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AULA 2 – OBJETO E FUNÇÕES DA CRIMINOLOGIA 
 
O objeto da Criminologia: delito, delinquente, vítima e controle social. 
 Uma das características mais destacadas da moderna Criminologia – e do 
perfil da sua evolução nos últimos anos – é a progressiva ampliação e 
problematização do seu objeto. A problematização do seu objeto reflete uma 
mudança ou uma crise do modelo de ciência e dos postulados então vigentes 
acerca do fenômeno criminal. A moderna Criminologia vem questionando os 
fundamentos epistemológicos e ideológicos da Criminologia tradicional, de 
sorte que a própria definição de delito e de pena é concebida como problemática, 
conflitiva, insegura. Um novo paradigma que rechaça o conceito jurídico formal 
de delito, reclamando maiores cotas de autonomia frente ao sistema legal para 
selecionar seu próprio objeto com critérios rigorosamente científicos. O 
deslocamento do seu objeto de investigação científica dos fatores criminógenos 
ao controle social supera, em parte, o enfoque etiológico. Processo 
desmistificador e enriquecedor. 
 A Criminologia se ocupa do delito, segundo García-Pablos de Molina. 
Mas, é preciso delimitar o conceito de delito, pois não é unânime, mormente 
dada a autonomia científica da Criminologia. Existem numerosas noções de 
delito. O Direito Penal, por exemplo, serve-se de um conceito formal e 
normativo, sendo delito toda conduta prevista na lei penal e somente a que a lei 
penal castiga. O conceito jurídico-formal, no entanto, para a Criminologia 
constitui seu ponto de partida, sua referência primeira, mas nada mais do que 
isso, porque o formalismo e normativismo jurídico resultam incompatíveis com 
as exigências metodológicas de uma disciplina empírica como a Criminologia. E 
se assim fosse, por exemplo, se tivesse que aceitar apenas este conceito, perderia 
a sua autonomia científica e se tornaria instrumento auxiliar do sistema penal. A 
Criminologia e o Direito Penal operam com conceitos distintos de delito, haja 
vista suas distintas funções em relação ao problema do crime e, logicamente, do 
significado também distinto dos conceitos, técnicas e instrumentos dos quais um 
e outro se servem. 
O conceito “penal” de delito tem natureza formal e normativa, contempla 
um fragmento parcial da realidade, com critérios valorativos, pois o Jurista cuida 
do fato delitivo como abstração, por meio da figura típica prevista na norma, de 
forma, portanto, valorativa, normativa. As definições “formais” de delito 
delimitam a intervenção do Estado, por imperativo do princípio da legalidade. O 
 
“realismo criminológico” libera as disciplinas destas exigências típicas do 
Direito, reclamando o investigador uma análise totalizadora do delito. Interessa 
à Criminologia não tanto a qualificação formal de um acontecimento penal, mas 
a imagem global do fato e do seu autor, a etiologia do fato real, sua estrutura 
interna e dinâmica, formas de manifestação, técnicas de prevenção do mesmo e 
programas de intervenção no infrator. O conceito filosófico de “delito natural” 
também não atende às necessidades da Criminologia, pois embora tenha 
denunciado o formalismo das definições legais de delito, tenta em vão atribuir 
uma base ontológica e segura a este conceito, neutra, livre de valorações e com 
sustento empírico. O conceito sociológico de “conduta desviada” também 
apresenta semelhantes limitações, segundo García-Pablos de Molina. É que o 
conceito de “desviação”, o qual advém de uma etiqueta que as maiorias sociais 
determinam a determinado autor com estigma de desviado, apela para as 
expectativas sociais, as quais são mutantes, circunstanciais, reconhecendo a sua 
própria incapacidade para formular um conceito de delito ontológico, objetivo, 
material, privando o Criminólogo de uma base segura de referencial 
metodológico para o seu trabalho. Também os teóricos do labelling approach 
quando definem o crime como mero subproduto final do controle social, o que 
sem dúvida tem um papel importante na configuração efetiva da criminalidade, 
denotando a seletividade e a discriminação, pecam por negar toda a consistência 
e autonomia ao conceito de delito, impossibilitando a análise teórica sobre sua 
definição, etiologia, prevenção, pois confere ao controle social eficácia 
constitutiva, criadora da criminalidade. 
 Não obstante, estes enfoques sociológicos têm desmistificado com 
saudável realismo o conceito formal e estático de delito da Criminologia 
clássica, chamando a atenção acerca da sua insuficiência. O conceito penal de 
delito é um conceito jurídico-formal, normativo e estático. O conceito 
Criminológico é um conceito empírico, real e dinâmico. A Criminologia clássica 
(tradicional), segundo García-Pablos de Molina, em sendo assim, submissa às 
definições jurídico-formais de delito, fez do conceito deste uma questão 
metodológica prioritária. Não assim a Criminologia moderna, a qual vem 
problematizar outros temas, como, por exemplo, as funções que o delito 
desempenha como indicador da efetividade do controle social. Chegou a tal 
ponto, inclusive, a perda de interesse de debate sobre o conteúdo criminológico 
de delito que um setor sugere utilizar o conceito que mais corresponda às 
características e necessidades da investigação, por exemplo, se estudo tem por 
objeto a descriminalização ou neocriminalização, operaria com o conceito 
 
“material” de delito, mas, se tem por objeto a análise do volume, estrutura e 
movimento da criminalidade, deverá tomar a definição jurídico-formal de delito. 
 Para a criminologia o delito se apresenta, antes de tudo, como problema 
social e comunitário, que exige do investigador uma determinada atitude 
(empatia, aqui utilizada como interesse, diferenciando-se da tecnocracia e do 
formalismo) para se aproximar dele. Ou seja, a criminologia deve contemplar o 
delito não só como comportamento individual, mas, sobretudo, como problema 
social e comunitário, entendendo esta categoria refletida nas ciências sociais de 
acordo com sua acepção original, com toda sua carga de enigma e relativismo, 
segundo García-Pablos de Molina. 
 O mesmo autor chama atenção que, conforme Oucharchyn-Dewitt e 
outros, um determinado fato ou fenômeno deve ser definido como problema 
social somente quando: tenha uma incidência massiva na população; que 
referida incidência seja dolorosa; persistência espaço-temporal; falta de um 
inequívoco consenso a respeito de sua etiologia e eficazes técnicas de 
intervenção no mesmo; consciência social generalizada a respeito de sua 
negatividade. Todas essas notas podem ser observadas no delito, que é, na 
verdade, um problema da comunidade, porque nasce na comunidade e nela deve 
encontrar formulas de solução positivas, já que vítima e delinquente são 
membros ativos da comunidade. 
 Em razão de tudo isso e, ainda, tendo-se por norte a interdependência 
entre delito e reação social, pode-se afirmar da relatividade do seu conceito e da 
sua problematicidade, haja vista que há de se superar diversos filtros até que se 
atribua a determinado fato a qualidade de criminoso, pois, criminal não é uma 
qualidade objetiva inerente a certas condutas – estas não são in se ou per se 
delituosas – senão um (des) valor ou atributo negativo que se lhes confere desde 
o ordenamento jurídico. Veja-se a criminalização primária, a qual parte do 
legislativo, mas, também, se vale da conduta do denunciante (cifra negra); da 
polícia (verdadeira seletividade); dos Juízes e dos Tribunais (criminalização 
secundária). Além, é claro, da influência da mídia e da opinião pública nesses 
contextos. 
 A criminologia, por outro lado, se ocupa, também, da pessoa do infrator, 
do delinquente, a qual alcançou seu máximoprotagonismo como objeto de 
investigações criminológicas durante a etapa positivista. O princípio da 
“diversidade” que inspirou a criminologia tradicional (o delinquente como 
realidade bi psicopatológica) o converteu no centro quase que exclusivo da 
atenção científica. Na moderna criminologia, no entanto, o estudo do homem 
 
delinquente passou a um segundo plano, em razão do giro sociológico e da 
necessária superação do enfoque individual em atenção aos objetivos políticos-
criminais. Desloca-se o interesse da pessoa do infrator para a conduta delitiva, 
para a vítima e para o controle social. Em todo o caso, o delinquente é 
observado em suas interdependências sociais, como unidade biopsicossocial e 
não de uma perspectiva biopsicopatológica, como sucedera antes. 
 No que diz com a imagem do homem delinquente, pode-se falar em 
quatro respostas: a clássica, a positivista, a correcionalista e a marxista. 
Vejamos. Os clássicos partiam de uma imagem sublime e ideal de ser humano, 
como centro do universo, como dono e senhor absoluto de si mesmo, de seus 
atos. O dogma da liberdade, o qual tornou todos os homens iguais 
qualitativamente, fundamentou a responsabilidade: o absurdo comportamento 
delitivo só pode ser atribuído ao mau uso da liberdade em uma concreta 
situação, não a razões internas, nem a influências externas. O crime, pois, possui 
suas raízes em um profundo mistério ou enigma. Para os clássicos, o delinquente 
é um pecador que optou pelo mal, embora pudesse e devesse respeitar a lei. 
 Os positivistas, ao contrário, negam ao homem a possibilidade de livre 
controle sobre os seus atos, inserindo o comportamento do indivíduo na 
dinâmica de causas e efeitos que rege o mundo natural ou social, em uma cadeia 
de estímulos e respostas: fatores determinantes internos, endógenos (biológicos) 
ou externos e exógenos (sociais) explicam a sua conduta. Para o positivismo o 
infrator é um prisioneiro de sua própria patologia (determinismo biológico) ou 
de processos causais alheios a ele (determinismo social). 
 A filosofia correcionalista, por sua vez, opera com diferentes imagens do 
infrator. O vê como um menor de idade, um inválido, pois trabalha com uma 
imagem pedagógica, pietista, vendo no criminoso um ser inferior, deficiente, 
incapaz de dirigir por si mesmo – livremente – a sua vida, cuja débil vontade 
requer uma intervenção eficaz e desinteressada por parte do Estado. Uma 
intervenção tutelar, por sua vez. 
 O marxismo, por último, atribui à responsabilidade do crime a 
determinadas estruturas econômicas, de maneira que o infrator torna-se mera 
vítima inocente e fungível daquelas: culpável é a sociedade, conforme doutrina 
García-Pablos de Molina, aduzindo trabalhar e partir da premissa da 
normalidade do delito e do delinquente, diferindo, portanto, das referidas teses. 
Isso porque as demais disciplinas empíricas, como a psicologia, por exemplo, 
nos dão uma imagem mais dinâmica do homem em si, revelando-se este como 
um ser aberto e inacabado. Aberto aos demais em um permanente e dinâmico 
 
