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DIREITO CIVIL I
Professor: Msc. Pedro Henrique Arazine de Carvalho Costandrade
A morte é o momento não apenas de cessação da personalidade, mas também da capacidade jurídica (relações econômicas).
Diz o art. 6º, CC:
CC, art. 6º. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
Isso significa que não precisa de sentença judicial para se declarar a morte, bastando a declaração do médico (morte natural) ou do IML (morte violenta).
9. Extinção da personalidade (fim da pessoa natural)
Qual o critério do direito brasileiro para se averiguar a morte natural? O critério se perfaz com a morte encefálica (independente de ainda haver batimento cardíaco). A morte encefálica é a morte cerebral (morte real).
Estabelece o art. 3º, Lei 9.434/97:
Lei 9.434/97, Art. 3º. A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina.
A partir do momento que há a parada total das atividades encefálicas, há morte.
9. Extinção da personalidade (fim da pessoa natural)
Havendo morte encefálica, qual a diferença entre ser o falecido doador ou não de órgãos? Não há diferença para fins de constatação de morte, mas a distinção recai quanto ao procedimento.
Se o de cujus NÃO é doador de órgãos, os médicos de forma ÉTICA são legitimados a terminar toda a terapia de suporte vital, isto é, pode desligar os instrumentos que mantinham a pessoa ligada de forma vegetativa.
Mas isso não seria eutanásia? Não, porque eutanásia é provocar a morte de paciente terminal.
9. Extinção da personalidade (fim da pessoa natural)
No caso em estudo, já houve a morte encefálica.
Todavia, se o de cujus é doador de órgãos, nesse caso pode ser mantido por suporte vital (instrumentos necessários à manutenção do organismo para a preservação de transplante de órgãos) – vide resolução 1826/2007 do Conselho Federal de Medicina.
A principal consequência da morte é a saisine. Saisine é a transmissão automática do patrimônio do falecido aos herdeiros.
9. Extinção da personalidade (fim da pessoa natural)
Aduz o art. 1.784 do CC:
CC, Art. 1784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.
Mesmo havendo a morte da pessoa, suas relações econômicas prosseguem com os herdeiros, desde que tais relações não tenham caráter intuito personae. Ex.: não se transmite débito alimentar.
9. Extinção da personalidade (fim da pessoa natural)
Ausência é o desaparecimento de pessoa de seu domicílio sem dar notícias do lugar em que se encontra, nem deixar procurador para administrar os seus bens, sendo incerta sua sobrevivência.
Juridicamente alguém é ausente quando:
i) não há presença.
ii) falta de notícias.
iii) ausência de procurador.
9.1. Ausência
Nesse momento, temos o processo de ausência em quatro capítulos.
É processo complexo dividido em 4 fases.
9.1. Ausência
Ocorre quando familiares se dirigem ao juiz para inaugurar o processo de jurisdição voluntária de curatela provisória (declaração de ausência):
a) juiz nomeia curador.
b) esse curador irá arrecadar os bens.
c) será declarada a ausência.
I) curatela provisória
Diz o Art. 22, CC:
CC, Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador.
Observações:
i) a lei não diz o momento em que se inaugura o procedimento.
ii) qualquer interessado pode iniciar a cureta provisória (parente, credor, juiz de ofício, MP) – trata-se de segurança jurídica.
I) curatela provisória
Quando o juiz nomeia curador, arrecada bens e declara a ausência, nesse momento o ausente se torna incapaz?
Pelo CC/02 o AUSENTE NÃO É CONSIDERADO INCAPAZ:
a) o instituto não é curatela do ausente, mas curadoria dos bens do ausente (não se administra a pessoa do sumido, mas seu patrimônio).
Imagine uma pessoa de São Paulo que more em PARÁ, na cidade de marabá.
I) curatela provisória
Os atos jurídicos que o ausente lá pratica são válidos, porque é capaz (onde quer que ele esteja há capacidade plena).
Enunciado 156, CJF, desde o termo inicial do desaparecimento, declarado em sentença, não corre a prescrição contra o ausente.
Esse enunciado confirma a tese de que ausência é para proteger o patrimônio (no momento em que há o desaparecimento não corre prescrição, porque prescrição tem caráter patrimonial).
