Buscar

Aula 06 - Formação Econômica Brasileira - Vol I

Prévia do material em texto

Políticas de sustentação 
da renda da cafeicultura 
na República Velha 6
ob
jet
ivo
s
A
U
L
A
Meta da aula 
Apresentar a evolução da política econômica 
brasileira no período da República Velha, 
destacando sua estreita associação com os 
interesses da cafeicultura.
1
2
3
Esperamos que, ao fi nal desta aula, você seja 
capaz de:
 Descrever as razões da recorrente
desvalorização da taxa de câmbio no Brasil
no início da República Velha.
 Identifi car as mudanças da política econômica 
do governo Campos Sales.
 Relacionar essas mudanças com as pressões 
dos cafeicultores para que o governo 
assumisse as medidas adotadas no Convênio 
de Taubaté.
Pré-requisitos 
A Aula 5 trata da organização e 
implantação da cafeicultura na Província 
de São Paulo. Os fatores envolvidos nesse 
processo são essenciais para esta aula. 
Por isso, você deve relembrá-los
antes de iniciar o seu estudo.
Aula_06.indd 99 1/12/2006, 1:13:28 PM
100 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
INTRODUÇÃO A REPÚBLICA VELHA (ou Primeira República, 1889-1930) começou com a 
proclamação da República e teve fi m na Revolução de 1930, que você 
verá daqui a algumas aulas. No novo regime, duas mudanças foram muito 
expressivas: o povo passou a escolher os governantes, ainda que sujeito a 
grandes restrições, e a Igreja foi legalmente separada do Estado, por meio de 
uma nova Constituição.
No entanto, a República Velha não mudou o fato de o Brasil ser o país do café 
e dos grandes latifúndios. Os donos destas propriedades, chamados coronéis, 
impunham seu poder sobre os empregados, submetendo-os ao voto de cabresto. 
Isto fazia com que o poder político da região também estivesse sob seu domínio. 
Este período da História fi cou conhecido como República do Café-com-leite, pois 
o poder político se concentrou nas mãos das oligarquias paulista (responsável por 
produzir o café) e mineira (responsável pela produção de leite).
PR I M E I R A 
RE P Ú B L I C A 
O U RE P Ú B L I C A 
VE L H A 
(1889-1930)
Período marcado 
pelo domínio das 
elites agrárias 
mineiras, paulistas e 
cariocas. 
Ao longo destes 
anos, o Brasil 
fi rmou-se como um 
país exportador de 
café, e a indústria 
começou a se 
desenvolver em 
São Paulo, como 
discutiremos na 
próxima aula. 
Na área social, várias 
revoltas e problemas 
sociais aconteceram 
em todo o território 
brasileiro. No plano 
político, a República 
Velha caracterizou-se 
pela alternância de 
governantes paulistas 
e mineiros no poder, 
a política do café-
com-leite.
A República Velha 
teve dois períodos 
distintos: 
a República da 
Espada (1889-1894), 
assim denominada 
pelo fato de o poder 
estar durante o 
período nas mãos 
dos militares; 
e a República 
Oligárquica 
(1894-1930), 
quando o poder 
fi cou centralizado 
e dirigido pelas 
oligarquias cafeeiras 
de São Paulo e pelas 
oligarquias de 
Minas Gerais.
Para saber mais sobre este período da nossa 
história, visite a página http://www.ceap.g12.br/
pagina/republicavelha.htm.
O início da República Velha foi caracterizado por condições altamente favoráveis 
para a acumulação de capital na cafeicultura. 
Como você viu na aula passada, o fi nal do século XIX marcou um importante 
fl uxo de imigrantes europeus para o país, atraídos particularmente pela cultura 
cafeeira desenvolvida em São Paulo. Isso aconteceu porque o governo brasileiro 
criou uma série de estímulos para a vinda desses estrangeiros (em sua maioria 
europeus) e porque a Argentina, concorrente de peso para o Brasil no abrigo 
aos imigrantes, passou por um período de estagnação econômica durante 
toda a década de 1890. 
Além desses motivos, os chamados fatores de expulsão na Europa (como o 
violento processo de unifi cação na Itália e na Alemanha), bem como a crise 
econômica que se iniciou nos Estados Unidos a partir de 1893, contribuíram 
para o processo de imigração. Nesse período, cerca de 1.400.000 imigrantes 
aportaram no Brasil. Destes, aproximadamente 890 mil vieram para a região 
paulista do café. 
A cafeicultura encontrou uma situação especial de ampliação das terras 
disponíveis para o cultivo, decorrente da importante expansão da malha 
ferroviária no espaço paulista. Esses fatores conjugados (espaço e mão-de-
obra) permitiram um relevante aumento da capacidade produtiva do café. 
Aula_06.indd 100 1/12/2006, 1:13:30 PM
C E D E R J 101
A
U
LA
 
