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Responsabilidade Socioambiental

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Responsabilidade Socioambiental: uma tendência competitiva 
 
Cristiane Maria Cutas (UDESC) crnety@hotmail.com 
 Alexandre Borges Fagundes (UDESC) borges_fagundes@sbs.udesc.br 
Caroline Rodrigues Vaz (UTFPR) caroline-vaz@hotmail.com 
 
 
Resumo: 
A globalização das relações comerciais e as novas reivindicações da sociedade evidenciam que 
incluir questões voltadas à sustentabilidade é uma estratégia de negócios bastante viável para a 
diferenciação e permanência no mercado. Esta nova realidade do mundo dos negócios faz com que a 
gestão socioambiental seja gradualmente adotada por empresas no Brasil e no mundo, equilibrando o 
desenvolvimento econômico com o meio ambiente e bem estar social. %este ínterim, este artigo teve 
por objetivo mostrar o importante papel das empresas na questão da sustentabilidade e como estas 
estão reagindo diante da atual crise ambiental, evidenciando que as ações tomadas em prol das 
iniciativas socioambientais trazem como conseqüência, resultados positivos para a organização, para 
a sociedade e para o meio ambiente. O artigo apresenta uma revisão de literatura sobre 
Responsabilidade Socioambiental e a evolução do tema no Brasil, evidencia exemplos de como as 
empresas brasileiras estão desenvolvendo iniciativas em relação a esse conceito e analisa uma 
empresa considerada modelo em Responsabilidade Socioambiental no Brasil, buscando com isso 
contribuir para a ampliação do conhecimento sobre práticas a serem adotadas pelas organizações em 
prol da sinergia econômica, ambiental e social. 
Palavras chave: Responsabilidade Socioambiental, Sustentabilidade, Estratégia de negócios. 
 
Social and Environmental Responsibility: a competitive trend 
 
Abstract 
The globalization of trade and the new demands of society shows that add actions related to 
sustainability is a very viable business strategy to differentiate and stay on the market. This new 
reality of the business world makes the social and environmental management will be gradually 
adopted by companies in Brazil and the world, balancing economic development with environment 
and social welfare. In the meantime, this article aims to show the important role of business in the 
issue of sustainability and how they are reacting to the current environmental crisis, showing that the 
actions taken on behalf of social and environmental initiatives have as a consequence, positive results 
for the organization to society and the environment. The article presents a literature review on 
environmental and social responsibility and the evolution of the theme in Brazil, highlights examples 
of how Brazilian companies are developing initiatives in relation to this concept and examines a 
company considered a model in environmental and social responsibility in Brazil, seeking to 
contribute to enhancing knowledge about practices to be adopted by organizations in support of 
economic, environmental and social synergy. 
Key-words: Social and Environmental Responsibility, Sustainability, Business strategy. 
 
 
1 Introdução 
 Muito além da filantropia, a responsabilidade socioambiental atualmente é vista como 
um compromisso permanente por parte do empresariado, para com o desenvolvimento 
econômico do país, levando em conta o bem estar de seus colaboradores, a sociedade como 
um todo e a escassez dos recursos naturais. Este compromisso é uma resposta das empresas à 
contínua conscientização dos consumidores quanto ao papel destas nas questões sociais e a 
depredação ambiental na produção de seus produtos e serviços. 
De acordo com Seiffert (2008), a partir da segunda metade do século XX, mais 
propriamente com a revolução industrial e o grande crescimento da população, é que vem se 
tornando claro que os recursos naturais são finitos, e que a escassez destes representa uma 
séria ameaça para a sobrevivência humana. Só após esta década, o homem começou a 
concientizar-se de que os problemas ambientais estavam vinculados ao padrão de 
desenvolvimento utilizado, o econômico, que utilizava com abundância os recursos naturais 
não se preocupando com a degradação destes. Após o ano de 1950, o equilíbrio entre 
crescimento econômico e as questões ambientais passou a ser analisado como efeito de uma 
reavaliação dos resultados do desenvolvimento econômico. 
“O corolário das investigações pode ser caracterizado pela constatação de que a 
economia não pode ser vista como um sistema a parte da natureza, pois não existe atividade 
humana sem água, fotossíntese ou ação microbiana no solo” (SEIFFERT, 2008, p.18). 
