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BLEICHER (2011)

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1 
 
Texto didático para Ciências Sociais Aplicadas à Odontologia 
 
Foram selecionados trechos da tese Autonomia ou assalariamento 
precário? O trabalho dos cirurgiões-dentistas na cidade de Salvador, 
que pode ser obtida em 
http://odentistaeomundodotrabalho.blogspot.com.br/ 
 
 
 
 
Investigar o mercado de trabalho do dentista 
 
O objeto de estudo é a inserção do cirurgião-dentista no mercado de 
trabalho. Tal fenômeno ocorre em um contexto no qual o regime de 
acumulação flexível promove formas precárias de trabalho e apreende 
a subjetividade do trabalhador, valorizando o “empreendedorismo” e a 
“empregabilidade”, ao mesmo tempo em que a subsunção do 
trabalho ao capital exige um progressivo assalariamento das chamadas 
“profissões liberais”. 
 
Esta pesquisa teve por objetivo geral analisar as principais 
transformações que têm ocorrido na condição de trabalho e inserção 
profissional de um conjunto de trabalhadores marcados pela tradição 
de profissão liberal: os dentistas. Mais especificamente, os objetivos 
foram: 1) entender de que forma o contexto mais geral de precarização 
social do trabalho afeta os dentistas que atuam em Salvador, Bahia; 2) 
apontar as singularidades das condições de trabalho dos recém-
formados; 3) compreender a maneira pela qual os dentistas percebem 
as mudanças em seu mercado de trabalho. 
 
A escolha deste tema justifica-se face às dramáticas transformações do 
mundo do trabalho no contexto da acumulação flexível reveladas 
pelos inúmeros estudos da Sociologia do Trabalho, que, ao mesmo 
2 
 
tempo em que atingem os trabalhadores assalariados impondo-lhes 
uma diversidade de novas modalidades de trabalho, mais precárias, 
também alcançam as chamadas “profissões liberais”, que se 
encontram cada vez mais subsumidas ao capital. Este processo não 
ocorre mais no sistema protegido das relações salariais do modelo 
fordista, mas em um contexto de flexploração (BOURDIEU, 1998). 
Embora estudos desta natureza sobre outras “profissões liberais” (a 
exemplo dos médicos) já tenham sido realizados, muito pouco tem sido 
produzido sobre dentistas. 
 
 
Compreender o cenário 
 
 
O mercado de trabalho dos dentistas se torna mais heterogêneo. A 
prática liberal ainda é significativa, tanto em termos numéricos quanto – 
principalmente – no plano simbólico. Não ocorreu seu 
desaparecimento, conforme previsto por alguns autores, comentados 
mais adiante. Contudo, nota-se a coexistência entre essa prática e 
formas variadas de assalariamento, quer sejam típicas ou disfarçadas. 
Nossa hipótese é a de que esse assalariamento encontra-se, em 
diversas situações, marcado pelo signo da precarização social do 
trabalho e que a persistência ideológica da prática liberal torna o 
dentista mais suscetível ao discurso do empreendedorismo e da 
empregabilidade. 
 
Embora seja um fator importante o aumento explosivo do número de 
dentistas no Brasil nas três últimas décadas, este não é o único aspecto 
a ser analisado. Não estaríamos estudando este fenômeno se os 
dentistas continuassem exercendo a prática autônoma, ainda que 
vivenciassem uma concorrência interprodutores bem mais acirrada. 
Nosso interesse reside no fato de que o trabalho do dentista se dá sob 
novos moldes, o do assalariamento atípico. 
 
