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Módulo Tributo e Segurança Jurídica SEMINÁRIO III - FONTES DO DIREITO TRIBUTÁRIO Questões Aluna: Leticia Maçolla 1. Responda às seguintes perguntas, não deixando de justificar seu entendimento para cada uma delas: (a) Que é fonte do direito pela óptica do Constructivismo Lógico-Semântico? O Constructivismo Lógico-Semântico, teoria adotada por Paulo de Barros Carvalho, determina que o mundo é construído pela linguagem, ou seja, é uma construção de linguagem, o elemento pelo qual o homem constrói o sentido do mundo[footnoteRef:1]. Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho: “o direito, no seu particularíssimo modo de existir, manifesta-se necessariamente na forma de linguagem”[footnoteRef:2]. [1: PPGD Unimar. TSRAD - Constructivismo Lógico-Semântico e Fontes do Direito. YouTube, 10. nov. 2010. Disponível em: https://www.youtube.com/live/FxI60h98Gbs. Acesso em: 01. abr. 2025.] [2: CARVALHO, Paulo de Barros. Direito tributário, linguagem e método. 3 ed. São Paulo: Noeses, 2009. p. 165.] No entanto, tendo em vista que a linguagem pode ter vários sentidos e ser vaga, estes configuram vícios da linguagem. Fontes do direito, pela ótica do Constructivismo Lógico-Semântico, são “os focos ejetores de regras jurídicas, isto é, os órgãos habilitados pelo sistema para produzirem normas”[footnoteRef:3]. São os fatos criadores de normas, portanto, é válido dizer que as normas somente são introduzidas no ordenamento jurídico (direito positivo) quando outra norma a introduz, sendo esta chamada, por Paulo de Barros Carvalho, de “veículo introdutor de normas”[footnoteRef:4] [3: Ibdem. p. 414.] [4: Ibdem. p. 415] Altera-se o direito mediante as regras do próprio direito. Para eu alterar o direito, eu tenho que estar dentre as regras do direito. (b) Partindo da definição de fonte do direito pela óptica do Constructivismo Lógico-Semântico, lei, jurisprudência, costumes, doutrina e fato jurídico são fontes do direito? Doutrina apenas descreve as normas, então não é fonte do direito, porque não altera o direito, apenas o descreve. Costume também não é fonte do direito, porque só ingressa no direito se as normas assim o captarem. A lei não é fonte do direito, é o próprio direito. É o produto das fontes. É, no máximo, produto de validade de outra lei. Só a atividade dos órgãos competentes credenciados pelo sistema a produzir texto legal é fonte do direito, para o Constructivismo lógico-semântico. Assim, a lei, a doutrina, a jurisprudência e os costumes, são fruto dos exercícios dos órgãos legiferantes, não podendo ser considerados a própria fonte do direito. São, pois, veículos introdutores de normas, ou seja, são instrumentos pelos quais as normas são incorporadas ao ordenamento. (c) Defina os termos/expressões (i) enunciação, (ii) enunciação-enunciada e enunciado-enunciado, relacionando-os (a) à fonte do direito, (b) ao veículo introdutor de normas e (c) às normas introduzidas. A enunciação é o procedimento ou a atividade de produção de normas, isto é, a atividade humana de produzir enunciados. Aurora Tomazini de Carvalho explica que se trata da “atividade psicofísica produtora de enunciados, delimitada em condições de espaço e tempo”, ou seja, é um acontecimento social formado através da junção de um ato de vontade humano, da realização de um procedimento específico e por um agente competente[footnoteRef:5]. [5: CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito. 6. ed. São Paulo: Noeses, 2019. E-book. p. 663-664.] O enunciado, por sua vez, é o produto da enunciação, formado por frases que transmitem um conteúdo. A enunciação-enunciada indica os elementos que rementem à enunciação, de modo a revelar as marcas de produção do texto e indicar a distinção do texto jurídico do não-jurídico. Trata-se, pois, da linguagem do veículo introdutor, sendo composta por: (i) o nome Lei n. xxx, que indica a realização de determinado procedimento produtor de normas; (ii) as datas da promulgação e da publicação; (iii) a referência às pessoas que participaram do processo legislativo; (iv) o local onde foi produzida; e (v) outras eventuais informações que nos remeta à atividade enunciativa.