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Resumo de Penal

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Homicídio Simples
Art.121. Matar Alguém:
Pena – reclusão, de 6 (seis) a 20 (vinte) anos.
Caso de diminuição de pena
§ 1º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou mora, ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
Não é crime autônomo, mas sim causa especial de diminuição de pena, pela menos reprovabilidade da conduta em razão da motivação ou do estado emocional.
Embora o Código Penal disponha que a redução da pena é facultativa, o entendimento que prepondera é no sentido de que ela é obrigatória se reconhecido o privilégio pelos jurados.
Valor Moral: aquele que merece apoio da moralidade média, aquele que diz respeito aos interesses pessoais do agente.
Valor social: aquele que diz respeito aos interesses coletivos.
Violenta emoção: logo em seguida a injusta provocação da vítima. É o chamado homicídio emocional.
Observação: no homicídio privilegiado pela violenta emoção, a provocação da vítima pode ser direcionada a terceiro e não só ao sujeito ativo do crime.
As circunstâncias que tornam o homicídio privilegiado não se comunicam entre eventuais coautores ou partícipes.
Homicídio qualificado
§ 2º Se o homicídio é cometido:
I – mediante paga ou promessa de recompensa, ou por outro motivo torpe;
II – por motivo fútil;
III – com emprego de veneno, fogo, explosivo, asfixia, tortura ou outro meio insidioso ou cruel, ou de que possa resulta perigo comum;
IV – à traição, de emboscada, ou mediante dissimulação ou outro recurso que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido;
V – para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime:
Pena – reclusão, de 12 (doze) a 30 (trinta) anos.
São hipóteses que demonstram maior periculosidade do agente e menor possibilidade de defesa da vítima. É considerado crime hediondo tanto na forma consumada como na tentada.
Obs: o motivo, para ser torpe, precisa guardar similitude com a paga, sendo, portanto, de natureza econômico-patrimonial.
Motivo fútil: motivo de somenos importância. É a ninharia que em regra não levaria ao crime, sendo inferido pela desproporção entre a ação do agente e o motivo do crime.
Obs: não podem coexistir no mesmo crime de homicídio as qualificadoras do motivo torpe e fútil.
Veneno: toda substância mineral, vegetal ou animal que, introduzida no organismo, é capaz de destruir a vida.
Fogo: meio cruel, mas que também pode causar perigo comum.
Explosivo: qualquer corpo capaz de ser transformar em gás a temperatura elevada.
Asfixia: interrupção da função respiratória. Pode ser tóxica ou mecânica.
Tortura: imposição de sofrimento ou mal desnecessário, Pode ser física ou moral.
Perigo comum: é aquele que pode atingir um número indeterminado de pessoas.
Traição: quebra da confiança depositada pela vítima no sujeito ativo.
Emboscada: é a tocaia, o ato de esperar o ofendido às escondidas.
Dissimulação: é o disfarce, distrair a atenção da vítima. É a ocultação do desígnio delituoso.
Qualquer outro meio que dificulte ou torne impossível a defesa do ofendido. Aqui a lei prevê a possibilidade da interpretação analógica; o outro recurso deve ser assemelhado à traição, emboscada ou dissimulação.
Para assegurar a execução, a ocultação, a impunidade ou vantagem de outro crime (qualificado pela conexão): chamado por alguns de “homicídio conexivo”.
Conexão teleológica ou lógica: assegurar a execução. Matar o marido para estuprar a esposa, sem a necessidade de ser concretizado o fim almejado.
Conexão consequencial ou causal: assegurar a ocultação ( impedir o crime de ser desvendado), impunidade (não ser reconhecido como autor do delito) ou vantagem (partilha de bens objeto do crime).
Obs: não existe esta qualificadora se o homicídio é praticado para assegurar a prática, a ocultação ou a vantagem de uma contravenção penal.
Sendo reconhecida mais de uma qualificadora, a segunda conforme orientação jurisprudencial majoritária deve servir como agravante da pena.
Quando o homicídio é qualificado por motivos objetivos, é possível ser qualificado e privilegiado ao mesmo tempo.
Homicídio culposo
§ 3º Se o homicídio é culposo:
Pena – detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos.
Conduta voluntária de produz resultado antijurídico não desejado mais previsível.
Não esquecer: a imprudência, a negligência e a imperícia são modalidades inconscientes da culpa.
Culpa consciente ou com previsão, na qual o agente prevê o resultado mais acredita, sinceramente, que ele não ocorrerá.
Aumento de pena
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de 1/3, se o crime resulta de inobservância regra técnica de profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar imediato socorro à vítima, não procura diminuir as consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de 1/3 se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 ou maior de 60 anos.
Não esquecer: a inobservância de regra técnica de profissão, arte ou ofício é diferente da imperícia. Aqui o agente conhece as regras mas não as observa, ao passo que na imperícia não conhece as regras.
§ 5º Na hipótese de homicídio culposo, o juiz poderá deixar de aplicar a pena, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária. 
Trata-se de um instituto por meio do qual o juiz, embora reconhecendo a existência do crime, deixa de aplicar a pena se presentes determinada circunstâncias previstas na lei. Isso porque a pena se torna desnecessária.
Obs: no homicídio culposo praticado na direção de veículo não se pode falar em perdão judicial. Primeiro porque no Código de trânsito não existe previsão legal para isso. Segundo porque o artigo 291 do Código de Trânsito faz referência apenas às normas gerais do Código Penal.
Obs: Súmula 18 do STJ: A sentença concessiva do perdão judicial é declaratória da extinção da punibilidade, não subsistindo qualquer efeito condenatório.
§ 6º A pena é aumentada de 1/3 até ½ se o crime for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviço de segurança, ou por grupo de extermínio.
Entende-se por milícia privada a organização paramilitar de formação ilegal, cujo objetivo é defender pela força uma coletividade ou facção.
Para caracterização da causa de aumento de pena haverá a necessidade de que o crime de homicídio seja praticado a pretexto de prestação de serviço de segurança.
Geral
Conceito: eliminação da vida humana extrauterina praticada por outrem.
Objetividade jurídica (bem protegido): a vida é o bem tutelado
Sujeito do delito: ativo: qualquer pessoa. O homicídio é um crime comum, uma vez que não existe nenhum requisito especial para o sujeito que pratica a ação descrita no tipo.
Passivo: o indivíduo.
Conduta: núcleo do tipo: matar.
Elemento Subjetivo: dolo direto
Os crimes são sempre dolosos – só podem ser imputados na forma culposa quando a lei assim o prever.
Consumação: consuma-se o homicídio com a morte da vítima (crime material).
Tentativa: é possível com o início da execução sem atingir a consumação por motivos alheios à vontade do sujeito ativo. Há necessidade da intenção de matar.
Induzimento, instigação ou auxílio a suicídio (“participação em suicídio”)
Art. 122. Induzir ou instigar alguém a suicidar-se ou prestar-lhe auxílio para que o faça:
Pena - reclusão, de 2 a 6 anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de 1 a 2 anos, se da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
Parágrafo único. A pena é duplicada:
Aumento de pena
I – se o crime é praticado por motivo egoístico;
II – se a vítima é menor ou tem diminuída, por qualquer causa, a capacidade de resistência.
Objetividade jurídica: é a vida humana o bem protegido.
Sujeito do delito: ativo: qualquer pessoa (crime comum). 
Passivo: qualquer ser humano capaz de ser induzido, instigado ou auxiliado.
Quando a pessoa não pode ser induzida, instigada ou auxiliada, por serdoente mental, por exemplo, o crime é de homicídio. Isso porque a vítima é transformada em instrumento da vontade criminosa do agente.
Conduta: Induzir: traduz a ideia de iniciativa; o suicida ainda não pensa no assunto.
Instigar: o suicida já pensa no assunto, e o sujeito ativo reforça a ideia, estimulando-o. Trata-se de ato de “acoroçoamento”, encorajamento de alguém à própria morte.
Auxiliar: ajudar, favorecer, facilitar. Nesta conduta existe concurso físico entre o sujeito ativo e o sujeito passivo.
Observação: o auxílio em ato consumativo de morte constitui crime de homicídio e não o previsto no art. 122. Ex: puxar a corda da forca.
A doutrina tem admitido a existência de omissão somente nas condutas de induzir e instigar, em razão da existência de dever jurídico de impedir o suicídio.
Elemento Subjetivo: Dolo direto: o fim especificamente visado é o suicídio; dolo eventual: dependendo das circunstâncias do caso concreto, admite-se o dolo eventual, por exemplo, quando o pai expulsa a filha de casa com fortes razões para supor seu suicídio.
