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Valor Nutritivo de Alguns Alimentos para Rã-touro na Fase de Recria

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Valor Nutritivo de Alguns Alimentos para Rã-touro (Rana catesbeiana Shaw, 1802) na
Fase de Recria1
Luis Gustavo Tavares Braga2, Samuel Lopes Lima3, Juarez Lopes Donzele4, Josevane Carvalho
Castro5
RESUMO - Uma série de experimentos foi realizada para aprimorar a metodologia de alimentação forçada para o estudo de
digestibilidade com rã-touro e determinar a digestibilidade da matéria seca e o valor da energia metabolizável de alguns alimentos. Foram
utilizados dois grupos de animais, os quais foram alojados em módulos de caixas de polipropileno contendo 500 mL de água e mantidos
em uma sala com temperatura ambiente de 26,2 ± 0,7oC. Os alimentos foram administrados aos animais por meio da técnica de alimentação
forçada. Para os animais com peso médio de 27 g, os valores encontrados de matéria seca aparentemente metabolizável (MSAM-%) e energia
metabolizável aparente (EMA-kcal/kg) foram, respectivamente: fubá de milho (59,82 e 2.462), amido de milho (61,01 e 2.346) e larva de mosca
(53,83 e 3.098). Os valores de MSAM, EMA e energia metabolizável verdadeira (EMV-kcal/kg), obtidos com adultos, foram, respectivamente:
fubá de milho (62,97, 2.645 e 2686), amido de milho (60,06; 2.204; e 2.246), farinha de peixe (34,97; 2242; e 2352) e larva de mosca (56,99;
3.337; e 3.498). Os valores de EMA e EMV para o óleo de soja, obtidos com adultos foram, respectivamente, 7.358 e 7.468. A utilização de
duas alimentações forçadas em seqüência aumenta a precisão dos resultados de MSAM, EMA e EMV, quando comparada com uma única
alimentação, pois ocorreu menor variação na quantidade de material excretado pelos animais para um mesmo alimento.
Palavras-chave: Rana catesbeiana, alimentação forçada, digestibilidade, valor nutritivo
Nutritive Value of Some Feeds for Bull-frog (Rana catesbeiana Shaw, 1802) in
Growing Phase
ABSTRACT - A serie of experiments was carried out to improve the forced feeding methodology for digestibility study with bull-
frog and to determine the dry matter digestibility and metabolizable energy values of some feeds. Two groups of animals were used, which
were housed in polypropylene boxes containing 500mL of water, and maintained in a room ambient temperature of 26.2 ± 0.7oC. The
feeds were administered to the animals by means of the forced feeding technique. For the animals with 27g of average weight the values
found for apparent metabolizable dry matter (AMDM-%) and apparent metabolizable energy (AME-Kcal/kg),were, respectively: corn
meal (59.82, 2,462), corn starch (61.01, 2,346) and house fly larva (53.83, 3,098). The values of AMDM, AME and true metabolizable energy
(TME-kcal/kg), obtained with adults, were corn meal (62.97, 2,645, 2,686), corn starch (60.06, 2,204, 2,246), fishmeal (34.97, 2,242, 2,352)
and house fly larva (56.99, 3,337, 3,498). The values of AME and RME for the soybean oil, obtained with adults, were 7,358, 7,468, respectively.
The use of two sequential forced feeding increases the precision of the results for AMDM, AME, and TME, when compared to an unique
feeding, because there was a smaller variation in the amount of excreted materials by the animals for the same feed.
Key Words: Rana catesbeiana, forced feeding, digestibility, nutritive value
Introdução
Para a alimentação de rãs, tem-se observado a
utilização de valores quantitativos de energia e prote-
ína dos alimentos, para avaliar o desempenho dos
animais na fase pós-metamórfica. No entanto, sabe-
se que, para estabelecer o real valor nutritivo dos
alimentos, é necessário conhecer a análise
bromatológica destes, assim como a sua efetiva utili-
zação pelo organismo animal.
