Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Responsabilidade Socioambiental: uma tendência competitiva Cristiane Maria Cutas (UDESC) crnety@hotmail.com Alexandre Borges Fagundes (UDESC) borges_fagundes@sbs.udesc.br Caroline Rodrigues Vaz (UTFPR) caroline-vaz@hotmail.com Resumo: A globalização das relações comerciais e as novas reivindicações da sociedade evidenciam que incluir questões voltadas à sustentabilidade é uma estratégia de negócios bastante viável para a diferenciação e permanência no mercado. Esta nova realidade do mundo dos negócios faz com que a gestão socioambiental seja gradualmente adotada por empresas no Brasil e no mundo, equilibrando o desenvolvimento econômico com o meio ambiente e bem estar social. %este ínterim, este artigo teve por objetivo mostrar o importante papel das empresas na questão da sustentabilidade e como estas estão reagindo diante da atual crise ambiental, evidenciando que as ações tomadas em prol das iniciativas socioambientais trazem como conseqüência, resultados positivos para a organização, para a sociedade e para o meio ambiente. O artigo apresenta uma revisão de literatura sobre Responsabilidade Socioambiental e a evolução do tema no Brasil, evidencia exemplos de como as empresas brasileiras estão desenvolvendo iniciativas em relação a esse conceito e analisa uma empresa considerada modelo em Responsabilidade Socioambiental no Brasil, buscando com isso contribuir para a ampliação do conhecimento sobre práticas a serem adotadas pelas organizações em prol da sinergia econômica, ambiental e social. Palavras chave: Responsabilidade Socioambiental, Sustentabilidade, Estratégia de negócios. Social and Environmental Responsibility: a competitive trend Abstract The globalization of trade and the new demands of society shows that add actions related to sustainability is a very viable business strategy to differentiate and stay on the market. This new reality of the business world makes the social and environmental management will be gradually adopted by companies in Brazil and the world, balancing economic development with environment and social welfare. In the meantime, this article aims to show the important role of business in the issue of sustainability and how they are reacting to the current environmental crisis, showing that the actions taken on behalf of social and environmental initiatives have as a consequence, positive results for the organization to society and the environment. The article presents a literature review on environmental and social responsibility and the evolution of the theme in Brazil, highlights examples of how Brazilian companies are developing initiatives in relation to this concept and examines a company considered a model in environmental and social responsibility in Brazil, seeking to contribute to enhancing knowledge about practices to be adopted by organizations in support of economic, environmental and social synergy. Key-words: Social and Environmental Responsibility, Sustainability, Business strategy. 1 Introdução Muito além da filantropia, a responsabilidade socioambiental atualmente é vista como um compromisso permanente por parte do empresariado, para com o desenvolvimento econômico do país, levando em conta o bem estar de seus colaboradores, a sociedade como um todo e a escassez dos recursos naturais. Este compromisso é uma resposta das empresas à contínua conscientização dos consumidores quanto ao papel destas nas questões sociais e a depredação ambiental na produção de seus produtos e serviços. De acordo com Seiffert (2008), a partir da segunda metade do século XX, mais propriamente com a revolução industrial e o grande crescimento da população, é que vem se tornando claro que os recursos naturais são finitos, e que a escassez destes representa uma séria ameaça para a sobrevivência humana. Só após esta década, o homem começou a concientizar-se de que os problemas ambientais estavam vinculados ao padrão de desenvolvimento utilizado, o econômico, que utilizava com abundância os recursos naturais não se preocupando com a degradação destes. Após o ano de 1950, o equilíbrio entre crescimento econômico e as questões ambientais passou a ser analisado como efeito de uma reavaliação dos resultados do desenvolvimento econômico. “O corolário das investigações