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Curso de Imunologia Clínica MÓDULO IV Atenção: O material deste módulo está disponível apenas como parâmetro de estudos para este Programa de Educação Continuada, é proibida qualquer forma de comercialização do mesmo. Os créditos do conteúdo aqui contido são dados aos seus respectivos autores descritos na Bibliografia Consultada. 71 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores MÓDULO IV 6. DOENÇAS RELACIONADAS AO SISTEMA DO COMPLEMENTO O sistema complemento é parte fundamental da imunidade inata contribui na remoção de complexos imunes e na ativação de processos inflamatórios. Essas proteínas representam um meio rápido e eficiente de proteção do hospedeiro contra microorganismos invasores. Associações entre complemento e doenças são observadas em situações de deficiência do complemento, anormalidades na regulação do complemento e nas inflamações. Ativação imprópria ou excessiva do complemento pode levar a conseqüências lesivas em virtude da grave destruição tecidual inflamatória. Evidências clínicas e experimentais ressaltam o papel do complemento na patogênese de inúmeras doenças inflamatórias, que incluem não apenas doenças por imune-complexos e auto-imunes, como também falência de órgãos subseqüentes a sepses, traumas múltiplos e queimaduras. O polimorfismo genético tem sido descrito para diversos componentes de membrana, proteínas solúveis de controle e receptores do sistema complemento. Atualmente, o polimorfismo dos componentes do complemento pode ser estudado usualmente, tanto pela pesquisa fenotípica das variantes protéicas (fenotipagem) como pela caracterização genômica do DNA (genotipagem), e tem contribuído para o entendimento da patogênese de diferentes enfermidades causadas pela desregularão do sistema complemento. Doenças imunológicas estão associadas às variantes alotípicas do complemento, em particular lúpus eritematoso sistêmico, artrite reumatóide, esclerose múltipla, doença celíaca, deficiência de IgA e IgG4, entre outras. 7. DOENÇAS AUTO-IMUNES A doença auto-imune é a situação médica na qual se desenvolve uma doença a partir de uma agressão do organismo contra elementos constitutivos normais, através de 72 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores anticorpos. Uma proteína normal do corpo, por exemplo, é reconhecida como estranha. Contra ela o sistema imune desencadeia uma inflamação, buscando eliminá-la. Doenças desta estirpe surgem quando a resposta imune é efetuada contra alvos existentes no próprio indivíduo. As respostas auto-imunes são freqüentes, porém transitórias e reguladas, entretanto, a auto-imunidade como causadora de doença não é freqüente, uma vez que existem mecanismos que mantém um estado de tolerância com relação às moléculas do próprio organismo. As doenças auto-imunes têm etiopatonogênese complexa e multifatorial. Imagine um time de futebol atacado por um surto enlouquecedor, em que os jogadores saem marcando gol desvairadamente contra a própria equipe. É isso o que o corpo faz quando acometido por doenças auto-imunes. O sistema de defesa do organismo (sistema imunológico) deixa de reconhecer o próprio corpo e, em vez de combater apenas substâncias estranhas (partículas virais, bactérias e fungos), passa a atacar células ou tecidos saudáveis do organismo. Não é à toa que as doenças auto-imunes tanto assustam. De início, o paciente tem dificuldade para compreender que, além de vítima, é "autor" desse mecanismo de agressão. Já os médicos também não compreendem por que as células de defesa do corpo perdem o controle, ou seja, a causa das doenças auto-imunes, as quais também não têm cura. A incidência da doença duplicou nos últimos 40 anos. E também não se sabe por que, mas há quem acredite que este aumento esteja relacionado com o aprimoramento nos diagnósticos e à precisão dos testes laboratoriais. O fato é que, só nos EUA são 50 milhões de pessoas por ano diagnosticadas com uma doença desse tipo. Em todo o mundo, médicos e pesquisadores presumem que ela chegue a atingir de 15% a 20% da população, e as maiores vítimas são mulheres. E o que mais se sabe com certeza? Que existem, reconhecidos pela medicina, 30 tipos de doenças auto-imunes. Cada uma destas doenças auto-imunes tem seus respectivos sintomas e atinge um órgão diferente (Quadro 2). Alguns estudos revelam que as doenças infecciosas é que afetariam o funcionamento do sistema imunológico. Por exemplo, na febre reumática, sabe-se que o organismo ataca células do coração, porque as confunde com um aminoácido presente na bactéria estreptococo. 73 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Embora existam várias hipóteses acerca do desenvolvimento das doenças auto- imunes sabe-se que, para desenvolver uma doença auto-imune, são necessárias três condições. A primeira é ter predisposição genética para a doença. Outro requisito é o problema ser desencadeado por um fator do ambiente externo, como exposição ao sol ou a uma situação estressante. E a terceira é o desequilíbrio das células do sistema imunológico. Além disso, quem tem uma doença auto-imune tem maior chance de desenvolver outras do mesmo gênero. Doenças mediadas por células T Diabetes mellitus dependente de insulina Lupus eritematoso sistêmico Tiroidite de Hashimoto Artrite reumatóide Nefrite, vasculite, artrite Artrite Diabetes (Hiperglicemia) Hipotiroidismo Doenças mediadas por imunocomplexo Deposição de imunocomplexo Linfócitos