6A grande entrada de mão-de-obra imigrante garantiu a manutenção de taxas 
salariais em um nível bastante reduzido. Como mão-de-obra é um dos principais 
determinantes do preço de um produto, foi possível haver aumento da produção 
sem aumento associado dos custos médios. Dessa forma, a cafeicultura 
experimentou grande aumento na acumulação de capital, persistindo, em 
conseqüência, o aumento sistemático da produção.
Quando falamos de mão-
de-obra, se há muitos funcionários 
disponíveis, eles competem pelo emprego. Os 
contratadores podem, então, oferecer salários mais 
baixos, que serão certamente aceitos por alguns dos candidatos 
ao posto. Por esse motivo, o grande número de imigrantes 
(que chegavam ao Brasil sem ter onde morar e em que 
trabalhar) teve, como conseqüência, a redução dos 
salários pagos pelo cultivo do café.
!!
1889/1898: DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL E SUSTENTAÇÃO 
DA RENDA DA CAFEICULTURA
No fi nal da década de 80 do século XIX, os preços internacionais 
do café seguiram uma trajetória sistemática de alta, ampliando as margens 
de lucro do setor. Isso era resultado do crescimento da demanda norte-
americana, responsável por cerca de 60% das compras de café no mercado 
internacional e pela quebra da safra brasileira em 1887/88 e 1889/90, 
o que reduziu signifi cativamente a oferta. É importante salientar que a 
produção brasileira representava, naquele momento, algo em torno de 
¾ da oferta total de exportações de café no mundo. Você pode imaginar, 
então, que qualquer mudança no patamar produtivo brasileiro afetava 
substancialmente a oferta internacional do produto.
Aula_06.indd 101 1/12/2006, 1:13:32 PM
102 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
Taxa de câmbio e 
mercado cambial
Antes de entender o que signifi cam estes 
dois conceitos, você precisa ter em mente que 
as transações financeiras e comerciais entre países 
diferentes sempre acontecem usando uma moeda como 
referência.
Nos dias de hoje, o dólar é esta moeda, por ser o dinheiro do país 
economicamente mais forte do mundo, os EUA. Na época da Primeira 
República, as negociações aconteciam em libras, pois estas eram (e ainda 
são) a moeda da Inglaterra.
Taxa de câmbio é o valor da moeda nacional em relação a uma moeda estrangeira 
(quantos reais custa um dólar, por exemplo). Ela é determinada, fundamentalmente, 
pelas transações de compra e venda de moeda estrangeira, que acontecem em um 
“ambiente virtual”, o mercado de câmbio. Os agentes envolvidos neste mercado são, 
em geral, demandantes e ofertantes de moeda estrangeira. As fontes de demanda por 
moeda estrangeira são:
 gastos com importações de bens e serviços; 
 pagamentos de dívidas contraídas anteriormente com outros países;
 remessas de lucros para matriz de empresa multinacional;
 aplicações fi nanceiras no exterior.
Já a oferta de moeda estrangeira caracteriza-se por:
 receitas de exportação de bens e serviços;
 dívidas contraídas;
 rendas recebidas;
 aplicações fi nanceiras de estrangeiros no Brasil.
Mas o maior e mais importante ator desse mercado é o Banco Central (suas origens e atribuições 
serão vistas na Aula 14). O Banco Central é o gestorda política cambial, pois aumenta ou diminui 
a oferta de moeda estrangeira, podendo controlar, por esse mecanismo de oferta e procura, as 
taxas de câmbio. Suas principais atribuições no mercado de câmbio são:
 a regulamentação do mercado cambial;
 a aplicação de medidas relativas ao regime cambial (fi xo ou fl utuante) defi nidas pela 
política governamental.
Uma desvalorização da taxa de câmbio representa o aumento do preço da moeda 
estrangeira, encarecendo os produtos importados e aumentando as receitas de 
exportações em moeda nacional. Ao contrário, uma valorização cambial reduz o preço 
da moeda estrangeira e, conseqüentemente, o preço pago por produtos importados 
– ao mesmo tempo que diminui as receitas de exportações em moeda nacional.
O principal instrumento de análise dos efeitos das operações no mercado cambial 
para o país é o Balanço de Pagamentos. Nesse balanço, são registradas todas 
as operações realizadas entre empresas ou pessoas residentes em um país 
e aquelas não residentes. É uma razão entre as operações de bens e 
serviços (transações correntes) e as de natureza fi nanceira (conta 
de capital e conta fi nanceira). Tem importância fundamental 
para a organização das transações de um país com o 
resto do mundo, permitindo a análise da situação 
externa do país e um controle maior dessas 
transações.
!!
Aula_06.indd 102 1/12/2006, 1:13:32 PM
C E D E R J 103
A
U
LA
 