Na grande maioria das criações de rã-touro, em
cativeiro, observa-se descontinuidade de produção
causada pelo uso de instalações inadequadas e pela
execução de um manejo diferente do proposto pelo
sistema de criação adotado, além da falta de um
subsídio técnico pertinente à atividade. Esse panora-
ma gera dificuldade para garantir o fornecimento do
produto ao mercado e, também, elevação do preço
1Parte da Tese de Mestrado apresentada à UFV para obtenção do título de "Magister Scientiae".
2Estudante de Doutorado/DZO/UFV.
3Professor da UENF.
4Professor do DZO/UFV.
5Mestre em Zootecnia.
R. Bras. Zootec., v.27, n.2, p.203-209, 1998
204 BRAGA et al.
final para o consumidor.
A alimentação das rãs em cativeiro tem sido um
desafio. Com a evolução da tecnologia de criação de
rãs, surgiram propostas que foram absorvidas pelos
ranicultores, como a introdução da ração farelada
(LIMA e AGOSTINHO, 1984), que depois passou a
ser peletizada, e, mais recentemente, o uso dos cochos
vibratórios para o arraçoamento das rãs. Em alguns
casos, o condicionamento dos animais no arraçoamento
permite reduzir gradativamente o uso de atrativos para
a ingestão da ração, tanto por larva de mosca como por
cochos vibratórios.
Segundo CULLEY et al. (1978), a quantidade de
alimento fornecida, diariamente, para a rã-touro adulta
pode variar de 5 a 10% do peso vivo, proporção esta
que aumenta para os imagos. LIMA e AGOSTINHO
(1988) também encontraram redução percentual no
consumo de ração, à medida que os animais ganhavam
peso, tendo consumo de alimento de 12% do peso para
os animais mais jovens e 5% para os animais em
terminação, enquanto para os reprodutores o consumo
oscila entre 3 e 5% do peso vivo.
Nos trabalhos realizados por CASTRO et al. (1995a,
b, c, d), alguns alimentos foram avaliados individual-
mente por meio da técnica de alimentação forçada,
utilizando a rã-touro na fase pós-metamórfica em duas
idades (imago e adulto). Com esta linha de pesquisa foi
possível avaliar o tempo de passagem do alimento no
trato digestivo dos animais, a influência do sexo e da
idade na digestibilidade de alimentos e determinar os
valores da energia metabolizável desses alimentos.
De acordo com Joly (1958) e Root (1961), citados
por EDWARDS (1971), existe uma variação sazonal
na taxa de digestão da rã e parece ser a temperatura
o principal fator que interfere nesta taxa, de modo que a
secreção gástrica aumenta em temperaturas mais altas,
com conseqüente aumento dos processos digestivos.
Na literatura, a maioria dos trabalhos com nutrição
de rã-touro na fase pós-metamórfica dá ênfase às
exigências de proteína bruta (PB), sem considerar a
qualidade da proteína utilizada. MONTEIRO et al.
(1988), trabalhando com teores de proteína bruta na
ração variando de 25 a 48%, concluíram que a Rana
catesbeiana requer, no mínimo, 48% de proteína
bruta para seu crescimento. Resultados semelhantes
foram encontrados por BARBALHO (1991) e
STÉFANI (1995). MAZZONI et al. (1992a), utilizan-
do rações isocalóricas com 4020 kcal/kg de energia
bruta (EB) para analisar diferentes níveis de proteína
(24, 30, 35 e 36 % de PB), constataram que as rãs
tiveram melhor desempenho quando alimentadas com
ração de maior teor protéico. Em estudos posterio-
res, avaliando níveis de proteína e energia bruta para
rã-touro, MAZZONI et al. (1992b) observaram que
a ração contendo 45 % de PB e 4200 kcal/kg de EB
proporcionou os melhores resultados de desempe-
nho.