processo de comunicação, de interação; condicionado, com efeito, muito 
condicionado (por si mesmo, pelos demais, pelo meio), porém com assombrosa 
capacidade para transformar e transcender o legado que recebeu e, sobretudo, 
solidário com o presente e com a visão do seu próprio futuro ou no futuro alheio. 
Esse é o homem real e histórico do nosso tempo, que pode acatar as leis ou não 
cumpri-las por razões nem sempre acessíveis a nossa mente; um ser enigmático, 
complexo, torpe ou genial, herói ou miserável, porém, em todo o caso, mais um 
homem, como qualquer outro. 
 Segue o autor, ainda, aduzindo para o fato de que existem infratores 
anormais, como também existem anormais que não delinquem. O postulado da 
normalidade do homem delinquente – e o da normalidade do crime – só 
pretende expressar um claro rechaço à tradicional correlação crime-
anormalidade do infrator. Afinal, os “normais” são os que mais delinquem, a 
bem da verdade, vide a criminalidade econômico-financeira, a de tráfico, entre 
outras. Outra coisa, não significa, também, o postulado da normalidade do delito 
(não no sentido axiológico, valorativo, mas estatístico e sociológico): toda 
sociedade, qualquer que seja seu modelo de organização e abstração feita das 
numerosas variáveis de tempo e lugar, produz uma taxa inevitável de crime. O 
comportamento delitivo, portanto, é uma resposta previsível, típica, esperada, 
normal. 
 No que tange à vítima, pode-se dizer que seu protagonismo era grande 
quando da vingança privada, mas, entretanto, seu abandono ocorreu quando da 
neutralização operada pelo sistema legal moderno. O abandono da vítima é um 
fato incontestável em todos os âmbitos. O Estado orienta a resposta oficial ao 
delito com base em critérios vingativos, retributivos (castigo ao culpável), 
desatendendo às mais elementares exigências reparatórias, de maneira que a 
vítima resulta relegada, geralmente, a um total desamparo, sem outro papel que 
o puramente testemunhal. O seu abandono pode ser constatado por muitas e 
diversas causas, tanto no âmbito jurídico como no empírico e no político-social. 
 O sistema legal – o processo – já nasceu com o propósito deliberado de 
“neutralizar” a vítima, de acordo com García-Pablos de Molina, distanciando os 
dois protagonistas do conflito criminal, precisamente como garantia de uma 
aplicação serena, objetiva e institucionalizada das leis ao caso em concreto. É 
que a vingança privada gerava injustiça e represália, sendo assim, acreditava-se 
que a resposta ao crime deve ser uma resposta distante, imparcial, pública, 
desapaixonada. A neutralização da vítima está nas próprias origens do processo 
legal moderno. O processo seria o mecanismo institucionalizado de solução dos 
 
conflitos, entretanto, a sua linguagem abstrata, a sua simbologia e formalismo, 
convertem a vítima real em mero conceito e abstração, impedindo um 
enfrentamento interpessoal. 
 Tal fenômeno é muito negativo, pois o infrator considera que seu único 
interlocutor é o sistema legal e, portanto, apenas frente a ele contrai 
responsabilidades, esquecendo-se da sua vítima. A vítima, por sua vez, se sente 
maltratada pelo sistema legal, havendo um processo de vitimização secundária, 
fruto da insensibilidade, desinteresse e do espírito burocrático daquele sistema, o 
que faz com que se distancie deste. 
 Segundo Shecaira, tem-se convencionado dividir em três tempos o 
protagonismo da vítima nos estudos penais. A idade de ouro da vítima é aquela 
compreendida desde os primórdios da civilização até o fim da Alta Idade Média. 
Com a adoção do processo penal inquisitório, a vítima perde seu papel de 
protagonista do processo, passando a ter uma função acessória. Na segunda fase 
histórica, tem-se uma neutralização do poder Da vítima, ela deixa de ter o poder 
de reação ao fato delituoso, que é assumido pelos poderes públicos. A pena 
passa a ser uma garantia de ordem coletiva e não vitimaria. Em um terceiro 
momento, revaloriza-se o papel da vítima no processo penal. Desde a escola 
clássica já se tem essa intenção. 
 Entretanto, a vitimologia com contorno criminológico é recente, advém do 
pós-segunda guerra mundial, sendo considerado fundador do movimento o 
advogado israelita Benjamim Mendelsohn, professor da Universidade Hebraica 
de Jerusalém, em função de uma conferência proferida em 1947, em Bucareste, 
intitulada Um horizonte novo na ciência biopsicossocial: a vitimologia. Também 
merece destaque o livro de Hans von Hentig, de 1948, divulgado na 
Universidade de Yale, intitulado O criminoso e sua vítima. Seguiram-se alguns 
seminários internacionais, tendo sidoo VII Simpósio Internacional de 
Vitimologia realizado no Brasil, em 1991, no Rio de Janeiro. A particularidade 
essencial da vitimologia consiste em questionar a aparente simplicidade em 
relação à vítima e mostrar, ao mesmo tempo, que o estudo da vítima é 
complexo, seja na esfera do indivíduo, seja na inter-relação existente entre autor 
e vítima, de acordo com Shecaira. 
 Segundo leciona o referido autor, os estudos vitimológicos são muito 
importantes, pois permitem o exame do papel desempenhado pelas vítimas no 
desencadeamento do fato criminal. Propicia estudar a problemática da 
assistência jurídica, moral, psicológica e terapêutica, especialmente naqueles 
casos em que há violência ou grave ameaça à pessoa, nos crimes que deixam 
 
marcas e causam traumas, eventualmente até tomando as medidas necessárias a 
permitir que tais vítimas sejam indenizadas por programas estatais, como 
ocorrem uns alguns países, como México, Nova Zelândia, Áustria, Finlândia e 
alguns Estados americanos. De outra parte, os estudos da vítima permitem 
estudar a criminalidade real, mediante informe facilitado pela vítima de delito 
não averiguado (cifra negra da criminalidade). Há casos em que a diferença 
entre os fatos criminosos ocorridos e os comunicados é de 90%, como nos 
crimes sexuais, por exemplo. 
 Por fim, cabe diferenciar a vitimização primária, secundária e terciária. 
Considera-se haver vítima primária quando um sujeito é diretamente atingido 
pela prática do fato delituoso. A secundária é derivativa das relações existentes 
entre vítimas primárias e o Estado em face do aparelho repressivo (polícia, 
burocratização do sistema, falta de sensibilidade, etc.). Já a terciária é aquela 
que, mesmo possuindo um envolvimento com o fato delituoso, tem um 
sofrimento excessivo, além daquele determinado pela lei do país. É o caso do 
acusado que sofre sevícias, torturas ou outros tipos de violência (às vezes dos 
próprios presos), ou que responde processos que evidentemente não lhe 
deveriam ser imputados (ex. caso Escola Base). 
 Esse protagonismo, no entanto, deve ser objeto de cuidado, no sentido de 
que não sejam às vítimas manipuladas e instrumentalizadas para fins meramente 
punitivos, desvirtuando o sistema até então construído, o qual possibilitou, ainda 
diante de todas as suas deficiências, maior justiça e igualdade. 
 Ainda como objeto da Criminologia temos o controle social. A moderna 
criminologia se preocupa, também, com o controle social do delito, sem dúvida 
por sua orientação cada vez mais sociológica e dinâmica, o que representou um 
giro metodológico, inclusive. De acordo com Shecaira, toda sociedade ou grupo 
social, desde que Max Weber introduziu a ideia de “monopólio da força 
legítima”, necessita de mecanismos disciplinares que assegurem a convivência 
interna de seus membros, razão pela qual se vê obrigada a criar uma gama de 
instrumentos que garantam a conformidade dos objetivos eleitos no plano social. 
Este processo irá pautar as condutas humanas, orientando posturas pessoais e 
sociais. Dentro deste contexto, podemos definir o controle social como o 
conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo 
aos modelos e normas comunitários. Para alcançar tais metas as organizações 
sociais lançam mão de dois sistemas articulados entre si. O controle social 
informal, que passa pela instância da sociedade civil: família, escola, profissão, 
opinião pública, grupos de pressão, clubes de serviço etc. E controle social 
 