 
2.1 Precarização social do trabalho: debate teórico e quadro empírico 
 
O significado de “precarização” não é unívoco. Barbier (2002) relata 
que na sociologia francesa do final dos anos 1970 e início dos 1980, o 
conceito de precarização surgiu vinculado aos estudos sobre pobreza. 
Mais tarde foi utilizado nos estudos sobre emprego e finalmente chegou-
se à noção de precarização da sociedade como um todo – daí a frase 
de Bourdieu (1998) “a precariedade está em toda parte”. Para Barbier, 
o fato de o termo ter surgido no contexto de risco e de pobreza não é 
de modo algum irrelevante, pois faz com que o antigo conteúdo de 
pobreza permeie o debate atual. Nosso debate privilegiará os autores 
3 
 
que discutem a precarização sob a perspectiva dos estudos do 
trabalho. 
 
Precarização e flexibilização são conceitos que tendem a figurar juntos. 
Insegurança e instabilidade: essas são as ideias mais comumente 
associadas ao termo “flexibilização”. Thebaud-Mony e Druck (2007) o 
conceituam desta forma: 
 
... processo que tem condicionantes macroeconômicos e 
sociais derivados de uma nova fase de mundialização do 
sistema capitalista, hegemonizado pela esfera financeira, cuja 
fluidez e volatilidade típicas dos mercados financeiros 
contaminam não só a economia, mas a sociedade em seu 
conjunto, e, desta forma, generaliza a flexibilização para todos 
os espaços, especialmente no campo do trabalho. (THEBAUD-
MONY; DRUCK, 2007, p. 29, grifos nossos) 
 
A flexibilização se expressa em jornadas móveis de trabalho, salários 
flexíveis e formas de gestão inspiradas no toyotismo. O trabalhador 
flexível é aquele que tudo suporta, que se verga sem se partir. Este é o 
motivo pelo qual flexibilização e precarização são conceitos que 
costumam ser associados. Thebaud-Mony e Druck (2007) conceituam 
precarização da seguinte forma: 
 
...Processo social constituído pela amplificação e 
institucionalização da instabilidade e da insegurança, expressa 
nas novas formas de organização do trabalho – onde a 
terceirização / subcontratação ocupa um lugar central – e no 
recuo do papel do Estado como regulador do mercado de 
trabalho e da proteção social através das inovações da 
legislação do trabalho e previdenciária. Um processo que 
atinge todos os trabalhadores, independentemente de seu 
estatuto, e que tem levado a crescente degradação das 
condições de trabalho, da saúde (e da vida) dos 
trabalhadores e da vitalidade da ação sindical. (THEBAUD-
MONY; DRUCK, 2007, p. 31, grifo nosso) 
 
 
Queremos chamar atenção para o fato de que o fenômeno da 
precarização não se limita apenas aos trabalhadores já historicamente 
fragilizados. Essa é uma característica que as autoras fazem questão de 
pôr em relevo: não se trata de imaginar uma sociedade dual, com 
“incluídos” e “excluídos”. É um fenômeno que, embora afete de 
maneira diferente grupos distintos de trabalhadores, não pode ser 
entendido como residual. 
 
 
 
 
4 
 
3.2 Influência do debate sobre classes na produção teórica sobre 
mercado de trabalho de médicos e dentistas 
 
 
O referencial que pressupõe uma sociedade crescentemente 
polarizada entre proletariado e burguesia, na qual a tendência dos 
setores médios é dissolver-se nestas duas classes dará o tom às primeiras 
discussões sobre o assalariamento de dentistas. E isto se dá mediante a 
influência do estudo de Maria Cecília Donnangelo, de 1975, sobre o 
assalariamento dos médicos. 
 
Para Donnangelo, o processo de assalariamento se traduzia em perda 
de autonomia do médico. Para estudar o fenômeno, ela elegeu três 
critérios que permitem identificar a posição do médico no mercado: a) 
controle sobre a clientela; b) posse de meios materiais de trabalho e c) 
liberdade na fixação do preço do trabalho. Tais critérios balizariam a 
constituição de três formas puras de participação do médico no 
mercado de trabalho e duas compostas. 
 
