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RESUMO BEM DE FAMILIA - CONCEITO, MODALIDADES, EXCEÇÕES

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BEM DE FAMÍLIA
Prof. Pablo Stolze 
Carreiras Jurídicas – Intensivo I – 2015 
O referencial histórico mais importante do nosso bem de família é uma lei Texana, de 1839 (Homestead Act), que consagrou a impenhorabilidade da pequena propriedade.
CONCEITO 
Inicialmente, é fundamental termos em mente que o sistema jurídico brasileiro reconhece duas espécies de bem de família:
O bem de família Voluntário, regulado a partir do artigo 1.711, CC.
O bem de família Legal, regulado pela Lei n. 8.009/90.
Assim, por razão didática, cuidaremos de conceituar, separadamente, cada tipo de bem de família.
BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO – artigos 1.711 e seguintes do CC.
É aquele instituído por ato de vontade, por escritura pública ou testamento, mediante registro no Cartório de Registro Imobiliário (artigo 167, inciso I, “1”, LRP). Em outras palavras, trata-se de um instituto que traduz manifestação da própria autonomia privada.
Como consequência da instituição do imóvel residencial como bem de família voluntário, observam-se dois efeitos, nos termos dos artigos 1.715 e 1.717:
A impenhorabilidade por dívidas futuras (observadas as exceções legais).
Inalienabilidade do bem.
Obs.: limite de valor no bem de família – Nos termos do artigo 1.711, nota-se que o legislador estabeleceu um limite de valor para o bem de família voluntário, que não poderá ultrapassar o teto de 1/3 do patrimônio líquido dos instituidores. Se a instituição ultrapassar esse teto, o ato poderá ser invalidado, inclusive na perspectiva da teoria da fraude contra credores.
Obs.: valores imobiliários – O artigo 1.712 admite que, na instituição do bem de família voluntário, valores mobiliários (a exemplo de rendimento aplicado em banco) possam também ser vinculados, tornando-se, por conseguinte, impenhoráveis. Desde que sirvam para a mantença da família e do imóvel. O artigo 1.713, passível de reflexão crítica, estabelece que esses valores mobiliários não poderão exceder o valor do próprio imóvel residencial.
Vale a pena ainda conferir, sobre o bem de família voluntário, especialmente, o artigo 1.720 (que cuida da sua administração) e os artigos 1.721 e 1.722 (que cuida da sua extinção).
Obs.: Não devo confundir a situação acima analisada (artigo 1.712), em que uma renda é vinculada ao imóvel para a instituição voluntária do bem de família, com a situação em que o único imóvel residencial é locado para que a família viva da renda do aluguel. Neste último caso, independentemente de ter sido instituído o bem de família voluntário, aplica-se a Súmula 486 do STJ, que protege a renda de aluguel gerada pela locação do único imóvel residencial.
Sum. 486 – É impenhorável o único imóvel residencial do devedor que esteja locado a terceiros, desde que a renda obtida com a locação seja revertida para a subsistência ou moradia da sua família.
Silvio Rodrigues observava que o bem de família voluntário “não alcançou o maior sucesso entre nós”, e, na mesma linha, Álvaro Villaça Azevedo afirmou que talvez o insucesso desse tipo de bem de família derivasse do fato de o Estado transferir para o particular “um encargo de tamanho realce”. 
Em verdade, a proteção do bem de família deita luzes profundas em valores fundamentais, na medida em que se resguarda o direito constitucional a moradia e, lembrando Luiz Edson Fachin, o próprio patrimônio mínimo, a luz do princípio da dignidade da pessoa humana. 
Por tudo isso, é imensa a importância do bem de família legal, regulado pela Lei 8.009/90.
