Buscar

Aula 04 - Formação Econômica Brasileira - Vol I

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 3, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 6, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você viu 9, do total de 14 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Prévia do material em texto

Economia cafeeira escravista
Ao fi nal desta aula, você deverá ser capaz de:
Reconhecer o papel fundamental do café na 
recuperação da economia brasileira no início 
do século XIX.
Conceituar bases iniciais de produção ao longo 
do século XIX.
4
ob
jet
ivo
s
A
U
L
A
Meta da aula 
Analisar as origens da economia cafeeira, 
sua importância para a recuperação 
econômica brasileira na primeira metade do 
século XIX, bem como os limites do uso da 
mão-de-obra escrava na produção.
1
2
Aula_04.indd 71 1/12/2006, 2:05:16 PM
72 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
INTRODUÇÃO O século XIX marcou um importante processo de estagnação da economia 
brasileira, particularmente no período que se seguiu ao processo de 
independência do país. No campo externo, crescia o déficit comercial 
– resultante, sobretudo, de dois fatores. Primeiro, a extensão de vantagens 
comerciais dadas a outros países além da Inglaterra – como vimos na aula 
passada, esse país teve grandes privilégios com os tratados comerciais fi rmados 
a partir da abertura dos portos. Segundo, as culturas da cana-de-açúcar e do 
algodão, principais fontes de recursos externos (moeda estrangeira), sofriam 
crescente concorrência no mercado internacional.
No caso da cana, o aumento da produção de açúcar, na Europa, a partir da 
beterraba, e a pesada entrada no mercado de países como Cuba aumentaram 
sobremaneira a oferta internacional. Como conseqüências, temos a queda 
do preço no mercado externo e a redução da receita de exportação brasileira 
(reveja, na Aula 1, a crise da cultura da cana-de-açúcar).
A cultura do algodão passou por problemas semelhantes. Apesar do quadro 
favorável para a produção no Brasil nos últimos 25 anos do século XVIII – em 
especial no Maranhão –, o panorama mudou radicalmente no início do século 
seguinte. O fi m da guerra pela independência nos Estados Unidos (1776) 
propiciou um grande aumento da produção de algodão em regiões da Flórida, 
o que também fez despencar os preços internacionais e reduzir drasticamente 
a receita de exportação brasileira do produto.
No plano interno, agravava-se rapidamente o défi cit público. Isso ocorreu em 
função do aumento das despesas militares. Os confl itos regionais multiplicaram-
se, e houve também disputas territoriais, como as GUERRAS CISPLATINAS. Além disso, 
como você viu na aula passada, o Brasil se viu obrigado a pagar uma indenização 
a Portugal para ter sua independência reconhecida. 
Durante esse período, houve uma queda importante das receitas alfandegárias, 
resultado direto da adoção de medidas direcionadas à prática do LIVRE 
CAMBISMO, que estendeu a outros países as vantagens comerciais concedidas 
à Inglaterra quando da assinatura dos tratados comerciais – que você viu com 
mais detalhes na Aula 3.
GU E R R A S 
C I S P L A T I N A S
“A Banda Oriental, 
disputada por 
brasileiros e 
castelhanos, é 
incorporada ao 
Império em 1821 
como Província 
Cisplatina. Em 1825, 
líderes separatistas 
locais, comandados 
por Fructuoso 
Rivera, proclamam 
a independência 
da região. O Brasil 
declara guerra à 
Argentina, que 
também reivindica a 
posse da Província, 
em 10 de outubro de 
1825. É derrotado 
na batalha de Passo 
do Rosário em 20/2/
1827. A diplomacia 
britânica intervém 
e os dois países 
desistem da região. 
Um tratado de paz 
cria a República 
Independente do 
Uruguai, em 27 de 
agosto de 1828.” – 
In: http://www.conhe
cimentosgerais.com.
br/historia-do-brasil/
unidade-nacional-e-
resistencia.html
LI V RE C A M B I S M O
Conjunto de medidas 
direcionadas 
para a liberação 
do comércio 
internacional – a 
redução das tarifas 
alfandegárias, 
por exemplo.
Aula_04.indd 72 1/12/2006, 2:05:17 PM
C E D E R J 73
A
U
LA
 
