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Psicopatologia Evolucionista.doc

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Cap. 14 (� PAGE �19�
Gaulin, Steven. J. & McBurney, Donald H. 2001. Psychology: an evolutionary approach. Upper Sadle River: Prentice Hall.. Cap. 14. (pp. 297 – 313). Trad. Dwain P. Santee, Ph.D.
Psicopatologia Evolucionista.
Os humanos tem tentado por anos entender o porque as pessoas ouvem vozes que não existem, se convencem de que seus familiares estão tentando envenená-los ou porque constantemente lavam sujeira imaginária das mãos. Ao longo dos anos as explicações tem variado desde possessão demoníaca até desequilíbrio químico no cérebro. Hoje há uma ampla concordância de que o comportamento anormal tem base biológica. Com resultado disso uma das abordagens mais proeminentes para o comportamento anormal é chamado de modelo médico, que o considera como uma doença qualquer. Mas, o conceito de doença está longe de ser simples ou óbvio. Mais importante, para nosso propósito, a rotulação de um problema como sendo uma doença presume alguns conhecimentos sobre suas causas e seu tratamento – uma teoria. Mas isso é precisamente o que está faltando no caso do comportamento anormal. O estado atual confuso sobre nossa compreensão do comportamento anormal é bem ilustrado pelo como os psicólogos classificam os distúrbios do comportamento.
	A classificação mais influente dos distúrbios do comportamento é o DSM-IV (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, Quarta edição) (American Psychiatric Association, 1994). O aspecto mais significativo do DSM do ponto de vista evolucionista é que ela explicitamente adota uma abordagem não teórica para a classificação dos distúrbios. A razão para isso é simples, não existe acordo entre os psiquiatras e psicólogos sobre as causas de muitos distúrbios e nem muito mais sobre o como tratá-las. Versões anteriores da DSM eram fortemente influenciadas pela teoria freudiana, que atualmente está em declínio. Mas isso ainda deixa várias abordagens teóricas conflitantes. Resumindo, existe uma discordância completa sobre como entender os problemas mentais (veja por exemplo, Wakefield 1992).
	Um dos principais usos do sistema de classificação DSM é prático: ele fornece uma base para as companhias de seguros decidir se reembolsam ou não o custo do tratamento de um determinado problema. Não devemos esperar muita coerência teórica nesse sistema, sem mencionar uma abordagem evolucionista. A ausência da perspectiva evolucionista permite que os idealizadores da DSM listem “distúrbio da abstinência da nicotina” e “distúrbio da ansiedade induzido pela cafeína” no manual. Novas possibilidades que estão sendo consideradas para a nova edição incluem “distúrbio da ira na auto estrada” e “distúrbio de convocação para juri” (Sharkey 1997), categorias com história evolucionista dúbia.
Uma perspectiva evolucionista sobre as causas da doença mental.
	A teoria evolucionista, no entanto, sugere uma variedade de explicações diferentes para os distúrbios psicológicos. Aqui nós enumeramos seis causas (Nesse e Williams 1994) que poderiam produzir o comportamento anormal. Para cada causa mencionamos um distúrbio comportamental que pode ser explicado por ela. Na sessão que segue (um apanhado sobre os distúrbios mentais) discutiremos cada um dos distúrbios mencionados em maiores detalhes.
Possíveis causas evolutivas dos distúrbios comportamentais.
1. Alguns podem não ser distúrbios mas defesas, análogas à febre ou à tosse. Alguns casos de depressão não clínica podem nos dar exemplos desse tipo de defesa psicológica.
2. Alguns são efeitos colaterais de genes com benefícios para a aptidão, análogos à anemia falsiforme. Esquizofrenia e distúrbios bipolares são possíveis exemplos.
3. Outros podem resultar da seleção dependente da freqüência. Uma das teorias atuais explica a sociopatia dessa forma.
4. Alguns distúrbios podem refletir a ausência ou o mal funcionamento de um módulo em particular, análogo a um defeito na visão a cores. Alguns pesquisadores acreditam que o autismo infantil resulta de um defeito em um ou mais módulos.
