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Manual - Criação de Algas

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Sumário
1. Introdução .................................................................................... 3
Como se cultivam algas ................................................................................ 5
Espécie cultivada .......................................................................................... 5
Ciclo de vida ................................................................................................ 7
2. Seleção do local ............................................................................ 8
Correnteza ................................................................................................... 8
Salinidade .................................................................................................. 10
Temperatura ............................................................................................... 10
Ocorrência de outras algas ......................................................................... 11
Tipo de fundo ............................................................................................ 12
Profundidade ............................................................................................. 13
Acesso ao local ........................................................................................... 14
Abrigo de ondas e "ressacas" ....................................................................... 14
Ausência de conflitos de uso e de interesse ............................................... 14
Aspectos legais ........................................................................................... 15
3. Construção.................................................................................. 16
Estrutura de cultivo .................................................................................... 16
4. Manejo ....................................................................................... 19
Instalação ................................................................................................... 19
Manutenção ............................................................................................... 25
Colheita ...................................................................................................... 28
5. Secagem e comercialização......................................................... 32
6. Organismos prejudiciais .............................................................. 35
7. Avaliação econômica e plano de trabalho ................................... 38
8. Bioensaio expedito...................................................................... 40
2 – Manuais BMLP de maricultura
Série Maricultura
Cultivo de Algas
Textos
Miguel da Costa Accioly
Produção e Editoração
Multitarefa (Lúcia Valente, Paula Arend Laier e Vinícius Carvalho)
Capa
Mãos de mulher trabalhando com algas em Barra dos Carvalhos, BA. Foto de
Lúcia Valente.
Ilustrações
Ilustrativa (André Valente, Eduardo Belga e Paulo Faria)
Projeto Gráfico
Cesar Valente
Impressão
Gráfica Agnus
Informações/contato:
Miguel da Costa Accioly
Instituto de Biologia - UFBA
Campus de Ondina
40170-290 - Salvador - BA
A série Maricultura compõe-se de cinco manuais, publicada pelo BMLP
(Brazilian Mariculture Linkage Program – Programa Brasileiro de Intercâmbio
em Maricultura)
Jack Littlepage – Diretor Geral
Patricia Summers – Gerente de Projetos
Carlos Rogério Poli – Diretor no Brasil e responsável técnico editorial da coleção
Endereço: multitarefa@terra.com.br
DISTRIBUIÇÃO GRATUITA – VENDA PROIBIDA
2003
Cultivo de algas – 3
1. Introdução
Quando se fala em cultivar algas, algumas perguntas
costumam surgir.
Porque gastar tempo e trabalho para cultivar algas?
Quem vai comprar isto?
Para que servem as algas?
Na verdade, o interesse em cultivar as algas vem do
valor que existe nos produtos extraídos delas. Quando al-
guém toma uma cerveja - há produto de alga para manter
a espuma firme por mais tempo; quando alguém toma sor-
vete industrializado - há produto de alga para evitar que a
água forme pedrinhas de gelo, deixando o sorvete todo
macio; quando alguém toma um remédio em cápsulas -
há produto de alga na parede daquela cápsula; quando
um dentista faz uma prótese dentária, ele usa
produto de alga na massa para moldar os
dentes. Em alguns lugares do mundo,
como por exemplo no Japão, é co-
mum comer algas em saladas, so-
pas e outros pratos.
4 – Manuais BMLP de maricultura
Portanto, muita gente usa, compra e vende pro-
dutos de algas e por isto, muita gente compra algas
para fabricar estes produtos. Isto significa que a alga
tem valor comercial.
O Brasil tem algumas fábricas que extraem
estes produtos, mas como as algas que existem
naturalmente não são suficientes, estas fá-
bricas compram algas do exterior. Além
disso, tirar as algas dos recifes para ven-
der, acaba com o crescimento natural em
pouco tempo. Elas não costumam voltar a crescer no mes-
mo lugar. Isto prejudica não só quem tira as algas, mas
também animais, como os peixes e lagostas, que preci-
sam das algas sobre os recifes para viver.
Mas alguém descobriu que é possível cultivar algas,
como uma fazenda, só que no mar. E este cultivo pode ser
uma fonte de renda e preserva o ambiente, ajudando a
manter outras formas de pesca. O mais importante e o
melhor de tudo isto é que as algas ajudam a purificar o
ambiente, a água, produzindo o oxigênio que respiramos,
sendo conhecida como uma atividade ecologicamente de-
sejável. Quer dizer, boa para a natureza, desde que tome-
mos alguns cuidados e boa para o ser humano.
Cultivo de algas – 5
Como se cultivam algas
Existem algumas maneiras de
cultivar algas, em geral todas mui-
to simples. Por esta razão é uma
atividade adequada tanto para ho-
mens como para mulheres, de to-
das as idades. O objetivo dos métodos de cultivo é atingir
um rápido crescimento e uma alta produção. Isto é, produ-
zir muitas algas em pouco tempo. Existe um método de cul-
tivo próprio para cada lugar e cada época, por isso deve-se
encontrar o melhor local, o melhor método para aquele local
e suas variações para cada época. Mas é bom sempre lem-
brar que, qualquer que seja a situação, o mais impor-
tante é o comportamento do produtor, que, com inte-
resse, prazer e zelo, sempre achará os melhores proce-
dimentos para o seu cultivo. Um famoso pesquisador,
Maxwell Doty afirmou que “o melhor fertilizante para
fazer crescer bem as algas é a sombra do produtor.”
Espécie cultivada
As algas, também chamadas de sargasso, cisco,
ou limo, são plantas muito simples que geralmente cres-
cem dentro d’água, e não apresentam folhas, raízes, frutos
ou flores. O seu corpo é formado por um apressório, que Apressório: apêndice pelo qual a alga
se fixa no substrato.
Talo
I
O
Apressório
6 – Manuais BMLP de maricultura
serve apenas para prender a planta, e todo o resto é chama-
do de talo que serve para tudo: crescer, absorver nutrien-
tes, água e luz, e também reproduzir. O talo pode ter várias
formas: cilíndrico como um macarrão, achatado como uma
fita, achatado e largo como uma folha, com muitas ramifi-
cações formando um grande emaranhado ou até sem rami-
ficações. O importante é que no cultivo qualquer pedaço
do talo é capaz de crescer e viver normalmente se for preso,
amarrado a alguma estrutura, pois normalmente o talo não
forma um novo apressório.