Segundo LIMA et al. (1994), os problemas rela-
cionados à nutrição e alimentação das rãs, tanto na
fase aquática quanto na fase pós-metamórfica, são:
inexistência de identificação da forma adequada das
rações nas diferentes fases de criação; uso de
rações empíricas pela falta de conhecimento das
exigências nutricionais das rãs; produção das ra-
ções comerciais em pequena escala, o que as torna
mais caras e com fornecimento irregular; e manejo
alimentar (quantidade, freqüência e utilização ou
não de atrativo) muito variado.
Para a realização de pesquisas em nutrição, há,
de maneira geral, deficiência com relação a instala-
ções e equipamentos para estudos específicos. Além
disso, as rãs, mesmo oriundas de uma mesma prole
e submetidas a um mesmo ambiente e manejo,
apresentam crescimento heterogêneo, o que dificul-
ta comparações e prejudica a interpretação dos
resultados.
Considerando a importância de se conhecerem
os diversos aspectos da alimentaçãode rãs em
cativeiro relacionados às suas exigências nutricionais
para a formulação de uma ração específica, condu-
ziram-se dois experimentos com a rã-touro na fase
de recria, com os seguintes objetivos: aprimorar a
metodologia de alimentação forçada para o estudo
de digestibilidade com rãs e determinar a
digestibilidade da matéria seca e o valor da energia
metabolizável de fubá de milho, farinha de peixe,
amido de milho, óleo de soja e larva de mosca
(Musca domestica).
Material e Métodos
Os experimentos foram realizados no Laborató-
rio do Ranário Experimental do Departamento de
Biologia Animal da Universidade Federal de Viço-
sa. A sala utilizada, com dimensões de 3x3 metros,
tinha três janelas, tipo basculante, na parte superior
de uma das paredes, para permitir a troca de ar. O
controle da temperatura nas baias foi feito utilizan-
do-se um termostato acoplado a um aquecedor com
três resistências elétricas montadas em cone de
porcelana espiral. As resistências foram colocadas
a uma distância de 1,5 metro de uma estante, distri-
205R.Bras.Zootec.
buídas nas laterais e à frente desta. Um termômetro
de máxima e mínima foi colocado próximo ao sensor
do termostato para verificação da variação da tempe-
ratura, que teve média de 26,2 ± 0,7°C.
Nas prateleiras da estante foram distribuídos
módulos para a contenção dos animais, sendo cada
um composto por duas caixas de polipropileno justa-
postas, de modo que a caixa superior servisse sim-
plesmente de tampa para evitar a fuga das rãs. Os
módulos contendo 500 mL de água, para possibilitar
a termorregulação e hidratação das rãs, foram mon-
tados com pequena inclinação, a qual garantiu que
dois terços do fundo das caixas de polipropileno
ficassem secos e a outra parte fosse preenchida com
água, permitindo assim a escolha do melhor local, no
piso das caixas, pelos animais. Os módulos com dez
rãs jovens ou com sete rãs adultas representaram a
unidade experimental (repetição).
Foram utilizados dois grupos de animais no expe-
rimento, os quais foram obtidos no setor de recria do
Ranário Experimental da Universidade Federal de
Viçosa - UFV. Após a triagem, os animais foram
alojados nos módulos, onde ficaram em jejum por um
período de 48 horas, para esvaziamento do tubo
digestivo e adaptação ao ambiente da sala. A admi-
nistração de cada alimento-teste foi feita em seqüên-
cia ao jejum.
O fubá de milho, o amido de milho e a larva de
mosca foram avaliados em rãs jovens com 25 a 30
gramas de peso e rãs adultas com 132 a 137 gramas de
peso, enquanto a farinha de peixe e o óleo de soja foram
avaliados somente com rãs adultas (92,3 ± 3,7 gramas).
O amido de milho foi fornecido juntamente com fubá de
milho em uma mistura com 20% do primeiro alimento,
pois ocorre alteração no processo digestivo das rãs,
quando este alimento é fornecido puro, além de existir
dificuldade para o seu fornecimento.