Th1, macrófagos Linfócitos T Linfócitos T, macrófagos, anti- tireoglobulina Antígenos nucleares entre outros Desconhecida Células b do pâncreas Antígenos tiroidianos Aspectos clínicos Mecanismos efetores Especificidade Esclerose múltipla Uveíte autoimune Oftalmia Paralisia Linfócitos Th1, macrófagos Linfócitos Th1, macrófagos Antígenos da úvea Mielina Aspectos clínicos Mecanismos efetores Especificidade Doenças mediadas por células T Diabetes mellitus dependente de insulina Lupus eritematoso sistêmico Tiroidite de Hashimoto Artrite reumatóide Nefrite, vasculite, artrite Artrite Diabetes (Hiperglicemia) Hipotiroidismo Doenças mediadas por imunocomplexo Deposição de imunocomplexo Linfócitos Th1, macrófagos Linfócitos T Linfócitos T, macrófagos, anti- tireoglobulina Antígenos nucleares entre outros Desconhecida Células b do pâncreas Antígenos tiroidianos Aspectos clínicos Mecanismos efetores Especificidade Esclerose múltipla Uveíte autoimune Oftalmia Paralisia Linfócitos Th1, macrófagos Linfócitos Th1, macrófagos Antígenos da úvea Mielina Aspectos clínicos Mecanismos efetores Especificidade Principais doenças auto-imunes mediadas por linfócitos T, imuno-complexos e mediadas por anticorpos Quadro 2.Principais doenças auto-imunes mediadas por linfócitos T, imuno-complexos e mediadaspor anticorpos Quadro 2. 74 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Anemia hemolítica autoimune Pênfigo vulgar Síndrome de Goodpasture Penfigóide bolhoso Púrpura trombocitopênica autoimune Nefrite, proteinúria, hemorragias pulmonares Hemólise, anemia Trombocitopenia, hemorragias Diminuição da adesão entre queratinócitos (vesículas cutâneas) Descolamento de células epidérmicas (vesículas cutâneas) Doenças mediadas por autoanticorpos Complemento, neutrófilos Fagocitose, lise Fagocitose Anticorpos que estimulam proteases epiteliais Ruptura da junção dermoepidérmica Colágeno tipo IV (membrana basal) Proteínas da membrana do eritrócito Proteínas da membrana das plaquetas Junções intercelulares das células epidérmicas Proteínas da membrana basal epidérmica Aspectos clínicos Mecanismos efetores Especificidade Doença de Graves Anemia Perniciosa Miastenia gravis Debilidade muscular Hipertiroidismo Eritropoiese anormal (deficiência de vitamina B12)l Bloqueio ou modulação do receptor Estimulação do receptor Neutralização do fator intrínseco Receptor da acetilcolina Receptor do TSH Fator intrínseco Anemia hemolítica autoimune Pênfigo vulgar Síndrome de Goodpasture Penfigóide bolhoso Púrpura trombocitopênica autoimune Nefrite, proteinúria, hemorragias pulmonares Hemólise, anemia Trombocitopenia, hemorragias Diminuição da adesão entre queratinócitos (vesículas cutâneas) Descolamento de células epidérmicas (vesículas cutâneas) Doenças mediadas por autoanticorpos Complemento, neutrófilos Fagocitose, lise Fagocitose Anticorpos que estimulam proteases epiteliais Ruptura da junção dermoepidérmica Colágeno tipo IV (membrana basal) Proteínas da membrana do eritrócito Proteínas da membrana das plaquetas Junções intercelulares das células epidérmicas Proteínas da membrana basal epidérmica Aspectos clínicos Mecanismos efetores Especificidade Doença de Graves Anemia Perniciosa Miastenia gravis Debilidade muscular Hipertiroidismo Eritropoiese anormal (deficiência de vitamina B12)l Bloqueio ou modulação do receptor Estimulação do receptor Neutralização do fator intrínseco Receptor da acetilcolina Receptor do TSH Fator intrínseco (continuação) Principais doenças auto-imunes mediadas por linfócitos T, imuno-complexos e mediadas por anticorpos Quadro 2. (continuação) Principais doenças auto-imunes mediadas por linfócitos T, imuno-complexos e mediadas por anticorpos Quadro 2. 75 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 8. DOENÇAS LINFOPROLIFERATIVAS Algumas anormalidades congênitas nas respostas imunológicas são cada vez mais reconhecidas à medida que os nossos conhecimentos aumentam sobre a base molecular da ativação dos linfócitos. Estas doenças afetam tanto os linfócitos B como os linfócitos T, e estão associadas com o aumento exagerado da imunidade humoral ou mediada por células, respectivamente. Muitas doenças linfoproliferativas envolvem seletivamente um ou alguns tipos de anticorpos. A síndrome de hiper IgM ligada ao cromossomo X é um distúrbio raro que está associado ao reposicionamento defectivo dos linfócitos B para os isotipos de IgA e IgG. Estes anticorpos estão ausentes nesta síndrome e, portanto ocorre um aumento compensatório na produção de IgM. O defeito é causado por mutações no gene que codifica o ligante CD40 (molécula co-estimuladora da ativação de linfócitos B). Nesta síndrome comumente ocorre a deficiência na produção de IgA, que acomete cerca de 1 em cada 700 indivíduos. As características clínicas são variáveis, onde muitos pacientes se mostram totalmente normais, enquanto que outros apresentam infecções respiratórias e diarréias ocasionais. Raramente alguns pacientes apresentam infecções recorrentes e graves, que levam a lesões intestinais e das vias respiratórias permanentes, com distúrbios auto-imunes associados. Quando ocorre a deficiência na produção de IgG, geralmente está ligada a deficiência na produção de uma ou mais subclasses. É mais comum encontrar defeito na produção da subclasse de IgG3. E a deficiência da subclasse de IgG2 está associada à deficiência de IgA. Alguns indivíduos com estas deficiências apresentam infecções bacterianas recorrentes, mas muitos não apresentam quaisquer problemas clínicos. A deficiência seletiva de subclasses de IgG geralmente ocorre pela diferenciação anormal dos linfócitos B e raramente por deleções homozigóticas de vários genes da região constante da molécula da imunoglobulina. Entre os linfócitos T a ocorrência de doenças linfoproliferativas é rara, mas quando ocorrem, os defeitos estão associados às moléculas necessárias para ativação e 76 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores função dos linfócitos T. Exemplos incluem comprometimento na expressão ou função do complexo TCR causadas por mutações ou falta da expressão dos receptores de citocinas. 