pode ser caracterizado pela constatação de que a economia não pode ser vista como um sistema a parte da natureza, pois não existe atividade humana sem água, fotossíntese ou ação microbiana no solo” (SEIFFERT, 2008, p.18). O modelo de desenvolvimento utilizado atualmente é insustentável, esta realidade é um desafio para todos nós, mas para as empresas, a responsabilidade é muito maior, pois se trata de uma radical mudança de postura diante da difícil tarefa de garantir o futuro econômico da organização e ao mesmo tempo melhorar seu desempenho social e ambiental. O aumento da consciência ambiental, as mudanças de hábitos das pessoas, pressões por parte de ONGs, consumidores adeptos da causa preservacionista, legislações e outros, vem acentuando nas organizações a necessidade de desenvolver sua gestão com foco não apenas no crescimento econômico, mas também em ações sociais e ambientais. Diante destes fatos, este artigo teve como objetivo mostrar o importante papel das empresas na questão da sustentabilidade e como estas estão reagindo diante da atual crise ambiental, evidenciando que as ações tomadas em prol das iniciativas socioambientais trazem como conseqüência, resultados positivos para a organização, para a sociedade e para o meio ambiente. 2 Metodologia O desenvolvimento deste trabalho utilizou como fonte de coleta de dados, livros, periódicos, anais de eventos e materiais coletados em sites da internet, relacionados com o tema pesquisado, direcionando sua classificação como pesquisa bibliográfica exploratória (GIL, 1999; LAKATOS e MARCONI, 2000). A princípio foi realizada uma revisão de literatura sobre Responsabilidade Socioambiental e a evolução do tema no Brasil. A seguir foram evidenciados exemplos de como as empresas brasileiras estão desenvolvendo iniciativas em relação a esse conceito, sendo também apresentada uma pesquisa que elegeu a empresa modelo em Responsabilidade Socioambiental no Brasil no ano de 2009. Nessa sequência, fechando o encadeamento de todo o conteúdo abordado, foram apresentadas as análises e considerações finais do trabalho. 3 Responsabilidade Socioambiental “Com o passar do tempo, as organizações vem adquirindo uma mentalidade de adequação, em relação ao meio em que estão inseridas, seja social, seja ambiental” (ZARPELON, 2006, p.9). Este ajustamento vem ocorrendo por influência de fatores como, pressão de clientes, fornecedores, sociedade, legislações, etc. Alguns autores consideram de forma distinta os conceitos de responsabilidade social e responsabilidade ambiental, enquanto que outros acreditam que os problemas ambientais estão correlacionados com o bem-estar social podendo, portanto, complementar-se e ser tratados simultaneamente. A responsabilidade social pode e deve ter um papel central no progresso da economia global. Mas, por si só, ela não será suficiente para consolidar uma nova postura. Daí que o enfrentamento dos desafios da sustentabilidade ambiental deve se dar a partir de inovações financeiramente sustentáveis. Isto é: inovações significativas não só em produtos e em serviços, mas também em processos e modelos de negócios (PATEL, 2009, p.42). Segundo Lima e Lopes (2009), a responsabilidade social se dá quando as organizações passam a preocupar-se com o meio ambiente e bem-estar social, direcionando suas ações de maneira a causar menos danos a estes, com isto, aumentando suas chances de permanência no mercado. Para os autores, as empresas que desenvolvem este tipo de conduta, acabam por ganhar um melhoramento de sua imagem perante a sociedade.Para Donaire (1999), a responsabilidade social envolve um sentido de obrigação para com a sociedade, uma responsabilidade que compreende a proteção ambiental, projetos filantrópicos e educacionais, planejamento da comunidade, igualdade nas oportunidades de emprego e outros serviços sociais de acordo com os interesses públicos. O autor explica que a responsabilidade social intensificou-se a partir dos anos 60, devido às mudanças de valores da sociedade e justifica-se na liberdade que a empresa tem de existir, concedida pela sociedade, como se existisse um contrato social entre ambas, a empresa tem liberdade para trabalhar por um objetivo e como pagamento, contribui para com a sociedade. Donaire (1999), explica ainda que os termos deste “contrato” vêm