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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CÁLCULO II - PROJETO NEWTON AULA 26 Assunto: Mudança de Variável na Integral Dupla Palavras-chaves: mudança de variável, integrais duplas, jacobiano Mudança de variável na integral dupla Vamos antes recordar a fórmula de mudança de variável na integral simples. Digamos que queremos calcular a integral ∫ d c f(x)dx em que f é uma função contínua no intervalo [c, d]. Suponhamos que exista uma função ϕ : [a, b] → [c, d] de classe C1 e inversível, com ϕ(a) = c e ϕ(b) = d e seja F uma primitiva de f em [c, d]. Temos que [F (ϕ(u))]′ = F ′(ϕ(u))ϕ′(u) = f(ϕ(u))ϕ′(u) Portanto, F (ϕ(u)) é uma primitiva de f(ϕ(u))ϕ′(u). Logo, ∫ b a f(ϕ(u))ϕ′(u)du = [ F (ϕ(u)) ]b a = F (ϕ(b))− F (ϕ(a)) = [ F (x) ]ϕ(b) ϕ(a) = ∫ ϕ(b) ϕ(a) f(x)dx Portanto, temos ∫ ϕ(b) ϕ(a) f(x)dx = ∫ b a f(ϕ(u))ϕ′(u)du Essa é a fórmula de mudança de variável na integral simples. Queremos agora obter uma fórmula de mudança de variável na integral dupla. Antes observamos alguns fatos. Se f(x) é uma função derivável em x0, então df dx ∣∣∣∣∣ x=x0 = lim x→x0 f(x)− f(x0) x− x0 Escrevamos ∆f = f(x)− f(x0) e ∆x = x− x0 Logo df dx ∣∣∣∣∣ x=x0 = lim x→x0 4f 4x Portanto df dx ∣∣∣∣∣ x=x0 ∼= ∆f ∆x Essa aproximação é tanto melhor quanto menor for a diferença x− x0. Podemos escrever f ′(x0) ∼= f ′(x0)∆x Portanto ∆f ∼= f ′(x0)∆x Seja agora f uma função contínua em um intervalo I e a um ponto fixo de I. Definimos a função g em I por g(x) = ∫ x a f(t)dt Se F é uma primitiva de f , então g(x) = F (x)− F (a) Logo 2 g′(x) = F ′(x) = f(x) Portanto, temos d dx [∫ x a f(t)dt ] = f(x) Agora consideremos uma curva γ : I → R2, definida em um intervalo I, de classe C1 e consideremos a ∈ I fixo. A função S que associa a cada t ∈ I o comprimento do arco de curva de extremidade γ(a) e γ(t) é dada por S(t) = ∫ t a ||γ′(u)||du Portanto S′(t) = ||γ′(t)|| Assim, ∆S ∼= ||γ′(t)||∆t E essa aproximação é tanto melhor quanto menor for ∆t. Observemos que o vetor γ′(t) é tangente à curva no ponto γ(t). Como ∆t > 0, o vetor γ′(t)∆t tem a mesma direção e sentido de γ′(t), logo é também tangente à curva em γ(t) e seu comprimento é ||γ′(t)∆t|| = ||γ′(t)||∆t Esse comprimento é, aproximadamente, igual ao comprimento do arco de extremidades γ(t) e γ(t+ ∆t). A fim de obtermos a fórmula da mudança de variável na integral dupla, precisamos considerar funções da forma ϕ : Ω ⊂ R2 → R2 São exemplos de funções desse tipo ϕ(u, v) = ( u+ v 2 , v − u 2 ) ϕ(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sin θ) No caso