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UNIVERSIDADE DA AMAZÔNIA Luciana Miranda Cruz PESQUISA DE TENDENCIA: O uso da Netnografia no trabalho de Coolhunting BELÉM 2012 Luciana Miranda Cruz PESQUISA DE TENDENCIA: O uso da Netnografia no trabalho de Coolhunting Projeto Experimental apresentado à Universidade da Amazônia como requisito parcial para obtenção do grau em Bacharel em Moda. Orientadoras: Profa. Msc. Rosyane Rodrigues e Profa. Esp. Yorrana Maia. BELÉM 2012 Luciana Miranda Cruz PESQUISA DE TENDENCIA: O uso da Netnografia no trabalho de Coolhunting Projeto Experimental apresentado à Universidade da Amazônia como requisito parcial para obtenção do grau em Bacharel em Moda. Orientadoras: Profa. Msc. Rosyane Rodrigues e Profa. Esp. Yorrana Maia. Banca Examinadora ______________________________________ Profª. Msc. Rosyane Rodrigues – Orientadora ______________________________________ Profª. Esp. Yorrana Maia – Orientadora ______________________________________ Examinador Apresentado em: __/__/___ Conceito:_______________________ BELÉM 2012 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer a Deus e a minha família, meus pais e irmãs pelo apoio e ajuda. As minhas orientadoras Rosyane Rodrigues e Yorrana Maia pela força, incentivo, paciência, aprendizado e motivação que me impediram de desistir. As minhas amigas que sempre me ajudaram, incentivaram e estiveram presentes nas horas mais difíceis e estressantes desses três anos. A Cynthia Cazassa por ser minha dupla mais querida nos trabalhos mais loucos, a Lívia Barros pelas longas conversas, trabalhos intermináveis e suas horas como modelo. E a minha queria Avó Nazareth Miranda que com o seu bom gosto me fez apaixonar pela moda. “Para observar com novos olhos é preciso variar os trajetos e as áreas o máximo possível” Marta Domínguez Riezu RESUMO Este trabalho tem como objetivo mostrar de que forma o coolhunting pode utilizar os ciberespaços como local de pesquisa, através do uso da netnografia em blogs de moda. Antecipar tendências se tornou o ponto principal para a criação de novos produtos de moda que cada vez mais tem seu ciclo de vida encurtados. Para as empresas se manterem sempre competitivas e à frente de seus concorrentes, elas necessitam satisfazer os desejos de seus consumidores. E é através das pesquisas de tendências culturais e sociais, que elas podem captar de forma mais precisa os desejos de seus consumidores, para então lançar novos produtos. Com consumidores mais exigentes e com anseio a novos produtos, surge uma nova abordagem de pesquisa de tendências chamada coolhunting focado em identificar os sinais nas culturas jovens, que podem vir a se torna futuras tendências. Para fazer suas pesquisas, os coolhunters utilizam técnicas e metodologias da antropologia, mas precisamente da etnografia, que também é utilizada para as pesquisas no ciberespaço. Palavras-chave: Moda, tendências, coolhunting, netnografia. ABSTRATC This work has the purpose of showing how coolhunting can use cyberspaces as research place, through using on fashion blogs. Anticipating trends became the main point in creating new fashion products, which have their life cycle diminished more and more. For companies to keep always competitive and ahead of the competition they need to satisfy their consumers' desires. And it is through the research of social and cultural trends, they can capture more accurately the wishes of their consumers, and then launch new products. With more demanding consumers and longing for new products, a new approach trend research called coolhunting focused on identifying the signs in young cultures, that may become future trends. To do their research Coolhunters use the techniques and methodologies of anthropology, but precisely of ethnography, which is also used for research in cyberspace. Keywords: Fashion, trends, coolhunting, netnography SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...............................................................................................9 2. TENDÊNCIAS................................................................................................11 2.1 PESQUISA DE TENDÊNCIAS....................................................................13 2.2 COOLHUNTING..........................................................................................15 2.3 GLOBALIZAÇÃO.........................................................................................18 2.4 NOVAS MÍDIAS E MODA............................................................................20 3. NETNOGRAFIA APLICADA AO COOLHUNTING.......................................26 3.1 ANTROPOLOGIA........................................................................................27 3.2 ETNOGRAFIA.............................................................................................28 3.3 NETNOGRAFIA...........................................................................................30 3.4 BLOGS COMO FONTE DE PESQUISA......................................................36 4. COLEÇÃO.....................................................................................................44 4.1 HISTORIA....................................................................................................45 4.2 PÚBLICO-ALVO..........................................................................................46 4.3 CONCEITO..................................................................................................46 4.4 LIFESTYLE.................................................................................................48 4.5 RELEASE....................................................................................................49 4.6 AMBIÊNCIA.................................................................................................50 4.7 CARTELA DE CORES.................................................................................51 4.8 PAINEL DE MATERIAIS.............................................................................52 4.9 COLEÇÃO...................................................................................................53 4.10 PEÇA CONCEITUAL.................................................................................54 5. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................55 5.1 Conclusão....................................................................................................55 REFERÊNCIAS.................................................................................................56 APÊNDICE........................................................................................................62 Apêndice 1 Fichas Técnicas .............................................................................62 9 1. INTRODUÇÃO Atualmente o auge da moda se encontra na efemeridade da sociedade e seu desejo por consumir novos produtos, influenciando o movimentoem direção ao mais atual e oposto ao antigo. Na moda contemporânea, os modelos e ciclos de valores, tanto na moda como da sociedade, modificam-se de forma cada vez mais rápida. O que alimenta a moda é o aparecimento continuo de novas tendências. Um novo método para fazer as chamadas pesquisas de tendências esta sendo cada vez mais utilizado, o chamado Coolhunting, que é um método que traz uma perspectiva inovadora às pesquisas. Consiste também em observar pessoas na web, blogs, jornais e revistas, fazendo contato e observação direta dos grupos mais inovadores, que são os responsáveis pela criação e difusão de novas tendências. O trabalho do coolhunter que é de observação pode tanto ser feito, com ele estando no local a ser observado, no espaço físico, mas também pela internet, mais precisamente nas redes sociais, local que também serve para observar o comportamento dos consumidores, onde se pode obter de forma rápida dados para a pesquisa. Esses profissionais utilizam técnicas da Antropologia, que facilita na identificação dos futuros padrões, para fazer suas pesquisas. E devido ao uso da internet para coleta de dados pelos coolhunting se fez necessário uma metodologia apropriada para a pesquisa e leitura de tendências nas mídias sociais a chamada netnografia, que usa de métodos etnográficos no ciberespaço. Este projeto visa compreender melhor o uso das mídias sociais para as pesquisas de tendências e como o coolhunting pode apropriar-se de blogs de streetstyle para fazer suas pesquisas utilizando das técnicas da netnografia. O primeiro capítulo explica o que é pesquisa de tendência e a sua nova abordagem que é chamada de coolhunting, e o cenário globalizado que 10 influenciam esse método e as mídias sociais que podem servir para observar as futuras tendências. O segundo capitulo mostra como os coolhunters utilizam as mídias sociais para fazer as pesquisas, a metodologia que eles utilizam chamada netnografia, que é a etnografia no ciberespaço e como os blogs de streetstyle se tornaram um grande influenciador e uma ferramenta para esse método. No terceiro capitulo será apresenta a coleção (Ciber) flâneur inspirada na figura do ciberflaneur, que assim com o coolhunter utilizam a internet como seu meio de observação. 