5. Como foi discutido em capítulos anteriores, alguns distúrbios resultam de um descompasso entre o ambiente atual e o que prevaleceu ao longo da maioria da história evolutiva humana. Como enfatizamos ao longo desse livro, nossa psicologia está adaptada às condições na idade da pedra. Enquanto as condições atuais diferem daquelas, devemos esperar problemas. A síndrome de estresse pós-traumático, e certos distúrbios da ansiedade caem nessa categoria.
6. Alguns distúrbios representam os extremos da distribuição dos traços poligênicos. Como foi discutido no capítulo 3, a população sempre incluirá variações no valor ótimo de qualquer traço que é afetado por genes em vários locos. O extremo dessa distribuição representaria níveis exagerados ou reduzidos de comportamentos normais e não seriam ótimos, por definição. A depressão clínica seria um desses casos.
	Antes de prosseguirmos com uma análise evolutiva dos distúrbios comportamentais devemos afirmar que alguns distúrbios podem refletir mais de uma causa. Devemos nos dar conta de que um distúrbio pode ter mais de um fator causador. Uma pessoa que fuma, come muita gordura polissaturada, não se exercita e tem uma história de doenças cardíacas na família, tem mais riscos de ter um ataque do coração. Não tentaríamos decidir quais desses fatores realmente foi responsável por um ataque que a pessoa eventualmente tenha. Ao contrário, diríamos que o ataque teve muitos fatores de risco contribuintes, ou muitas causas possíveis. Veremos abaixo que várias causas diferentes podem contribuir para alguns distúrbios, como a depressão.
Um levantamento dos distúrbios mentais
	Os distúrbios que discutiremos abaixo refletem várias causas diferentes listadas acima:
Distúrbio de Estresse Pós-traumático
	A guerra do Vietnã nos tornou familiares com o conceito de Distúrbio do Estresse Pós-traumático. Cerca de 15 % dos veteranos dos Estados Unidos sofreram de isolamento social, amortecimento emocional, dificuldade de dormir e “flashbacks” (lembranças). O DSM-VI reconhece o DEPT como uma reação a “eventos tão poderosos que podem ameaçar a vida ou o bem estar, seriamente afetar ou superar as habilidades de lidar com os problemas, e desafiar a forma com que as pessoas pensam sobre o mundo e como ele funciona”. (Baum et al. 1996, p. 92). É instrutivo notar que o termo DEPT é o mais recente utilizado para descrever esse distúrbio. Durante a segunda guerra esse mesmo distúrbio foi descrito pelo termo “shell shock” (choque frente a bombas), porque muitos médicos acreditavam que era uma resposta à concussão física causada pela explosão da artilharia. Antes disso, antes da revolução industrial, o termo “espinhaço de ferrovia” era usado para descrever uma condição exibida pelos trabalhadores que sobreviviam a terríveis acidentes ferroviários. Esse termo vinha da crença de que esse trauma vinha da torção dada à espinha. Eventualmente os cientistas se convenceram de que a DEPT, como quer que seja chamado, é um problema de saúde mental e não primariamente um problema fisiológico (devemos ter o cuidado de observar que NÃO estamos dizendo que está tudo dentro da cabeça. O estresse tem conseqüências lógicas reais, mas danos mecânicos ao sistema nervoso não é um deles).
	A coisa importante sobre o DEPT, do nosso ponto de vista, é que se esperaria que ele fosse primeiramente uma doença do mundo moderno. Coisas como tornados, ciclone e vulcões geralmente produzem DEPT em menos de 10 % das pessoas que vivenciam isso. Em contraste, acidentes aéreos, inundações causadas por barragens rompidas, acidentes de automóvel provocam DEPT em 20 a 50 % dos sobreviventes (Baum et al. 1996). Você notará que a primeira categoria contém desastres naturais e a segunda contém desastres de engenharia. Parece que a sociedade moderna é capaz de organizar desastres de proporções não conhecidas pelos nossos ancestrais. A guerra na idade da pedra já era ruim, mas não se compara a devastação provocada pelo armamentomoderno.
	Vemos então que a DEPT pode ser encarada como uma suscetibilidade ao estresse que supera nossas defesas normais contra as ameaças. A freqüência com que ocorre atualmente reflete um descompasso entre nossas defesas evoluídas e o ambiente moderno.
Depressão.
