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DIREITO CONST-Ciências Políticas

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Autor: 
Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
Título: 
Idéias sobre Direito Constitucional, 
Espécies Normativas, Estado e 
Poderes 
Matéria: 
 
CIÊNCIAS 
POLÍTICAS 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A
PO
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A
S 
 
 
 
Apostilas 
Série 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
2 
 
 
 
 
CONTEÚDO 
 
1. DIREITO CONSTITUCIONAL – RAMO DO DIREITO PÚBLICO 
2. CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E DE CONSTITUIÇÃO 
3. ESPÉCIES NORMATIVAS 
4. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
5. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO 
6. HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES 
7. PODER CONSTITUINTE 
8. RECEPÇÃO 
9. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS (artigos 1º ao 4º, CF) 
10. NACIONALIDADE (artigo 12, CF) 
11. DIREITOS POLÍTICOS (artigos 14 e 15, CF) 
12. PARTIDOS POLÍTICOS (artigo 17, CF) 
13. SISTEMAS ELEITORAIS 
14. FEDERALISMO E REPARTIÇÃO CONSTITUCIONAL DE COMPETÊNCIAS (artigos 
20 ao 24, CF) 
15. UNIÃO (artigos 20 ao 24, CF) 
16. ESTADOS (artigos 25 ao 28, CF) 
17. MUNICÍPIOS (artigos 29 ao 31, CF) 
18. DISTRITO FEDERAL (artigo 32, CF) 
19. INTERVENÇÃO (artigos 34 ao 36, CF) 
20. PODER LEGISLATIVO (artigos 44 a0 58, CF) 
21. TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO (artigos 70 a0 75, CF) 
22. TRIBUNAL DE CONTAS DOS ESTADOS, DISTRITO FEDERAL E MUNICÍPIOS 
23. PODER EXECUTIVO (artigos 76 ao 91, CF) 
24. PODER JUDICIÁRIO (artigos 92 ao 126, CF) 
25. FUNÇÕES ESSENCIAIS À JUSTIÇA (artigos 127 ao 135, CF) 
26. ESTADO DE DEFESA E ESTADO DE SÍTIO (artigos 136 ao 139, CF) 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
 
 
 
IDÉIAS SOBRE DIREITO CONSTITUCIONAL, ESPÉCIES 
NORMATIVAS, ESTADO E PODERES 
 
 
1. DIREITO CONSTITUCIONAL – RAMO DO DIREITO PÚBLICO 
 
 
O Direito Constitucional é ramo do Direito Público. 
 
O Direito tem uma dicotomia: Direito Público e Direito Privado. 
 
No Direito Privado encontram-se os ramos do Direito Civil e Direito Comercial. Leva-se 
em consideração, no Direito Privado, a vontade das partes, ou seja, o contrato. Mas isto 
não significa dizer que não há lei regendo o Direito Privado. Temos, por exemplo, o 
Código Civil. Qual, então, o papel da lei no Direito Privado? A resposta é simples: dar 
apenas um balizamento mínimo para que os contratos possam ser firmados. A lei, no 
Direito Privado, não interfere na vontade das partes, mas diz que o negócio não pode ter 
objeto ilícito, agente incapaz, etc. Sendo lícito o objeto, as partes podem livremente 
determinar o modo de pagamento (se à vista ou em prestações), dentre outras 
estipulações. 
 
Já no Direito Público encontram-se os demais ramos do Direito: Direito Constitucional, 
Direito Penal, Direito Processual Penal, Direito Processual Civil, Direito do Trabalho, 
dentre outros. No Direito Público, a vontade que prevalece é a da lei. Não se indaga da 
vontade das partes, mas sim, e somente, da vontade da lei (interesse da coletividade). 
 
 
 
2. CONCEITO DE DIREITO CONSTITUCIONAL E DE CONSTITUIÇÃO 
 
 
O Direito Constitucional pode ser conceituado como o ramo do Direito Público que tem 
por objeto o estudo da Constituição. 
 
Já Constituição pode ser conceituada como complexo de regras que dispõem sobre a 
organização do Estado, origem e organização dos Poderes, organização das liberdades 
públicas e competências estatais. 
 
Para José Afonso da Silva, Constituição é “um sistema de normas jurídicas, escritas ou 
costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição 
e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos e os limites de sua ação1
 
1 Curso de Direito Constitucional Positivo. 22ª Ed., Editora Malheiros, 2003, p. 37-38. 
”. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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3. ESPÉCIES NORMATIVAS 
 
 
A Constituição ocupa o ápice da pirâmide normativa. Todas as normas 
infraconstitucionais são subordinadas hierarquicamente a ela. O ordenamento jurídico 
brasileiro tem diversas espécies normativas. Todas obedecem à Constituição. 
 
Normatizar significa regulamentar algo. Significa regrar algo. Então temos várias espécies 
normativas no Brasil (regras, normas), que normatizam, ou seja, que regulam a vida em 
sociedade. 
 
Assim, temos as seguintes espécies normativas em nosso ordenamento jurídico: 
Constituição, Emendas, Leis Complementares, Leis Ordinárias, Leis Delegadas, Medidas 
Provisórias, Decretos Legislativos, Resoluções, Tratados, Decretos e atos administrativos 
inferiores. 
 
É o que nos dizem o artigo 5º, parágrafos 2º e 3º, artigo 49, inciso I, artigo 59 (previsão 
genérica) e artigo 84, incisos IV e VIII. Quanto aos atos administrativos inferiores, 
decorrem do artigo 37 e de outros artigos que criam órgãos e Poderes, espalhados pelo 
texto constitucional. 
 
 
→ HIERARQUIA ENTRE AS LEIS 
 
Antes do estudo detalhado das espécies normativas, interessante notar que não existe 
hierarquia entre as leis. O que existe é apenas hierarquia destas em relação à 
Constituição, como aliás acontece em relação a qualquer espécie normativa e a 
Constituição. 
 
O que ocorre é que as leis têm campos de atuação diversos, baseados na competência 
dada a cada uma delas pela própria Constituição. A Constituição disse, no art. 30, I, por 
exemplo, que é competência do Município legislar sobre assuntos de interesse local. Com 
base nesse dispositivo, o Município editou a Lei do Cinto de Segurança. De nada adianta 
surgir uma Lei Ordinária Federal, de iniciativa do Presidente da República, sobre cinto de 
segurança em determinado Município. Este assunto cabe somente a cada Município e a 
mais ninguém. Há Municípios que não têm a citada lei. Cada um decide. O governo 
federal não pode intervir, com uma Lei Ordinária Federal, sob pena do Judiciário afastar a 
Lei Ordinária Federal por invasão de competência, ou seja, invasão de campo de 
atuação. 
 
A doutrina majoritária e a jurisprudência (inclusive do STF) adotam o posicionamento 
supra. Manoel Gonçalves Ferreira Filho, todavia, sustenta que lei complementar estaria 
acima da lei ordinária, vinculando-a hierarquicamente2
 
2 Curso de Direito Constitucional. 29ª Ed., Editora Saraiva, 2002, p. 208. 
. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
 
 
 
– EMENDAS (60, CF) 
 
A Emenda (art. 60), uma vez aprovada, torna-se norma constitucional. As Emendas 
podem ser propostas por 1/3 dos membros Câmara dos Deputados ou 1/3 dos membros 
do Senado, pelo Presidente da República ou mais da metade das Assembléias 
Legislativas do país, manifestando-se, cada uma delas, por maioria simples. 
 
Para se aprovar uma Emenda é necessária a maioria qualificada. Isto significa: 3/5 dos 
Deputados + 3/5 dos Senadores + 3/5 dos Deputados novamente e + 3/5 dos Senadores 
novamente. Ou seja, maioria de 3/5 nas duas Casas Legislativas em dois turnos em cada 
uma. 
As Emendas possuem vedações (limitações), que são situações em que não podem ser 
propostas. A primeiravedação é a circunstancial. Na circunstância de estado de sítio, 
estado de defesa ou intervenção federal não poderá ser proposta Emenda à Constituição 
(60, § 1º). A segunda vedação refere-se às cláusulas pétreas (art. 60, § 4º). Não poderá 
haver Emenda sequer tendente a abolir a forma federativa de Estado, o voto direto, 
secreto, universal e periódico, a separação dos Poderes e os direitos e garantias 
individuais (art. 5º). A terceira vedação é procedimental (60, § 5º): uma Emenda rejeitada 
numa sessão legislativa (a sessão legislativa – art. 57 – praticamente coincide com o ano 
do calendário comum) só poderá ser reproposta na próxima sessão legislativa. 
 
– LEIS COMPLEMENTARES (69, CF) 
 
As lei complementares podem ser federais, estaduais e municipais. São aprovadas por 
maioria absoluta (art. 69). Portanto, é necessária a metade dos membros da Casa + 1 
para se aprovar uma lei complementar. Quando a Constituição requer uma lei 
complementar para tratar de determinado assunto, ela assim dispõe expressamente. Ou 
seja, a Constituição pede expressamente uma lei complementar. Se a Constituição 
mencionar apenas a palavra “lei”, ou nada mencionar, requererá, no plano 
infraconstitucional, uma lei ordinária. 
 
