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RESENHA - A NOÇÃO DE PROPAGANDA E SUA APLICAÇÃO NOS ESTUDOS CLÁSSICOS O CASO DOS IMPERADORES ROMANOS SEPTÍMIO SEVERO E CARACALA

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RESENHA DO LIVRO:
“A NOÇÃO DE PROPAGANDA E SUA APLICAÇÃO NOS ESTUDOS CLÁSSICOS: O CASO DO IMPERADORES ROMANOS SEPTÍMIO SEVERO E CARACALA”
ANA TERESA MARQUES GONÇALVES
POR: ANDRÉ LEOPOLDO DA SILVA FILHO
1º ANO DE HISTÓRIA/NOTURNO
CAPÍTULO 1: IMAGEM E PROPAGANDA NO ESTUDO DO INÍCIO DO PERÍODO SEVERIANO (193 À 217 D.C.)
A dinastia dos Severos, iniciada com a tomada do poder por Septímio Severo, pode ser fortemente caracterizada pela relação que o imperador tinha com os militares romanos. Septímio cria uma aliança com os legionários para que o senado declare seu governo legítimo. Porém, ao fazer isso, acaba tendo como seus inimigos os próprios membros do senado romano. Ao morrer de doença, em 211 d.C., seus dois filhos (Geta e Caracala) assumem o poder do Império, e logo começa a rivalidade entre os dois irmãos pelo poderio total de Roma. Caracala mandou que os centuriões eliminassem Geta. Foi assassinado pelo seu Prefeito do Pretório em 217 d.C. Os dois imperadores da dinastia dos Severos apoiaram seu governo somente nos exércitos, através do aumento dos soldos e da distribuição de donativos aos Pretorianos e legionários. Dion Cássio cita como últimas palavras de Septímio: “permaneçam unidos, enriqueçam os soldados e não se preocupem com os demais”. A noção de monarquia militar é diretamente ligada ao período Severiano, argumentando que ao se aproximar demais das legiões, os imperadores afastaram-se do senado e outras áreas da política. Para Paul Petit, “as condições de sua chegada ao poder impuseram à Septímio Severo a necessidade de se apoiar no exército contra seus competidores e para assegurar para o futuro a duração de uma dinastia nova”. Essas condições, de acordo com Petit, é a guerra civil que precedeu a tomada do poder do império por Septímio.
	O período Severiano pode ser denominado como uma monarquia militar porque apresenta certas características favoráveis a esta nomenclatura. Os imperadores usaram a força dos soldados numa tentativa de diminuir o poder do senado, como já dito anteriormente, e conseguiram aliar-se aos soldados através do aumento dos soldos, fortalecendo-os através de donativos. Esses mesmos imperadores foram grandes generais, que se dedicaram por grande parte de suas vidas aos assuntos bélicos, e usaram sua força junto aos exércitos para garantirem a sucessão hereditária do poder.
	Para conseguir legitimidade em seu governo, os soberanos precisam divulgar suas imagens. Atualmente esse processo, chamado de “propaganda”, consiste nas campanhas que os governantes fazem para divulgar o tipo de pessoa que são, o que pretendem e o que têm feito de bom. No período romano não era diferente. O poder político não se apoia somente na cobrança de impostos e no exército, mas também na cultura do povo ao qual cada governante é responsável. A propaganda auxilia na aceitação do povo em relação ao governo. No império romano, para ascender ou manter-se no poder, o governante precisava de apoio, seja das massas, seja do senado, ou seja do exército. O período compreendido como “Alto Império Romano” foi caracterizado pela passagem do poder aristocrático para um poder de um homem apenas, sendo o termo Principado oriundo da composição desse governante com os grupos sociais que estavam à sua volta dando apoio.