	A depressão tem sido chamada de gripe dos distúrbios psicológicos porque a maioria das pessoas experimentam isso em algum ponto da vida. É caracterizada por um baixo nível de energia, sentimento de menos valia, tristeza, incapacidade de concentração e planejamento para o futuro. A distinção entre uma depressão clínica e uma tristeza normal é baseada na duração e severidade dos sintomas. Todos ficamos de baixo astral de vez em quando, mas nem todos ficamos clinicamente deprimidos.
	Existem várias idéias evolutivas alternativas sobre a depressão. Randy Nesse (1991) sugeriu que a depressão é a forma com que a natureza nos diz que estamos subindo na árvore errada. Ela faz com que paremos de gastar energia com atividades que pouco provavelmente contribuirão para nossa aptidão ou que envolvem riscos desnecessários. Se perdemos uma competição com um rival por algum recurso, a depressão pode evitar que gastamos energia em uma competição fútil e arriscar perder ainda mais (Sloman & Price 1987). Sloman e Price sugerem que não é mera coincidência que o perdedor de uma competição abaixa sua cabeça e evita o contato visual, comportamentos típicos da depressão.
	Uma perspectiva evolutiva sugere que as pessoas que estavam tristes ou moderadamente deprimidas quando uma ação tinha probabilidade de ser mal sucedida, provavelmente reproduziram mais do que as que não experimentavam esse tipo de sentimento. Para ser efetivo dessa maneira a depressão teria que ser adequadamente calibrada. Ela deveria ser disparada por infortuitos de tamanho apropriado; é adequado você ficar deprimido se seu filho morrer ou se seu esposo se separar de você, mas não se você recebeu uma multa de estacionamento. Se imaginarmos que cada um de nós tem um limiar de depressão influenciado poligenicamente, então logicamente muitas pessoas estão próximas ao ótimo, adequadamente experienciando a depressão, quando “dar um tempinho” é bom. Mas também, haverão algumas pessoas com limiares muito elevados que não ficam tristes e nem deprimidos mesmo quando tudo indica que estão no caminho errado. Da mesma forma essa visão sugere que haverão pessoas com limiares muito baixos que experienciam depressões prolongadas por pouca coisa. Esses últimos seriam os clinicamente deprimidos. Pelo que sabemos, não temos nenhuma evidência de que o primeiro tipo de caso ainda não foi procurada.
	Alguns dos marcos da depressão parecem ser apropriados para sua função. Por exemplo, pessoas deprimidas tem uma opinião inferior de si mesmas e de suas possibilidades de sucesso. Surpreendentemente sua auto-avaliação é mais precisa do que a dos não deprimidos (Taylor 1989)! Como discutimos no capítulo 12, a maioria das pessoas tem uma opinião sobre si mesmas maior do que merecem. Nós sugerimos que essa auto-imagem inflada nos ajuda a permanecer otimistas e eficientes na competição pelos recursos. Mas, existem tempos quando é melhor eliminar as perdas. A depressão arranca os óculos com lentes cor-de-rosa através dos quais vemos o mundo. Isso nos ajuda a nos dar conta de que provavelmente é irreal tentar namorar a pessoa mais bonita que conhecemos ou de competir por uma posição mais alta na nossa empresa.
	Uma abordagem evolucionista sugere alguns “insights” adicionais para o quebra-cabeças da depressão. A depressão é muito mais comum no inverno, tanto que tem recebido o nome especial de Distúrbio Afetivo Sazonal (DAS). Talvez, nos climas temperados, os DAS fizeram com que nossos ancestrais evitassem gastar as preciosas reservas energéticas com atividades com pouca probabilidade de dar frutos no inverno, quando o alimento é escasso e andar por aí especialmente caro em termos metabólicos (Pomerleau 1997).