O modelo de desenvolvimento utilizado atualmente é insustentável, esta realidade é 
um desafio para todos nós, mas para as empresas, a responsabilidade é muito maior, pois se 
trata de uma radical mudança de postura diante da difícil tarefa de garantir o futuro 
econômico da organização e ao mesmo tempo melhorar seu desempenho social e ambiental. 
O aumento da consciência ambiental, as mudanças de hábitos das pessoas, pressões 
por parte de ONGs, consumidores adeptos da causa preservacionista, legislações e outros, 
vem acentuando nas organizações a necessidade de desenvolver sua gestão com foco não 
apenas no crescimento econômico, mas também em ações sociais e ambientais. 
Diante destes fatos, este artigo teve como objetivo mostrar o importante papel das 
empresas na questão da sustentabilidade e como estas estão reagindo diante da atual crise 
ambiental, evidenciando que as ações tomadas em prol das iniciativas socioambientais trazem 
como conseqüência, resultados positivos para a organização, para a sociedade e para o meio 
ambiente. 
2 Metodologia 
O desenvolvimento deste trabalho utilizou como fonte de coleta de dados, livros, 
periódicos, anais de eventos e materiais coletados em sites da internet, relacionados com o 
tema pesquisado, direcionando sua classificação como pesquisa bibliográfica exploratória 
(GIL, 1999; LAKATOS e MARCONI, 2000). 
A princípio foi realizada uma revisão de literatura sobre Responsabilidade 
Socioambiental e a evolução do tema no Brasil. A seguir foram evidenciados exemplos de 
como as empresas brasileiras estão desenvolvendo iniciativas em relação a esse conceito, 
sendo também apresentada uma pesquisa que elegeu a empresa modelo em Responsabilidade 
Socioambiental no Brasil no ano de 2009. Nessa sequência, fechando o encadeamento de todo 
o conteúdo abordado, foram apresentadas as análises e considerações finais do trabalho. 
 
3 Responsabilidade Socioambiental 
“Com o passar do tempo, as organizações vem adquirindo uma mentalidade de 
adequação, em relação ao meio em que estão inseridas, seja social, seja ambiental” 
(ZARPELON, 2006, p.9). Este ajustamento vem ocorrendo por influência de fatores como, 
pressão de clientes, fornecedores, sociedade, legislações, etc. 
 Alguns autores consideram de forma distinta os conceitos de responsabilidade social e 
responsabilidade ambiental, enquanto que outros acreditam que os problemas ambientais 
estão correlacionados com o bem-estar social podendo, portanto, complementar-se e ser 
tratados simultaneamente. 
A responsabilidade social pode e deve ter um papel central no progresso da 
economia global. Mas, por si só, ela não será suficiente para consolidar uma 
nova postura. Daí que o enfrentamento dos desafios da sustentabilidade 
ambiental deve se dar a partir de inovações financeiramente sustentáveis. 
Isto é: inovações significativas não só em produtos e em serviços, mas 
também em processos e modelos de negócios (PATEL, 2009, p.42). 
 Segundo Lima e Lopes (2009), a responsabilidade social se dá quando as 
organizações passam a preocupar-se com o meio ambiente e bem-estar social, direcionando 
suas ações de maneira a causar menos danos a estes, com isto, aumentando suas chances de 
permanência no mercado. Para os autores, as empresas que desenvolvem este tipo de conduta, 
acabam por ganhar um melhoramento de sua imagem perante a sociedade.Para Donaire (1999), a responsabilidade social envolve um sentido de obrigação para 
com a sociedade, uma responsabilidade que compreende a proteção ambiental, projetos 
filantrópicos e educacionais, planejamento da comunidade, igualdade nas oportunidades de 
emprego e outros serviços sociais de acordo com os interesses públicos. O autor explica que a 
responsabilidade social intensificou-se a partir dos anos 60, devido às mudanças de valores da 
sociedade e justifica-se na liberdade que a empresa tem de existir, concedida pela sociedade, 
como se existisse um contrato social entre ambas, a empresa tem liberdade para trabalhar por 
um objetivo e como pagamento, contribui para com a sociedade. 