BEM DE FAMÍLIA LEGAL 
A impenhorabilidade do bem de família legal deriva da própria lei. Trata-se de um bem de família que independe da instituição por ato de vontade, bem como de registro em cartório e até mesmo de valor. Ag.Rg no AREsp. 264431/SE: 
DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. CÉDULA DE CRÉDITO COMERCIAL COM HIPOTECA. IMÓVEL HIPOTECADO DE PROPRIEDADE DE PESSOA JURÍDICA. ÚNICO BEM A SERVIR DE MORADA À ENTIDADE FAMILIAR. LEI 8.009/1990. IMÓVEL DADO EM GARANTIA EM FAVOR DE TERCEIRA PESSOA JURÍDICA. INTERVENIENTES HIPOTECANTES NÃO BENEFICIÁRIOS DO EMPRÉSTIMO. BEM DE FAMÍLIA. MATÉRIA DE ORDEM PÚBLICA. BENEFÍCIO QUE NÃO ADMITE RENÚNCIA POR PARTE DE SEU TITULAR. CARACTERIZAÇÃO DO BEM, OBJETO DA EXECUÇÃO, COMO BEM DE FAMÍLIA. CONVICÇÃO FORMADA COM BASE NO SUPORTE FÁTICO-PROBATÓRIO. SÚMULA 7/STJ. INCIDÊNCIA. 1. "Para que seja reconhecida a impenhorabilidade do bem de família, de acordo com o artigo 1º, da Lei n° 8.009/90, basta que o imóvel sirva de residência para a família do devedor, sendo irrelevante o valor do bem." (REsp 1.178.469/SP, Rel. Ministro Massami Uyeda, Terceira Turma, julgado em 18/11/2010, DJe 10/12/2010) 2. A jurisprudência do STJ tem, de forma reiterada e inequívoca, pontuado que a incidência da proteção dada ao bem de família somente é afastada se caracterizada alguma das hipóteses descritas nos incisos I a IV do art. 3º da Lei 8.009/1990. Precedentes. 3. O benefício conferido pela Lei n. 8.009/90 ao instituto do bem de família constitui princípio de ordem pública, prevalente mesmo sobre a vontade manifestada, não admitindo sua renúncia por parte de seu titular. A propósito, entre outros: REsp 875.687/RS, Rel. Ministro Luiz Felipe Salomão, Quarta Turma, julgado em 9/8/2011, DJe 22/8/2011; REsp 805.713/DF, Rel. Ministro Aldir Passarinho Junior, Quarta Turma, julgado em 15/3/2007, DJ 16/4/2007 4. A firme jurisprudência do STJ é no sentido de que a excepcionalidade da regra que autoriza a penhora de bem de família dado em garantia (art. 3º, V, da Lei 8009/90) limita-se à hipótese de a dívida ter sido constituída em favor da entidade familiar, não se aplicando na hipótese de ter sido em favor de terceiros - caso dos autos. (AgRg no Ag 1.126.623/SP, Rel. Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, julgado em 16/9/2010, DJe 6/10/2010; REsp 268.690/SP, Rel. Ministro Ruy Rosado de Aguiar, Quarta Turma, DJ de 12/3/2001). 5. [...] 6. Agravo regimental não provido. (AgRg no AREsp 264431/SE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 05/03/2013, DJe 11/03/2013)
Ademais, o bem de família legal é dotado apenas da proteção da impenhorabilidade, não havendo espaço para considera-lo inalienável.
Obs.: Vale lembrar, nos termos do parágrafo único do artigo 5º da Lei 8.009/90, que, se houver vários imóveis utilizados como residência, a proteção do bem de família legal recairá no imóvel de menor valor, salvo se outro imóvel houver sido instituído como bem de família voluntário. 
Vale também salientar que o STJ editou Súmula (n. 205) para admitir que a Lei do bem de família legal pudesse ser aplicada inclusive a penhoras realizadas antes da sua vigência.
Sum. 205 – A Lei 8.009/90 aplica-se a penhora realizada antes de sua vigência.
Obs.: Qual é o alcance da proteção jurídica do bem de família legal? O artigo 1º da Lei 8.009/90 demonstra a considerável proteção conferida pelo bem de família legal.
Obs.: Em situações justificadas, especialmente para evitar abuso de direito, o STJ tem admitido o desmembramento de parte do bem de família legal para efeitos de penhora. (REsp.968907/RS - abaixo, ver também noticiário do STJ de 15.05.2007).