Como qualquer outra planta, as algas precisam de luz
do sol, água e nutrientes. Além disso é preciso ter cuidado
para que outras plantas indesejáveis não cresçam junto atra-
palhando o crescimento do cultivo. Deve-se cuidar tam-
bém para que animais não comam ou façam “casa” sobre
as plantas do cultivo. Por isso, plantar algas se parececom
plantar e cuidar de qualquer outro tipo de roça, a diferença
é que é dentro d’água.
Existem muitos tipos de algas no mar, várias delas po-
dem ser vendidas para várias finalidades. Este manual vai
tratar das Gracilarias, que são algas vermelhas importantes
Nutrientes: matéria orgânica em
decomposição, resultado dos dejetos
dos peixes, folhas velhas de plantas e
restos de comida. O nitrato é um dos
principais.
Cistocarpos: plantas microscópicas que
vivem como parasitas sobre as
plantas-mãe, formando pequenas
“verrugas” sobre as plantas
femininas.
Esporos: algo como sementes
microscópicas.
Tetrasporofíticas: plantas que têm a
mesma forma das masculinas e
femininas.
Ágar: tipo de gelatina, parecida com
uma goma, extraída de algas
vermelhas.
Talo: é o corpo da alga; dá sustentação.
Cultivo de algas – 7
para indústrias que extraem delas uma goma chamada Ágar.
Existem muitas espécies de Gracilaria que crescem no Bra-
sil, algumas com mais valor para a indústria que outras. As
mais importantes são as que apresentam talo cilíndrico, grosso
e firme, como a Gracilaria cornea. Esta espécie cresce sobre
os recifes, mais ou menos cobertos por areia, e geralmente
não fica fora d’água na maré baixa. Quando cultivada é nor-
mal que ela cresça muito rápido e fique mais fina e ramifica-
da do que normalmente encontramos nos recifes.
Ciclo de vida
As algas vermelhas crescem normalmente no mar ou
nos manguezais, sempre presas a alguma superfície. Quan-
do vemos uma alga vermelha solta na água ela já morreu ou
certamente irá morrer. Existem plantas masculinas e plantas
femininas, as quais geralmente têm forma semelhante. Do
cruzamento destas plantas surgem plantas microscópicas que
vivem como parasitas sobre as plantas-mãe, formando pe-
quenas “verrugas” escuras sobre as plantas femininas – os
cistocarpos. Estes cistocarpos produzem esporos que ger-
minam e dão origem a plantas tetrasporofíticas. Estas plan-
tas tetrasporofíticas também produzem esporos que germi-
nam e dão origem a novas plantas femininas e masculinas.
Para o cultivo é interessante usar plantas inférteis, que só
crescem, não gastando energia com a reprodução.
8 – Manuais BMLP de maricultura
2. Seleção do local
Para escolher o local de cultivo deve-se pensar em aspec-
tos técnicos, para que seja bem produtivo, e nos aspectos le-
gais, para que o cultivo tenha uma boa convivência com o
ambiente, com a comunidade local e com os órgãos públicos
que regulam esta atividade. O principal ponto é oferecer às
plantas condições para que elas se desenvolvam bem, e ao
mesmo tempo verificar também boas condições de trabalho,
para que este seja realizado com disposição e satisfação.
Tecnicamente existem vários parâmetros que devem
ser observados para indicar a adequação do local ao culti-
vo de algas. Os mais importantes são os seguintes:
Correnteza
Esta é uma característica importan-
te que afeta o cultivo de várias formas.
Com relação às plantas, é bom que haja
correnteza, pois é o movimento da água
que trará nutrientes e movimentará as
plantas fazendo com que elas tomem sol
Parâmetros: característica do ambiente,
que podemos medir, como
temperatura e correnteza.
Cultivo de algas – 9
por todo o talo, além de fazer com que se limpem. Um
local sem correnteza é completamente inadequado. No
entanto, uma correnteza muito forte impedirá que as plan-
tas cresçam muito, fazendo com que elas se quebrem ao
atingir um determinado tamanho, obrigando a fazer co-
lheitas mais freqüentes.
Outro ponto importante é que uma forte correnteza
dificulta muito o trabalho que é realizado dentro d’água,
além de danificar mais rapidamente os equipamentos e
estruturas, obrigando a uma manutenção mais intensa e
maior reposição de materiais.
Para medir a correnteza do local deve-se usar uma
garrafa plástica (PET) de uns dois litros, amarrada a uma
retinida fina de 5 metros. Enche-se a garrafa quase toda
com água do local para que ela fique só um pouco abaixo
da superfície, assim o vento quase não vai mexer com
ela. Solta-se a garrafa na água e, com um relógio, marca-
se quanto tempo leva para a garrafa correr os 5 metros,
até que a retinida esteja praticamente estirada. Se este
tempo for maior que 50 segundos (velocidade menor do
que 0,1m/s) o local não é muito adequado. Esta medida
deve ser repetida em alguns momentos diferentes para
conferir as diversas situações de vento e maré que nor-
malmente ocorrem no local.
Retinida: pequena corda com diâmetro
entre 3 e 8 mm, resistente, que pode
ter diversas utilidades.
10 – Manuais BMLP de maricultura
Salinidade
Esse é um parâmetro necessário para o crescimento
das algas, pois informa a quantidade de sal contida na água.
Para a Gracilaria cornea quanto mais alta a salinidade me-
lhor, ou seja, quanto mais afastado de rios e estuários me-
lhor para o seu cultivo. Outra característica importante é a
variação da salinidade: deve ser pequena entre a maré alta
e a baixa. Para medir a salinidade pode-se usar salinôme-
tros eletrônicos, refratômetro que é um aparelho óptico,
ou ainda densímetro que é muito barato e pode ser com-
prado em lojas de material para aquários. Na falta de qual-
quer aparelho é muito fácil encher um pequeno frasco de
plástico ou vidro com a água do local, fechar bem e enviar
para alguém do serviço de extensão fazer a medição da
salinidade. Isto tem que ser feito com duas amostras, pelo
menos: uma na maré cheia e outra na maré baixa.