I) curatela provisória
Assim, reaparecendo o ausente, todas as situações patrimoniais são preservadas, porque a prescrição é interrompida em razão da ausência.
Questão:
1) se por ventura uma pessoa morre, quem recebe o patrimônio? Descendentes. Entretanto, quando se trata do juiz nomear curador, nessas situações de ausência, quem primeiro recebe são os pais, e depois os descendentes, conforme art. 25, §1º CC:
CC, art. 25. O cônjuge do ausente, sempre que não esteja separado judicialmente, ou de fato por mais de dois anos antes da declaração da ausência, será o seu legítimo curador.
§1º Em falta do cônjuge, a curadoria dos bens do ausente incumbe aos pais ou aos descendentes, nesta ordem, não havendo impedimento que os iniba de exercer o cargo.
[...].
I) curatela provisória
2) o art. 25 diz que quando uma pessoa é declarada ausente, o cônjuge será nomeado curador.
E o companheiro? Há uma similitude constitucional entre cônjuges e companheiros.
Enunciado 97, CJF: No que tange à tutela especial da família, as regras do Código Civil que se referem apenas ao cônjuge devem ser estendidas à situação jurídica que envolve o companheiro, como, por exemplo, na hipótese de nomeação de curador dos bens do ausente (art. 25 do Código Civil).
A curatela provisória é efêmera, porque há a 2ª fase.
I) curatela provisória
Não é consequência automática da cureta provisória.
A curatela pode terminar de três maneiras:
a) o ausente reaparece: o ausente reassume a condição do patrimônio.
b) surge a notícia de que o ausente morreu: a curatela provisória se convola em sucessão normal.
c) passado 1 ano a contar da arrecadação de bens (e nada do ausente reaparecer), convola-se em sucessão provisória, conforme art. 26, CC:
II) sucessão provisória
CC, art. 26. Decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou, se ele deixou representante ou procurador, em se passando três anos, poderão os interessados requerer que se declare a ausência e se abra provisoriamente a sucessão.
Por que se “declare a ausência”? Pois a declaração se dá com a curatela provisória. 
Ocorre que o art. 26 igualmente diz que na fase de sucessão provisória haverá declaração de ausência.
Qual dos dois artigos está correto?
II) sucessão provisória
Nenhum dos dois artigos está errado, porque normalmente a declaração de ausência ocorre na fase da curatela provisória.
Mas e se o ausente deixou representante? Não haverá curatela provisória.
Deixando ele representante, e mesmo assim passados 3 anos não reaparecer, dar-se-á a declaração de ausência (sucessão provisória) – não houve a fase de curatela provisória (pois tinha representante).
II) sucessão provisória
Portanto, se não deixou representante, declara-se a ausência (basta um ano da arrecadação).
Qual a diferença básica entre a fase da curatela provisória para a sucessão provisória? Na curatela quem administra o patrimônio é o cônjuge (art. 25, CC). Com a sucessão provisória, extingue-se a curatela e quem passa a administrar os bens são os herdeiros (eles assumem a posse dos bens).
Diz-se “entram na posse”, porque a sucessão
é provisória. Nessa sucessão provisória em que os herdeiros investem na posse, há necessidade de prestação de caução? Diz o art. 30, §2º, CC que independe de garantia.
II) sucessão provisória
CC, 30, §2º Os ascendentes, os descendentes e o cônjuge, uma vez provada a sua qualidade de herdeiros, poderão, independentemente de garantia, entrar na posse dos bens do ausente.
Diferentemente se o ausente deixou irmão (colateral). Nesse caso, deve prestar caução.
Vamos supor que o ausente, após 1 ano de curatela provisória; advém a sucessão provisória (em que os herdeiros entraram na posse), o que acontece 10 anos após a sucessão provisória?
É aberta a sucessão definitiva.
II) sucessão provisória
Ocorre 10 anos após a sucessão provisória.
Então, quantos anos são necessários a contar do desaparecimento para que haja sucessão definitiva?
Se o ausente não deixou procurador (1+10=11 anos); se deixou procurador (3+10=13 anos) para se deflagrar a sucessão definitiva.
III) sucessão definitiva
Nessa fase, aqueles herdeiros que tinham a posse adquirem a propriedade.