CIVIL E PROCESSO CIVIL. RECURSO ESPECIAL. BEM DE FAMÍLIA. IMPENHORABILIDADE. ANDAR INFERIOR DA RESIDÊNCIA OCUPADO POR ESTABELECIMENTO COMERCIAL E GARAGEM. DESMEMBRAMENTO. POSSIBILIDADE. SÚMULA 7/STJ. EMBARGOS DECLARATÓRIOS. OBJETIVO DE PREQUESTIONAMENTO. CARÁTER PROTELATÓRIO. AUSÊNCIA. SÚMULA 98/STJ. MULTA. AFASTAMENTO. - A jurisprudência desta Corte admite o desmembramento do imóvel protegido pela Lei 8.009/90, desde que tal providência não acarrete a descaracterização daquele e que não haja prejuízo para a área residencial. - Na presente hipótese, demonstrou-se que o andar inferior do imóvel é ocupado por estabelecimento comercial e por garagem, enquanto a moradia dos recorrentes fica restrita ao andar superior. - Os recorrentes não demonstraram que o desmembramento seria inviável ou implicaria em alteração na substância do imóvel. Súmula 7/STJ. - É pacífica a jurisprudência do STJ de queos embargos declaratórios opostos com intuito de prequestionar temas de futuro recurso especial não têm caráter protelatório. Súmula 98 do STJ. Afastamento da multa. Recurso especial parcialmente provido. (STJ - REsp: 968907 RS 2007/0165161-3, Relator: Ministra NANCY ANDRIGHI, Data de Julgamento: 19/03/2009, T3 - TERCEIRA TURMA, Data de Publicação: DJe 01/04/2009)
Na forma do artigo 2º da Lei 8.009, os bens móveis quitados também são protegidos, excluindo-se os veículos de transporte, as obras de arte e os adornos suntuosos. Ainda no que tange a proteção legal, já houve julgados protegendo: a televisão, a antena parabólica, o computador, o ar condicionado e até mesmo o teclado musical (REsp. 218.882/SP - abaixo).
PROCESSUAL CIVIL. LEI 8.009/90. BEM DE FAMÍLIA. HERMENÊUTICA. FREEZER, MÁQUINA DE LAVAR E SECAR ROUPAS E MICROONDAS. IMPENHORABILIDADE. TECLADO MUSICAL. ESCOPOS POLÍTICO E SOCIAL DO PROCESSO. HERMENÊUTICA. PRECEDENTES. RECURSO PROVIDO. I - Não obstante noticiem os autos não ser ele utilizado como atividade profissional, mas apenas como instrumento de aprendizagem de uma das filhas do executado, parece-me mais razoável que, em uma sociedade marcadamente violenta como a atual, seja valorizada a conduta dos que se dedicam aos instrumentos musicais, sobretudo quando sem o objetivo do lucro, por tudo que a música representa, notadamente em um lar e na formação dos filhos, a dispensar maiores considerações. Ademais, não seria um mero teclado musical que iria contribuir para o equilíbrio das finanças de um banco. O processo, como cediço, não tem escopo apenas jurídico, mas também político (no seu sentido mais alto) e social. II - A Lei 8.009/90, ao dispor que são impenhoráveis os equipamentos que guarnecem a residência, inclusive móveis, não abarca tão-somente os indispensáveis à moradia, mas também aqueles que usualmente a integram e que não se qualificam como objetos de luxo ou adorno. III -Ao juiz, em sua função de intérprete e aplicador da lei, em atenção aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum, como admiravelmente adverte o art. 5º, LICC, incumbe dar exegese construtiva e valorativa, que se afeiçoe aos seus fins teleológicos, sabido que ela deve refletir não só os valores que a inspiraram mas também as transformações culturais e sócio-políticas da sociedade a que se destina (STJ - REsp: 218882 SP 1999/0051658-3, Relator: Ministro SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, Data de Julgamento: 02/09/1999, T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJ 25.10.1999 p. 92RLTR vol. 11 NOVEMBRO.1999 p. 1491RSTJ vol. 129 p. 374)
QUESTÃO DE CONCURSO) Como se dá a proteção da vaga de garagem? O STJ já pacificou o entendimento por meio do enunciado da súmula 449, no sentido de que a vaga de garagem não terá a proteção do bem de família legal, se tiver matricula própria.