– LEIS ORDINÁRIAS (47, CF) 
 
As leis ordinárias constituem a maioria das espécies normativas feitas pelo Poder 
Legislativo. Podem ser federais, estaduais e municipais também. São aprovadas por 
maioria simples ou relativa (art. 47), ou seja, metade dos presentes + 1. Assim como as 
leis complementares, são submetidas à sanção ou veto do Presidente da República. 
 
 
→ PROCESSO LEGISLATIVO (LEIS COMPLEMENTARES E LEIS ORDINÁRIAS) 
 
As Emendas seguem processo legislativo próprio, como visto acima. As leis 
complementares e ordinárias seguem o seguinte processo legislativo: 
1) FASE DA INICIATIVA – art. 61. Qualquer um dos legitimados do art. 61 é apto a 
propor um Projeto de Lei. Inclusive o povo (art. 61, § 2º - Iniciativa Popular); 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2) FASE DA DISCUSSÃO. As Comissões, em seguida (art. 58), discutem o Projeto 
de Lei e, se não o aprovarem, ele será arquivado. A Constituição expressamente 
no art. 58 deu poderes às Comissões, a serem definidos no Regimento Interno do 
Congresso Nacional, Câmara dos Deputados e Senado Federal, para deliberar 
sobre o andamento do Projeto de Lei. Temos as Comissões Permanentes (como a 
Comissão de Constituição e Justiça – CCJ, por onde passam todos os Projetos de 
Lei) e Temporárias (criadas para apreciação de um determinado Projeto de Lei; ao 
término da apreciação, são desfeitas); 
3) FASE DA VOTAÇÃO. Esta fase ocorre em Plenário, quando os Deputados e 
Senadores votam pela aprovação ou rejeição do Projeto de Lei; 
4) FASE DA SANÇÃO OU VETO. Está no artigo 66 e parágrafos. É uma participação 
do Poder Executivo no Processo Legislativo. O Presidente da República pode 
sancionar o Projeto de Lei, seguindo-se, após, a publicação. Pode ocorrer a 
sanção tácita, no silêncio do Presidente da República por mais de 15 dias. Mas o 
Presidente também pode vetar o Projeto de Lei. São dois os motivos do veto: 
inconstitucionalidade ou falta de interesse público. O Legislativo, a seu turno, por 
maioria absoluta, pode derrubar o veto, seguindo-se a publicação. A publicação, e 
somente ela, transforma o Projeto de Lei em Lei, e é feita no Diário Oficial. Antes 
da publicação não há Lei. O Projeto de Lei não obriga nem vincula nenhum 
cidadão. 
 
Simplificadamente, temos: 
 
INICIATIVA → DISCUSSÃO → VOTAÇÃO → SANÇÃO OU VETO → PUBLICAÇÃO 
 
 
→ EXISTÊNCIA, VIGÊNCIA, VALIDADE E EFICÁCIA DAS LEIS 
 
 
A existência de uma lei ocorre com a publicação em Diário Oficial. Mesmo que ainda não 
vigente, será existente. 
 
A vigência equivale ao período de vida da lei. Refere-se à sua obrigatoriedade perante 
todos. Segundo o art. 2º, da Lei de Introdução ao Código Civil – LICC, a lei vige até ser 
revogada por outra (a revogação total denomina-se “ab-rogação”, e a revogação parcial 
denomina-se “derrogação”). Se for lei temporária, vigora pelo prazo que ela própria 
estipular. Eis o teor do referido art. 2º: 
 
Art. 2º - Não se destinando à vigência temporária, a lei terá vigor até que outra a modifique 
ou revogue. 
§ 1o A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare, quando seja com ela 
incompatível ou quando regule inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior. 
§ 2o A lei nova, que estabeleça disposições gerais ou especiais a par das já existentes, não 
revoga nem modifica a lei anterior. 
§ 3o Salvo disposição em contrário, a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora 
perdido a vigência. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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De notar-se que o parágrafo 3º acima traz a regra da não repristinação. Repristinar 
significa ressuscitar, reavivar uma lei revogada. Tal não é permitido no Brasil, a não ser 
que a lei revogadora contenha disposição em contrário. 
 
A vigência, portanto, é a potencialidade para a lei incidir. O art. 1º da LICC nos diz que a 
lei, salvo disposição em contrário, começa a vigorar (ter vigência) após 45 dias de sua 
publicação (vacatio legis). 
 
A validade diz respeito com o Órgão que fez a lei. Se a lei não foi feita pelo Órgão 
competente, ou por procedimento errôneo, será inválida. 
 
A eficácia, a seu turno, é a efetividade da norma, ou seja, sua efetiva observância e 
aplicação (é o poder de produzir os resultados desejados). As lei podem ter eficácia 
jurídica (ex: uma lei revoga outra) e eficácia social (aceita e cumprida por todos; ex: todos 
cumprem a lei do cinto de segurança). Mas as leis podem ter eficácia jurídica e não ter 
eficácia social. 
 
 
– LEIS DELEGADAS (68, CF) 
 
Encontram-se no art. 68 da Constituição. As leis delegadas são elaboradas pelo Poder 
Executivo (Presidente da República), que solicita a delegação ao Congresso Nacional. Há 
vedações, como, por exemplo, a impossibilidade de se elaborar uma lei delegada sobre 
matéria reservada à lei complementar. O ato de delegação ao Presidente da República 
será uma Resolução. 
 
 
– MEDIDAS PROVISÓRIAS (62, CF) 
 
São atos normativos elaborados pelo Presidente da República em casos de relevância e 
urgência e têm força de lei ordinária federal, devendo ser imediatamente submetidas ao 
Congresso Nacional para aprovação ou rejeição. As medidas provisórias, uma vez 
publicadas, já adquirem eficácia. 
 
Há vedações, como, por exemplo, a impossibilidade de se elaborar medida provisória 
sobre direito penal, direito processual penal e direito processual civil. 
 
As medidas provisórias sobre tributos só produzem efeito no ano seguinte, e isto se forem 
convertidas em lei no mesmo ano em que forem editadas. 
 
As medidas provisórias têm o prazo de validade de 60 dias, podendo este prazo ser 
prorrogado uma única vez por mais 60 dias. Todavia, se não apreciada pelo Congresso 
Nacional em 45 dias, tranca a pauta, ficando o Congresso impedido de votar qualquer 
outro ato. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
8 
 
 
 
 
As medidas provisórias estão sujeitas a um parecer prévio dos Deputados e Senadores e 
terão sua votação sempre iniciada na Câmara dos Deputados. As medidas provisórias, 
rejeitadas expressa ou tacitamente, terão as relações jurídicas delas decorrentesdisciplinadas por decreto legislativo. 
 
 
– DECRETOS LEGISLATIVOS (49, CF) 
 
São de competência exclusiva do Congresso Nacional, para veicular as matérias 
previstas no art. 49 e 62, § 3º e § 11 da Constituição. Têm efeitos externos e são votados 
em sistema bicameral por maioria relativa. Os decretos legislativos não estão submetidos 
a sanção ou veto do Presidente da República. 
 
 
 
– RESOLUÇÕES (52/53, CF) 
 
São, em regra, atos normativos que veiculam matérias privativas da Câmara ou do 
Senado (artigos 51 e 52). Têm, em regra, efeitos internos (exceção: art. 68 – efeitos 
externos – delegação ao Presidente da República pelo Congresso Nacional; art. 155, § 1º, 
IV, e § 2º, IV e V). Não estão sujeitas a sanção ou veto. 
 
 
 
– TRATADOS (5º, § 3º, CF) 
 
Os Tratados são acordos internacionais firmados pelo Brasil com um ou mais países. 
Objetivam vantagens econômicas, políticas, sociais, etc. Após a assinatura do Tratado 
pelo Presidente da República, este só produzirá efeitos internos se devidamente ratificado 
pelo Congresso Nacional através de Decreto Legislativo (art. 49, I). Os Tratados 
especificamente sobre Direitos Humanos têm status de Emenda (art. 5º, § 3º). Se 
anteriores ao art. 5º, § 3º (introduzido pela Emenda nº 45/04), têm natureza “supralegal”, 
ou seja, estão entre a Constituição e a legislação infraconstitucional. Vide, abaixo, 
comentários sobre o inciso LXV, do art. 5º. Os Tratados sobre matéria tributária 
prevalecem sobre legislação interna anterior e posterior à sua ratificação (art. 98, Código 
Tributário Nacional). 
 
 
 
– DECRETOS (84, IV, CF) 
 
Os Decretos estão previstos no art. 84, IV. São expedidos pelos Chefes do Executivo 
Federal (Presidente), Estadual (Governador), Distrital (Governador do Distrito Federal) e 
Municipal (Prefeito) para fiel execução das leis. Os Decretos dão operacionalidade à lei. 
Regulamentam a lei. O Chefe do Executivo decreta uma desapropriação, por exemplo, 
com base na lei das desapropriações. O Decreto calca-se sempre numa lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Os Decretos são, portanto, atos administrativos, não podendo transbordar do conteúdo 
das leis às quais se vincularem. A questão do Decreto será sempre de legalidade ou não, 
e não de inconstitucionalidade, embora possa existir controle de constitucionalidade dos 
chamados Decretos autônomos (que não se vinculam a uma lei; é o caso dos Decretos 
previstos no art. 84, VI). 
 