	A diferença sexual na incidência de depressão – as mulheres tem duas vezes mais chances do que os homens de se sentirem deprimidas – também pode ter suas raízes na evolução. Cynthia Pomerleau (1997) sugere que como as mulheres são fisicamente mais fracas do que os homens, tinham mais o que perder ao ingressarem numa competição em que poderiam se ferir. Nessa linha de raciocínio ela sugere que, se a depressão é uma adaptação que nos retira de uma situação onde temos mais a perder do que ganhar, a depressão pode mais facilmente ser disparada nas mulheres. Uma variedade de outras idéias também podem ser oferecidas. Talvez s mulheres experienciem mais depressão porque suas opções e possibilidades de ação são limitadas pelo fato de que freqüentemente são os homens que fazem as regras. Alternativamente, o papel moderno das mulheres pode ser ainda mais fora de sincronia com a evolução da sua psicologia do que para os homens. Por exemplo, mulheres que trabalham fora de casa freqüentemente se preocupam de que estão negligenciando seu papel parental; a as mulheres que não trabalham fora de casa podem sofrer de isolamento social quando comparadas às mulheres nas sociedades de coletores e caçadores que engajam em atividades mais comunais. Essas sugestões são especulativas até agora. No entanto, elas apontam para a possibilidade de pesquisas produtivas. Por exemplo, algumas (mas nem todas) as hipóteses prevêem que as interações das mulheres com os homens tem mais probabilidade de disparar a depressão do que suas interações com outras mulheres.
	Porque a depressão é tão comum e aumentando? O desequilíbrio entre o ambiente evolutivo primitivo e a vida contemporânea é vasto, particularmente no que se refere às oportunidades para freqüentes e pequenos sucessos, como uma viagem de forrageio ou uma caça, e a oportunidade de compartilhar esse sucesso com os amigos e parentes, e ser louvado por isso. Nós não evoluímos para viver em sociedades tão grandes onde, por definição, uma pequena proporção de pessoas está visível no topo da hierarquia de poder. Grupos grandes também contém uma proporção menor de parentes e aliados com os quais podemos contar para ajuda. Nós não evoluímos para ir para a escola por doze anos ou mais antes de estarmos prontos para o trabalho produtivo. Nós não evoluímos para trabalhar numa única e repetitiva tarefa por quarenta horas por semana por quarenta anos. Na forma de estrelas de cinema e de atletismo a mídia de massa cria pseudo-vizinhos lindos e altamente competentes (dentro de uma caixa) e nos leva a nos compararmos com esses ideais. Qualquer pessoa que tirou sua idéia de como a vida é no Brasil médio é através de um programa de televisão acreditaria que a pessoa média é muito mais atraente e rica do que é na verdade. Eles suporiam que a vida não é só uma praia, mas uma praia lotada de gente rica e bonita, todos permanentemente de férias.
	O´guinn e Shrum (1997) perguntaram às pessoas quanto elas assistem de televisão e também para estimar quantos americanos possuíam automóveis conversíveis, telefones celulares, banheiras quentes, que bebiam vinho no jantar, viajavam para o exterior e coisas assim. Quanto mais televisão as pessoas assistiam maior a estimativa que essas pessoas faziam dos bens que os outros possuíam. No capítulo 16 consideraremos como essas comparações explícitas que fazemos com pessoas no cinema ou das revistas pode influenciar nossa avaliação dos nossos parceiros.
	Uma idéia diferente e intrigante sobre a função evolutiva da depressão foi recentemente oferecida por Edward Hagen (1999). Hagen tem enfocado principalmente a depressão pós-parto, uma forma de depressão que afeta uma proporção significativa de novas mães. Sua sugestão inovadora é que a depressão serve como ferramenta de negociação para se extrair mais investimentos dos outros. Isso é uma proposta plausível dado os limiares reprodutivos sinalizados pelo nascimento de um bebê. Criar uma criança até a vida adulta é um enorme ganho para o placar evolutivo, mas fazer isso é muito custoso etalvez tenhamos que negociar níveis mais altos de cooperação para sermos mais bem sucedidos.
Eu argumento que a DPP (depressão pós-parto) pode ser uma estratégia para negociar um maior investimento por parte do pai e dos parentes, ou de reduzir os custos para a mãe, funcionando como uma espécie de greve. Numa greve os trabalhadores retém seu próprio trabalho para forçar a gerência a aumentar seus salários ou benefícios, ou reduzir a jornada. De forma semelhante as mães com DPP podem estar retendo seu investimento no novo filho ou, em casos de depressão muito severa, colocando em risco sua habilidade de investir em futuros filhos por não estarem cuidando de si mesmas. Isso pode forçar o pai e os parentes a aumentarem seu investimento (Hagen 1999, pp. 346 – 347).
	Hagen sugere que essa estratégia de renegociação também pode estar atuando em outros casos de depressão pós-parto.