Consumação: com a morte ou ocorrência de lesões graves;
Tentativa: assunto discutido na doutrina.
Não ocorrendo morte ou lesão grave, na opinião de Damásio de Jesus, o fato é atípico. A morte ou a lesão grave são elementares do tipo e não condições objetivas de punibilidade.
Vítima com menos de quatorze anos – homicídio.
Duelo: o sobrevivente responde pelo art. 122, mas já houve decisão no sentido de ser responsabilizado por homicídio com dolo eventual.
Suicídio a dois ou pacto de morte: o sobrevivente responde por homicídio por ter praticado ato consumativo (executório) de morte.
Infanticídio
Art. 123. Matar, sob influência do estado puerperal, o próprio filho, durante o parto ou logo após:
Pena – detenção, de 2 a 6 anos.
Conceito: morte do nascente ou do neonato, provocada pela própria mãe, sob a influência do estado puerperal, durante o parto ou logo após este.
Objetividade jurídica: é a vida humana o bem jurídico protegido (tanto do nascente{que está nascendo} como do neonato {recém-nascido}).
Sujeito do delito: ativo: é a mãe sob a influência do estado puerperal, crime próprio.
Passivo: é o filho recém-nascido ou que está nascendo.
O tempo de duração do estado puerperal tem variação casuística, sendo diversas as opiniões sobre o assunto. Sua duração é de seis a oito semana ou de seis a oito dias.
A jurisprudência tem entendido que o estado puerperal perdura até o final da perturbação psíquica da mulher. É dispensável o exame pericial para apurar o estado puerperal, por ser um “efeito normal e corriqueiro de qualquer parto”.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: com a morte do nascente.
Tentativa: é possível, por ser tratar de crime material.
Obs: aquele que auxilia o sujeito ativo responde como coautor em decorrência da aplicação do disposto no art. 30 do Código Penal (comunicabilidade das circunstâncias de caráter pessoal quando elementares do crime).
Aborto provocado pela gestante ou com seu consentimento
Art. 124. Provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem lho provoque:
Pena – detenção, de 1 a 3 anos.
Aborto provocado por terceiro
Art. 125. Provocar aborto, sem o consentimento da gestante:
Pena – reclusão, de 3 a 10 anos.
Art. 126. Provocar aborto com o consentimento da gestante:
Pena – reclusão de 1 a 4 anos.
Parágrafo único: Aplica-se a pena do artigo anterior, se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127. As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de 1/3, se, em consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Art. 128. Não se pune o aborto praticado por médico:
Aborto necessário
I – se não há outro meio de salvar a vida da gestante;
Aborto no caso de gravidez resultante de estupro
II – se a gravidez resulta de estupro e o aborto é precedido de consentimento da gestante ou, quando incapaz, de seu representante legal.
Conceito: privação do nascimento.
É a interrupção da gravidez, com a destruição do produto da concepção. É a morte do ovo (até 3 semanas de gestação), embrião (de 3 semanas a 3 meses de gestação) ou feto (após 3 meses de gestação).
Objetividade jurídica: é a vida humana em formação. No art. 125, também, a integridade física da mulher.
Sujeito do Delito: passivo: é a gestante no art. 124 (crime próprio). Nas demais hipóteses, qualquer pessoa.
Passivo: é o produto da concepção. Também pode ser a mulher grávida, quando o aborto é praticado sem o seu consentimento. Finalmente, o Estado também figura no polo passivo da relação de fato.
Conduta: provocar: promover, produzir, dar causa, fazer etc.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: a consumação do crime de aborto ocorre com a morte do produto da concepção, interrompendo a gravidez.
Tentativa: perfeitamente possível, por ser um crime material.
Outras situações podem ocorrer:
1) a mulher não morre, morrendo apenas o produto da concepção (tentativa de homicídio e aborto);
2) a mulher morre e não morre o produto da concepção (homicídio consumado e tentativa de aborto);
3) não morre a mulher nem o produto da concepção (tentativa de homicídio e de aborto ou, então, para alguéns, tentativa de aborto qualificado).
Obs: no caso de aborto praticado com o consentimento da gestante (art. 126 do CP), esta última responderá sempre com incursa no art. 124, segunda parte, a não ser que seja inimputável.
Dica de questão importante e polêmica: tem-se entendido que, se não ocorrer a morte do feto, mas a gestante vier a sofrer lesão grave ou morrer, o agente responderá por tentativa de aborto qualificado. Existem, no entanto, decisões no sentido de que nessa hipótese o agente responde por homicídio culposo ou lesão culposa em concurso formal com a tentativa de aborto.
Não há necessidade de sentença condenatória contra o autor de estupro para que o aborto seja praticado. Da mesma forma, não se exige autorização judicial; baste que o médico leve em conta o Código de Ética e outros meios de prova, como o boletim de ocorrência do estupro; as declarações da vítima e o exame pericial. Tanto não é necessária a autorização judicial que já se decidiu pela negativa da realização do aborto quando a gravidez resulta de estupro e está em estágio avançado, por implicar risco à vida da mulher.
Requisitos para o reconhecimento do aborto sentimental:
1) que a gravidez resulte de estupro;
2) que haja o consentimento prévio da gestante ou de ser representante legal, se incapaz;
3 que o aborto seja praticado por médico.
Dica: se o médico for induzido a erro pela gestante, fica isento de pena por erro de tipo, mas ela estará incursa no art. 124, segunda parte, por haver consentimento do aborto.
Lesão corporal
Art. 129. Ofender a integridade corporal ou a saúde de outrem:
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano.
Lesão corporal de natureza grave
§ 1º Se resulta:
I – incapacidade para as ocupações habituais, por mais de 30 dias;
Ocupação habitual tem conceito diverso de trabalho. A lei refere-se às atividades costumeiras do sujeito passivo: caso contrário, estariam excluídas as crianças, os velhos e os aposentados.
A incapacidade tanto pode ser física como psíquica.
A incapacidade não significa ausência ou falta de cura; a pessoa pode não estar totalmente curada, mas estar apta para suas ocupações normais.
II – perigo de vida;
É a probabilidade concreta e presente do êxito letal.
III – debilidade permanente de membro, sentido ou função;
Membro: partes do corpo ligadas ao tronco.
Sentido: faculdade de percepção, como a vista, a audição.
Função: atuação própria de um órgão.
A jurisprudência já sedimentou entendimento no sentido de que fica caracterizada a debilidade quando ocorre perda de um órgão duplo, por exemplo, um olho, um rim.
IV – aceleração de parto:Caracteriza-se quando se verifica a expulsão do feto, que já tem capacidade de vida extrauterina (nasceu vivo e continua vivendo). Caso contrário, o crime é de aborto.
Se o agente não souber da gravidez, não já lesão grave. É preciso haver ao menos culpa em relação à aceleração do parto; daí a necessidade de conhecimento prévio do estado gravídico da mulher.
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos.
§ 2º Se resulta:
I – incapacidade permanente para o trabalho;
Trabalho deve ser entendido como profissão, emprego ou ofício com sentido lucrativo. Estão excluídas as crianças, velhos e os aposentados.
No que diz respeito à permanência (não perpetuidade, mas duração incalculável), basta o prognóstico da impossibilidade de trabalhar por tempo não avaliado.
II – enfermidade incurável;
Processo patológico que não tem cura. Basta a probabilidade séria de que não haverá cura.
III – perda ou inutilização de membro, sentido ou função;
Perda: mutilação (por violência); Amputação: (por cirurgia).
Inutilização: o membro permanece, mas sem atividade.
IV – deformidade permanente;
Consiste no defeito visível em qualquer parte do corpo. A lesão deve ser de certa monta, causando vexame ao portador e desagrado em quem o vê. Deve ser permanente, indelével, irreparável naturalmente. O uso de algum disfarce ou mesmo da cirurgia não exclui a permanência.
A simples cicatriz, por si só, decorrente de lesão não configura, conforme entendimento jurisprudencial, a deformidade permanente.
Eventual submissão do sujeito passivo a uma cirurgia plástica reparadora da deformidade não faz com que seja desclassificada a conduta do sujeito ativo para lesão leve.
V – aborto:
Pena – reclusão, de 2 a 8 anos.
Lesão corporal seguida de morte
§ 3º Se resulta morte e as circunstâncias evidenciam que o agente não quis o resultado, nem assumiu o risco de produzi-lo:
Esta modalidade de lesão é também conhecida como homicídio preterintencional ou preterdoloso, já que há dolo no antecedente (quanto à lesão) e culpa no consequente (quanto à morte da vítima, que é apenas previsível).