 
– ATOS ADMINISTRATIVOS INFERIORES 
 
Constituem-se em atos administrativos dos órgãos públicos, como, por exemplo, 
Instruções Normativas, Portarias, Regimentos Internos, Provimentos, Ordens de Serviço, 
dentre outros. 
 
 
 
4. CLASSIFICAÇÃO DAS CONSTITUIÇÕES 
 
 
Quanto à origem, as Constituições podem ser promulgadas ou votadas, que é o caso da 
nossa atual (1988), ou outorgadas (impostas arbitrariamente, como foi o caso da 
Constituição 1967, no período da ditadura militar). 
 
Quanto à mutabilidade, as Constituições podem ser: a) rígidas; b) semi-rígidas; c) 
flexíveis. As Constituições rígidas são aquelas que exigem para sua alteração processo 
mais solene e dificultoso do que o processo para elaboração de lei ordinária. A 
Constituição rígida só é alterável por Emenda, que prevê maioria qualificada. Já a 
Constituição semi-rígida apresenta uma parte alterável por quorum de lei ordinária e outra 
parte alterável por processo mais solene e difícil do que o da lei ordinária (esta outra parte 
só seria alterável por Emenda). Por fim, a Constituição flexível é aquela que pode ter suas 
normas alteradas pelo mesmo processo de elaboração de lei ordinária (maioria simples 
ou relativa). Nossa Constituição é rígida. 
 
Quanto à forma, as Constituições podem ser escritas (ou dogmáticas) ou costumeiras (ou 
históricas). Nossa Carta é escrita. Já a Constituição da Inglaterra é costumeira, ou seja, 
não é escrita, é apenas fundada nos costumes do povo. 
 
Quanto ao conteúdo, as Constituições podem ser materiais ou formais. Materiais são 
aquelas que encerram normas de conteúdo constitucional (criação dos Poderes, forma de 
governo, liberdades públicas, etc). Formais são Constituições que encerram normas que 
não têm conteúdo constitucional, mas que são consideradas constitucionais porque estão 
na Constituição (ex: art. 242, § 2º e art. 231). Nossa Constituição tem normas materiais e 
meramente formais. 
 
Quanto à ideologia, as Constituições podem ser ortodoxas, como a Constituição russa, 
que prega apenas o comunismo, ou ecléticas, como a nossa, que é informada por 
diversas ideologias (socialismo, capitalismo, etc). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
Matéria: Autor: 
 
Ciências Políticas Prof. Antonio Fernando Pires 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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5. ELEMENTOS DA CONSTITUIÇÃO 
 
A Constituição representa um todo orgânico e sistemático mas, como documento 
estruturante, tem elementos que a compõem. São 5 os tipos de elementos que formam a 
Constituição: a) elementos orgânicos – regulam os Poderes do Estado e Órgãos 
(exemplos: Títulos III e IV da Constituição); b) elementos limitativos – restringem a 
atividade do Estado, consagrando as liberdades públicas (exemplo: art. 5º); c) elementos 
sócio-ideológicos – revelam um compromisso do Estado em relação ao indivíduo. O 
Estado social consiste em um Estado voltado para os anseios da população (exemplos: 
Direitos Sociais – artigos 6º, 7º e 8º e Ordem Econômica – art. 170); d) elementos de 
estabilização – em casos de desequilíbrio do Estado, com ruptura da paz social, a 
Constituição prevê mecanismos de recomposição da normalidade (exemplo: art. 34 – 
intervenção federal e art. 137 – estado de sítio em casos de guerra); e) elementos formais 
de aplicabilidade – explicam o modo de aplicação da Constituição (exemplos: preâmbulo, 
ato das disposições constitucionais transitórias e § 1º do art. 5º). 
 
 
 
6. HISTÓRICO DAS CONSTITUIÇÕES 
 
Tivemos, até hoje, 7 Constituições: 1824, 1891, 1934, 1937, 1946, 1967 e 1988. Alguns 
autores consideram que tivemos 8, pois a Emenda 1/69 à Constituição de 1967 foi tão 
completa e abrangente que poderia ser considerada como nova Constituição, em 
substituição à Constituição de 1967. 
 
- 1824. Predominavam no país movimentos de libertação. Esta Constituição veio apenas 
2 anos depois da proclamação da independência do Brasil. As ideias que reinavam eram 
ideias liberais, advindas do clima liberal da Revolução Francesa de 1789. O homem era o 
centro das preocupações. Declarava-se que o homem nascia livre, o que iniciava o 
caminho para a abolição da escravatura. Entendia-se que o homem celebrava um 
contrato social com o Estado (influência de Rousseau – “O Contrato Social – 1762), com 
intervenção mínima do Estado na vida dos indivíduos. Surgiu a ideia de que o poder 
emana do povo. Esta Constituição previa 4 Poderes: Executivo, Legislativo, Judiciário e 
Moderador. O Poder Moderador era exercido pelo rei, e diminuía a força do Judiciário e 
Executivo com a modificação de decisões destes Poderes. Aliás, o Poder Moderador 
podia até mesmo dissolver a Câmara dos Deputados. Nesta Constituição de 1824 
surgiram, ainda tímidos, os direitos e garantias individuais. A Igreja, nesta época, 
envolvia-se muito com o Estado. Não tínhamos, ainda, o Federalismo. As eleições eram 
indiretas. As antigas Capitanias foram transformadas em Províncias. Esta Constituição foi 
um exemplo de Constituição semi-rígida. 
 
- 1891. Extingue-se o Poder Moderador e extingue-se a Monarquia, passando o Brasil 
para o Presidencialismo. Pela primeira vez tivemos o voto direto para Presidente da 
República.Passamos, também, para o Federalismo (itens 9 e 12 abaixo). Abandonamos, 
portanto, o modelo Unitário, para consagrarmos o Federalismo (divisão em Estados-
Membros). Cada Estado é autônomo, com sua própria Constituição, apenas vinculado aos 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
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princípios da Constituição Federal. Predominam, nesta época, as ideias positivistas 
(verdade científica). A Igreja é afastada do Estado (proíbe-se o ensino religioso nas 
escolas pública e os cemitérios passam para o controle dos Municípios). Surgem as 
cláusulas pétreas. O Judiciário é fortalecido. O habeas corpus surge pela primeira vez 
numa Constituição. 
 
- 1934. Foi uma Constituição de curta duração. Pela primeira vez no Brasil tivemos o voto 
feminino e a criação da Justiça Eleitoral. Foram inseridos no texto constitucional o 
Mandado de Segurança e a Ação Popular. Foi uma Constituição fortemente voltada para 
o aspecto social (além de capítulos especiais sobre família, educação e cultura). Surge o 
Ministério Público, a sindicalização, a Previdência Social e o Ministério do Trabalho. Há 
forte proteção ao trabalhador. Pela primeira vez, também, regulamentou-se os Partidos 
Políticos. 
 
- 1937. Getúlio Vargas, então Presidente, deu um Golpe de Estado e outorgou esta 
Constituição. Era a primeira Ditadura que o Brasil enfrentava. A Constituição era muito 
autoritária e o Senado, nesta época, foi dissolvido. O Poder Executivo, do Presidente, 
anulava decisões do Judiciário e Legislativo, esvaziando-os. Foram retirados do texto 
constitucional o Mandado de Segurança e a Ação Popular. Esta Constituição previa a 
pena de morte para crimes políticos e homicídios cometidos de forma perversa ou por 
motivo fútil. Havia o instituto da censura, afetando rádios, televisões, cinemas, teatros, 
etc. Esta Constituição foi inspirada no modelo fascista da Itália. A eleição era indireta. 
 
- 1946. Houve a retomada da democracia (retorno ao Estado Democrático de Direito). 
Reabre-se o Senado. Retornam ao texto constitucional o Mandado de Segurança e a 
Ação Popular. Voltamos a ter eleições diretas. Surgiu o controle de constitucionalidade 
pela via concentrada das leis e atos normativos, fortalecendo-se o Judiciário e, em 
especial, o Supremo Tribunal Federal. Surge pela primeira vez no texto constitucional o 
princípio da inafastabilidade da jurisdição (atual art. 5º, inc. XXXV). Esta Constituição 
tinha um forte traço social, equilibrado com a livre iniciativa (capitalismo). O direito de 
greve foi agregado ao texto constitucional. O final da Segunda Guerra Mundial influiu para 
fixarmos traços democráticos (liberdades). Exclui-se a pena de morte. Surgem regras 
sobre Direito Econômico, com penas para abusos econômicos. 
 