sofrendo alterações significativas, pois as empresas que buscam apenas crescimento econômico acabam acarretando danos que representam custos sociais para todos. Assim, diferente do que se pensava antigamente, o crescimento econômico não esta ligado ao progresso social, pois em vários casos causa, além da devastação física do ambiente, condições insalubres de trabalho, discriminação de certos grupos e outros problemas sociais. Assim, existe a adição de novos termos a este contrato, que inclui, a redução destes custos sociais e a responsabilidade das empresas tanto para o crescimento econômico como para a melhoria das condições sociais. Segundo Neto et al. (2009), o tema responsabilidade socioambiental empresarial (RSAE), vem recebendo importante atenção nos últimos anos, tanto no âmbito acadêmico, como no empresarial e sociedade civil. Machado Filho (2006) apud Neto et al. (2009), afirma que mesmo o tema recebendo tal importância, ainda não existe um conceito totalmente aceito de responsabilidade socioambiental empresarial. Conforme o Business for Social Responsibility, a expressão refere-se amplamente a decisões tomadas baseadas em valores éticos que reúnem dimensões legais, considerando as pessoas, comunidades e meio ambiente. “A responsabilidade socioambiental é uma resposta natural das empresas ao novo cliente, o “consumidor verde” e ecologicamente correto” (TACHIZAWA e ANDRADE, 2008, p.1). Tachizawa e Andrade (2008) explicam que as empresas, ao tomarem suas decisões, precisam levar em conta que não existe conflito entre o lucro e a questão socioambiental, a evolução da sustentabilidade cresce em escala mundial, sendo que os consumidores e comunidade valorizam cada vez mais as práticas socioambientais por parte das empresas e, com isto, influenciando no faturamento destas. Uma ferramenta muito utilizada pelas empresas afim de divulgar sua transparência e responsabilidade pública é o balanço social, que pode ser entendido como um instrumento de gestão, que apresenta como andam as ações de uma organização com relação a seu desempenho econômico, ambiental e social (TACHIZAWA, 2009). 4 A evolução do tema no Brasil Ao longo dos últimos 10 anos a responsabilidade socioambiental passou por um período de mudanças quase revolucionário. As empresas brasileiras que incluíram a sustentabilidade em sua estratégia de negócios passaram por mudanças ao menos em três estágios, onde o primeiro foi a época das ações filantrópicas com maior atenção aos investimentos sociais, como doações e voluntariados, depois, passou-se a envolver ética e transparência no relacionamento com stakeholders e, mais recentemente, as questões ambientais estão cada vez mais ligadas a estratégia das empresas. Diversos fatores serviram como estímulo as grandes empresas a dar prioridade à sustentabilidade, como a pressão dos investidores, ONGs e consumidores, mas o que realmente fez crescer o senso de urgência foi a apreensão acerca das mudanças climáticas, do agravamento que o acúmulo de gás carbônico causa ao aquecimento da terra e a correlação direta entre as mudanças climáticas e a economia global. Tudo isto fez com que as empresas começassem a rever suas estratégias antes que o pior pudesse vir a acontecer, as medidas para se atingir a sustentabilidade passaram a ser vistas como oportunidades (GRANDO, 2009). Uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), revela que 68% dos consumidores brasileiros estariam dispostos a pagar mais por um produto ecologicamente correto. O que indica que o cliente continuará cada vez mais a fazer parte da empresa, progressivamente, e seus pedidos indicarão as decisões dos executivos nas empresas. Os programas de rotulagem ambiental crescentemente adotados em vários países já estão afetando as exportações de produtos no Brasil, e indicam novos padrões de consumo, de realização do comércio e trocas econômicas internacionais (TACHIZAWA, 2009). O Quadro 1 mostra os avanços da sustentabilidade no Brasil e no mundo na última década. 1999 – lançado o Pacto Global, pelo então secretário geral da ONU, Kofi Annan. 2000 – começa a repercutir no mundo a idéia de triple bottom line, criada pelo sociólogo inglês John Elkington em 1998, com a teoria de que todo negócio deve observar seus impactos ambientais sociais e econômicos. São lançadas as metas do milênio com compromissos do desenvolvimento sustentável. 