4
 
Nesse cenário de estagnação e difi culdades de crédito, o único fator abundante 
na economia brasileira era a terra. Era essencial encontrar um produto exportável 
que aproveitasse essa vantagem, pois o capital disponível era praticamente 
inexistente, e a mão-de-obra estava entrando em um claro processo de escassez, 
já que a queda de receita das principais culturas reduzia a capacidade de 
aquisição de escravos.
O INÍCIO DA CAFEICULTURA PARA EXPORTAÇÃO NO 
BRASIL
Cultivado no Brasil desde o início do século XVIII, o café era, até 
então, um produto direcionado à subsistência e com difusão bastante 
limitada no país. Apenas no século XIX passou a ser incentivada 
sua produção para o mercado externo. Alguns fatores contribuíram 
decisivamente para isto.
Pelo lado da demanda, o crescimento dos mercados europeu e 
norte-americano, em função do avanço da indústria e da urbanização, foi 
fundamental. Ao mesmo tempo, do lado da oferta, o colapso da produção 
haitiana (colônia francesa em processo de independência) determinou um 
importante aumento dos preços internacionais, estimulando a entrada 
do Brasil nesse mercado. 
Contava ainda, a favor do produto, uma característica crucial para o 
momento: a baixa capitalização requerida para o processo produtivo, bem 
mais reduzida que na economia açucareira – o maquinário utilizado para a 
produção de açúcar tinha um custo bem superior. Concorriam para isso a 
utilização extensiva da terra, com técnicas rudimentares e de fácil acesso, e 
as menores necessidades de reposição de maquinário, pois os equipamentos 
eram bem simples e, em grande parte, de fabricação local.
Você já ouviu falar na cidade de Colônia do Sacramento? Situada à margem direita do Rio da 
Prata, em frente a Buenos Aires, foi fundada por portugueses e ingleses em 1680 por ordem de D. 
Pedro I. Os objetivos do monarca eram estender seus domínios até o estuário do Prata e continuar 
captando a prata peruana. A cidade, inicialmente domínio português, acabou fi cando em poder 
dos espanhóis a partir de 1750. Em http://www.seol.com.br/mneme/ed12/119.pdf, você pode obter 
mais informações sobre a importância estratégica de Colônia do Sacramento.
Aula_04.indd 73 1/12/2006, 2:05:19 PM
74 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
As contas do café
Observe, na Tabela 4.1, o crescimento da participação relativa do café ao longo do 
século XIX. De 1821 a 1840, por exemplo, a porcentagem aumentou de 18,4% a 43,4%. 
Impressionante, não acha? 
Repare, agora, nas taxas relacionadas ao açúcar e ao algodão, vistos nas aulas anteriores, 
e compare-as ao que aconteceu com o café. O que você pode verifi car? Lembre-se de 
incluir, nas suas observações, o contexto histórico do século XIX.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Em apenas 70 anos (de 1821 a 1890), o café passou a representar 61,5% das 
exportações brasileiras – uma participação de peso, você não acha? Enquanto 
a cultura cafeeira não parava de crescer, as do algodão e da cana-de-açúcar 
atravessavam uma grande crise, causada pela redução dos preços de revenda 
no mercado internacional. Você consegue perceber a dupla importância do 
café nesse contexto?
Atividade 1
Como resultado, na década de 1830 o café já era o principal 
produto de exportação do Brasil, superando as receitas das culturas 
tradicionais de açúcar e algodão. Vamos ver isto com mais detalhes?
1
Tabela 4.1: participação relativa dos principais produtos de exportação no Brasil (%)
Produtos 1821/30 1831/40 1841/50 1851/60 1861/70 1871/80 1881/90
Café 18,4 43,4 41,4 48,8 45,5 56,6 61,5Açúcar 30,1 24 26,7 21,2 12,3 11,8 9,9
Algodão 20,6 10,8 7,5 6,2 18,3 9,5 4,2
Fumo 2,5 1,9 1,8 2,6 3 3,4 2,7
Cacau 0,5 0,6 1 1 0,9 1,2 1,6
Total 72,1 81,1 78,4 79,8 80 82,5 79,9
Fonte: CANABRAVA (1997)
Aula_04.indd 74 1/12/2006, 2:05:20 PM
C E D E R J 75
A
U
LA
 