Temperatura
No nordeste, não há problemas com temperaturas bai-
xas, que impediriam o crescimento da Gracilaria ou mes-
mo a matariam. Mas deve-se ter cuidado com locais onde
a temperatura sobe demais. Pequenas baías rasas ou áre-
as abrigadas por recifes podem esquentar demais na bai-
xamar durante o dia. Em geral a água deverá estar entre
Densímetro: mede a densidade da
água que é fortemente determinada
pela salinidade.
Refratômetro: aparelho óptico que
mede, por comparação, a salinidade.
Termômetro: aparelho para medir a
temperatura.
Baixamar: quando a maré atinge seu
ponto mais baixo.
Cultivo de algas – 11
22ºC e 32ºC, ou seja uma água com temperatura agradá-
vel a qualquer pessoa.
A temperatura pode ser medida por termômetros
para aquário, flutuantes e baratos, encontrados em lojas
especializadas. Deve-se sempre ler a temperatura mar-
cada pelo termômetro com ele dentro d’água e sem rece-
ber sol diretamente. Termômetros comprados em farmá-
cia não servem para medir a temperatura da água.
Acanthophora HypneaDictyota Halodule
Ocorrência de outras algas
A observação de que no local já crescem algas como
Acanthophora, Hypnea, Gracilaria, Dictyota, ou o capim
agulha Halodule é uma boa indicação de que o local é
favorável para o cultivo da Gracilaria cornea. Isso revela
que o local tem todos os parâmetros favoráveis.
Para identificar as algas citadas pode-se usar alguns
manuais técnicos disponíveis para o local. Outro meio é
retirar algumas das plantas que crescem no local, colo-
12 – Manuais BMLP de maricultura
cá-las inteiras (com talo e apressório) e
abertas para secar entre duas folhas de
papel de jornal, por exemplo, e enviar
para o serviço de extensão identificar.
Esta observação deve ser complementada
pela instalação de um "bioensaio expedi-
to" como será descrito no capítulo 8 des-
te manual.
Tipo de fundo
O tipo de fundo é essencial em vários aspectos do culti-
vo: indica, de uma forma geral, o tipo de água e correnteza
que passa pelo local, e vai determinar o tipo de estrutura
para fixação do cultivo. Os fundos de areia fina são os ideais.
Os fundos de lama são muito bons para fixar o cul-
tivo mas indicamque haverá grande deposição de par-
tículas finas sobre as algas, o que reduzirá o crescimen-
to, favorecerá o surgimento de epífitas (ver capítulo de
organismos prejudiciais), e, por isso, aumentará o tra-
balho necessário para o cultivo. Fundos de areia grossa
indicam uma água muito boa para o cultivo, mas certa-
mente haverá um pouco mais de dificul-
dade para a fixação, além de prováveis cor-
rentezas fortes ou ondas no local, o que
dificultará o trabalho de manejo na água.
Partículas: parte da matéria muito
pequena.
Epífitas:plantas que vivem sobre outra
planta, podendo ser prejudiciais ou
não.
Cultivo de algas – 13
Os fundos de pedra apresentam problemas na fixação
do cultivo, além de haver uma grande possibilidade de
ocorrerem animais herbívoros que comem as algas.
Profundidade
Quanto maior a profundidade, maior a dificuldade
de se trabalhar, especialmente na instalação e manuten-
ção das estruturas de cultivo, obrigando a fazer mergu-
lhos profundos para estes trabalhos. No entanto, a pro-
fundidade na baixamar não pode ser tão pequena que as
algas fiquem fora d'água, nem mesmo em algumas marés.
Herbívoros: que se alimentam de
vegetais, como as algas.
14 – Manuais BMLP de maricultura
Acesso ao local
Deve ser fácil para o produtor chegar ao cultivo, seja
para trabalhar no manejo seja para melhor vigiar seus bens.
Abrigo de ondas e "ressacas"
Pequenas ondas, mesmo que quebrem sobre o culti-
vo, atrapalham pouco. A área não deve ser exposta a gran-
de arrebentação ou sofrer intenso batimento durante as
ressacas. Estas turbulências, além de da-
nificarem as estruturas e as algas, po-
dem tornar as condições de trabalho mui-
to arriscadas, especialmente nos momen-
tos mais críticos do cultivo.
Ausência de conflitos de uso e de interesse
Deve-se evitar instalar o cultivo em áreas onde ha-
jam outras atividades, como turismo, pesca, lazer, fun-
deio ou tráfego de embarcações. Avaliar e resolver bem
este ponto é fundamental antes do processo de legaliza-
ção do cultivo, evitando que indivíduos ou grupos sin-
tam-se injustiçados ou prejudicados com a cessão de
uso da área. Conflitos de uso freqüentemente geram con-
flitos pessoais, colocando em risco não só o cultivo do
produtor como a sua própria integridade pessoal.
Cultivo de algas – 15
Aspectos legais
Qualquer atividade desenvolvida no mar deve seguir
a lei. A cessão de águas públicas da união para aqüicultu-
ra deve ser feita obedecendo a legislação federal. Peça aju-
da ao serviço de extensão. Será necessário fazer um proje-
to com a localização detalhada da área que se quer usar, e
a descrição de como será o cultivo. Será importante tam-
bém uma declaração de pequeno produtor para fazer jus à
gratuidade do processo.
16 – Manuais BMLP de maricultura
3. Construção
Estrutura de cultivo
Para o cultivo, as algas ficam amarradas em long-li-
nes, dispostos em estruturas chamadas Multi Long Lines,
ou MLL – apelidado melelê. Esta estrutura é formada por
dois cabos mestres, fixos em suas extremidades por esta-
cas rentes ao fundo. A partir de uma distância de duas
vezes a profundidade na maré cheia, coloca-se tubos de
pvc com 25 milímetros de diâmetro e 3 metros de compri-
mento entre as duas cordas mestras. Estes tubos devem
ficar distanciados exatamente a cada 4 metros uns dos
outros. De cada ponta de tubo fixamos um cabo amarrado
a uma pequena bóia. O espaço entre cada tubo é chamado
de quadro.
 Os MLLs só com os quadros sem os long-lines, devem
ser montados em terra e levados ao mar apenas para serem
amarrados às quatro estacas no fundo. Com os quadros já na
água por alguns dias, para verificar se estão bem amarrados
e posicionados, será feito o povoamento, com a amarração
dos long-lines com as algas, como descrito no capítulo Ma-
Long-line: uma longa corda com bóias e
âncoras (poitas) onde são amarradas
as mudas das algas.