Donaire (1999), explica ainda que os termos deste “contrato” vêm sofrendo alterações 
significativas, pois as empresas que buscam apenas crescimento econômico acabam 
acarretando danos que representam custos sociais para todos. Assim, diferente do que se 
pensava antigamente, o crescimento econômico não esta ligado ao progresso social, pois em 
vários casos causa, além da devastação física do ambiente, condições insalubres de trabalho, 
discriminação de certos grupos e outros problemas sociais. Assim, existe a adição de novos 
termos a este contrato, que inclui, a redução destes custos sociais e a responsabilidade das 
empresas tanto para o crescimento econômico como para a melhoria das condições sociais. 
Segundo Neto et al. (2009), o tema responsabilidade socioambiental empresarial 
(RSAE), vem recebendo importante atenção nos últimos anos, tanto no âmbito acadêmico, 
como no empresarial e sociedade civil. 
Machado Filho (2006) apud Neto et al. (2009), afirma que mesmo o tema recebendo 
tal importância, ainda não existe um conceito totalmente aceito de responsabilidade 
socioambiental empresarial. Conforme o Business for Social Responsibility, a expressão 
refere-se amplamente a decisões tomadas baseadas em valores éticos que reúnem dimensões 
legais, considerando as pessoas, comunidades e meio ambiente. 
“A responsabilidade socioambiental é uma resposta natural das empresas ao novo 
cliente, o “consumidor verde” e ecologicamente correto” (TACHIZAWA e ANDRADE, 
2008, p.1). 
Tachizawa e Andrade (2008) explicam que as empresas, ao tomarem suas decisões, 
precisam levar em conta que não existe conflito entre o lucro e a questão socioambiental, a 
evolução da sustentabilidade cresce em escala mundial, sendo que os consumidores e 
comunidade valorizam cada vez mais as práticas socioambientais por parte das empresas e, 
com isto, influenciando no faturamento destas. 
Uma ferramenta muito utilizada pelas empresas afim de divulgar sua transparência e 
responsabilidade pública é o balanço social, que pode ser entendido como um instrumento de 
gestão, que apresenta como andam as ações de uma organização com relação a seu 
desempenho econômico, ambiental e social (TACHIZAWA, 2009). 
 
4 A evolução do tema no Brasil 
Ao longo dos últimos 10 anos a responsabilidade socioambiental passou por um 
período de mudanças quase revolucionário. As empresas brasileiras que incluíram a 
sustentabilidade em sua estratégia de negócios passaram por mudanças ao menos em três 
estágios, onde o primeiro foi a época das ações filantrópicas com maior atenção aos 
investimentos sociais, como doações e voluntariados, depois, passou-se a envolver ética e 
transparência no relacionamento com stakeholders e, mais recentemente, as questões 
ambientais estão cada vez mais ligadas a estratégia das empresas. Diversos fatores serviram 
como estímulo as grandes empresas a dar prioridade à sustentabilidade, como a pressão dos 
investidores, ONGs e consumidores, mas o que realmente fez crescer o senso de urgência foi 
a apreensão acerca das mudanças climáticas, do agravamento que o acúmulo de gás carbônico 
causa ao aquecimento da terra e a correlação direta entre as mudanças climáticas e a economia 
global. Tudo isto fez com que as empresas começassem a rever suas estratégias antes que o 
pior pudesse vir a acontecer, as medidas para se atingir a sustentabilidade passaram a ser 
vistas como oportunidades (GRANDO, 2009). 
Uma pesquisa recente da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e do Instituto 
Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope), revela que 68% dos consumidores 
brasileiros estariam dispostos a pagar mais por um produto ecologicamente correto. O que 
indica que o cliente continuará cada vez mais a fazer parte da empresa, progressivamente, e 
seus pedidos indicarão as decisões dos executivos nas empresas. Os programas de rotulagem 
ambiental crescentemente adotados em vários países já estão afetando as exportações de 
produtos no Brasil, e indicam novos padrões de consumo, de realização do comércio e trocas 
econômicas internacionais (TACHIZAWA, 2009). 