Para a determinação do valor nutritivo do óleo de
soja, utilizou-se a farinha de peixe como veículo,
sendo a quantidade de óleo de soja na mistura fixada
em 3%. Essa proporção foi estabelecida após os
resultados encontrados em ensaios previamente fei-
tos com tais alimentos, além dos executados com o
fubá de milho como veículo com três proporções (5,
10 e 15%) do óleo de soja. Em cada tratamento foram
utilizadas três repetições, exceto para a farinha de
peixe e o óleo de soja, em que foram utilizadas quatro.
Efetuou-se a alimentação forçada dos alimentos
em quantidade equivalente a 5% do peso médio das
rãs (CASTRO, 1996), com exceção da mistura de
farinha de peixe com óleo de soja e farinha de peixe
pura, em que foram administrados às rãs na propor-
ção de 3% do peso dos animais, pois a farinha de
peixe apresenta volume maior; com isto, necessitaria
dividir a administração do alimento em mais parcelas,
se fosse utilizado 5%.
O fubá de milho, a mistura de amido de milho com
fubá de milho, a farinha de peixe e a mistura de óleo
de soja com farinha de peixe foram fornecidos com o
auxílio de uma seringa de 10mL, com a extremidade
anterior cortada. Estes alimentos foram umedecidos
com água, numa proporção de 80% do peso do
alimento, até a obtenção de uma consistência firme,
para então serem colocados na seringa. Após a
imobilização dos animais com um pano, foi feita
alimentação forçada em duas etapas: na primeira
administraram-se cerca de 50% da quantidade total
do alimento e, após a observação da primeira ingestão,
iniciou-se a segunda etapa, com a introdução do
restante do alimento na cavidade bucal das rãs,
seguindo o mesmo procedimento.
Nos tratamentos com farinha de peixe e mistura
de óleo de soja com farinha de peixe, fez-se o abate
de um animal de cada repetição escolhido ao acaso,
após um período de coleta de excretas de 72 horas,
para observação do conteúdo do tubo digestivo. Em
seguida, efetuou-se uma segunda alimentação força-
da com a mistura de farinha de peixe e óleo de soja,
utilizando os seis animais restantes em cada módulo,
com o objetivo de avaliar a influência desta alimenta-
ção na quantidade de excreta coletada. A administra-
ção dos alimentos seguiu os mesmos procedimentos
descritos na primeira etapa, e o período de coleta das
excretas se prolongou por mais 72 horas. A compa-
ração entre estas metodologias foi feita empregando-
se o sistema de análises estatísticas UFV (1993).
Concomitante à execução deste experimento, 24
animais, distribuídos em quatro repetições, foram
mantidos em jejum para a coleta de excretas, com o
objetivo de calcular os valores de energia metabolizável
verdadeira dos alimentos, por meio da determinação
das perdas metabólicas e endógenas.
No caso específico da larva de mosca (Musca
domestica), por se tratar de um alimento fornecido vivo,
houve necessidade de utilizar um funil introduzido na
cavidade bucal das rãs, em vez do uso da seringa.
Durante o período de coleta das excretas foram
tomadas a temperatura corporal das rãs e a tempera-
tura da água das caixas de polipropileno onde os
animais estavam alojados, utilizando para isto um
termômetro com bulbo de mercúrio.
A coleta das excretas realizou-se por um período
206 BRAGA et al.
de 72 horas, sendo feita duas vezes ao dia (manhã e
tarde), para impedir o acúmulo e a decomposição do
material. Para isto foi feita a transferência individual
das rãs para as caixas que estavam na posição
superior do módulo, com o máximo de cautela, para
evitar possível perda do material a ser coletado. Foi
feito um revezamento das caixas, para a remontagem
dos módulos, e a água a ser utilizada era armazenada
nas caixas que anteriormente estavam na posição
superior. Com isso os animais não sofreram nenhum
estresse por diferença de temperatura.
Toda a excreta coletada, juntamente com a água
das caixas, foi acondicionada em sacos plásticos
identificados e congelados em freezer de gaveta até
o final do experimento. Após este período foram
feitos o descongelamento e a secagem do material,
levando-o à estufa ventilada com temperatura de
55°C. A moagem do material seco foi feita em
moinho de bola, enquanto as análises de matéria seca,
proteína bruta e energia bruta seguiram as
metodologias descritas por SILVA (1990), estando
registradas na Tabela 1.