2001 – empresas brasileiras começam a adotar a certificação ISO 14001, relacionada a prática de gestão ambiental. O número de certificadas passa de 5 no primeiro ano para 478 em 2009. 2002 – três empresas no Brasil aderem ao Global Reporting Initiative (GRI), metodologia para a publicação de relatórios de sustentabilidade criada cinco anos antes na Holanda. Uma versão chamada de G3, lançada em 2006, consolida-se como padrão global. Hoje, 78 empresas adotam a G3 no Brasil e 3500 no mundo. 2003 – o Carbon Disclosure Project criado por 35 fundos internacionais, faz a primeira consulta a grandes empresas para conhecer suas ações sobre mudanças climáticas com o objetivo de realizar investimentos na área. Hoje o CDP conta com 2200 empresas, 60 delas no Brasil. O número de investidores chega a 385 (41 no Brasil), que controlam 57 trilhões de dólares em investimentos. 2005 – entra em vigor o protocolo de Kyoto (criado em 1997) com a meta de reduzir em 5% até 2012, as emissões de gases de efeito estufa nos países ricos. Teve a adesão de 180 países, cria o mercado de créditos de carbono, responsável pela movimentação de 120 bilhões de dólares em 2008. 2006 – o economista Nicholas Stern (ex-economista chefe do Banco Mundial) publica um relatório sobre mudanças climáticas e propõe um corte pela metade das emissões globais de CO2 a um custo anual de 2% do PIB mundial para o desenvolvimento de matrizes energéticas limpas. 2007 – o Guru Michael Porter é premiado por artigo que propõe a integração da sustentabilidade à estratégia das empresas, a exemplo da Toyota com o lançamento do carro hibrido em 1997. 2008 – empresas brasileiras aderem ao Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG Protocol), programa em vigor desde 2001, estabelece uma metodologia para medição de emissões. Após treinamentos, ao longo de um ano, 22 companhias nacionais publicam seus inventários. 2009 – representantes de 192 países reúnem-se em Copenhague, na Dinamarca com o intuito de decidir um novo pacto para conter as mudanças climáticas, considerado o maior encontro sobre o tema desde o Protocolo de Kyoto. Fonte: Adaptado do Guia Exame de Sustentabilidade (2009) Quadro 1 – Evolução da Sustentabilidade no Brasil e no mundo na última década “Já faz tempo que as boas empresas investem em políticas socioambientais que incluem não apenas as suas práticas, mas também as de seus fornecedores” (BACOCCINA, 2009, P.40). Mas até pouco tempo, as empresas que preocupavam-se em preservar o meio ambiente tinham que arcar com preços mais altos que os concorrentes, o que as tornava menos competitivas. Hoje os órgãos de financiamentos estão conduzindo seus investimentospara políticas que visam a sustentabilidade e, o que era um custo para as empresas e as deixavam em desvantagem diante da concorrência, passou a ser uma condição para conseguir auxílio (BACOCCINA, 2009). 4.1 Exemplos de Iniciativas Socioambientais As iniciativas socioambientais das empresas brasileiras estão criando um novo ambiente social e econômico no país, acarretando em geração de renda, aperfeiçoamento da qualificação profissional e consolidando práticas empresariais que visam conciliar as atividades industriais e o meio ambiente (REVISTA ISTOÉ DINHEIRO, 2010). Nesse contexto, serão apresentados a seguir, alguns exemplos dessas iniciativas: Projeto Pescar: programa criado há mais de trinta anos, tornou-se referência no Brasil e no mundo, considerado um dos projetos sociais mais bem sucedidos do país, oferece cursos profissionalizantes para jovens carentes, como, hotelaria, mecânica, informática, turismo e agronegócio; já beneficiou 14 mil pessoas. A idéia do projeto surgiu em 1976, quando um empresário, fundador de uma revendedora de máquinas e equipamentos rodoviários, resolveu selecionar uma turma de 15 jovens de baixa renda e treinar os interessados em aulas de mecânica geral automotiva, ou seja, ao invés de dar aos jovens o peixe, resolveu ensiná-los a pescar. A primeira unidade do programa foi montada dentro de sua própria empresa, com uma sala para aulas teóricas e outra para as práticas. Os alunos que se mostraram dispostos a continuar na empresa, foram contratados. O empresário morreu em 1998, mas o projeto perdurou, pois chamou a atenção