formal, identificada com a atuação do aparelho político do Estado: polícia, 
justiça, exército, ministério público, administração penitenciária e todos os 
consectários destas agências, como controle legal, penal etc. 
 As instâncias de controle social informal operam educando, socializando 
o indivíduo, são mais sutis do que as agências formais e atuam ao longo de toda 
a existência da pessoa. Por fazer assimilar nos destinatários valores e normas de 
uma dada sociedade sem recorrer à coerção estatal, o controle social informal 
possui mais força em ambientes reduzidos, sendo, então, típico de sociedades 
pouco complexas. Entretanto, em épocas como a atual, em que se assiste ao 
aprofundamento das complexidades sociais, e em que são enfraquecidos os laços 
comunitários, cada vez mais os mecanismos de controle informal tornam-se 
enfraquecidos. As redes de interação humana se reduzem de modo que uma 
multidão de anônimos não convive, apenas habita os mesmos espaços, e desse 
modo não há permanência que possibilite a estruturação de mecanismos de 
controle informal. Segundo Bauman, com a vitória da visão meritocrática de 
mundo, que conforta aos poderosos ao conferir dignidade aos seus privilégios, 
afasta-se o princípio comunitário de compartilhamento. 
 Daí porque a grande margem de atuação do controle social formal, 
mormente quando se verifica que o controle social informal falha ou é ausente. 
Assim, se o indivíduo, em face do processo de socialização, não tem uma 
postura em conformidade com as pautas de conduta transmitidas e apreendidas 
na sociedade, entrarão em ação as instâncias formais que atuarão de maneira 
coercitiva, impondo sanções qualitativamente distintas das reprovações 
existentes na esfera informal. Este controle social formal é seletivo e 
discriminatório, pois o status prima sobre o merecimento. Ademais, é ele 
estigmatizante, desencadeando desviações secundárias e carreiras criminais. A 
sua efetividade é muito menor do que a exercida pelo controle social informal. É 
isso que explica ser a criminalidade muito maior nos grandes centros urbanos do 
que nas pequenas comunidades. A efetividade do controle social formal é 
sempre relativa, na verdade, a eficaz prevenção do crime não depende tanto da 
maior efetividade do controle social formal, mas, sim, da melhor integração ou 
sincronização do controle social informal e formal. Ex. polícia comunitária. 
 O Direito Penal representa, também, tão-somente um dos meios ou 
sistemas normativos existentes, do mesmo modo que a infração legal constitui 
nada mais que um elemento parcial de todas as condutas desviadas; e que a pena 
significa uma opção dentre as muitas existentes para sancionar a conduta 
desviada. Mas é inegável que o Direito penal simboliza o sistema normativo 
 
mais formalizado, com uma estrutura mais racional e com o mais elevado grau 
de divisão do trabalho e de especialidade funcional dentre todos os subsistemas 
normativos, segundo García-Pablos de Molina. 
 O controle social penal é um subsistema dentro do sistema global de 
controle social; difere deste último pelos seus fins (prevenção ou repressão do 
delito), pelos meios dos quais se serve (penas ou medidas de segurança) e pelo 
grau de formalização que exige. 
 A função básica da Criminologia consiste em informar a sociedade e os 
poderes públicos sobre o delito, o delinquente, a vítima e o controle social, 
reunindo um núcleo de conhecimentos – o mais seguro e contrastado – que 
permita compreender cientificamente o problema criminal, preveni-lo e intervir 
com eficácia e de modo positivo no homem delinquente, de acordo com García-
Pablos de Molina. 
 A Criminologia aspira conhecer e explicar a realidade com pretensões de 
objetividade, busca a verdade e o progresso, entretanto, como disse Popper, ao 
referir-se a este último, o progresso constitui uma “busca sem fim”. Convém 
recordar que a Criminologia não é uma ciência exata, capaz de explicar o 
fenômeno delitivo formulando leis universais e relações de causa e efeito. Ela 
tem por intuito buscar um núcleo de conhecimentos que significa saber 
sistemático, ordenado, generalizador e não mera acumulação de dados ouinformações isoladas e desconexas. 
 Assim, a Criminologia, como ciência, não pode ser tão-somente um 
gigantesco banco de dados centralizado, senão uma fonte dinâmica de 
informação; do mesmo modo que a tarefa do criminólogo é sempre provisória, 
inacabada, aberta aos resultados das investigações interdisciplinares, nunca 
definitiva. A obtenção de dados não é um fim em si mesmo; os dados são 
material bruto que têm que ser interpretados de acordo com uma teoria. A 
Criminologia é uma ciência prática que busca reunir conhecimentos úteis e 
aplicáveis à realidade social. 
 Segundo o autor, a Criminologia pretende um controle razoável do delito, 
pois a sua total erradicação da sociedade é uma meta utópica e inviável. A sua 
investigação, no entanto, não é neutra, por isso, podemos falar em dois modelos 
radicais: o positivista e o crítico. A Criminologia positivista seria uma 
criminologia legitimadora da ordem social constituída, porque não questiona os 
seus fundamentos axiológicos, as definições oficiais ou o próprio funcionamento 
do sistema, pelo contrário, assume-o como um dogma, acriticamente, 
refugiando-se na suposta neutralidade do empirismo das cifras e das estatísticas. 
 
 O modelo crítico, do contrário, questiona as bases da ordem social, sua 
legitimidade, o concreto funcionamento do sistema e de suas instâncias, assim 
como a reação social: o delito e o próprio controle social se tornam 
problemáticos. Para García-Pablos de Molina, nenhum dos dois modelos 
convence, pois o criminólogo deve buscar a verdade, como cientista, reservando 
para si a possibilidade de criticar, inclusive, as bases legais do sistema e seu 
funcionamento, mas não pode transformar a Criminologia em sociologia política 
ou mera política criminal. 
 A contribuição da Criminologia está, portanto, na explicação cientifica do 
fenômeno criminal, através dos seus modelos teóricos; a prevenção do delito 
(sabendo de antemão da nocividade da intervenção penal, por isso reservando a 
pena apenas a casos de estrita necessidade, dados seus efeitos e custos sociais, 
bem como, salientando a complexidade do efeito dissuasório); e a intervenção 
no homem delinquente (sem desconhecer a crise da “ideologia do tratamento”, 
pois não parece fácil que o Estado garanta a ressocialização do condenado, 
quando não é capaz sequer de assegurar a sua vida, sua integridade física, sua 
saúde. Além disso, tal desencanto preocupa, pois faz ressurgir o tradicional 
direito penal retributivo, questionando a eficácia dos dispositivos constitucionais 
e convencionais, normas jurídicas obrigatórias que vinculam todos os poderes 
do Estado. Em consequência, a Criminologia teria três metas: esclarecer qual é o 
impacto real da pena em que a cumpre; quais os efeitos que produz, dadas suas 
condições de cumprimento, não os fins e funções “ideais” que lhe são 
assinalados pelos teóricos; esclarecer e desmistificar tal impacto real para 
neutralizá-lo, para que a inevitável potencialidade destrutiva inerente a toda 
privação de liberdade não se torne irreversível. Para que a privação de liberdade 
seja somente privação de liberdade e nada mais que isso. Desenhar e avaliar 
programas de reinserção, entendendo-a não no sentido clínico e individualista 
(modificação qualitativa da personalidade do infrator), senão no funcional; 
programas que permitam uma efetiva incorporação sem traumas para o ex-
condenado à comunidade jurídica, removendo obstáculo, promovendo uma 
recíproca comunicação e interação entre indivíduo e sociedade. Fazer a 
sociedade perceber que o crime não é um problema exclusivo do sistema legal, 
senão de todos). 
 Por fim, vale asseverar que a Criminologia estabelecerá relações com 
outras disciplinas, sejam elas integrantes de ciências criminais e não criminais, 
como, por exemplo, nesse último caso, a biologia (dado o substrato biológico do 
ser humano), a psiquiatria e a psicologia (dado o potencial psíquico do homem), 
 
a sociologia (isso porque a realidade total do fenômeno delitivo é 
pluridimensional; o crime não como expressão de uma personalidade patológica 
do indivíduo, mas, sim, como fato social, normal com magnitude coletiva), a 
etiologia (esta examina a estrutura ou suporte biológico do comportamento das 
espécies vivas, delimitando, caso a caso, o componente instintivo e o adquirido. 
Por meio da comparação do comportamento humano e o animal trata, assim, de 
verificar as regras que regem o sistema orgânico em sua totalidade, de acordo 
com os objetivos próprios da biologia. É, no entanto, reducionista, simplifica a 
natureza complexa do homem e a mediação das pautas culturais). 
 Também a Criminologia se relaciona com as ciências criminais: 
mormente o Direito Penal e a Política Criminal. Só que o Direito Penal é uma 
ciência do “dever ser” e a Criminologia do “ser”. A ciência penal é normativa e 
funda-se num conceito formal de delito, já a Criminologia encara o delito como 
fenômeno real e serve de métodos empíricos para examiná-lo. A evolução das 
ciências penais e criminológicas, segundo Garcia-Pablos de Molina, caminha 
para um modelo “integrado” de Ciência Penal, imposto pela necessidade de um 
método interdisciplinar e pela unidade do saber científico. 
 Dessa forma, a politica criminal, enquanto disciplina que oferece aos 
poderes públicos as opções cientificas concretas mais adequadas para o eficaz 
controle do crime, vem servindo de ponte eficaz entre o Direito Penal e a 
Criminologia. Seriam, portanto, estas disciplinas, os três pilares do sistema de 
ciências criminais, inseparáveis e interdependentes, embora o abismo existente 
entre elas na realidade. 
 
Referências bibliográficas: 
BATISTA, Vera Malaguti. Introdução crítica à criminologia brasileira. Rio de 
Janeiro: Revan, 2011. 
GOMES, Luiz Flávio (Coord.). Direito Penal, Introdução e princípios 
fundamentais. V. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 
______. GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Criminologia. 5ª ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 5ª ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2013. 
 