4
 O início da produção de café para exportação no Brasil se deu 
no Vale do Paraíba. Tratava-se de uma região de condições climáticas 
propícias para o cultivo desse produto, com terras abundantes para o 
plantio (você vai ver este assunto com mais detalhes na Aula 7, fi que 
atento!). Ao mesmo tempo, havia recursos ociosos da área da mineração 
(em franca decadência em Minas Gerais), tanto de capitais como de 
mão-de-obra escrava. 
É importante ressaltar que o Vale do Paraíba já vinha sendo 
ocupado, por ser caminho natural da área de mineração para o Rio 
de Janeiro, que era a capital e principal porto de escoamento das 
exportações.
Desta forma, havia um claro interesse na ocupação e plantio 
dessa área para abastecer a capital, principalmente após a vinda da 
corte portuguesa para o país em 1808. Veja, na Figura 4.1, a região do 
Vale do Paraíba e a proximidade entre o Rio de Janeiro, Minas Gerais 
e São Paulo. Na próxima aula, você verá a importância dessa trajetória 
natural de expansão da cultura de café.
Além disso, havia uma razão favorável para esta localização, 
em função da ausência de meios de transporte capazes de garantir o 
escoamento da produção a ser exportada a partir do porto do Rio de 
Janeiro. O café era então transportado por mulas, disponíveis em grande 
quantidade e bastante resistentes para a atividade.
Figura 4.1: O Vale do Paraíba. Observando este mapa, é possível constatar que a 
proximidade de Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo é notável.
Aula_04.indd 75 1/12/2006, 2:05:20 PM
76 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
O sistema de ocupação, como em geral ocorria à época, foi 
realizado por meio do sistema de SESMARIAS: as terras eram distribuídas 
e entregues aos fazendeiros de acordo com o número de escravos 
possuídos por eles. Este é um ponto importante; você pode perceber 
nele um dos determinantes do processo de concentração fundiária 
no Brasil.
SE S M A R I A S
“Grandes extensões de terras devolutas pertencentes à Coroa portuguesa e que 
eram doadas pelo monarca, fi cando os benefi ciados na obrigação de cultivá-las 
num prazo de três anos, sob pena de revogação da doação, e de pagar a sesma 
(daí o nome de sesmarias) ou um sexto do que nela viessem a produzir para a 
Coroa. A instituição das sesmarias deveu-se a uma lei promulgada em 1375 por 
D. Fernando I de Portugal e serviu para benefi ciar a burguesia comercial nascente 
que não possuía terras. Inicialmente, o benefi ciário se obrigava de uma sexta parte 
dos lucros obtidos nas terras das sesmaria. A instituição foi transferida para o 
Brasil, onde assumiu forma mais abrangente com o estabelecimento da Capitanias 
Hereditárias: as doações de sesmarias eram feitas aos colonos pelos donatários e 
pelos governadores – gerais. O sistema, só extinto em julho de 1822, deu origem à 
grande propriedade rural (latifúndio) no Brasil, benefi ciando apenas uma pequena 
parte dos habitantes da Colônia, e contribuiu para a concentração da propriedade 
fundiária no Brasil” (SANDRONI, 2004, p. 555).
A história do café no Brasil está estreitamente ligada 
a Francisco de Mello Palheta, ofi cial que trouxe clandes-
tinamente, da Guiana Francesa para o Brasil, a primeira 
muda da planta em 1727. 
Quer saber mais? Consulte http://www.abic.com.br/scafe_
historia.html. Veja, também, http://enetovix.tripod.com/
cafe-fi nal.pdf
Neste caso, quando a produção de café começou a ganhar peso 
e importância, elevando substancialmente a capacidade de geração 
de renda e lucros no setor, os grandes fazendeiros expulsaram os 
pequenos proprietários – sobretudo por meio da falsifi cação dos 
registros. Isso obrigava os minifundiários a migrar para as cidades 
ou a partir para regiões periféricas, formando cordões agregados aos 
grandes latifúndios.
Aula_04.indd 76 1/12/2006, 2:05:22 PM
C E D E R J 77
A
U
LA
 