de outras empresas, que passaram a seguir os métodos criados. Hoje, as 111 empresas que adotaram o programa, conhecidas como franqueadas, mantém suas próprias unidades de treinamento em áreas relacionadas a seus segmentos, atualmente o projeto oferece 35 cursos. Apenas no ano de 2009, o projeto Pescar formou 2000 pessoas em cursos de diferentes áreas. Os cursos duram cerca de dez meses e são ministrados em unidades distribuídas em vários estados do Brasil. Para ministrar os cursos, uma companhia gasta em torno de R$ 60 mil por ano, utilizado para pagar instalações, material didático, uniforme para os alunos, alimentação e transporte, este investimento pode ser reduzido por meio de parcerias. Um levantamento realizado pela Pescar revela que 70% dos alunos que freqüentam seus cursos, seguem uma carreira profissional e, de acordo com o último levantamento da fundação, 8% dos alunos tornaram-se empresários. Após quase três décadas, o projeto passou em 1995 a ser administrado pela Fundação Projeto Pescar, uma ONG mantida por empresas, o que permitiu a expansão do programa por todo o Brasil, atraindo companhias de diversos setores. Os programas desenvolvidos no projeto, além de reconhecidos internacionalmente, serviram de exemplo lá fora, hoje, existem oito unidades do Pescar na Argentina e uma no Paraguai, que recebem apoio e suas ações são acompanhadas de perto pelo gerente do projeto, para garantir que as diretrizes sejam mantidas. O projeto já recebeu várias premiações em todos estes anos dedicados a capacitação dos jovens carentes para o mercado de trabalho, porém, a principal delas foi concedida pela ONU, Organização das Nações Unidas, que indicou o programa como um dos mais importantes do mundo na área da educação (VAZ, 2010). Malwee malhas: uma das maiores fabricantes de roupas do país, com sede em Jaraguá do Sul (SC), vem investindo pesado em projetos de sustentabilidade, foi a primeira empresa do ramo a desenvolver um programa de neutralização de emissões de carbono. O projeto aconteceu no primeiro semestre de 2007 e contou com o apoio de consultores externos. Criou um modelo de inventário de emissões de gases de efeito estufa que compreende todas as unidades fabris da empresa. Técnicos realizaram levantamentos das unidades de Santa Catarina e Bahia e das operações de distribuição da empresa. Na neutralização das emissões, foram consideradas as reservas do grupo, como o Pico da Malwee com cerca de 2,3 milhões de m2 e o Parque Malwee com 1,5 milhão de m2 criado em 1978, o parque preserva cerca de 35 mil árvores, 17 lagos e mais de 15 quilômetros de estrada integradas ao meio ambiente e é uma das principais áreas verdes do município. Alguns dos projetos em operação na empresa já existem a quase uma década, como a utilização de gás natural, que atinge 100% das fábricas. No final de 2001 a empresa trocou equipamentos que exigiam maiores consumo de insumos, por outros, que reduziram em torno de 40% a demanda por água, energia e produtos químicos, reformulando todo o processo produtivo na área de tinturaria. Atualmente, cerca de 45% de toda água utilizada na unidade é tratada e pode ser reutilizada, deixando de captar 200 milhões de litros de água por ano do rio Jaraguá, a empresa ainda estuda novos processos para aumentar o percentual de recuperação de água, utilizando novas tecnologias de filtração por meio de unidades piloto instaladas na empresa (MATTOS, 2010). Masisa: líder brasileira na produção de painéis de madeira (subsidiária do Grupo Nueva) construiu em Montenegro (RS) sua terceira unidade industrial no Brasil, com a aspiração de tornar-se referência global do setor em sustentabilidade. O projeto, orçado em US$ 1,2 bilhão teve todos os detalhes planejados para gerar o mínimo de impacto ambiental e social. A planta será praticamente auto-suficiente em água e energia, onde, o suprimento de água para o setor industrial e sanitários será garantido com o armazenamento de água da chuva e uma lagoa de 170 mil m3, a água utilizada na produção também será reciclada e, 99,9% da energia será gerada pela queima de biomassa. A empresa não irá despejar na atmosfera, poluentes sólidos ou calor, provenientes de seu processo industrial, os elementos poluidores serão neutralizados com o auxílio de um secador de partículas importado da