Nesta modalidade de lesão não há possibilidade de tentativa, já que a vontade do agente não está dirigida para o resultado morte, de forma que não há possibilidade de falar que ele tentou produzi-la.
Pena – reclusão, de 4 a 12 anos.
Diminuição de pena
§ 4º Se o agente comete o crime impelido por motivo de relevante valor social ou moral ou sob o domínio de violenta emoção, logo em seguida a injusta provocação da vítima, o juiz pode reduzir a pena de 1/6 a 1/3.
A jurisprudência tem entendido que, reconhecido o privilégio, não pode incidir a circunstância atenuante equivalente.
Embora a lei diga que a redução da pena seja facultativa, a jurisprudência e a doutrina têm entendido que é obrigatória, desde que reconhecido o privilégio.
Substituição da pena
§ 5º O juiz, não sendo graves as lesões, pode ainda substituir a pena de detenção pela de multa:
I - se ocorre qualquer das hipóteses do parágrafo anterior;
II – se as lesões são recíprocas. 
Por este dispositivo legal, o juiz fica autorizado a substituir a pena de detenção pela de multa. Para tanto, é necessário que as lesões sejam leves ou que se trate, também, de lesões privilegiadas ou de lesões recíprocas.
Se não for possível apurar qual dos contendores iniciou a agressão, a posição que prepondera na jurisprudência é no sentido da absolvição de ambos.
Obs: é pacífico entendimento jurisprudencial e doutrinário no sentido de que a substituição da pena só é aplicável à lesão dolosa, não se estendendo, portanto, à lesão culposa.
Lesão corporal culposa
§ 6º Se a lesão é culposa:
É a ofensa à integridade física de alguém por imprudência, negligência ou imperícia.
Princípio da bagatela: quando a lesão decorrente da culpa é insignificante, conforme entendimento do STJ, o fato não constitui crime. O fundamento está na não ofensa à objetividade jurídica.
Pena – detenção, de 2 meses a 1 ano.
Aumento de pena
§ 7º Aumenta-se a pena de 1/3 se ocorrer qualquer das hipóteses dos §§ 4º e 6º do artigo. 121 deste Código.
Há aumento da pena de 1/3, se a lesão dolosa (leve, grave ou gravíssima) for praticada contra menor de quatorze ou maior de sessenta anos ao tempo do fato. Decorre da presunção legal de que tal vítima tem maiores dificuldades para se defender.
Trata-se de causa de aumento de pena aplicada na hipótese em que o crime de lesão corporal dolosa for praticado por milícia privada, sob o pretexto de prestação de serviços de segurança.
Não esquecer de que o aumento da pena não ocorre se a vítima for socorrida por terceiro, se a lesão for leve ou se a vítima não estiver ao desamparo.
§ 8º Aplica-se à lesão culposa no disposto no §5 do art. 121.
Ação Penal: pública condicionada.
Perdão judicial.
Violência doméstica
§9 Se a lesão for praticada contra ascendente, descendente, irmão, cônjuge ou companheiro, ou com quem conviva ou tenha convivido, ou, ainda, prevalecendo-se o agente das relações domésticas, de coabitação ou de hospitalidade:
Trata-se, em síntese, de forma qualificada de lesão corporal leve e dolosa. Está excluída a lesão culposa. 
O bem jurídico tutelado diz respeito à integridade física das pessoas e, também, à tranquilidade e harmonia familiares, na hipótese de parentesco ou convivência familiar.
Pena – detenção, de 3 meses a 3 anos.
§ 10 Nos casos previstos nos §§ 1º a 3º deste artigo, se as circunstâncias são as indicadas no § 9 deste artigo, aumenta-se a pena em 1/3.
§ 11 Na hipótese do § 9º deste artigo, a pena será aumentada de 1/3 se o crime for cometido contra pessoa portadora de deficiência.
O conceito de lesão corporal abrange tanto a ofensa física ou corpórea quando a saúde física ou mental.
A lei não prevê a necessidade de existir dano à saúde, bastando a quebra do equilíbrio funcional do organismo.
Objetividade jurídica: é a integridade física ou psíquica.
Sujeito do delito: ativo: qualquer pessoa, crime comum.
Passivo: ser humano vivo.
Conduta: ofender a integridade física ou psíquica.
O crime de lesão corporal também pode ser praticado por omissão, desde que com dolo. Ex: deixar de alimentar um doente.
Elemento subjetivo: dolo direto
Consumação: consuma-se com a lesão ao corpo ou à saúde.
Tentativa: discutida na doutrina, em razão da dificuldade de ser provada. Para Noronha, a tentativa é possível por se tratar de crime material.
Dica importante: existe decisão jurisprudencial no sentido de que a tentativa de lesão corporal não é possível, pois nesse caso estaria consumada a contravenção de vias de fato. Entretanto, já decidiu o STF pela possibilidade da tentativa.
Importante: a ação penal é publicada condicionada à representação do ofendido, nos termos do art. 88 da Lei n. 9.099/95. Com isso, fica mitigado o princípio da indisponibilidade do bem jurídico tutelado no crime de lesão corporal.
Princípio da insignificância: na palavra do STF, está vinculado a quatro circunstâncias de ordem objetiva:
a) Mínima ofensividade da conduta do agente;
b) a nenhuma periculosidade social da ação;
c) o reduzido grau de reprovabilidade do comportamento;
d) a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
Não esquecer: o princípio da insignificância, também chamado de bagatela, aplica-se ainda em outros crimes, como, por exemplo, no furto simples e peculato.
Ação Penal: pública, condicionada.
Perigo de contágio venéreo
Art. 130. Expor alguém, por meio de relações sexuais ou qualquer ato libidinoso, a contágio de moléstia venérea, de que sabe ou deve saber que está contaminado:
Pena – detenção, de 3 a 1 anos, ou multa.
§ 1º Se é intenção do agente transmitir a moléstia:
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 2º Somente se procede mediante representação.
Objetividade jurídica: a saúde da pessoa humana.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Passivo: pessoa com quem o agente, estando contaminado, pratica ato libidinoso.
Conduta: expor.
Elemento subjetivo: O agente sabe estar contaminado: caput, 1 ª parte - o dolo é de perigo.O agente não sabe, mas deveria saber achar-se contaminado: caput, 2ª parte – culpa (maioria da doutrina); outros, dolo eventual (Costa e Silva).
O agente sabe e te a intenção de transmitir a moléstia (art. 130, §1º): dolo direto.
Consumação: consuma-se com a exposição da vítima a perigo, independentemente de contaminação.
Tentativa: é perfeitamente possível, como no caso do contaminado que conquista mulher e com ela vai para o leito; quando está prestes a praticar o ato há uma interrupção, e por circunstâncias alheias a sua vontade.
Ação Penal: pública condicionada à representação do ofendido.
Perigo de contágio de moléstia grave
Art. 131. Praticar, com o fim de transmitir a outrem moléstia grave de que está contaminado, ato capaz de produzir o contágio:
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos, e multa.
Objetividade jurídica: a incolumidade física da pessoa ou sua saúde.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa contaminada por moléstia grave.
Passivo: pessoa contra quem é praticado o ato.
Conduta: qualquer ato praticado pelo sujeito ativo que possa transmitir a moléstia.
Moléstia grave: aguda ou crônica – não incurável. É aquela que provoca séria perturbação da saúde.
Moléstia contagiosa: transmissível pelo contágio.
Trata-se de norma penal em branco, pois cabe aos regulamentos da saúde pública a indicação de moléstia contagiosa.
Elemento subjetivo: dolo específico.
Consumação: consuma-se com a prática do ato.
Tentativa: perfeitamente possível.
Perigo para a vida ou a saúde de outrem
Art. 132. Expor a vida ou a saúde de outrem a perigo direto e iminente:
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, se o fato não constitui crime mais grave.
Parágrafo único. A pena é aumentada de 1/6 a 1/3 se a exposição da vida ou da saúde de outrem a perigo decorre do transporte de pessoas para a prestação de serviços em estabelecimento de qualquer natureza, em desacordo com as normas legais.
Objetividade jurídica: a vida e a saúde de qualquer pessoa.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa.
Passivo: qualquer pessoa cuja vida ou saúde é posta em perigo.
Conduta: criar, por qualquer meio, situação em que a vida ou a saúde de outrem fique exposta a perigo.
Perigo concreto: necessidade de demonstrar que a vida ou a saúde de outrem sofreu risco direto e iminente.
Elemento subjetivo: dolo direto e eventual.
Consumação: consuma-se com a prática do ato e a ocorrência de perigo concreto.