4
 
Café e ouro: atividades interdependentes?
Em sua opinião, a expansão da atividade cafeeira no Brasil e o processo de decadência 
econômico-fi nanceira da mineração estão relacionados? Justifi que sua resposta.
_____________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
_____________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Apesar da elevação dos preços internacionais do café e da abundância de 
terras no Vale do Paraíba, a produção de café na região não seria viável sem 
os recursos ociosos da decadente atividade mineradora, com destaque para 
a oferta de mão-de-obra escrava e de capitais. Afi nal, o ouro encontrado no 
país parecia estar se esgotando rapidamente, e toda a infra-estrutura montada 
para encontrá-lo, purifi cá-lo e vendê-lo estava disponível.
Atividade 2
BASES E CARACTERÍSTICAS DA PRODUÇÃO DE CAFÉ
A produção de café no Vale do Paraíba seguiu as mesmas 
características básicas das demais culturas para exportação anteriormente 
assentadas no Brasil. O café era cultivado em latifúndios monocultores 
de base escravista, utilizando-se técnicas absolutamente precárias para a 
plantação, o que destacava a forma extensiva do processo produtivo.
Tradicionalmente, o “preparo” da terra para o plantio baseava-
se na derrubada e queimada da Mata Atlântica que cobria a região, 
utilizando o método vertical de plantação nas encostas, quando o 
recomendado para solos montanhosos seria a plantação das mudas 
em platôs ao longo da encosta. Não havia, entretanto, qualquer 
cuidado adicional com a terra, já bastante desgastada pelas queimadas 
2
Aula_04.indd 77 1/12/2006, 2:05:24 PM
78 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
e exposta à ação erosiva das chuvas – uma constante naquela região. 
A intenção explícita dos cafeicultores era facilitar o trabalho dos escravos, 
desprovidos de qualquer experiência com o plantio do café – oriundos, 
em sua maioria, da atividade de mineração.
É importante perceber que essa forma de utilização da terra 
impôs uma produção que ocupava áreas cada vez mais extensas, pois a 
deterioração do solo tornava-se acelerada. A necessidade recorrente de 
utilização de novas terras é um ponto-chave na dinâmica produtiva do 
Vale do Paraíba, explicando diretamente sua expansão na direção do Oeste 
paulista. De todo modo, como essas terras eram fartas e sem valor comercial 
à época, este não foi um problema fundamental no início da produção.
Ao mesmo tempo, o emprego da mão-de-obra escrava não 
causou maiores problemas para os produtores – havia escravos ociosos 
da mineração e, posteriormente, outros foram trazidos de outras regiões 
decadentes, em particular do Nordeste. Os problemas decorrentes dessa 
forma de mão-de-obra, todavia, eram iminentes, pois o tráfi co negreiro 
vinha sendo cada vez mais combatido, o que determinava uma elevação 
substancial dos preços dos escravos. 
A Lei Eusébio 
de Queiroz, de 1850, 
determinando o fim do 
tráfi co, reduziu drasticamente 
a oferta de escravos. Nem isso, 
entretanto, causou uma mudança 
de postura dos cafeicultores do 
Vale do Paraíba, que mantiveram 
a prática de trazer negros 
de outras regiões 
brasileiras. 
!!
Os últimos 209 escravos trazidos para o Brasil 
desembarcam em Serinhaém (PE), em 1855.
Aula_04.indd 78 1/12/2006, 2:05:26PM
C E D E R J 79
A
U
LA
 