11 2. TENDÊNCIAS Prever tendências é um método utilizado pelas empresas na hora de desenvolverem seus produtos, como forma de usufruir de uma base de dados e informações mais confiáveis para auxiliar neste desenvolvimento. (Perdigão, 2006). Antecipar e monitorar tendências é essencial para o sucesso tanto de produtos como de empresas. Para Erner (2005, p. 104), “usualmente, designa-se sob o nome de tendência qualquer fenômeno de polarização pelo qual um mesmo objeto - no sentido mais amplo da palavra - seduz simultaneamente um grande número de pessoas”. Segundo Picoli (2009, p.18 apud Morace, 2007) o conceito de tendência é muito complexo, porém pode-se afirmar que tendência é um fenômeno de evolução, às vezes mais lentas, outras mais rápidas. Indicando a emergência dos novos elementos no sistema sócio-cultural. Na cultura contemporânea, a noção de tendência se faz presente em toda a parte. A palavra tendência vem do termo em latim tendentia, particípio presente e nome plural substantivado do verbo tendere, que significa “tender para”, “inclinar-se para” ou “atraído por”. A palavra traz consigo um movimento e uma atração exercida por outro objeto. (CALDAS, 2004) Segundo Caldas (2004, p.25), foi a partir do século XIX que a palavra tendência obteve o sentido de “propensão”, “predisposição” ou “aquilo que leva a agir de uma determinada maneira”. Na psicologia, a ideia é relacionada ao desejo e ao direcionamento à sua satisfação. O conceito que conhecemos atualmente foi estabelecido com o passar dos anos, e se consagrou junto com o culto ao novo, à mudança e ao futuro, que o pós-moderno consagrou. Segundo Picoli (2009), a pesquisa de tendências surgiu nas décadas de 50 e 60, com o intuito de fazer uma abordagem diferente de produtos iguais para chamar a atenção do cliente. De acordo com Fontenelle (2004, p.163) as chamadas "pesquisas de mercado de tendências culturais" surgiram nos anos 1970, mas só a partir dos 12 anos 1990 se destacam e ganham um novo formato, sobressaindo como um meio essencial para as novas estratégias comunicacionais. Logo os pesquisadores têm que entender o que mudou na "cultura de consumo" para que essas pesquisas sejam tão essenciais para as grandes empresas multinacionais, pois são elas que indicam as mudanças na forma de comunicação de um produto. Com o passar dos anos, o termo tendência passou por diversos usos e se adaptou para como é conhecido hoje, pelo sistema de moda, como uma evolução necessária e imprevisível. As tendências surgem “das idéias de progresso e evolução que Darwin desenvolveu” (RECH; MORATO, 2009, p. 02) Back (2008) descreve que pesquisar tendências é compreender as influencias exercidas em um contexto e distinguir sua evolução, visando entender suas futuras consequências. Atualmente, a moda se encontra em uma sociedade dominada pela efemeridade, e com consumidores com ânsia a novos produtos. E consequentemente as empresas necessitam estar sempre à frente dos desejos dos seus consumidores. Ao longo dos anos, essas pesquisas tornaram-se fundamentais para as empresas, para a criação de novos produtos, com algo que o consumidor deseja. Para as empresas, o estudo de comportamento do consumidor procura identificar ideias ou experiências para satisfazer seus desejos e necessidades. Compreender seu comportamento é fundamental para a criação de novos produtos. Nas análises, os pesquisadores usam ferramentas das áreas de psicologia e antropologia. (PICOLI, 2009, p. 14) Para Fontenelle (2004), a pesquisa de tendência é essencial para as empresas criarem produtos inovadores. Porém, antecipar tendências que serão importantes para os consumidores no futuro, de forma a garantir o sucesso de um negócio de moda, ainda é um grande desafio. Para Rech e Perito (2009, apud ERNER, 2005, p.05), na moda, a tendência surge quando uma pessoa capacitada a cria. Estilistas, atores, cantores e pessoas que de alguma forma estão em evidência são o exemplo 13 disso. Pois essas pessoas conseguem influenciar um maior número de pessoas que querem ter o que a celebridade usa. As pessoas famosas, por serem pessoas que estão na mídia, e tem seus fãs como seguidores, acabam sendo pessoas aptas a lançarem tendências. E são a essas pessoas que as empresas recorrem quando querem divulgar um novo produto ao mercado. Pois elas têm um grande poder de persuasão com o seu público. 2.1 Pesquisa de Tendências As tendências de moda também são chamadas de tendência de curto prazo, ou seja, tem um período inferior a dois anos, e são fenômenos passageiros, que simplificam as incertezas da cadeia produtiva de moda. São sinais que antecedem as manifestações do tempo, influenciando no consumo e no comportamento direcionado a desejos e gostos. Essas tendências ocorrem em ciclos, pois surgem se popularizam e sofrem declínio. Elas identificam cores, temáticas, formas, tecidos, aviamentos, princípios e elementos do design de moda para cada estação, apontando possíveis direcionamentos estilísticos. (RECH, 2009) A pesquisa de tendência voltada para a moda torna-se um imperativo para as empresas, pois as tendências, conjuntos e hábitos, preferências e desejos de uma sociedade em determinado momento, condicionaas preferências dos consumidores e a sua aceitação ou rejeição das propostas das marcas. Há tendências para cores, formas e texturas (características funcionais); e mesmo para valores sociais (características simbólicas). (Cristo, 2006, p.8) Ao compreender a complexidade do comportamento de compra, podemos compreender a forma no qual o mundo social e cultural atua sobre a sociedade. Esses conhecimentos, junto ao marketing, a sociologia ou a antropologia, possibilitam novos entendimentos dos consumidores. O comportamento do consumidor é um processo que parte de influências internas e externas, e que difere por pessoas. “Pode ser explicado pela necessidade de expressar significados mediante a posse de produtos que comunicam à 14 sociedade como individuo se percebe enquanto interagem com grupos sociais” (MIRANDA, 1999, P.3) “Desde os anos 1970, a ‘forma moda’ foi identificada por outros autores como um fato social, o que significa que o seu modo de funcionamento alastrou-se para todas as esferas da sociedade e da cultura” (CALDAS, 2006, P. 43). Para Lipovestsky (1991), a moda funciona como um espelho da sociedade, portanto se tornou algo que pode ser pesquisado em qualquer lugar, nas ruas, na internet e nos costumes e hábitos de uma cultura. Os sinais que a sociedade manifesta necessitam ser compreendidos, analisados e interpretados por profissionais preparados. As influências se tornam um reflexo da modernidade, depois de observadas e analisadas pelos pesquisadores. (RECH, 2009, p.2) Segundo Neves e Branco (2000, p.41), a moda funciona como um dos segmentos mais avançados junto às novas exigências de consumo. Isto porque ela funciona em antecipação, sendo uma importante parte da investigação, que dará origem a novos produtos, no estudo e análise dos estilos de vida dos consumidores. Para Lipovetsky, o surgimento de uma multiplicidade de oferta possibilitou uma multiplicidade de escolhas. As pessoas são estimuladas a pesquisar seus gostos, costumes e personalidade e investir e si a partir das suas próprias características e não segundo a dos outros. Hoje os indivíduos buscam legitimar-se e não legitimar o grupo ao qual pertencem. (TOALDO, 1997, p. 89) Portanto, a previsão de tendências tornou-se um produto com alto valor acrescentado no mercado. Antecipar e monitorar as tendências é, atualmente, um serviço crítico para o sucesso dos produtos e das empresas. Para Picolli (2003 apud. GENTILLE, 2006, p. 45) a sociedade contemporânea passou a participar ativamente da moda, não só através da demonstração de seus gostos, desejos e necessidades, mas também consumindo a própria moda, enquanto informação. O entendimento das atitudes dos consumidores é o que os profissionais necessitam para captarem essas novas tendências. 15 2.2 Coolhunting “Esta necessidade de antecipação de tendências no mercado da moda impulsionou a emergência de uma nova abordagem na investigação nas pesquisas, o coolhunting, que utiliza um dos métodos mais atuais de pesquisa de tendências, capturando-as onde acreditam que elas surgem na cultura jovem urbana que integra os grupos de consumidores inovadores, particularmente receptivos ao novo, às propostas de moda de vanguarda. As pessoas mais jovens já adaptadas a culturas de consumo atual possuem um alto grau de curiosidade, de gosto pelo novo e estão predispostas a experimentar o diferente, em nome da experiência” (PICOLI, 2009, p.3) Uma peça chave nesse processo, sem duvida, é o pesquisador dessas tendências, pois é ele que vai detectar os sinais e interpretá-los, para saber se essas informações serviram ao não. Picoli (2009 apud Campos, 2007. P.35) também afirma “[...] cumpre ao pesquisador captá-los e compreender as suas mensagens no timing certo, podendo assim construir cenários estrategicamente eficientes para o lançamento de produtos.” Neves e Branco (2000) complementam essa afirmação ao dizer que umas das principais competências do pesquisador de tendências são: a capacidade de percepção e a leitura dos sinais da sociedade. Porém, na pesquisa podem-se ter várias abordagens, umas delas é o Coolhunting que surgiu para estudar e analisar as tendências de comportamento jovem, seus interesses