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A última entrevista de Jacques Le Goff Vi Jacques Le Goff pela última vez poucos dias antes de ele morrer. Havia ido encontrá-lo na sua casa, no quinto andar de um palácio na zona norte de Paris. No seu escritório repleto de livros, em frente a uma escrivaninha enterrada debaixo de uma montanha de papéis – "um dos meus defeitos é a desordem", repetia ele frequentemente – começamos a falar de São Francisco e do Papa Bergoglio, comparando a figura do santo medieval com a do papa contemporâneo. A reportagem é de Fabio Gambaro, publicada no jornal La Repubblica, 01-05-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto. Cansado, mas, como sempre, lúcido e rigoroso, Le Goff me contou como nascera o seu interesse pelo autor do Cântico das Criaturas, ao qual depois dedicou o livro San Francesco d'Assisi (Laterza). E me explicou a sua curiosidade em relação ao novo papa, em cuja ação via diversos elementos de continuidade com o santo. Enquanto ouvia as suas recordações e as suas reflexões, eu não imaginava que, uma semana depois, o historiador francês faleceria em um hospital parisiense. O que se segue é uma parte da nossa última conversa. Eis a entrevista. Como foi que o senhor se ocupou de São Francisco? É um interesse que eu cultivo há anos, desde a primeira vez que eu vi Assis no pós-guerra. Eu era um jovem historiador atraído pela Itália, um país onde eu estivera várias vezes, até porque a família da minha mãe veio da região de Imperia. O que o impressionou em Assis? Acima de tudo, a topografia dos lugares. Para mim, a ligação entre a história e a geografia sempre foi essencial, e em Assis a história social e espiritual de Francisco se expressavam geograficamente. Por um lado, a colina com a cidade que representava a vida comercial e política da época. Depois, a solidão e o afastamento da ermida de Cárceres, símbolo da nova forma de solidão monástica proposta pelo franciscanismo. Finalmente, a natureza que circunda a igreja de São Damião, o lugar da nova ecologia espiritual de São Francisco. Em suma, diante desses lugares, pareceu-me ver uma encarnação particularmente evidente em um movimento histórico. Qual era a sua relação com a religião? Eu comecei a me interessar pelo franciscanismo no momento em que eu me afastava definitivamente da religião católica. Quando jovem, eu recebera uma educação religiosa. Minha mãe, segundo a tradição italiana, era muito católica e devota. Meu pai, ao invés, era um filho do "affaire Dreyfus", portanto secular e anticlerical. Apesar de tal diferença, os meus pais eram muito unidos, e a religião nunca foi um assunto de disputa. A sua formação é o resultado dessas duas tradições? Sim, embora durante a juventude tenha prevalecido a influência da minha mãe. Depois, porém, eu me afastei progressivamente da fé. Quando cheguei em Assis, olhei para São Francisco com os olhos do historiador e não do crente. Interessavam-se me acima de tudo as suas ações e as suas escolhas, mais do que ele podia representar no plano religioso. Para o senhor, qual é o aspecto central da figura de São Francisco? A modernidade. Diante da nova sociedade em mutação, ele identifica claramente o problema da riqueza e das desigualdades. Tal consciência o levou a cuidar da pobreza. Por outro lado, se o atual papa escolheu o seu nome pela primeira vez na história da Igreja, é precisamente por causa de tal modernidade, em cujo rastro ele se inscreve. E se há um elemento comum a São Francisco e ao Papa Bergoglio, é justamente a luta contra o dinheiro e a defesa dos pobres. Duas épocas diferentes, mas uma mesma preocupação? No século XIII, para satisfazer as necessidades da economia e, em particular, do comércio, o uso do dinheiro tornou-se cada vez mais importante. Essa evolução, porém, produziu alguns excessos contra os quais São Francisco luta. Ainda hoje assistimos a uma revisão das atitudes em relação ao dinheiro, só que não se trata mais de uma reação a uma novidade, como no século XIII, mas sim de uma reação a uma crise, a que abalou a economia do início do século XXI. O Papa Francisco é o papa de crise. Provavelmente uma parte dos cardeais que o elegeram viram nele o homem capaz de ajudar a Igreja e a sociedade a superar essa fase do mundo capitalista. A crítica da riqueza é acompanhada pela necessidade de novas formas de espiritualidade, a serem contrapostas ao materialismo, filho do dinheiro? Certamente. No século XIII, isso é particularmente evidente. São Francisco prega a necessidade do retorno ao Evangelho, em cujo interior encontram-se as bases para