4
 O resultado foi que, ao fi nal de 1877, cerca da metade dos escravos 
do país estava nessa região. Observe, na Tabela 4.2, o crescimento do 
número de escravos no Rio de Janeiro. Esse comportamento tinha 
uma raiz claramente cultural, pois já vinham ocorrendo, desde 1845, 
experiências com mão-de-obra imigrante (esse assunto será tratado com 
mais detalhe na próxima aula). Na verdade, os produtores não foram 
capazes de vislumbrar, até por questões ideológicas, a necessidade de 
uma forma alternativa de trabalho, considerando a iminente escassez 
de escravos após a extinção do tráfi co.
O crédito e a comercialização do café seguiam um esquema 
semelhante ao apresentado na cultura do açúcar. Destacava-se, assim, 
a fi gura do comissário intermediando as transações entre fazendeiros, 
exportadores e importadores. A maior parte do lucro resultante do café 
girava em torno da comercialização do produto, a cargo dos exportadores 
e dos intermediários (como as CASAS COMISSÁRIAS).
CA S A S 
C O M I S S Á R I A S 
Eram os pontos de 
venda do café nas 
cidades. Nestas 
localidades, os 
comissários – que 
intermediavam o 
comércio entre os 
meios rural e urbano 
– compravam o café 
dos fazendeiros e 
revendiam o produto 
para compradores 
na cidade ou 
no exterior. Os 
comissários vendiam, 
também, produtos 
industrializados 
aos fazendeiros. 
Muitos deles tinham 
procuração dos 
fazendeiros para 
comercializar 
em seu nome.
Entre as mais importantes Casas Comissárias, destacam-se a Prado Chaves, que 
era também exportadora – e, em 1910, exportou 1,5 milhão de sacas de café 
–, a Whitalter & Brotero, a Companhia Intermediária de Café de Santos e a 
Companhia Paulista de Armazéns de Santos, controlada por ingleses.
As vendas para o mercado externo eram muito lucrativas, já que, em virtude 
de a comunicação entre os continentes ser precária, os comissários podiam 
manipular a cotação do café.
Tabela 4.2: Escravos no Rio de Janeiro
Ano Número
1844 119.000
1877 370.000
Fonte: COSTA, 1989.
Aula_04.indd 79 1/12/2006, 2:05:27 PM
80 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
Além disso, no que se refere ao crédito, os bancos nunca forneciam 
empréstimos diretamente aos fazendeiros, que fi cavam dependentes 
dos comissários para auferir os recursos necessários para a produção. 
Os comissários, por sua vez, seriam responsáveis pela venda do café, 
recebendo uma comissão remuneradora. Isso ocorria em função das 
próprias características do crédito, algo eminentemente pessoal até 1930 
– o conhecimento direto e pessoal assumia uma importância muito grande 
para a concessão do crédito. Os fazendeiros, residentes na área rural, 
tinham poucas oportunidades para esse contato mais próximo com os 
banqueiros, o que criava um mecanismo que perpetuava a intermediação 
dos comissários, pois a garantia do dinheiro emprestado aos produtores 
era, exatamente, a sua produção.
Inicialmente, o café era transportado por mulas, em estradas 
precárias, causando perdas importantes de café e de escravos. Essa 
prática era possível em função da proximidade entre as áreas iniciais de 
plantio no Vale e o porto do Rio de Janeiro, como você pôde verifi car 
na Figura 4.1. À medida que a produção se expandia, e considerando sua 
natureza extensiva, outra forma de transporte tornava-se necessária. A 
Estrada de Ferro D. Pedro II foi um exemplo: foi fi nanciada com capitais 
antes empregados no tráfi co de escravos e que fi caram sem aplicação 
após a Lei Eusébio de Queiroz.
Vendo e aprendendo: café também é cultura
Observe esta tela, de autoria de Cândido Portinari (1903-1962). Nela, o pintor 
brasileiro retrata a maneira de produção e armazenagem do café. A partir dela, 
como você descreveria a produção do café no Brasil? Na sua resposta, lembre-se 
de considerar: 
a) o tipo de mão-de-obra; 
b) a extensão do terreno;
c) o perfi l dos trabalhadores.
Atividade 3
2
Aula_04.indd 80 1/12/2006, 2:05:29 PM
C E D E R J 81
A
U
LA
 