 
 
AULA 3 – A CONSOLIDAÇÃO DA CRIMINOLOGIA COMO CIÊNCIA 
 
A origem da criminologia científica: De acordo com García-Pablos de 
Molina, o crime é um fato tão antigo como o homem e sempre fascinou e 
preocupou a humanidade. Por isso, sempre existiu uma experiência cultural e 
uma imagem ou representação de cada civilização em relação ao crime e ao 
delinquente. O que denominamos hoje como criminologia não é nenhum 
descobrimento recente. Não há, portanto, como circunscrever a sua origem 
exata, mas a criminologia é uma disciplina científica, de base empírica, que 
surge quando a denominada Escola Positiva italiana (Scuola Positiva) é dizer, o 
positivismo criminológico, cujos representantes foram Lombroso, Garófalo e 
Ferri, generalizou o método de investigação empírico-indutivo. Embora 
Zaffaroni entenda que a criminologia já se fazia presente aos tempos da 
inquisição, com os demonólogos. Mas, para García-Pablos de Molina pode-se 
falar em duas etapas ou momentos na evolução das ideias sobre o crime: a etapa 
pré-científica e a científica, cuja linha divisória foi dada pela escola italiana 
positiva, isto é, pela passagem da especulação, da dedução, do pensamento 
abstrato-dedutivo à observação, à indução, ao método positivo. Nesta longa 
evolução de ideias e teorias sobre o crime e o delinquente, pode-se constatar um 
certo deslocamento dos interesses e do método empregado, desde a Biologia à 
Psicologia e à Psiquiatria, e desde estas à Sociologia, predominando, hoje em 
dia, esta última. Mas há uma grande diferença na consideração deste tema entreEuropa e Estados Unidos. Na Europa existiu uma dilatada e fecunda tradição 
biológica, da qual não se liberou a Psicologia nem a própria Psicanálise. Nos 
Estados Unidos, do contrário, a análise sociológica permeou e orientou todas as 
investigações, até o ponto em que a Criminologia nasce como apêndice da 
Sociologia. O certo é que ocorreu uma progressiva maturação do pensamento 
criminológico. 
 
 A etapa pré-científica da criminologia: nesta etapa havia dois enfoques 
claramente distintos em razão do método dos seus patrocinadores: por um lado, 
o que se pode denominar “clássico” (produto das ideias do iluminismo, dos 
reformadores e do Direito Penal clássico: modelo que se vale de um método 
abstrato, dedutivo e formal); de outro, o que se pode qualificar como 
“empírico”, por ser desta classe as investigações sobre o crime, realizadas de 
forma fragmentária por especialistas das mais diversas procedências 
(fisionomistas, frenólogos, antropólogos, psiquiatras etc.), tendo todos eles em 
comum o fato de que substituem a especulação, a intuição e a dedução pela 
 
análise, observação e indução (método empírico-indutivo). Ambas coincidem no 
tempo e, inclusive, se prolongam até os nossos dias, de acordo com García-
Pablos de Molina. 
 
 Criminologia Clássica: assumiu o legado liberal, racionalista e 
humanista do Iluminismo, especialmente sua orientação jusnaturalista. Concebe 
o crime como fato individual, isolado, como mera infração à lei: é a contradição 
com a norma jurídica que dá sentido ao delito, sem que seja necessária uma 
referência à personalidade do autor (mero sujeito ativo do fato) ou à sua 
realidade social, para compreendê-lo. O decisivo mesmo é o fato, não o autor. A 
determinação sempre justa da lei, igual para todos e acertada é infringida pelo 
delinquente em uma decisão livre e soberana. Falta para a referida escola uma 
preocupação etiológica (indagar as causas do comportamento criminoso), já que 
sua premissa jusnaturalista a conduz a atribuir a origem do ato delitivo a uma 
decisão livre do seu autor, incompatível com a existência de outros fatores ou 
causas que pudessem influir no seu comportamento. É uma concepção mais 
reativa, só podendo assim oferecer uma explicação situacional do delito. Seu 
jusnaturalismo é incompatível com as supostas diferenças qualitativas entre os 
homens honestos e os delinquentes. A imagem do homem como ser racional, 
igual e livre, a teoria do pacto social, como fundamento da sociedade civil e do 
poder, assim como a concepção utilitária de castigo, não desprovida de apoio 
ético, constituem os três pilares do pensamento clássico. A escola simboliza o 
trânsito entre o pensamento mágico, sobrenatural, ao pensamento abstrato, do 
mesmo modo que o positivismo representará a passagem ulterior para o mundo 
naturalístico e concreto. Seu ponto débil, segundo García-Pablos de Molina não 
foi tanto não contar com uma teoria da criminalidade, mas abordar o problema 
do crime menosprezando o exame da pessoa do delinquente, assim como do seu 
meio ou relacionamento social, como se fosse possível conceber o delito como 
uma abstração jurídico-formal. Em sendo assim, não foi capaz de oferecer aos 
poderes públicos as bases e informações necessárias para um programa político-
criminal de prevenção e luta contra o crime. Optou pela especulação, pelos 
sistemas filosóficos e metafísicos, pelos dogmas (liberdade e igualdade do 
homem, bondade das leis etc.). A sua contribuição permanece mais no campo da 
penologia. Sua teoria sobre a criminalidade não busca tanto a identificação dos 
fatores que a esta determina (análise etiológica) como a fundamentação, 
legitimação e delimitação do castigo. Não porque se produz o delito, senão 
quando, como e por que castigamos o crime. Isso porque historicamente 
enfrentou o sistema penal caótico e arbitrário das monarquias absolutas, por 
 
isso, precisava antes de tudo racionalizar e humanizar o panorama legislativo e o 
funcionamento das instituições, buscando um novo marco. Como consequência, 
a escola enfrenta muito tarde o problema criminal: limita-se a responder ao 
comportamento delitivo com uma pena justa, proporcionada e útil, mas não se 
interessa pela gênese e etiologia daquele nem trata de preveni-lo e antecipar-se 
ao mesmo. Seus traços formalistas e acríticos, assim, são funcionais ao poder 
constituído e tranquilizadores para a opinião pública. Legitimam o uso 
sistemático do castigo como instrumento de controle do crime, justificando a 
práxis e seus eventuais excessos. Para as autoridades, a teoria do contrato social 
consolida o status quo e resulta atraente; porque lembra o insubstituível rol das 
estruturas de poder, o caráter egoísta e irracional do crime, a periculosidade dos 
membros das classes baixas, acerca dos quais podem concentrar-se as taxas mais 
elevadas da criminalidade etc. Tudo isso sem se questionar as bases do contrato 
social, a bondade ou a injustiça deste, os desequilíbrios e as desigualdades reais 
das partes. Como expressão da escola clássica temos Beccaria com a obra dos 
delitos e das penas, o qual se assentou nas ideias do contrato social e da divisão 
dos poderes, para além do princípio utilitarista da maior felicidade para o maior 
número. Romagnosi, o qual via a pena como contraestimulo ao impulso 
criminoso e Francesco Carrara, através do qual nasce a moderna ciência do 
direito penal italiano. 
 
 Orientações empíricas: operando no marco das ciências naturais, se vale 
de um método empírico-indutivo, baseado na observação da pessoa do 
delinquente e do seu meio. Este método, como percursor do positivismo 
criminológico, antecedeu-lhe em anos. As principais investigações foram 
realizadas nos mais diversos campos do saber. Na Ciência Penitenciária, 
Howard (1726-1790) e Bentham (1748-1832) analisaram, descreveram e 
denunciaram a realidade penitenciária europeia do século XVIII, conseguindo 
importantes reformas legais (Howard) ou formulando a tese da reforma do 
delinquente como fim prioritário da Administração, assim como da necessidade 
de valer-se do emprego das estatísticas (Bentham). Este último autor influiu 
muito na reforma penal inglesa do século XIX e em outras legislações. Sua obra 
fundamental é teórica, mas sua criação do panóptico é um achado que alcançou 
universalidade. É um utilitarista, pois defende a concepção de que a pena, para 
justificar-se, deve ter uma finalidade útil. Tendo em conta a fisionomia, Della 
Porta (1535-1616) e Lavater (1741-1801) preocuparam-se com o estudo da 
aparência externa do indivíduo, ressaltando a inter-relação entre o somático 
(corpo) e o psíquico. A observação e a análise (visita a reclusos, necropsias, etc.) 
 