Cultivo de algas – 17
nejo, no item Instalação. Em cada quadro serão amarrados
12 long-lines com 4 metros de comprimento. Desta forma
um MLL com 100 metros comportará em torno de 20 qua-
dros e 240 long-lines. A distância de um MLL para o outro
deve ser de 3 metros, lado a lado. As estacas poderão servir
para dois MLLs, amarrando o início de um e o final de outro.
Desta forma serão montados 16 MLLs por hectare.
Os cabos mestres serão feitos com 6 milímetros de
polipropileno trançado. Os cabos das bóias vão ter 4 mi-
límetros também de polipropileno trançado, passando por
dentro do tubo, para também prendê-los. A partir da pon-
ta do tubo até a bóia, o cabo terá um comprimento de 60
centímetros em locais de água turva, aumentando em lo-
cais de água mais transparente. As bóias serão feitas de
rede, com cerca de 10 centímetros de diâmetro. Para os
long-lines usam-se cabos torcidos com 3 milímetros. To-
dos os cabos devem ter as pontas queimadas para não des-
fiar, pois os desfiados acumulam muita sujeira e organis-
mos prejudiciais ao cultivo.
As estacas podem ser de concreto, ferro ou madeira.
Devem ser enterradas no máximo de seu comprimento para
que fique de fora só o necessário para amarração do cabo
mestre. Além de melhorar a fixação, esse procedimento au-
Polipropileno: é utilizado para produzir
objetos moldados, fibras para roupas
e cordas. É altamente flexível; possui
excelente resistência a intempérie;
excelente comportamento sob
estresse e tensão e é facilmente
reparável se houver dano.
18 – Manuais BMLP de maricultura
mentará muito a duração, qualquer que seja o material em-
pregado, além de evitar acidentes nos trabalhos embaixo
d'água. As estacas são fixadas na mesma direção das corren-
tes predominantes, evitando-se ao máximo que haja corren-
tes transversais ao MLL. Dependendo da velocidade das cor-
rentes, usam-se poitas de pedra ou concreto, ou mesmo sa-
cos de ráfia cheios de areia. Se houverem correntezas trans-
versais, mesmo que só durante alguns períodos do dia, os
MLLs devem ser mais curtos.
Onde há interesse em preservar a paisagem original
pode-se colocar pequenas poitas, como pedras por exem-
plo, amarradas com cabos nas pontas dos tubos. Isso fará
com que o MLL fique suspenso a uma certa distância do
fundo (no mínimo 80 centímetros) e as bóias não apare-
çam na superfície, podendo inclusive haver tráfego de em-
barcações sobre o MLL. Esta alternativa aumenta a dificul-
dade de trabalho, mas ainda permite que o MLL seja ma-
nejado em qualquer maré usando-se um barco. Além dis-
so, também pode ser empregada no caso de haver corrente-
za lateral por alguns momentos, evitando que o MLL se
"enrole".
No caso de altas velocidades de corren-
te, bóias auxiliares devem ser colocadas nos
cabos mestres, entre a estaca e o primeiro qua-
dro, para evitar que o MLL afunde nos mo-
mentos de maior correnteza.
Poitas: peso de concreto, na maioria
das vezes em forma de cubo, que
mantém o long-line fixo.
Cultivo de algas – 19
4. Manejo
O manejo deve ter como princí-
pio básico “tratar as plantas com cari-
nho”, para que elas cresçam sem estresse. Isso evitará
doenças e outros males, e tornará mais fácil entender e
solucionar os problemas. O manejo passa por quatro
etapas: instalação, manutenção, colheita e replantio. As
quatro devem ser conduzidas com esmero pois qual-
quer problema em uma pode afetar toda a produção.
Instalação
Após a construção das estruturas de cultivo, os MLLs,
o próximo passo será a colocação das algas nas estruturas
de cultivo. Para isso é preciso obter as ma-
trizes, preparar as mudas, amarrar as mu-
das aos long-lines e finalmente amarrar os
long-lines aos quadros do MLL.
Obtenção de matrizes
As matrizes sãoas plantas adultas que
irão dar origem às mudas que iremos plantar
Manejo: manuseio; cuidados constantes
do cultivo.
20 – Manuais BMLP de maricultura
no cultivo. Escolhem-se plantas perfeitamente sa-
dias, inférteis, e livres de epífitas e doenças. As
matrizes podem ser obtidas nos recifes ou entre as
plantas de outro cultivo. No caso de se obter as
matrizes nos recifes, deve-se ter o cuidado de usar
uma faca amolada, canivete ou tesoura, cortando
as plantas logo acima do apressório. Esse procedi-
mento irá garantir plantas menos machucadas por
não terem sido arrancadas, permitindo que a planta
nativa torne a crescer, não afetando a vegetação
dos recifes. Afinal, o objetivo é apenas conseguir
as matrizes e não afetar a pesca e o resto da vida
nos recifes. A escolha de matrizes em outro culti-
vo tem a vantagem de já se conhecer o quanto a
planta cresce.
As matrizes são colocadas em cestos na som-
bra, e a cada 15 a 30 minutos são molhadas com
água do mar para se manterem úmidas. Nunca dei-
xar cair água doce nem chuva sobre as matrizes,
pois isso poderá matá-las. Também é necessário ter
cuidado com substâncias químicas.
 Não pisar, sentar ou deitar sobre elas, nem fazer
pilhas muito grandes e evitar o contato da areia com
as plantas, são outros cuidados que serão tomados
para não machucar as matrizes.
Substâncias químicas: combustível,
óleos lubrificantes, e até loções de
protetores solar.
Amolada: afiada
nó cego
Cultivo de algas – 21
Preparação de mudas
Cada matriz, dependendo do seu tamanho, dará
origem a muitas mudas. Com uma faca ou ca-
nivete corta-se a matriz em pequenos pe-
daços de aproximadamente 1 grama.
Estes pedaços terão uns 5 centímetros
e serão chamados de mudas.