e suas atitudes inovadoras. (Rech, Morato, 2009) Substituindo ou complementando as tradicionais pesquisas de mercado, especialmente as quantitativas, a caçada ao cool, visa descobrir o que está acontecendo na cultura jovem e que será mais importante no futuro no sentido de constituírem tendências com alta probabilidade de se transformar em consumo. Os coolhunters estão aparecendo para poder aventurar-se na vida do consumidor, entendê-lo e poder criar uma conexão emocional que as marcas necessitam. (PICOLI, 2009, p.31) 16 Os coolhunters são os profissionais que utilizam esse método para pesquisar tendências. Com as ferramentas necessárias, esses profissionais podem antecipar o que será desejado pelo mercado de moda. Não existe uma formação específica para ser um coolhunter, cada pesquisador utiliza sua própria forma de pesquisa, para a compreensão do que virá a ser tendência. (CORDEIRO. PINTO, 2010, p.1) Riezu (2011, p.7) afirma que “o bom coolhunter encontra uma ideia disfarçada sob uma camuflagem de simplicidade cotidiana.” Picoli (2009) o denomina como um profissional que se dedica a identificar possíveis padrões futuros de comportamento e atitudes. A pesquisa de tendências apresenta-se como um espaço necessário para o processo de antecipação permanente, para que as empresas possam enfrentar, com sucesso, a crescente pressão concorrencial no mercado. O papel do estudo do consumidor é crucial na moda, pois são eles e não as marcas a moldar as mudanças na sociedade e suas exigências. (PICOLI, 2009.p.04) Cada vez mais os consumidores anseiam por algo novo, algo que satisfaça seus desejos. Quando esses consumidores procuram algum produto novo para consumirem, as empresas já devem estar preparadas para atender esses desejos e oferecer exclusividade para esses clientes, e ficando à frente dos seus concorrentes. A interpretação de vários fatores, como os culturais, sociais, entre outros, e a sua análise, permitem que as empresas tenham conhecimento sobre o que o seu público-alvo anseia, e assim conseguem a informação necessária para desenvolver produtos de preferência dos mesmos. (PICOLI. 2009) Picoli (2009 apud ROHDE, 2006, GLADWELL, 2005, p. 28) denomina o termo cool como algo recente e que é entendido como aquilo que as pessoas fazem ou adotam e que realmente lhe agrada, aquilo que eles estão predispostos a aceitar ou fazer. O termo também aparece como forma de 17 expressão, a diferenciação e a individualidade do que os jovens querem. O cool denomina um indivíduo que estabelece suas preferências, que difere da maioria da sociedade. Para Riezu (2011, p.15), “a chave do coolhunting é primeiro procurar pessoas cool, para depois encontrar o cool. Nunca o inverso.” A autora também relata que eles devem ser contemporâneos, mas não modernos, ter interesse não só pelas coisas achadas na sua época, mas também pelo o que está por vir. [...] os coolhunters atuam em campo, em busca de novidades, de pessoas, de estilos e atitudes diferentes. Com câmera fotográfica, ou filmadora, e bloco de anotações, eles registram composições inusitadas e harmoniosas, que chamam a atenção, de maneira positiva. O objetivo é captar o que determinadas pessoas cool fazem que influenciam outras, para então se transformar em produtos de consumo.[...] (Rech; Morato, 2009, p.05) Os coolhunters provavelmenteforam os primeiros a perceber que a influência social, consequente de características ligadas a personalidade, tais como admiração, o grau de autenticidade, atitudes, gostos, expressão, nada tem a ver com o estatuto social. Os coolhunters são profissionais que dominam as áreas de marketing e comunicação e sempre estão atualizados as últimas tendências sócio-culturais. Estando sempre atento as realidades das tribos a que pertencem os indivíduos pós-modernos, para obter as ferramentas para as suas pesquisas. (PICOLI, 2009) [...] E as informações culturais obtidas são transmitidas aos clientes corporativos que, por sua vez, usam essas informações para transformar a “tendências” não apenas em produto, mas, especialmente, em uma forma de comercialização que incorpore símbolos, imagens e temas em sua comunicação mercadológica, “para mostrar ao público-alvo que a empresa fala a língua deles. (FONTENELLE, 2004, p. 172) Para Cordeiro e Pinto (2011, p.01) a internet permite que as tendências de moda e comportamento fiquem mais acessíveis ao coolhunter, entretanto 18 pela internet ser um local de efemeridades, permite o aparecimento de novos comportamentos em um espaço muito extenso. Avelar (2009, p. 87) afirma que a busca incansável por novidades, visando a conquista de novos mercados, ocorre devido à atual dinâmica da globalização. Hoje um pesquisador consegue colher informações de maneira rápida e eficiente, devido à facilidade que podem gerar e trocar informações ao redor do mundo mediante as tecnologias digitais. 2.3 Globalização Podemos afirmar que a globalização é uma ordem econômica e social que gera uma integração entre países e pessoas em diversos locais do mundo, e é através desse processo que as pessoas, os governos e as empresas trocam informações - gerando assim transações financeiras e comerciais que também difundem aspectos culturais. Para Mendonça, o capitalismo juntou o mundo em uma única economia, com as grandes navegações. Porém o conceito de globalização é utilizado para indicar o processo um tanto recente que é a internacionalização das relações econômicas junto às novas tecnologias de transporte e das telecomunicações. Entretanto não se pode afirmar que a globalização uniformiza todo o mundo, porque, segundo Canclini (2007, p.41), “ela nem se quer conseguiu um consenso do que significa ‘globalizar-se’, nem quanto ao momento histórico em que seu processo começou, nem quanto a sua capacidade de reorganizar ou decompor a ordem social”. Lastres e Albagli (1999) afirmam que a globalização quando descrita como um mundo sem fronteiras com mercados de capitais, informações, tecnologias, serviços e entre outros, e com um sistema econômico mundial, não passa de um mito. Os autores questionam também se de fato existe um comércio global e até mesmo a real extensão e significado da globalização. 19 Para Mazo, Teixeira e Hernandes (2004), nos tempos atuais, a globalização se faz presente nos avanços tecnológicos, que desde a evolução dos transportes, a chegada da informática nos anos 60, sua popularização nos anos 80 e da explosão das redes de comunicação nos anos 90, fez com que as trocas de informação e comercialização de produtos tivessem uma velocidade sem procedentes. Desse modo pode-se ver que historicamente a globalização é um processo cíclico que reflete a predominância social de cada época. Assim, em cada período histórico ela possui características próprias. A globalização moderna difere das anteriores por estar baseada no elevado avanço tecnológico e na expansão capitalista levada a cabo principalmente por pressões dos países industrializados. Assim a globalização é um processo ao mesmo tempo em que é resultante de outros processos. (MAZO; TEIXEIRA; HERNANDES, 2004, p.03) Portanto, podemos dizer que a junção das nações e dos povos que ocorre nos tempos atuais se deve aos avanços tecnológicos, pois foi por causa desses avanços que aproximou e conseguiu promover a interação entre povos distantes. A globalização vai além das relações comerciais e financeiras. A internet se tornou o meio mais rápido e eficaz para se comunicar com pessoas de outros países e até conhecer aspectos culturais e sociais. As pessoas estão conectadas e difundido ideias, criando assim uma Aldeia Global. Albagli e Lastres concluem que: [...] a ampla difusão das tecnologias de informação e comunicação, as quais proveram os meios técnicos que possibilitaram a ruptura radical na extensão e velocidade dos contatos e de trocas de informações possíveis entre diferentes atores individuais e coletivos. (ALBAGLI; LASTRES, 1999, p.12) Mendonça afirma que a internet facilitou a formação não só de redes de comunicação instantânea, como também de redes de produção, de serviços (comércio e entretenimento) e de investimentos com a capacidade realização de atividades simultâneas entre os pontos mais distantes. 20 Para Avelar (2009, p.84) “o processo de globalização coloca diversas culturas numa vitrina mundial, na qual os exemplos exóticos distantes sejam trazidos diretamente para o lar.” Segundo Canclini (2007, p.43), devido ao aumento do cruzamento de diversas culturas locais, é criada uma cultura mundial, que resulta em culturas híbridas de escala internacional, vistas principalmente em centros urbanos e através de vias digitais. E, em função dos desenvolvimentos tecnológicos na área de comunicação, as culturas se juntam umas às outras de forma intensa, não dependendo mais apenas dos Estados-nação. A propagação de informações através de aparelhos digitais levam a ideia de tendência a se difundir e se diversificar instantaneamente. Os pesquisadores de tendências que estão espalhados pelo mundo munidos por câmeras digitais enviam suas informações para serem analisadas diretamente para as suas empresas contratadas através de sites, ou até mesmo sites e blogs de informações sobre tendências, sendo esse envio de informações facilitado pelo uso das novas mídias. (AVELAR, 2009) 2.4 Novas Mídias e Moda Para Manovich (2005 p.25) o campo das novas mídias começa a tomar forma no fim da década de 1980. Foi quando surgiram novas instituições dedicadas à produção e apoio a arte das novas mídias na Europa. Para o autor, as novas mídias são compreendidas como atividades artísticas baseadas no computador. As novas mídias se fazem presentes em diversos setores, como na música, cinema e nas artes. Pois todos esses objetos culturais podem hoje em dia ser executados através de um computador. Contudo para ser uma nova mídia não basta ser produzido através dessas tecnologias, se não forem para ser executadas em um computador. Fazendo assim do computador um importante meio para a cultura, já que muitas delas vão depender das novas mídias para sua distribuição. 