foram os métodos empregados. Conhecido é o “retrato robô” que ofereceu 
Lavater, denominado “homem de maldade natural”, baseado nas suas supostas 
características somáticas. E, na prática, conhecido como “Édito de Valério” 
(quando se tem dúvida entre dois presumidos culpados, condena-se o mais feio) 
ou a forma processual imposta no século XVIII por um juiz napolitano, o 
marquês de Moscardi (ouvidas às testemunhas de acusação e de defesa e visto o 
rosto e a cabeça do acusado, condeno-o), que se vinculam a tais concepções 
fisionômicas, de escasso rigor teórico-científico, porém com apoio nas 
convicções populares. Antecipando-se aos conhecimentos frenológicos, 
sustentou Lavater que existe uma correlação entre determinadas qualidades do 
indivíduo e os órgãos ou partes do seu corpo onde se supõe que têm sede e 
concentração física e as correspondentes potências humanas. A vida intelectual 
podia ser observada na fronte (testa); a moral e sensitiva nos olhos e no nariz; a 
animale vegetativa no mento (maxilar inferior). Autêntico percursor do 
delinquente nato de Lombroso. A frenologia, percursora da moderna 
Neurofisiologia e da Neuropsiquiatria, deu também uma importante 
contribuição, ao tratar de localizar no cérebro humano as diversas funções 
psíquicas do homem e explicar o comportamento criminoso como 
consequências das malformações cerebrais. Destaca-se a obra de Gall (1758-
1828), autor de um conhecido mapa cerebral dividido em 38 regiões. Para este 
autor, o crime é causado por um desenvolvimento parcial e não compensado do 
cérebro, que ocasiona uma hiperfunção de determinado sentimento. Acreditou 
haver localizado em diversos pontos do cérebro um instinto de agressividade, 
homicida, de patrimônio, moral e etc. A obra de Cubí y Soler também merece 
destaque porque três décadas antes de Lombroso antecipa uma de suas teses. 
Contribui no âmbito metodológico, experimental, devido às pesquisas e 
trabalhos de campo. Considerava o delinquente como um enfermo que 
necessitava de tratamento. Optou por fórmulas prevencionistas em matéria de 
política-criminal, tratando de localizar em diversos lugares do cérebro as 
faculdades e potências do ser humano, incluída as criminais. O mesmo sucede 
com as investigações da Psiquiatria, cujo fundador Pinel (1745-1826), realizou 
os primeiros diagnósticos clínicos separando os delinquentes dos enfermos 
mentais; também importa a obra de Esquirol (1772-1840), que elaborou as 
categorias clínicas oficiais vigentes no século XIX; e a de Prichard e Despine, 
que formularam a tese da loucura moral do delinquente; por último, a de Morel 
(1809-1873), para quem o crime é uma forma determinada de degeneração 
hereditária, de regressão, e a loucura moral um mero déficit do substrato moral 
 
da personalidade. A antropologia também aparece unida às origens da 
Criminologia, destacando-se os estudos sobre os crânios de assassinos de Broca 
ou Wilson e as investigações de Thompson sobre numerosos reclusos. Em abono 
delas veio a tese de Nicholson no sentido de que o criminoso é uma variedade 
mórbida da espécie humana. Lucas (1805-1885) anunciou o conceito de 
atavismo, Virgílio, que, dois anos antes de Lombroso, utilizou a expressão 
“criminoso nato”. Particular importância teve a obra de Darwin (1809-1882). 
Três de suas teses foram assumidas pela escola positiva: a concepção de 
delinquente como espécie atávica, não evoluída; a máxima significação 
concedida à carga ou legado que um indivíduo recebe por meio da 
hereditariedade e uma nova imagem do ser humano, privado da importância e do 
protagonismo que lhe conferira o mundo clássico. As ideias segundo as quais há 
organismos superiores estruturados hierarquicamente para sobreviver por sua 
maior aptidão foram transpassadas ao plano social, indicando nele sociedades, 
classes, forças produtivas e modelos econômicos superiores que pareciam dar 
direitos diferentes na divisão de benefícios de um mundo que tinha no topo o 
Império Britânico, segundo Elbert. Nesse contexto, as ideias de Spencer (1820-
1903), o qual aplica o evolucionismo, convencido de que os ineptos deviam 
desaparecer por decantação, e os melhores deveriam ocupar os postos de direção 
em todos os terrenos da vida social. Via, assim, a sociedade como um órgão, 
traçando comparações entre o biológico e o social. Sinale-se que tais ideias 
implicam uma visão racista, oligárquica, estática e fatalista da sociedade. 
 
 Estatística Moral ou Escola Cartográfica: tem como principais 
representantes Quetelet (1796-1874), Guerry (1802-1866), V.Mair, Fregier e 
Maygew, genuínos percursores do positivismo sociológico e do método 
estatístico, que criam a concepção de delito como fenômeno coletivo e fato 
social – regular e normal - , regido por leis naturais, como qualquer outro 
acontecimento, e que deve ser submetido a uma análise quantitativa. No século 
XIX, as preocupações com os problemas sociais advindos da Revolução 
Industrial entravam em choque com os ideais iluministas. Fazia-se necessária 
uma nova análise que trouxesse novas respostas. Daí a estatística, mormente 
porque o modelo de Estado moderno trazia consigo os censos populacionais, 
estudos demográficos, entre outros. Representa, para alguns, a inevitável ponte 
entre a criminologia clássica e a positiva; para outros, o começo da moderna 
sociologia criminal cientifica. Para a referida escola o crime é um fenômeno 
social, de massas, não um acontecimento individual; o delinquente concreto, 
com sua eventual decisão, não altera em termos estatisticamente significantes o 
 
volume e a estrutura da criminalidade. A liberdade individual é um problema 
subjetivo, psicológico, sem transcendência estatística. O crime é uma magnitude 
assombrosamente regular e constante. Repete-se com periodicidade, pois é 
produto de leis sociais que o investigador deve descobrir e formular. Ainda, o 
crime, como fenômeno natural, assim como os fatos humanos e sociais, é regido 
por leis naturais, que a mecânica e a física social conhecem. Por isso, averiguar 
as suas causas, frequência média relativa, distribuição e variáveis. O delito é um 
fenômeno normal, inevitável, constante, regular, necessário. O único método 
que admite para a investigação, por óbvio, é o estatístico. A estatística social 
teve, ao longo do tempo, um duplo âmbito de influência: por um lado, inspirou a 
direção sociológica do positivismo europeu, como se pode observar no 
pensamento de Ferri; de outro, provocou decisivo impacto na moderna 
Sociologia Criminal norte-americana, cujo ponto de partida foi à denominada 
Escola de Chicago. Para os representantes da referida escola, o crime é uma 
magnitude estável, existe um volume constante e regular de criminalidade na 
sociedade. Essa premissa, posteriormente, restou debatida e questionada por 
autores que optaram por uma análise dinâmica do comportamento criminal, os 
quais ressaltaram não só os movimentos da criminalidade, mas também a 
conexão entre eles e as principais transformações sociais ocorridas: guerras, 
modificação dos preços de certos produtos de primeira necessidade, crises 
socioeconômicas etc. Ex. Moreau-Cristophe (1791-1898) que destacou a 
conexão existente entre o desenvolvimento industrial inglês e o agudo 
crescimento da pobreza, que traria maiores índices de criminalidade; V.Ottingen 
que comprovou a relação entre guerra, preços de certos produtos e 
criminalidade, sendo que em tempo de crise aumentariam os roubos e os delitos 
cometidos por mulheres e crianças; G. V. Mayr questionou a chamada 
frequência relativa do delito, considerando a tese de Quetelet do volume 
constante da criminalidade insustentável, pois as oscilações ambientais e 
temporais e as espaciais seriam muito significativas, volume e movimento da 
criminalidade seriam fatal e necessariamente condicionados por fatores sociais, 
que fogem da livre decisão humana; Rawson W. Rawson, representante da 
ecologia social, que formulou uma análise comparativa da criminalidade de 
diversos distritos e chegou à conclusão que o emprego seria um fator decisivo, 
assim como o processo de concentração urbana; por fim, Mayhew que não se 
limitou a interpretar as estatísticas oficiais, senão conseguiu pessoalmente a 
informação e os dados nas ruas e nas casas comerciais de Londres. Seu 
propósito era demonstrar que o crime é um fenômeno que se perpetua por meio 
 
de atitudes antissociais e pautas de condutas transmitidas de geração a geração 
em um contexto social caracterizado pela pobreza, pelo álcool, pelas deficientes 
condições de moradia e pela insegurança econômica. O crime não procede, 
segundo ele, da mera flacidez moral nem de forças sobrenaturais, senão dascondições sociais do momento. A referida escola, portanto, sela o início da 
Sociologia Criminal e provável da própria Criminologia. A ela devemos a 
observação do crime como fenômeno de massas, como fato social e como 
magnitude mensurável, perspectiva, assim como a possibilidade de se aplicar 
métodos quantitativos – estatísticos – ao estudo dos fatos sociais. Além de uma 
certa normalidade na ocorrência dos delitos. 
 
Referências bibliográficas: 
BATISTA, Vera Malaguti. Introdução crítica à criminologia brasileira. Rio de 
Janeiro: Revan, 2011. 
ELBERT, Carlos Alberto. Novo Manual Básico de Criminologia. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2009. 
GOMES, Luiz Flávio (Coord.). Direito Penal, Introdução e princípios 
fundamentais. V. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 
______. GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Criminologia. 5ª ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 5ª ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2013. 
 
 
 
 
 
 
AULA 4 - Etapa científica da Criminologia: a) A Escola Positiva italiana; b) 
Escolas intermediárias e teorias ambientais. 
 