9. DEFICIÊNCIAS IMUNOLÓGICAS A integridade do sistema imunológico é essencial para a defesa contra microorganismos infecciosos e seus produtos tóxicos, portanto, para a sobrevivência de todos os indivíduos. Defeitos em um ou mais componentes do sistema imunológico podem levar a distúrbios graves, e muitas vezes fatais, tais distúrbios são chamados de deficiências imunológicas (ou imunodeficiências). As imunodeficiências têm como causa principal a susceptibilidade aumentada para as infecções e certos tipos de tumores. Estas doenças são classificadas, grosso modo, em deficiências imunológicas congênitas (primárias) e deficiências imunológicas adquiridas (secundárias). As deficiências primárias são defeitos genéticos que resultam em uma maior susceptibilidade para infecções que se manifestam com freqüência na infância. No entanto, as deficiências secundárias desenvolvem-se como seqüência de desnutrição, câncer disseminado, tratamento com drogas imunossupressoras ou infecções virais (como, HIV). 10. ALERGIAS Alergia é uma reação hipersensível, imunologicamente mediada por anticorpos ou linfócitos T contra um antígeno estranho (alérgeno). O alérgeno é um termo geral usado para descrever algo que causa uma reação alérgica. Os alérgenos são proteínas minúsculas encontradas em certas substâncias. Alguns alérgenos são transportados pelo ar, enquanto outros são encontrados em alimentos. Devido ao alérgeno ser ambiental (estranho ao corpo), a pele e o trato respiratório são os órgãos mais freqüentemente afetados. As hipersensibilidades alérgicas podem também afetar a vasculatura, o trato gastrointestinal e outros órgãos viscerais. Uma alergia pode se referir a vários tipos de reações imunológicas, na qual o organismo da pessoa desenvolve anticorpos contra proteínas típicas. Os sinais e 77 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores sintomas das alergias são caracterizados pela resposta inflamatória local ou sistêmica aos alérgenos. Os sintomas locais são,inchaço da mucosa nasal (rinite alérgica), vermelhidão e coceira da conjuntiva (conjuntivite alérgica), broncoconstrição seguida de uma respiração difícil, dispnéia e algumas vezes ataques de asma. Pode ainda, ser representado por várias erupções como eczema, urticária e dermatite de contato. A resposta alérgica sistêmica também é chamada de anafilaxia. A anafilaxia é a forma mais extrema de uma reação hipersensível alérgica de caráter sistêmico. E dependendo da severidade, ela pode causar reações cutâneas, broncoconstrição, edema, hipotensão, coma e até morte. Provavelmente, o fator mais importante no tratamento de pessoas com alergia seria não expô-la a fonte dos alérgenos do ambiente e evitar lugares onde o contato com alérgenos fosse inevitável (terapia de fuga) (Quadro 3). Quadro 3. Terapia de fuga ou renovação TERAPIA DE FUGA OU REVOGAÇÃO Esta é uma das terapias mais importantes e mais efetiva. Terapia de fuga significa ficar longe de substâncias que tem potencial alérgeno, é um controle ambiental, principalmente no lar da pessoa. Estas substâncias são: pólens - (seu nível no ar depende da temperatura e da velocidade do vento). A liberação de polens no ar ocorre mais pela manhã; animais - se a alergia é leve, apenas não deixe o animal (cão ou gato) ficar em sua cama ou sofá. Se a alergia é mais forte, você deve retirar o animal de casa; poeira de casa - colchão e travesseiro devem ser encapados com um material à prova de ácaros. O ambiente não pode conter carpetes, e as cortinas devem ser lavadas constantemente. Além das proteínas alheias encontradas em transfusões de sangue e vacinas, os alérgenos mais comuns são: pólens de plantas, esporos de mofo, drogas (penicilina), sulfonamidas, anestésicos, salicilatos, alimentos (nozes, frutos do mar, gergelim, clara de ovo, alguns legumes, soja, leite, trigo, milho ou maizena), picada de inseto e pêlos de animais. 78 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores As três medidas básicas para o controle dos alérgenos são: encapar colchões e travesseiros com capas de proteção, limpar constantemente os cômodos sem usar produtos com cheiro forte ou aparelhos à base de água e, finalmente, retirar o excesso de objetos, como livros, bichos de pelúcia, brinquedos, etc. Usar acaricidas, purificadores de ar com filtro e desumidificadores (quando a umidade estiver acima de 60%). Evitar o mofo nas paredes ou armários e manter sempre o quarto muito arejado. A hipersensibilidade mais comum é a do tipo I, que é caracterizada pela ativação excessiva de mastócitos pela IgE (Figura 30), e leva a uma resposta inflamatória sistêmica que pode resultar desde sintomas benignos, como escorrimento do nariz, a sintomas graves, como choques anafiláticos. E o tratamento pode variar de temporário até prolongados por toda a vida. Alergeno Alergeno + Grânulos inflamatórios Mastócito Alergeno Alergeno + Grânulos inflamatórios Mastócito Representação do processo de degranulação de um mastócito após contato com o alérgeno com as IgE. Fig. 30.Representação do processo de degranulação de um mastócito após contato com o alérgeno com as IgE. Fig. 30. 