[footnoteRef:6] [6: ibdem. p. 675. ] Enunciado-enunciado: é o texto inserido. Podem ser normas jurídicas, gerais e abstratas, individuais e concretas ou até mesmo individuais e abstratas (é o dispositivo e a fundamentação da sentença). Nas palavras de Aurora Tomazini: “São preceitos gerais e abstratos, individuais ou concretos, dos quais construímos as normas jurídicas que, efetivamente, regulam as condutas intersubjetivas valoradas pelo legislador”[footnoteRef:7]. [7: ibdem. p. 680 – 681.] A enunciação-enunciada e o enunciado-enunciado não são fontes de direito, são produtos da enunciação, sendo esta fonte de normas jurídicas. O veículo introdutor de norma pode ser observado através da leitura da enunciação-enunciada, uma vez que esta retrata as marcas de produção da norma, construindo-se uma norma jurídica responsável pelo ingresso do enunciado-enunciado. De outro lado, as normas introduzidas são construídas a partir do enunciado-enunciado e, se construídas por veículos secundários não apresentam força vinculante de instituir novos direitos e deveres, já que são hierarquicamente inferiores às normas introduzidas por veículos primários. Havendo uma divergência no veículo introdutor, diz-se que há vício formal, denotando inconformidade na enunciação-enunciada e, quando há discrepância nas normas introduzidas, há vício material, ou seja, uma inadequação em seu conteúdo produzido.[footnoteRef:8] [8: ibdem. p. 732.] Assim, a partir do veículo introdutor, as normas inaugurais são inseridas no ordenamento jurídico brasileiro, designadas por Paulo de Barros Carvalho como instrumentos primários[footnoteRef:9]. Segundo ele, sempre existe uma norma que autoriza a entrada de novos enunciados no sistema jurídico, sendo que essa norma introdutora define quem é o agente competente, qual é o local, o momento e o procedimento adequado para que o processo normativo aconteça. [9: MENDONÇA, Christianne Kandyce Gomes Ferreira de; GALVÃO, Lucas de Britto. A teoria das fontes do direito e os precedentes judiciais: uma análise à luz do constructivismo lógico-semântico. Revista Jurídica da Seção Judiciária de Pernambuco, Recife, ano 3, n. 5, p. 53-79, jan./jun. 2019. Disponível em: https://revista.jfpe.jus.br/index.php/RJSJPE/article/viewFile/224/207. Acesso em 01. abr. 2025.] 2. Que diferencia o conceito de fontes do direito adotado pela doutrina tradicional e o firmado pela doutrina de Paulo de Barros Carvalho? Relacione o conceito de fontes do direito segundo Paulo de Barros Carvalho com a atividade da autoridade administrativa que realiza o lançamento de ofício. Quando o crédito é constituído pelo contribuinte a fonte do direito é modificada? Justifique sua resposta. Segundo Paulo de Barros Carvalho, o conceito de fontes do direito pode ser explicado como “os focos ejetores de regras jurídicas, isto é, os órgãos habilitados pelo sistema para produzirem normas”[footnoteRef:10]. As fontes materiais, para ele, são as únicas fontes do direito, já que as fontes formais seriam o próprio direito, pois considerar as fontes formais como fontes do direito seria admitir “até aquele documentário amplamente divulgado na mídia sobre determinado crime ou o abaixo assinado” como fontes, tal como explica Robson Maia Lins[footnoteRef:11]. [10: CARVALHO, Paulo de Barros. op. cit. p. 414.] [11: LINS, Robson Maia. Curso de Direito Tributário Brasileiro. São Paulo: Noeses. Disponibilizado na plataforma Cuboz. p. 48.] Paulo de Barros Carvalho considera, pois, como fonte do direito a atividade humana de produção de enunciados prescritivos, enquanto a doutrina tradicional preocupa-se com fatores que influenciaram a atividade de enunciação, tal como, a título de exemplo, a mudança na jurisprudência. De outro lado, a doutrina tradicional classifica as fontes do direito como fontes materiais e formais. Fontes materiais são as fontes que dão conteúdoà norma jurídica e fontes formais são os meios pelos quais as fontes materiais se apresentam no ordenamento jurídico, isto é, a forma como o direito positivo se manifesta, tal como a lei, o costume, os princípios, os tratados internacionais e a doutrina[footnoteRef:12]. [12: CARVALHO, Aurora Tomazini. Capítulo XVI: Fontes do direito. P. 489.] Aurora Tomazini de Carvalho, adotando o entendimento do professor Paulo de Barros Carvalho, explica que não se pode afirmar que fonte formal é fonte do direito, uma vez que as fontes formais são normas de superior hierarquia, no entanto, não são normas criadoras de normas e, assim, não dão origem ao conjunto de normas (fonte do direito).