	Os retratos e estátuas, ou seja, ícones, eram largamente usados como uma forma de propagandear o Imperador. Estes ícones eram espalhados por várias partes do império para lembrar aos súditos quem estava no poder. Muitas dessas imagens eram doadas por membros da aristocracia para mostrar sua adoração ao imperador. A divulgação e propagação dessas imagens era controlada por agentes do imperador, que não aceitava qualquer imagem como uma representação sua. Segundo Paul Zanker, Augusto é o primeiro dos imperadores a se reocupar com organização política que acarreta a divulgação dessas imagens.
	A preocupação dos imperadores em mandar confeccionar várias dessas estátuas e espalharem-nas por todos os cantos do Império aparece em vários documentos. O imperador deveria ser reconhecido nas imagens das estátuas e pinturas. O ato de se esculpir em pedra era reconhecido em quatro termos: statua (peças esculpidas de imperadores, nobres ou divindades), imago (representação dos imperadores, principalmente em bustos), signum e simulacrum (estátuas de culto às divindades). A diferença entre os termos era bem reconhecida, pois o imperador por ser uma figura mortal, não deveria ser confundido e adorado como uma divindade. O retrato do imperador representava o poder imperial, tendo sido a maioria das estátuas construída enquanto os imperadores viviam. O impacto que elas causavam na população era grande, pois elas eram ornamentadas, e o imperador sempre aparecia representado em sua roupa de guerra, uma expressão da soberania imperial. Os Severos aumentaram o tamanho dos pedestais de suas estátuas, aumentando assim as inscrições que falavam de suas conquistas e seus feitos políticos, tornando as inscrições um elemento importante da propaganda política.
	Uma outra forma bastante utilizada na propaganda política era o uso das moedas. Elas, que circulavam até as fronteiras do império, levavam gravados em seus lados a imagem do imperador e uma homenagem feita ao mesmo. Apesar da grande distribuição de moedas no império romano, alguns autores defendem que elas não podem ser reconhecidas como meio de propaganda política, pois argumentam que para tal, as imagens devem ser impactantes. Existem também os autores que defendem que as moedas eram sim um meio de propaganda política, pois mesmo que inconscientemente, sempre lembravam a quem as pegavam em mãos quem era o soberano do império.
	Os soberanos construíam suas imagens de acordo com as necessidades sociais de sua época. Mesmo o poder dos imperadores sendo absoluto, eles precisavam criar propagandas que amenizassem essa concepção, que não era bem vista por todos do império, principalmente por parte dos senadores. Os imperadores muitas vezes recusavam honras e se mostravam mais acessíveis aos aristocratas e os integrantes da plebe. Para Dion Cássio, os imperadores não deveriam gastar muito com estátuas de ouro e prata, primeiro porque duravam pouco, e segundo pelo seu altíssimo custo. Para ele, as verdadeiras “imagens” deveriam estar cravadas nas almas dos homens, tornando os imperadores imortais. Dentre as imagens que um imperador buscava transmitir, era a de um homem virtuoso, pois somente quem tem virtudes será um bom governante. Para se aproximarem dessa concepção, em suas propagandas eles transmitiam valores que se aproximavam aos dos senadores, os guardiões das tradições romanas.
CAPÍTULO 2: AS VÁRIAS FACETAS DAS IMAGENS IMPERIAIS DE SEPTÍMIO SEVERO E CARACALA
	Após sua chegada ao poder, tendo vencido seus oponentes Dídio Juliano, Pescênio Nigro e Clódio Albino, Septímio agora tinha a árdua tarefa de “desmoralizar” a imagem de Públio Hélvio Pertinax, pois ainda havia resquícios dela em vários setores do Império, incluindo algumas legiões. Pertinax fora um imperador adorado por todos, desde o senado, até as massas. Fora assassinado por seu Prefeito do Pretório porque não cumpriu a promessa de doze mil sestércios para cada membro da Guarda. Tanto Septímio quanto Pertinax haviam feito parte do legado do governo de Marco Aurélio. Septímio, percebendo o grande poder 	que a Guarda obtivera ao longo dos governos, resolveu reformá-la, diminuindo assim sua força e os impactos políticos que a mesma causava, garantindo seu vínculo com os legionários, a principal força que apoiava o seu governo. Os romanos nunca gostaram de reformas em instituições tradicionais romanas, e para conseguir tal feito, Septímio precisou se autonomear “Vingador de Pertinax”, alegando que o assassinato do mesmo pelos Pretorianos deveria ser vingado por ele.
