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O presente trabalho tem por finalidade tratar das considerações sobre o bem de família desde seus tipos até a possibilidade de penhorabilidade e impenhorabilidade destes bens. TIPOS DE BENS DE FAMÍLIA No ordenamento jurídico brasileiro o bem de família é classificado em duas modalidades, o bem de família voluntário e o bem de família legal. CONCEITO DE TIPOS DE BENS DE FAMÍLIA BEM DE FAMÍLIA VOLUNTÁRIO O bem de família voluntário tem seu conceito expresso integralmente no art. 1.712 do CC/2002, in verbis: “Art. 1712. O bem de família consistirá em prédio urbano ou rural, com suas pertenças e acessórios, destinando-se a domicilio familiar, podendo abranger valores mobiliários, cuja renda deve ser aplicada na conservação do imóvel e sustento da família.” Consoante conceito dado pelo renomado autor Pablo Stolze, bem de família é “o bem jurídico cuja titularidade se protege em benefício do devedor — por si ou como integrante de um núcleo existencial —, visando à preservação do mínimo patrimonial para uma vida digna.”[1: STOLZE, Pablo 2012. Direito Civil. Família. Novo Curso de Direito Civil. Vol. VI.] Ele será instituído por ato de vontade do próprio casal, da entidade familiar ou ainda de terceiros, mediante testamento, doação ou escritura pública, consoante art. 1711, caput e parágrafo único do CC/02. BEM DE FAMÍLIA LEGAL Este tipo de bem deriva diretamente da própria lei, independentemente de instituição em cartório e registro, garantindo a impenhorabilidade do bem de família e isentando-o de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de qualquer natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, ressalvadas as hipóteses previstas em lei. Na hipótese em que o casal, ou entidade familiar, possuir mais de um imóvel que os utilizem como residência e não o tiver registrado para fim de impenhorabilidade, esta recairá sobre o imóvel de menor valor. Segundo a Súmula 364 do STJ, além da proteção do imóvel residencial do casal ou da entidade familiar, estende-se a impenhorabilidade ao imóvel de pessoas solteiras, separadas e viúvas. O bem de família legal pode ser também móvel e enquadram-se nos seguintes bens: a garagem do apartamento residencial, o freezer, máquinas de lavar e secar roupas, o teclado musical, o computador, o televisor, o videocassete, o ar condicionado e, até mesmo, a antena parabólica. Tal interpretação dar-se-á sobre a qualificação de como o bem de família se faz necessário para uma vida familiar digna, sem luxo, o que tem encontrado amparo na jurisprudência pátria. Vale lembrar que somente poderá instituir o bem de família aquele que tenha patrimônio suficiente para a garantia de débitos anteriores (solvente), sob pena de invalidade do ato. FUNDAMENTO DOS TIPOS DE BENS Leis especiais e o CC/02 dispõem sobre os tipos de bens no ordenamento jurídico brasileiro. O bem de família voluntário está inserido no Livro IV, Título II, Subtítulo IV do CC/02, bem como está previsto nos arts. 260 a 265 da Lei n. 6.015/73 (Lei de Registros Públicos). Paralelo a essa previsão, há o instituto do bem de família legal, previsto na Lei n. 8.009/90, que dispõe sobre a impenhorabilidade dos bens de família e sobre quais são e os que não são passíveis de penhora. QUANDO O BEM DE FAMÍLIA PODE SER PENHORADO Conforme já mencionado acima, existem duas modalidades de bens de família: o bem legal e o voluntário, ambos regidos pela Lei nº 8.009/1990, também previsto no artigo 1.711 do Código Civil. A Lei nº 8.009/90 de que trata da impenhorabilidade de bem de família, excetuou a possibilidade de penhora do referido patrimônio, nos casos explicitados em seu artigo 3º e incisos abaixo discriminados: I – REVOGADO II - pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato; III - pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que, com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela dívida; IV - para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel familiar; V - para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade familiar; VI - por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens; VII - por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação. PENHORABILIDADE EM RAZÃO DOS CRÉDITOS A Lei nº 8.009/1990 também previa em seu bojo, a possibilidade de o bem de família ser penhorado em razão dos créditos de trabalhos da própria residência e das respectivas contribuições previdenciárias, ou seja, a empregada doméstica que fosse demitida e movesse uma ação trabalhista contra o empregador, poderia na fase de execução requerer a penhora do bem de família como garantia do pagamento dos seus direitos, incluindo, as contribuições previdenciárias. Porém o inciso I do artigo 3º da Lei nº 8.009/1990 foi revogado pela Lei Complementar Nº 150 de 2015, suprimindo do texto legal a prerrogativa anteriormente admitida quanto a extensão da garantia da execução trabalhista com a penhora do bem familiar, igualando o empregado doméstico aos demais credores, privilegiando a impenhorabilidade patrimonial restritiva a coabitação da família. PENHORABILIDADE EM CASOS DE PENSÃO ALIMENTÍCIA Observamos também que, substanciosa alteração oriunda da promulgação da Lei Federal nº 13.144/2015, que modificou o inciso III, artigo 3º da Lei nº 8.009/1990, passando a resguardar os direitos do cônjuge coproprietário, eis que, anteriormente admitia-se a penhora do bem de família nos casos de credor de pensão alimentícia, a grande inovação