Alemanha, com capacidade de processar 65 toneladas de partículas por hora. Esta inovação representa um alto investimento para a empresa, só em equipamentos foram gastos, US$ 17 milhões. Mesmo não conseguindo repassar este custo aos painéis, a companhia tem a expectativa de recuperar os gastos adicionais por meio da redução das contas com o consumo de água e energia e ganhos na eficiência operacional, que representam uma economia anual de R$ 8,3 milhões. Com a opção pelo modelo de negócio a companhia está visando sua perpetuação. Além dos cuidados ambientais e técnicos, a direção buscou ganhar a confiança da comunidade, assumiu o compromisso com a geração de emprego, e aquisição do maior numero possível de insumos da região, 70% dos colaboradores foram recrutados na comunidade. A companhia pretende oferecer cursos técnicos, e integrar agricultores do município em sua carteira de fornecedores (FERREIRA, 2010). 5 Empresas modelo em Responsabilidade Socioambiental no Brasil O empresariado brasileiro mostra-se cada vez mais integrado à nova realidade do mundo dos negócios, adotando gradualmente a responsabilidade socioambiental como estratégia de negócios, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a minimização dos problemas ambientais e o bem-estar social. Este fato pode ser comprovado pela participação de 210 empresas numa pesquisa, cuja finalidade foi selecionar as que destacaram-se em sustentabilidade empresarial no Brasil, no ano de 2009. A escolha das empresas seguiu a metodologia elaborada pelo Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, que é responsável também pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa e considera as principais referências de indicadores de sustentabilidade empresarial no Brasil e no mundo. As empresas inscritas, responderam a um questionário com questões abrangendo: compromissos, transparência, conduta, governança corporativa, aspectos sociais,ambientais e econômicos, que são analisados e aprovados por um conselho que também escolhe, entre as empresas selecionadas, a empresa considerada a “empresa sustentável do ano” (MANO, 2009). Entre as 210 empresas participantes da pesquisa, foram divulgadas as 20 consideradas modelo em responsabilidade social corporativa no Brasil; estas estão indicadas no Quadro 2. Walmart Anglo American Coelse Itaú Unibanco Promon AES Brasil Bradesco CPFL Masisa Serasa Experiam Alcoa BRF EDP Natura Suzano Amanco Bunge Alimentos Fibria Philips Tetra Pak Fonte: Adaptado do Guia Exame de Sustentabilidade (2009) Quadro 2 – As 20 melhores empresas em responsabilidade social corporativa no Brasil Entre as 20 empresas selecionadas, a Walmart foi escolhida a empresa sustentável do ano, pela rapidez com que tem promovido as mudanças e pela efetividade de suas ações em busca da sustentabilidade (MANO, 2009). A Walmart é a terceira maior rede de supermercados do país, nela ocorre a maior revolução verde do planeta, a empresa era uma das mais criticadas e combatidas por suas práticas: ignorava o processo de fabricação dos produtos que comercializava e, para manter seus preços baixos, estreitava a margem de seus fornecedores que viam-se obrigados a trabalhar no limite, adotando práticas trabalhistas reprováveis. Além disto, os varejistas da rede eram acusados da discriminação de mulheres e minorias, de comprar artigos produzidos por mão-de-obra semi-escrava e da destruição dos pequenos negócios locais (TACHIZAWA, ANDRADE, 2008). Hoje a empresa conta com várias iniciativas sustentáveis, mudanças drásticas começaram a acontecer em 2005, quando o presidente mundial da rede na época declarou publicamente sua grande aflição com relação ao futuro do planeta e decidiu que a maior varejista do mundo começaria a mudar. As várias ações que a empresa desenvolve atualmente abrangem o desenvolvimento de pequenos fornecedores, o programa de desconto para reduzir em 50% (até 2013), o uso de sacolas plásticas, o apoio social (7,5 milhões de reais para apoiar projetos nas áreas de desenvolvimento local, cultura, cidadania, geração de renda e profissionalização de jovens), a destinação correta para o lixo, a construção de lojas verdes, a conscientização dos colaboradores, o incentivo aos produtos verdes, investimentos em programas para a preservação da Amazônia, oferecimento de serviços à