6A partir de 1891, no entanto, o contínuo avanço da produção 
entrou em descompasso com o crescimento do mercado externo, 
principalmente após o início da prolongada crise econômica que passou 
a assolar a economia norte-americana em 1893 (sentida, pelo menos, 
até meados de 1897). 
Nosso país produzia mais café (aumentava a oferta) e não havia 
resposta da economia mundial na mesma medida. Houve uma queda 
sensível do preço internacional do café, revertendo a tendência de alta 
dos preços até então registrada, determinando uma redução da receita 
das exportações. Cabe destacar que o Brasil, àquela altura, dependia 
fortemente das receitas em moeda estrangeira oriundas das vendas 
externas do café, nosso principal produto de exportação desde a metade 
do século XIX. 
Em decorrência da queda de preços do café, o Balanço de 
Pagamentos sofreu um impacto importante, promovendo mudanças na 
condução da política econômica do Brasil. Esse movimento provocou o 
início de um ciclo de desvalorização da taxa de câmbio que marcou de 
maneira expressiva os primeiros anos da República Velha. 
A queda do preço do 
café representou um grande 
impacto na economia brasileira do século 
XIX. Um dos problemas associados a essa queda 
do preço é o que chamamos inelasticidade-preço da 
demanda por café. Uma queda de preço não implica 
aumento proporcional da demanda pelo produto. Ou 
seja, estar mais barato não fará com que as vendas do 
café aumentem de forma a manter a receita constante, 
independentemente da quantidade de produto 
negociada. Do mesmo modo, o aumento 
do preço não reduz seu mercado na 
mesma proporção.
!!
O CÍRCULO VICIOSO DA DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL 
E SUAS PRINCIPAIS CONSEQÜÊNCIAS
A desvalorização cambial era uma realidade decorrente de dois 
fatores: (1) redução da entrada de moeda estrangeira no país, devido à 
queda do preço internacional do café, e (2) pressão política exercida pelos 
cafeicultores, visando preservar seus ganhos em moeda nacional. 
Aula_06.indd 103 1/12/2006, 1:13:32 PM
104 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
O quadro econômico interno da primeira década da República 
Velha já estava bastante complicado. Além de ter sofrido os efeitos de uma 
seca prolongada para as principais culturas agrícolas do país, esse período 
foi marcado por uma forte estagnação econômica, dada a desorganização 
da produção de culturas tradicionais (como a açucareira e a do algodão) 
em decorrência da abolição da escravatura, em 1888.
O uso do imigrante substituindo o trabalho escravo estava 
cristalizado apenas na produção de café, de maneira que as demais 
atividades produtivas necessitavam de recursos para sua recuperação. 
Nessa direção, foi implementada uma política de emissão monetária 
na gestão de RUI BARBOSA como ministro da 
Fazenda do governo provisório de Deodoro 
da Fonseca que ficou conhecida como 
ENCILHAMENTO.
Essa política, entretanto, causou uma 
profunda desordem fi nanceira na economia 
brasileira. O encilhamento teve efeitos diretos 
sobre a taxa de câmbio e contribuiu fortemente 
para uma desvalorização cambial mais 
intensa.
Este processo, todavia, determinava a 
formação de um círculo vicioso, na medida em 
que, apesar da queda do preço internacional 
do café, a sustentação das receitas em mil-réis 
para os produtores e exportadores de café os 
estimulava a aumentar ainda mais a produção 
– veja a Figura 6.1. 
RU I BA R B O S A
(1849-1923)
Rui Barbosa foi, 
sem dúvida, um dos 
mais importantes 
personagens da história 
do Brasil por ter 
participado de todas 
as grandes questões 
político-sociais de 
sua época. Nasceu 
em Salvador (BA) e 
faleceu em Petrópolis 
(RJ). Era advogado e 
foi deputado, senador, 
ministro e candidato 
à presidência de 
República em duas 
ocasiões, mas nunca 
venceu a eleição.
Conhecia a fundo o 
pensamento político 
constitucional anglo-
americano, que pregava 
o liberalismo. Era 
adepto desta linha 
de pensamento que, 
por seu intermédio, 
infl uenciou a nossa 
primeira Constituição 
republicana. 
Foi membro fundador 
da Academia Brasileira 
de Letras, onde, depois, 
substituiu Machado de 
Assis na presidência. Se 
você quiser saber mais 
a respeito, visite o site 
http://www.casaruibarb
osa.gov.br/
ENCILHAMENTO
"Política fi nanceira de 
estímulo à indústria, 
adotada por Rui Barbosa 
quando ministro da 
Fazenda (novembro de 
1889 a janeiro de 1891), 
após a proclamação da 
República. Baseava-se
 no incremento do meio 
circulante com a criação 
de bancos emissores (...).
Por isso, incentivou-se 
intensamente a criação 
de sociedades anônimas, 
concitando-se o público 
a investir em capital na 
indústria e no comércio. 
(...) O resultado foi uma 
espiral infl acionária 
e de falências (...)" 
(SANDRONI, 2004, pp. 
205-206).
Figura 6.1: O processo de manutenção das receitas dos produtores e exportadores de café.
Aumento 
da produção 
brasileira
de café
Elevação da oferta 
internacional do café 
(com demanda
estagnada)
Redução do preço 
internacional 
do café
Aumento dos 
preços internos e da 
receita em moeda
nacional
Redução da 
oferta de moeda 
estrangeira
no Brasil
Queda da receita 
de exportações 
do café
Desvalo-
rização 
cambialS S S
S
SS
S
Aula_06.indd 104 1/12/2006, 1:13:32 PM
C E D E R J 105
A
U
LA
 