Para o cálculo dos valores de matéria seca apa-
rentemente metabolizável (MSAM), energia
metabolizável aparente (EMA) e energia
metabolizável verdadeira (EMV), utilizaram-se as
equações descritas por ALBINO (1987).
Resultados e Discussão
Os valores de matéria seca aparentemente
metabolizável (MSAM) e energia metabolizável apa-
rente (EMA) de fubá de milho, amido de milho e larva
de mosca, determinados com imagos encontram-se
na Tabela 2.
O valor de 2462 kcal/kg de EMA, determinado
para o fubá de milho, foi 17,75% maior que o encon-
trado por CASTRO (1996), que foi de 2090 kcal/kg;
o de MASM (59,82%) praticamente não diferiu. As
variações na energia bruta e na granulometria do fubá
de milho, utilizadas nos trabalhos, foram os fatores
que podem ter influenciado os resultados. Os valores
obtidos de EMA (2.346 kcal/kg) e MSAM (61,01 %)
para o amidode milho foram próximos daqueles do
fubá de milho.
Entre os alimentos avaliados para imagos, a larva
de mosca foi o que apresentou o maior valor para
EMA (3.098 kcal/kg) na matéria seca, porém, em
razão de seu elevado teor de umidade, o nível de
EMA na matéria natural correspondeu somente a 878
kcal/kg. Uma vez que a larva de mosca é preferen-
cialmente consumida pelas rãs, quando comparada
com a ração, deve-se ter a preocupação na quantida-
de administrada às rãs, pois, se for fornecida em
excesso, o conteúdo estomacal do animal após a
Tabela 1 - Composição química dos ingredientes1
Table 1 - Chemical composition of the ingredients
Ingrediente Matéria seca (%) Energia bruta (kcal/kg) Proteína bruta (%)
Ingredient Dry matter Gross energy Crude protein
Fubá de milho (Ground corn) 87,28 3.842 7,28
Amido de milho (Corn starch) 84,68 3.035 0,03
Óleo de soja (Soybean oil) 100,00 8.712 0,00
Farinha de peixe (Fish meal) 90,44 3.555 53,73
Larva de mosca (Larva of housefly) 27,10 1.387 13,89
1Valores expressos na base da matéria natural (Values in as fed basis).
Tabela 2 - Valores de matéria seca aparentemente metabolizável (MSAM) e energia metabolizável aparente
(EMA) dos alimentos, para imagos1
Table 2 - Values of apparent metabolizable dry matter (AMDM) and apparent metabolizable
energy (AME), for youngs
Ingrediente MSAM (%) EMA (kcal/kg)
Ingredient AMDM AME
Fubá de milho (Ground corn) 59,82 2.462
Amido de milho (Corn starch) 61,01 2.346
Larva de mosca (Larva of housefly) 53,83 3.098
1Valores na base da matéria seca (Values in a dry matter basis).
207R.Bras.Zootec.
alimentação apresentará baixo valor biológic,o devido
ao elevado teor de umidade observado neste alimento.
Os valores MSAM, EMA, energia metabolizável
verdadeira (EMV) e a relação entre EMA e EMV de
fubá de milho, amido de milho, óleo de soja, farinha de
peixe e larva de mosca, determinados com rãs adul-
tas, encontram-se na Tabela 3.
Os valores de 2645 kcal e 62,97%, respectiva-
mente, para EMA e MSAM, para o fubá de milho,
foram 7,43 e 5,26% maiores que os encontrados com
imagos. O valor de EMA determinado neste trabalho foi
1,88% superior àquele relatado por CASTRO (1996)
para rãs adultas (2498 kcal/kg).