população e, em julho de 2009, a rede reuniu mais de 300 fornecedores em São Paulo para firmarem um pacto pela sustentabilidade, assim eles terão prazos para cumprir uma série de compromissos (HERZOG, 2009). De acordo com Carneiro (2009), além de exaltar as ações da empresa eleita modelo em Responsabilidade Socioambiental no Brasil, a pesquisa revelou números bastante relevantes: - Das 142 empresas que responderam todo o questionário, 78% possuem critérios ambientais para todas as etapas do processo produtivo, enquanto que na pesquisa do ano anterior, 63% das inscritas declararam possuir estes critérios; - 84% das empresas possuem políticas de controle de recursos como água e energia; - 49% das empresas participantes avaliam formalmente a emissão de CO2 gerada em suas atividades, enquanto que no ano anterior, apenas 39% tinham a mesma preocupação; - 70% têm comitê de sustentabilidade; - 70% divulgam relatório de sustentabilidade; - 79% responderam sim quando questionadas, se há um sistema de gestão de riscos que considere aspectos socioambientais de curto, médio e longo prazo. - 44% das empresas vinculam a política de remuneração de todos os seus executivos a metas e em dimensões ambientais e 43% em dimensões sociais; - 91% das empresas participantes possuem uma política corporativa de responsabilidade social. - 77% utilizam critérios sociais para qualificação, seleção e monitoramento de seus fornecedores de bens e serviços; - apenas 39% das empresas (das 70% que publicam relatório de sustentabilidade) estabelecem metas de melhorias de desempenho e prestam contas de compromissos assumidos no ano anterior; - só 18% (das 70% que possuem comitê de sustentabilidade) tem relação formal com a presidência. 6 Análises e considerações finais A cada dia mais, os produtos verdes ganham espaço nas empresas de diferentes segmentos, impulsionadas pela maior exigência dos consumidores, que cobram das organizações uma posição mais enérgica frente aos problemas ambientais e suas conseqüências à sociedade. O consumo de recursos ambientais e a geração de resíduos (considerando desde a extração de matérias-primas da natureza, a fabricação de produtos, até o descarte pelo consumidor final) torna as indústrias, de um modo geral, agentes catalizadores de impactos negativos, vistos pela sociedade. Assim como os danos, as preocupações vem aumentando gradualmente a partir do último século e, com isto, a busca por alternativas eficazes para evitar o caos ambiental vem tornando-se mais freqüente. Como esta tendência não parece ser algo passageiro, muitas empresas estão investindo tempo e dinheiro na tentativa de permanecer no mercado, e a alternativa mais viável no cenário atual é a adoção de práticas voltadas á responsabilidade socioambiental e, consequentemente, à sustentabilidade. Considerando que o lucro sempre será a base para a continuidade de qualquer organização, o que se propõe com o desenvolvimento sustentável é a busca do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, como visto nos exemplos citados nesta pesquisa, isto é possível, com alguns investimentos e uma grande mudança de postura por parte de empresas, consumidores, fornecedores, enfim, por todos os envolvidos no processo, pode-se alcançar a tão almejada sustentabilidade econômica, social e ambiental. Portanto, responsabilidade socioambiental propicia benefícios à sociedade, à natureza e às empresas que a praticam, pois estas, ao praticar ações socioambientais estão concomitantemente fazendo marketing positivo de seus negócios, melhorando a imagem da organização perante a sociedade, o que resultará em mais consumidores e investidores atraídos por esta boa imagem, tornando-se assim mais competitivas no mercado globalizado. Através desta pesquisa, pode-se prever que este novo modelo de gestão indique o perfil da economia dos próximos tempos. Deste modo, fica claro que as empresas que estão tendo a visão de que os desafios ambientais e sociais podem ser usados como um diferencial diante de seus concorrentes, estarão aptas a permanecer no mercado. Isto já vem sendo observado por empresas no Brasil e no mundo. Empresas que, como já descrito, vem fazendo do exercício da responsabilidade socioambiental, uma nova oportunidade de negócios e simultaneamente contribuindo para uma sociedade melhor. Os