- 1967. Tivemos, aqui, novo golpe, desta vez dado pelos Militares, e nova Ditadura. As 
eleições eram indiretas. Os direitos e garantias individuais foram amesquinhados, 
permitindo-se prisões injustas e desrespeito ao Judiciário. Reduziram-se as competências 
estaduais e municipais. O Poder Executivo, exercido pelos Militares, legislava por 
Decreto-lei a Atos Institucionais, em desrespeito ao Legislativo. O mais duro Ato 
Institucional foi o de nº 5, que previa suspensão de direitos políticos, possibilidade de 
fechamento do Congresso Nacional, cassação de mandatos dos parlamentares, 
suspensão das garantias da magistratura e de funcionários públicos. Proibiu-se o habeas 
corpus em matéria de crimes políticos. A Emenda 1/69, considerada por muitos como 
nova Constituição, manteve o golpe militar. Criou os Tribunais de Contas Municipais em 
Municípios com mais de 2 milhões de habitantes, a possibilidade de perda do mandato 
parlamentar em casos de atentado a ordem vigente e a exigência do prévio esgotamento 
das vias administrativas para ingresso em juízo (em diminuição à inafastabilidade da 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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jurisdição). Mas o período da Ditadura Militar terminou em 1985, com a eleição de um civil 
– Tancredo Neves. José Sarney, que sucedeu Tancredo (por motivo de falecimento 
deste), convocou uma Assembléia Nacional Constituinte e em 1988 tivemos a 
promulgação da atual Constituição. 
 
 
7. PODER CONSTITUINTE 
 
É o Poder de formar uma nova Constituição. Pode ser Originário (que faz a nova 
Constituição) e Derivado (que faz as reformas na Constituição). 
 
O Poder Constituinte Originário tem sua titularidade no povo, que escolhe representantes 
para fazer uma nova Constituição. Tem as seguintes características: a) inicial – inaugura 
uma nova ordem jurídica, revogando a Constituição anterior; b) autônomo – só aos 
representantes do povo cabe determinar como será a nova Constituição; c) ilimitado – não 
há limites na ordem anterior ou externa para a criação da Constituição (se tivéssemos 
optado pela pena de morte em 1988 esta se encontraria vigente no país); d) 
incondicionado – não há processo prévio de elaboração ou votação. 
 
Já o Poder Constituinte Derivado (Congresso Nacional), reforma a Constituição por meio 
das Emendas, vistas acima. Portanto, as limitações são as mesmas estudadas acima, 
quando do estudo das vedações/limitações das Emendas. 
 
Temos, também, o Poder Constituinte Decorrente, que é o Poder dos Estados de fazerem 
suas próprias Constituições. Encontra limites na própria Constituição Federal (art. 25). 
 
 
8. RECEPÇÃO 
 
Recepção é o fenômeno pelo qual normas infraconstitucionais de uma ordem jurídica 
anterior são acolhidas pela nova Constituição, por serem compatíveis com o novo texto 
constitucional. Não há necessidade de se revogar as normas infraconstitucionais 
anteriores se estas forem compatíveis com a nova Constituição. Continuam vigendo. O 
Código Penal, por exemplo, que é uma lei ordinária federal, vem sendo recepcionado, por 
compatível, desde a Constituição de 1946. 
 
Interessante notar que não se usa o vocábulo revogar para normas anteriores 
incompatíveis com a nova Constituição. Diz-se que elas simplesmente não foram 
recepcionadas. A palavra revogação é usada para designar que a nova Constituição 
revoga (ou seja, ab-roga) a anterior. Ab-rogar é revogar totalmente. Assim, não existe a 
possibilidade de uma nova Constituição apenas derrogar (revogar parcialmente) 
Constituição anterior. A derrogação é fenômeno que se observa no plano 
infraconstitucional. A nova Constituição sempre revoga (ab-roga) a anterior. 
 
Igualmente, não existe a repristinação (ressuscitamento) de norma constitucional 
revogada por Constituição anterior à nova Constituição. A repristinação não existe no 
nosso ordenamento no plano constitucional. Se uma norma da Constituição de 1946 foi 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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revogada pela Constituição de 1967, ela não volta a viger por ser compatível com a 
Constituição de 1988. Uma vez revogada, não volta a viger. A Lei de Introdução ao 
Código Civil (art. 2º, § 3º) traz o conceito de repristinação. 
 
Interessante notar que também não existe o fenômeno da desconstitucionalização de 
normas da Constituição revogada. A Constituição revogada de 1967 continha normas que 
não podem ser acolhidas como leis infraconstitucionais. Foram inteiramente revogadas, 
não existindo mais no plano constitucional ou infraconstitucional. 
 
Por fim, cabe mencionar que lei ordinária pode ser recepcionada com statusde leis 
complementar. Foi o que ocorreu com o Código Tributário Nacional. Era uma lei ordinária. 
Todavia, a Constituição de 1988, em seu art. 146, III, exigia que normas gerais em 
matéria tributária fossem veiculadas por lei complementar. O STF entendeu que o Código 
Tributário Nacional, face à nova exigência, por tratar de normas gerais, podia ser acolhido 
como lei complementar. 
 
 
9. PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS (ARTIGOS 1º AO 4º, CF) 
 
Os princípios fundamentais encontram-se logo no início da Constituição, nos artigos 1º ao 
4º, para que o intérprete tenha noção de como se estrutura o Estado Brasileiro e como 
deverá proceder na interpretação dos artigos seguintes da própria Constituição. 
 
O melhor conceito de princípio da doutrina nacional é o de Celso Antônio Bandeira de 
Mello. Ei-lo: “Princípio é o mandamento nuclear de um sistema, verdadeiro alicerce dele, 
disposição fundamental que se irradia sobre diferentes normas, compondo-lhes o espírito 
e servindo de critério para sua exata compreensão e inteligência, exatamente por definir a 
lógica e a racionalidade do sistema normativo, no que lhe confere a tônica e lhe dá 
sentido harmônico3
 
3 Curso de Direito Administrativo, 13ª Ed., Editora Malheiros, 2001, p. 771-772. 
”. 
 
Princípios não são regras. Não têm carga normativa, mas carga valorativa. Servem de 
vetor, orientando a aplicação da norma e orientando a elaboração das leis por parte do 
legislador. 
 
Princípios possuem dimensão que não se encontra nas regras (pesos). São mandados de 
otimização cumpridos em vários graus, enquanto regras ou são cumpridas ou 
descumpridas. Quando há conflito entre regras exclui-se uma do sistema – entre 
princípios (colisão), impõe-se a avaliação para aplicação de um sem exclusão de outro do 
sistema. Um princípio jamais pode excluir outro do sistema. Assim, princípios, como as 
regras, não têm caráter absoluto – estão num sistema de interação 
 
Diz o artigo 1º, no caput, que somos uma República Federativa. A República (res publica, 
do latim – res: coisa) é forma de governo. Temos apenas 2 formas de governo: república 
ou monarquia. Adotamos a primeira. A República denota organização do Estado e, 
também, forma de relação do Estado com os cidadãos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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São características da República: tripartição dos Poderes (Legislativo, Executivo e 
Judiciário), periodicidade dos mandatos políticos, eletividade (voto) e alternância no 
poder, responsabilidade dos agentes públicos, inclusive com o próprio impeachment do 
Presidente da República, prestação de contas, publicidade dos atos e transparência 
administrativa, mecanismos fiscalizatórios (como ação civil pública e ação popular), 
proteção dos Direitos Fundamentais, observância estrita do princípio da legalidade e 
despesas objetivando o bem comum. 
 
Mas, somos, também, uma Federação (Federalismo). Federalismo é forma de Estado, 
divisão eminentemente territorial de um Estado. Um Estado pode ser Unitário ou Federal. 
Adotamos este último, em que os Estados-membros cedem parcela de sua soberania 
para formar a União, entidade primordialmente concebida para proteger fronteiras. O 
Estado Unitário não tem, em seu território, divisão em Estados-membros. “Foeder”, em 
latim, significa pacto. Os Estados-membros firmam um pacto para criação da União. É o 
pacto federativo. Sua característica essencial é ser indissolúvel após formado. 
 
O Estado Federal (encontramos muito as expressões “Federação”, “Federativa”, “Pacto 
Federativo”, todas a significar que optamos pelo Federalismo) abarca, portanto, a União, 
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios, cada qual com suas competências 
materiais (de tarefas) e legislativas. Uma entidade da Federação não pode invadir a 
esfera de competência da outra. Há mecanismos na própria Constituição para corrigir a 
invasão, como estudaremos mais adiante (item 17). 
 
O Federalismo surgiu em 1787 nos Estados Unidos da América, criando-se a figura da 
União (governo federal) para proteger fronteiras e os Estados-membros de invasões 
estrangeiras. Com o tempo, a União foi ganhando mais e mais competências, como, por 
exemplo, emitir moeda, legislar sobre telecomunicações, etc. 
 
O caput do artigo 1º traz, ainda, a determinação de sermos um Estado Democrático de 
Direito. O Brasil é, pois, um Estado Democrático (participação do povo nos afazeres do 
Estado) e, também, em Estado de Direito (em que prevalecem a ordem e as leis). 
Costumam os doutrinadores dizer que, hodiernamente, o Brasil evoluiu para um Estado 
Democrático e Social de Direito. O termo “Social” indica que o Estado Brasileiro deve 
desenvolver prestações positivas a favor dos cidadãos, e não ser mero agente passivo e 
observador da sociedade. Prestações positivas na área da saúde e educação, por 
exemplo, com medidas efetivas e protetivas dos cidadãos (benefícios). 
 