[footnoteRef:13] Em suas palavras: [13: CARVALHO, Aurora Tomazini. Capítulo XVI: Fontes do direito. P. 489.] Se um dos critérios da doutrina tradicional para diferençar “fonte formal” de “fonte material” é encontrar-se a primeira no plano do dever ser (direito positivo), conclui-se que ela não é anterior às normas jurídicas e, assim, não podemos dizer que ela se consubstancia na fonte que as originam. Neste cenário, o que diferencia o conceito de fontes do direito adotado pela doutrina tradicional e pela doutrina de Paulo de Barros Carvalho é o fato de que, para este, apenas a fonte formal (enunciação) constitui-se fonte do direito, na medida em que é a única apta a introduzir normas no ordenamento jurídico. Por sua vez, o lançamento de ofício é um ato vinculado (CTN, art. 142[footnoteRef:14]) de enunciação de uma norma, uma vez que, através dele, aplica-se outra norma geral anteriormente introduzida no sistema, introduzindo-se um novo enunciado prescritivo no ordenamento jurídico positivo. [14: Art. 142. Compete privativamente à autoridade administrativa constituir o crédito tributário pelo lançamento, assim entendido o procedimento administrativo tendente a verificar a ocorrência do fato gerador da obrigação correspondente, determinar a matéria tributável, calcular o montante do tributo devido, identificar o sujeito passivo e, sendo caso, propor a aplicação da penalidade cabível.] De outro lado, quando o crédito tributário é constituído pelo próprio contribuinte (lançamento por homologação), não há alteração na fonte do direito, mas mera alteração no sujeito que realiza a enunciação, eis que o contribuinte, nos moldes da norma anteriormente existente, exerce a atividade enunciativa de apurar e declarar o tributo devido. Trata-se, pois, de um veículo introdutor secundário, tendo em vista que o contribuinte realiza o ato de enunciação de um enunciado. Ambos os casos indicam a atividade de enunciação da fonte do direito, mas esta não é alterada. 3. Que posição ocupa, no sistema jurídico, norma inserida por lei complementar que dispõe sobre matéria de lei ordinária? Existe algum vício quando uma lei complementar dispõe sobre matéria de lei ordinária? E o contrário? Para sua revogação é necessário o mesmo veículo introdutor? (Vide anexos I, II, III e IV) De acordo com Paulo de Barros Carvalho, adotando uma visão semântica da hierarquia das normas, tem-se a hierarquia formal e a hierarquia material. A hierarquia formal ocorre “quando a norma superior dita apenas os pressupostos de forma que a norma subordinada há de respeitar” e a hierarquia material, por sua vez, quando “a norma subordinada colher na compostura semiológica da norma subordinante o núcleo do assunto sobre o qual pretende dispor”[footnoteRef:15] [15: Paulo de barros. Linguagem e método. P. 385.] Nesta linha, em que pese a divisão semântica acima destacada, não há hierarquia entre as normas, mas diferenças de competência de cada espécie do veículo introdutor de normas, tal como explica Aurora Tomazini de Carvalho[footnoteRef:16]: [16: Aurora . p. 509] Neste caso, considerando o critério da fundamentação jurídica, não há hierarquia entre os veículos. A lei complementar ocupa o mesmo patamar hierárquico da lei ordinária. Não há, no entanto, a nosso ver, que se falar em lei “formalmente complementar” e “materialmente ordinária”. A lei, enquanto veículo introdutor (norma geral e concreta) é complementar. Sua enunciação-enunciada remete-nos a um procedimento de quorum qualificado. Embora a Constituição prescreva ser a matéria por ela veiculada própria de lei ordinária, ela é naquele documento, própria de lei complementar, não podendo, nestes termos, ser revogada ou alterada por lei ordinária. Para tanto é preciso à produção de idêntico veículo (lei complementar). Neste cenário, em que pese as leis ordinárias devam, sob a ótica material e formal, se submeter aos ditames impostos pelas leis complementares e observar os critérios ali estipulados, inúmeras leis ordinárias foram recepcionadas como leis complementares como, por exemplo, o próprio Código Tributário Nacional. Tais leis ordinárias, recepcionadas como leis complementares devem, pois, respeitar as regras de competência da lei complementar e somente poderão ser revogadas através de lei complementar, em observância à estruturação formal.[footnoteRef:17] [17: Carvalho. Paulo de barros. Linguagem e método. P. 387-388.] 