As mudas devem ser bem ramificadas,
limpas e sadias. Retiram-se quaisquer epífitas com a
mão, tomando cuidado para não ferir ou machucar a
muda. Estas mudas são amarradas com pedaços de
fitilho. É preciso cortar pedaços de 20 centímetros e
rasgar o fitilho ao comprido, separando-o em vários
pedaços de 20 centímetros, bem finos. Com uma ponta
deste fitilho amarra-se com um nó cego cada muda. É
muito importante que este nó não aperte a muda, pois
isso irá quebrar a planta, mas também não pode ficar
tão folgado que deixe a muda sair. O ideal é amarrar o
fitilho entre ramificações da muda.
Todo este trabalho é feito observando-se os mes-
mos cuidados descritos para as matrizes. Neste traba-
lho também é possível colocar os cestos na água, na
praia ou ao lado do barco, mas nunca dentro de um
balde pois a água não pode ser parada. Caso seja ne-
cessário ficar com as mudas durante a noite para tra-
Fitilho: tipo de cordão usado para
amarrações de embalagens, formado
por uma fita plástica muito
resistente.
22 – Manuais BMLP de maricultura
balhar no dia seguinte, podemos deixar em cestos tam-
pados no mar, amarrados a uma estaca ou barco.
Amarração das mudas
Deve-se preparar os long-lines com cabos de poli-
propileno torcido de 3 milímetros, cortando pedaços
de exatamente 4,5 metros e queimando as pontas para
que não desfiem. A 25 centímetros de cada ponta dar
um nó que seja pouco comum, como o nó de frade,
por exemplo, para marcar a extensão de 4 metros que
iremos plantar e as partes finais que serão usadas para
amarrar nos quadros do MLL. Estes cabos devem ser
amarrados, não esticados, entre dois suportes a cerca
de 1 metro de altura, para trabalhar confortavelmen-
te ao longo de sua extensão. Amarra-se então o fitilho
das mudas ao cabo do long-line, destorcendo rapida-
mente o cabo e passando o fitilho por dentro dele e
terminando com um nó tipo volta de fiel.
Nó tipo volta de fiel: também
conhecido por nó de arpão, nó de
porco.
Nó de frade: nó utilizado para criar um
tensor ou marca na corda.
nó tipo volta de fiel
nó de fradeO
P
Cultivo de algas – 23
As mudas ficam bem próximas ao cabo do long-
line, não mais de 1 centímetro de fitilho entre a
muda e o long-line. De uma muda para outra dei-
xa-se 2,5 centímetros, que corresponde a 160 mu-
das por long-line. Todo esse trabalho deve ser feito
observando os mesmos cuidados usados para as ma-
trizes e mudas.
Amarração dos long-lines
Os long-lines já com as mudas são cuidadosa-
mente enrolados. Para levar os long-lines até o MLL
são necessários os mesmos cuidados observados para
o transporte das matrizes. São usadas quatro bóias
de serviço para suspender cada quadro até a super-
fície, e fazer o trabalho restante de dentro de uma
canoa ou jangada. As bóias de serviço devem ser de
isopor ou mesmo pequenas bombonas, entre 5 e 10
litros, nas quais se amarra um cabo de 6 milímetros
de polipropileno trançado, com 40 centímetros de
comprimento, ou um pedaço de fio elétrico grosso.
Uma bóia de serviço é amarrada em cada ponta de
tubo, ou canto do quadro, fazendo com que o qua-
dro que se vai trabalhar mantenha-se na superfície.
Se a bóia possuir um cabo usa-se um tipo de amar-
ração que seja facilmente retirada. Se a bóia tiver
um fio grosso é só fazer um gancho que será aperta-
bóia de serviço
24 – Manuais BMLP de maricultura
do com a mão para prender e será facilmente remo-
vido abrindo ligeiramente este mesmo gancho. Como
os cabos mestres e os tubos são flexíveis, podemos
passar com a canoa ou jangada por dentro do qua-
dro e continuar a amarração dos long-lines.
Depois de desenrolados, cada ponta do long-line
é amarrada a 12 centímetros de distância da ponta
do tubo, e o mesmo acontece na outra extremidade.
Se o barco utilizado no trabalho tiver mais de 4 me-
tros deve-se colocá-lo de maneira que as pontas dele
alcancem de um tubo ao outro, assim duas pessoas
podem amarrar, rápida e facilmente, cada ponta do
long-line sem mover o barco. O ideal é que os long-
lines fiquem a 25 centímetros de distância uns dos
outros. Assim, em cada quadro serão amarrados 12
long-lines. São necessários nós bem firmes para não
folgar ou soltar com o movimento da água no MLL
ao longo do tempo. Um exemplo é o nó tipo volta de
fiel, cobrindo-se a ponta com mais um ou dois cotes.
Cultivo de algas – 25
Acabado o serviço num quadro, retira-se duas
bóias de serviço do primeiro tubo para amarrá-las
no terceiro tubo do MLL, deixando as que já es-
tão presas ao segundo tubo, suspendendo, assim,
o quadro seguinte.
Manutenção
Com o cultivo já instalado inicia-se
imediatamente a manutenção do cultivo:
a inspeção constante das estruturas de cul-
tivo e das plantas cultivadas. Em seguida,
se necessário, faz-se a limpeza, a reposição
de materiais ou mudas, e ainda a correção de fa-
lhas e prevenção de acidentes. Os trabalhos de manu-
tenção poderão ser realizados de dentro de uma canoa ou
jangada, com as bóias auxiliares suspendendo os quadros
como descrito no tópico anterior.
A seguir são apresentados 8 itens que deverão ser
observados:
Plantas faltando nos long-lines
Se alguma planta se soltar do long-line, deve-se
repor uma nova muda no lugar o quanto antes, de
forma que a quantidade de plantas por long-line se
mantenha sempre igual. A proximidade de uma plan-
ta com a outra faz com que elas se limpem ao se
26 – Manuais BMLP de maricultura
tocar com o movimento da água. Assim, quando há
uma falha no long-line, poderá ocorrer mais epífi-
tas. Além disso, quanto menos plantas no cultivo,
menor será a produção da colheita.
Plantas doentes ou com pouca vitalidade
Plantas que não estiverem sadias, apresentan-
do coloração esbranquiçada, manchas, ou com pou-
cos ramos e ápices deverão ser removidas, repon-
do em seu lugar uma nova muda. Plantas que ado-
ecem, além de não crescerem, podem contaminaras outras do cultivo. As plantas que aparentemente
estão sadias mas não estão ramificando e crescen-
do não contribuirão com a produção da colheita.