Cabe destacar que a prática liberal é tomada por referência para 
descrever as demais formas de participação no mercado de trabalho. 
Isto permite que Donnangelo afirme que o assalariamento é o “padrão 
oposto” ao trabalho autônomo, pois este se caracteriza pelo controle 
da clientela, da liberdade de fixação do preço do trabalho e posse dos 
instrumentos de trabalho, enquanto aquele se encontra plenamente 
destituído de todos estes elementos. O conceito de empresário também 
é construído por derivação da forma liberal: “caracterizado pelo 
controle de condições materiais de trabalho ampliadas em relação aos 
instrumentos que podem ser manipulados por um único ou por poucos 
profissionais” (DONNANGELO, 1975, p. 81). O médico-empresário de 
Donnangelo é um profissional cuja “fonte de renda não se reduz à 
atividade estritamente profissional”.(DONNANGELO, 1975, p. 81). 
 
É necessário explicar que no contexto histórico em que Donnangelo 
produziu seu estudo, o Estado assumia um papel cada vez maior como 
comprador de serviços médicos no setor privado, via Previdência Social. 
Este é o motivo pelo qual Donnangelo afirma que o “empresário, mais 
que qualquer dos outros produtores privados, encontra-se em uma 
relação de dependência do setor público” (DONNANGELO, 1975, p. 81) 
O empresário de Donnangelo é nada mais que um autônomo que 
assume feição de empresa, para mais facilmente vender serviços ao 
Estado: 
 
Dando por suposto que à condição de empresário 
nem sempre corresponde o assalariamento de 
outros médicos, a quase equivalência numérica de 
ambos os grupos sugere, entre outras, as hipóteses 
5 
 
alternativas de que o setor privado se compõe 
predominantemente de pequenas empresas; ou 
que a associação entre empresários constitui a 
modalidade mais freqüente na origem e 
organização desse tipo de propriedade. 
(DONNANGELO, 1975, 117) 
 
É importante reter que o cenário analisado por Donnangelo sofreu 
profundas transformações, havendo atualmente grandes empresas no 
setor. 
 
Donnangelo defende que há ainda outras modalidades de inserção no 
mercado de trabalho além das três acima mencionadas. Ela denomina 
autônomos atípicos aqueles que têm controle parcial dos meios de 
trabalho, ou seja, obtêm sua clientela a partir de relações com 
empresa, resultando em perda da liberdade de fixação do preço de 
trabalho e de certo controle sobre o padrão técnico do trabalho. Esta 
categoria será de extrema importância, porque se repete nos estudos 
que analisaremos em seguida e assume especial relevância com o 
crescimento da assistência à saúde suplementar nas últimas décadas. A 
autora também denomina autônomos atípicos aqueles que dispõem de 
clientela própria, mas utilizam os meios de trabalho de organizações. 
 
Por fim, a autora aponta a existência da categoria “cooperativa”, que 
em seu entendimento seria tendencialmente assalariada, mas 
apresentaria controle coletivo sobre as condições da venda do 
trabalho e a renda do grupo. Naquele momento, o sistema Unimed 
ainda era pouco desenvolvido, e Donnangelo não pôde lhe dedicar 
maior atenção. 
 
5. - A inserção do dentista no mercado de trabalho 
 
Em uma perspectiva poulantziana, o assalariamento dos dentistas, em 
função das novas configurações do trabalho destes a partir dos anos 
1990, significa a migração de indivíduos da pequena burguesia 
tradicional para a nova pequena burguesia, fenômeno condizente com 
os processos de realinhamento das classes sociais ao longo do século 
XX. Trata-se de um conjunto de pequenos produtores que, sob novas 
condições, passam a vender sua força de trabalho, porém mantendo 
diferenças expressivas com o operariado. A complexificação da classe-
que-vive-do-trabalho, de que fala Antunes (2000), pode ser observada 
aqui. Contudo, a especificidade destes assalariados torna necessário 
recorrer a teóricos que joguem luz sobre os detalhes deste processo. 
Nossa escolha recai sobre Donnangelo (1975) e, por consequência, 
sobre Paixão (1979), que utilizou o mesmo referencial. Todavia, o cenário 
que estas duas autoras analisaram sofreu mudanças substantivas dos 
6 
 
anos 1970 aos dias atuais. São estas novas conformações que serão 
abordadas a seguir. 
 