geral, nos referimos a tais funções escrevendo 3 ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v)) ou então ϕ(u, v) = (x, y) , x = x(u, v) , y = y(u, v) A função ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v)) será contínua, diferenciável e de classe C1 se as funções x(u, v) e y(u, v) forem, respectivamente, contínuas, diferenciáveis e de classe C1. As derivadas parciais de ϕ são definidas por ∂ϕ ∂u (u, v) = ( ∂x ∂u (u, v), ∂y ∂u (u, v) ) ∂ϕ ∂v (u, v) = ( ∂x ∂v (u, v), ∂y ∂v (u, v) ) Geometricamente, a derivada parcial de ∂ϕ ∂u (u0, v0) de ϕ no ponto (u0, v0) pode ser interpretada como sendo o vetor tangente à curva α(u) = ϕ(u, v0) no ponto α(u0) = ϕ(u0, v0). De maneira análoga, a derivada parcial ∂ϕ ∂v (u0, v0) pode ser vista como o vetor tangente à curva β(v) = ϕ(u0, v) no ponto β(v0) = ϕ(u0, v0). Consideremos o retângulo R mostrado na figura abaixo e consideremos ϕ(R) a imagem de R pela função ϕ. Sabemos que o comprimento do vetor ∂ϕ ∂u (u0, v0)∆u é, aproximadamente, igual ao comprimento do arco de curva M̂N e que o comprimento do vetor ∂ϕ ∂v (u0, v0)∆v é, aproximadamente, igual ao comprimento de curva M̂Q. Portanto, a área do paralelogramo determinada pelos vetores ∂ϕ ∂u (u0, v0)∆u e ∂ϕ ∂v (u0, v0)∆v é, aproxima- damente, igual a área de ϕ(R). Sabemos que a área do paralelogramo mencionado é igual a norma do produto vetorial de ∂ϕ ∂u (u0, v0)∆u por ∂ϕ ∂v (u0, v0)∆v, ou seja, ∣∣∣∣∣∣∣∣∂ϕ∂u (u0, v0)∆u× ∂ϕ∂v (u0, v0)∆v ∣∣∣∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∣∣∣∣∂ϕ∂u (u0, v0)× ∂ϕ∂v (u0, v0) ∣∣∣∣∣∣∣∣∆u∆v Portanto, temos área de ϕ(R) ∼= ∣∣∣∣∣∣∣∣∂ϕ∂u (u0, v0)× ∂ϕ∂v (u0, v0) ∣∣∣∣∣∣∣∣∆u∆v Suponhamos que ϕ é de classe C1, ou seja, que as derivadas parciais ∂ϕ ∂u e ∂ϕ ∂v são contínuas, então, se (u, v) é um ponto do retângulo R, temos 4 ∂ϕ ∂u (u, v) ∼= ∂ϕ ∂u (u0, v0) ∂ϕ ∂v (u, v) ∼= ∂ϕ ∂v (u0, v0) e, portanto, obtemos área de ϕ(R) ∼= ∣∣∣∣∣∣∣∣∂ϕ∂u (u, v)× ∂ϕ∂v (u, v) ∣∣∣∣∣∣∣∣∆u∆v Segue de ∂ϕ ∂u = ( ∂x ∂u , ∂y ∂u ) e ∂ϕ ∂v = ( ∂x ∂v , ∂y ∂v ) que ∂ϕ ∂u (u, v)× ∂ϕ ∂v (u, v) = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ −→ i −→ j −→ k ∂x ∂u ∂y ∂u 0 ∂x ∂v ∂y ∂v 0 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = ( ∂x ∂u ∂y ∂v − ∂x ∂v ∂y ∂u )−→ k = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ ∂x ∂u ∂x ∂v ∂y ∂u ∂y ∂v ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ −→ k O determinante dessa matriz 2×2 é chamado de determinante jacobiano da função ϕ(u, v) = (x(u, v), y(u, v)) e é denotado por ∂(x, y) ∂(u, v) . Onde ∂(x, y) ∂(u, v) = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ ∂x ∂u ∂x ∂v ∂y ∂u ∂y ∂v ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ Portanto, temos ∣∣∣∣∣∣∣∣∂ϕ∂u (u, v)× ∂ϕ∂v (u, v) ∣∣∣∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∂(x, y)∂(u, v) ∣∣∣∣ e área de ϕ(R) ∼= ∣∣∣∣∂(x, y)∂(u, v) (u, v) ∣∣∣∣∆u∆v Seja agora uma função f(x, y) contínua em ϕ(R), P = {(uj , vj); i = 0, 1, 2, ..., n , j = 0, 1, 2, ...,m} uma partição do retângulo R e 5 A = {(uj , vj); i = 0, 1, 2, ..., n , j = 0, 1, 2, ...,m} um conjunto admissível à partição P . Seja Rij = [ui−1, ui]× [vj−1, vj ] um sub-retângulo da partição P e denotemos por Aij a área de ϕ(Rij). Temos que ∫ ∫ ϕ(R) f(x, y)dxdy ∼= n∑ i=1 m∑ j=1 f(ϕ(ui, vj))Aij ∼= n∑ i=1 m∑ j=1 f(ϕ(ui, vj)) ∣∣∣∣∣∣∣∣∂ϕ∂u (ui, vj)× ∂ϕ∂v (ui, vj) ∣∣∣∣∣∣∣∣∆ui∆vj ∼= n∑ i=1 m∑ j=1 f(ϕ(ui, vj)) ∣∣∣∣∂(x, y)∂(u, v) (ui, vj) ∣∣∣∣∆ui∆vj Calculando o limite dessa soma quando ∆→ 0, obtemos ∫ ∫ ϕ(R) f(x, y)dxdy = ∫ ∫ R f(ϕ(u, v)) ∣∣∣∣∂(x, y)∂(u, v) (u, v) ∣∣∣∣ dudv Na verdade, essa fórmula também é válida para outros conjuntos que não são necessariamente retângulos ∫ ∫ ϕ(Buv) f(x, y)dxdy = ∫ ∫ Buv f(ϕ(u, v)) ∣∣∣∣∂(x, y)∂(u, v) (u, v) ∣∣∣∣ dudv Escrevendo B = ϕ(Buv), temos ∫ ∫ B f(x, y)dxdy = ∫ ∫ Buv f(ϕ(u, v)) ∣∣∣∣∂(x, y)∂(u, v) (u, v) ∣∣∣∣ dudv Exemplo 1 Calcule ∫ ∫ B cos(x− y) sin(x+ y) dxdy, em que B é o trapézio 1 ≤ x+ y ≤ 2, x ≥ 0, y ≥ 0. Resolução: Temos que x+ y = 1⇒ y = −x+ 1 x+ y = 2⇒ y = −x+ 2 Vamos fazer a seguinte mudança de variável 6 { x− y = u x+ y = v Logo, obteremos 2x = u+ v ⇒ x = u 2 + v 2 2y = v − u⇒ y = v 2 − u 2 Portanto, ϕ(u, v) = (u 2 + v 2 , v 2 − u 2 ) O jacobiano será dado por ∂(x, y) ∂(u, v) = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ ∂x ∂u ∂x ∂v ∂y ∂u ∂y ∂v ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ 1 2 1 2 −1 2 1 2 ∣∣∣∣∣∣∣∣∣ = 1 4 + 1 4 = 1 2 Perceba que, quando • v = 1⇒ ϕ(u, 1) = ( u 2 + 1 2 , 1 2 − u 2 ) x = u 2 + 1 2 y = 1 2 − u 2 ⇒ x+ y = 1 • v = 2⇒ ϕ(u, 2) = (u 2 + 1, 1− u 2 ) x = u 2 + 1 y = 1− u 2 ⇒ x+ y = 2 • v = u⇒ ϕ(u, u) = (u 2 + u 2 , u 2 − u 2 ) = (u, 0) • v = −u⇒ ϕ(u,−u) = (u 2 − u 2 ,−u 2 − u 2 ) = (0,−u) Portanto, 7 ∫ ∫ B cos(x− y) sin(x+ y) dxdy = ∫ ∫ Buv cosu sin v 1 2 dudv = 1 2 ∫ ∫ Buv cosu sin v dudv = 1 2 ∫ 2 1 ∫ v −vcosu sin v dudv Resolvendo a integral interna teremos, ∫ v −v cosu sin v du = 1 sin v ∫ v −v cosu du = 1 sin v [ sinu ]v −v = 1 sin v [sin v − sin(−v)] = 1 sin v [sin v + sin v] = 2 sin v sin v = 2 Portanto, ∫ ∫ B cos(x− y) sin(x+ y) dxdy = 1 2 ∫ 2 1 2 dv = 1 2 [ 2v ]2 1 = 1 2 [2.2− 2.1] = 1 2 [4− 2] = 1 2 .2 = 1 8
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