Suicídio. A depressão não só causa muito sofrimento mas também às vezes leva ao suicídio. O suicídio é a oitava causa de morte nos Estados Unidos, sendo responsável por 1.4 porcento das mortes (Clark & Fawcett 1992). Os índices de suicídio aumentam com a idade, sendo cerca de 50 porcento maiores entre pessoas de mais idade do que entre pessoas mais jovens. A seriedade do impacto do suicídio pode ser vislumbrado pelo sofrimento que leva a pessoa a tirar a própria vida e a dor que isso causa para a família que ficou.
	Conforme o modelo de depressão apresentado acima, a maioria dos suicídios provavelmente ocorre em pessoas que tem um limiar de depressão muito baixo, e assim se encontram deprimidos a maior parte do tempo. Mas alguns suicídios podem ter um significado adaptativo. À primeira vista o suicídio parece contradizer os princípios da Psicologia Evolucionista porque tirar a própria vida põe um fim nos prospectos reprodutivos. Mas, se nos recordamos da teoria da seleção de parentesco temos o início de uma compreensão evolutiva do suicídio. Lembre-se que podemos aumentar a freqüência dos nossos genes aumentando os esforços reprodutivos dos nossos parentes próximos, especialmente nossos irmãos e filhos. É possível que nossa morte pode aumentar o sucesso dos nossos genes? Atos heróicos que salvam nossos parentes próximos ao custo de nossas vidas mantém nossos genes, mas isso não é considerado suicídio.
	Consideremos a possibilidade de que a morte poderia aumentar a representação genética da pessoa nas gerações futuras se os recursos gastos por ela poderiam ser melhor utilizados em parentes próximos. À medida que nos tornamos mais velhos nosso valor reprodutivo diminui. Podemos responder a essa diminuição deslocando nossos esforços da produção de filhos próprios para a ajuda na produção de filhos pelos nossos parentes. Em algum ponto, no entanto, uma pessoa mais velha se torna um “ralo” de recursos, ao invés de um produtor de recursos – mais uma boca a ser alimentada. Refletindo esse fato está o desejo comum entre os idosos de “não se tornar um estorvo para os filhos”. Como sugerem Sloman e Price (1987), se a depressão é uma reação à perda dos recursos necessários para a reprodução então não é surpresa que a depressão é um fator de risco para o suicídio. De um ponto de vista evolutivo preveríamos que a razão de suicídio deveria aumentar à medida que a capacidade da pessoa de promover seus próprios interesses genéticos diminui: isso combina com o fato da razão de suicídios aumentar com a idade.
	Denys de Catanzaro (1995) testou essa hipótese examinando fatores que se correlacionam com a idéia de suicídio (pensamentos). Ele estudou homens e mulheres de diferentes grupos de idade da população em geral que respondiam a um questionário enviado pelo correio. Além disso ele estudou vários outros grupos, incluindo residentes de um asilo para idosos, pacientes mentais, pessoas institucionalizadas por comportamentos anti-sociais e homossexuais masculinos e femininos.
	De Catanzaro descobriu que um grande número de fatores previa as idéias de suicídio. Resumiremos alguns dos mais importante. A percepção de ser um estorvo para a família era um grande fator para ambos os sexos e todas as idades, como previa a hipótese. Além disso, a falta de sucesso no sexo foi um grande previsor entre homens jovens; solidão, pouca saúde e problemas financeiros eram importantes para homens mais velhos. A solidão foi um grande fator para todas as mulheres; a saúde e as finanças se tornaram importantes para as fêmeas mais velhas. A grande importância do sexo na previsão das idéias de suicídio entre os homens é previsível devido à sua maior variabilidade em termos de sucesso reprodutivo. Os homens estão mais em risco de morrerem sem terem filhos do que as mulheres. No mínimo, os resultados de de Catanzaro nos fornecem uma idéia de que alguns suicídios ocorrem por causa de um senso de sobrecarga sobre os parentes.