Com a diferença de que, se for colateral que havia prestado caução, passando a ser proprietário do bem, a caução é desfeita, porque passa a ser proprietário.
Vejamos o art. 37, CC:
CC, Art. 37. Dez anos depois de passada em julgado a sentença que concede a abertura da sucessão provisória, poderão os interessados requerer a sucessão definitiva e o levantamento das cauções prestadas.
III) sucessão definitiva
Há algum caso em que o processo de ausência dispensa a fase de curatela provisória e sucessão provisória, indo direto para a sucessão definitiva?
Sim, no caso de quem desaparece sem deixar notícias é um ausente que detém mais de 75 anos de idade, e há 5 datam as últimas notícias (completa 80 anos), conforme art. 38, CC:
CC, Art. 38. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade, e que de cinco datam as últimas notícias dele.
III) sucessão definitiva
Ao desaparecer com 75 anos de idade, a presunção é do ausente estar morto, definitivamente.
Qual o momento em que se pode dizer que a pessoa que se chamava ausente passa a ser qualificada como morto presumido?
A ausência se transforma em morte presumida na fase de sucessão definitiva (o até então chamado ausente se converte em morto presumido).
III) sucessão definitiva
Diz o art. 6º, CC:
CC, art. 6 º. A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.
A sucessão definitiva coincide com o momento da morte presumida. Os desdobramentos jurídicos decorrentes são:
III) sucessão definitiva
b) se o ausente é desaparecido há 11 anos (quando há morte presumida), seu cônjuge é considerado viúva (o)?
O CC/02 diz que quando há morte presumida, rompe-se a conjugalidade, conforme art. 1.571, §1º, CC:
CC, Art. 1.571, §1º O casamento válido só se dissolve pela morte de um dos cônjuges ou pelo divórcio, aplicando-se a presunção estabelecida neste Código quanto ao ausente.
Mas para que possa extinguir a relação de conjugalidade deve-se esperar 11, 13 ou 5 anos? Não há outro modo mais rápido? Sim, pois nada impede que o cônjuge requeira o DIVÓRCIO.
III) sucessão definitiva
Ocorre que, no caso do prazo de 5 anos, havendo o divórcio, não será mais herdeira, porque só é herdeira caso seja viúva (o divórcio extingue a relação de herança), conforme art. 1.830, CC:
CC, Art. 1.830. Somente é reconhecido direito sucessório ao cônjuge sobrevivente se, ao tempo da morte do outro, não estavam separados judicialmente, nem separados de fato há mais de dois anos, salvo prova, neste caso, de que essa convivência se tornara impossível sem culpa do sobrevivente.
Agora vamos supor que a ausência se encontra na fase da morte presumida e a viúva se apaixona por outro.
III) sucessão definitiva
No momento em que ela está se casando o ausente aparece na igreja. Já casada, esse segundo casamento é válido? Há duas posições:
a) tecnicamente o segundo casamento é NULO em decorrência da bigamia (inválido) – isso porque a morte é “presumida” do ausente.
b) prevalece o critério ÉTICO, ou seja, operando a morte presumida há o rompimento do afeto.
III) sucessão definitiva
Portanto, os direitos de quem reiniciou uma nova vida devem ser reconhecidos, porque houve casamento putativo (de boa-fé) - a invalidade é sanada pela putatividade, uma vez que a mulher não iria imaginar que o ausente depois de tanto tempo pudesse retornar, conforme art. 1.561, CC:
CC, Art. 1.561, Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia da sentença anulatória.
Se já está na sucessão definitiva (morte presumida), no mínimo faz 11 anos que o ausente desapareceu.
III) sucessão definitiva
Contudo, caso o ausente reapareça após a morte presumida, em termos patrimoniais, ele recupera o patrimônio?
Depende do momento da ausência (se está na 3ª ou 4ª fase).
A 4ª fase é a da sucessão efetivamente definitiva.
III) sucessão definitiva
Ocorre 10 anos após a sucesso definitiva.
Estabelece o art. 39, CC:
CC, Art. 39. Regressando o ausente nos dez anos seguintes à abertura da sucessão definitiva, ou algum de seus descendentes ou ascendentes, aquele ou estes haverão só os bens existentes no estado em que se acharem, os sub-rogados em seu lugar, ou o preço que os herdeiros e demais interessados houverem recebido pelos bens alienados depois daquele tempo.