Tentativa: possível.
Abandono de incapaz
Art. 133. Abandonar pessoa que está sob seu cuidado, guarda, vigilância ou autoridade, e, por qualquer motivo, incapaz de defender-se dos riscos resultantes do abandono:
Pena – detenção, de 6 meses a 3 anos.
§1º Se do abandono resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 1 a 5 anos.
§2º Se resulta a morte:
Pena – reclusão, de 4 a 12 anos.
Aumento de pena
§ As penas cominadas neste artigo aumentam-se de 1/3:
I – se o abandono ocorre em lugar ermo;
II – se o agente é ascendente ou descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador da vítima;
III – se a vítima é maior de 60 anos.
Conceito: deixar sem assistência, desamparar, largar pessoa sem capacidade de defender-se dos riscos inerentes a sua condição pessoal, como o cego, o paralítico, o insano mental.
Objetividade jurídica: a proteção da vida e da saúde das pessoas, principalmente daquelas que têm mais dificuldade de defender-se.
Sujeitos do delito: ativo: pessoa que tem o dever de zelar pela vítima (crime próprio).
Passivo: é a pessoa incapaz de defender-se dos riscos do abandono.
Cuidado: assistência a pessoa que normalmente tem condições de defender-se, mas que acidentalmente perde essa capacidade.
Guarda e vigilância: conceitos que podem ser confundidos, A guarda constitui a assistência a pessoa que não prescinde dela e compreende, necessariamente, a vigilância. A vigilância importa a atenção voltada para a segurança pessoal do sujeito passivo, sem todo o rigor da “guarda”.
Autoridade: vínculo de poder de uma pessoa sobre outra.
Conduta: abandonar.
Importante: tempo do abandono (aquele capaz de pôr em risco a objetividade jurídica do crime).
Elemento subjetivo: crime exclusivamente doloso.
Consumação: está consumado o crime com o abandono e a ocorrência do perigo concreto.
Tentativa: possível apenas na forma comissiva.
Por ser um crime instantâneo de efeitos permanentes, se o agente, depois do abandono e da ocorrência do perigo, volta a prestar assistência, o crime permanece, uma vez que já foi atingida a fase de consumação.
Tanto a forma simples (caput) como as qualificadas pelo resultado têm suas penas aumentadas na hipótese de o abandono ocorrer em lugar ermo (deserto, solitário, isolado) ou se o sujeito ativo for ascendente, descendente, cônjuge, irmão, tutor ou curador do sujeito passivo (art. 133, §3º). Essa enumeração é taxativa, não abrangendo, por exemplo, o parentesco decorrente de adoção.
Exposição ou abandono de recém-nascido.
Art. 134. Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar desonra própria:
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – detenção, de 1 a 3 anos.
§2º Se resulta a morte:
Pena – detenção, de 2 a 6 anos.
Conceito: é uma forma privilegiada do crime de abandono de incapaz, em razão da honra (honoris causa). O motivo da honra, que não foi acolhido no crime de infanticídio, aqui integrou o tipo e deu autonomia ao crime. O crime consiste em abandonar ou expor recém-nascido a perigo para ocultar desonra.
Objetividade jurídica: proteger a vida e a saúde do recém-nascido.
Sujeitos do delito: ativo: só pode ser praticado pela mãe ou pelo pai. Crime próprio.
Passivo: é o recém-nascido.
Conduta: expor ou abandonar.
Expor: remover a vítima para local diverso daquele em que é prestada a assistência.
Abandonar: deixar de dar assistência à vítima.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: consuma-se o crime quando o recém-nascido é deixado à própria sorte e ocorre situação de perigo concreto.
Tentativa: é possível na forma comissiva.
Omissão de socorro
Art. 135. Deixar de prestar assistência, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à criança abandonada ou extraviada, ou à pessoa inválida ou ferida, ao desamparo ou em grave e iminente perigo; ou não pedir, nesses casos, o socorro da autoridade pública:
Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza grave, e triplicada, se resulta a morte.
Objetividade jurídica: a vida ou a saúde da pessoa.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa.
O sujeito ativo não pode ser o causador da situação que exige o socorro, se tiver agido com dolo ou com culpa.
Passivo: 1) criança abandonada ou extraviada (criança: toda pessoa que não tem condição de autodefesa por imaturidade). Abandonada: vítima de um dos delitos anteriores (arts. 133 e 134). Extraviada: perdida;
2) pessoa inválida: por condição pessoal, não dispõe de forças para dominar o perigo;
3) pessoa ferida: apresenta lesão corporal (a lei não exige que o ferimento seja grave, mas fala em grave e iminente perigo).
O sujeito passivo deve estar ao desamparo, precisando de auxílio para livrar-se do perigo.
Muito importante: (Damásio de Jesus): basta que a pessoa esteja em perigo, não sendo necessário que seja inválida ou ferida.
Na hipótese de a vítima recusar o socorro não desaparece o crime.
Conduta (crime omissivo puro): não prestar assistência e não pedir socorro da autoridade pública.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: a consumação ocorre no instante da omissão, vale dizer, quando o sujeito deixou de agir, omitiu o socorro.
Tentativa: não é possível, por se tratar de crime omissivo puro.
Condicionamento de atendimento médico-hospitalar emergencial
Art. 135-A. Exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial.
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano,e multa.
Parágrafo único. A pena é aumentada até o dobro se da negativa de atendimento resulta lesão corporal de natureza grave, e até o triplo se resulta a morte.
Conceito: está previsto no tipo e pune a conduta daquele que “exigir cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial”.
Bem jurídico tutelado: os bens jurídicos tutelados são a vida e a saúde da pessoa.
Sujeitos do crime: ativo: qualquer pessoa que exerça funções em atendimento médico- hospitalar, mas que tenha o poder de inviabilizar o atendimento emergencial, exigindo garantias financeiras que suportem eventuais gastos dispendidos pelo estabelecimento hospitalar, ou até mesmo impondo entraves administrativos. Portanto, crime próprio.
Passivo: qualquer pessoa que necessite de atendimento urgente. Caso não seja emergencial, não haverá o crime.
Conduta: a ação nuclear é “exigir”, que significa impor, ordenar, determinar.
Elemento subjetivo: dolo direto e eventual.
Consumação: trata-se de crime formal. O crime se consuma com a mera exigência de cheque-caução, nota promissória ou qualquer garantia, bem como o preenchimento prévio de formulários administrativos, como condição para o atendimento médico-hospitalar emergencial. Eventual atendimento da determinação não afasta o crime e constitui o exaurimento. 
Tentativa: É admissível na forma escrita, jamais quando o ato for realizado de modo verba., pois, nesse caso, se tratará de crime unissubsistente, que se perfaz com um único ato - com a ação de exigir.
Ação Penal: a ação penal é pública incondicionada, que independe de representação do ofendido ou de seu representante legal.
Maus-tratos
Art. 136. Expor a perigo a vida ou a saúde de pessoa sob sua autoridade e guarda ou vigilância, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina.
Pena – detenção, de 2 meses a 1 ano, ou multa.
§ 1º Se do fato resulta lesão corporal de natureza grave:
Pena – reclusão, de 1 a 4 anos.
§ 2º Se resulta morte:
Pena – reclusão, de 4 a 12 anos.
§ 3º Aumenta-se a pena de 1/3, se o crime é praticado contra pessoa menor de 14 anos.
Objetividade jurídica: incolumidade da pessoa (vida ou saúde).
Sujeitos do delito: Ativo: trata-se de crime próprio. Só quem possui a legitimação de autoridade, o titular da guarda ou vigilância.
Passivo: aquele que se acha sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente (filhos, tutelados, curatelados, alunos, presos).
Educação: atividade docente destinada a aperfeiçoar, sob o aspecto técnico, a capacidade individual.
Ensino: tem sentido menos amplo que o de educação: trata-se da exposição de conhecimento que deve formar um fundo comum de cultura (ensino primário).
Tratamento: emprego de meios e de cuidados no sentido de cura de moléstias.
Custódia: detenção de uma pessoa para fins autorizados em lei.
Conduta: expor.
Privando de alimentos: deixar de proporcionar ao sujeito passivo a alimentação adequada. Não se trata da privação total de alimentos, mas sim de quantidade que possa causar perigo.
Cuidados indispensáveis: privação de cama, de roupa, de higiene, de assistência médica, de medicamentos etc.
Trabalho excessivo: aquele que produz fadiga extraordinária ou que não pode ser suportado sem grande esforço. Há necessidade de verificar as condições da vítima para avaliar se o trabalho é inadequado (impróprio ou inconveniente para o trabalhador).