A democracia necessita de organização (leis). Somos, sem dúvida, um Estado de Direito. 
Mas com preocupação social. Temos mecanismos de controle do poder político, o que 
denota um traço bem amplo da democracia, para além do voto. Liberdade política e 
igualdade política (participação real do povo). O Estado Democrático e Social de Direito 
objetiva o bem comum. Rege-se pelo princípio da Justiça - jurisdição com escopo social 
(dar a cada um o que é seu – pacificação com justiça e educação), escopo político (não 
lesar a ninguém – afirmação do Estado e seu ordenamento) e escopo jurídico (viver 
honestamente – atuação da vontade concreta da lei). Rege-se, também, pelo princípio da 
segurança jurídica (devido processo legal, respeito à coisa julgada, ato jurídico perfeito e 
direito adquirido), dentre outros princípios estudados mais adiante. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O artigo 1º traz os fundamentos da República Federativa do Brasil. Não confundir com os 
objetivos da República Federativa do Brasil, que estão no art. 3º. Os fundamentos são: 
soberania (nenhum outro Estado internacional pode interferir nas nossas questões 
internas, somos soberanos p/ decidir nossos próprios rumos, p/ ditar nossas próprias 
regras), cidadania (o vocábulo cidadania indica o direito de ter direitos, é muito mais do 
que simplesmente o direito de votar e ser votado), dignidade da pessoa humana (todos 
têm direito a experimentar um conforto mínimo/são valores morais e espirituais que a 
pessoa cultiva e que devem ser protegidos/autodeterminação da própria vida e respeito à 
vida alheia), valores sociais do trabalho e livre iniciativa (trabalho voltado para o 
desenvolvimento coletivo e, quando a Constituição menciona o vocábulo “livre iniciativa” 
ela quer dizer “capitalismo; nosso modelo de economia, de Estado, é capitalista, ou seja, 
não se admite, salvo raras exceções constitucionais, a intervenção do Estado na 
economia) e pluralismo político (temos, no Brasil, vários partidos políticos/liberdade de 
convicção). São essas as bases de nosso Estado. 
 
O parágrafo único do artigo 1º em questão determina que todo poder emana do povo e 
em seu nome será exercido, direta ou indiretamente. É o fundamento da democracia 
(“demo”: povo/”cracia”: poder). A vontade do povo deve prevalecer. As leis são formadas 
pela vontade popular. Nossa democracia é semi-direta, pois tem traços da democracia 
direta (quando o povo “faz a lei” diretamente – art. 61, § 2º: participação popular), mas é 
eminentemente indireta, ou seja, as leis são feitas por representantespor nós escolhidos, 
por meio do voto. 
 
O artigo 2º consagra a tripartição dos Poderes proclamada por Montesquieu, em 1748, 
pouco antes da Revolução Francesa. Temos os seguintes Poderes no Brasil: Legislativo, 
Executivo e Judiciário. Tivemos, por ocasião da Constituição de 1824, 4 Poderes, a saber: 
Legislativo, Executivo, Judiciário e Moderador. O Poder Moderador era exercido pelo Rei 
e anulava certas decisões do Judiciário ou interferia no Legislativo e Executivo. 
 
Os 3 Poderes hoje consagrados são independentes e harmônicos entre si. Significa dizer 
que não há interferência de um Poder em outro, salvo casos previstos na Constituição. Os 
Poderes têm funções típicas (Legislativo: legislar; Judiciário: julgar; Executivo: executar as 
leis e administrar) e atípicas (Legislativo – julgar o Presidente da República em crimes de 
responsabilidade; Judiciário – conceder aposentadoria a um de seus servidores; 
Executivo – elaborar um ato normativo). Os Poderes seguem o princípio da correção 
funcional, pelo qual um não interfere na atuação típica de outro. Mas o Presidente deve, 
por exemplo, acatar decisões do Supremo Tribunal Federal. É o que a doutrina costuma 
chamar de sistema de freios e contrapesos. 
 
O artigo 3º, a seu turno, enumera os objetivos da República Federativa do Brasil. São 
eles: a) construir uma sociedade livre, justa e solidária; b) garantir o desenvolvimento 
nacional; c) erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e 
regionais; d) promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, 
idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Por fim, o artigo 4º encerra o Título I da Constituição (Princípios Fundamentais), dando 
diretrizes de como o Brasil deve se relacionar com as comunidades internacionais. São 
estes os seguintes princípios que regem as relações internacionais: 
 
I - independência nacional; 
II - prevalência dos direitos humanos; 
III - autodeterminação dos povos; 
IV - não-intervenção; 
V - igualdade entre os Estados; 
VI - defesa da paz; 
VII - solução pacífica dos conflitos; 
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo; 
IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; 
X - concessão de asilo político. 
 
Segundo o parágrafo único do artigo supra, a República Federativa do Brasil buscará a 
integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à 
formação de uma comunidade latino-americana de nações. 
 
 
10 NACIONALIDADE (ARTIGO 12, CF) 
 
A nacionalidade é o vínculo que se cria entre o Estado e um indivíduo. Pode ser originária 
(ou primária – indivíduos natos) ou secundária (adquirida – naturalização). A 
nacionalidade originária é de exclusiva vontade estatal, dela não participando o indivíduo. 
É o Estado que diz quais serão os indivíduos natos, sem manifestação de vontade por 
parte do indivíduo. Já a nacionalidade secundária depende exclusivamente da vontade do 
indivíduo de se naturalizar. A nacionalidade é, portanto, um vínculo jurídico-político. 
 
Seguem alguns conceitos ligados à ideia de nacionalidade: a) população – conjunto de 
habitantes de um país (território), englobando os nacionais (natos ou naturalizados) e 
estrangeiros; b) povo – conjunto de pessoas que fazem parte de um Estado, unidos pelo 
elemento da nacionalidade (originária ou secundária). Aqui excluem-se os estrangeiros; c) 
cidadão – é o indivíduo no gozo dos direitos políticos, que pode votar e ser votado, além 
da aptidão genérica para aquisição dos demais direitos previstos na Constituição; d) 
nação ou país – agrupamento humano (nacionais – natos ou naturalizados e 
estrangeiros) cujos membros estão ligados por laços históricos, culturais, econômicos e 
lingüísticos. 
 
Os critérios para aferição da nacionalidade originária são dois: JUS SOLI (critério da 
territorialidade) e JUS SANGUINIS (critério da descendência pelo sangue). Pelo critério 
do JUS SOLI é considerado nato o indivíduo que nascer em determinado território. É 
predominantemente o critério adotado pelo Brasil. Mesmo filha de estrangeiros, a criança 
será considerada brasileira se nascer em solo brasileiro. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O artigo 12, inciso I, dispõe sobre a aquisição da nacionalidade originária, preconizando 
que são brasileiros natos: 
 
a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, 
desde que estes não estejam a serviço de seu país. 
- é puramente o critério do JUS SOLI. Todos os nascidos no território brasileiro são 
considerados brasileiros natos, ainda que de pais estrangeiros (a única vedação é quanto 
ao exercício de função pública – e não privada – do país de origem por parte dos pais). 
 
O território é a porção de terra, ar e água em que o Estado exerce sua soberania. Inclui a 
superfície, o subsolo, as ilhas fluviais ou marítimas, o mar territorial, o espaço aéreo e, 
inclusive, os navios e aeronaves brasileiros (ainda que privados) que estejam em águas 
ou espaço aéreo estrangeiros. O filho de estrangeiros que aqui nascer pode ter a 
nacionalidade do país de origem, caso o critério lá seja o do JUS SANGUINIS, e a 
nacionalidade brasileira ao mesmo tempo. Teria, portanto, dupla nacionalidade. 
 
 
b) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que 
qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil. 
- aqui a Constituição adotou o critério do JUS SANGUINIS somado a um critério funcional. 
A criança deve nascer no estrangeiro, filha de pai ou mãe brasileiros, e um deles, pelo 
menos, deve estar a serviço do país no estrangeiro, vale dizer, prestando serviço público. 
O serviço público em questão não é apenas o serviço diplomático, mas qualquer serviço 
público para a República Federativa do Brasil, como serviço consular, militar, serviço 
público para a União, Estados, Distrito Federal ou Municípios, prestado a órgãos da 
administração direta ou indireta (autarquias, empresas públicas, sociedades de economia 
mista e fundações públicas) destes entes. A criança pode ter dupla nacionalidade se o 
país estrangeiro adotar o critério do JUS SOLI. 
 
 
c) os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que 
sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na 
República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a 
maioridade, pela nacionalidade brasileira (redação dada pela Emenda Constitucional 
nº 54, de 2007). 
- registro em repartição brasileira competente: nesta primeira parte da alínea, a 
Constituição adotou o critério do JUS SANGUINIS mais o critério do registro. O registro 
pode ser feito num consulado, por exemplo. Esta alínea aplica-se aos filhos de pai ou 
mãe brasileiros (basta um) que não exercem serviço público no exterior. É o caso de 
brasileiros que trabalhem para empresas privadas no estrangeiro e lá tenham um filho. Ou 
o caso de criança que venha a nascer no estrangeiro enquanto o casal encontra-se 
viajando, de férias, apenas de passagem pelo país estrangeiro. 
 