Epífitas ou incrustações sobre as plantas
Manter as plantas sempre limpas, sem outros
organismos crescendo sobre elas. Retirar a sujeira,
plantas ou animais das mudas, o quanto antes.
Quando as plantas começam a ficar cobertas por
uma fina camada de “poeira”, dar uma sacudida nos
long-lines para soltar estas partículas. Se esta “poei-
ra” ficar sobre as plantas, logo começarão a crescer
epífitas sobre elas. Uma limpeza por semana é sufi-
ciente, caso contrário aumenta-se a profundidade
dos quadros ou muda-se o MLL de local.
Ápice: extremidade, ponta , de cada
ramo do talo.
Cultivo de algas – 27
Ataque de herbívoros
Ficar sempre atento a sinais de que animais es-
tão comendo as plantas. Há três tipos de sinais:
1 - as pontas das plantas foram mordidas, po-
dendo-se até perceber pequenas marcas de
dentes nas plantas;
2 - ao longo do talo há pequenos sinais de mor-
didas;
3 - plantas inteiras foram arrancadas.
Dependendo da freqüência e intensidade com
que estes ataques ocorrem, este problema pode ser
resolvido mudando a profundidade ou distância do
fundo ao cultivo, mudando o local de cultivo, ou
apenas modificando a época das colheitas.
Cabos quebrados, soltos ou com incrustações
Verificar sempre, tanto os cabos mestres como
os próprios long-lines, para prevenir que se quebrem
com o tempo. Se algum long-line aparecer solto de
uma das pontas, será imediatamente reamarrado.
Caso qualquer cabo apresente-se desgastado, trocá-
lo ou proceder a uma emenda de reforço. Limpar
Incrustações: organismos que se
grudam fortemente.
28 – Manuais BMLP de maricultura
cabos com incrustações para não ficarem muito pe-
sados ou causarem acidentes durante o trabalho.
 Estacas quebradas ou soltas
Checar as estacas de fixação do MLL, periodica-
mente, para prevenir grandes acidentes originados
pela quebra ou desprendimento de alguma delas.
Olhar e consertar não só as estacas, mas também as
suas amarrações.
Bóias faltando ou com incrustações
Rotineiramente, verificar todas as bóias, substi-
tuindo imediatamente as que tenham se soltado.
Bóias com incrustação precisam ser limpas para não
perderem a capacidade de flutuação.
Plantas férteis
Colher as plantas férteis inteiras e em seu lugar
plantar uma nova muda, pois se permanecerem no
cultivo, estas plantas param de crescer, reduzindo a
produção da colheita. Mas elas podem ser vendidas
normalmente.
Colheita
Na colheita, as plantas são cortadas a cerca de 5 cen-
tímetros do long-line, com auxílio de tesoura ou faca.
Usar uma faca bem amolada e manuseá-la com uma luva
Cultivo de algas – 29
que proteja o polegar, pois é onde ela se apoiará para
cortar as algas. O material colhido será colocado em ces-
tos ou sacos de ráfia e transportado para onde vai ser
secado. Separar uma parte com cuidado para ser usada
como mudas de reposição.
O material que fica no long-line deve ser rapidamente
limpo de epífitas, pois ficará como mudas para conti-
nuar crescendo e produzindo. É necessário bastante
cuidado com o que que fica no long-line, mantendo
somente plantas sadias, bem ramificadas e infér-
teis. O trabalho precisa ser feito
de forma contínua: primeiro cor-
ta-se, depois faz-se uma rápida
limpeza removendo com as
mãos as epífitas e outras in-
crustações, e repõem-se mudas
onde houver necessidade. Para
isso são usadas as bóias de serviço, como na instalação e
manutenção, não sendo necessário retirar os long-lines do
quadro para a colheita. O serviço pode ser feito de cima da
canoa ou jangada. Assim, os long-lines serão colhidos e já
estarão instalados para continuar a produção.
Uma questão importante no cultivo é quando colher?
De quanto em quanto tempo? A resposta dependerá do local
e da época do ano. É preciso avaliar como as plantas estão
crescendo, até que tamanho elas crescem rapidamente, e
30 – Manuais BMLP de maricultura
como está o crescimento de epífitas. Todas estas observa-
ções servem para conseguir, com o menor trabalho, a me-
lhor produção durante um longo tempo. Como uma base,
pode-se pensar em uma colheita a cada dois meses. Com o
tempo o produtor vai adquirir experiência para determinar
a melhor freqüência, para cada época do ano.
É bom lembrar que a colheita é um processo contínuo,
em cada dia de trabalho, com a manutenção, alguns qua-
dros são colhidos. A organização contínua desse trabalho
será melhor explicada no capítulo 7.
A seguir serão explicados alguns dos fenô-
menos ligados à colheita.
Como as algas crescem
No começo as algas crescem muito rápi-
do, e a medida que elas ficam maiores vão crescendo
cada vez menos rápido. Chegará um momento que as
plantas estarão tão grandes que começarão a se que-
brar e se perder, ou seja, o cultivo como um todo co-
meçará a não crescer, podendo até mesmo diminuir.
Na fase em que as plantas crescem muito rápido, en-
tre 10 e 20 ou 40 gramas, dependendo do local e épo-
ca, deve-se trabalhar o tempo todo. As algas com ta-
manho inferior a 10 gramas crescem muito rápido,
mas como são muito pequenas o resultado em produ-
ção é pequeno também.
Cultivo de algas – 31
Como crescem as epífitas
As epífitas crescem principalmente na superfí-
cie, por isso o cultivo é mantido a uma profundida-
de em que aquelas não cresçam tão rápido. No pe-
ríodo chuvoso costuma crescer mais Hypnea, en-
quanto no período não chuvoso costuma crescer mais
Polysiphonia. Se houver um pouco mais de matéria
orgânica na água, esgotos por exemplo, o que as ve-
zes acontece após as pancadas de chuvas de verão,
costumam crescer então Enteromorpha e Chaetomor-
pha. Se o crescimento de epífitas não for evitado, é
bom colher as algas e limpar ao máximo as mudas
do long-line. Algas epífitas prejudicam muito o cres-
cimento e o trabalho de manutenção do cultivo, mas
se forem em pequena quantidade não afetarão a qua-
lidade das algas para a indústria. Animais epífitas
devem sempre ser evitados, inclusive, removendo
do material colhido, pois poderão afetar a qualidade
do produto a ser vendido.