Abuso nos meios de correção e disciplina: vara de marmelo, palmatória, criança ajoelhada em grão de milho e etc.
Não esquecer: para que haja o crime é preciso que o abuso praticado gere uma situação de perigo concreto para a vida ou a saúde da vítima.
Elemento subjetivo: dolo específico.
Consumação: consuma-se com a criação de perigo. Na privação de alimentos há necessidade de habitualidade, e o crime é permanente.
Tentativa: é possível, pois o agente pode estar pronto para surrar a vítima e ser impedido por terceiro.
Rixa
Art. 137. Participar de rixa, salvo para separar os contendores:
Pena – detenção, de 15 dias a 2 meses, ou multa
Parágrafo único: Se ocorre morte ou lesão corporal de natureza grave, aplica-se pelo fato da participação na rixa, a pena de detenção, de 6 meses a 2 anos.
Conceito: briga ou contenda entre três ou mais pessoas, com vias de fato ou violências físicas recíprocas.
Objetividade jurídica: a incolumidade da pessoa e a ordem pública, bem como a disciplina da convivência civil.
Sujeitos do delito: ativo: trata-se de crime coletivo, bilateral ou de concurso necessário, também chamado de plurissubjetivo.
Passivo: os próprios rixentos – um em relação à conduta dos outros. O estado também é sujeito passivo.
Dica: a rixa é o único crime em que uma pessoa pode ser sujeito ativo e passivo da mesma infração penal.
Conduta: participar da rixa no sentido de tomar parte, contribuir.
Observação: para que haja o crime de rixa não há necessidade de contato físico entre os briguentos, como no caso de uma “briga” por meio do arremesso de objetos.
Não esquecer: pacífico o entendimento jurisprudencial no sentido de que não há falar no delito de rixa quando presente a possibilidade de identificar a participação de cada um dos “rixentos”. No mesmo sentido “não configura a rixa”, na hipótese de identificar responsáveis por homicídio doloso.
Elemento subjetivo: dolo de perigo específico.
Consumação: consuma-se quando surge a situação de perigo com a realização de violência ou vias de fato.
Tentativa: em regra, não é possível.
Mesmo que alguém agrida para se defender, ao participar da rixa já terá praticado o crime.
Dos Crimes contra a honra
Honra-dignidade: sentimento da pessoa a respeito de seus atributos morais de honestidade e bons costumes (estelionatário, ladrão).
Honra-decoro: sentimento da pessoa a respeito de seus dotes ou qualidades de homem (físicos, intelectuais e sociais) – ignorante, mesquinho, aleijado.
Honra subjetiva: aquela que se traduz no apreço próprio, na estima a si mesmo, o juízo que se faz da pessoa na coletividade.
Honra objetiva: aquela consideração da pessoa para com o meio social; o juízo que se faz da pessoa na coletividade.
Honra comum: peculiar em todos os homens.
Honra especial ou profissional: refere-se a determinado grupo social ou profissional.
Calúnia
Art. 138. Caluniar alguém, imputando-lhe falsamente fato definido como crime:
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, e multa.
§ 1º Na mesma pena incorre quem, sabendo falsa a imputação, a propala ou divulga.
§ 2º É punível a calúnia contra os mortos.
Exceção da verdade
§ 3º Admite-se a prova da verdade, salvo:
I – se, constituindo o fato imputado crime de ação privada, o ofendido não foi condenado por sentença irrecorrível;
II – se o fato imputado a qualquer das pessoas indicadas no n. I do art. 141;
III – se do crime imputado, embora de ação pública, o ofendido foi absolvido por sentença irrecorrível.
Conceito: é a falsa imputação de fato criminoso a outrem.
Objetividade jurídica: incolumidade moral – honra objetiva.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa, crime comum.
Passivo: somente o homem, porque apenas ele pode praticar crime. A pessoa jurídica mão pode ser sujeito passivo.
O consentimento do sujeito passivo exclui a responsabilidade do sujeito ativo, porque a honra é um bem disponível.
Conduta: imputar – atribuir a alguém a prática do ilícito.
Calúnia implícita: dizer, na frente de um bancário, que não vive de desfalques em cofres ou caixas de bancos.
Calúnia reflexa: envolvendo terceira pessoa (suborno de policial).
Elemento subjetivo: dolo específico e eventual.
Consumação: quando qualquer pessoa não a vítima toma conhecimento da imputação, porque a ofensa atinge a honra objetiva (externa).
Tentativa: pode ocorrer na hipótese de carta ou bilhete interceptado pela vítima.
Exceçãoda verdade (art. 138, § 3º): o sujeito ativo pode provar que o fato imputado é verdadeiro. Essa faculdade posta pela lei para o autor da calúnia provar que o fato imputado é verdadeiro deve ser arguida em juízo, com obediência ao contraditório, em qualquer fase do processo, até mesmo por ocasião das razões de apelação. Sendo procedente a exceção da verdade, o autor do fato deve ser absolvido, por falta de tipicidade.
Difamação
Art. 139. Difamar alguém, imputando-lhe fato ofensivo à sua reputação:
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, e multa.
Exceção da verdade
Parágrafo único. A exceção da verdade somente se admite se o ofendido é funcionário público e a ofensa é relativa ao exercício de suas funções.
Conceito: é a imputação a alguém de fato ofensivo a sua reputação.
Distinção da calúnia: nesta a imputação é de fato definido como crime, devendo ser falsa.
Objetividade jurídica: honra objetiva (externa) – é a reputação, o conceito do sujeito passivo no contexto social.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa – é crime comum.
Passivo: é o ser humano, imputável ou não.
1) Não pode a pessoa jurídica ser sujeito passivo do delito em razão de ser uma ficção; dessa forma, não possui existência real, não tendo reputação.
2) A pessoa jurídica pode ser sujeito passivo da difamação, por ser uma realidade viva (teoria organicista), confundindo-se com o ser humano. Posição do Professor Damásio.
É lícito afirmar que a tendência atual é que a pessoa jurídica pode ser sujeito passivo do crime de difamação. Por fim, a jurisprudência tem admitido essa possibilidade nos crimes de imprensa.
Conduta: imputar – atribuir a alguém fato desonroso, mas não criminoso.
Não há necessidade de ser falsa a imputação. Ocorre a difamação mesmo que verdadeiro o fato desonroso imputado. Na difamação não cabe, em regra, a prova da verdade.
Elemento subjetivo: dolo específico.
Consumação: consuma-se com o conhecimento por terceiro da imputação.
Tentativa: é possível, desde que a difamação não seja oral.
Exceção da verdade: só na hipótese de o ofendido ser funcionário público e a ofensa ser relativa a suas funções. O fundamento é a fiscalização ou crítica que todos têm a respeito do exercício das funções públicas.
Injúria
Art. 140. Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:
Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
§ 1º O juiz pode deixar de aplicar a pena:
I – quando o fendido, de forma reprovável, provocou diretamente a injúria;
II – no caso de retorsão imediata, que consista em outra injúria.
§ 2º Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:
Pena – reclusão de 1 a 3 anos e multa.
Conceito: a injúria consiste na ofensa à dignidade ou ao decoro de outrem. É a manifestação de desrespeito e desprezo, ofendendo a honra subjetiva. Pensar sempre: adjetivação pejorativa a respeito de outrem, com vontade de ofender.
Objetividade jurídica: é a honra subjetiva (o sentimento que cada um tem sobre seus sentimentos: honra interna, integridade mortal etc.).
Sujeito do delito: ativo: qualquer pessoa, crime comum.
Passivo: qualquer pessoa, sendo certo que a doutrina excetua aqueles que não têm consciência da dignidade (qualidades morais “ladrão”) ou decoro (outras qualidades ou condições do indivíduo “imbecil”, como os menores de tenra idade, os doentes mentais e etc.
Não esquecer: o cego, o embriagado, o surdo e o analfabeto, dependendo do caso concreto, também não podem ser sujeitos passivos do crime de injúria.
Importante: a pessoa jurídica NÃO pode ser sujeito passivo do crime de injúria, por falta de honra subjetiva.
Conduta: injuriar.
Não esquecer: na injúria, de moro diverso do que nos outros dois delitos contra a honra (calúnia e difamação), não existe imputação de fato. O que existe é a manifestação de menosprezo, juízo depreciativo em ralação ao sujeito passivo do fato.
A injúria pode ser praticada por omissão. O exemplo clássico, mencionado por Magalhães Noronha, é deixar, ostensivamente, de estender a mão para o cumprimento de terceiro.
Injúria imediata: proferida pelo autor da ofensa.