21 Manovich (2005) também afirma que a comunicação está sofrendo uma grande influência pelos computadores e que o mesmo é importante não só pela distribuição dessas mídias, mas também pela produção e armazenamento desses conteúdos. De acordo com Thompson (1998, p.90), para entender as transformações culturais agregadas ao surgimento das sociedades modernas, deve-se uma grande importância ao desenvolvimento da mídia e ao seu impacto. Todas as formas de mídias como as imagens tanto em movimentos como as estáticas, texto e sons já estão sendo produzidas, e também transferidas para o meio digital para serem acessadas através de um computador, por quaisquer pessoas. Uma grande vantagem da nova mídia é que ela é totalmente interativa, podendo ser manipulada pelo usuário. Nesse processo, elepode escolher os elementos que serão expostos ou quais padrões seguir, transformando em um trabalho único e tornando-se co- autor do mesmo. (FIGUEIREDO, 2009) Por ser de acesso fácil, torna mais fácil sua massificação, sendo a internet um fator primordial para que isso aconteça, pois a distribuição é feita através de computadores. Sendo assim, um artista não depende mais como antes da televisão para se tornar famoso e um músico da gravadora para lançar sua música no mercado. Pois qualquer um que tenha uma rede social pode fazer sua autopromoção, divulgando seus trabalhos através desse meio, que acabou se tornando uma via direta com seu público, com quem pode interagir e saber como esta a aceitação do seu trabalho. Sucessos da web comprovam esta realidade, onde o poder da comunicação está descentralizado; não está mais nas mãos de poucos e cada vez mais o indivíduo ganha força através de suas redes sociais. Para Figueiredo (2009), as redes sociais se tornaram ao longo desses últimos anos o principal meio de comunicação mundial, diminuindo a distância, 22 territorial e linguística, entre os indivíduos. Pois com a internet, e mais precisamente com as redes sociais, as pessoas se encontram ligadas e perto umas das outras não importando em qual lugar do mundo possam estar. Neste novo momento, as pessoas podem ter ao alcance da "ponta dos dedos" acesso a um mundo de informações vindas de lugares onde jamais poderiam imaginar ter contato. Aqui se estabelece uma rede de conversação onde se trocam reclamações e compromissos, ofertas e promessas, aceitações e recusas, consultas e resoluções. É o mundo conectado em rede, onde os indivíduos participantes dessa nova realidade comunicativa levam o mundo interior de cada um para o espaço público. (FIGUEIREDO, 2009, p.14) De acordo com Benini (2011, p.12), “a comunicação online permite uma interação com o público inexistente em outras mídias.” De imediato é possível analisar os resultados de uma ação, identificar e modificar estratégias que não funcionam, responder em tempo real e também expor e compartilhar facilmente materiais. Segundo a autora, sites, comunidades, blogs e redes sociais em geral são canais de comunicação do público em geral, sendo que esses canais não são canais exclusivos. E que uma informação compartilhada está sujeita a ser vista e replicada por qualquer outra pessoa também presente na web, não importando se de forma negativa ou positiva. Para Madalosso (2010, p.07), a comunicação sofreu grandes modificações com a chegada da web 2.0. Agora todos podem produzir e compartilhar conteúdos online. Pelo computador, a todo momento ocorrem processos de interação social. Através de blogs e sites de redes sociais, o público passa a dar atenção ao que está sendo comentado por seus contatos. De acordo com Moura (2010), a internet é uma grande rede de comunicação, informação e divulgação, e houve um crescimento significativo na sua utilização pela área de moda, podendo ser observado no comparativo de dados dos últimos dos anos. Segundo dados do Google, no mês de junho de 2009, existiam no Brasil 1.230.000 sites de moda, 1.190.000 blogs de moda e 579.000 comunidades de moda na internet. Em maio de 2010 esses números apontam os seguintes números: 23 3.750.000 sites de moda; 8.310.000 blogs de moda; 2.540.000 comunidades de moda. Os índices de crescimento apontam, no mínimo, mais de 300% ao ano para todos esses segmentos de mídia digital focados no tema moda. (MOURA, 2010, p.05) Com o surgimento e expansão das mídias, os profissionais e empresas da área de moda também passam a se interessar por esse segmento, vendo ali uma grande oportunidade de divulgação, avaliação dos seus negócios e também por estar mais perto do seu público alvo. Para Ramos (2011), em busca de consumidores, as empresas de moda e beleza invadiram as redes sociais para trocar ideias e convencer os usuários do valor de suas marcas. É crescente o número de páginas no Facebook, perfis no Twitter, e comentários em blogs, que tentam chamar atenção pelas redes com informações exclusivas ou notícias. Entrar no mundo da moda através das comunicações e da internet, hoje, classificada como era Web 2.0, é uma questão fundamental na sociedade, não só pelo fato da moda e sua indústria estarem tomando cada vez mais poder e espaço no mercado e na mídia, mas também pelo fato que todas as pessoas são “tocadas pela moda”. O interesse e aproximação com a temática é no intuito de trazer algumas contribuições e esclarecimentos básicos sobre o universo que comporta a informação de moda, as redes sociais em específico, e os blogs de moda. (Bortoluzzi; Hinerasky, p.02 ) Para Madalosso (2010), com a chegada da web 2.0, houve uma transformação no cenário de comunicação. Os modos de interação e a forma como as pessoas se relacionam com as informações mudou. Agora todos podem produzir e compartilhar produtos online. Processos de interação social ocorrem a todo o momento através de um computador, o público passa a dar atenção ao que esta sendo dito na rede, e os depoimentos ganham uma força. E é justamente neste ambiente interativo que surgem os blogs e redes sociais específicos de moda, causando uma grande revolução no cenário da 24 moda. Hoje, eles servem como uma nova fonte de inspiração tanto para os criadores, e pesquisadores como também para os consumidores. De acordo com Madalosso (2010 apud MCCRACKEN, 2003, p. 18), “com o auxílio da mídia, o sistema de moda é responsável por impulsionar conceitos e idéias pelo mundo, contribuindo na construção de identidades e atuando como um agente essencial para a comunicação entre indivíduos.” Atualmente as pessoas usam as redes sociais e os blogs para obterem informação de moda, não precisando mais de revistas e programa especializados para poder saber o que as pessoas e estilistas estão desfilando nas ruas ou passarelas. Riezu (2011, p. 42) complementa que “na internet, um fato pode encontrar eco universal e imediato, mas muito frequentemente são as ideias extravagantes – mais do que as boas - que costumam chamar a atenção.” Também, para a autora, na rede todos podem dizer algo, e que isso a princípio soa bem. Mas que acaba gerando informações confusas. Indica-se a internet como um meio que auxilia com eficácia as pesquisas de tendências, tanto em sites específicos com em blogs e páginas pessoais. Na rede, as informações têm mais rapidez, o que torna a pesquisa de tendências ainda mais veloz, democrática e globalizada. No entanto, como a internet é um instrumento de pesquisa acelerado e de livre acesso, é preciso ter bastante cautela, pois nem toda informação presente na rede é segura. Cabe ao pesquisador julgar se os dados coletados têm relevância e confiabilidade. (RECH e CAMPOS, 2009, p.04) Para Riezu (2011, p.65), “a rede não é só um lugar para obter informação e se expressar. Ela se transformou em uma fonte de ideias inovadoras, a disposição de quem souber encontrá-las e coloca-lás em prática”. A utilização da internet pelos coolhunters como uma fonte de pesquisas ocorre através de sites e blogs, onde eles podem acompanhar a vida das pessoas que eles acham que são as responsáveis pelo lançamento e propagação de tendências. - acompanhando sites e blogs pessoais que são 25 atualizados diariamente, com fotos, histórias e músicas. Criando uma espécie de diário virtual, onde os usuários relatam suas vidas, preferências e atitudes. Os coolhunters podem obter de forma rápida as informações que necessitam. (PICOLI, 2009) Picoli (2009, p. 56), cita que “existem também sites e blogs ondecada um pode expor uma foto sua, ou de alguém que ache cool, e outros darão notas e opiniões. Estes sites são ótimos para se entender o que os jovens acham cool hoje”. Com a característica de divulgadora e lançadora de tendências, as mídias sociais se transformam em grandes aliadas aos caçadores de tendências. 