Atenção: a primeira colheita deverá esperar mais,
pois as mudas iniciais são bem pequenas, e seu pro-
duto poderá ser inteiramente usado como novas
mudas. Estes procedimentos servem para fazer mais
rápida a instalação do cultivo.
alga epífita
enrolada na
alga cultivada
N
J
32 – Manuais BMLP de maricultura
5. Secagem e
comercialização
Para ser vendido, apresentar o produto, seco e limpo,
podendo ou não estar embalado em sacos. Deve estar seco
o suficiente para não apodrecer, mas ficar ainda macio,
isso se consegue com aproximadamente 30% de umida-
de. Algas muito secas ficam duras. Não poderá haver par-
tes mais secas e partes ainda úmidas, pois se uma parte
apodrecer, poderá comprometer todo o resto. Deixá-lo lim-
po, sem areia, sem fitilhos, não misturado com algas dife-
rentes e livre de sujeiras em geral. Por isso não se anda
sobre as algas que estão secando, nem se deixa animais
Cultivo de algas – 33
fazerem isso para não sujarem, com suas patas, nem uri-
narem ou defecarem sobre o material.
As algas colhidas não podem ser molhadas com água
doce, para que não percam o sal. Portanto, depois da colheita
continuar evitando que as algas tomem chuva.
Embalar as algas em sacos de ráfia ajudará muito na
hora de pesar e carregar um caminhão, mas certamente
aumentará o custo do produto. Assim, este serviço poderá
ser realizado com o auxílio de grandes cestos. A armaze-
nagem das algas secas poderá ser sobre um piso deci-
mentado seco, ou forrado com lonas plásticas, ou mesmo
sobre estrados de madeira, evitando que elas fiquem em
contato com o solo úmido.
Secadores de algas podem ser feitos, bem semelhantes
a secadores de peixe: uma mesa com tampo de tela ou es-
teira de cana-brava. A velocidade de secagem da colheita
vai depender do tamanho do secador e das condições do
tempo. Em períodos de chuva, como a secagem é mais len-
ta e a produção de algas é maior, é necessário usar secado-
res maiores para
cada MLL.
Cana-brava: tipo de capim, parecido
com um bambu fino e fraco,
utilizado para fazer esteiras de
cercas.
34 – Manuais BMLP de maricultura
Para construir os secadores, deve-se levar em conta
alguns aspectos:
– ser inclinados, formando escamas, para facilitar o
trabalho e a circulação de ar;
– orientados de leste a oeste, com a inclinação para o
norte no inverno e para o sul no verão;
– os pilares devem ter duas alturas, em espaçamen-
tos iguais para corredores e esteiras, trocando o cor-
redor por esteira do inverno e verão;
– ficar afastado ou a favor do vento para evitar o chei-
ro na comunidade;
– evitar contato com chuva e sujeiras;
– o tamanho deve ser em função da produção e fre-
qüência de colheita.
Cultivo de algas – 35
6. Organismos prejudiciais
Existem praticamente três tipos de organismos que
podem trazer prejuízos ao cultivo de algas: os epífitos, os
herbívoros, e os patógenos.
Epífitos são todos os organismos que apenas cres-
cem sobre uma planta. Ou seja, algas ou animais que
fazem da alga que estamos cultivando a sua moradia.
Como resultado disso, o cultivo é prejudicado por di-
versos motivos:
1. Outras algas “roubam” a luz e os nutrientes que
seria para o cultivo;
2. Animais fazem sombreamento, reduzindo a quan-
tidade de luz para o cultivo;
3. Todos os epífitos aumentam o peso sobre a alga
cultivada, podendo quebrá-la, provocando per-
das de plantas.
Os epífitos mais comuns são:
– algas microscópicas, chamadas diatomáce-
as, que parecem uma poeira sobre as algas;
36 – Manuais BMLP de maricultura
– algas grandes principalmente “cabelo-pixaim” (Hyp-
nea), “rabo-de-raposa” (Polysiphonia) e “cabelo-de-
sereia” (Chaetomorpha).
– Animais grandes como craca ou caraca (Cirripédi-
os), sururu (Bivalves), esponjas (Poríferas), mijonas
(Ascídias), e coral de fogo (Celenterados).
Todos os epífitos se fixam sobre as algas quando ainda
são microscópicos. Desta forma se mantivermos o cultivo
limpo, sem o “limo fino” ou aquela “poeira” que vai se gru-
dando sobre as algas, nenhum epífito vai crescer e prejudi-
car o nosso cultivo. As algas epífitas grandes crescem mui-
to rápido próximo à superfície, por isso devemos fazer o
cultivo mais para o fundo, a pelo menos 0,6m de profundi-
dade. Outra providência para reduzir os problemas com os
epífitos é deixar as mudas bem limpas após a colheita.
Os herbívoros são todos os animais que se alimen-
tam de plantas como as algas. Com eles o prejuízo no cul-
tivo é muito direto, as algas são comidas reduzindo muito
o crescimento, pois elas têm que cicatrizar e voltar a cres-
cer, ou são inteiramente perdidas.
Os herbívoros mais comuns são:
– Pequenos peixes, que comem parte das algas. Per-
ceberemos as algas com mordidas nas pontas ou
pelos lados, quando estes estiverem atacando. São
perigosos quando atacam em grandes cardumes,
Cultivo de algas – 37
mas geralmente isso só ocorre próximo aos locais
onde estes normalmente vivem, como os recifes.
– Ouriços ou pinaúnas, e vaca-d’água ou tinteiro (Aply-
sia) que comem as plantas inteiras, mas só atacam
se o cultivo estiver perto do fundo.
– Tartarugas, que comem muitas plantas inteiras de
uma só vez. Podem causar grande prejuízo, mas
só atacam lugares com muito pouco movimento
de gente.
A escolha do local será a principal arma contra os
herbívoros. Evitar locais próximos aos recifes, onde nor-
malmente estão os peixes, ouriços e tinteiros. Para evitar
as tartarugas, manter trabalho, movimento de pessoal e
barcos sempre pela área. Isso é importante, inclusive, para
evitar que as tartarugas comam junto pedaços de fitilho e
cordas podendo levá-las até mesmo à morte.