Injúria mediata: quando o autor se vale de outras formas, como um gravador, um papagaio ou uma criança.
Injúria oblíqua: referir-se a alguém que o ofendido ama ou estima.
Injúria direta ou reflexa: ofender o sujeito passivo quando insultar outrem.
Injúria equívoca: expressões ambíguas ou veladas contra o sujeito passivo.
Injúria irônica, interrogativa, condicionada, truncada ou simbólica: pendurar chifres à porta da casa de um casal.
Injúria implícita: ofensa subentendida.
Não é preciso que o sujeito passivo esteja presente.
Elemento subjetivo: dolo específico.
Discute-se se existe o dolo de injuriar quando há discussão acalorada, com ofensa. A jurisprudência tem entendido que não.
Consumação: consuma-se quando o ofendido toma conhecimento da ofensa ouvindo, vendo, lendo etc. Não é preciso que se sinta ofendido, bastando que a ofensa seja apta a ofender o “homem médio”.
Tentativa: só é possível quando a ofensa se fizer por escrito e, por circunstâncias alheias à vontade do agente, não chegar ao conhecimento do sujeito passivo. Na injúria oral não é possível.
Importante: na injúria não é possível a exceção da verdade. Por esse motivo não é possível provar o que se disse corresponde à realidade.
Injúria real (art. 140, § 2º): consiste na ofensa mediante violência ou “vias de fato” com o fim de injuriar.
O instituto do perdão judicial é cabível quando a injúria real é levada a efeito por meio de “vias de fato” e em retorsão imediata. Havendo lesões corporais leves, ambos devem responder por lesões recíprocas. 
Disposições comuns
Art. 141. As penas cominadas neste Capítulo aumentam-se de 1/3, se qualquer dos crimes é cometido:
I – contra o Presidente da República, ou contra chefe de governo estrangeiro;
II – contra funcionário público, em razão de suas funções;
III – na presença de várias pessoas, ou por meio que facilite a divulgação da calúnia, da difamação ou da injúria;
IV – contra pessoa maior de 60 anos ou portadora de deficiência, exceto no caso de injúria.
Parágrafo único. Se o crime é cometido mediante paga ou promessa de recompensa, aplica-se a pena em dobro.
Exclusão do crime
Art. 142. Não constituem injúria ou difamação punível:
I – a ofensa irrogada em juízo, na discussão da causa, pela parte ou por seu procurador;
II – a opinião desfavorável da crítica literária, artística ou científica, salvo quando inequívoca a intenção de injuriar ou difamar;
III – o conceito desfavorável emitido por funcionário público, em apreciação ou informação que preste no cumprimento de dever do ofício.
Parágrafo único. Nos casos dos n. I e III, responde pela injúria ou pela difamação quem lhe dá publicidade.
Retratação
Art. 143. O querelado que, antes da sentença, se retrata cabalmente da calúnia ou da difamação, fica isento de pena.
A retratação independe de aceitação pelo ofendido.
Art. 144. Se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo. Aquele que se recusa a dá-las ou, a critério do juiz, não as dá satisfatórias, responde pela ofensa.
Art. 145. Nos crimes previstos neste Capítulo somente se procede mediante queixa, salvo quando, no caso do art. 140, § 2º, da violência resulta lesão corporal.
Parágrafo único. Procede-se mediante requisição do Ministro da Justiça, no caso do inciso I do caput do art. 141 deste Código, e mediante representação do ofendido, no caso do inciso II do mesmo artigo, bem como no caso do § 3º do art. 140 deste Código.
Ação penal nos crimes contra honra: regra geral, são crimes de ação penal privada – legitimidade ativa do ofendido ou de ser representante legal (queixa-crime).
Exceções: na hipótese de injúria real com lesão corporal a ação pena é pública incondicionada.
Sendo o crime praticado contra funcionário público em razão de suas funções, existem duasposições na jurisprudência. A primeira posição sustenta a ação penal pública. A segunda admite, nos moldes da Súmula 714 do STF, legitimidade alternativa do Ministério Público e do ofendido.
A requisição do ministro da justiça não mais existe diante do que prevê o art. 129, I, da Constituição Federal (legitimidade exclusiva do Ministério público para a propositura da ação penal pública), devendo ser compreendida com representação. Vale aqui, também, a legitimidade concorrente.
A lei n. 12.033/2009 modificou a natureza da ação penal no crime de injúria qualificada pelo preconceito (CP, art. 140, § 3º), transmudando-a de crime que depende de queixa (ação penal privada) para o delito de ação pena pública condicionada à representação do ofendido.
Dos crimes contra a liberdade individual
Trata-se da faculdade de a pessoa exercer suas próprias atividades, dentro dos limites do direito, sendo um bem jurídico disponível.
Constrangimento Ilegal
Art. 146. Constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, ou depois de lhe haver reduzido, por qualquer outro meio, a capacidade de resistência, a não fazer o que a lei permite, ou a fazer o que ela não manda:
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
Aumento de pena
§ 1º As penas aplicam-se cumulativamente e em dobro, quando, para a execução do crime, se reúnem mais de três pessoas, ou há emprego de armas.
§ 2 º Além das penas cominadas, aplicam-se as correspondentes à violência.
§ 3º Não se compreendem na disposição deste artigo:
I – a intervenção médica ou cirúrgica, sem o consentimento do paciente ou de seu representante legal, se justifica por iminente perigo de vida;
II – a coação exercida para impedir suicídio.
Objetividade jurídica: a liberdade individual das pessoas no que diz respeito ao querer, vale dizer, a autodeterminação.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Observação: sendo o agente funcionário público e praticando o crime no exercício de suas funções, ocorrerá, dependendo da análise do fato, outro tipo penal.
Passivo: pessoa com capacidade de querer, com capacidade de autodeterminação, de fazer o que bem entenda sem infringir disposição legal. Estão excluídos o doente mental, o ébrio total, as crianças de tenra idade e as pessoas inconscientes. Estes só serão sujeito passivo do crime quando a violência recair sobre seus representantes legais para que façam algo contra os incapazes.
Observação: se a conduta recair contra o presidente da República, do Senado Federal, da Câmara dos Deputados e do Supremo Tribunal Federal, o crime será contra a segurança nacional (art. 28 da Lei n. 7.170/83). Se o constrangimento se der em dia de eleição, com a finalidade de influir na vontade do eleitor, o crime é eleitoral, conforme disposição expressa do Código Eleitoral.
Conduta: constranger.
Indaga-se se o constrangimento relativo a “tolerar que se faça” também está incluído na conduta criminosa do constrangimento ilegal. A maioria da doutrina entende que sim, porque a tolerância é omissão.
Questão Importante: constranger alguém a não praticar um ato imoral, mas não ilícito. Na opinião de Hungria, Mirabete e Damásio, o crime de constrangimento ilegal permanece, porque o que é imoral não deixa de ser legalmente permitido.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: consuma-se quando a vítima, depois de constrangida, assume o comportamento a que foi obrigada, realizando o que não queria, ou não executando o que era de seu desejo.
Tentativa: na jurisprudência já foi anotado caso de tentativa, a vítima, mesmo depois do constrangimento, não sucumbe à vontade do agente.
Ameaça
Art. 147. Ameaçar alguém, por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico, de causar-lhe mal injusto e grave:
Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.
Conceito: é a promessa de mal injusto e grave a alguém, restringindo-lhe a liberdade psíquica.
Objetividade jurídica: a lei protege, com o dispositivo, a liberdade psíquica, íntima, o sossego e a tranquilidade do ofendido. Alguns autores falam na autodeterminação das pessoas.
Sujeitos do delito: ativo: qualquer pessoa (crime comum).
Passivo: pessoas que estão sujeitas à intimidação. Deve ter capacidade para entender a ameaça feita. Estão excluídos, como no crime de constrangimento ilegal, os doentes mentais, as crianças de pouca idade etc. O sujeito passivo não precisa estar presente no instante da ameaça, podendo o crime ocorrer a distância.
Conduta: ameaçar.
Além da gravidade, o mal deve ser passível de ocorrer e não impossível. Não constitui o crime a ameaça de fazer cair a lua ou o sol sobre a cabeça de alguém. Também não é crime de ameaça a promessa de fazer funcionar um vulcão já extinto sobre a casa de alguém.
Promessa de mal grave para um futuro remoto não constitui a infração.
Obs: o mal prometido, para caracterizar a ameaça como crime, precisa ser grave, factível (realizável), iminente (proximidade temporal) e injusto.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Obs: estando o sujeito ativo em estado de embriaguez, não se pode falar em ameaça por falta de elemento subjetivo do crime.