26 3. NETNOGRAFIA APLICADA AO COOLHUNTING Graças à velocidade cada vez mais rápida das mudanças e inovações, que se encontra no mundo atualmente, as empresas necessitam mais do trabalho do coolhunter, que tem como principal objetivo fornecer informação válida e relevante sobre inovações e tendências, que podem ter um impacto positivo ou negativo nos negócios. Todas essas tendências e inovações são cada vez mais velozes e as redes sociais contribuindo com isso. Estas redes sociais têm um papel importante quanto à criação e difusão das novas tendências, já que essas tendências sempre vão juntas com a tecnologia de informação para poder proporcionar novidades aos consumidores. O trabalho de coolhunting pode ser realizado em diferentes espaços, ao redor do mundo, a partir da observação direta. Entretanto não é uma atividade que se limita só a ambientes físicos. Com o auxílio de profissionais especializados, é possível buscar tendências também na internet, onde os sites de redes sociais são um ambiente bastante apropriado para exercer essa atividade. Neles os usuários podem expressar suas opiniões, desejos, hábitos e preferências, fornecendo algumas informações necessárias para o prenúncio de tendências. (CERQUERIA, 2009) Embora os dados coletados na internet devam, para uma análise mais completa, ser cruzados com aqueles oriundos de outras fontes, as informações aqui obtidas trazem algumas facilidades, a saber: a visibilidade do meio, já que boa parte dos perfis em redes sociais online são públicos; a permanência da informação seus emissores, em alusão a memória da internet; e a espontaneidade existente hoje, uma vez que aqui os usuários ainda se expressam com naturalidade. (CERQUEIRA, 2009, p.35) Porém o uso da internet para as pesquisas ao mesmo tempo em que agrega pontos favoráveis aos coolhunters, também impõem desafios. O fato de as informações que ali se encontram também estarem disponíveis para os 27 concorrentes. Além disso, as mídias sociais constituem ambientes extremamente dinâmicos, os dados que foram coletados ontem já podem estar desatualizados hoje, o que demanda um ritmo acelerado e cauteloso durante o levantamento de dados. (PICOLLI, 2009) Com base nessas considerações e nas especialidades dos ambientes online, torna-se evidente a necessidade de uma metodologia apropriada para a pesquisa e leitura de tendências nas mídias sociais. Segundo Cerqueira (2009, p.36), participação e observação cultural são a base do trabalho de um coolhunter, que busca reconstruir com profundidade cenários culturais. Nesse sentido, esses profissionais utilizam de algumas técnicas da Antropologia, que auxiliam na identificação dos futuros padrões buscados. 3.1 Antropologia A Antropologia constituiu-se, historicamente, como o estudo do outro, entendido como outra sociedade, outra cultura, outro grupo social, enfim, aquele que se comporta de forma diferente. A antropologia é usada para conhecer e entender a nível mais profundo os comportamentos, dinâmicas, motivações e práticas dos diferentes grupos sociais. (FIORAVANTI, 2002) Para Brandão (1987, p.5), a Antropologia é uma ciência dedicada entender melhor a sociedade humana a partir das suas representações sociais, aquilo que fazem quando vivem e pensam. Para alguns antropólogos, a Antropologia estuda a sociedade como um sistema de símbolos e significados. Proveniente da investigação de sociedades “simples”, onde o sentido do todo domina a razão de ser de cada um de suas partes de vida social e simbólica, a Antropologia aspira ainda a lidar com estruturas, relações e símbolos sociais como fatos sociais totais, feliz expressão de Marcel Mauss, um dos fundadores da Antropologia Social. (BRANDÃO, 1987, p.49) 28 A Antropologia social e cultural chamada também de etnologia é apenas um campo da Antropologia, e abrange a tudo que compõe uma sociedade, sua organização política e jurídica, suas crenças religiosas, sua psicologia, sua língua, sua economia, entre outros aspectos que regem uma sociedade. (LAPLANTINE, 2007, p.19) No coolhunting, a chave correta é a observação das pessoas responsáveis pelo lançamento de tendências e todo o seu universo. Por isso, o coolhunter está sempre ligado ao mundo da subcultura, pois é ali que vai encontrar os sinais que procura para fazer suas análises das futuras tendências. (PICOLI, 2008) “As subculturas, antes chamada de cultura de rua, são geralmente definidas como subgrupos com estruturas sociais identificáveis, formas características de expressão simbólica, rituais próprios e conjuntos específicos de valores e crenças compartilhados” (CRANE, 2006, p. 370) 3.2 Etnografia A Etnografia, que constitui uma área da Antropologia, é um método de investigação especialmente indicado na identificação de tendências. Além de propor diferentes técnicas para a coleta de dados (entrevistas, observação e documentos, resultando em descrições narrativas com eventuais fotos, gráficos etc.), ela compreende a realidade a partir de um viés cultural, em que o pesquisador mergulha no campo de trabalho, a fim se melhor compreendê- lo. (CERQUEIRA, 2009) Para André (1995, p.27), a etnografia é um esquema de pesquisa desenvolvido pelos antropólogos para estudar a cultura e a sociedade. Etimologicamente etnografia significa “descrição cultural”. Esse termo, para os antropólogos, apresentam dois sentidos, sendo eles, técnicas que eles usam para coletar dados sobre os valores, hábitos, as crenças, as práticas e os comportamentos de um determinado grupo social; e um relato escrito resultante do emprego dessas técnicas. 29 a etnografia tornou-se um meio de falar sobre teoria, filosofia e epistemologia simultaneamente no cumprimento de sua tarefa tradicional de interpretar diferentes modos de vida. (OLIVEIRA, 2000 apud. MARCUS; CUSHMAN, ANO, p. 37) Para Picoli (2008 apud. Barile, 2004, p.118), o coolhunter é um jovem “etnógrafo”. Se um etnógrafo tradicional estuda outra cultura o coolhunter estuda sobre o contexto da cultura jovem, que se tornou nos últimos anos a chave da criatividade das empresas, em busca da autenticidade que se encontra naturalmente dentro da cultura jovem. Ao oposto do etnógrafo tradicional, o coolhunter vai direto ao encontro do grupo que vai analisar, sabendo previamente o que irá observar e onde. Amaral, Natal e Viana (2008 apud. Hine, 2000, p.35) a etnografia consiste em sua forma básica que o pesquisador submerja no mundo que irá estudar por determinado tempo e leve em consideração as relações que se formam entre os participantes dos processos sociais, com o objetivo de dar sentido às pessoas, sendo esse sentido só por suposição ou pela maneira implícita em que as próprias pessoas dão sentido a vida. O etnógrafo é um pesquisador que vai ao encontro do objeto pesquisado. A interação constantemente entre o pesquisador e o objeto pesquisado é uma característica forte desse tipo de pesquisa, além da ênfase no processo, no que esta ocorrendo e não no produto ou no resultado final. O que caracteriza esse fenômeno? O que está acontecendo nesse momento? são perguntas que são feitas nesse tipo de pesquisas. (ANDRÉ, 1995) Assim, o pesquisadoracaba sendo o principal instrumento nos processos de coleta e análises de informações. Isso permite que as técnicas de coleta possam ser modificadas, se necessário, e a metodologia durante o desdobramento do trabalho se necessário. O etnógrafo não é um simples voyeur ou um observador desengajado, mas é, em certo sentido, um participante compartilhando algumas das preocupações, emoções e compromissos dos sujeitos pesquisados. Essa forma estendida depende também da interação, em um constante questionamento do que é possuir uma compreensão 30 etnográfica do fenômeno. (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008 apud. HINE, 2000, p.47) 3.3 Netnografia Para Montardo e Rocha (2005, p.01), a metodologia para o estudo de práticas comunicacionais intercedidas por um computador recebe o nome de Netnografia, ou etnografia virtual e sua adoção é validada no campo da comunicação pelo fato de que “muitos objetos de estudo localizam-se no ciberespaço” e necessitam de instrumentos apropriados para as suas pesquisas. Portanto, a Netnografia é um dos métodos qualitativos que amplia os estudos em comunicação e cibercultura. Segundo Pereira (2007, p. 359), a netnografia é uma adequação dos métodos qualitativos que são utilizados nas pesquisas de consumo, antropologia e estudos culturais, com o objetivo de estudar o comportamento do consumidor dentro das comunidades virtuais e de produtos da cibercultura. A partir da necessidade de estabelecer pesquisas em ambientes online, Robert Kozinets cunhou a expressão “Netnografia” também conhecida como “Etnografia Digital” que constitui “uma descrição escrita resultante do trabalho de campo que estuda as culturas e comunidades on-line” emergentes, mediadas por computador, ou comunicações baseadas na internet, onde tanto o trabalho de campo como a descrição textual são metodologicamente conduzidas pelas tradições e técnicas da Antropologia cultural. (Cerqueira, 2009, apud KOZINETS, 1998, p.36) Esse tipo de metodologia começou a ser explorada a partir do surgimento das comunidades virtuais, no final dos anos 80. No Brasil, porém, são poucos os estudos voltados para esta questão, no que diz respeito à metodologia em si ou aos objetos analisados. (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008) [...] o uso persistente do termo etnografia na pesquisa online é determinada em parte por causa da idéia – ou a construção – do ciberespaço. Toda cultura está inserida em um espaço, e a etnografia tradicionalmente surgiu a partir da investigação de outras culturas em outras terras. Uma 31 abordagem fenomenológica não depende de um espaço, nem um estudo de caso, ou uma análise de discurso. Seria a idéia de ciberespaço essencial á etnografia online?