combater os excessos da riqueza. Basta pensar na célebre frase: "É mais fácil um camelo passar pelo olho de uma agulha do que um rico entrar no reino dos céus". A espiritualidade contemporânea é menos fácil de decifrar. Hoje, ao lado do fascínio do dinheiro sempre muito forte, manifesta-se uma suspeita crescente em relação à riqueza e às suas manifestações. Daí uma demanda de espiritualidade, que, porém, talvez, não tem muito a ver com a espiritualidade cristã. Em todo o caso, a modernidade do Papa Francisco, assim como a do santo de Assis, nasce da vontade de lutar contra a materialização da sociedade, do espírito e das religiões, retomando, ao mesmo tempo, a tradição dos Evangelhos, para colocá-la novamente no centro da reflexão e da prática do mundo católico. O Evangelho das origens em oposição aos Padres da Igreja? Em parte, é isso. Mas também é preciso ressaltar que, ao contrário de todas as heresias que surgiram entre os séculos XII e XIII, Francisco permaneceu dentro da Igreja, porque sentia a necessidade dos sacramentos. Precisamente porque se trata de uma modernização que é também um retorno às origens, nele havia uma vontade de renovação, mas sem romper com as instituições. Assim como me parece que o pontífice está fazendo. Que outro aspecto da modernidade de São Francisco parece-lhe particularmente importante? Parece-me que a temática da ecologia pode falar de forma significativa para o nosso tempo. A ecologia implica a necessidade de espiritualidade não necessariamente ligada a uma religião. Pode, portanto, ser compartilhada por todos. Quais são as características da preocupação ecológica de São Francisco? Se olharmos para a forma como o santo de Assis se expressa e como ele constrói o franciscanismo, notamos que ele se distancia do maior movimento social do seu tempo, isto é, o desenvolvimento das cidades. São Francisco contrapõe a ele a natureza e a estrada, já que promove a pregação "a caminho". Além disso, se há uma obra literária que podemos considerar como ecologista é justamente o Cântico das Criaturas. A preocupação pela natureza é um traço importante da sua pregação, embora, por enquanto, parece-me que o Papa Francisco não o ressaltou particularmente. Talvez porque seja uma temática menos sentida naquele mundo da América Latina de onde ele provém. Veja também: Francisco. O santo. Revista IHU On-Line, no. 238 Para ler mais: 08/04/2014 - Uma entrevista inédita com Jacques Le Goff, morto aos 90 anos 03/04/2014 - ''Le Goff descobriu as mil facetas da Idade Média'' Entrevista com Marc Ferro 03/04/2014 - As convicções europeias do historiador Jacques Le Goff 03/04/2014 - ''Carlos Magno não é o pai da Europa.'' Entrevista com Jacques Le Goff 07/10/2013 - ''O papa quer mudar a Igreja como São Francisco''. Entrevista com Jacques Le Goff 16/02/2013 - ''Bento XVI abdica como um rei. Uma revolução, aquele trono vazio''. Entrevista com Jacques Le Goff 07/05/2007 - "A França tem coração e cabeça de direita", afirma Jacques Le Goff 23/04/2007 - "Um belo domingo. Le Pen foi definitivamente derrotado’, afirma Jacques Le Goff 18/09/2006 - De Paris a Chiapas. Entrevista com Jérôme Baschet, medievalista, discípulo de Le Goff Adicionar comentário Nome (obrigatório) Website Notifique-me de comentários futuros Atualizar E-mail (obrigatório) Comentário Enviar Cancelar JComments Notícias Notícias do Dia Notícias de 2012/2011 Notícias Anteriores Entrevistas 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 COP-21: Acordo climático depende da China e dos EUA. Entrevista especial com Ronaldo Serôa da Motta Multilinguismo e diversidade cultural: as identidades em diálogo. Entrevista especial com Joaquim Dolz Taxação sobre patrimônio e renda. Alternativas ao ajuste fiscal. Entrevista especial com Róber Iturriet Avila Vila Autódromo: desapropriações ocorrem ao largo de processos judiciais. Entrevista especial com Clarissa Pires Naback Revista IHU On-line Edição n° 467 Linguagem e Interação. 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Em resposta a: Ministro da Defesa zomba da Comissão Nacional da Verdade ao prestar honras militares ao general torturador Leônidas JoomlaXTC JComments Wall - Copyright 2010 Monev Software LLC Conecte-se com o IHU no Facebook Siga-nos no Twitter Escreva para o IHU Adicione o IHU ao seus Favoritos e volte mais vezes Conheça a página do ObservaSinos Acompanhe o IHU no Medium Av. Unisinos, 950 – São Leopoldo – RS CEP 93.022-000 Fone: +55 (51) 3590-8247 humanitas@unisinos.br Copyright © 2011 – Unisinos – Todos os direitos reservados
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