- vir a residir no Brasil e optar, após a maioridade, pela nacionalidade originária brasileira. 
É o critério do JUS SANGUINIS mais o critério da residência e opção. É chamada pela 
doutrina de nacionalidade potestativa. Esta parte da alínea também se aplica aos filhos de 
pai ou mãe brasileiros (basta um) que não exercem serviço público no exterior e, porAssunto: 
 
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qualquer motivo, nunca registraram a criança em repartição brasileira. Basta a criança vir 
a residir no Brasil e optar, após a maioridade, pela condição de brasileira nata (terá de 
comprovar que um dos pais, pelo menos, no exterior, era brasileiro). Em ambos os casos 
retratados pela alínea o filho de brasileiros poderá ter dupla nacionalidade caso o país 
onde tenha nascido adote o critério do JUS SOLI. 
 
A naturalização (nacionalidade secundária) é ato discricionário do Poder Executivo. Cabe 
apenas ao Poder Executivo decidir se concede ou não a naturalização. 
 
O artigo 12, inciso II, dispõe sobre a aquisição da nacionalidade secundária, preconizando 
que são brasileiros naturalizados: 
 
a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos 
originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano 
ininterrupto e idoneidade moral. 
- quando a alínea utiliza a expressão “na forma da lei”, significa que pede lei ordinária 
federal para complementá-la. É a lei que vai determinar as condições para naturalização. 
A lei complementa o preceito constitucional, estabelecendo regras para a naturalização. 
Esta lei já existe e é denominada Estatuto do Estrangeiro (Lei nº 6.815/80). Uma das 
condições (regra geral – naturalização ordinária) para naturalização é a residência no país 
por pelo menos 4 anos ininterruptos (art. 112 do Estatuto), além de boa conduta, registro 
permanente, capacidade civil, ler e escrever a língua portuguesa, exercício de profissão 
ou posse de bens suficientes para manutenção própria e da família, boa saúde e 
inexistência de condenação criminal. Outra possibilidade de naturalização é a do 
estrangeiro que venha a residir no Brasil antes da maioridade e requeira a naturalização 
até um ano da formatura em curso superior (inc. II, § 2º, art. 115 do Estatuto). A alínea 
também facilita, como se vê, a naturalização aos originários de países de língua 
portuguesa (menos requisitos – apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade 
moral). 
 
 
b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na República Federativa 
do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que 
requeiram a nacionalidade brasileira. Esta é a hipótese da naturalização 
extraordinária. 
O estrangeiro que se encaixar nestas condições e que por algum motivo não tenha, 
durante os quinze anos em que esteve no Brasil, a naturalização ordinária, pode pleitear a 
naturalização extraordinária sem a comprovação dos requisitos da naturalização ordinária. 
 
Quanto ao § 1º do art. 12, nota-se a equiparação dos portugueses aos brasileiros 
naturalizados se houver reciprocidade de favores em relação aos brasileiros. Não se trata 
de hipótese de naturalização, pois o português continua como estrangeiro, mas goza das 
prerrogativas dos brasileiros naturalizados (sem necessidade de naturalização). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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→ DISTINÇÕES ENTRE BRASILEIROS NATOS E NATURALIZADOS 
 
A teor do parágrafo 2º da Constituição, somente esta pode estabelecer distinções entre 
brasileiros natos e naturalizados. A lei não pode fazê-lo. Assim, o parágrafo 3º estabelece 
que são cargos privativos de brasileiros natos os cargos de Presidente e Vice-Presidente 
da República, o cargo de Presidente da Câmara dos Deputados, o cargo de Presidente 
do Senado Federal, o cargo de Ministro do Supremo Tribunal Federal, o cargo de carreira 
diplomática e o cargo de oficial das Forças Armadas. Nada impede, portanto, que um 
brasileiro naturalizado seja eleito parlamentar, ou seja aprovado num concurso público. 
 
Outra distinção estabelecida pela Constituição é o art. 89, inc. VII. Somente brasileiros 
natos podem ocupar assento no Conselho da República, órgão de consulta do Presidente 
da República. 
 
Quanto à extradição, conforme art. 5º, inc. LI acima (“Nenhum brasileiro será extraditado, 
salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de 
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da 
lei”), vê-se que o brasileiro nato jamais pode ser extraditado, mas o naturalizado pode. 
 
Por fim, temos o art. 222, que reserva a propriedade de empresas de TV, rádio ou jornais 
a brasileiros natos ou naturalizados se a naturalização ocorrer pelo menos 10 anos antes 
do ato de propriedade. 
 
→ EXTRADIÇÃO (art. 76 e seguintes do Estatuto). A extradição é modo de entrega de 
estrangeiro ao país requerente por delito nele praticado. A extradição funda-se em 
Tratado celebrado entre o Brasil e o país requerente e tem diversas condições (uma delas 
é que, no país requerente, não haja pena de morte para o delito lá praticado). É o STF 
quem concede extradições, em processo iniciado e julgado na própria Corte 
Constitucional. 
 
→ EXPULSÃO (art. 65 e seguintes do Estatuto). “É passível de expulsão o estrangeiro 
que, de qualquer forma, atentar contra a segurança nacional, a ordem política ou social, a 
tranqüilidade ou moralidade pública e a economia popular, ou cujo procedimento o torne 
nocivo à conveniência e aos interesses nacionais”. A expulsão é a retirada forçada do 
estrangeiro que atenta contra a ordem nacional. A expulsão não passa pelo STF, 
bastando um Decreto do Poder Executivo. 
 
→ DEPORTAÇÃO (art. 57 e seguintes do Estatuto). A deportação ocorre nos casos de 
entrada e permanência irregular do estrangeiro no país. Todo estrangeiro deve apresentar 
seu passaporte, permanecer no país apenas durante o período de férias ou negócios (art. 
4º do Estatuto – visto de turista; art. 13 – visto de 90 dias para negócios) ou, caso deseje 
por aqui permanecer, requerer o visto e o registro permanentes (artigos 16 e 30 do 
Estatuto). 
 
Como último tópico a ser analisado, temos a perda da nacionalidade, tanto originária 
quanto secundária (art. 14). Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
Idéias sobre Direito Constitucional, Espécies Normativas, ... 
 
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I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva 
ao interesse nacional. O cancelamento da naturalização só pode ocorrer por provocação 
do Ministério Público Federal e é julgado pela Justiça Federal, com possibilidade recursal 
até o STF (art. 109, inc. X, CF). 
 
II - adquirir outra nacionalidade, salvo no casos: 
 
a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira. A regra geral é a 
perda da nacionalidade originária ou secundária caso o país que o brasileiro escolheu 
para viver e se naturalizar não reconheça a nacionalidade brasileira. Nestes casos, o 
brasileiro, nato ou naturalizado, perde a nacionalidade brasileira. No caso da Itália, por 
exemplo, que reconhece a nacionalidade brasileira, o brasileiro que lá se naturalizar 
acaba adquirindo dupla nacionalidade. 
 
b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em 
estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o 
exercício de direitos civis. Aqui, como a naturalização é imposição estatal de cada país 
(atribuição unilateral do Estado), o indivíduo não faz a opção, mas se vê apanhado por 
regras do país para lá permanecer, e não seria justo que perdesse a nacionalidade 
brasileira, não podendo ser prejudicado por fato alheio à suavontade. 
 
 
11. DIREITOS POLÍTICOS (ARTIGOS 14 E 15, CF) 
 
Os direitos políticos consagram a possibilidade de o indivíduo intervir no governo do país. 
São normas que dão efetividade ao parágrafo único do art. 1º da Constituição. “Polis”, do 
grego, significa cidade, tendo a palavra evoluído para “politiké”, ainda em grego, e, 
depois, para “política”, em Português, ou seja, interferência dos indivíduos nos negócios 
da cidade, na vida estatal. A política pode ser conceituada como “afazeres do Estado”. O 
indivíduo participa das decisões estatais. E a interferência e participação na política cria 
os direitos políticos. São direitos subjetivos, isto é, dos sujeitos. 
 
Dispõe a art. 14: A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto 
direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular 
 
O sufrágio é o direito de manifestação, não se confundindo com o voto, que é 
instrumento. Sufrágio compreende o direito de eleger e ser eleito. 
 
O plebiscito e o referendo (regulados pela Lei nº 9.709/98) são consultas à população 
para que delibere sobre matéria legislativa. O plebiscito ocorre antes do projeto de lei ser 
publicado e transformar-se em lei, e o referendo ocorre quando a lei já está vigente. 
Quanto à iniciativa popular, seus requisitos vêm traçados no art. 61, § 2º, permitindo ao 
povo a apresentação de projeto de lei. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Assunto: 
 
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Quanto ao voto, apresenta este as seguintes características: 
a) personalidade (é pessoal, não admitindo procuração); 
b) obrigatoriedade (para os maiores de 18 anos e menores de 70, desde que 
alfabetizados); 
c) liberdade (o cidadão tem a liberdade de anular o voto, escolher um ou mais 
candidatos ou votar em branco); 
d) sigilosidade (o voto é indevassável); 
e) direto (o voto é dado diretamente no representante escolhido, e não para que este 
escolha um outro representante); 
f) periodicidade (o voto é periódico no Brasil); 
g) igualdade (todos os votos têm o mesmo valor – é a regra do “one man one vote”). 
 