Sum. 449 – A vaga de garagem que possui matrícula própria no registro de imóveis não constitui bem de família para efeito de penhora.
Obs.: Matrícula é o número do imóvel, seu “RG”. Averbação é toda a alteração feita a mais no registro.
EXCEÇÕES À IMPENHORABILIDADE LEGAL DO BEM DE FAMÍLIA 
O artigo 3º da Lei 8.009/90 estabelece as situações em que não haverá a proteção legal do bem de família.
Em nosso sentir, o mutatis mutandis, na linha do adagio segundo o qual “onde há a mesma razão, deve haver o mesmo direito”, tais hipóteses também se aplicam ao bem de família voluntário.
I) A Lei Complementar 150/2015, que regulou o contrato de trabalho doméstico, revogou o inciso I do artigo 3º, de maneira que não é mais possível a penhora do imóvel residencial em razão de créditos de trabalhadores da própria residência e respectivas contribuições previdenciárias.
II) O inciso II do artigo 3º é de clareza mediana no sentido de que não se pode invocar a proteção do bem de família, se o processo foi movido pelo próprio titular do crédito decorrente do financiamento do imóvel.
III) A Lei 13.144/2015, alterando o inciso III do artigo 3º, explicitou que a exceção à impenhorabilidade legal não poderá prejudicar o direito do outro cônjuge ou companheiro. 
IV) Embora o inciso IV do artigo 3º apresente exceção a proteção do bem de família de natureza visivelmente tributária (a exemplo do não pagamento do IPTU), o próprio STF já firmou entendimento de que também não haverá a proteção legal se o processo for movido para a cobrança de taxa de condomínio (RE 439.003).
V) O STJ, interpretando o inciso V do artigo 3º, em diversos julgados (REsp. 997.261/SC; REsp. 1413717/PR; Ag.Rg. 1355749/SP), tem consolidado a ideia de que não haverá a proteção do bem de família quando o imóvel residencial houver sido, voluntariamente, dado em garantia de hipoteca, para assegurar empréstimo em benefício da própria família.
O mesmo STJ, todavia, em caso, não de hipoteca, mas de mera indicação do bem à penhora, tem admitido que o vendedor, desde que não haja inequívoca má-fé, possa voltar atrás, invocando a proteção do bem de família, por se tratar de uma garantia de ordem pública (REsp. 875.687/RS – abaixo; REsp. 981.532/RJ). 
PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS À EXECUÇÃO. IMPENHORABILIDADE. LEI N.8.009/90. RENÚNCIA INCABÍVEL. PROTEÇÃO LEGAL. NORMA DE ORDEMPÚBLICA. IMPENHORÁVEIS OS BENS MÓVEIS QUE GUARNECEM A RESIDÊNCIA DOSDEVEDORES. ASSISTÊNCIA JUDICIÁRIA GRATUITA. DECLARAÇÃO DE POBREZA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO. 1. A indicação do bem à penhora, pelo devedor na execução, não implica renúncia ao benefício conferido pela Lei n. 8.009/90, pois a instituição do bem de família constitui princípio de ordem pública, prevalente sobre a vontade manifestada. 2. O aparelho de televisão e outros utilitários da vida moderna atual, em regra, são impenhoráveis quando guarnecem a residência do devedor, exegese que se faz do art. 1º, § 1º, da Lei n. 8.009/90. 3. [...]. 4. Recurso especial provido. (STJ, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 09/08/2011, T4 - QUARTA TURMA)
VI) “por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”. Esse inciso, que dialoga com o Direito Penal, dispensa aqui maiores considerações.
VII) O inciso VII do artigo 3º admite a penhora do bem de família do fiador na locação. O STF reconheceu repercussão geral do RE 612.360, para admitir a constitucionalidade da penhora do bem de família do fiador na locação.
Finalmente, vale lembrar que mesmo o devedor que viva só tem a proteção do bem de família (Súmula 364, STJ; REsp. 450.989/RJ).
Sum. 364 – O conceito de impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a pessoas solteiras, separadas e viúvas.

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