6Observe a Tabela 6.1. O que está acontecendo com os preços 
externos em relação aos preços internos?
Anos Preços externos* Preços internos**
1889 100 100
1890 113 120
1891 90 171
1892 87 201
1893 103 276
1894 92 290
1895 91 262
1896 69 252
1897 47 180
1898 41 163
Tabela 6.1: Índice de preços internacionais (externos) 
e internos do café (1889 =100)
Fonte: Delfi m Netto (1981, p. 29).
*Preços em moeda estrangeira.
** Preços em mil-réis.
Como você deve ter percebido na Tabela 6.1, a depreciação do 
câmbio invertia a trajetória dos preços internacionais quando convertidos 
para os preços em mil-réis: enquanto os preços internacionais do café 
caíam expressivamente, os cafeicultores recebiam mais, em mil-réis, pela 
venda do produto.
Crise de superprodução do café
Analise as informações a seguir:
a. A exportaçãodo café sustentou a economia brasileira durante o fi nal do Segundo 
Reinado e início da Primeira República. A alta mundial dos preços estimulou o aumento 
da produção. A alta mundial da oferta reduziu os preços internacionais do café (veja 
novamente a Tabela 6.1).
b. A redução dos preços do café no cenário econômico internacional demandou, do 
governo brasileiro, medidas que protegessem os cafeicultores da falência, que envolveram 
o ajuste das taxas de câmbio.
Com base nessas duas afi rmações e no que você leu até agora nesta aula, como você 
explicaria a frase: “A desvalorização cambial sustentou a renda dos cafeicultores no fi nal 
do século XIX.”
Atividade 1
1
Aula_06.indd 105 1/12/2006, 1:13:35 PM
106 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
A longo prazo, manter essas condições mostrava-se inviável. 
A desvalorização cambial determinava uma elevação dos preços dos 
produtos importados – base da cesta de consumo brasileira, uma vez 
que pouco era produzido para o mercado interno. Assim, a subsistência 
tornava-se mais cara em moeda nacional, forçando o aumento dos 
salários, base dos custos de produção da cultura cafeeira. 
Seguindo esta tendência, o aumento dos custos seria responsável 
pela redução da margem de lucro da cafeicultura, 
reduzindo seu espaço para acumulação de capital 
em longo prazo (Figura 6.2).
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
Resposta Comentada
O café experimentou uma crise de superprodução no fi nal do século XIX. Isso fez 
com que os preços despencassem no cenário internacional. Para conter a onda de 
falências que aconteceria caso essa queda fosse repassada para os cafeicultores, 
o governo brasileiro adotou uma política de desvalorização cambial. Isso signifi cou 
reduzir o valor da nossa moeda em relação à libra, a fi m de manter elevada a renda 
dos cafeicultores em moeda local.
 A desvalorização do câmbio fazia os preços do café aumentarem em moeda nacional, 
embora estivesse ocorrendo uma rápida queda dos preços internacionais. Dessa 
forma, os cafeicultores recebiam uma remuneração maior em mil-réis, mesmo com 
a redução do preço no mercado internacional.
Queda dos preços do café
em moeda estrangeira
S Desvalorização cambial 
– aumento do preço do café
em moeda nacional
S Perda do poder de compra
de produtos importados
com moeda nacional
S Necessidade de
aumento dos salários
Aumento nos custos
da produção do café
S
Redução dos lucros
dos cafeicultores
S
Figura 6.2: As conseqüências da desvalorização 
cambial em longo prazo. 
Aula_06.indd 106 1/12/2006, 1:13:35 PM
C E D E R J 107
A
U
LA
 