A capacidade eleitoral ativa é a possibilidade de votar, enquanto a capacidade eleitoral 
passiva é a possibilidade de ser eleito. 
 
No Brasil, a capacidade eleitoral ativa está nos parágrafos 1º e 2º do art. 14. O voto é 
obrigatório para os maiores de 18 e menores de 70, desde que alfabetizados, e facultativo 
para os analfabetos, maiores de 70 e jovens entre 16 e de 18 anos de idade. Os 
estrangeiros não podem votar. Não têm, portanto, capacidade eleitoral ativa. Ainda, é 
restringido o direito de voto aos militares durante o período de serviço militar obrigatório – 
conscritos (restringe-se temporariamente a capacidade eleitoral ativa). 
 
Já a capacidade eleitoral passiva diz com a elegibilidade. Assim determina o § 3º do art. 
14: 
 
“São condições de elegibilidade, na forma da lei: 
 
I - a nacionalidade brasileira; 
II - o pleno exercício dos direitos políticos; 
III - o alistamento eleitoral; 
IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; 
V - a filiação partidária; 
VI - a idade mínima de: 
 
a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; 
b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de Estado e do Distrito Federal; 
c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-
Prefeito e juiz de paz; 
d) dezoito anos para Vereador”. 
 
 
Estas são as regras gerais da capacidade eleitoral passiva (elegibilidade). Mas esta 
capacidade sofre várias restrições. São as inelegibilidades. A primeira delas encontra-se 
no § 4º, do art. 14. São inelegíveis (não têm, portanto, capacidade eleitoral passiva) os 
inalistáveis e os analfabetos. Os inalistáveis são os estrangeiros e indivíduos em serviço 
militar obrigatório (conscritos). Estas pessoas não podem ser eleitas para nenhum cargo 
no Brasil. Também não podem ser eleitos para nenhum cargo no Brasil os analfabetos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Os analfabetos podem votar mas não podem ser eleitos. Estas são as inelegibilidades 
absolutas. 
 
Temos, também, as inelegibilidades relativas. Estas podem ser: 
a) por motivo funcional (§ 5º - reeleição por um único período subseqüente). Veda-se, 
por óbvio, que o Presidente, por exemplo, concorra a um terceiro mandato como 
Vice-Presidente. E isto porque, em caso de morte do Presidente eleito, ele assumiria o 
posto, em verdadeira burla ao texto constitucional. Também não é permitida a renúncia 
para concorrer ao terceiro mandato. O § 6º também traz critério funcional (inelegibilidade 
relativa). É a chamada desincompatibilização. Os titulares dos cargos mencionados 
devem renunciar aos respectivos mandatos até 6 meses antes das eleições para 
concorrer a outros cargos ; 
b) por parentesco ou reflexa (§ 7º - “São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, 
o cônjuge e os parentes consangüíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do 
Presidente da República, de Governador de Estado ou Território, do Distrito Federal, de 
Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo 
se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição”); 
c) militares (§ 8º - “O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se 
contar menos de dez anos de serviço, deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais 
de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará 
automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade”); 
d) hipóteses complementares – em decorrência de lei complementar. O § 9º prevê 
hipóteses legais de inelegibilidades relativas. São hipóteses previstas em lei, no caso, 
requerida pela própria Constituição. A Constituição requereu lei complementar para 
completar o preceito constitucional (Lei Complementar nº 64/90 e Lei Complementar nº 
81/94). 
 
Por fim, temos a perda ou suspensão dos direitos políticos (art. 15). O primeiro caso é o 
cancelamento de naturalização por sentença transitada em julgado. A ação é proposta 
pelo Ministério Público Federal junto à Justiça Federal (art. 109, inc. X). Esta hipótese é 
de perda. O indivíduo retorna à condição de estrangeiro. O segundo caso é a 
incapacidade civil absoluta, superveniente, ou seja, o indivíduo vê-se privado de sua 
capacidade civil, como, por exemplo, em caso de interdição. Esta hipótese é de 
suspensão. O terceiro caso decorre de condenação criminal transitada em julgado. É, 
também, hipótese de suspensão, retornando os direitos políticos após extinta a 
punibilidade. O quarto caso decorre da recusa de cumprimento a todos imposta ou 
cumprimento prestação alternativa nos casos de escusa de consciência (vide item 10, art. 
5º, inc. VIII acima). É hipótese de perda. O último caso decorre de improbidade 
administrativa, conforme art. 37, § 4º. O agente público tem seus direitos políticos 
suspensos caso seja condenado por causar danos ao erário. 
 
O art. 16 traz o princípio da anualidade, a fim de preservar as eleições de regras 
modificadoras repentinas. Até 1 anos antes das eleições, a lei que alterar o processo não 
poderá ser aplicada. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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2312. PARTIDOS POLÍTICOS (ARTIGO 17, CF) 
 
Os partidos políticos gozam de ampla liberdade no Brasil. Temos, como visto no art. 1º, o 
pluralismo político. Os partidos políticos devem ser registrados perante o Tribunal 
Superior Eleitoral. Há uma limitação quantitativa: o partido deve ter caráter nacional. 
Quanto às limitações qualitativas, devem obedecer ao princípio democrático e não 
utilização de organizações paramilitares. 
 
São pessoas jurídicas de Direito Privado, com estatuto próprio, como as associações. 
Estão livres de qualquer sorte de interferência estatal (autonomia). 
 
 
 
13. SISTEMAS ELEITORAIS 
 
Os sistemas eleitorais refletem o modo pelo qual escolhemos nossos representantes. Os 
sistemas eleitorais podem ser três: 
a) majoritário simples; 
b) majoritário absoluto; 
c) proporcional. 
 
O sistema majoritário simples é utilizado para escolha dos Senadores e Prefeitos em 
cidades com menos de 200 mil habitantes. Por esse sistema, é considerado eleito aquele 
que alcançar a maioria dos votos válidos em um só turno (artigos 29, II e 46). 
 
O sistema majoritário absoluto é utilizado para escolha do Presidente da República, 
Governadores (inclusive o Distrital) e Prefeitos em cidades com mais de 200 mil eleitores 
(artigos 28, 29, II, 32, § 2º e 77). Por esse sistema, poderemos ter 2 turnos de votação. 
Para ser eleito em primeiro turno, o candidato deve alcançar metade mais 1 dos votos 
válidos (maioria absoluta). Caso isto não ocorra, teremos o 2º turno, e aí sim, basta ao 
candidato, no 2º turno, alcançar a maioria simples (maioria dos votos válidos). 
 
O sistema proporcional é utilizado para eleição de Vereadores, Deputados Estaduais, 
Deputados Distritais e Deputados Federais (artigo 27, § 1º, artigo 29, caput e incisos I e II, 
e artigo 45). Além da previsão constitucional, as regras mais detalhadas encontram-se no 
Código Eleitoral, que é a lei federal nº 4737/65. 
 
O sistema proporcional é o mais complexo de todos. Busca-se, em primeiro lugar, o 
quociente eleitoral (soma de todos os votos válidos, dados a uma legenda ou candidato, 
dividido pelo número de vagas/cadeiras disponíveis na Casa Legislativa – computam-se, 
segundo o Código Eleitoral, os votos em branco). Em segundo lugar, busca-se o 
quociente partidário (divisão dos votos na legenda ou candidatos pelo quociente eleitoral), 
atribuindo-se a cada partido o número de cadeiras a serem ocupadas pelos candidatos 
mais votados. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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Exemplificando: tivemos, em determinada eleição, 500.000 votos e 50 cadeiras 
disponíveis. O partido A recebeu 350.000 votos, o partido B recebeu 90.000 votos, o 
partido C recebeu 55.000 votos e o partido D recebeu 5.000 votos. O quociente eleitoral 
será 10.000 (soma dos votos dividida pelo nº de cadeiras). O Código Eleitoral assenta que 
não participa da distribuição de cadeiras o partido que não tenha atingido o quociente 
eleitoral. Assim, o partido D está fora da disputa, uma vez que o quociente eleitoral será 
10.000. O partido A recebe 35 cadeiras (350.000 votos divididos por 10.000 = 35), o 
partido B recebe 9 cadeiras e o partido C recebe 5 cadeiras (do resultado 5,5 despreza-se 
a fração). 
 
É necessária, agora, uma terceira etapa, para distribuição das sobras (restos), pois só 
forma preenchidas, até agora 49 cadeiras, (art. 109 do Código Eleitoral). Adotou-se o 
sistema da maior média. Divide-se o nº de votos válidos a cada partido pelo nº de 
cadeiras mais 1, cabendo àquele que apresentar a maior média as cadeiras 
remanescentes. 
 
Vejamos o cálculo das sobras segundo o esquema da eleição acima: 
 
- partido A – 350.000 votos e 35 cadeiras (35 + 1 = 36). Então, 350.000/36 = 9722,22 
- partido B – 90.000 votos e 9 cadeiras (9 + 1 = 10). Então, 90.000/10 = 9000 
- partido C – 55.000 votos e 5 cadeiras (5 + 1 = 6). Então, 55.000/6 = 8333,33 
 
O partido D, por não ter atingido o quociente eleitoral, também não participa do cálculo 
das sobras (restos). Assim, a cadeira que faltava fica com o partidos A. 
 