4. Que é revogação e como ela se opera? Qual o seu objeto: (i) os textos no plano da expressão (S1); (ii) os enunciados pertencentes ao conjunto de significação dos enunciados prescritivos (S2); (iii) as normas jurídicas em sentido estrito (S3)? Nas modalidades de declaração de inconstitucionalidade sem redução do texto e interpretação conforme, há retirada de norma do sistema? Pode-se falar em revogação? Tárek Moysés Moussallem explica que a revogação é um “fato jurídico cujo efeito é a inaplicação da norma revogada”[footnoteRef:18]. Paulo de Barros Carvalho, por sua vez, afirma que a revogação é o desfazimento do ato por conveniência e oportunidade do Poder Público.[footnoteRef:19] [18: TAREK. REVOGAÇÃO EM MATÉRIA TRIBUTÁRIA. P. 277] [19: CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. P. 506.] Neste cenário, a professora Aurora Tomazini Carvalho explica, de maneira pormenorizada, que a revogação pode ser compreendida através do ato, da norma e do efeito. Do ponto de vista do ato e da norma, a revogação somente se opera se constituída juridicamente, não havendo que se falar em revogação tácita como espécie de revogação. Ao considerar a revogação como efeito jurídico, a professora conclui que a revogação tácita e a revogação expressa terão a mesma consequência: inaplicabilidade da norma revogada ou incompatível.[footnoteRef:20] [20: TOMAZINI, Aurora de Carvalho. P. 764.] Assim, na revogação tácita, a norma revogada tacitamente não deixa de existir, mas permite que o aplicador do direito, em um caso concreto, por meio das regras contidas no sistema jurídico, escolha aplicar a norma com base no documento normativo superior, posterior ou específico. Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho: Diz-se haver revogação expressa quando a lei revogadora manifestamente o declare, e haverá revogação tácita quando existir incompatibilidade entre lei anterior e lei posterior, ou, ainda, quando esta regular inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior.[footnoteRef:21] [21: Carvalho Paulo de barros. Linguagem e método. P. 438.] O doutrinador supracitado explica que a revogação expressa atua no plano da literalidade textutal (S1) e a revogação tácita atua no plano das significações, isoladamente (S2) ou articuladas na forma de juízo hipotético condicional (S3).[footnoteRef:22] [22: Ibdem. ] O objeto da revogação é, portanto, o texto no plano da expressão (S1), uma vez que a norma aplicada é aquela pertencente ao tempo de sua ocorrência, sendo certo, pois, que, se revogada, continua a produzir efeitos aos fatos passados, mas deixa de pertencer aos sistemas seguintes (S2 e S3). Nos casos de declaração de inconstitucionalidade e interpretação conforme, não há a retirada da norma do sistema, uma vez que podem, inclusive, ser aplicadas, caso outros critérios utilizados pelo aplicador assim o justifiquem. Havendo declaração de inconstitucionalidade sem redução de texto,a norma declarada inconstitucional permanece vigente, contudo, apenas pode ser aplicada em conformidade com os parâmetros definitos pelo Supremo Tribunal Federal. Na interpretação conforme, como o próprio nome dispõe, há uma interpretação de acordo com a Constituição, de modo que o sentido válido da norma será o sentido constitucionalmente declarado, ou seja, é uma diretriz hermenêutica. Portanto, como a revogação pressupõe a retirada da norma do sistema jurídico, nos casos de declaração de inconstitucionalidade e interpretação conforme, não há que se falar em revogação. 5. Considere o fragmento de direito positivo abaixo e responda, em seguida, as questões: LEI N. 10.336, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2001, D.O.U. 20/12/2001 Institui Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível (Cide), e dá outras providências. O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1º Fica instituída a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico incidente sobre a importação e a comercialização de petróleo e seus derivados, gás natural e seus derivados, e álcool etílico combustível (Cide), a que se refere os arts. 149 e 177 da Constituição Federal, com a redação dada pela Emenda Constitucional nº 33, de 11 de dezembro de 2001. § 1º O produto da arrecadação da Cide será destinada, na forma da lei orçamentária, ao: I - pagamento de subsídios a preços ou transporte de álcool combustível, de gás natural e seus derivados e de derivados de petróleo; II - financiamento de projetos ambientais relacionados com a indústria do petróleo e do gás; (Redação dada pela Lei nº 