	Segundo Herodiano, Pertinax havia construído uma boa imagem durante seu governo, sendo amigável com o Senado e apresentando um caráter pacífico. Septímio, ao saber de seu assassinato, logo pensou em usar umaimagem de Vingador de Pertinax para cair nas graças do povo. Como vingança, Severo obrigou os pretorianos a se despirem de seus distintivos militares, suas armas e mandou ainda que seu acampamento fosse fechado. Como não podia ficar sem uma guarda pessoal, Septímio preferiu cercar-se de legionários vindos das fronteiras. Ele escolheu esses pois havia homens das tropas que ele havia chefiado, sendo de sua confiança. Septímio ordenou que fosse feita a consecratio de Pertinax, com todas as honras e pompas dignas de um imperador. A cerimônia, que imortalizou Pertinax, fez com que severo fosse o Vingador de um divus, e não mais apenas de um homem mortal.
	Apesar das medidas tomadas durante seu governo, Septímio tenta promover uma imagem mais tradicional, na tentativa de agradar os membros do senado, conhecidos por serem os guardiões das tradições romanas. Uma das armas que utilizou para legitimar seu poder perante o senado foi intitular-se como continuador dos Antoninos. Chegou até a mudar o nome de seu filho mais velho para Marco Aurélio Antonino, e depois proclamou-se o próprio filho de Marco Aurélio. Desse modo, sua intenção era criar uma ideia dinástica mais ampla. Severo, durante todo seu governo, procurou mostrar estar em um meio familiar, rodeado de uma família unida e feliz. Septímio buscou aproximar sua família do meio político do qual fazia parte, dando títulos à sua esposa e seus filhos. A esposa do imperador não tinha um papel, no cenário político do império romano, definido. Ela acompanhava o imperador em solenidades e fazia a recepção de figuras importantes em eventos.
	A realização de cerimônias públicas sempre foi muito utilizada na manipulação da opinião pública, através da persuasão de imagens. Durante o desenrolar das festas, são divulgadas imagens, símbolos e mitos para auxiliar no controle social. As imagens utilizadas nas festas marcam a identidade do regime e dos espetáculos do poder. As festas são a ocasião mais propícia para se apresentar as boas qualidades de um soberano e sua família. Ao promover a distribuição de dinheiro e alimentos, o soberano era tido por todos como exacerbadamente generoso. O governo de Septímio Severo foi marcado por grandes celebrações, em razão de suas inúmeras conquistas territoriais e bélicas. Uma de suas grandes festas foi a celebração da tomada do poder por Severo, na qual comemorou-se o fim da grande guerra civil que estava instaurada no império, por não haver ainda um imperador proclamado.
	A dinastia severiana foi marcada por um grande programa de reformas nos monumentos romanos. O objetivo era restaurar monumentos atingidos por um grande incêndio em 189 d.C. Septímio tenta, através de inscrições em quase todos os monumentos reformados por ele, passar a imagem de um construtor e reconstrutor romano, quase como um dos fundadores de Roma. Dessa maneira, existem muitos títulos e obras a respeito de suas vitórias nos monumentos restaurados e/ou construídos por Septímio. 
	Após a morte de seu pai, Geta e Caracala providenciaram junto ao senado romano a consecratio de Septímio Severo. Esse foi o único ato de governo conjunto dos dois irmãos Severos. Mesmo após tendo sido feita a cremação do corpo de Septímio, houve a consecratio/apoteosais de seu corpo reconstituído em cera, para que houvesse a sua transformação em um divus. A cerimônia chamada de consecratio era feita após a cremação do corpo do soberano (funus imperaturum), pois ela depende da aprovação do senado. Também era comum a realização da pompa circenses e do oferecimento de jogos em honra ao morto, sucedido de um banquete fúnebre (silicernium). Como Septímio morreu fora da capital, durante uma das campanhas na Bretanha, seu corpo fora queimado no local e suas cinzas transportadas dentro de uma urna até o Mausoléu dos Antoninos. Ao chegar no local onde seriam depositadas suas cinzas, houve a realização do funus imaginarium, funeral no qual não há o corpo do soberano, mas uma réplica de cera.