O Quadro 1 mostra os avanços da sustentabilidade no Brasil e no mundo na última 
década. 
1999 – lançado o Pacto Global, pelo então secretário geral da ONU, Kofi Annan. 
2000 – começa a repercutir no mundo a idéia de triple bottom line, criada pelo sociólogo inglês John Elkington 
em 1998, com a teoria de que todo negócio deve observar seus impactos ambientais sociais e econômicos. São 
lançadas as metas do milênio com compromissos do desenvolvimento sustentável. 
2001 – empresas brasileiras começam a adotar a certificação ISO 14001, relacionada a prática de gestão 
ambiental. O número de certificadas passa de 5 no primeiro ano para 478 em 2009. 
2002 – três empresas no Brasil aderem ao Global Reporting Initiative (GRI), metodologia para a publicação de 
relatórios de sustentabilidade criada cinco anos antes na Holanda. Uma versão chamada de G3, lançada em 
2006, consolida-se como padrão global. Hoje, 78 empresas adotam a G3 no Brasil e 3500 no mundo. 
2003 – o Carbon Disclosure Project criado por 35 fundos internacionais, faz a primeira consulta a grandes 
empresas para conhecer suas ações sobre mudanças climáticas com o objetivo de realizar investimentos na área. 
Hoje o CDP conta com 2200 empresas, 60 delas no Brasil. O número de investidores chega a 385 (41 no 
Brasil), que controlam 57 trilhões de dólares em investimentos. 
2005 – entra em vigor o protocolo de Kyoto (criado em 1997) com a meta de reduzir em 5% até 2012, as 
emissões de gases de efeito estufa nos países ricos. Teve a adesão de 180 países, cria o mercado de créditos de 
carbono, responsável pela movimentação de 120 bilhões de dólares em 2008. 
2006 – o economista Nicholas Stern (ex-economista chefe do Banco Mundial) publica um relatório sobre 
mudanças climáticas e propõe um corte pela metade das emissões globais de CO2 a um custo anual de 2% do 
PIB mundial para o desenvolvimento de matrizes energéticas limpas. 
2007 – o Guru Michael Porter é premiado por artigo que propõe a integração da sustentabilidade à estratégia 
das empresas, a exemplo da Toyota com o lançamento do carro hibrido em 1997. 
2008 – empresas brasileiras aderem ao Protocolo de Gases de Efeito Estufa (GHG Protocol), programa em 
vigor desde 2001, estabelece uma metodologia para medição de emissões. Após treinamentos, ao longo de um 
ano, 22 companhias nacionais publicam seus inventários. 
2009 – representantes de 192 países reúnem-se em Copenhague, na Dinamarca com o intuito de decidir um 
novo pacto para conter as mudanças climáticas, considerado o maior encontro sobre o tema desde o Protocolo 
de Kyoto. 
Fonte: Adaptado do Guia Exame de Sustentabilidade (2009) 
Quadro 1 – Evolução da Sustentabilidade no Brasil e no mundo na última década 
“Já faz tempo que as boas empresas investem em políticas socioambientais que 
incluem não apenas as suas práticas, mas também as de seus fornecedores” (BACOCCINA, 
2009, P.40). Mas até pouco tempo, as empresas que preocupavam-se em preservar o meio 
ambiente tinham que arcar com preços mais altos que os concorrentes, o que as tornava 
menos competitivas. Hoje os órgãos de financiamentos estão conduzindo seus investimentospara políticas que visam a sustentabilidade e, o que era um custo para as empresas e as 
deixavam em desvantagem diante da concorrência, passou a ser uma condição para conseguir 
auxílio (BACOCCINA, 2009). 
 
4.1 Exemplos de Iniciativas Socioambientais 
As iniciativas socioambientais das empresas brasileiras estão criando um novo 
ambiente social e econômico no país, acarretando em geração de renda, aperfeiçoamento da 
qualificação profissional e consolidando práticas empresariais que visam conciliar as 
atividades industriais e o meio ambiente (REVISTA ISTOÉ DINHEIRO, 2010). 