[...] (NOVELI, 2010 apud. MITSUISHI, 2006, p.7) Há uma grande disponibilidade de informações na internet, mas não é só essa disponibilidade de informações a respeito de objetos de pesquisa na internet que é fator decisivo para o emergir de uma metodologia de pesquisas online, mas ainda a localização dos objetos no ciberespaço, além do posicionamento da internet como próprio objeto de estudo em sua intrínseca relação com diversas culturas. (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008) A Netnografia como mudança virtual das formas de pesquisa face a face, proporciona vantagens, como o fato de consumir menos tempo, ser menos custosa e menos subjetiva, além de menos invasiva já que se pode comportar como uma janela ao olhar do pesquisador sobre comportamentos naturais de uma comunidade, fora de um espaço fabricado para a pesquisa, sem que esta interfira diretamente no processo como participante fisicamente presente. (AMARAL; NATAL; VIANA, 2008 apud KOZINETS, 2002, p.36) Os autores também afirmam que, por outro lado, perde-se em termos de gestuais e de contato presencial off-line que podem revelar nuances obnubiladas1 pelo texto escrito, emoticons, etc. Cerqueira (2009, p.36) afirma que “a etnografia digital exige procedimentos específicos, a depender dos objetivos e dos campos que estejam diante do pesquisador. Nesse sentido, ela também solicita por vezes uma aproximação com outras metodologias.” A netnografia exige combinação imersiva entre participação e observação cultural com relação às comunidades pesquisadas, sendo que o pesquisador deve ser reconhecido como um membro da cultura, um elemento importante do trabalho de campo. (Montardo; Passerino, 2006 apud Kozinets, 1997, p. 5) 1 Para Michaelis (2002) obnubilar é “Obscurecer, esconder”. Verbete obnubilar. 32 Por ser uma transposição de metodologia do espaço físico ao espaço on- line faz-se necessários procedimentos específicos da tipologia dos objetos estudados. Amaral, Natal e Viana (2008, p.33) destacam os critérios utilizados por Kozinets (1997) para a escolha de seus informantes e grupos estudados: “(1) indivíduos familiarizados entre eles, (2) comunicações que sejam especificamente identificadas e não-anônimas, (3) grupos com linguagens, símbolos, e normas específicas e, (4) comportamentos de manutenção do enquadramento dentro das fronteiras de dentro e fora do grupo (KOZINETS, 1997, p. 9).” Ainda segundo os autores, “a intenção da utilização desses quatro critérios garante que se está de fato estudando uma cultura ou uma comunidade, (...) e não simplesmente examinando uma reunião temporária (KOZINETS,1997, p.38).” Kozinets (1997) especifica ainda quatro procedimentos básicos de metodologia para a netnografia são elas: 1. Entrée cultural: É a preparação para o trabalho de campo, sendo uma etapa delimitada pelo pesquisador. Onde são definidos os objetivos, tópicos, grupos e espaços onde a pesquisa será realizada e também as ferramentas que serão utilizadas para a coleta e armazenamento de dados. É a preparação da pesquisa onde o pesquisador escolhe previamente quais tópicos e questões pretende analisar e em quais tipos de comunidades, fóruns e grupos ele pode obter respostas satisfatórias para a sua pesquisa. 2. Coleta e análise de dados: É quando o pesquisador consegue os dados e os interpreta, transformando-os em informação; Para a coleta e análise, há três tipos de captura de dados: a primeira consiste que nos dados coletados e copiados dos membros das comunidades se faz necessário utilizar filtros para que somente fiquem informações relevantes a 33 pesquisa; a segunda refere-se às informações observadas das práticas comunicacionais dos membros das comunidades, das interações e simbologias; a terceira vem dos dados que são das entrevistas feitas através da troca de e-mails ou em conversas em chats, mensagens instantâneas ou outras ferramentas. 3. Ética de pesquisa: É quando o pesquisador identifica-se como tal, e identifica o interesse de sua pesquisa para solicitar a permissão para o uso das informações obtidas, entre os participantes das comunidades e fóruns. Dando garantias de confidencialidade e anonimato, tratando os envolvidos por pseudônimos e não por seus nomes de usuário. 4. Feedback: É quando ocorre a checagem de informações com os membros do grupo pesquisado, e a apresentação do relatório final a alguns participantes, de forma que haja uma avaliação do material, bem como ideias adicionais. A checagem de dados com os membros do grupo pesquisado valida e dá credibilidade à pesquisa, podendo-se chegar, através das opiniões do grupo, em insights e conclusões além das observadas em campo. Cerqueira (2009) destaca os possíveis benefícios, fundamentados a partir de uma perspectiva Netnografica com aplicação direta para as diferentes organizações:descrever e analisar dinâmicas, apropriações, práticas, desejos, expectativas, crenças e conhecimentos comuns a um determinado grupo social presente em um ou mais espaços online pré-definidos. Sendo essas informações essenciais para o coolhunting, podem trazer confiabilidade aos trabalhos realizados por esses profissionais. A presente sistematização do trabalho de coolhunting nasce com um objetivo: refletir e organizar as práticas que identificam tendências em mídias sociais. Por se tratar de um processo dinâmico e contínuo, não é possível estabelecer uma proposta de atuação singular, que seja aplicável a diferentes clientes e 34 objetos de estudo. Além disso, as etapas que se seguem não constituem o único caminho existente até as possíveis tendências, constituindo apenas uma opção, entre tantas outras, de trabalho. (CERQUEIRA, 2009, p.37) A autora com base nos métodos da Netnografia estabelece etapas no trabalho de coolhunting em mídias sociais. A mesma destaca três etapas que auxiliam a identificar caminhos futuros a partir dessas mídias. São elas: 1) Preparação – Momento onde serão escolhidos os procedimentos para o trabalho de coolhunting. Fazem parte dessa etapa a escolha dos objetivos, público e espaços. • Objetivos – O que se deseja buscar nas mídias sociais? As tendências podem abranger varias áreas de atuação, para ter um direcionamento em seu trabalho, o pesquisador deve ter claro quais os tipos de tendências, em quais áreas que está à procura e que tipo de conteúdo deseja encontrar, como por exemplo, texto, fotos, vídeo, entre outros conteúdos disponíveis online. • Público – De quem coletarei as informações? Nessa etapa são definidos sexo, idade, profissão, localização, hábitos, gostos. Que são definidos a partir dos interesses do pesquisador. Podemos observar que quanto mais particular um grupo social for, ele tende a ter um menor número (quantitativo) de informações, e um maior aprofundamento (qualitativo) nos dados coletados. Tendo em vista que as tendências um dia nascem de gestos isolados, o pesquisador deve identificar, a partir da segmentação acima, quais são os grupos com o perfil de inovação, quem são os formadores de opinião e os adoptantes adiantados. São essas as pessoas que vão importar, criar, adaptar e difundir práticas e/ou pensamentos que podem evoluir e alcançar outras pessoas. (CERQUEIRA, 2009, p.38) A prática de mensuração online é usada nessa etapa, para identificar os usuários mais influentes, qual a importância de determinados conteúdos. 35 • Espaços – Onde se encontra o meu público desejado? São os ambientes online em que se encontram objetivo e público, que vão desde as mídias sociais mais acessadas, aos sites de redes sociais de segmentos específicos que são uma fonte boa de pesquisa. “Nesses locais, é possível encontrar usuários interagindo intensamente, além de informações mais aprofundadas e precisas” (CERQUEIRA, 2009, p.38) 2) Coleta de Dados – Como vou coletar os dados? É recomendável para essa etapa que o pesquisador utilize principalmente dois recursos. São eles: os softwares de monitoramento online e o diário de pesquisa. Com o monitoramento, é possível acompanhar: o volume de citações, os assuntos abordados, os emissores (com destaque para os influenciadores), as palavras relacionadas. “Esse relatório fornece indicadores que auxiliam o coolhunter na observação dos materiais, colaborando no armazenamento e na comparação dos dados ao longo do tempo.” (CERQUEIRA, 2009, p.38) O diário de pesquisa será utilizado para as impressões do pesquisador acerca das menções coletadas, e para o armazenamento de outros conteúdos, como imagens relevantes e pontos que se destacam. 