IV) Sucessão efetivamente definitiva
Quantos anos é o mínimo da fase da curadoria da ausência até a fase efetivamente definitiva? São, no mínimo, 21 anos (1+10+10).
Caso o ausente reapareça nesta fase, recolherá o bem no estado em que se encontra o patrimônio.
Se o art. 39 faz a distinção da fase definitiva para a fase efetivamente definitiva, podemos afirmar que na 3ª fase os herdeiros têm propriedade RESOLÚVEL (é a propriedade cuja duração está subordinada a evento futuro).
IV) Sucessão efetivamente definitiva
Contudo, na 4ª fase podemos dizer que a propriedade é PLENA (definitiva).
Atenção: o CC tem por diretriz a operabilidade (diretriz da concretude), pois as normas do diploma civil devem ser aplicadas.
Imagine que o marido foi sequestrado e encontra-se desaparecido (sem deixar procurador).
IV) Sucessão efetivamente definitiva
Nesse caso, a morte presumida dispensa todas as fases anteriores, nos termos do art. 7º, I, CC. Isso ocorre quando o desaparecido estava em perigo de morte – a última notícia era de que estava em situação de perigo. Ex.: caiu o avião, sequestro etc.
	
CC, art. 7º. Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência:
I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida;
[...].
Nesses casos, é bem provável que o sujeito morreu. O elemento central é fazer um procedimento de justificação do óbito, embora não tenha a prova da materialidade.
IV) Sucessão efetivamente definitiva
Obs.: conta-se como data da morte presumida a data da última notícia.
Os beneficiários do ausente têm direito à pensão, nos termos do art. 74, Lei 8213/91, desde que haja sentença da morte presumida.
O benefício previdenciário é o mínimo existencial e independe da constatação formal da morte presumida:
IV) Sucessão efetivamente definitiva
Lei 8213/91, Art. 74. A pensão por morte será devida ao conjunto dos dependentes do segurado que falecer, aposentado ou não, a contar da data:
[...]
III - da decisão judicial, no caso de morte presumida;
[...].
Nesse sentido, vejamos a decisão do STJ, no Agravo 1.392.672/RJ – de 23/10/2013
IV) Sucessão efetivamente definitiva
JULGAMENTO DA AÇÃO DECLARATÓRIA. SITUAÇÃO PREEXISTENTE. SÚMULA 7/STJ. 1. É certo que o art. 74 da Lei n. 8.213/1991 dispõe que a pensão por morte, no caso de morte presumida, será devida a contar da decisão judicial. 2. Entretanto, a Corte
de origem fez constar do seu acórdão, que todos os elementos dos autos concorrem para demonstrar a demora no julgamento da ação movida por cônjuge de desaparecido em que se visa declarar ausência para recebimento do benefício previdenciário. 3. De sorte que o direito de pensão por morte não deve ficar à mercê de burocrática prova do desaparecimento, sobretudo porque "o INSS não logrou ilidir os elementos de prova apresentados, os quais são suficientes para a declaração da morte presumida do cônjuge da autora, desaparecido desde 30/12/1996", traduzindo situação preexistente, razão pela qual não justifica que o benefício decorrente da declaração judicial da morte presumida, seja devido tão somente a partir da decisão emanada da autoridade judicial. 4. Nesse contexto, consoante afirmado na decisão agravada, eventual revolvimento desta argumentação demandaria nova análise do conjunto fático e probatório dos autos, o que é inviável na via do especial, sob pena de afronta à Súmula n. 7/STJ. 5. Agravo regimental a que se nega provimento.
IV) Sucessão efetivamente definitiva
Quais são os casos em que a morte presumida é declarada de forma direta? São eles:
a) art. 7º, inciso I, CC.
b) se o aparente falecido era preso na época da ditadura (período de exceção).
Vejamos o art. 1º, Lei 10.536/02:
Lei 10.531/2002, Art. 1º. São reconhecidos como mortas, para todos os efeitos legais, as pessoas que tenham participado, ou tenham sido acusadas de participação, em atividades políticas, no período de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988, e que, por este motivo, tenham sido detidas por agentes públicos, achando-se, deste então, desaparecidas, sem que delas haja notícias.
IV) Sucessão efetivamente definitiva
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