6TabelaDe maneira mais dramática em curto e médio prazos, a 
desvalorização cambial afetava também as fi nanças públicas. A redução 
nas importações diminuía sistematicamente a receita do governo, que 
tinha nas arrecadações de impostos sobre os produtos importados sua 
maior fonte.
O fi m da TARIFA-OURO aplicada sobre as importações em 1891 
agravava esse quadro, corroendo a capacidade de arrecadação do 
Estado. Ao mesmo tempo, a maior fonte de fi nanciamento público 
era o endividamento externo, cujo pagamento é efetivado em moeda 
estrangeira – a desvalorização cambial implicava, portanto, aumento 
das necessidades de gasto do governo.
Sustentar por muito tempo essa situação poderia levar as fi nanças 
públicas à bancarrota, pois a possibilidade de obter novos empréstimos 
externos reduzia-se à medida que as receitas de exportações caíam. Quanto 
menor a entrada de moeda estrangeira no país, maior o risco de não pagar 
as dívidas e, obviamente, menor a oferta de novos empréstimos.
O GOVERNO CAMPOS SALES (1898-1902) E O 
“SANEAMENTO MONETÁRIO” DE JOAQUIM MURTINHO
Quando a República foi proclamada, instaurou-se um governo 
provisório, comandado pelo marechal Deodoro da Fonseca. Deodoro se 
manteve no poder até novembro de 1891, quando tentou dar um golpe 
de Estado e dissolver o Congresso. A campanha legalista de Floriano 
Peixoto, outro militar, derrotou as pretensões de Deodoro colocando 
Floriano Peixoto no poder, o que prolongou até 1894 a República da 
Espada. 
TA R I F A-O U RO
Imposto cobrado pelo 
governo em ouro. 
Este procedimento 
evitava que o governo 
perdesse dinheiro 
na troca de moeda, 
aumentando as 
reservas do Estado. 
Além disso, por 
se manter à parte 
do mercado de 
câmbio, minimizava 
a especulação em 
cima das trocas de 
moedas, evitando, 
por conseqüência, o 
aumento do preço de 
moeda estrangeira 
no país. No governo 
de Campos Sales, 
esta tarifa foi 
instituída (1901) 
por seu ministro da 
Fazenda, Joaquim 
Murtinho, e começou 
representando 
10% do valor da 
mercadoria. Pouco 
tempo depois, já 
signifi cava 25%.
Figura 6.3: Marechal Manoel Deodoro da Fonseca,
presidente do Brasil no período 
de 15/11/1889 a 23/11/1891.
Figura 6.4: Marechal Floriano Vieira Peixoto,
presidente do Brasil no período 
de 23/11/1891 a 15/11/1894.
Aula_06.indd 107 1/12/2006, 1:13:36 PM
108 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
O presidente seguinte foi Prudente de Moraes, civil e paulista, que 
foi eleito pelo povo. Prudente de Moraes deu início ao período que fi cou 
conhecido como República do Café-com-Leite e consolida a presença dos 
civis no governo do país. Foi substituído, ao fi nal de seu mandato, por 
Campos Sales, também representante da oligarquia cafeeira paulista.
Se você quiser saber um pouco mais sobre cada presidente 
que o Brasil já teve, visite a Galeria dos Presidentes na página 
da Presidência da República (http://www.planalto.gov.br/).
Figura 6.5: Prudente José de Moraes e Barros,
presidente do Brasil no período
de 15/11/1894 a 15/11/1898.
Figura 6.6: Manoel Ferraz de Campos Sales,
presidente do Brasil no período 
de 15/11/1898 a 15/11/1902.
Apoiada em um discurso de base liberal, que valorizava o papel do 
mercado e os efeitos negativos da intervenção governamental, a política 
econômica do governo Campos Sales citava a inefi ciência produtiva no 
Brasil (tanto no campo quanto na indústria nascente) como justifi cativa 
para uma mudança radical nos rumos do país. O principal mentor desse 
governo era o ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho.
Na verdade, a meta primordial do presidente era a obtenção de 
novos recursos externos para resolver o problema de solvência das fi nanças 
públicas. Logo ao tomar posse, o novo presidente foi à Europa em busca 
desses recursos. Campos Sales assinou o II FUNDING LOAN, negociando 
uma consolidação da dívida externa brasileira com novas condições 
(mais favoráveis) de pagamento. Em contrapartida, fi rmou uma série de 
compromissos para a condução da política econômica do país.
FU N D I N G LO A N
"Moratória concedida pelos 
credores a um Estado
devedor. Em troca, são 
emitidos novos títulos 
correspondentes aos encargos 
da dívida e das operações 
com excedentes comerciais. 
O termo incorporou-se à 
história brasileira, pois esse 
recurso foi utilizado várias 
vezes pelos credores do Brasil 
no exterior, a partir da
Independência"
(SANDRONI, 2004, p. 256).
Aula_06.indd 108 1/12/2006, 1:13:39 PM
C E D E R J 109
A
U
LA
 