Nesse contexto, serão apresentados a seguir, alguns exemplos dessas iniciativas: 
Projeto Pescar: programa criado há mais de trinta anos, tornou-se referência no Brasil 
e no mundo, considerado um dos projetos sociais mais bem sucedidos do país, oferece cursos 
profissionalizantes para jovens carentes, como, hotelaria, mecânica, informática, turismo e 
agronegócio; já beneficiou 14 mil pessoas. A idéia do projeto surgiu em 1976, quando um 
empresário, fundador de uma revendedora de máquinas e equipamentos rodoviários, resolveu 
selecionar uma turma de 15 jovens de baixa renda e treinar os interessados em aulas de 
mecânica geral automotiva, ou seja, ao invés de dar aos jovens o peixe, resolveu ensiná-los a 
pescar. A primeira unidade do programa foi montada dentro de sua própria empresa, com uma 
sala para aulas teóricas e outra para as práticas. Os alunos que se mostraram dispostos a 
continuar na empresa, foram contratados. O empresário morreu em 1998, mas o projeto 
perdurou, pois chamou a atenção de outras empresas, que passaram a seguir os métodos 
criados. Hoje, as 111 empresas que adotaram o programa, conhecidas como franqueadas, 
mantém suas próprias unidades de treinamento em áreas relacionadas a seus segmentos, 
atualmente o projeto oferece 35 cursos. Apenas no ano de 2009, o projeto Pescar formou 
2000 pessoas em cursos de diferentes áreas. Os cursos duram cerca de dez meses e são 
ministrados em unidades distribuídas em vários estados do Brasil. Para ministrar os cursos, 
uma companhia gasta em torno de R$ 60 mil por ano, utilizado para pagar instalações, 
material didático, uniforme para os alunos, alimentação e transporte, este investimento pode 
ser reduzido por meio de parcerias. Um levantamento realizado pela Pescar revela que 70% 
dos alunos que freqüentam seus cursos, seguem uma carreira profissional e, de acordo com o 
último levantamento da fundação, 8% dos alunos tornaram-se empresários. Após quase três 
décadas, o projeto passou em 1995 a ser administrado pela Fundação Projeto Pescar, uma 
ONG mantida por empresas, o que permitiu a expansão do programa por todo o Brasil, 
atraindo companhias de diversos setores. Os programas desenvolvidos no projeto, além de 
reconhecidos internacionalmente, serviram de exemplo lá fora, hoje, existem oito unidades do 
Pescar na Argentina e uma no Paraguai, que recebem apoio e suas ações são acompanhadas 
de perto pelo gerente do projeto, para garantir que as diretrizes sejam mantidas. O projeto já 
recebeu várias premiações em todos estes anos dedicados a capacitação dos jovens carentes 
para o mercado de trabalho, porém, a principal delas foi concedida pela ONU, Organização 
das Nações Unidas, que indicou o programa como um dos mais importantes do mundo na área 
da educação (VAZ, 2010). 
Malwee malhas: uma das maiores fabricantes de roupas do país, com sede em Jaraguá 
do Sul (SC), vem investindo pesado em projetos de sustentabilidade, foi a primeira empresa 
do ramo a desenvolver um programa de neutralização de emissões de carbono. O projeto 
aconteceu no primeiro semestre de 2007 e contou com o apoio de consultores externos. Criou 
um modelo de inventário de emissões de gases de efeito estufa que compreende todas as 
unidades fabris da empresa. Técnicos realizaram levantamentos das unidades de Santa 
Catarina e Bahia e das operações de distribuição da empresa. Na neutralização das emissões, 
foram consideradas as reservas do grupo, como o Pico da Malwee com cerca de 2,3 milhões 
de m2 e o Parque Malwee com 1,5 milhão de m2 criado em 1978, o parque preserva cerca de 
35 mil árvores, 17 lagos e mais de 15 quilômetros de estrada integradas ao meio ambiente e é 
uma das principais áreas verdes do município. Alguns dos projetos em operação na empresa já 
existem a quase uma década, como a utilização de gás natural, que atinge 100% das fábricas. 