números apresentados nesta pesquisa revelam que as empresas brasileiras estão cada vez mais integrando a questão socioambiental em suas estratégias de negócios e que o conceito de sustentabilidade vem evoluindo bastante desde seus primeiros passos no Brasil. Das 142 empresas participantes do levantamento feito pelo Guia Exame de Sustentabilidade, 70% publicam relatórios de sustentabilidade, mas apenas 39% destas estabelecem metas de melhoria de desempenho e prestam contas dos compromissos assumidos no ano anterior, o que vem de encontro com a gestão direcionada para a sustentabilidade, que prevê a estipulação de metas e que seus resultados sejam apresentados com clareza. Mostrou ainda que apenas 18% dos 70% de empresas participantes que possuem comitê de sustentabilidade têm relação formal com a presidência, este é um ponto muito importante na gestão sustentável, onde todos devem estar envolvidos. Felizmente, a maioria dos números revelam aspectos positivos com relação a sustentabilidade das empresas brasileiras (baseados nas empresas participantes da pesquisa), como por exemplo, o aumentoem 15% das empresas que possuem políticas de controle de recursos, e de 10% das que avaliam formalmente a geração de CO2 em suas atividades. Assim como outros exemplos de organizações que já assimilaram a existência de uma dependência de suas atividades pela natureza e que não medem esforços para serem menos impactantes. A pesquisa apresentou pontos positivos para o Brasil, empresas modelo que ao investirem seus esforços em responsabilidade socioambiental vem gerando oportunidades de negócios e mostrando que o desenvolvimento sustentado é um estímulo às organizações. Portanto, com base no material apresentado, o objetivo deste artigo foi atingido ao promover uma reflexão sobre o importante papel das empresas na questão da sustentabilidade, acentuando sua relevância devido à abordagem socioambiental, foco de grande atenção na atualidade, e contribuindo para ampliar o conhecimento sobre práticas a serem adotadas pelas organizações em prol da sinergia econômica, ambiental e social. Referências BACOCCINA,D. Economia verde. Revista Istoé Dinheiro, no 617, p.40-42, agosto 2009. CARNEIRO, F. O grande teste de resistência. Guia Exame Sustentabilidade, no 10, p. 18-24, novembro de 2009. DONAIRE, D. Gestão Ambiental na Empresa. 2ª. ed. São Paulo: Atlas, 1999. FERREIRA, R. G. Uma fábrica limpa por inteiro. Revista Istoé Dinheiro, no 639, p. 58-59, janeiro de 2010. GIL, A. C. Métodos e Técnicas de Pesquisa Social. São Paulo: Atlas, 1999. GRANDO, J. W. Um salto em apenas uma década. Guia Exame Sustentabilidade, no 10, p. 26-33, novembro de 2009. GUIA EXAME DE SUSTE7TABILIDADE: 10 anos. São Paulo: 2009. 134 p. Edição especial. HERZOG, A. L. A vitória do pragmatismo. Guia Exame Sustentabilidade, no 10, p. 36-43, novembro de 2009. LAKATOS, E. M. & MARCONI, M. A. Metodologia Científica. 3ºed., São Paulo: Atlas, 2000. LIMA, J.F.G. & LOPES, R.A. Princípios Éticos e de Responsabilidade Social: caminhos para um Desenvolvimento Sustentável. XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador, Bahia, 2009. MANO, C. A escolha das melhores. Guia Exame Sustentabilidade, no 10, p. 14-16, novembro de 2009. MATTOS, A. O carbono zero da Malwee. Revista Istoé Dinheiro, no 639, p. 66-67, janeiro de 2010. NETO, J. S. C.; SILVA, E. S.; GÓMEZ, C. R. P. A prática da Responsabilidade Socioambiental: fazer, colaborar ou delegar? XXIX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. Salvador, Bahia, 2009. PATEL, H. A inovação sustentável. Revista Amanhã, no 255, p. 42-43, Porto Alegre REVISTA ISTOÉ DI7HEIRO: A revolução do bem. no 639. p. 45, janeiro de 2010. SEIFFERT, M.E.B. ISO 14001 Sistemas de Gestão Ambiental: Implantação Objetiva e Econômica. 3a. ed. São Paulo: Atlas, 2008. TACHIZAWA, T. Gestão Ambiental e Responsabilidade Social Corporativa. 6ª. ed., São Paulo: Atlas, 2009. TACHIZAWA, T.; ANDRADE, R.O.B. Gestão Socioambiental: Estratégias na Nova Era da Sustentabilidade. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. VAZ, T. Pescadores de sonhos. Revista Istoé Dinheiro, no 639, p.46-49, janeiro 2010. ZARPELON, M. I. Gestão e Responsabilidade Social: 7BR 16.001/SA 8.000: implantação e prática. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2006.
Compartilhar