6O objetivoprincipal da nova política econômica era bastante 
claro: defi nir uma trajetória de saneamento monetário capaz de impor 
uma inversão dos movimentos da taxa cambial, permitindo a valorização 
da moeda nacional. Por trás disso estava o fi rme propósito de garantir 
condições para o pagamento da dívida externa consolidada no início 
do governo.
Para isso, o governo empreendeu esforços signifi cativos buscando 
a redução do défi cit e a retirada de circulação de moeda no valor 
equivalente à dívida a ser paga (de acordo com a taxa cambial defi nida na 
época). Havia ainda a necessidade de depositar esse montante em bancos 
estrangeiros predeterminados no acordo fi rmado com os credores.
Do ponto de vista fi scal, foi novamente aplicada a tarifa-ouro 
para as compras de importados, o que garantia para o governo uma 
receita em moeda estrangeira. Esta tarifa sofreu aumentos importantes 
a partir de 1900.
Os efeitos dessa política foram bastante sentidos pela população, 
com destaque para uma pesada diminuição do nível de atividade 
econômica decorrente de uma forte retração da oferta de moeda e crédito 
e da DEFLAÇÃO associada a essa retração (cerca de 30%). 
Em conseqüência, o câmbio foi efetivamente valorizado e mantido 
sob controle durante a vigência dessas medidas de política econômica. 
Em contrapartida, a economia brasileira acabou sofrendo os efeitos dessa 
política com o PÂNICO BANCÁRIO NO RIO DE JANEIRO EM 1900 (dada a retração 
da oferta de moeda) e uma importante recessão – afetando os negócios 
em geral e, particularmente, os cafeicultores, que pressionavam para 
uma mudança nos rumos da política adotada.
DE F L A Ç Ã O
Ao contrário da 
infl ação, uma 
defl ação signifi ca 
uma queda do índice 
geral de preços de 
um país, geralmente 
associada a uma 
retração do nível de 
atividade econômica.
PÂ N I C O B A N C Á R I O N O RI O D E JA N E I RO E M 1900
Quando o Brasil assinou o Funding Loan, houve a retirada de muito papel-moeda de 
circulação. Isto aconteceu devido às condições do contrato assinado, que solicitava 
que parte da dívida fosse depositada em bancos internacionais como garantia. 
A retirada de dinheiro de circulação causou uma enorme crise econômica. Diante 
da impossibilidade de uma nova política de emissão (considerando a perturbação 
econômica gerada pelo Encilhamento), o governo resolveu utilizar o dinheiro do 
principal banco brasileiro dessa época, o Banco Republicano Brasileiro (BRB). 
Este fato gerou muita preocupação na sociedade.
O BRB foi liquidado e reestruturado, agora sob controle do governo, que se 
responsabilizou pelas dívidas e gerou títulos que poderiam ser resgatados no 
futuro. Isso, de certa forma, apaziguou a eminente crise da sociedade. 
Aula_06.indd 109 1/12/2006, 1:13:41 PM
110 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
Até aqui tudo bem?
Analise as afi rmativas a seguir. Qual (quais) dela(s) é (são) verdadeira(s)? 
I – No fi nal do século XIX, os altos preços atingidos pelo café no mercado internacional 
estimularam o crescimento das lavouras deste produto. A superprodução teve como 
conseqüência a queda dos preços nos mercados consumidores.
II – Em resposta à desvalorização do café, o governo valorizou seguidamente a moeda 
brasileira: embora o café rendesse menos em moeda estrangeira, a moeda nacional 
passou a valer mais, e os cafeicultores tiveram seu poder de compra de produtos 
internacionais aumentado.
III – O aumento no poder de compra de produtos internacionais por parte dos 
cafeicultores fez com que estes consumissem mais produtos importados. Essa atitude 
diminuiu o ritmo da economia nacional que, para ser novamente movimentada, recebeu 
uma injeção de fundos do governo Campos Sales. Este presidente obteve recursos através 
do Funding Loan, um empréstimo feito com credores internacionais. Além disso, Campos 
Sales aumentou as tarifas sobre os produtos importados a fi m de reduzir o consumo 
destes e privilegiar a produção (ainda pequena) nacional.
IV – A desvalorização do café no cenário internacional exigiu uma desvalorização cambial, a 
fi m de manter alta a renda dos cafeicultores em moeda nacional. Por causa dessa medida 
econômica, o poder de compra de produtos importados fi cou prejudicado, gerando uma 
crise econômica. Na tentativa de resolver este problema, o então presidente Campos Sales 
assinou o Funding Loan, um empréstimo feito com credores internacionais. Além disso, 
ele aumentou as tarifas sobre os produtos importados com o objetivo de aumentar a 
receita do governo em moeda estrangeira e arcar com os custos da dívida externa e dos 
juros gerados por ela.
V – O alto poder de compra dos cafeicultores no cenário internacional promoveu uma 
baixa de moeda nacional (que era trocada por moeda estrangeira para a compra de 
produtos). Esta diminuição na quantidade de dinheiro circulante teve, como conseqüência, 
a estabilização da taxa de câmbio.
VI – Campos Sales retirou moeda nacional de circulação, com o intuito de cumprir os 
termos do pacto assinado com credores internacionais e numa tentativa de estabilizar as 
taxas de câmbio. 
Marque aqui as respostas que você considera verdadeiras:
( ) I
( ) II
( ) III
( ) IV
( ) V
( ) VI
Atividade 2
1
Aula_06.indd 110 1/12/2006, 1:13:43 PM
C E D E R J 111
A
U
LA
 