Os patógenos são os organismos conheci-
dos como micróbios, que causam doenças.
Nas algas podem ocorrer doenças causadas
por fungos, bactérias ou vírus. Geralmente só ocorrem
quando o cultivo sofre algum tipo de estresse, sendo ex-
posto a condições não favoráveis às algas. Assim as algas
enfraquecem e podem ser atacadas. Para evitar estas situ-
ações, se houver algum ataque, eliminar as plantas doen-
tes, colhendo-as por inteiro, e plantando novas mudas sa-
dias em seu lugar.
38 – Manuais BMLP de maricultura
7. Avaliação econômica e
plano de trabalho
É importante esclarecer que a viabilidade desta ativida-
de depende muito de situações que podem variar de caso
para caso. De uma forma geral um hectare, ocupado por 16
MLLs plantados, deverá ser viável para 4 a 8 famílias traba-
lharem e retirarem um bom lucro. Após o plantio, as algas
começarão a ser colhidas a partir de 3 a 4 meses, mas o
que for colhido será utilizado para replantar até que to-
dos os 16 MLLs estejam plantados. Assim o início da
colheita para comercialização poderá demorar de
4 a 16 meses, ou até mais, dependendo da quan-
tidade plantada inicialmente. Ao iniciar a co-
lheita espera-se uma produtividade de pelo me-
nos 100kg de algas secas por MLL por mês, o
que vai totalizar 1,6 tonelada por mês para a
fazenda toda. O ritmo de trabalho poderá ser distribuído
da seguinte forma: limpeza de um MLL num dia; colheita e
limpeza de um MLL no dia seguinte. Ou seja, cada dia traba-
lha-se um MLL, alternando-se apenas limpeza num dia e
colheita e limpeza no outro. É importante que as famílias se
revezem no trabalho, desta forma com quatro famílias por
Cultivo de algas – 39
exemplo, cada família trabalha um dia e folga três, podendo
se dedicar às outras atividades normais de cada um.
Para plantar uma área de um hectare, aproximada-
mente 200 metros por 50 metros de extensão, será neces-
sário providenciar os seguintes ítens:
Item Utilização Quantidade
Levantamento batimétrico e hidrológico Cessão de águas da União 01
Projeto da fazenda Cessão de águas da União 01
Declaração de Cessão de Águas da União Legalização 01
Canoa ou jangada Todas as etapas do trabalho 01
IMPLANTAÇÃO
Bate estacas de 2 elementos Colocação das estacas de fixação 01
Marreta Colocação das estacas de fixação 01
Estacas Fixação dos MLLs 64
Cabos (retinida) de 6mm Cabos mestres 4800m
Bóias de sinalização Demarcação da fazenda 6
Tubo de PVC de 25mm Montagem dos MLLs 168
Cabo (retinida) de 4mm Amarração dos tubos e bóias nos MLLs 2016m
Bóias Montagem dos MLLs 672
PLANTIO
Cabo torcido de 3mm Long-lines para plantar 19200m
Fitilho Amarração das mudas 16kg
Matrizes de Gracilaria Preparação das mudas 3000kg
Cestos Transporte de matrizes
PRODUÇÃO (manejo, colheita e comercialização)
Secadores Secagem das algas colhidas
Galpão Armazenagem das algas secas
Balança Pesagem para venda das algas
É importante lembrar que será necessário gastar um
pouco com a comercialização, através de alguns telefo-
nemas. Além disso, é importante reservar um pouco da
renda para manter os MLLs, a canoa, e outras estruturas,
de forma que sempre toda a fazenda esteja em perfeita
conservação. Isso irá reduzir muito o risco de acontece-
rem grandes perdas repentinas, causadas por material
velho e mal conservado.
40 – Manuais BMLP de maricultura
8. Bioensaio expedito
 Bioensaio é uma experiência com organismos vi-
vos e expedito quando é feita de uma forma rápida, prá-
tica. Esse é o caso de quandoqueremos avaliar com um
pouco mais de segurança o local escolhido para o culti-
vo, antes de investir muito trabalho e dinheiro para lega-
lizar e instalar toda a plantação.
Deveremos montar alguns long-lines como descri-
to no item “amarração das mudas”, dentro de “4. Mane-
jo” (página 19 deste Manual)). Em seguida montaremos
um MLL de apenas um quadro e o instalaremos no local.
Esta instalação servirá para observarmos se o local é ade-
quado realmente e quais os possíveis problemas que po-
derão ocorrer quando se instalar o cultivo todo.
É muito importante pesar cada long-line deste bio-
ensaio e contar exatamente quantas mudas foram plan-
tadas. Para pesar é preciso retirar o long-line da água,
dar uma rápida sacudida para tirar o excesso de água e
colocar na balança. Anota-se estes valores junto com o
dia em que foi instalado o experimento. Pelo menos uma
vez por semana é necessário olhar como está se compor-
Cultivo de algas – 41
tando esse cultivo, e avaliar se no local há realmente con-
dições de trabalhar sempre, com qualquer tempo e maré.
A cada semana verifica-se a ocorrência de organismos
prejudiciais, a facilidade de removê-los e evitá-los, e ainda
como ficam os long-lines em relação às correntes e on-
das. Depois de dois meses de observações, se não houver
nenhum problema grave, pesar novamente os long-lines
e verificar o crescimento. Se as algas cresceram, pelo
menos, 4 vezes o que foi plantado, ou seja, se um long-
line pesava 0,8 kg e de-
pois de 2 meses passou
a pesar 3,2 kg, é um
bom sinal. Observar,
também, se as mudas se
mantiveram: de cada 100 mudas
plantadas haverá, pelo menos, 90 nestes dois meses. Se
o crescimento e a permanência forem observados então
pode-se montar a fazenda naquele local. Caso contrário,
descobrir qual foi o fator negativo na produção das algas
e procurar outro local que possa oferecer melhores con-
dições. Pode-se, ainda, corrigir alguma característica do
plantio inicial, como o profundidade ou direção dos long-
lines, por exemplo.
Embora este manual tenha procurado explicar deta-
lhadamente os vários passos de um cultivo, não deixe de
procurar ajuda técnica especializada. E boa sorte.

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