como o detentor do Desenho Industrial nº 6805463-7 de Valdecir Moreira Fernandes. Condenou ainda o Autor/Apelante ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios que arbitrou em R$ 3.000,00 (três mil reais), nos termos do artigo 20, §4º do Código de Processo Civil. A parte Apelante EDGAR FERNANDO RUFATO sustenta em suas razões recursais que a decisão merece reforma, na medida em que a pretensão inicial do Autor/Apelante é coibir a prática de concorrência desleal pela exploração indevida do desenho industrial registrado, o qual não corresponde ao registro obtido pela Ré/Apelada. Afirma que a sentença está em contradição com o Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 3 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 3 ordenamento jurídico, pois se omitiu com relação às conclusões tomadas pela prova técnica que “aproximação da solução RACK PÉROLA da requerida em comparação ao DI6703548-5 do Autor”. Também opõe-se em face do valor de R$ 3.000,00 (três mil reais) fixado a título de honorários advocatícios, pois não está em conformidade com o artigo 20, §3º do Código de Processo Civil. Por fim, requer seja reformada a sentença para que os pedidos da Apelante sejam julgados procedentes. II. FUNDAMENTAÇÃO Presentes os pressupostos de admissibilidade intrínsecos (legitimidade, interesse, cabimento e inexistência de fato impeditivo ou extintivo) e extrínsecos (tempestividade, preparo e regularidade formal), conheço do recurso e passo à análise do mérito. O recurso manejado por EDGAR FERNANDO RUFATO pretende a reforma da sentença para que a Apelada seja compelida a se abster de comercializar o objeto “RACK PÉROLA” que constitui imitação do registro de desenho industrial DI 6703548-5 de sua titularidade. Não obstante os argumentos apresentados pelo Autor/Apelante entendo que a solução da controvérsia não pode ser Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 4 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 4 outra senão aquela adotada pelo Juízo a quo na sentença de fls. 478/481. Primeiramente, é importante destacar que na legislação anterior, o desenho industrial somente era protegido através da patente, mas com a Lei 9.279/96, o desenho industrial passou a ser disciplinado no Título II e pode ser definido nas palavras de Gabriel Di Blasi1: [...] é um tipo de criação intelectual que envolve tanto características funcionais quanto estéticas em um mesmo objeto. De acordo com a Organização Mundial da Propriedade Intelectual – OMPI, os desenhos industriais são o ponto de encontro entre arte e tecnologia, uma vez que desenhistas se empenham em criar produtos cujas formas e aparência satisfaçam as preferências estéticas dos consumidores, bem como suas expectativas com relação à performance funcional do produto. Assim, a controvérsia aqui instaurada refere-se à suposta violação ao desenho industrial registrado por EDGAR FERNANDO RUFATO que se define como “configuração aplicada em rack”. 1 DI BLASI, Gabriel. A propriedade industrial: os sistemas de marcas, patentes, desenhos industriais e transferência de tecnologia. Rio de Janeiro: Forense, 2010. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 5 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 5 Nos termos do artigo 109 da Lei 9.279/96, adquire-se a propriedade do desenho industrial a partir do registro validamente concedido no INPI. O desenho industrial de titularidade do Apelante foi devidamente registrado sob o nº DI 6703548-5 em 15/07/2008 (fls. 39). Já desenho licenciado para a Apelada DI 6805463-7 foi concedido em 29/12/2009 e, segundo a decisão do INPI no processo de nulidade do registro instaurado pelo Apelante, o desenho possui novidade e originalidade com relação ao DI 6703548-5, razão pela qual foi mantido o registro explorado pela Apelada (fls. 452/455). Portanto, é evidente que o titular do registro industrial tem o direito de impedir a fabricação ou comercialização do produto registrado quando não houver seu consentimento. No entanto, para que seja concedida a tutela inibitória pretendida e a respectiva indenização, faz-se necessária a demonstração das violações ao registro. In casu, não foram demonstradas as referidas violações à propriedade industrial, de forma a caracterizar a contrafação do desenho industrial de titularidade do Apelante, sobretudo porque a parte Apelada possui o registro do desenho industrial por ela comercializado consoante o certificado DI 6805463-7 que também se trata de configuração aplicada em móvel tipo rack”(fls. 111/118). Logo, obviamente não é possível limitar a utilização de um desenho industrial devidamente registrado no órgão administrativo competente. Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 6 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 6 Conclui-se que não há qualquer direito à indenização por suposta contrafação ao desenho industrial do Apelante, ainda que depositado em momentoanterior ao depósito do Apelado, porque ambos foram devidamente registrados pelo INPI, o que afasta inclusive a tese de imitação. Nesse sentido, já decidiu esta Corte de Justiça: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO SOB O RITO ORDINÁRIO - PROPRIEDADE INDUSTRIAL - DESENHO INDUSTRIAL - REQUISITOS LEGAIS NÃO PREENCHIDOS - AUSÊNCIA DE NOVIDADE - INTELIGÊNCIA DO DISPOSTO NOS ARTIGOS 95, 96 E 97 DA LEI DE PROPRIEDADE INDUSTRIAL - LEI Nº 9.279/96 1. Inexistindo novidade e originalidade no produto levado a registro perante o Instituto Nacional de Propriedade Industrial não há que se falar em proteção ao desenho industrial. 2. Apelação desprovida. (TJPR - 7ª C.Cível - AC - 751622-9 - Maringá - Rel.: Guilherme Luiz Gomes - Unânime - - J. 17.05.2011) PROPRIEDADE INDUSTRIAL - DIREITO DE PATENTE DE MODELO DE UTILIDADE REGISTRADO PELA AUTORA - PLACA DE PROTEÇÃO PARA PIA - AÇÃO ORDINÁRIA DE PRECEITO COMINATÓRIO CUMULADA COM INDENIZAÇÃO - ALEGAÇÃO DE CONTRAFAÇÃO - REGISTRO SUPERVENIENTE DE DESENHO INDUSTRIAL FEITO PELA RÉ - CALHA DE ENCOSTO PARA PIAS - IDENTIDADE DE PRODUTOS NÃO CONFIGURADA - PRETENSÃO JULGADA IMPROCEDENTE - SENTENÇA Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 7 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 7 CONFIRMADA - RECURSO DESPROVIDO. (TJPR - 17ª C.Cível - AC - 331436-9 - Realeza - Rel.: Paulo Roberto Hapner - Unânime - - J. 19.04.2006). As características visuais externas no molde de titularidade do Apelado são similares a aquelas apresentadas pelo DI 6703548-5 da Apelante como concluiu a perícia técnica (fls. 323/359). Logo, há similaridade entre os desenhos das partes, mas conforme ponderado pelo sr. Perito: “(...) pode-se afirmar que também não há novidade e originalidade no desenho industrial do requerente em relação aos desenhos industriais anteriores encontrados (...)”. Assim, embora sustente o Apelante que a perícia concluiu pela existência de similaridade entre os desenhos industriais, não entendo seja caso de reformar a sentença, sobretudo porque, pelo princípio da não adstrição do juiz ao laudo pericial, o julgador não está vinculado à prova pericial realizada, nos termos do artigo 436 do Código de Processo Civil. Com efeito, compartilho do entendimento do juízo de 1º Grau que o móvel comercializado pela Apelada possui design distinto, sendo que o próprio INPI não assinalou identidade quando do pedido de registro, negando provimento ao Processo Administrativo de Nulidade instaurado pela Apelante (fls. 472). Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 8 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 8 Assim, não restou comprovada a contrafação. Destaco que o Apelante não se desincumbiu do seu ônus, ou seja, comprovar a existência da imitação substancial, interpretação do artigo 333, inciso I do Código de Processo Civil. Ressalto que o artigo 187 da Lei 9.279/96 reza que acarreta contrafação fabricar, sem autorização do titular, produto que incorpore desenho industrial registrado, ou imitação substancial que possa induzir em erro ou confusão. Portanto, não prospera a pretensão inicial do Apelante a contrafação ocorre apenas quando a imitação substancial puder confundir ou induzir em erro o consumidor e, também quando o suposto contrafeitor não possuir o registro do desenho, o que não ocorre no caso. Ressalta-se que juízo estadual não pode negar proteção a uma marca, patente ou desenho registrados, mesmo que diante de notória semelhança, com fundamento apenas na aparente invalidade do registro não suscitada perante a Justiça Federal, consoante artigo 57 da Lei 9.279/96. Por fim, a verba honorária sucumbencial deve ser arbitrada com fundamento no § 4°, do artigo 20, do Código de Processo Civil, ressaltando que não há vinculação aos percentuais mínimo e máximo previstos no § 3º do mencionado artigo. Assim, considerando a natureza da demanda, o trabalho realizado pelo advogado, bem como o tempo exigido para solução da causa, Documento assinado digitalmente, conforme MP n.° 2.200-2/2001, Lei n.° 11.419/2006 e Resolução n.° 09/2008, do TJPR/OE O documento pode ser acessado no endereço eletrônico http://www.tjpr.jus.br Página 9 de 9 Apelação Cível nº 1.264.143-9 fls. 9 entendo que o valor arbitrado pelo juízo a quo está de acordo com o disposto na legislação processual. Pelo exposto, entendo que é caso de manter sentença de 1º Grau, razão pela qual conheço e nego provimento ao recurso de Apelação. III - DECISÃO: Diante do exposto, acordam os Julgadores da 7ª Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, conhecer e NEGAR PROVIMENTO AO RECURSO DE APELAÇÃO, nos termos do voto do Relator. Presidiu a sessão o Eminente Desembargador LUIZ SÉRGIO NEIVA DE LIMA VIEIRA (Revisor-com voto), e participou do julgamento, o Eminente Desembargador D’ARTAGNAN SERPA SÁ, ambos acompanhando o voto do Relator. Curitiba, 12 de maio de 2015. VICTOR MARTIM BATSCHKE RELATOR CONVOCADO
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