6
A NOVA FORMA DE VALORIZAÇÃO DO CAFÉ 
– O CONVÊNIO DE TAUBATÉ
A política econômica levada a cabo a partir do governo Campos 
Sales seguiu, de modo geral, a preocupação com a estabilidade monetária 
e cambial. Nesse período, em contrapartida, cresciam as demandas, 
sobretudo dos cafeicultores, para um direcionamento mais fl exível que 
permitisse a retomada do crescimento econômico. De certa forma, o 
aumento da população urbana e a necessidade de investimentos em 
infra-estrutura – principalmente nas áreas de saneamento, urbanização, 
portos e estradas de ferro – garantiram uma importante retomada do 
nível de atividade da economia brasileira.
A estabilidade monetária e a constante pressão para valorização 
cambial deixavam insatisfeitos os cafeicultores, que viam suas receitas 
recorrentemente reduzidas ou ameaçadas. A situação agravava-se toda 
vez que havia uma previsão de safra excedente na produção de café. 
Resposta Comentada
As opções corretas são I, IV e VI.
As opções erradas estão listadas a seguir, com os trechos que as tornam 
falsas em negrito:
II – Em resposta à desvalorização do café, o governo valorizou seguidamente 
a moeda brasileira: embora o café rendesse menos em moeda estrangeira, 
a moeda nacional passou a valer mais, e os cafeicultores tiveram seu poder 
de compra de produtos internacionais aumentado.
III – O aumento no poder de compra de produtos internacionais por parte dos 
cafeicultores fez com que estes consumissem mais produtos importados. Essa 
atitude diminuiu o ritmo da economia nacional que, para ser novamente 
movimentada, recebeu uma injeção de fundos do governo Campos Sales. 
Este presidente obteve recursos através do Funding Loan, um empréstimo feito 
com credores internacionais. Além disso, Campos Sales aumentou as tarifas sobre 
os produtos importados a fi m de reduzir o consumo destes e privilegiar a 
produção (ainda pequena) nacional.
V – O alto poder de compra dos cafeicultores no cenário internacional promoveu 
uma baixa de moeda nacional (que era trocada por moeda estrangeira para 
compra de produtos). Esta diminuição na quantidade de dinheiro circulante teve, 
como conseqüência, a estabilização da taxa de câmbio.
Aula_06.indd 111 1/12/2006, 1:13:43 PM
112 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
Afi nal, como vocêjá viu, a participação da produção brasileira na 
oferta mundial era altamente signifi cativa, com impactos imediatos na 
determinação do preço internacional.
O cenário da virada de 1905 para 1906 caminhava exatamente 
nessa direção. Além de uma valorização cambial em torno de 25%, havia 
uma perspectiva de grande produção para 1906/7 – em 1906, a safra de 
café passava de 20 milhões de sacas para uma demanda internacional 
de aproximadamente 16 milhões. 
Havia, portanto, a ameaça de mais uma crise de superprodução. 
Exercendo sua enorme capacidade de interferência no poder, especial-
mente através do governo da província de São Paulo, os cafeicultores 
conseguiram negociar uma vantajosa solução para o problema. 
Conhecida como Convênio de Taubaté, esta solução foi fi rmada em 
1906 pelos presidentes das províncias de São Paulo (Jorge Tibiriçá), 
Minas Gerais (Francisco Salles) e Rio de Janeiro (Nilo Peçanha), – os 
três maiores produtores de café –, mesmo contando com a oposição de 
Rodrigues Alves, o então presidente da República.
O Convênio estabeleceu que:
(a) haveria a compra de excedentes de produção pelos governos 
estaduais envolvidos;
(b) a compra seria viabilizada por meio de um fi nanciamento de 
15 milhões de libras esterlinas;
(c) o gasto com a compra do excedente de café seria coberto pela 
criação de um imposto em ouro aplicado a cada saca exportada 
de café;
(d) um fundo seria criado para estabilizar a taxa de câmbio, 
impedindo sua constante valorização – que funcionaria na 
forma de uma CAIXA DE CONVERSÃO;
(e) seriam tomadas medidas para desencorajar a expansão 
das lavouras no longo prazo, como a definição de taxas 
proibitivas.
Essas medidas mudariam signifi cativamente a orientação da 
política econômica do país no que diz respeito às exportações de café. 
O Convênio de Taubaté determinou, nesse sentido, a institucionalização 
da prática de controle de estoques para regular o preço internacional, 
artifício permitido pela enorme parcela do mercado internacional 
ocupada pela produção brasileira. 
CAIXA DE 
CONVERSÃO
Instrumento utilizado 
para a estabilização 
da taxa cambial. 
Funcionava emitindo 
bilhetes que eram 
garantidos por 
lastro (reserva de 
garantia) em moedas 
de ouro nacionais ou 
estrangeiras, como o 
dólar e a libra, por 
exemplo. Essa conversão 
tinha uma paridade 
fi xa e predeterminada, 
impedindo valorização 
ou desvalorização 
cambial. Foi criada no 
governo Campos Sales 
exatamente para impedir 
uma maior valorização
do mil-réis.
Aula_06.indd 112 1/12/2006, 1:13:43 PM
C E D E R J 113
A
U
LA
 
6Todavia, apesar do sucesso alcançado na estabilização dos preços 
internacionais, a prática acabou induzindo uma forte concentração na 
atividade cafeeira. Os maiores lucros acabaram direcionados para os 
operadores do mercado fi nanceiro, com destaque para os banqueiros 
internacionais e as casas comissárias, que compravam o produto na 
baixa e vendiam na alta.
Os banqueiros internacionais, inclusive, passaram a dominar 
o comércio do café, credenciados pela dívida externa crescente, e 
adquiriram grandes fazendas dos produtores nacionais.
Além disso, a manutenção de altos preços e da receita de expor-
tação inviabilizava qualquer tentativa de desestimular o crescimento das 
lavouras, tornando o problema insolúvel no longo prazo.
Medidas para valorização do café
Liste as duas principais causas da preocupação dos cafeicultores em estabelecer 
medidas de valorização do café no início de 1906. Em seguida, assinale aquela que 
tem relação direta com o saneamento fi nanceiro de Campos Sales, justifi cando sua 
resposta.
_________________________________________________________________________ ( )
_________________________________________________________________________ ( )
Justifi cativa
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada 
A previsão de uma grande safra de café e a conseqüente expectativa de queda 
signifi cativa dos preços internacionais, em um cenário de câmbio estável, fariam 
despencar os rendimentos da atividade cafeeira. 
A manutenção das taxas de câmbio estáveis, parte do processo chamado de 
saneamento fi nanceiro de Campos Sales, preocupava os cafeicultores, pois, 
naquele momento de nossa economia, nada asseguraria a renda que os grandes 
senhores do café estavam acostumados a manter.
Com as medidas defendidas no Convênio de Taubaté, a oferta de café seria 
reduzida, mantendo estável o preço internacional do produto.
Atividade 3
1
Aula_06.indd 113 1/12/2006, 1:13:44 PM
114 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
CONCLUSÃO
A política econômica da República Velha viveu dois momentos 
bem distintos, cujo marco divisório foi o governo Campos Sales, 
iniciado em 1898. O momento inicial foi marcado por uma recorrente 
desvalorização da taxa de câmbio, o que garantia aos cafeicultores a 
manutenção de sua renda em moeda nacional.
Esse quadro implicava a continuidade da expansão das lavouras 
e, conseqüentemente, da oferta de café no mercado internacional, 
determinando uma grande queda dos preços do produto.
A mudança na economia, promovida por Murtinho a partir de 
1898 e defi nida pela necessidade de renegociação da dívida externa, 
permitiu uma estabilização monetária da economia brasileira.
Ao mesmo tempo, o novo cenário de política econômica desfavo-
recia a receita de exportações dos produtores de café. Os produtores, 
então, passaram a pressionar o governo a implementar medidas 
protecionistas para garantir o lucro. Essas medidas, baseadas no controle 
da exportação brasileira do café, foram consolidadas no Convênio de 
Taubaté em 1906.
Aula_06.indd 114 1/12/2006, 1:13:45 PM
C E D E R J 115
A
U
LA
 