79 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os testes específicos para IgE (cutâneo e in vitro) revelam uma resposta imune a um alérgeno particular. Um exame positivo deve ser correlacionado com uma história de exposição a este alérgeno. O teste cutâneo produz uma ferida pruriginosa e quente, sendo máxima em 15-20 minutos após a inoculação. É usado mais freqüentemente para diagnosticar doenças alérgicas do aparelho respiratório (rinite e asma), mas pode ser também usado para casos suspeitos de alergia alimentar ou a drogas e hipersensibilidade à picada de insetos. Os alérgenos usados no teste são extraídos de polens, animais e fungos, selecionados de acordo com a área geográfica do paciente. Nenhuma droga antialérgica pode ser usada antes do teste, porque pode atrapalhar a sua realização. Este teste é mais sensível do que o in vitro, porque demonstra a presença de IgE nos tecidos e sua atividade biológica. É muito importante (e muito usado) quando se quer saber se a pessoa está ou não alérgica à penicilina. O teste in vitro detecta anticorpos IgE no soro por radioalergoabsorvente (RAST) ou pelo ELISA. É menos sensível, mas é muito utilizado para fins de diagnóstico. Não é afetado por anti-histamínicos. É um método que detecta particularmente IgE contra toxinas alergênicas específicas. O Quadro 4 mostra os tipos de reações hipersensíveis associadas com os sintomas. 80 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Quadro 4. Classificação dos distúrbios de hipersensibilidade TIPO I - HIPERSENSIBILIDADE MEDIADA PELA IGE (IMEDIATA) Anticorpos IgE ocupam receptores em mastócitos. Dentro de poucos minutos de exposição ao alérgeno um antígeno multivalente se junta a IgE, e ativa a desgranulação dos mastócitos. Mediadores pré-formados ou formados na hora são liberados, e causam vasodilatação, contração do músculo liso visceral, estimulação da secreção de muco pelas glândulas do corpo, aumento da permeabilidade vascular. Mediadores do ácido aracdônico, citocinas e outras proteínas induzem a fase tardia da resposta inflamatória que ocorre algumas horas depois. Existem 2 subgrupos de alergias IgE - mediada. A. ATOPICA É o grupo de doenças (rinite alérgica, asma, dermatite, gastroênteropatia alérgica) que ocorre em certas pessoas com uma tendência hereditária a desenvolver anticorpos IgE contra múltiplos órgãos envolvidos com antígenos ambientais. B.ANAFILAXICA Certos alérgenos (especialmente drogas, picada de insetos, látex e alimentos) podem induzir à resposta mediada pela IgE, causando uma generalizada liberação de mediadores pelos mastócitos que resulta numa anafilaxia sistêmica. Esta é caracterizada por hipotensão ou choque pela vasodilatação total, broncoespasmo, contração uterina e gastrointestinal, urticária ou angioedema. É uma condição potencialmente fatal e pode afetar pessoas com alergia atópica ou não. Urticária e angioedema são formas cutâneas da anafilaxia muito comuns, e tem o melhor prognóstico. TIPO II - HIPERSENSIBILIDADE MEDIADA POR ANTICORPO (CITOTÓXICA) A reação citotóxica envolve uma reação entre IgG ou IgM contra antígeno aderido à célula (do órgão afetado). Isso tipicamente resulta em ativação da cascata do complemento e destruição da célula, a qual o antígeno está aderido. Um exemplo é a anemia hemolítica ou doença hemolítica do recém nascido. 81 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores TIPO III - HIPERSENSIBILIDADE MEDIADA POR IMUNOCOMPLEXO Anticorpos IgG ou IgM podem formar complexos com o alérgeno e este imunocomplexo se deposita nos tecidos e pode ativar o complemento. Com concentração similar de anticorpo e alérgeno, a reação de Arths, uma resposta inflamatória cutânea e subcutânea, ocorre da mesma forma que doença do soro (uma doença sistêmica caracterizada por febre, artralgias e dermatites).TIPO IV - HIPERSENSIBILIDADE TARDIA MEDIADA POR CÉLULAS T A manifestação mais comum deste tipo é a dermatite de contato, no qual o alérgeno causa inflamação na derme por contato direto com a pele. A reação ocorre depois de um período latente de 1-2 dias. A pneumonite hipersensível ou alveolite alérgica é uma doença pulmonar mediada por células T. Quadro 2 (continuação). Classificação dos distúrbios de hipersensibilidade 11. TUMORES O tumor é causado por um erro genético. A todo o momento, o corpo humano produz células defeituosas. No organismo sadio, estas células tumorais são destruídas por proteínas. O tumor só vinga quando um erro na estrutura do RNA impede a síntese das proteínas defensoras. Na ausência dessa barreira natural, as células tumorais se multiplicam em velocidade assustadora, muito superior à do restante das células do organismo. Se nada for feito contra o avanço da doença, as células tumorais criam uma rede de vasos sangüíneos para garantir a própria nutrição. As células tumorais espalham-se, num processo chamado, metástase. As células doentes migram pelas veias e vasos linfáticos, contaminando órgãos e tecidos vizinhos. Fixam-se nos ossos e vísceras, como pulmões e fígado. No tumor há um colapso da imunidade e resistência do organismo. O fato dos tumores crescerem está relacionado com a eficiência dos