 De acordo com García-Pablos de Molina, a etapa científica da 
criminologia começa no final do século passado com o positivismo 
criminológico, com a scuola positiva italiana que foi encabeçada por Lombroso, 
Garófalo e Ferri. Surge como crítica à criminologia clássica, dando lugar a uma 
polêmica doutrinária sobre métodos e paradigmas, do científico (o método 
abstrato e dedutivo dos clássicos, baseado no silogismo), frente ao método 
empírico-indutivo dos positivistas (baseado na observação dos fatos, dados). 
A scuola positiva italiana, no entanto, apresenta duas direções opostas: a 
antropológica de Lombroso e a sociológica de Ferri, que acentuam a relevância 
da etiologia do fator individual e social em suas explicações do delito. 
Entretanto, esta escola acaba inaugurando o debate contemporâneo sobre o 
crime e a polêmica entre as diversas escolas. 
Assim, seguindo a lição de García-Pablos de Molina, a exposição se 
dividirá entre a escola positiva e a posterior luta de escolas. O positivismo 
criminológico representa o momento científico, de acordo com a famosa lei de 
Comte, sobre as fases e estágios do conhecimento humano: a superação das 
etapas “mágica” ou “teológica” (pensamento antigo) e “abstrata” ou 
“metafísica” (racionalismo ilustrado). Significa, também, de acordo com Ferri, 
uma mudança radical na análise do delito: os clássicos haviam lutado contra a 
irracionalidade do castigo do antigo regime; a missão histórica do positivismo 
seria lutar contra o delito, por meio de um conhecimento científico de suas 
causas, com o objetivo de proteger a ordem social: a nova ordem social da 
nascente sociedade burguesa industrial. 
Sua característica fundamental reside no método, mais ainda que nos 
postulados. O método positivo, empírico, que trata de submeter constantemente 
a imaginação à observação e os fenômenos sociais às leis férreas da natureza, a 
cosmogonia da ordem e do progresso, a fé cega na onipotência do método 
científico e na inevitabilidade do progresso. Sob o ponto de vista histórico-
político, o positivismo contribuiu para a consolidação e defesa da nova ordem 
social que se tornou, assim, um absoluto inquestionável. O iluminismo havia se 
limitado a criticar o antigo regime. 
A teoria do contrato social e da função preventiva da pena não era 
suficiente para fundamentar positivamente a nova ordem social burguesa 
industrial. Pelo contrário, o criticismo racionalista e metafísico dos iluministas 
 
poderia colocá-la em perigo. Era necessário, assim, fortalecer a ordem social 
nascente, legitimando-a e protegendo-a, e esse foi o projeto do positivismo. Essa 
função legitimadora explica a sua teoria da pena; isto é, a prioridade que 
concede à proteção eficaz da ordem social – em contraste com a abordagem 
ilustrada, atenta mais a metas retribucionistas, dissuasivas ou, inclusive, à 
reforma do delinquente - ; explica, também, o chamativo rigor defendido pelo 
positivismo, que põe especial ênfase nas colônias ultramar e na pena de morte, 
evocando a lei da seleção natural das espécies para justificar esta última; e 
explica o princípio da diversidade do homem delinquente, a hipótese de que o 
criminoso, sob o ponto de vista qualitativo, é um indivíduo distinto (patológico) 
do cidadão normal. 
a) A Escola Positiva italiana: ainda que o utilitarismo, cientificismo e 
racionalismo aproximem a filosofia positivista à iluminista, ambas 
compartilhando de uma fé na ciência e no progresso, tem-se que a ciência e o 
saber positivista, sua teoria objetiva do conhecimento e o próprio modelo causal 
explicativo, conferem ao método empírico um papel bem distinto a serviço de 
um marco social também diferente. No mesmo sentido há que se interpretar três 
dogmas do positivismo: a subordinação dos fenômenos sociais às inflexíveis leis 
da natureza; a permanente submissão da imaginação à observação; a natureza 
relativa do espírito positivo; e a previsão racional, como destino das leis 
positivas. O positivismo crê na existência de leis naturais. Mas estas leis não têm 
sua origem numa instância jusnatural ou metafísica, senão no outro absoluto: a 
ordem física e social. Não há mais realidade do que a dos fatos. O conhecimento 
é objetivo: o indivíduo que observa deve esvaziar-se do seu próprio mundo 
subjetivo. Não obstante, a observação mesma fica permanentemente superada 
por sua relatividade. A finalidade da ciência não se esgota no acumulo de dados, 
senão na inter-relação deles, formulando as leis que regulam os fenômenos. O 
modelo científico transcende a mera descrição, reclama uma análise causal-
explicativa. Assim, do que é poder-se-á deduzir o que será. O fator aglutinante 
do positivismo criminológico foi o método empírico-indutivo ou indutivo-
experimental, o qual se ajustava ao esquema causal-explicativo. A escola 
positivista se apresenta como superação do liberalismo individualista clássico, 
na demanda de uma eficaz defesa da sociedade. Fundamenta o direito a castigar 
na necessidade da conservação social e não na mera “utilidade”, antepondo os 
direitos dos “honrados” aos direitos dos “delinquentes”. Os postulados da escola 
positiva podem ser sintetizados: o delito é concebido como fato real e histórico, 
natural, não como uma fictícia abstração jurídica; sua nocividade deriva não da 
 
mera contradição com a lei a que ele corresponde, senão das exigências da vida 
social, que é incompatível com certas agressões que põem em perigo suas bases; 
seu estudo e compreensão são inseparáveis do exame do delinquente e da sua 
realidade social; interessa ao positivismo a etiologia do crime, isto é, a 
identificação das suas causas como fenômeno, e não simplesmente a sua gênese, 
pois o decisivo será combatê-lo em sua própria raiz, com eficácia e, sendo 
possível, com programas de prevenção realistas e científicos; a finalidade da lei 
penal não é restabelecer a ordem jurídica, senão combater o fenômeno social do 
crime, defender a sociedade; o positivismo concede prioridade ao estudo do 
delinquente, que está acima do próprio fato, razão pela qual ganham particular 
significação estudos tipológicos e a própria concepção do criminoso como 
subtipo humano, diferente dos demais cidadãos honestos, constituindo esta 
diversidade a própria explicação da conduta delitiva. 
O positivismo pode-se dizer, assim, é determinista, qualifica de ficção a 
liberdade humana e fundamenta o castigo na ideia da responsabilidade social ou 
na do mero fato de se viver em comunidade. Carece das raízes liberais, 
propugnando por um claro antiindividualismoinclinado a criar obstáculos à 
ordem social, e se caracteriza, ademais, por sobrepor a rigorosa defesa da 
sociedade frente aos direitos do indivíduo e por diagnosticar o mal do delito com 
simplistas atribuições a fatores patológicos (individuais) que exculpam de 
antemão a sociedade. Professa, assim, uma concepção classista (como se os 
ricos fossem portadores de uma moral maior, jamais delinquindo) e 
discriminatória da ordem social, imbuída de preconceitos e de acordo com o 
mito da “diversidade” do delinquente. 
A antropologia de Lombroso: Lombroso (1835-1909) representou a 
diretriz antropológica. Sua obra Tratado Antropológico Experimental do 
Homem Delinquente, publicada em 1876, marca as origens da criminologia 
científica, sendo ele considerado o seu fundador. Médico, psiquiatra, 
antropólogo, político, foi um homem polifacetado e genial, com mais de 600 
publicações em diversas áreas e temas. A sua contribuição principal para a 
criminologia não está tanto em sua famosa tipologia (onde destaca a categoria 
do delinquente nato) ou em sua teoria criminológica, senão no método que 
utilizou em suas investigações: o empírico. A teoria do delinquente nato teve sua 
base em mais de 400 autópsias e 6000 análises de delinquentes vivos; e o 
atavismo que, conforme seu ponto de vista caracteriza o tipo criminoso, contou 
com o estudo minucioso de 25.000 reclusos das prisões europeias. 
 
Do ponto de vista tipológico, distingue seis grupos de delinquentes: o nato 
(atávico), o louco moral (doente), o epilético, o louco, o ocasional e o passional. 
Posterior, enriqueceu essa diferenciação com o exame da criminalidade feminina 
e do delito político e mitigou mais tarde essas classificações iniciais, 
reconhecendo a transcendência dos fatores sociais e exógenos no delito. 
Lugar destacado na sua teoria tem a categoria do delinquente nato, uma 
subespécie ou subtipo humano (dentre os seres vivos superiores, porém sem 
alcançar o nível superior do homo sapiens), degenerado, atávico (produto da 
regressão, não evolução das espécies), marcado por uma série de “estigmas”, 
que lhe delatam e identificam e se transmitem por via hereditária. Iniciou suas 
investigações a partir do exame do crânio de um conhecido delinquente. E 
baseou o atavismo ou caráter regressivo do tipo criminoso no exame do 
comportamento de certos animais e plantas, no de tribos primitivas e selvagens 
de civilizações indígenas e, inclusive, em certas atitudes da psicologia infantil. 
De acordo com seu pensamento, o delinquente padece uma série de 
estigmas degenerativos comportamentais, psicológicos e sociais (fronte esquiva 
e baixa, grande desenvolvimento dos arcos supraciliares, assimetrias cranianas, 
fusão dos ossos atlas e occipital, grande desenvolvimento das maçãs do rosto, 
orelhas em forma de asa, tubérculo de Darwin, uso frequente de tatuagens, 
notável insensibilidade à dor, instabilidade afetiva, uso frequente de 
determinado jargão, altos índices de reincidência etc.). Em sua teoria Lombroso 
inter-relaciona o atavismo, a loucura moral e a epilepsia. 
Sua tese, por fim, foi muito criticada. Censura-se o seu evolucionismo, 
carente de base empírica, já que nem o comportamento de outros seres vivos é 
extrapolável ao do homem, nem se demonstrou a existência de taxas superiores 
de criminalidade dentre as tribos primitivas, senão o contrário. Reprova-se, 
também, o suposto caráter atávico do delinquente nato e o significado que 
Lombroso atribui aos estigmas degenerativos. Não há uma correlação necessária 
entre estigmas e tendência criminosa. Além disso, não é difícil de encontrar em 
qualquer indivíduo alguns desses traços, sem que a explicação seja o atavismo. 
Nem todos os delinquentes apresentam essas anomalias e nem os não 
delinquentes estão livres delas. Não existe, pois, o tipo criminoso, de caráter 
antropológico. Não é correto, obviamente, examinar o crime apenas sob a ótica 
do seu autor, desprezando, assim, a relevância de fatores exógenos, sociais etc. 
A sociologia criminal de Ferri (1856-1929): representa a diretriz 
sociológica do positivismo. Professor universitário, advogado célebre, político 
militante e reputado cientista, costuma ser considerado o pai da moderna 
 