No final de 2001 a empresa trocou equipamentos que exigiam maiores consumo de insumos, 
por outros, que reduziram em torno de 40% a demanda por água, energia e produtos químicos, 
reformulando todo o processo produtivo na área de tinturaria. Atualmente, cerca de 45% de 
toda água utilizada na unidade é tratada e pode ser reutilizada, deixando de captar 200 
milhões de litros de água por ano do rio Jaraguá, a empresa ainda estuda novos processos para 
aumentar o percentual de recuperação de água, utilizando novas tecnologias de filtração por 
meio de unidades piloto instaladas na empresa (MATTOS, 2010). 
Masisa: líder brasileira na produção de painéis de madeira (subsidiária do Grupo 
Nueva) construiu em Montenegro (RS) sua terceira unidade industrial no Brasil, com a 
aspiração de tornar-se referência global do setor em sustentabilidade. O projeto, orçado em 
US$ 1,2 bilhão teve todos os detalhes planejados para gerar o mínimo de impacto ambiental e 
social. A planta será praticamente auto-suficiente em água e energia, onde, o suprimento de 
água para o setor industrial e sanitários será garantido com o armazenamento de água da 
chuva e uma lagoa de 170 mil m3, a água utilizada na produção também será reciclada e, 
99,9% da energia será gerada pela queima de biomassa. A empresa não irá despejar na 
atmosfera, poluentes sólidos ou calor, provenientes de seu processo industrial, os elementos 
poluidores serão neutralizados com o auxílio de um secador de partículas importado da 
Alemanha, com capacidade de processar 65 toneladas de partículas por hora. Esta inovação 
representa um alto investimento para a empresa, só em equipamentos foram gastos, US$ 17 
milhões. Mesmo não conseguindo repassar este custo aos painéis, a companhia tem a 
expectativa de recuperar os gastos adicionais por meio da redução das contas com o consumo 
de água e energia e ganhos na eficiência operacional, que representam uma economia anual de 
R$ 8,3 milhões. Com a opção pelo modelo de negócio a companhia está visando sua 
perpetuação. Além dos cuidados ambientais e técnicos, a direção buscou ganhar a confiança 
da comunidade, assumiu o compromisso com a geração de emprego, e aquisição do maior 
numero possível de insumos da região, 70% dos colaboradores foram recrutados na 
comunidade. A companhia pretende oferecer cursos técnicos, e integrar agricultores do 
município em sua carteira de fornecedores (FERREIRA, 2010). 
 
5 Empresas modelo em Responsabilidade Socioambiental no Brasil 
O empresariado brasileiro mostra-se cada vez mais integrado à nova realidade do 
mundo dos negócios, adotando gradualmente a responsabilidade socioambiental como 
estratégia de negócios, buscando conciliar o desenvolvimento econômico com a minimização 
dos problemas ambientais e o bem-estar social. 
 Este fato pode ser comprovado pela participação de 210 empresas numa pesquisa, cuja 
finalidade foi selecionar as que destacaram-se em sustentabilidade empresarial no Brasil, no 
ano de 2009. A escolha das empresas seguiu a metodologia elaborada pelo Centro de Estudos 
em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo, que é responsável também 
pelo Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE) da Bovespa e considera as principais 
referências de indicadores de sustentabilidade empresarial no Brasil e no mundo. As empresas 
inscritas, responderam a um questionário com questões abrangendo: compromissos, 
transparência, conduta, governança corporativa, aspectos sociais,ambientais e econômicos, 
que são analisados e aprovados por um conselho que também escolhe, entre as empresas 
selecionadas, a empresa considerada a “empresa sustentável do ano” (MANO, 2009). 
 Entre as 210 empresas participantes da pesquisa, foram divulgadas as 20 consideradas 
modelo em responsabilidade social corporativa no Brasil; estas estão indicadas no Quadro 2. 
Walmart Anglo American Coelse Itaú Unibanco Promon 
AES Brasil Bradesco CPFL Masisa Serasa Experiam 
Alcoa BRF EDP Natura Suzano 
Amanco Bunge Alimentos Fibria Philips Tetra Pak 
Fonte: Adaptado do Guia Exame de Sustentabilidade (2009) 
Quadro 2 – As 20 melhores empresas em responsabilidade social corporativa no Brasil 
Entre as 20 empresas selecionadas, a Walmart foi escolhida a empresa sustentável do 
ano, pela rapidez com que tem promovido as mudanças e pela efetividade de suas ações em 
busca da sustentabilidade (MANO, 2009). 