processos de imunidade. Assim, se o sistema imunológico encontra-se "desequilibrado", a probabilidade do desenvolvimento da doença aumenta. Como o sistema imunológico é também controlado 82 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores pelo sistema límbico, podemos acreditar que o paciente com câncer apresenta todo um conjunto de elementos psicossomáticos. Três pesquisadores em 1987 constataram que o lado psicológico da doença é tão importante quanto o físico e o biológico. Estudaram um grupo de 40 mulheres sem sintomas, mas com teste de papanicolau denotando predisposição ao tumor. Tentaram prever as que desenvolveriam a doença, com base em entrevistas e testes de personalidade. Previram que o câncer de colo de útero iria ocorrer naquelas em que detectaram fortes sentimentos de desesperança ao longo da vida e/ou como reação a perdas recentes e significativas. Acertaram em cerca de 75% dos casos. Supõe-se que o câncer de mama tem a ver com a vivência, pela mulher, de relações conjugais empobrecidas e insatisfatórias. Com base nesta informação vários trabalhos científicos mostram que há uma clara relação entre a eclosão do tumor e situações de perda, levando à depressão. O perfil psicológico do paciente também é importante quando consideramos a evolução da doença. Mesmo aqueles que negam a importância do psiquismo no desencadear da doença concordam que, sua evolução seja influenciada pela personalidade do doente, sua maior ou menor resistência psíquica e ainda por sua maior ou menor disposição de lutar pela vida. Aqueles que renunciam e se entregam evoluem mal e morrem logo. Os que têm atitudes positivas, força de vontade e objetivos na vida, evoluem melhor, vivem mais e podem até curar-se. Ou, mesmo que venham a morrer, o período entre o conhecimento da doença e sua morte será não só maior como também melhor, em termos de bem-estar e qualidade de vida. 12. TOLERÂNCIA E REGULAÇÃO IMUNOLÓGICA A tolerância imunológica é definida como a não resposta a um determinado antígeno, induzida pela exposição prévia a este antígeno. Quando linfócitos específicos encontram os antígenos, o linfócito seria ativado iniciando uma resposta imunológica a contra este antígeno, mas estes linfócitos ficam inertes (sem ação) pelo processo de tolerância imunológica. 83 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Os antígenos que apresentam a capacidade de induzir tolerância são chamados de tolerógenos, ou antígenos tolerogênicos, para distingui-los dos imunógenos que geram resposta. A forma mais comum de gerar tolerância é frente a antígenos próprios e o processo é chamado de autotolerância (propriedade fundamental do sistema imune). Todos os indivíduos herdam essencialmente os mesmos genes para receptores de antígenos, e estes genes são expressos nos linfócitos após diferenciação na medula óssea. A necessidade da manutenção da tolerância ao próprio é considerada fundamental desde os primeiros dias da imunologia. O conceito de discriminação entre o próprio e não próprio é habilidade do sistema imune. A tolerância ao próprio é mantida por diferentes mecanismos a fim de evitar uma reação imune contra o próprio. Se ocorrer alguma falha na tolerância o resultado seria uma reação imunológica contra estruturas próprias, chamadas de autoimunidade. Alguns antígenos estranhos são administrados por vias que inibem a resposta imune e induzem a tolerância em linfócitos. E esta indução de tolerância imunológica pode ser explorada em abordagens terapêuticas para prevenir uma resposta indesejável. A tolerância ao próprio pode ocorrer nos órgãos linfóides primários como conseqüência de uma reação de linfócitos imaturos que reconhecem os antígenos próprios. Esta tolerância é chamada de tolerância central. A tolerância também pode ocorrer nos sítios periféricos como resultado de uma reação de linfócitos maduros que podem encontrar os antígenos próprios sob condições especiais. Esta tolerância é chamada de tolerância periférica. Os principais mecanismos da tolerância de linfócitos são: i) indução de morte celular por apoptose, chamada de eliminação clonal (deleção), ii) inativação funcional sem a morte celular, chamada de anergia e iii) supressão da ativação e função efetora dos linfócitos. 84 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores 13. IMUNIZAÇÕES No século XVIII, Edward Jenner descobriu a vacina anti-varíola, a primeira que se tem registro. Através de uma experiência ele mostrou que, ao inocular uma secreção purulenta de alguém com a doença em outra pessoa saudável, a pessoa saudável desenvolvia sintomas muito mais brandos e tornava-se imune à patologia em si. Ele desenvolveu a vacina a partir de outra doença, a cowpox (tipo de varíola que acometia as vacas), pois percebeu que as pessoas que ordenhavam as vacas desenvolviam imunidade à varíola humana. Conseqüentemente, a palavra vaccina, que em latim, significa “de vaca”, por analogia, passou a designar todo o inóculo dotado de ação antigênica. A partir deste fato na história da imunologia a vacinação tornou-se uma prática comum sendo utilizada como medida estratégica de bloqueio diante da ameaça de surtos e epidemias. As vacinas são produtos biológicos que servem para a imunização contra diversas doenças causadas por vírus e bactérias, também conhecidos como microorganismos, ou seja, organismos tão pequenos que só podem ser vistos pelo microscópio. Os imunobiológicos (ou vacinas) são feitos com os próprios microorganismos