	Os jovens considerarem o suicídio porque são sexualmente mal sucedidos parece paradoxal. Verdade, a falta de sucesso sexual é um indicador negativo para a aptidão, mas a teoria não preveria que estes deveriam continuar tentando? No entanto, lembre-se que embora o suicídio possa ter evoluído como um meio de aumentar o sucesso dos nossos genes em circunstâncias específicas, isso não significa que ele opera de forma adaptativa em todos os casos. Se as pessoas diferem em termos dos seus limiares de depressão (como sugerimos acima), então é plausível que difiram na probabilidade de se tornarem deprimidos a ponto de se suicidarem. Assim, algumas pessoas, incluindo as mais jovens, às vezes tem uma recaída temporária sentindo que a não há esperança na vida.
	Os índices de suicídio podem estar sendo exagerados por alguns fatores novos da sociedade moderna. A disponibilidade de armas, drogas e automóveis pode estar aumentando os índices de suicídio por torná-lo mais fácil (de Catanzaro 1995). Finalmente, e mais importante, mesmo que alguns suicídios tenham sido favorecidos pela seleção de parentesco, isso não tem nenhuma implicação no debate sobre sua moralidade – lembre-se da falácia naturalística?
Distúrbios da ansiedade
	Como mencionamos acima, Ter um medo saudável é adaptativo porque determinadas situações: alturas por exemplo, locais estranhos, criaturas venenosas e a segurança dos nossos filhos.	Pouca preocupação sobre essas coisas e cairemos em precipícios, nos perderemos, seremos mordidos por cascavéis na nossa cama e a morte ou outras coisas ruins cairão sobre nossa prole. Algumas pessoas, no entanto, desenvolvem uma ansiedade excessiva sobre certas coisas: acrofobia é o medo de alturas; agorafobia é o medo de ficar longe de casa e o distúrbio obsessivo-compulsivo o medo de que não fizemos alguma determinada tarefa da forma certa e assim por diante.
	Interessantemente, as coisas pelas quais desenvolvemos as fobias foram perigos genuínos no ambiente ancestral. Como muitos autores tem observado, nós facilmente desenvolvemos medo de aranhas, cobras, criaturas perigosas, alturas e sangue. Nós não desenvolvemos facilmente o medo por tomadas elétricas, fumaça de cigarro ou dirigir sem o cinto de segurança – todos são mais perigosos do que aranhas. Aqueles que lerem as pesquisas experimentais sobre as fobias podem ficar com a impressão de que as mordidas de cobra são a causa principal de morte nos Estados Unidos. É claro que a fobia de cobras funciona tão bem como modelo para as pesquisas sobre fobias porque se utiliza do medo que era adaptativo no ambiente ancestral.
	Os psicólogos geralmente usam o termo medo para se referir a respostas emocionais a uma situação de perigo. O termo ansiedade é utilizado para se referir a um sentimento mais vago de ameaças ou perigos, às vezes quando o objeto do perigo não está presente, mas os dois termos são freqüentemente usados equivalentemente. Então temos o distúrbio de Ansiedade Generalizada, que é uma espécie de ansiedade flutuante que não e focalizada num objeto ou situação específico.
	Sugerimos duas razões evolutivas para o desenvolvimento dos distúrbios de ansiedade.Primeiro está o desequilíbrio entre o ambiente atual e o ambiente ancestral. Como discutimos acima, existem tipos e níveis de estressadores na nossa sociedade para os quais nós não somos adaptados a lidar. Estranhos são uma das principais fontes de estresse, como já discutimos. Mas, a industrialização trouxe muitos dispositivos interessantes e substâncias com os quais devemos nos preocupar. Ao invés de sermos capazes de evitar coisas perigosas mais ou menos automaticamente, agora temos que investir de forma consciente em evitar perigos associados a carros e eletricidade, por exemplo. Esse aumento da vigilância pode por si levar aos distúrbios da ansiedade. A comunicação moderna nos torna cientes de desastres e epidemias por todo o globo, nos fazendo pensar que o mundo é mais perigoso do que realmente é.
	Distúrbios da ansiedade também podem influenciar a recombinação genética. Se a tendência a ansiedade é um traço poligênico, inevitavelmente alguns indivíduos exibirão ou um nível mais elevado do que o ótimo para esse traço. Os no extremo superior estariam suscetíveis aos distúrbios da ansiedade, no sentido de que sua ansiedade dispararia muito facilmente. Embora na verdade não pensemos sobre isso, essa lógica sugere que existem algumas pessoas que tem baixa ansiedade (Nesse & Williams 1994). A pessoa que larga seu emprego de repente sem um alternativa à vista deve estar sofrendo de excesso de baixa ansiedade.