foi à proteção dos direitos dos cônjuges coproprietário, sendo disponível para a penhora tão e quão somente do percentual pertencente ao devedor sobre determinado bem. PENHORABILIDADE EM CASO DE FIADOR Dentre os casos relacionados referente à exceção da norma jurídica de que trata da possibilidade de penhora do bem de família, o fiador que garantiu a locação com seu único bem esta sujeito a penhora, tal disposição foi recepcionada no inciso VII, do artigo 82, da Lei nº 8.245/1991 (lei das locações). Considerando que a Emenda Constitucional nº 26/2000 incluiu a moradia como um direito social fundamental e diante da nova redação do artigo 6º da Constituição Federal, suscitou-se a inconstitucionalidade do artigo 3º inciso VI da Lei nº 8.009/1990, pelo fato do imóvel do fiador ser penhorado em decorrência de dívidas do afiançado. O Supremo Tribunal Federal se manifestou da seguinte forma. Vejamos: “Locação. Ação de despejo. Sentença de procedência. Execução. Responsabilidade solidária pelos débitos do afiançado. Penhora de seu imóvel residencial. Bem de família. Admissibilidade. Inexistência de afronta ao direito de moradia, previsto no art.6º da CF. Constitucionalidade do art. 3º, inc. VII, da Lei nº 8.009/90, com a redação da Lei nº 8.245/91. A penhorabilidade do bem de família do fiador do contrato de locação, objeto do art. 3º, inc. VII, da Lei nº 8.009, de 23 de março de 1990, com a redação da Lei nº 8.245, de 15 de outubro de 1991, não ofende o art. 6º da Constituição da República” (STF, RE 407.688-AC, Relator Min. Cesar Peluso, DJ 06/10/2006). Sendo assim, por mais que a moradia represente um direito social, a penhora do bem de família é exceção a regra e permanece compatível com os princípios da Constituição Federal, nos casos expressamente previstos no artigo 3º da Lei nº 8.009/1990. DA IMPENHORABILIDADE DOS BENS DE FAMÍLIAS E OUTROS Preceituam as disposições da Lei nº 8.009/90, a impenhorabilidade dos bens de família, nada obstante, tal blindagem legislativa se estende aos objetos que guarnecem o lar e suas benfeitorias. Neste sentido, urge destacar a impenhorabilidade dos produtosde uso doméstico, como por exemplo, aparelho televisor, forno microondas, aparelho de som, videocassete, máquina de lavar roupas, freezer, computador e outros objetos. Assim, ao julgar um recurso em ação de execução, os desembargadores da 14ª Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo (apelação N° 933.853-0) consideraram impenhorável o televisor do devedor, tendo em vista que “o bem é destinado à utilização necessária a uma existência simples, mas digna, incluindo um pouco de lazer e conforto que são indispensáveis à saúde mental de qualquer ser humano”. Além dos pressupostos contidos na Lei nº 8.009/90, também vale ressaltar as disposições encontradas no artigo 649 do Código de Processo Civil, a que elencam a impenhorabilidade de outros bens. Vejamos: Artigo 649 – São absolutamente impenhoráveis: I - os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução; II - os móveis, pertences e utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida; III - os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor; IV - os vencimentos, subsídios, soldos, salários, remunerações, proventos de aposentadoria, pensões, pecúlios e montepios; as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de profissional liberal, observado o disposto no § 3o deste artigo; V - os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício de qualquer profissão; VI - o seguro de vida; VII - os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII - a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX - os recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social; X - até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, a quantia depositada em caderneta de poupança; XI - os recursos públicos do fundo partidário recebidos, nos termos da lei, por partido político. Por fim, a penhora de bens deve ser precedida de pressupostos formais que viabilizem sua efetividade e respalde a execução, sob pena de arguição de desconstituição e o consequente levantamento da penhora. O QUE FAZER O CREDOR QUANDO NÃO PODE EXECUTAR O BEM DE FAMÍLIA Ocorrendo a penhora de um dos bens de família ou aqueles protegidos pela regra da impenhorabilidade, no processo de execução, após a lavratura do auto de penhora o devedor será intimado pessoalmente do ato, e terá o prazo de 15 dias para ajuizar embargos à execução (artigo 736 a 747 do CPC), no qual deverá arguir a impenhorabilidade do respectivo patrimônio. Sendo julgados procedentes os embargos, a penhora será levantada, prevalecendo o título executivo judicial, ocasião em que o credor terá buscar outros bens que satisfaçam seu crédito, pois tanto o bem de família quanto todos os demais bens elencados no artigo 649 do CPC são impenhoráveis, e, portanto, juridicamente preservados a beneficio do devedor. BIBLIOGRAFIA STOLZE, Pablo 2012. Direito Civil. Família. Novo Curso de Direito Civil. Vol. VI; COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de Direito Civil. Volume. 5. FAMÍLIA e SUCESSÕES. 5 ed. – São Paulo . Saraiva 2012, e book. LEI nº 8.009 de 29 de março de 1990, disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8009.htm, acessada em 25/10/2015. Os alunos autores deste artigo, Manassés Lopes de Sousa e Nathália Carmo Silva Santos, são alunos do 6º semestre do curso de Direito da Faculdade do Guarujá – UNIESP.
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