sociologia criminal. A mentalidade positivista de Ferri apareceu na sua primeira 
obra, sua tese de doutoramento, na qual rechaçava o livre-arbítrio, qualificando-
o de mera ficção. Mas, Lombroso, ainda assim, não o reconhecia como 
verdadeiro positivista, eis que lhe faltava um método, o qual posteriormente veio 
a apreender, através da observação empírica, da análise dos fatos, da 
experimentação. É conhecido por sua equilibrada teoria da criminalidade (apesar 
do seu particular ênfase sociológico), por seu ambicioso programa político-
criminal (substitutivos penais) e por sua tipologia criminal, assumida pela 
Scuola Positiva. Propugnava por um estudo etiológico do crime, orientado à 
busca científica das suas causas. O delito, para Ferri, não é produto exclusivo de 
nenhuma patologia individual, senão, como qualquer outro acontecimento 
natural ou social, resultado da contribuição de diversos fatores: individuais, 
físicos e sociais. Distinguiu, assim, fatores antropológicos ou individuais 
(constituição orgânica do indivíduo, sua constituição psíquica, características 
pessoas como raça, idade, sexo, estado civil etc.); fatores físicos ou telúricos 
(clima, estações, temperatura etc.); e fatores sociais (densidade da população, 
opinião pública, família, moral, religião, educação, alcoolismo etc.). 
Entende, pois, que a criminalidade é um fenômeno social como outros, 
que se rege por sua própria dinâmica, de modo que o cientista poderia antecipar 
o número exato de delitos e a classe deles, em uma determinada sociedade e em 
um momento concreto, se contasse com todos os fatores antes citados e fosse 
capaz de quantificar a incidência de cada um deles. 
Quanto aos substitutivos penais, sua tese era a seguinte: o delito é um 
fenômeno social, com uma dinâmica própria e etiologia específica, na qual 
predominam os fatores sociais. Em consequência, a luta e a prevenção do delito 
devem ser concretizadas por meio de uma ação realista e científica dos poderes 
públicos que se antecipe a ele e que incida com eficácia nos fatores 
criminógenos que o produzem, nas mais diversas esferas (econômica, política, 
familiar, legislativa etc.), neutralizando-os. A pena seria, por si só, ineficaz, se 
não vem precedida ou acompanhada das oportunas reformas econômicas, sociais 
etc., orientadas por uma análise científica e etiológica do delito. Por isso, 
propugnava como instrumento de luta contra o delito, não o direito penal 
convencional, senão uma sociologia criminal integrada, cujos pilares seriam a 
psicologia positiva, a antropologia criminal e a estatística social. Quanto à 
tipologia, se valia dos cinco tipos básicos de delinquentes (nato, louco, habitual, 
ocasional e passional), acrescentando a categoria do delinquente involuntário, o 
 
imprudente. Mas admitia a frequente combinação das características dos tipos 
em uma mesma pessoa. 
Ferri lamentava o excessivo individualismo dos clássicos, em detrimento 
da defesa da sociedade. Propugnou pela justiça da ordem social e pela 
necessidade de sua defesa a qualquer custo, incluindo o sacrifício dos direitos 
individuais, daí a sua ingênua confiança no regime fascista, sua preferência pelo 
sistema de medidas de segurança (livres do formalismo e da obsessão pelas 
garantias individuais dos juristas) e pela sentença indeterminada; sua hostilidade 
em relação aos jurados e a admissão em alguns casos da pena de morte. 
O positivismo moderado de Garófalo (1852-1934): emborafosse fiel às 
premissas metodológicas positivistas, o que lhe caracteriza é a moderação e o 
equilíbrio, que o distanciaram tanto da antropologia de Lombroso, como da 
sociologia de Ferri. Entendia que os positivistas até então tinham se delimitado a 
descrever as características do delinquente, do criminoso, em lugar de definir o 
próprio conceito de crime como objeto da disciplina, daí advindo o seu conceito 
de “delito natural”, com o qual se distingue uma série de condutas nocivas, em 
qualquer sociedade e em qualquer momento, com independência, inclusive, das 
próprias valorações mutantes. Sua definição decepcionou, pois dificilmente pode 
se elaborar um catálogo absoluto e universal de crimes. No que diz com a teoria 
da criminalidade, nega a possibilidade de demonstrar a existência de um tipo 
criminoso, mas reconhece o significado e a relevância de determinados dados 
anatômicos (o tamanho excessivo das mandíbulas ou o superior 
desenvolvimento da região occipital em relação a frontal). O seu característico é 
a fundamentação do comportamento e do tipo criminoso em uma suposta 
anomalia, não patológica, psíquica ou moral. Trata-se de um déficit na esfera 
moral da personalidade do indivíduo, de base orgânica, endógena, de uma 
mutação psíquica (não enfermidade mental), transmissível por via hereditária e 
com conotações atávicas e degenerativas. Distinguiu quatro tipos de 
delinquentes: o assassino, o criminoso violento, o ladrão e o lascivo. Sua 
principal contribuição foi no que diz com os fins da pena e sua fundamentação, 
assim como das medidas de prevenção e repressão da criminalidade. Parte de 
um determinismo moderado, o qual contrasta com a dureza com que propõe a 
defesa da ordem social. Do mesmo modo que a natureza elimina a espécie que 
não se adapta ao meio, também o Estado deve eliminar o delinquente que não se 
adapta à sociedade e às exigências de convivência. Esta defesa radical da ordem 
social leva-lhe a aceitar a pena de morte em determinados casos, assim como 
penas de particular severidade (ex. envio do delinquente por tempo indefinido 
 
para colônias agrícolas). Para ele a pena deve existir em função das 
características concretas de cada delinquente, sem que sejam válidos outros 
critérios convencionais como o da retribuição, a correção ou prevenção. 
Destacou a ideia de proporção como medida da pena, do mesmo modo que 
destacou a ideia de responsabilidade moral e liberdade humana como 
fundamento daquela. Opôs-se a finalidade correcional ou ressocializadora do 
castigo, por considerar que impede o substrato orgânico e psíquico, inato, que 
existe na personalidade criminosa. Tampouco estimou acertada a ideia da 
prevenção como fundamento da pena, porque esta não permite determinar o 
quantum do castigo. 
b) Escolas intermediárias e teorias ambientais: 
A Escola de Lyon: também chamada escola antropossocial ou criminal-
sociológica, era integrada fundamentalmente por médicos. Recebeu influência 
da escola do químico Pasteur, por isso seus integrantes se utilizavam do símil do 
micróbio (delinquente) para explicar a transcendental importância do meio 
social na gênese da delinquência. Lacassagne (1843-1924), a quem se atribui a 
frase “As sociedades têm os criminosos que merecem” (para ressaltar a 
importância do meio social), distinguiu duas classes de fatores criminógenos: os 
predisponentes (de caráter somático – corporal) e os determinantes (os sociais, 
decisivos). Reconhece o referido autor que o homem delinquente apresenta mais 
anomalias corporais e anímicas que o homem não delinquente, mas estima que 
essas sejam produto do meio social e não explicam o crime sem o concurso 
necessário do entorno. Nessas anomalias o papel decisivo vem da pobreza e da 
miséria. Não são as anomalias que fazem o delinquente, mas a relação dinâmica 
do sistema nervoso central do indivíduo e o meio social que se traduz em 
imagens mais ou menos equilibradas do cérebro. Para ele, cabe falar de três 
classes de homens, de acordo com tantas outras topografias cerebrais, isto é, 
segundo o deslocamento no cérebro das três funções básicas do ser humano: as 
intelectuais (região frontal), as afetivas (occipital) e as volitivas (parietal). A 
preponderância de uma ou outra zona é que permitiria falar em delinquente 
frontal, parietal e etc. Contemplou a influência criminógena das condições 
socioeconômicas, chegando à conclusão de que, para fins estatísticos, existe 
uma clara correlação entre os delitos contra o patrimônio e as mudanças 
operadas nas estruturas econômicas. 
As denominadas Escolas ecléticas: trata-se de uma série de escolas que 
pretendem harmonizar os postulados do positivismo com os dogmas clássicos, 
tanto no plano metodológico quanto ideológico. Não contêm nenhuma teoria 
 