Sociopatia.
	Sociopatas são indivíduos que compartilham vários traços: Do lado positivo eles são superficialmente charmosos e sociáveis; mas também são egocêntricos, impulsivos e faltando as emoções de vergonha, culpa e remorso. Também conhecidos como psicopatas, os sociopatas se dão conta de que são mais frios e egoístas do que a maioria das pessoas, mas isso não os incomoda. Embora perfaçam cerca de três a quatro porcento da população masculina (existem menos mulheres sociopatas), os sociopatas são uma alta percentagem (cerca de 20 porcento) dos prisioneiros nos Estados Unidos. Seus crimes tipicamente envolvem enganar e manipular as outras pessoas: fraude, bigamia e estelionato (Mealey 1995).
	A sociopatia tem um grande componente genético. A sociopatia ocorre nas famílias e os filhos colocados para a adoção por criminosos tem uma probabilidade maior do que a normal de se tornar sociopatas. Além disso, os sociopatas diferem na sua fisiologia. Eles exibem bem menos prontidão emocional do que os normais frente aos mesmos estímulos. Consequentemente tendem a buscar situações que mantém altos níveis de excitação. Eles também exibem altos índices na medida de personalidade conhecida como busca de sensação.
	Linda Mealy (1995) tem proposto que a sociopatia pode resultar da seleção dependente da freqüência, que discutimos no capítulo 3. Ali descrevemos as estratégias alternativas de acasalamento de certas moscas macho, que pode caçar seu próprio presente nupcial ou fingir ser uma fêmea para roubá-lo de outro macho. Mealy sugere que os sociopatas são os ladrões no mundo humano. Enquanto as pessoas exibirem uma estratégia cooperativa haverá um lugar para um pequeno número de sociopatas, se aproveitando da confiança dos outros. Como discutimos no capítulo 12, as emoções sociais nos motivam a cooperar em situações como a do dilema do prisioneiro (um jogo). Nossa tendência de dar aos estranhos o benefício da dúvida nos deixa abertos para pessoas que tratam os encontros sociais como o jogo do dilema do prisioneiro, onde a melhor estratégia é a de fraudar.
	Uma pessoa com falta da emoção de vergonha, culpa e remorso pode mentir e enganar de cara dura, colocando-a numa vantagem competitiva em relação às pessoas com emoções normais. Como dissemos no capítulo 6, a auto-enganação pode ajudar a enganar os outros. As pessoas constantemente se utilizam do comportamento emocional de um estranho para julgar sua confiabilidade. (“Eu não confiei nele; ele mexia demais os olhos.” “Não precisa de identidade, você tem cara de honesto.”) Tem forma melhor de enganar os outros do que não sentir emoções?
	Recentemente Andrew Colman e Clare Wilson (1997) sugeriram que o jogo das galinhas fornece um modelo melhor da dinâmica da interação com um sociopata do que o dilema do prisioneiro. Galinha (também conhecido como pombo-gavião) é desenhado da mesma forma geral do que o DP, mas com os ganhos suficientemente diferentes para mudar sua característica. Um exemplo excelente é dado pelos personagens no filme famoso de 1955, Rebelde sem causa, estrelando James Dean. Na sua versão típica dois motoristas vem em alta velocidade um contra o outro na mesma faixa. O motorista que se desviar primeiro é a “galinha”; ele perde a competição e o outro ganha. Se ambos se desviarem é empate. É claro, na pior das hipóteses, quando nenhum dos dois desvia, eles se chocam. A análise matemática de Colman e Wilson do jogo da galinha prevê um número de características da sociopatia não explicadas pelo DP. Resta saber qual análise se compara mais de perto com o comportamento dos verdadeiros sociopatas.
Insights evolutivos no lidar com os sociopatas. Pessoas normais não cometem crimes porque simplesmente pensar em atividades criminosas gera emoções negativas neles. O mero conhecimento de que o conhecimento está errado é o suficiente para deter o crime nas pessoas normais, sem a ameaça de punição. (“O que os outros vão pensar; nunca poderei mostrar minha cara na cidade de novo”.) Esse pensamento por si só não detém o sociopata porque ele não tem as mesmas reações emocionais. Mealy sugere que pode ser possível deter o sociopata reduzindo sua convicção em duas coisas: primeiro, que o comportamento reduzirá sua reputação na comunidade e, segundo, que seu comportamento certamente levará à punição. Essas duas idéias podem servir como um substituto cognitivo, ou próstese, para suas emoções deficientes; eles se utilizam de sua intacta habilidade cognitiva para realizar uma análise de custo-benefício da ação pretendida.