14.237, de 2021) III - financiamento de programas de infraestrutura de transportes; e (Redação dada pela Lei nº 14.237, de 2021) IV - financiamento do auxílio destinado a mitigar o efeito do preço do gás liquefeito de petróleo sobre o orçamento das famílias de baixa renda. (Incluído pela Lei nº 14.237, de 2021) (...) Art. 2º São contribuintes da Cide o produtor, o formulador e o importador, pessoa física ou jurídica, dos combustíveis líquidos relacionados no art. 3º. Parágrafo único. Para efeitos deste artigo, considera-se formulador de combustível líquido, derivados de petróleo e derivados de gás natural, a pessoa jurídica, conforme definido pela Agência Nacional do Petróleo (ANP) autorizada a exercer, em Plantas de Formulação de Combustíveis, as seguintes atividades: I - aquisição de correntes de hidrocarbonetos líquidos; II - mistura mecânica de correntes de hidrocarbonetos líquidos, com o objetivo de obter gasolinas e diesel; III - armazenamento de matérias-primas, de correntes intermediárias e de combustíveis formulados; IV - comercialização de gasolinas e de diesel; e V - comercialização de sobras de correntes. Art. 3 º A Cide tem como fatos geradores as operações, realizadas pelos contribuintes referidos no art. 2º, de importação e de comercialização no mercado interno de: I – gasolinas e suas correntes; II - diesel e suas correntes; III – querosene de aviação e outros querosenes; IV - óleos combustíveis (fuel-oil); V - gás liqüefeito de petróleo, inclusive o derivado de gás natural e de nafta; e VI - álcool etílico combustível. § 1º Para efeitos dos incisos I e II deste artigo, consideram-se correntes os hidrocarbonetos líquidos derivados de petróleo e os hidrocarbonetos líquidos derivados de gás natural utilizados em mistura mecânica para a produção de gasolinas ou de diesel, de conformidade com as normas estabelecidas pela ANP. § 2º A Cide não incidirá sobre as receitas de exportação, para o exterior, dos produtos relacionados no caput deste artigo. § 3º A receita de comercialização dos gases propano, classificado no código 2711.12, butano, classificado no código 2711.13, todos da NCM, e a mistura desses gases, quando destinados à utilização como propelentes em embalagem tipo aerossol, não estão sujeitos à incidência da CIDE-Combustíveis até o limite quantitativo autorizado pela Agência Nacional do Petróleo e nas condições estabelecidas pela Secretaria da Receita Federal. (Incluído pela Lei nº 10.865, de 2004) Art. 4º A base de cálculo da Cide é a unidade de medida adotada nesta Lei para os produtos de que trata o art. 3º, na importação e na comercialização no mercado interno. Art. 5º A Cide terá, na importação e na comercialização no mercado interno, as seguintes alíquotas específicas: (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) I – gasolina, R$ 860,00 por m³; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) II – diesel, R$ 390,00 por m³; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) III – querosene de aviação, R$ 92,10 por m³; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) IV – outros querosenes, R$ 92,10 por m³; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) V – óleos combustíveis com alto teor de enxofre, R$ 40,90 por t; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) VI – óleos combustíveis com baixo teor de enxofre, R$ 40,90 por t; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) VII – gás liqüefeito de petróleo, inclusive o derivado de gás natural e da nafta, R$ 250,00 por t; (Redação dada pela Lei nº 10.636, de 2002) VIII – álcool etílico combustível, R$ 37,20 por m³. (Incluído pela Lei nº 10.636, de 2002) (...) § 7º A Cide devida na comercialização dos produtos referidos no caput integra a receita bruta do vendedor. Art. 6º Na hipótese de importação, o pagamento da Cide deve ser efetuado na data do registro da Declaração de Importação. Parágrafo único. No caso de comercialização, no mercado interno, a Cide devida será apurada mensalmente e será paga até o último dia útil da primeira quinzena do mês subseqüente ao de ocorrência do fato gerador. Art. 7º Do valor da Cide incidente na comercialização, no mercado interno, dos produtos referidos no art. 5o poderá ser deduzido o valor da Cide: I – pago na importação daqueles produtos; II – incidente quando da aquisição daqueles produtos de outro contribuinte. Parágrafo único. A dedução de que trata este artigo será efetuada pelo valor