Dica importante: na hipótese de a ameaça exigir algum comportamento da vítima. O crime é de constrangimento ilegal. A distinção entre as duas modalidades de crime reside no fato de que no constrangimento ilegal se exige uma conduta positiva ou negativa do sujeito passivo, enquanto na ameaça o sujeito somente pretende atemorizar o ofendido.
Consumação: consuma-se o delito no momento em que a vítima toma conhecimento da ameaça, independentemente de sua intimidação, crime formal.
Tentativa: mesmo sendo um crime formal, é admitida na hipótese de ameaça por escrito quando o ofendido não chega a tomar o conhecimento.
Ação penal: é pública condicionada à representação do ofendido.
Não esquecer: o crime de ameaça é de natureza subsidiária. Isso significa que, aparecendo como elementar de outros crimes, por exemplo, o roubo e o estupro, fica absorvida por essas infrações mais graves.
A ameaça praticada contra várias pessoas em um mesmo contexto fático é concurso formal.
Sequestro e cárcere privado
Art. 148. Privar alguém de sua liberdade, mediante sequestro ou cárcere privado:
Pena – reclusão, de 1 a 3 anos.
§ 1º A pena é de reclusão, de 2 a 5 anos:
I – se a vítima é ascendente, descendente, cônjuge ou companheiro do agente ou maior de 60 anos;
II – se o crime é praticado mediante internação da vítima em casa de saúde ou hospital;
III – se a privação da liberdade dura mais de 15 dias;
IV – se o crime é praticado contra menor de 18 anos;
V – se o crime é praticado com fins libidinosos.
§ 2° Se resulta à vítima, em razão de maus-tratos ou da natureza da detenção, grave sofrimento físico ou moral:
Pena – reclusão, de 2 a 8 anos.
Distinção entre sequestro e cárcere privado: (Damásio de Jesus), no sequestro, mesmo com a privação da locomoção, a vítima tem maior condição de ir e vir. No cárcere privado, a vítima se vê submetida à privação da liberdade em lugar fechado.
Objetividade jurídica: A liberdade de ir e vir da pessoa.
Sujeitos do delito: ativo: crime comum.
Passivo: qualquer pessoa.
Conduta: privar alguém de sua liberdade de locomoção.
Até por omissão pode ser praticado o crime. O exemplo citado é o do médico que, observando a cura do paciente, não lhe concede alta hospitalar, privando-o da liberdade. Se a retenção for para receber os honorários médicos, entendeu-se que o sequestro é crime-meio, caracterizando o delito de exercício arbitrário das próprias razões.
Como a liberdade de locomoção é um bem disponível, não há falar em sequestro ou cárcere privado quando existir o consentimento válido da vítima. Obs: O consentimento deve ser válido. Exemplo: vítima com a liberdade cerceada, tendo oportunidade de sair, não o faz por livre e espontânea vontade.
Elemento subjetivo: dolo direto.
É crime de natureza subsidiária, e, se for praticado para obter vantagem ilícita, ocorrerá o crime do art. 159 do CódigoPenal.
Consumação: está consumado o crime quando o sujeito passivo fica privado de sua liberdade de locomoção espacial, ainda que por curto espaço de tempo. Crime permanente.
Tentativa: Além de permanente, é crime material, e, por isso, admite a tentativa.
Obs: Não se aplica a qualificadora em se tratando de filho adotivo ou enteado. Isso porque a interpretação deve ser restritiva, e não extensiva.
Redução a condição análoga à de escravo
Art. 149. Reduzir alguém a condição análoga à de escravo, quer submetendo-o a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, quer sujeitando-o a condições degradantes de trabalho, quer restringindo, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto:
Pena – reclusão, de 2 a 8 anos, e multa, além da pena correspondente à violência.
§ 1º Nas mesmas penas incorre quem:
I – cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador, com o fim de retê-lo no local de trabalho;
II – mantém vigilância ostensiva no locar de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhados, com o fim de retê-lo no local de trabalho.
§ 2º A pena é aumentada de metade, se o crime é cometido:
I – contra criança ou adolescente;
II – por motivo de preconceito de raça, cor, etnia, religião ou origem.
Objetividade jurídica: liberdade no conjunto de suas manifestações.
Sujeitos do delito: ativo: crime comum.
Passivo: todo ser humano. O consentimento do ofendido é irrelevante, ou seja, não há a exclusão da figura típica se o próprio sujeito passivo concorda com a inteira supressão de sua liberdade pessoal.
Tipo penal: reduzir.
Trata-se de crime de ação livre. O meio para a prática se traduz numa gama de meios executórios, desde que idôneos à submissão do sujeito passivo ao domínio do agente (supressão de transporte; vigilância ostensiva; retenção de objetos e documentos pessoais).
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: trata-se de crime material, que se consuma no momento que a vítima é reduzida a condição análoga à de escravo. Trata-se de crime permanente, sendo possível o flagrante enquanto perdurar a situação de submissão. 
Tentativa: por se tratar de crime material, a tentativa é perfeitamente possível.
Pena e ação penal: as penas privativa de liberdade e de multa somam-se à pena correspondente à violência, caso se qualifique como tipo penal autônomo. A ação penal é pública incondicionada, que independe do ofendido ou de seu representante legal.
Violação de domicílio
Art. 150. Entrar ou permanecer, clandestina ou astuciosamente, ou contra na vontade expressa ou tácita de quem de direito, em casa alheia ou em suas dependências:
Pena – detenção, de 1 a 3 meses, ou multa.
§ 1º Se o crime é cometido durante a noite, ou em lugar ermo, ou com o emprego de violência ou de arma, ou por duas ou mais pessoas:
Pena – detenção, de 6 meses a 2 anos, além da pena correspondente à violência.
§ 2º Aumenta-se a pena de 1/3, se o fato é cometido por funcionário público, fora dos casos legais, ou com inobservância das formalidades estabelecidas em lei, ou com abuso de poder.
§ 3º Não constitui crime a entrada ou permanência em casa alheia ou em suas dependências:
I – durante o dia, com observância das formalidades legais, para efetuar prisão ou outra diligência;
II – a qualquer hora do dia ou da noite, quando algum crime está sendo ali praticado ou na iminência de o ser.
§ 4º a expressão “ casa” compreende:
I – qualquer compartimento habilitado;
II – aposento ocupado de habilitação coletiva;
III – compartimento não aberto ao público, onde alguém exerce profissão ou atividade.
§ 5º Não se compreendem a expressão “casa”:
I – hospedaria, estalagem ou qualquer outra habitação coletiva, enquanto aberta, salvo a restrição do n. II do parágrafo anterior;
II – taverna, casa de jogo e outras do mesmo gênero.
Objetividade jurídica: inviolabilidade da casa da pessoa.
Tipo penal: entrar e permanecer.
Elementos normativos do tipo: conforme o dispositivo, a entrada ou permanência pode ser:
Clandestina – realizada às ocultas, furtivamente, impedindo que o morador tenha conhecimento do fato.
Astuciosa – dá-se com o emprego de fraude, artifício ou ardil para induzir em erro o morador.
Sujeitos do delito: ativo: crime comum.
Passivo: o morador.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: trata-se de crime de mera conduta, uma vez que a lei não descreve qualquer resultado naturalístico. Consuma-se com o completo ingresso do agente na residência.
Tentativa: admissível, ex: o agente é surpreendido no momento em que está galgando a janela para entrar na casa. (Nélson Hungria).
Não incide a qualificadora sobre o agente que ingressa em casa alheia, de forma arbitrária, quando nesta, profusamente iluminada, da frente aos fundos, se realiza um baile ou uma reunião festiva.
Emprego de violência: é tanto aquela dirigida contra a coisa quanto à pessoa, pois a lei não faz qualquer distinção.
Emprego de arma: trata-se tanto de arma própria (revólver, pistola, punhal) quanto imprópria (faca, machado, estilete). O porte, por si só, não caracteriza a majorante, pois a arma tem de ser utilizada, ao menos, para a ameaça. A arma de brinquedo não serve para a caracterização da qualificadora.
Será ainda lícito o ingresso em casa alheia, sem o consentimento do morador, em caso de “desastre ou para prestar socorro”. Trata-se de hipótese de estado de necessidade.
Ação penal: pública e incondicionada.
Violação de correspondência
Art. 151. Devassar indevidamente o conteúdo de correspondência fechada, dirigida a outrem:
Pena – detenção, de 1 a 6 meses ou multa.
Objetividade jurídica: visa-se proteger a liberdade individual no que se refere à liberdade de manifestação do pensamento.