4
 
Resposta Comentada
Resposta comentada: Você reparou a quantidade de pessoas trabalhando? São 
tantas que Portinari nos faz ter a impressão de que não cabem na tela. E o 
tamanho do terreno? Parece não ter fi m, não é mesmo? Assim era a produção 
cafeeira no Brasil: em grandes extensões de terra (latifúndios), utilizando a 
mão-de-bra escrava. Repare nas feições dos trabalhadores. Homens e mulheres 
têm características físicas dos negros. Eram ainda os escravos, remanejados 
de várias partes do país. 
Viu que não existem outros tipos de plantação ao redor? A monocultura 
também era outro traço marcante da produção cafeeira da época. 
Café, de Candido Portinari, 1935
1,30m x 1,95m. Óleo sobre tela. 
Exposta no Museu Virtual da Administração
O DECLÍNIO DA PRODUÇÃO DE CAFÉ NO VALE DO PARAÍBA
A decadência da cultura do café no Vale é explicada diretamente 
pelas bases assumidas no seu processo de produção, sobretudo no que diz 
respeito à utilização das terras e à mão-de-obra escrava insistentemente 
empregada ao longo da segunda metade do século XIX, quando sua 
oferta tornou-se defi nitivamente escassa.
Ao mesmo tempo, a decadência da cafeicultura implicou 
a inadimplência crescente dos produtores junto aos comissários, 
levando-os também a uma situação fi nanceira complicada. A quebra 
de casas comissárias, por sua vez, atingiu também bancos em que os 
Aula_04.indd 81 1/12/2006, 2:05:29 PM
82 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
comissários descontavam títulos para obter recursos. Esse processo 
foi responsável por uma importante redução da disponibilidade de 
crédito para a produção, o que difi cultou ainda mais a continuidade 
do negócio.
Apesar de algumas tentativas de diversifi cação produtiva com 
o algodão e o açúcar, no intuito de fugir da grande dependência da 
plantação de café, a maior parte das fazendas do Vale do Paraíba mais 
próximas da capital entrou em um processo irreversível de falência. Como 
resultado, a produção de café passou a se concentrar, defi nitivamente, na 
região conhecida como Oeste Paulista, assunto da próxima aula.
CONCLUSÃO
O café tornou-se rapidamente o principal produto de exportação 
do Brasil no século XIX, expandindo sua cultura de maneira acelerada. 
Encontrou condições excepcionalmente propícias para esse crescimento, 
reunindo vantagens associadas à facilidade para sua plantação em larga 
escala (pela pouca exigência de capital inicial e pela oferta abundante de 
terras próximas ao porto do Rio de Janeiro). A possibilidade de utilização 
de mão-de-obra escrava ociosa em outras culturas foi também um fator 
altamente favorável no início da produção no Vale do Paraíba.
Em um período relativamente curto de tempo, todavia, essas 
mesmas condições determinaram o fi m da produção nessa região. 
As terras, apesar de fartas, não eram as mais adequadas para o plantio, 
tanto pela sua qualidade, quanto pela situação geográfi ca em encostas – a 
erosão era extremamente veloz. Por seu turno, a manutenção do trabalho 
escravo nas lavouras logo viria a se apresentar como um problema crucial 
para a continuidade da produção, especialmente a partir do fi m defi nitivo 
do tráfi co negreiro, o que reduziu substancialmente a oferta deste tipo 
de mão-de-obra.
Atualmente, o Brasil é o maior produtor de café do mundo, sendo responsável 
por 30% do volume total de produção. É, também, o segundo maior consumidor, 
antecedido apenas pelos Estados Unidos, segundo informações do Instituto 
Brasileiro do Café (IBC).
Aula_04.indd 82 1/12/2006, 2:05:30 PM
C E D E R J 83
AU
LA
 
4
 
Contradições da economia cafeeira 
Imagine que você está arrumando sua prateleira para colocar seus livros de 
Administração. Você tem de tirar do lugar materiais antigos, álbuns, coisas de que 
você nem se lembrava...
De repente, cai no chão um álbum antigo. Quando você vai olhar, descobre que ele 
pertencia aos seus bisavós. Ao pegá-lo, cai um recorte de jornal. Ele está envelhecido, 
mal se pode ler o que ele contém. A data? 18... Tomado pela curiosidade, você começa 
a ler. O único trecho legível é:
“A existência do braço escravo relativamente abundante, no Vale do Paraíba, tornou-se 
um fator diretamente contrário ao progresso da cultura cafeeira na região.” 
Que coincidência, não? Justo o que você estudou nesta aula. Já que você acabou de 
ver este assunto em detalhes, é uma hora propícia para perguntar se você concorda 
com essa afi rmação.
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada
Refeito do susto provocado pela grande coincidência – há quem diga que o acaso não 
existe, principalmente nas suas aulas de FEB –, você deve ter concordado com o que se 
disse no texto que você encontrou. Dois motivos contribuem, fundamentalmente, para 
esse raciocínio. Primeiro, de maneira mais direta, a pouca especialização do escravo 
para a lavoura cafeeira determinava o uso de técnicas precárias. Segundo, a reduzida 
necessidade de buscar uma alternativa de mão-de-obra aos escravos, pois havia a 
possibilidade de trazê-la de regiões onde se encontrava ociosa – mesmo após o 
fim do tráfico negreiro – primeiro de Minas e depois do Nordeste.
Atividade Final
21
Aula_04.indd 83 1/12/2006, 2:05:30 PM
84 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Economia cafeeira escravista 
Nesta aula, vimos que a produção de café para exportação no Brasil 
encontrou uma situação especialmente favorável no início do século XIX. 
Vimos também que a decadência de culturas tradicionais (veja na Tabela 4.1) 
e a disponibilidade de recursos ociosos, em um contexto de elevação dos 
preços internacionais do produto, permitiram um rápido crescimento de sua 
cultura no País. Todavia, as condições propícias do Vale do Paraíba para seu 
deslanche inicial, sobretudo a fartura de terras e a oferta de mão-de-obra 
escrava, foram também responsáveis diretas para seu rápido declínio, pelo 
uso inadequado dessa terra e o fi m do tráfi co de escravos.
R E S U M O
Aula_04.indd 84 1/12/2006, 2:05:31 PM

Outros materiais

Outros materiais