 
 
14 . FEDERALISMO E REPARTIÇÃO CONSTITUCIONAL DE COMPETÊNCIAS 
(ARTIGOS 20 AO 24, CF) 
 
Como visto acima (item 9), o Federalismo é forma de Estado (divisão espacial – União, 
Estados-membros, Distrito Federal e Municípios). Sua característica essencial é ser 
indissolúvel. Cria o modelo de entidade federal (União), entidade estadual (Estados-
membros), entidade distrital (Distrito Federal) e entidade municipal (Municípios). 
 
A forma de governo poderá ser República ou Monarquia, e o sistema de governo poderá 
ser o presidencialista ou parlamentarista. A República foi vista acima, no item 9, e a 
Monarquia caracteriza-se pela centralização do poder, com hereditariedade. O 
Presidencialismo, a seu turno, é sistema de governo em que escolhemos um Chefe de 
Estado (aquele que representa o país internacionalmente) e um Chefe de Governo 
(aquele que gerencia o país internamente) numa só pessoa, o Presidente da República. O 
parlamentarismo caracteriza-se por delegar a Chefia de Governo ao Primeiro Ministro, 
ficando o Presidente apenas com a Chefia de Estado, ou seja, a missão de representar o 
país no cenário internacional. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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O sustentáculo do Federalismo é a repartição de competências. A repartição de 
competências, isto é, o que cada entidade pode fazer, é a base do Federalismo. Logo 
depois de criado, o Federalismo deve discriminar/repartir as competências da União, 
Estados, Distrito Federal e Municípios, para que não haja choque entre estas entidades. 
 
As competências vêm discriminadas nos artigos 21 a 24, além das competências 
tributárias estudadas mais adiante. 
 
O art. 21 traz as competências materiais exclusivas da União. Competências materiais 
são competências de tarefas. São tarefas que só a União pode realizar, com 
exclusividade, isto é, não admitem delegação. Interessante chamar a atenção para as 
seguintes competências materiais exclusivas da União: I – manter relações com Estados 
estrangeiros (só a União pode celebrar Tratados); II – declarar guerra e celebrar a paz; III 
– assegurar a defesa nacional (este um dos motivos primordiais da existência da União, 
criada com o nascimento do Federalismo); VII – emitir moeda; X – manter o serviço postal 
(que pode ser explorado por particulares ou entidades públicas mediante concessão); XI – 
telecomunicações (que podem ser exploradas por particulares ou entidades públicas 
mediante concessão); XII – serviços de rádio, televisão, energia elétrica e navegação 
aérea (que podem ser exploradas por particulares ou entidades públicas mediante 
concessão); XVI – exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e 
de programas de rádio e televisão; XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares; 
etc. 
 
O art. 22, a seu turno, traz as competências legislativas privativas da União. Não se trata 
de competências de tarefas, mas de competências para legislar. O parágrafo único do 
artigo indica que podem ser delegadas aos Estados mediante lei complementar. Eis 
algumas competências legislativas privativas da União: I – direito civil, comercial, penal, 
processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II – 
desapropriação; IV – águas, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V – 
serviço postal; VI – sistema monetário; XIII – nacionalidade, cidadania e naturalização; 
XIV – populações indígenas; XV – emigração e imigração, entrada,extradição e expulsão 
de estrangeiros; XXII – competência da polícia federal e das polícias rodoviária e 
ferroviária federais; XXIII – seguridade social; XXV – registros públicos; XXVI – atividades 
nucleares; XXVIII – defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e 
mobilização nacional. De se notar que a maioria das competências legislativas está 
diretamente ligada às competências materiais. 
 
O art. 23 firma as competências comuns, que são as competências que todas as 
entidades da federação podem realizar simultaneamente. União, Estados, Distrito Federal 
e Municípios podem desempenhar estas competências comuns juntos ou isoladamente. 
Veja-se: I – zelar pela guarda da Constituição (todos os entes podem desempenhar esta 
função); II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas 
portadoras de deficiência (todos os entes podem desempenhar esta função); III – proteger 
os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os 
monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV – impedir a 
evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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histórico, artístico ou cultural; V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação 
e à ciência; VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas 
formas; VII – preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII – fomentar a produção 
agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; IX – promover programas de 
construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento 
básico; X – combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo 
a integração social dos setores desfavorecidos; XII – estabelecer e implantar política de 
educação para a segurança do trânsito. 
 
O art. 24 trata das competências legislativas concorrentes. São, portanto, competências 
legislativas, e não materiais. União, Estados e Distrito Federal podem legislar 
concorrentemente sobre as seguintes matérias: I – direito tributário, financeiro, 
penitenciário, econômico e urbanístico; II – orçamento; III – juntas comerciais; IV – custas 
dos serviços forenses; V – produção e consumo; VI – florestas, caça, pesca, fauna, 
conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio 
ambiente e controle da poluição; VII – proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, 
turístico e paisagístico; VIII – responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao 
consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; 
IX – educação, cultura, ensino e desporto; X – criação, funcionamento e processo do 
juizado de pequenas causas; XI – procedimentos em matéria processual; XII – 
previdência social, proteção e defesa da saúde; XIII – assistência jurídica e Defensoria 
pública; XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV – 
proteção à infância e à juventude; XVI – organização, garantias, direitos e deveres das 
polícias civis. 
 
As regras para a competência legislativa concorrente, todavia, encontram-se nos 
parágrafos do art. 24. São as seguintes: § 1º - No âmbito da legislação concorrente, a 
competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais; § 2º - A competência da 
União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos 
Estados; § 3º - Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a 
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades; § 4º - A superveniência 
de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for 
contrário. 
 
A regra é que a União só possa editar normas gerais (normas genéricas e abstratas) 
sobre Direito Tributário (inc. I). Os Estados têm competência supletiva para estas normas 
gerais de Direito Tributário. Se faltar a lei federal sobre normas gerais, os Estados 
exercem a competência legislativa plena. O parágrafo 4º, por sua vez, traz regra 
interessante: o Estado exerce a competência supletiva ou total dos parágrafos anteriores, 
sobre normas gerais, mas, se a União editar normas gerais sobre o mesmo assunto, a 
eficácia da norma estadual fica suspensa. 
Os Municípios não foram contemplados no caput do artigo 24, mas têm competência 
supletiva prevista no art. 30, II, e para assuntos de interesse local, conforme previsão do 
art. 30, I. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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15 . UNIÃO (ARTIGOS 20 AO 24, CF) 
 
Com o surgimento do pacto federativo, criou-se a figura da União, como ordem central. É 
o chamado nível federal. 
 
A União possui, segundo o art. 20, os seguintes bens: 
 
- terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e 
construções militares, das vias federais de comunicação e indispensáveis, também, à 
preservação ambiental. Não são todas as terras devolutas, portanto, que pertencem à 
União. Terra devoluta é aquela que, desde a época da Coroa, foi abandonada pelos 
colonizadores (a pena era o “comisso”, isto é, reversão à Coroa), não tendo 
ingressado no domínio privado por algum motivo (sem registro no Cartório de Imóveis) 
ou não tendo recebido destinação pública. 
- os lagos, rios e correntes de água que banhem mais de um Estado, sirvam de limite 
com outros países ou se estendam ou provenham de território estrangeiro 
- as ilhas fluviais ou lacustres nas zonas limítrofes com outros países 
- as praias marítimas 
- ilhas oceânicas e costeiras 
- recursos naturais da plataforma continental e zona econômica exclusiva. A plataforma 
continental é constituída pelo leito e subsolo das áreas submarinas que vão além do 
mar territorial até a distância de 200 milhas marítimas. A zona econômica exclusiva 
compreende a superfície das águas até a distância de 200 milhas marítimas do mar 
territorial. 
- mar territorial. Compreende a faixa de 12 milhas marítimas contadas da costa 
brasileira, incluindo-se o subsolo e o espaço aéreo. É zona de soberania nacional. 
- terrenos de marinha. São as terras que vão até uma distância de 33 metros do mar 
territorial ou rios federais. 
- potenciais de energia hidráulica 
- recursos minerais do solo e subsolo 
- cavidades naturais subterrâneas e sítios arqueológicos e pré-históricos 
- as terras indígenas 
 
Aos Estados, Distrito Federal e Municípios é assegurada a participação no produto da 
extração de petróleo, gás, recursos hídricos e demais recursos minerais dos territórios 
federais (incluídos o mar territorial, zona econômica exclusiva e plataforma continental). É 
a norma do § 1º. Já o § 2º do art. 20 assenta que a faixa de até 150 quilômetros de 
largura ao longo da fronteira com outros países, para dentro do território nacional, 
pertence à União porque é fundamental para a defesa nacional. 
 
 
16. ESTADOS (ARTIGOS 25 AO 28, CF) 
 
Os Estados-membros têm autonomia para criar sua própria Constituição e regras, mas os 
princípios da Constituição Federal têm de ser obedecidos. É a regra do art. 25. Assim, os 
Estados podem definir o valor de seus impostos, criar seus órgãos estaduais e o valor do 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
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salário de seus servidores públicos, mas não pode, por exemplo, adotar 4 Poderes,

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