Sujeitos do delito: ativo: crime comum.
Passivo: trata-se de crime de dupla subjetividade passiva. Figuram como sujeitos passivos da ação o remetente e o destinatário.
Tipo penal: o núcleo do tipo é devassar, que significa invadir, olhar, tomar conhecimento do conteúdo da correspondência, de forma parcial ou total.
O objeto material do crime é a correspondência fechada.
Para a caracterização do crime há necessidade de que esteja fechada a correspondência (por cola, lacre, costura etc.).
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: a consumação se dá no momento em que o agente toma conhecimento, ainda que parcial, do conteúdo da correspondência fechada. O fato de apenas abri-la sem tomar conhecimento do conteúdo não consuma o delito.
Heleno Fragoso ensina que, em se tratando de mensagem cifrada ou de carta redigida em língua estrangeira não dominada pelo agente, haverá crime impossível, pela absoluta impropriedade do objeto.
Tentativa: é admissível.
Sonegação ou destruição de correspondência.
§ 1º Na mesma pena incorre:
I – quem se apossa indevidamente de correspondência alheia, embora não fechada e, no todo ou em parte, a sonega ou destrói:
Foi tacitamente revogado pelo art. 40, § 1°, da lei n. 6538/78.
Violação de comunicação telegráfica, radioelétrica ou telefônica.
II – quem indevidamente divulga, transmite a outrem ou utiliza abusivamente comunicação telegráfica ou radioelétrica dirigida a terceiro, ou conversação telefônica entre outras pessoas.
Objetividade jurídica: visa-se proteger a liberdade individual do sigilo de correspondência, ou seja, o sigilo de comunicação de pessoa a pessoa.
Sujeitos do delito: ativo: crime comum.
Passivo: trata-se de crime de dupla subjetividade passiva. Figuram como sujeitos passivos da ação o remetente e o destinatário.
Tipo penal: divulgar, utilizar e transmitir.
A lei não incrimina a conduta daquele que toma conhecimento do conteúdo da comunicação. Exige o dispositivo que o agente divulgue, transmita a outrem ou utilize a correspondência para qualquer fim.
Para a caracterização do delito há necessidade de que a divulgação ou a transmissão a outrem do conteúdo da comunicação seja indevida.
O STJ considera como lícita a gravação de conversa telefônica por um dos interlocutores (gravaçãoclandestina), o que é diverso da interceptação telefônica, que necessita de autorização judicial.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: crime material, consuma-se no instante em que o agente divulga ou transmite a comunicação a outrem ou na utiliza abusivamente.
Tentativa: admissível.
III – quem impede a comunicação ou a conversação referidas no número anterior;
Objetividade jurídica: liberdade de transmissão de pensamento de pessoa a pessoa.
Sujeitos do delito: ativo: trata-se de crime comum.
Passivo: remetente e destinatário da mensagem.
Tipo penal: impedir.
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: se dá com a interrupção da comunicação ou conversação entre as vítimas.
Tentativa: possível, na hipótese em que a ação de interferir, idônea para tanto, não impedir a comunicação entre os sujeitos passivos.
IV – quem instala ou utiliza estação ou aparelho radioelétrico, sem observância de disposição legal.
Revogado pelo art. 70 da lei n. 4117/62 (código brasileiro de telecomunicação).
§ 2º As penas aumentam-se de metade, se há dano para outrem.
O dano pode ser de cunho econômico ou moral, público ou privado, e deve ser devidamente comprovado, independentemente da obtenção de vantagem por parte do agente. Pode o dano atingir qualquer pessoa que não o remetente ou destinatário da correspondência.
§ 3º Se o agente comete o crime, com abuso de função em serviço postal, telegráfico, radioelétrico ou telefônico:
Pena - detenção de 1 a 3 anos.
§ 4º Somente se procede mediante representação, salvo nos casos do § 1º, IV e do § 3º.
Correspondência comercial
Art. 152. Abusar da condição de sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial para, no todo ou em parte, desviar, sonegar, subtrair ou suprimir correspondência, ou revelar a estranho seu conteúdo:
Pena – detenção, de 3 meses a 2 anos.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.
Objetividade jurídica: visa-se proteger a liberdade de correspondência comercial.
Sujeitos do delito: ativo: trata-se de crime comum. Apenas o sócio ou empregado de estabelecimento comercial ou industrial remetente ou destinatário podem figurar como sujeito ativo do delito. Necessária se faz a existência de vínculo contratual (de trabalho ou de sociedade) entre o sujeito ativo e o estabelecimento comercial ou industrial.
Sujeito Passivo: estabelecimento comercial ou industrial remetente ou destinatário da correspondência.
Tipo penal: Desviar, sonegar, subtrair, suprimir ou revelar.
Para a caracterização do crime há necessidade de haver ao menos a possibilidade de dano, quer patrimonial, quer moral, à empresa ou a terceiro. Em sua ausência, a conduta será atípica (correspondência com conteúdo fútil, de somenos importância).
Elemento subjetivo: dolo direto.
Consumação: se dá com a efetiva prática de uma das condutas previstas, ou seja, quando o agente, no todo ou em parte, devia, sonega ou suprime a correspondência, ou revela seu conteúdo a estranho.
Tentativa: admitida, excepcionada a hipótese de o agente revelar verbalmente o conteúdo da correspondência.
Ação Penal: pública condicionada à representação da pessoa jurídica ofendida.
Divulgação de segredo
Art. 153. Divulgar alguém, sem justa causa, conteúdo de documento particular ou de correspondência confidencial, de que é destinatário ou detentor, e cuja divulgação possa produzir dano a outrem:
Pena – detenção, de 1 a 6 meses, ou multa.
§ 1º-A. Divulgar, sem justa causa, informações sigilosas ou reservadas, assim definidas de lei, contidas ou não nos sistemas de informações ou banco de dados da Administração Pública:
Pena – detenção, de 1 a 4 anos, e multa.
§ 1º Somente se procede mediante representação.
§ 2º Quando resultar prejuízo para a Administração Pública, ação penal será incondicionada.
Objetividade jurídica: visa-se proteger a liberdade individual no que diz respeito à inviolabilidade do segredo.
Sujeitos do delito: ativo: o destinatário ou detentor da correspondência confidencial. O remetente somente poderá ser sujeito ativo do crime em caso de participação (instigar, induzir), na hipótese de determinar ao destinatário ou detentor a divulgação do segredo inserido no documento ou correspondência.
Passivo: como sujeitos passivos podem figurar o remetente, o autor do documento, o destinatário ( se outro for o detentor do documento particular ou da correspondência), bem como qualquer pessoa, ainda que não seja o remetente ou autor do documento, mas que possa, de alguma forma, sofrer danos com a divulgação do segredo.
Tipo penal: divulgar.
A divulgação de segredo verbal não configura o delito, podendo constituir crime de difamação. 
Elemento Subjetivo: dolo direto.
Consumação: consuma-se com a divulgação para um número indeterminado de pessoas, independentemente da superveniência de dano a outrem, pois basta a potencialidade lesiva.
Tentativa: é admitida, trazido pela doutrina do agente que é interrompido pela vítima ou terceiro no instante em que tenta afixar em local de acesso público documento particular ou correspondência confidencial cuja divulgação possa produzir dano a outrem.
Ação penal: pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante legal. A ação penal será pública incondicionada se resultar prejuízo para a Administração pública.
Violação de segredo profissional
Art. 154. Revelar alguém, sem justa causa, segredo, de que tem ciência em razão de função, ministério, ofício ou profissão, e cuja revelação possa produzir dano a outrem:
Pena – detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.
Parágrafo único. Somente se procede mediante representação.
Objetividade jurídica: visa-se proteger a liberdade individual no que diz respeito à inviolabilidade do segredo profissional.
Sujeitos do delito: ativo: trata-se de crime próprio.
Passivo: é a pessoa que tem interesse na preservação do segredo.
Tipo penal: revelar, a pessoa a quem é revelado o segredo não comete o crime.
O objeto material do crime é o segredo.
O consentimento do sujeito passivo torna o fato lícito. Contudo, há necessidade do consentimento de todos aqueles que possam sofrer o dano com a revelação.
Elemento subjetivo: dolo direto ou eventual.
Consumação: se dá com a revelação do segredo a uma única pessoa.
Tentativa: é admissível, na hipótese em que a revelação se dá por escrito – interceptação, pelo confitente, da carta reveladora do segredo (crime plurissubsistente). Inadmissível será a tentativa se o segredo for revelado por meio oral.
Ação Penal: pública condicionada à representação do ofendido ou de seu representante.

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