que causam as doenças, sendo estes atenuados ou parcialmente utilizados. Desta forma, ao tomar a vacina, a pessoa não desenvolve a doença, mas forma anticorpos contra ela e fica imunizado, caso haja um contato posterior com o micróbio ativo. As instituições do mundo inteiro vêm investindo crescentemente nos processos de pesquisa e desenvolvimento de novas vacinas. As vacinas são mais úteis e mais efetivasno controle de doenças infecto-contagiosas do que o uso de medicamentos para sua cura, além de serem um método mais barato para controle da saúde pública. No Brasil, a vacinação foi responsável pela erradicação da varíola e da poliomielite (paralisia infantil). As vacinas são administradas mediante um calendário básico e são oferecidas gratuitamente nos postos de vacinação de todo o país ou por equipes de vacinadores que levam periodicamente os produtos a áreas de difícil acesso e ainda, em algumas ocasiões, são realizadas campanhas de vacinação (Quadro 5). 85 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores Quadro. 5. Calendário de vacinação Ao nascer BCG - ID VHB - contra hepatite B Tuberculose Hepatite B 1 mês VHB - contra hepatite B Hepatite B 2 meses DPT - (tríplice bacteriana) OPV - (Sabin) Hib - contra Haemophilus influenzae tipo b Difteria, tétano e coqueluche Poliomielite (paralisia infantil) Meningite e outras infecções causadas pelo Hib. 4 meses DPT - (tríplice bacteriana) OPV - (Sabin) Hib - Haemophilus influenzae tipo b Difteria, tétano e coqueluche Poliomielite (paralisia infantil) Meningite e outras infecções causadas pelo Hib. 6 meses DPT - (tríplice bacteriana) OPV - (Sabin) Hib - Haemophilus influenzae tipo b VHB - contra hepatite B Difteria, tétano e coqueluche Poliomielite (paralisia infantil) Meningite e outras infecções causadas pelo Hib. Hepatite B 9 meses VSPG - contra sarampo FA - contra febre amarela Sarampo Febre amarela 15 meses DPT - (tríplice bacteriana) OPV - (Sabin) SRC - tríplice viral Difteria, tétano e coqueluche Poliomielite (paralisia infantil) Sarampo, rubéola e caxumba 6 - 10 anos BCG - ID Tuberculose 10 – 11 anos dT - (dupla adulto) FA - contra febre amarela Difteria e tétano Febre amarela No pós-parto e pós-aborto imediatos VCR - rubéola monovalente RS - dupla viral ou tríplice viral (SRC) Rubéola e SR congênita Sarampo, rubéola e caxumba Mais de 120 milhões de doses de vacinas foram produzidas em Bio-Manguinhos, cerca de 60% da demanda nacional das vacinas. Duas grandes linhas regem as atuais 86 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores atividades de desenvolvimento do Instituto: atualização das tecnologias e introdução de vacinas combinadas. Dentro da perspectiva do desenvolvimento de produtos baseados na tecnologia do DNA, Bio-Manguinhos fez, nos últimos anos, uma opção tecnológica da maior importância para a FIOCRUZ com o investimento em projetos voltados para a produção de proteínas recombinantes em células eucarióticas e procarióticas para o desenvolvimento de vacinas de DNA. O domínio dessas promissoras tecnologias é imprescindível para o país, particularmente dentro do moderno contexto do desenvolvimento de vacinas e reagentes, pois essas tecnologias dominarão o desenvolvimento e a produção de imunobiológicos neste novo século. É importante ressaltar que a capacitação interna de Bio-Manguinhos vem abrindo uma janela de oportunidades e cooperação para a instituição, tanto nas vacinas bacterianas quanto nas recombinantes. A vacina contra a tuberculose (BCG - Bacilo de Calmette-Guérin) é elaborada a partir de uma bactéria atenuada de origem bovina (Mycobacterium bovis), que é semelhante ao microorganismo causador da doença (Mycobacterium tuberculosis). A BCG não impede a infecção e nem o desenvolvimento da tuberculose pulmonar, mas pode conferir certo grau de proteção para a meningite tuberculósica para as formas disseminadas da doença. O uso da BCG, que é bastante controverso, basicamente restringe-se aos países de maior prevalência da doença. No Brasil a BCG está no Calendário Básico de Vacinação e sua aplicação é feita por via intradérmica no primeiro mês de vida. A indicação de doses subseqüentes de BCG na profilaxia da tuberculose ainda mais desprovida de comprovação científica quanto à eficácia. Não é recomendada a aplicação desta vacina em adultos. Após aplicação intradérmica da vacina é esperado o aparecimento de uma pápula ("pequeno caroço") avermelhada no local da aplicação em 2 a 6 semanas. Esta pápula pode atingir até 3 mm ao final da sexta semana e, a partir daí, regredir até desaparecer, deixando uma pequena cicatriz. Os eventos adversos mais comumente associados a BCG ocorrem no local de aplicação da vacina. Em até 10% dos vacinados, ocorre formação de uma lesão ulcerada de cicatrização lenta (meses). É possível também a ocorrência de aumento dos gânglios linfáticos, em especial na cadeia axilar próxima ao local de aplicação que, por vezes, 87 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores evolui para supuração (produção de pus), exigindo intervenção terapêutica. Podem ocorrer manifestações sistêmicas (febre, cansaço, cefaléia, dores musculares). As reações alérgicas graves (anafilaxia) são raras. A BCG está contra-indicada em indivíduos que tenham apresentado reação alérgica grave a dose prévia da vacina ou a seus componentes. É absolutamente contra- indicada em pessoas imunodeficientes, mesmo quando assintomáticas. É prudente adiar a vacinação em indivíduos com doença