A Walmart é a terceira maior rede de supermercados do país, nela ocorre a maior 
revolução verde do planeta, a empresa era uma das mais criticadas e combatidas por suas 
práticas: ignorava o processo de fabricação dos produtos que comercializava e, para manter 
seus preços baixos, estreitava a margem de seus fornecedores que viam-se obrigados a 
trabalhar no limite, adotando práticas trabalhistas reprováveis. Além disto, os varejistas da 
rede eram acusados da discriminação de mulheres e minorias, de comprar artigos produzidos 
por mão-de-obra semi-escrava e da destruição dos pequenos negócios locais (TACHIZAWA, 
ANDRADE, 2008). 
Hoje a empresa conta com várias iniciativas sustentáveis, mudanças drásticas 
começaram a acontecer em 2005, quando o presidente mundial da rede na época declarou 
publicamente sua grande aflição com relação ao futuro do planeta e decidiu que a maior 
varejista do mundo começaria a mudar. As várias ações que a empresa desenvolve atualmente 
abrangem o desenvolvimento de pequenos fornecedores, o programa de desconto para reduzir 
em 50% (até 2013), o uso de sacolas plásticas, o apoio social (7,5 milhões de reais para apoiar 
projetos nas áreas de desenvolvimento local, cultura, cidadania, geração de renda e 
profissionalização de jovens), a destinação correta para o lixo, a construção de lojas verdes, a 
conscientização dos colaboradores, o incentivo aos produtos verdes, investimentos em 
programas para a preservação da Amazônia, oferecimento de serviços à população e, em julho 
de 2009, a rede reuniu mais de 300 fornecedores em São Paulo para firmarem um pacto pela 
sustentabilidade, assim eles terão prazos para cumprir uma série de compromissos (HERZOG, 
2009). 
De acordo com Carneiro (2009), além de exaltar as ações da empresa eleita modelo em 
Responsabilidade Socioambiental no Brasil, a pesquisa revelou números bastante relevantes: 
- Das 142 empresas que responderam todo o questionário, 78% possuem critérios ambientais 
para todas as etapas do processo produtivo, enquanto que na pesquisa do ano anterior, 63% 
das inscritas declararam possuir estes critérios; 
- 84% das empresas possuem políticas de controle de recursos como água e energia; 
- 49% das empresas participantes avaliam formalmente a emissão de CO2 gerada em suas 
atividades, enquanto que no ano anterior, apenas 39% tinham a mesma preocupação; 
- 70% têm comitê de sustentabilidade; 
- 70% divulgam relatório de sustentabilidade; 
- 79% responderam sim quando questionadas, se há um sistema de gestão de riscos que 
considere aspectos socioambientais de curto, médio e longo prazo. 
- 44% das empresas vinculam a política de remuneração de todos os seus executivos a metas e 
em dimensões ambientais e 43% em dimensões sociais; 
- 91% das empresas participantes possuem uma política corporativa de responsabilidade 
social. 
- 77% utilizam critérios sociais para qualificação, seleção e monitoramento de seus 
fornecedores de bens e serviços; 
- apenas 39% das empresas (das 70% que publicam relatório de sustentabilidade) estabelecem 
metas de melhorias de desempenho e prestam contas de compromissos assumidos no ano 
anterior; 
- só 18% (das 70% que possuem comitê de sustentabilidade) tem relação formal com a 
presidência. 
 
6 Análises e considerações finais 
A cada dia mais, os produtos verdes ganham espaço nas empresas de diferentes 
segmentos, impulsionadas pela maior exigência dos consumidores, que cobram das 
organizações uma posição mais enérgica frente aos problemas ambientais e suas 
conseqüências à sociedade. 
O consumo de recursos ambientais e a geração de resíduos (considerando desde a 
extração de matérias-primas da natureza, a fabricação de produtos, até o descarte pelo 
consumidor final) torna as indústrias, de um modo geral, agentes catalizadores de impactos 
negativos, vistos pela sociedade. 