3) Análise – O que tudo isso quer dizer? A análise, que não possui uma estrutura linear ou padrão, deve identificar padrões e/ou potencialidades de padrões nos dados coletados. Trata-se de ter a sensibilidade de captar mudanças sutis, indicando quais as suas eventuais extensões, características e como elas poderão ser assimiladas por outras pessoas (além de, claro, ser rentabilizadas por determinadas organizações). (CERQUEIRA, 2009, p.38) A análise dos dados coletados nas mídias sociais necessitará ser comparada com a análise de outros meios, para que possa ser identificado o que há de convergente entre os materiais. Nesta etapa, deve-se ter uma equipe multidisciplinar, acrescentando uma interpretação abrangente ao objeto pesquisado e identificando oportunidades. 36 Com os relatórios feitos as organizações devem acrescentar as informações obtidas ao seu planejamento estratégico, aperfeiçoando as suas práticas, posicionamentos, processos. 3.4 Blogs como fonte de pesquisa Para Amaral, Natal e Viana (2008, p.35), “os blogs, em seus mais variados formatos e gêneros, têm sido uma ferramenta rica para os estudos empíricos ao serem analisados a partir de perspectivas netnográfica nos últimos anos”. Os blogs, por serem um meio que disponibiliza arquivos em vários formatos, em grandes quantidades e com mais rapidez, acabam se tornando uma fonte de coleta e análise de dados para que as pesquisas netnográficas sejam feitas. Oliveira (2000), em seu livro O trabalho antropólogo, descreve as fases que um pesquisador passa ao fazer sua pesquisa de campo, que também descreve as etapas que um pesquisador passa para fazer um trabalho netnográfico. São elas: o olhar onde pode ser o primeiro contato do pesquisador, o ouvir que complementa o olhar, e serve para obter explicações fornecidas pelos próprios membros da comunidade investigada, através de entrevistas, e a última fase, que seria o escrever, que é a parte final do trabalho, onde ele descreve, analisa e interpreta a comunidade investigada. Um dos muitos lugares que essas análises podem ser feitas são nos blogs pessoais, pois, como já foi dito anteriormente, neles as pessoas dão as suas opiniões e gostos, sendo uma informação de livre acesso, para quem quiser obtê-las, e isso acaba sendo uma facilidade para os coolhunter. Acompanhando os blogs de pessoas ditas como inovadoras, os coolhunters obtém informações de forma rápida para as suas pesquisas, pois os mesmo são atualizados diariamente. Segundo Picoli (2008 apud FERREIRA; VIEIRA, 2007, p.1), o blog surgiu como uma mudança do diário pessoal para o computador, sendo possível saber nome, características do autor do blog, por ele funcionar como um diário pessoal. 37 A autora também ressalta que, apesar dos blogs pessoais serem maioria, os blogs ganham status de um canal de comunicação, e passaram a ser utilizados por diversas áreas como a moda, o jornalismo e até a estratégia de marketing para empresas. Jorn Barger foi o primeiro a usar o termo “weblog” no ano de 1997, referindo-se a um conjunto de sites que “colecionavam” e divulgavam links interessantes na web. Nesta época, os weblogs ainda eram muito semelhantes e quase nada diferenciados de um site comum na web. (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009) Até 1999, o número de blogs não era significativo. Sua explosão aconteceu a partir desse ano quando surgiu Pitas, a primeira ferramenta de criação de blogs. Nesse mesmo período foram lançados Pyra, e mais tarde, o Blogger, e Groksoup8 ferramentas de fácil criação e atualização de blogs. Os blogs podem ter seu acesso restrito apenas aos seus criadores, como também, serem compartilhados com um grupo de amigos para permitir as trocas de vivências e opiniões, ou para o público em geral (Shittine, 2004). (MONTARDO; PASSERINO, 2006) Para as autoras, os blogs são versões maisdinâmicas dos websites pessoais e recebem as suas mesmas críticas, em termos de experiências de publicações amadoras, que na maioria das vezes se convertem em produtos narcisísticos e exibicionistas. Do ponto de vista teórico, os blogs reconvertem o sentido de produção e recepção, a medida que curto-circuitam ambos. A produção de mensagens (posts) é baseada numa constante conversação entre eles, em um consumo recíproco de idéias e informações, algo que funda a criação de um novo espaço de comunicação: o espaço das conexões (dos links, das remissões, das citações, dos comentários etc). No entanto, os blogs são um “especo protegido”, pois resguarda a figura do autor como um sujeito de uma produção singular de opinião. (BRAVIN; MALINI, 2010, p. 1) Orlandi (2010 apud GILLMOR, 2007, p. 3) define os blogs como sendo uma página que contém informações organizadas de maneira cronologicamente invertidas, sendo as informações mais atuais que ficam no topo da página, além disso apontam links de páginas na internet e possuem um 38 local para comentários em cada post, favorecendo a comunicação e a discussão entre leitores. Os blogs surgem em um cenário onde o público exigente cria sua própria forma de se expressar sobre seus gostos e opiniões, trocando essas experiências com outros blogueiros e leitores. Para Montardo e Passerino (2006) os blogs, assim com a web, podem ser entendidos como contexto cultural tanto quanto artefato. Enquanto artefato surge como ferramenta de fácil utilização em websites, que são baseados no sistema de micro-conteúdos e na atualização quase diária dos mesmos, podendo ter vários autores e permitindo comentários dos leitores. Já em termos de contexto cultural, os blogs são espaços de comunicação mediada através de um computador, podem ser entendidos a partir dos webrings2 e analisados sob o ponto de vista da socialização que deles recorre. Segundo as autoras, a técnica de netnográfia não é aplicada aos blogs especialmente nos aspectos de socialização, porém observa-se que a socialização decorrente dos blogs pode ser sistematizada na ideia de webrings, o que torna os blogs privilegiados para a análise da socialização na internet, pois nos mesmos a socialização entre os autores e leitores, através das postagens e dos comentários, acontecem de forma espontânea. A netnográfia aplicada ao estudo dos blogs proporciona como possibilidades a exploração da comunicação multimídia, permitindo, a coleta de dados em vários tipos de mídias, como texto, fotos e áudios, recursos que podem enriquecer a observação dos estudos etnográficos tradicionais. As autoras também ressaltam que há outras possibilidades para o uso da netnografia para pesquisa em blogs, como: 1)facilidade de busca e coleta de dados; 2) amplitude da coleta e do armazenamento (no tempo e no espaço); 3) desdobramento da pesquisa com rapidez. Para que as pesquisas possam ser feitas em blogs, é importante para o pesquisador entrar em contato com os blogueiros, para se manifestarem de 2 Recuerdo (2003) – Segundo a autora webrings é um termo utilizado “para definir círculos de bloggeiros que lêem seus blogs mutuamente e interagem nestes blogs através de ferramentas de comentários. Os blogs são linkados uns nos outros e formam um anel de interação diária, através da leitura e do comentário dos posts entre os vários indivíduos, que chegam a comentar os comentários uns dos outros ou mesmo deixar recados para terceiros nos blogs.” 39 forma mais precisa sobre as intenções da pesquisa, e estabelecer acordos quanto à coleta de dados a partir dos blogs a serem analisados, sendo também importante que o pesquisador delimite a sua pesquisa. Nesse tipo de pesquisa, há várias limitações quanto à aplicação da técnica netnográfica em estudos sobre blogs, entre elas o fato de que se podem desdobrar os rumos da pesquisa, o que pode abrir inúmeros caminhos, fazendo com que seja fácil perder o foco de pesquisa inicialmente proposto. Nesse sentido, é importante fazer uma seleção do tópico que se pretende analisar, restringindo o tipo de blog e período de análise. Apesar das limitações, as autoras consideram que o uso desta metodologia em pesquisas que visam o estudo de espaços de socialização na web (como os blogs) é fundamental para oferecer um estudo mais aprofundado e completo, considerando o universo pesquisado a partir dos seus atores principais. Para Madalosso (2010), os blogs de grande acesso têm capacidade de mobilizar as atenções para si e grande influência de opiniões, e trouxerem atenção para o segmento e exaltaram sua relevância. Seus autores logo alcançaram reconhecimento público, e a interação que os mesmos têm com os seus leitores permitiu o estabelecimento de um relacionamento bastante próximo entre os seus autores e leitores. A relação entre blogueiros surge como uma troca de informações, e são muito importantes para o estudo da rede. Essa interação cria vínculos que são essenciais para conseguir destaques na rede. As principais blogueiras também servem como conectoras, sendo sempre citadas e seus assuntos repercutidos por outras blogueiras. (ORLANDI, 2010) Há vários tipos de blogs além dos diários virtuais, e em vários segmentos. Na moda, os mais populares são os chamados streetstyle, que são os blogs que mostram a moda usada nas ruas do mundo todo. Onde as pessoas que são selecionadas e fotografadas acabam sendo influenciadoras tanto para os leitores desse tipo de blog, quanto para a moda em geral. Os blogs de maior referência no estilo streetstyle são o The