Os três critérios definidores (controle sobre a clientela, posse de meios 
materiais de trabalho e liberdade na fixação do preço do trabalho) são 
ainda cardeais para os estudos hodiernos. 
 
Posse dos meios de trabalho 
 
Importantes transformações têm ocorrido na indústria de equipamentos 
odontológicos no Brasil, conforme apontam Manfredini e Botazzo (2006). 
Os autores destacam que há um discurso corrente de que exista uma 
forte dependência de importação de produtos e equipamentos 
odontológicos, que seria a responsável pelos altos preços dos serviços 
odontológicos privados. Sua pesquisa, contudo, revelou que o Brasil é 
detentor de um pujante parque industrial odontológico, tendo obtido 
superávit no comércio exterior na maior parte do período de 1990 a 
2002. O fenômeno também foi relatado pela entrevistada 09, que narra 
uma redução dos valores cobrados em tratamentos ortodônticos, 
decorrente não apenas do maior número de cursos de especialização, 
mas também do fato de anteriormente os insumos serem 
predominantemente importados, enquanto na atualidade são 
nacionais. 
 
Isto talvez possa significar uma maior facilidade para os dentistas 
controlarem os meios de trabalho, mas é um fenômeno de difícil 
constatação. A metodologia utilizada nesta pesquisa não permite 
afirmar que as atuais gerações de dentistas tenham acesso facilitado a 
equipamentos e insumos de menor preço. Este é um ponto a ser 
estudado em investigações futuras. 
 
Controle sobre a clientela 
 
Este é provavelmente o aspecto que mais tenha se alterado nas últimas 
décadas. Donnangelo (1975) e Paixão (1979) referiam-se à 
intermediação do INAMPS na captação da clientela, mas atualmente 
são as empresas de Odontologia Suplementar as responsáveis pelas 
principais transformações. O maior número de profissionais e sua má 
distribuição também guardam relação com o fenômeno. 
 
Liberdade de fixação do preço de trabalho e do processo de trabalho 
 
É necessário ampliar o critério, incorporando também a liberdade de 
definição do processo de trabalho. A dissolução da autonomia e a 
subordinação a formas abertas ou disfarçadas de assalariamento fazem 
com que dentistas gradativamente percam a possibilidade de 
estabelecer como, quando e onde trabalhar. 
7 
 
 
 
Modalidades de inserção do mercado de trabalho 
 
As três formas típicas definidas por Donnangelo ainda são válidas se 
tomarmos o “típico” numa acepção do tipo-ideal weberiano. O 
“profissional autônomo” é um modelo pelo qual estudamos os dentistas, 
não uma situação generalizada. Isto não significa que tenha ocorrido o 
desaparecimento das formas autônomas, mas que a autonomia “pura” 
é bem pouco encontradiça. Muito mais comum é a combinação a 
outras modalidades, o que nos leva à inusitada situação em que o 
“atípico” é a “norma”. Este não é um fato surpreendente, se 
consideramos a nova morfologia do trabalho, de que fala Antunes 
(2000). A contribuição trazida por esta pesquisa é a ampliação e 
atualização da tipologia originalmente formulada por Donnangelo 
(1975) e adaptada por Paixão (1979). Partimos das três modalidades 
fundamentais elencadas por estas autoras e analisamos diversas 
variações, algumas já foram esboçadas por elas, outras são novidade. 
 
FIGURA 4 – Modalidades fundamentais de inserção do dentista no 
mercado de trabalho e variações. 
 
 
 
 
 
O estudo das modalidades de inserção no mercado de trabalho faz-se 
necessário porque estas condicionam o processo de trabalho e estão 
intimamente relacionadas como os processos de precarização que 
afetam os dentistas.

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