Assim como os danos, as preocupações vem aumentando gradualmente a partir do 
último século e, com isto, a busca por alternativas eficazes para evitar o caos ambiental vem 
tornando-se mais freqüente. Como esta tendência não parece ser algo passageiro, muitas 
empresas estão investindo tempo e dinheiro na tentativa de permanecer no mercado, e a 
alternativa mais viável no cenário atual é a adoção de práticas voltadas á responsabilidade 
socioambiental e, consequentemente, à sustentabilidade. 
Considerando que o lucro sempre será a base para a continuidade de qualquer 
organização, o que se propõe com o desenvolvimento sustentável é a busca do equilíbrio entre 
o desenvolvimento econômico e a preservação ambiental, como visto nos exemplos citados 
nesta pesquisa, isto é possível, com alguns investimentos e uma grande mudança de postura 
por parte de empresas, consumidores, fornecedores, enfim, por todos os envolvidos no 
processo, pode-se alcançar a tão almejada sustentabilidade econômica, social e ambiental. 
Portanto, responsabilidade socioambiental propicia benefícios à sociedade, à natureza 
e às empresas que a praticam, pois estas, ao praticar ações socioambientais estão 
concomitantemente fazendo marketing positivo de seus negócios, melhorando a imagem da 
organização perante a sociedade, o que resultará em mais consumidores e investidores 
atraídos por esta boa imagem, tornando-se assim mais competitivas no mercado globalizado. 
Através desta pesquisa, pode-se prever que este novo modelo de gestão indique o 
perfil da economia dos próximos tempos. Deste modo, fica claro que as empresas que estão 
tendo a visão de que os desafios ambientais e sociais podem ser usados como um diferencial 
diante de seus concorrentes, estarão aptas a permanecer no mercado. Isto já vem sendo 
observado por empresas no Brasil e no mundo. Empresas que, como já descrito, vem fazendo 
do exercício da responsabilidade socioambiental, uma nova oportunidade de negócios e 
simultaneamente contribuindo para uma sociedade melhor. 
Os números apresentados nesta pesquisa revelam que as empresas brasileiras estão 
cada vez mais integrando a questão socioambiental em suas estratégias de negócios e que o 
conceito de sustentabilidade vem evoluindo bastante desde seus primeiros passos no Brasil. 
Das 142 empresas participantes do levantamento feito pelo Guia Exame de 
Sustentabilidade, 70% publicam relatórios de sustentabilidade, mas apenas 39% destas 
estabelecem metas de melhoria de desempenho e prestam contas dos compromissos 
assumidos no ano anterior, o que vem de encontro com a gestão direcionada para a 
sustentabilidade, que prevê a estipulação de metas e que seus resultados sejam apresentados 
com clareza. Mostrou ainda que apenas 18% dos 70% de empresas participantes que possuem 
comitê de sustentabilidade têm relação formal com a presidência, este é um ponto muito 
importante na gestão sustentável, onde todos devem estar envolvidos. 
Felizmente, a maioria dos números revelam aspectos positivos com relação a 
sustentabilidade das empresas brasileiras (baseados nas empresas participantes da pesquisa), 
como por exemplo, o aumentoem 15% das empresas que possuem políticas de controle de 
recursos, e de 10% das que avaliam formalmente a geração de CO2 em suas atividades. Assim 
como outros exemplos de organizações que já assimilaram a existência de uma dependência 
de suas atividades pela natureza e que não medem esforços para serem menos impactantes. 
A pesquisa apresentou pontos positivos para o Brasil, empresas modelo que ao 
investirem seus esforços em responsabilidade socioambiental vem gerando oportunidades de 
negócios e mostrando que o desenvolvimento sustentado é um estímulo às organizações. 
Portanto, com base no material apresentado, o objetivo deste artigo foi atingido ao 
promover uma reflexão sobre o importante papel das empresas na questão da sustentabilidade, 
acentuando sua relevância devido à abordagem socioambiental, foco de grande atenção na 
atualidade, e contribuindo para ampliar o conhecimento sobre práticas a serem adotadas pelas 
organizações em prol da sinergia econômica, ambiental e social. 
 
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