6
O preço do café experimentou, ao longo da última década do século XIX, uma queda 
brusca no cenário internacional. Observe novamente a Tabela 6.1 (já apresentada 
nesta aula):
Anos Produção Preços Externos* Preços Internos**
1889 4.260 100 100
1890 5.358 113 120
1891 7.397 90 171
1892 6.202 87 201
1893 4.309 103 276
1894 6.695 92 290
1895 5.476 91 262
1896 8.680 69 252
1897 10.462 47 180
1898 8.771 41 163
Tabela 6.1: Produção e Índice de preços internacionais (externos) 
e internos do café (1889 =100)
Fonte: Delfi m Netto (1981, p. 29). 
*Preços em moeda estrangeira.
** Preços em mil-réis.
A crise dos preços do café se manteve também nos primeiros anos do século XX, 
promovendo quedas expressivas do preço desta mercadoria. Esta alteração no valor do 
produto apresentava relação direta com a sua oferta. Assim, quanto maior a produção, 
menor o valor do café.
Observe agora a Tabela 6.2:
Anos Produção Preço
1904/5 11.159 7,55
1905/6 11.652 8,35
1906/7 20.607 8,25
Fonte: Gremaud et al. (1997).
Tabela 6.2: Produção (em mil sacas) e preço 
internacional do café
Atividade Final
Aula_06.indd 115 1/12/2006, 1:13:45 PM
116 C E D E R J
Formação Econômica do Brasil | Políticas de sustentação da renda da cafeicultura 
 na República Velha
No início da República Velha, a moeda nacional sofreu uma forte desvalorização. 
Esta desvalorização serviu, até 1898, para valorizar as receitas das exportações 
de café, apesar da queda do preço internacional do produto. Este círculo vicioso 
não pôde ser mantido por muito tempo, o que determinou, a partir de 1898, 
no governo Campos Sales, a tomada de medidas de ajustamento e saneamento 
monetário.No entanto, a estabilização monetária contrariava os interesses dos 
cafeicultores. O Convênio de Taubaté, fi rmado em 1906, formalizou uma nova 
prática de proteção da renda da cafeicultura.
R E S U M O
Essas duas tabelas se remetem a duas estratégias distintas de manutenção da renda 
dos cafeicultores. De acordo com tudo o que você aprendeu nesta aula, quais são essas 
estratégias? Não esqueça de mencionar em sua resposta a correlação entre os cenários 
fi nanceiros nacional e o internacional.
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________________
Resposta Comentada 
Na Tabela 6.2, você pôde observar como a política de desvalorização cambial favorecia 
a receita das exportações de café, pois o preço interno da saca de café aumentou 
signifi cativamente, apesar da queda do preço internacional, como está na Figura 6.1. 
Nessa tabela, você viu, também, a manutenção do preço internacional do café 
apesar do enorme aumento da produção. Isso só foi possível através da compra dos 
excedentes de produção pelo governo, o que foi acordado no Convênio de Taubaté. 
Por meio dessa atitude, o Brasil reduzia a oferta de café no mercado internacional 
e mantinha, assim, os preços constantes em vez de em queda.
Aula_06.indd 116 1/12/2006, 1:13:45 PM
C E D E R J 117
A
U
LA
 
6SITES RECOMENDADOS
FUNDAÇÃO CASA RUI BARBOSA. Disponível em: <http://www.casaruibarbosa.gov.br>. Acesso 
em: 15 set. 2005.
REPÚBLICA Velha. Disponível em: <http://www.ceap.g12.br/pagina/republicavelha.htm>. Acesso 
em: 15 set. 2005.
RUI Barbosa. Disponível em : <http://www.biblio.com.br/Templates/RuiBarbosa/RuiBarbosa.htm>. 
Acesso em: 15 set. 2005.
Aula_06.indd 117 1/12/2006, 1:13:46 PM

Outros materiais

Materiais relacionados

Perguntas relacionadas

Perguntas Recentes