	Uma das formas de agradecimento por parte da aristocracia romana em relação às benesses distribuídas pelos severos foi a construção de Arcos do triunfo, que relembravam e inscreviam na memória a lembrança das vitórias. Tais arcos podem ser considerados como veículos de propaganda política excelentes, por causa de sua oficialidade e dedicatória.
	Após Geta ser morto e Caracala assumir o controle do império sozinho, este prosseguiu com a política tradicional de seu pai, com a doação de benefícios aos soldados, defesa das fronteiras e inspeçãos das províncias. Para legitimar seu governo perante o senado, Caracala teve de tomar uma importante medida: a Constitutio Antoniniana, pela qual ele concedia cidadania a todos os homens livres de dentro do império. Tal medida causou consequências administrativas, fiscais, econômicas, políticas e até religiosas. Caracala tinha uma grande admiração por Alexandre Magno, tentando assimilar sua imagem à dele. Algumas estátuas de Caracala tinha características peculiares, como parecer divulgar um caráter áspero, feroz e ameaçador. Dion Cássio diz que Caracala tenta assimilar suas estátuas às de Alexandre Magno. A excessiva busca para se aproximar de Alexandre era mal vista por alguns senadores, pois Caracala parecia querer ser um novo Alexandre, só que apoiado mais nos seus vícios do que em suas virtudes.
CAPÍTULO 3: A CONTRAPROPAGANDA OU A OBLITERAÇÃO DAS IMAGENS CONCORRENTES.
	Durante a guerra civil que precedeu o governo de Septímio Severo, havia uma disputa não só militar entre os concorrentes ao cargo de imperador, também havia uma disputa de imagens. Septímio teve de enfrentar Pescênio Nigro e Clódio Albino, que além de bons generais, também tinham suas vantagens no quesito “imagem pública”. Os oponentes de Severo tinham boas relações com a plebe e os senadores, além obviamente, do exército. Além do mais, durante sua campanha, Nigro também se apresentou como um imitador de Pertinax. Ele começou a divulgar sua campanha para as terras do oriente, a fim de aumentar sua popularidade. Chegou a receber de algumas regiões, insígnias que eram dadas somente aos imperadores visitantes, como a toga purpúrea, da Síria. Para desacelerar a corrida de Pescênio, Septímio aprisionou seus filhos, e posteriormente os exilou e assassinou-os, juntamente com sua esposa. Severo também conseguiu que o senado o declarasse inimigo público de Roma, pois desta forma suas ações contra ele seriam legitimadas. Apesar se Severo ter nascido na África e se casado com uma Síria, ele fazia menções sobre Nigro dizendo que ele tinha relações com os orientais e bárbaros.
	Septímio sabia que não poderia combater dois rivais ao mesmo tempo e em localidades diferentes: Albino no ocidente e Nigro no oriente. Portanto, fez de Albino seu César, derrotou primeiro Pescênio, e somente depois direcionou suas tropas para derrotar Clódio Albino, e tornar-se o próprio imperador. Para tomar o poder de Albino, severo alegou que este estava agindo como imperador, com apoio do Senado. Septímio conseguiu que o Senado também o declarasse inimigo público, legitimando assim o golpe que daria em Clódio. Albino estava se fortalecendo no ocidente, contando com o apoio de vários governadores de várias províncias da região.
ANDRÉ LEOPOLDO DA SILVA FILHO – 1º ANO DE HISTÓRIA/NOTURNO
R.A.: 141221488
FCHS – Unesp/Câmpus de Franca

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