Sartorialist3, o Face Hunter4. Nestes blogs, os autores selecionam pessoas com estilos 3 The Sartorialist, disponível em <http://www.thesartorialist.com/> 40 diferenciados e característicos, que tenham perfis inovadores e que possam ser referência para os demais. Geralmente estes tipos de blog são simples, somente a foto e uma legenda fazem parte de seus posts. O culpado da proliferação destes últimos é Scott Schuman, um nativo da indiana [EUA], antigo trabalhador da Bergdorf Goodman. Seu blog, The Sartorialist dogmatizou-se, e a sua influência é onipresente. Luz impecável, detalhismo, e uma breve explicação da eleição são sua marca. Não tem preconceitos de idade, bairro ou classe social, porque sabe que o estilo aparece logo ali onde menos se espera. (RIEZU, 2011, p.63) Segundo Madalosso (2010, p.8) ,The Sartorialist vem do sartori, que significa alfaiate. Surgiu em 2005, onde registrava as ruas de Nova York. Atualmente o blog tem cerca de 125 mil acessos por mês e seu criador, Scott Schuman adquiriu grande reconhecimento que o permite percorrer o mundo registrando o que se tem feito no âmbito da moda “de rua”. O blogueiro afirma que sua intenção ao capturar as imagens dos transeuntes não é permeada por um senso de moda, mas sim pela mensagem que a criatividade de escolher e sobrepor roupas e acessórios transmite. Com fotos tiradas nas ruas de diversas cidades, e que servem de plano de fundo, o blog e atualizado diariamente. Registra anônimos e famosos, que por sua maneira de vestir chamam a atenção do blogueiro. Com layout simples, que é uma característica do blog, seus arquivos são divididos em categorias, como por gênero, eventos de moda, lugares, pessoas e por datas, tornando as fotos o ponto principal do blog. Em 2009 foi lançado o livro, que além de imagens, traz dicas do que é preciso para ser fotografado por Scott Schuman, o livro inclui fotografias de figuras bem conhecidas da moda ao lado de pessoas encontradasna rua, cujo estilo pessoal e gosto exige um olhar mais atento. O blog Face Hunter criado pelo suíço radicado em Londres Yvan Rodic, em janeiro de 2006 começou a fotografar pessoas em eventos de arte, quando vivia em Paris. Suas primeiras fotografias tinham um corte fechado, surgindo 4 Face Hunter, disponível em <http://facehunter.blogspot.com.br/> 41 daí o nome do blog, que em português quer dizer “caçador de rostos”, Yvan se autodenomina um “observador contemporâneo”. Com poucas semanas no ar o blog se transformou em um dos blogs de streetstyle mais conhecidos na web, com cerca de 20 mil acessos diários segundo o blogueiro. “Meu trabalho é relacionado com a moda, mas não estou exatamente no coração da indústria. Para mim a chave é uma espécie de química entre a pessoa, a atitude e o estilo. Isso vai além da moda. Estilo é uma expressão de si. Moda é indústria, marca, tendência, é o que sai nas revistas, e estilo ultrapassa isso.”5 O blog também apresenta suas imagens de maneira simples, sendo o visual o ponto primordial de ambos, que não apresentam texto nas suas postagens, somente a fotografias e um título, que geralmente indica onde a fotografia foi tirada. Assim como Scott Schuman, Yvan também lançou um livro com o registro das suas fotografias, e ministra cursos e palestras ao redor do mundo sobre streetstyle. Esse processo de registrar por fotografias como as pessoas se vestem no seu dia a dia é uma pratica surgida na década de 80, quando os movimento e tribos das ruas passaram a influências o comportamento e consequentemente o consumo jovem. “O processo faz parte do trabalho do coolhunter que através da imersão em ambientes culturais específicos, identifica e registra novidades e potenciais tendências no vestir das pessoas” (MADALOSSO, 2010, p.48). E é justamente nesses blogs que as pesquisas podem ser feitas, pois neles podemos encontrar os influenciadores de toda uma geração. Ao procurar uma pessoa para fazer parte de um post, os autores de blogs de streetstyle procuram pessoas inovadoras, ousadas e que tenham algo a mais para mostrar. Seu público vai desde leitores comuns a grandes editores de moda e estilistas já consagrados. 5 Yvan Rodic Entrevista com Yvan Rodic, o autor do blog Face Hunter, que autografa seu primeiro livro em SP. Marie Claire, Por Letícia González. http://revistamarieclaire.globo.com/Revista/Common/0,,EMI140345-17631,00.html 42 O conteúdo desse tipo de blog passou a ser uma fonte de referência, online para os pesquisadores de moda e fonte de inspiração para os consumidores. Ao acompanhar as atualizações diárias destes blogs os coolhunters podem identificar possíveis sinais que possam desencadear futuras tendências. Ao observar as fotografias presentes nesses blogs, onde se encontrão diferentes estilos de pessoas e atitudes, cada uma com suas características e diferentes interpretações, o coolhunter pode identificar sinais de personalidade e gostos dos fotografados. Através desses blogs obtém-se um grande banco de dados de imagens, podendo detectar em alguns detalhes sinais que poderão tornar-se tendências. Portanto pode-se dizer que os próprios criadores destes blogs fazem uma forma de coolhunting espontânea. (PICOLI, 2008) A internet não é só utilizada como fonte de pesquisa, os coolhunters utilizam sites e blogs também como forma de apresentar os resultados das suas pesquisas expondo suas ideias. Estes sites acabando sendo fonte de informações até mesmo para outros coolhunters. Há sites específicos de coolhunting que disponibilizam fotografias de pessoas e objetos onde apresentam conceitos e formas inovadoras. Novas propostas de design, moda, arquitetura, arte, tecnologia entre outros são apresentadas. Famosos sites desses estilos são www.thecoolhunter.net e o www.coolhunting.com. Nestes sites são apresentados lançamentos de novos produtos, inovadores, vanguardistas e originais. ”(Ver ilustração 1). Figura 1: Sites de coolhunting <www.thecoolhunter.net>,<www.coolhunting.com> 43 Divididos em categorias de diversos setores, esses sites postam fotografias e vídeos e um pequeno texto explicando as novas propostas apresentadas, são atualizados diariamente, sendo uma ótima ferramenta para atualizar-se do que acontece no mundo de vanguarda. Bill Tikos criador do thecoolhunter.net diz que se guia pela relevância, não pela novidade, e pretendem encontrar os futuros clássicos, os ícones de amanhã. (RIEZU, 2011) Existem também os sites das agências especializadas, onde elas disponibilizam para os seus clientes que geralmente são grandes empresas, de diversos setores, as análises detalhadas de futuras tendências. Porém também deixam disponíveis algumas análises gratuitas para seus visitantes. Essas agências contam com diversos colaboradores e escritórios espalhados ao redor do mundo. Os sites de agências mais conhecidos são o www.wgsn.com da agência WGSN que é uma agência líder no setor, e o site www.trendwatching.com. A agência WGSN, foi fundada em 1998, pelos irmãos Julian e Marc Worth, contam com uma equipe de duzentos profissionais de criação, e têm sedes em Nova York, Hong Kong, Seul, Melborne entre outros. (RIEZU, 2011) Já a agência www.trendwatching.com foi fundada pelo holandês Reinier Evers no ano de 2002, tem 8 mil membros em mais de 70 países e elaboram relatórios anuais e mensais para mais de 160 mil assinantes. (RIEZU, 2011) Mesmo com tantos canais disponibilizando informações, um coolhunter deve estar sempre atento ao que acontece no mundo social e cultural, estar atento sobre os lançamentos de novas tecnologias e acompanhar todos os meios de informações, como jornais e revistas, para assim poder entender o consumidor e conseguir captar as tendências e interpretá-las. 44 4. A COLEÇÃO: Ciber (Flâneur) O coolhunter e a sua busca constante por novidades, pessoas e atitudes diferentes, munidos por câmeras fotográficas e blocos de anotações que são suas ferramentas de trabalho, se assemelha ao termo Flâneur de Baudelaire que também passa seu tempo nas ruas com o intento de observar o que acontece no cenário urbano. O termo flâneur vem do francês e tem o significado de "vagabundo", "vadio”, ”preguiçoso", que por sua vez vem do verbo francês flâner, que significa "para passear". Charles Baudelaire desenvolveu um significado para flâneur de "uma pessoa que anda pela cidade a fim de experimentá-la". (VILELA, 2009, p. 03) Para Vilela (2009), a utilização e a teorização do termo por Baudelaire e por diversos pensadores tantos em termos econômicos, culturais literários e históricos, fez com que a figura do Flâneur tenha adquirido importante significado como referência para compreender fenômenos urbanos e a modernidade. A figura do Flâneur surge no século XIX, quando a industrialização trouxe consigo a urbanização das cidades europeias, a formação dos grandes conglomerados humanos e a mudança de ritmo na vida dos habitantes da cidade havia mudado. E foi nesse cenário durante as décadas de 1830 e 1840, que ocorreu o seu aparecimento, de uma figura que parecia alheia a tudo isso. (PASSOS; GOUVÊA; TOSTI E POLITO, 2010) Na contemporaneidade, vive-se um tempo mediado pelas tecnologias, em que foi preciso introduzir um novo termo para descrever a atividade do flâneur. O ciber-flâneur é um observador que olha sem julgar, que busca
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