global da Cide pago nas importações realizadas no mês, considerado o conjunto de produtos importados e comercializados, sendo desnecessária a segregação por espécie de produto. (..) Art. 9º O Poder Executivo poderá reduzir as alíquotas específicas de cada produto, bem assim restabelecê-las até o valor fixado no art. 5º. (...) Art. 11. É responsável solidário pela Cide o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. Art. 12. Respondem pela infração, conjunta ou isoladamente, relativamente à Cide, o adquirente de mercadoria de procedência estrangeira, no caso de importação realizada por sua conta e ordem, por intermédio de pessoa jurídica importadora. Art. 13. A administração e a fiscalização da Cide compete à Secretaria da Receita Federal. (...) Art. 15. Os Ministérios da Fazenda e de Minas e Energia e a ANP poderão editar os atos necessários ao cumprimento das disposições contidas nesta Lei. Art. 16. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, produzindo efeitos a partir de 1º de janeiro de 2002, ressalvado o disposto no art. 14. Brasília, 19 de dezembro de 2001; 180º da Independência e 113º da República. FERNANDO HENRIQUE CARDOSO Pedro Malan José Jorge a) Identifique os seguintes elementos da Lei n. 10.336/01: (i) enunciação, (ii) enunciados-enunciados, (iii) enunciação-enunciada, (iv) instrumento introdutor de norma, (v) procedimento, (vi) sujeito competente, (vii) norma geral e abstrata e (viii) norma geral e concreta. Os enunciados-enunciados são representados pelos arts. 1º (instituição da CIDE e sua destinação), 2º (definição dos contribuintes), 3º (fatos geradores), 4º e 5º (base de cálculo e alíquotas), 6º e 7º (regras sobre pagamento e dedução), 9º (possibilidade de redução das alíquotas), 11 a 13 (disposições sobre responsabilidade e fiscalização) e, 15 (competência paraedição de atos complementares). Enunciação-enunciada: “LEI N. 10.336, DE 19 DE DEZEMBRO DE 2001, D.O.U. 20/12/2001", "O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:", "Brasília, 19 de dezembro de 2001; 180º da Independência e 113º da República.", "FERNANDO HENRIQUE CARDOSO" e, as assinaturas de "Pedro Malan" e "José Jorge". O instrumento introdutor de norma é a própria Lei nº 10.336/01, constituída a partir da leitura da enunciação-enunciada. O procedimento refere-se ao rito estabelecido constitucionalmente para elaboração de leis ordinárias, tal como iniciativa legislativa, discussão, votação pelo Congresso Nacional, sanção presidencial, promulgação e publicação no Diário Oficial da União (CF/88, art. 61). O sujeito competente é a União, representada pelo Presidente da República Fernando Henrique Cardoso. As normas gerais e abstratas são encontradas nos seguintes enunciados-enunciados: art. 2º (regras que definem os contribuintes); art. 3º (disposições sobre os fatos geradores); arts. 4º e 5º (normas sobre base de cálculo e alíquotas); art. 7º (regras sobre dedução da CIDE); e, arts. 11 e 12 (disposições sobre responsabilidade). As normas b) Os enunciados inseridos na Lei n. 10.336/2001 pelas Leis n. 10.636/2002, n. 10.865/2004 e n. 14.237/2021 passam a pertencer à Lei n. 10.336/2001 ou ainda são parte integrante dos veículos que os introduziram no ordenamento? No caso de expressa revogação da Lei n. 10.336/2001, como fica a situação dos enunciados veiculados pelas Leis n. 10.636/2002, n. 10.865/2004 e n. 14.237/2021? Pode-se dizer que também são revogados, mesmo sem a revogação expressa dos veículos introdutores que os inseriram? Os enunciados inseridos na Lei n. 10.336/2001 pelas Leis n. 10.636/2002, n. 10.865/2004 e n. 14.237/2021, atuando como veículos introdutores que acrescentaram, alteraram ou revogaram dispositivos da Lei n. 10.336/2001, passam a pertencer formalmente à referida legislação, fazendo parte da lei para efeitos de aplicação e, portanto, perdendo o vínculo formal com o veículo que os introduziu no sistema jurídico. Em razão disso, no caso de expressa revogação da Lei n. 10.336/2001, os enunciados veiculados pelas Leis n. 10.636/2002, n. 10.865/2004 e n. 14.237/2021 restam revogados, afinal, faziam parte integrante da lei revogada (princípio da unidade da revogação), ainda que não haja revogação expressa com relação aos veículos introdutores (Leis n. 10.636/2002, n. 10.865/2004 e n. 14.237/2021). Não revogam-se apenas os eventuais dispositivos que não modificaram a legislação revogada, pois são dotados de autonomia. image1.jpeg