criminológica (etiológica) original (valem-se da conhecida formula de combinar 
a predisposição individual e o meio ambiente), porém interessam porque 
abordam problemas essenciais para a reflexão criminológica. 
A Terza Scuola: alguns de seus representantes: Alimena, Carnevale, 
Ipallomeni etc. Seus postulados eram os seguintes: nítida distinção entre 
disciplinas empíricas (método experimental) e disciplinas normativas (método 
abstrato e dedutivo); contemplação do delito como produto de uma pluralidade 
muito complexa de fatores endógenos e exógenos; substituição da tipologia 
positivista por outra mais simplificada, que distingue os delinquentes em 
ocasionais, habituais e anormais; dualismo penal ou uso complementar de penas 
e medidas de segurança, frente ao monismo clássico (monopólio da pena 
retributiva) ou ao positivismo (exclusividade das medidas de segurança); atitude 
eclética a respeito do problema do livre-arbítrio, conservando a ideia de 
responsabilidade moral como fundamento da pena, e a de temibilidade como 
fundamento da medida; atitude de compromisso quanto aos fins da pena, 
conjugando as exigências de retribuição com as de correção do delinquente. 
Escola de Marburgo ou Jovem Escola Alemã de Política Criminal: 
seu porta-voz mais conhecido foi Von Liszt, fundador, junto com Prins e Van 
Hamel, da Associação Internacional de Criminalística. Os seus postulados: 
análise científica da realidade criminal, dirigida à busca das causas do crime, em 
lugar de uma contemplação filosófica ou jurídica deste, pois a ótica jurídica, 
dogmática, é complementar, não substitutiva da empírica; desdramatização e 
relativização do problema do livre-arbítrio, o que conduz a um dualismo penal 
que compatibiliza as penas e as medidas de segurança, baseadas, 
respectivamente, na culpabilidade e na periculosidade; a defesa social apresenta-
se como objetivo prioritário da função penal, embora se acentue a importância 
da prevenção especial. Sua ideia mais sugestiva está no âmbito metodológico e 
no político-criminal. Franz von Liszt sugere uma ciência total ou totalizadora do 
direito penal, da qual deveriam fazer parte a antropologia, a psicologia e a 
estatística criminal (não só a dogmática jurídica), com o fim de obter e 
coordenar um conhecimento científico das causas do crime e combatê-lo 
eficazmente. Afasta-se dos clássicos, que pretendiam lutar com o crime sem 
analisar cientificamente suas causas, e, também, afasta-se dos positivistas, na 
medida em que conserva intactas as garantias individuais que, a seu juízo, 
representam o direito penal (como barreira intransponível de qualquer política 
criminal). Propugnou por uma concepção finalista da pena (não meramente 
retributiva), influenciado pelo pensamento evolucionista. 
 
A escola ou movimento da defesa social: representada por Mark Ancel, 
Gramática, etc. É uma filosofia penal, uma política criminal e nãonecessariamente uma escola, segundo García-Pablos de Molina. A ideia de 
“defesa social” é mais antiga, pois surgiu na época do iluminismo e foi 
formulada, posteriormente, por Prins. O específico desta escola é o modo de 
articular referida defesa da sociedade mediante a oportuna ação coordenada do 
direito penal, da criminologia e da ciência penitenciária, sobre bases científicas e 
humanitárias, ao mesmo tempo, e a nova imagem do homem delinquente, 
realista, porém digna, de que parte. A meta desejada não deve ser o castigo do 
delinquente, senão a proteção eficaz da sociedade por meio de estratégias não 
necessariamente penais, que partam do conhecimento científico da 
personalidade daquele e sejam capazes de neutralizar sua eventual 
periculosidade de modo humanitário e individualizado. Potencia a finalidade 
ressocializadora do castigo, compatível com a finalidade protetora da sociedade, 
precisamente porque acolhe uma imagem do delinquente, como membro da 
sociedade, chamado a nela se reincorporar, o que obriga a respeitar sua 
identidade e dignidade. 
O pensamento psicossociológico de Tarde (1843-1904): era jurista, 
francês e diretor de estatística criminal do Ministério da Justiça. Fez oposição às 
teses antropológicas de Lombroso e ao determinismo social, propugnando por 
uma teoria da criminalidade na qual ostentam particular relevância os fatores 
sociais; fatores físicos e biológicos podem ter alguma incidência na gênese do 
comportamento delitivo, porém, nunca a decisiva que tem o meio social. 
Preferiu substituir a tese positivista da responsabilidade social por nova teoria 
que fundamentaria a reprovação, se concorressem no indivíduo dois 
pressupostos: sua identidade ou conceito de si mesmo e a semelhança ou 
identidade social dele como seu meio. A sua explicação sociológica tem uma 
particular conotação psicológica, por isso ser caracterizado como percursor da 
teoria da aprendizagem de Sutherland. Para Tarde, o delinquente é um tipo 
profissional, que necessita de um longo período de aprendizagem, como os 
médicos, advogados e outros, em um meio particular, o criminal, e de 
particulares técnicas de intercomunicação e convivência com seus camaradas. 
São muito significativas as suas leis da imitação. Pois, para ele, o delito, como 
qualquer outro comportamento social, começa sendo moda e torna-se, depois, 
um hábito ou costume e, como qualquer outro fenômeno social, o mimetismo – 
a imitação – representa um papel decisivo. O delinquente é consciente ou 
inconsciente, um imitador. O seu pensamento já contem o germe de posteriores 
 
concepções subculturais, quando contrapõe o delinquente urbano ao rural e 
analise a gênese da criminalidade derivada do progresso tecnológico e da 
moderna civilização. De outro lado, consciente do efeito preventivo da pena, 
mostrou-se partidário da pena de morte e se opôs ao sistema de jurado, 
partidário de uma justiça profissionalizada e técnica. Partidário do livre-arbítrio 
condiciona a responsabilidade penal do indivíduo a uma dupla exigência: a 
identidade pessoal deste consigo mesmo, antes e depois da infração, e o que 
denomina de similitude social, a adequada integração ou adaptação daquele ao 
seu grupo ou subgrupo, sem a qual somente caberia a aplicação de uma medida 
e não de uma pena. A sua teoria da pena parte de uma base psicológica, um 
comitê de médicos e psicólogos era quem deveria decidir sobre a 
responsabilidade do indivíduo. Do ponto de vista político-criminal formula a 
seguinte sugestão: se o delinquente é um profissional, a criminalidade é, então, 
uma indústria especial exercida por uma determinada classe de indivíduos que 
produzem delitos de acordo com as leis gerais do mercado. O aumento ou a 
diminuição da delinquência será regida pelas mesmas normas da economia geral 
e do concreto mercado ao que pertence essa indústria ou atividade em particular. 
 
Referências bibliográficas: 
BATISTA, Vera Malaguti. Introdução crítica à criminologia brasileira. Rio de 
Janeiro: Revan, 2011. 
ELBERT, Carlos Alberto. Novo manual básico de criminologia. Porto Alegre: 
Livraria do Advogado, 2009. 
GOMES, Luiz Flávio (Coord.). Direito Penal, Introdução e princípios 
fundamentais. V. 1. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. 
______. GARCÍA-PABLOS DE MOLINA, Antonio. Criminologia. 5ª ed. São 
Paulo: Revista dos Tribunais, 2006. 
SHECAIRA, Sérgio Salomão. Criminologia. 5ª ed. São Paulo: Revista dos 
Tribunais, 2013. 
 
 
 
AULA 5 - A moderna Criminologia científica e os diversos modelos 
teóricos. Biologia Criminal, Psicologia Criminal e Sociologia Criminal. A 
moderna Criminologia científica – modelos teóricos explicativos do 
comportamento criminal. A Biologia Criminal, a Psicologia Criminal e a 
Sociologia Criminal. 
 
 De acordo com García-Pablos de Molina, com a luta de Escolas, conforme 
verificamos na aula passada, surgem três orientações relativamente definidas na 
criminologia: as biológicas, as psicológicas e as sociológicas. As primeiras 
cuidam de novo do homem delinquente, tratando de localizar e identificar 
alguma parte de seu corpo ou no funcionamento dos diversos sistemas e 
subsistemas deste, o fator diferencial que explicaria a conduta delitiva que é 
entendida como consequência de uma patologia, disfunção ou transtorno 
orgânico. As hipóteses são variadas e abrangem diversas ciências: 
antropológica, biotipológica, endocrinológica, genética, neurofisiológica, 
bioquímica etc. 
 As orientações psicológicas buscam a explicação do comportamento 
delitivo no mundo anímico do homem, nos processos psíquicos anormais 
(psicopatologia) ou nas vivências subconscientes que têm sua origem no passado 
remoto do indivíduo e que só podem ser captadas por meio da introspecção 
(psicanálise); ou, ademais creem que o comportamento delitivo, em sua gênese 
(aprendizagem), estrutura e dinâmica, têm idênticas características e se rege 
pelas mesmas pautas que o comportamento não delitivo (teorias psicológicas da 
aprendizagem). 
 As orientações sociológicas, por sua vez, contemplam o fato delitivo 
como “fenômeno social”, aplicando à sua análise diversos marcos teóricos, os 
quais verificaremos separadamente: ecológico, estrutural-funcionalista, 
subcultural, conflitual, interacionista etc. De qualquer maneira, é bom pontuar 
que a atual polêmica se desenvolve apenas diante o método empírico e 
científico. 
 De acordo com o referido autor, vale salientar que tradicionalmente tem-
se destinado à criminologia, entre outras, a função de explicar cientificamente o 
crime elaborando modelos teóricos que esclareçam a etiologia e gênese deste 
problema social e comunitário. O que ela tem tentado fazer, seguindo, no 
entanto, diversos caminhos. 
 Por exemplo, já vimos que a criminologia clássica e neoclássica partia do 
dogma do livre arbítrio porque não poderiam admitir sequer a hipótese de que o 
comportamento humano estivesse regido por causas ou fatores. Opostas ao 
 
determinismo biológico e social atribuíam o crime a uma decisão livre e racional 
do infrator baseada em critérios de utilidade e oportunidade. Por isso, para 
García-Pablos de Molina, as referidas escolas não professaram uma teoria 
etiológica da delinquência, senão uma teoria situacional da mesma. 
 A criminologia positivista que se inicial com a Scuola Positiva, pelo 
contrário, abraça o paradigma etiológico (busca das causas do delito). Sua 
conhecida análise causa-explicativa atribui o comportamento criminal a certos 
fatores biológicos, psicológicos ou sociais que determinariam o mesmo. 
Entretanto, na atualidade estes enfoques então simplistas e monocausais tornam-
se mais complexos apontando para modelos explicativos

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