Ainda comparando os resultados obtidos com
imagos e rãs adultas, constatou-se que, enquanto com
imagos a diferença entre as EMA do fubá de milho e
do amido de milho foi somente de 4,9%, com rã adulta
esta chegou a 16,67%, sendo sempre maior o valor de
EMA do fubá de milho. Com relação à MSAM, o valor
obtido de 60,06%, para amido de milho, foi 4,68% menor
do que aquele determinado para o fubá de milho.
Entre os alimentos analisados, a farinha de peixe
foi o que apresentou o menor valor para MSAM
(34,97%). O baixo aproveitamento deste alimento
deve ser também levado em consideração com rela-
ção à proteína, pois na formulação de rações para rãs
a farinha de peixe é bastante utilizada como fonte de
proteína animal. Este valor foi bem menor que aquele
encontrado por CASTRO (1996) (75,03%), o que
pode ter sido em decorrência da grande variação
bromatológica das farinhas de peixe disponíveis no
mercado e, principalmente, por causa das diferenças
entre as metodologias utilizadas tanto na execução da
alimentação forçada como na de coleta deste alimento.
O valor da EMA da larva de mosca, para adultos
(3.337 kcal/kg), foi 7,71% superior àquele encontra-
do para imagos, revelando maior eficiência do adulto
na utilização desse alimento.
Com relação ao valor nutritivo do óleo de soja,
tanto para imagos quanto para adultos, os resultados
foram inconsistentes, quando se trabalhou com o fubá
de milho como veículo na alimentação forçada. Pare-
ce haver interação entre os dois alimentos, para que
ocorra alguma alteração na fisiologia da rã para
digerir tal mistura. Isto ficou evidenciado ao compa-
rar a quantidade de material excretado pelos animais
que receberam fubá milho puro com os alimentados
com a mistura de óleo e fubá de milho, que apresen-
taram maior volume da excreta.
Na maior parte dos animais (70%) alimentados com
as misturas de fubá de milho e óleo de soja com 10 e 15%
de inclusão do último ingrediente, observou-se que o
estômago e o intestino delgado estavam completamente
repletos da mistura fornecida, enquanto o intestino
grosso continha uma excreta bastante desidratada e a
parede deste órgão estava distendida, parecendo ter
havido a formação de gases após 72 horas de coleta. Os
tempos de passagem do alimento pelo estômago e da
digesta pelo intestino delgado são aumentados, a tal
ponto que, após 72 horas de coleta, o intestino delgado
dos animais que receberam 5% de óleo de soja na
mistura ainda continha digesta.
Para rã-touro adulta, a variação entre EMA e
EMV dos alimentos estudados foi pequena, mostran-
do que o material endógeno excretado pelos animais
não influenciou significativamente o valor da energia
metabolizável aparente destes.
Comparando a metodologia em que se utilizam
duas alimentações forçadas, sendo a primeira após
48 horas de jejum de uma alimentação convencional
e a segunda, 72 horas após a alimentação forçada
com o alimento-teste, com aquela em que se utiliza
apenas uma alimentação forçada, 48 horas após uma
alimentação convencional, constatou-se que há me-
nor variação nos resultados, assim como maior quan-
tidade de excretas (Tabela 4), quando foram feitas as
duas alimentações em seqüência. Este resultado pode
ser explicado pelo fato de o período de 48 horas de
Tabela 3 - Valores de matéria seca aparentemente metabolizável (MSAM), energia metabolizável aparente (EMA), energia
metabolizável verdadeira (EMV) dos alimentos e relação entre EMV e EMA, para adultos1
Table 3 - Values of apparent metabolizable dry matter (AMDM), apparent metabolizable energy (AME), real metabolizable energy (RME)
of the feeds RME/AME ratio, for adults
Ingrediente MSAM (%) EMA (kcal/kg) EMV (kcal/kg) EMV/EMA
Ingredient AMDM AME RME RME/AME
Fubá de milho (Ground corn) 62,97 2645 2686 1,02
Amido de milho (Corn starch) 60,06 2204 2246 1,02
Farinha de peixe (Fish meal) 34,97 2242 2352 1,05
Larva de mosca (Larva of housefly) 56,99 3337 3498 1,05
Óleo de soja (Soybean oil) - 7358 7468 1,02
1Valores expressos na base da matéria seca (Values in a dry matter basis).