aguda grave ou crônica descompensada. A profilaxia contra o sarampo (Measles), caxumba (Mumps) e rubéola (Rubella) pode ser feita com a MMR (SRC ou "tríplice viral"). Trata-se de uma suspensão de vírus vivos atenuados e veiculados em um meio estéril, destinada à aplicação por via intramuscular ou subcutânea. A administração simultânea destes componentes é tão eficaz (>95%) quanto o uso de cada vacina isolada, com a vantagem de reduzir o número de aplicações. A vacina que foi utilizada na campanha, que teve como população alvo mulheres entre 15 e 29 anos, foi a "dupla viral" (sarampo e caxumba). A MMR deve ser administrada preferencialmente após o primeiro ano de vida, no intuito de minimizar uma possível interferência na resposta ao estímulo vacinal do sarampo por anticorpos maternos, adquiridos passivamente pela criança durante a gestação. No calendário básico de vacinação está prevista a aplicação da MMR para crianças em duas doses, a primeira aos doze meses e a segunda entre 4 e 6 anos. A vacina também está disponível nos centros municipais de saúde para adolescentes e adultos (mulheres até 49 anos e homens até 39 anos). A difteria ("crupe") é uma doença imunoprevinível e potencialmente fatal, causada pela toxina produzida por uma bactéria, o Corynebacterium diphtheriae. A difteria que pode acometer pessoas susceptíveis (não adequadamente vacinadas) de qualquer idade e não apenas as crianças, como era mais comum antes da utilização sistemática da vacina. A transmissão se faz de pessoa a pessoa, através de gotículas de secreção respiratória contendo a bactéria (e eventualmente secreção de lesões cutâneas). A bactéria causadora da difteria pode ser encontrada na garganta (orofaringe) e também na pele de pessoas contaminadas (doentes ou não). A maioria das pessoas portadoras da bactéria não apresenta qualquer manifestação da doença (portadores sãos). Como não é possível detectar todos os portadores sãos, para controlar a disseminação da doença, é essencial que toda a população seja adequadamente 88 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo destePrograma. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores vacinada, independente da idade. Cabe ressaltar que como a difteria não confere imunidade, os doentes também precisarão ser vacinados para a proteção futura. Todas as vacinas antidiftéricas são produzidas a partir da toxina diftérica inativada que atua como antígeno que estimula a produção de anticorpos. Além disso, contém timerosal (Mertiolate®) como estabilizador, hidróxido de alumínio como adjuvante vacinal. É importante ressaltar que existem preparações diferentes da vacina dupla (vacina contra tétano e difteria) para crianças e adultos, que diferem na quantidade de toxóide diftérico. A dT (para adultos) contém relativamente menos toxóide diftérico o que reduz significativamente as reações a este componente nos adultos (na verdade indicada para os maiores que sete anos). No esquema básico de vacinação na infância começa no primeiro ano de vida. E é feito com três doses de DTP (vacina contra difteria, tétano e coqueluche, adequada para crianças), aos dois, quatro e seis meses, seguindo-se de um reforço aos 15 meses e outro entre quatro e seis anos de idade. A partir daí, a cada dez anos, deve ser feito um reforço com dT, para assegurar proteção adequada. A vacina contra a febre amarela é elaborada com o vírus vivo atenuado, sendo produzida inclusive no Brasil (Rio de Janeiro). Em 95% das pessoas o efeito protetor (imunidade) ocorre uma semana após a aplicação. Confere imunidade por, pelo menos, 10 anos (provavelmente por toda a vida). Pode ser utilizada a partir dos 9 meses de idade e é aplicada por via subcutânea na região deltóidea (braço). O Ministério da Saúde, desde 1998, está intensificando a vacinação contra a febre amarela (anti-amarílica), que está incluída nos calendários de vacinação. A gripe é uma doença infecciosa, transmissível, causada pelo vírus influenza. É transmitida de uma pessoa para outra por via respiratória com extrema facilidade, causando febre, coriza, tosse seca, dor de garganta, dor de cabeça e dor no corpo. As pessoas idosas e as portadoras de doenças crônicas têm maiores risco de complicações como a pneumonia, o que pode tornar necessário à internação hospitalar. A vacinação contra a gripe reduz o risco de infecção com o vírus influenza. A vacina mais comumente utilizada é a injetável, que é elaborada a partir de vírus influenza cultivados em ovos de galinha. A vacina tem componentes de várias cepas do vírus influenza, inativados e fracionados. Além disto, existem na sua composição 89 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores pequenas quantidades de timerosal (Mertiolate®) e de neomicina (um antibiótico). É importante ressaltar que, por ser produzida com vírus inativado, a vacina pode ser administrada com segurança em pessoas com deficiência do sistema imunológico e se administrada em gestantes, não representa risco para o feto. A vacina antipneumocócica reduz o risco de infecções graves causadas pelo Streptococcus pneumoniae ("pneumococo"). Esta bactéria é causa comum de infecções respiratórias (otite, sinusite, pneumonia), e também pode ocasionar infecções generalizadas (meningite, sepse). A vacina protege contra as formas mais graves de doença (pneumonia, meningite e sepse). Além disso, diminui a transmissão do S. pneumoniae de uma pessoa para outra, o que é importante em asilos para idosos (ou ambientes semelhantes). A vacinação ocorre preferencialmente em pessoas com mais de 60 anos, principalmente se residirem em asilos ou casas de apoio a idosos. Além de pessoas com mais de 2 anos que apresentem condições que predisponham (direta ou indiretamente) às infecções pneumocócicas recorrentes, particularmente às formas graves, como: esplenectomia (cirúrgica ou funcional, como na anemia falciforme), deficiência de imunoglobulinas, neoplasias malignas, AIDS, fístula liquórica, doenças pulmonares (enfisema, brônquite crônica, bronquiectasias), insuficiência cardíaca, renal ou hepática, diabetes e alcoolismo. A vacina atualmente em uso é produzida com os 23 sorotipos do S. pneumoniae que causam doenças com mais freqüência. Além disso, entra na sua composição, como conservante, pequena quantidade de fenol. A poliomielite é uma doença infecciosa causada pelo poliovírus (sorotipos 1, 2 e 3), que pode determinar paralisia flácida (permanente ou transitória) ou óbito. A infecção é mais comum em crianças ("paralisia infantil"), mas também ocorre em adultos. As vacinas disponíveis, Sabin (oral, com vírus atenuado) e Salk (injetável, com vírus inativado), produzem imunidade contra os três sorotipos do poliovírus e têm eficácia comparável. A Sabin é a vacina utilizada em imunizações de rotina no Brasil. Os indivíduos que recebem a Sabin eliminam os vírus junto com as fezes por cerca de seis semanas, o que pode levar a uma "vacinação" secundária de outras pessoas. A vacina oral Sabin contra a poliomielite não deve ser utilizada em pessoas com imunodeficiência (inclusive portadores assintomáticos de HIV). Os indivíduos com 90 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores imunodeficiência, além do risco maior de poliomielite vacinal, podem eliminar o vírus pelas fezes por períodos prolongados (meses, anos), o que facilita a ocorrência de mutação ("reversão") e constitui um risco para pessoas não vacinadas. Em uma situação de baixa cobertura vacinal na população, o vírus vacinal mutante pode levar a uma epidemia de poliomielite, como já ocorreu no Egito (1983-1993) e, atualmente, ocorre na República Dominicana e no Haiti. O risco de transmissão da varicela (catapora) existe em qualquer lugar do mundo, especialmente nas áreas urbanas com grandes aglomerados populacionais. É uma infecção altamente transmissível, e por este motivo, a maioria das pessoas adultas já teve varicela e, portanto, está imune à doença. A vacina contra a varicela foi desenvolvida no Japão no início dos anos 70, mas apenas em meados da década de 90 passou a ser mais amplamente utilizada nos países ocidentais. É produzida a partir do vírus varicela-zóster atenuado e é altamente eficaz. Uma única dose da vacina (via subcutânea) resulta em proteção em 97 % de crianças até 13 anos. Resultados semelhantes são obtidos em pessoas maiores de 13 anos com a aplicação de duas doses da vacina. A vacina contra a varicela tem custo relativamente elevado. No Brasil, a vacina ainda não faz parte do calendário básico definido pelo Programa Nacional de Imunizações (PNI), não estando disponível nos centros de saúde para uso geral, mas pode ser encontrada na rede privada. Na rede pública está disponível apenas nos centros de referência para imunobiológicos especiais (CRIE), exclusivamente com indicação médica, para vacinação de susceptíveis (não imunes). A vacinação também reduz o risco de infecções graves e em situações de desastres, como inundações, há uma demanda natural da população por medidas que possam minimizar os efeitos e os riscos decorrentes. As ações para minimizar os riscos de infecções e de suas possíveis conseqüências devem ser imediatas e efetivas. É essencial que as populações atingidas tenham acesso: a informações corretas e adequadas, água tratada, medicamentos e abrigos seguros. As inundações aumentam os riscos da aquisição de doenças infecciosas transmitidas pela água contaminada (através de contato ou ingestão) ou por fatores facilitadores para ferimentos.91 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores A vacinação em massa contra o tétano é uma medida útil. O tétano é causado pela contaminação de ferimentos com o Clostridium tetani, uma bactéria que é encontrada normalmente no ambiente (solo, esterco, superfície de objetos). Ao contrário, pode criar uma falsa sensação de segurança. Uma pessoa que nunca tenha sido vacinada não ficará imunizada contra o tétano com apenas uma dose. A profilaxia do tétano é feita mais adequadamente em uma unidade de saúde, uma vez que envolve cuidados com o local do ferimento e depende da história de vacinação. Se o indivíduo nunca foi vacinado ou estiver com o esquema vacinal incompleto, o que é o caso de grande parte da população adulta pode ser necessário que, dependendo do tipo de ferimento, além dos cuidados com o local do ferimento e da vacina, receba também imunização passiva (imunoglobulina antitetânica ou, na sua falta, soro antitetânico). Em adultos não vacinados, o esquema completo é feito com três doses. 92 Este material deve ser utilizado apenas como parâmetro de estudo deste Programa. Os créditos deste conteúdo são dados a seus respectivos autores BIBLIOGRAFIA CONSULTADA ABBAS, A. K. LICHTMAN; A. H. Imunologia Celular e Molecular. 5. Ed. Elsevier Editora Ltda, 2005. BIER, O. G. Bacteriologia e imunologia: e suas aplicações à medicina e à higiene. São Paulo: Melhoramentos, 1982. 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