208 BRAGA et al.
jejum ser insuficiente para o completo esvaziamento
do intestino grosso, conforme constatado em ensaios
preliminares. Dessa forma, a técnica de efetuar duas
alimentações forçadas minimiza esse erro, pois a
quantidade de alimento da segunda alimentação força-
da que fica retida no intestino grosso é compensada por
aquela que ficou retida da primeira alimentação forçada
usando o mesmo alimento-teste, o que não ocorre
quando se utiliza uma única alimentação forçada após
48 horas de jejum de uma alimentação convencional.
A temperatura corporal média da rã-touro e a
temperatura da água nos módulos no ensaio com
alimentação forçada, utilizando a mistura de farinha
de peixe com 3% de óleo de soja, foram 26,7 e 26,2°C,
respectivamente. Estes valores encontram-se dentro
da faixa de temperatura estabelecida nos ensaios, sendo
semelhantes aos valores de temperatura encontrados
por BRATTSTROM (1979), em que ocorreu a melhor
eficiência na ingestão de energia em Bufo boreas, e
também se aproximam da temperatura de 27,6°C esti-
mada por FIGUEIREDO (1996), em que a rã-touro
apresentou melhor ganho de peso.
avaliado em termos de energia metabolizável aparen-
te, pois as perdas endógenas e metabólicas apresen-
taram pequena interferência nos resultados obtidos.
A utilização de duas alimentações forçadas, em
seqüência, aumenta a precisão dos resultados de
MSAM, EMA e EMV, quando comparada com uma
única alimentação, pois ocorre menor variação na
quantidade de material excretado pelos animais para
um mesmo alimento.
Referências Bibliográficas
ALBINO, L. F. T. Sistemas de avaliação nutricional de alimen-
tos e suas aplicações na formulação de rações para frangos
de corte. Viçosa, MG: UFV, 1991. 141 p. Tese (Doutorado
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BARBALHO, O. J. M. Exigência de proteína bruta de rã touro
(Rana catesbeiana Shaw, 1802), na fase de terminação.
Viçosa, MG: UFV, 1991. 55 p. Dissertação (Mestrado em
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BRATTSTROM, B. H. Amphibiam temperature regulation
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356, 1979.
CASTRO, J. C., LIMA, S. L., DONZELE, J. L. et al. Determi-
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Tabela 4 - Quantidade de excreta coletada, em gramas, após
a primeira (excreta 1) e a segunda (excreta 2)
alimentações forçada1
Table 4 - Amount of collected excrement after first (excrement 1)
and second (excrement 2) forced feedings1
Ingrediente Excreta 1(g) Excreta 2 (g)
Ingredient Excrement Excrement
Farinha de peixe 7,74a 9,84b
Fish meal
Farinha de peixe + Óleo 8,40a 9,12a
de soja (3%)
Fish meal+ Soybean oil
*Médias, na linha, seguidas de letras diferentes são diferentes
(P<0.05) pelo teste Newman-Keuls.
* Means, in a row, followed by diferent letters are different by (P<.05) Newman-
Keuls test.
Conclusões
Os valores de energia metabolizável aparente
(EMA-kcal/kg), para rãs jovens, foram, respectiva-
mente, para os seguintes alimentos: fubá de milho,
2462; amido de milho, 2346; e larva de mosca, 3098.
Os valores de EMA e energia metabolizável verda-
deira (EMV-kcal/kg), obtidos com adultos, foram, res-
pectivamente: fubá de milho, 2645 e 2686; amido de
milho, 2204 e 2246; farinha de peixe, 2242 e 2352; larva
de mosca, 3337 e 3498; e óleo de soja, 7358 e 7468.
O valor nutritivo dos alimentos utilizados pode ser
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Recebido em: 08/04/97
Aceito em: 26/09/97

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