	Outra sugestão para lidar com o sociopata é encontrar um escape socialmente aceitável para suas tendências incomuns. Como mencionado acima, os sociopatas não estão completamente isentos de emoções; seu limiar de emoções é mais elevado. Os sociopatas exigem riscos mais altos do que o normal para produzirem os mesmos níveis de excitação. Eles gostam de bungee-jumping, dirigir em alta velocidade e pára-quedismo. Meay sugere que os sociopatas talvez se envolvam menos em problemas se puderem ser direcionados para empregos que forneçam emoções suficientes: dublês, pilotos de automóvel etc. 
	Como com muitas hipóteses evolucionárias que temos discutido nesse livro, as idéias de Mealey são relativamente novas. Avaliá-las e testar suas previsões tomará algum tempo. O periódico no qual ela publicou seu artigo é incomum porque publica muitos comentários e reações de outros pesquisadores junto com o artigo principal. O artigo de Mealey estimulou um grande número de comentários. Leitores interessados poderão recorrer aos comentários do seu artigo na sessão de discussões.
Autismo
	O autismo é um distúrbio sério que afeta cerca de uma pessoa por milhar e é entre duas e quatro vezes mais comum em homens do que em mulheres, dependendo dos critérios exatos utilizados para defini-lo (Bryson 1997). Indivíduos autismo são marcadamente prejudicados nas suas interações sociais, particularmente envolvendo contato visual e expressões emocionais. Segundo, eles exibem um desenvolvimento da linguagem retardado ou deficiente. Terceiro, eles exibem padrões repetitivos de comportamento, como balançar as mãos e preocupação com objetos (American Psychological Association 1994). A deficiência social é central para o diagnóstico do autismo; as outras deficiências podem ser menos severas. Os sintomas se desenvolvem até a idade dos 3 anos, então a maioria das vezes é chamado de autismo infantil. Indivíduos autistas normalmente são retardados mentais, embora alguns indivíduos autistas tem inteligência normal, ou até elevada, comoveremos a seguir.
	Outras pessoas são um aspecto importante da vida social e é grandemente vantajoso que compreendamos como elas funcionam. Simon Baron-Cohen (1995) sugere que os autistas não possuem a habilidade de ler a mente dos outros – não no sentido de percepção extra-sensorial, mas no sentido comum de compreender os motivos dos outros, intenções e sentimentos, e ser capaz de prever como irão reagir. Baron-Cohen propõe que existe um módulo, ou um conjunto de módulos, que evoluiu para que as pessoas resolvam os problemas impostos pela nossa existência altamente social.. As pessoas que não possuem essa habilidade de ler a mente sofrem de “cegueira mental”. Uma pessoa com autismo disse que “as outras pessoas parecem tem um sentido especial pelo qual conseguem ler os pensamentos dos outros” (Frith et al. 1991, p.436).
	Precisamente porque a maioria das pessoas conseguem ler a mente sem esforço, a existência de um módulo para a leitura da mente passou despercebida até agora. As pessoas normais interpretam o comportamento dos outros em termos de suas intenções – seus pensamentos, crenças e desejos. Nós prontamente compreendemos que se alguém abre a geladeira é porque está com fome; ou, se perguntam se você viu as chaves do carro é porque estão planejando ir para algum lugar.
	As pessoas tem uma tendência tão profundamente programada de ler as intenções na forma de ações que até projetam intenções para objetos inanimados. Nós às vezes dizemos que um computador com um verificador ortográfico automático não quer que soletremos as palavras errado ou que o termostato tenta nos manter a casa aquecida. A muitos anos atrás, Heider e Simmel (1944, citado em Baron-Cohen 1995) mostrou que as pessoas que assistiam a uma exibição onde duas formas geométricas se moviam tinham uma forte tendência a interpretar essas ações com termos como gostar, hesitar, tentar e assim por diante. De forma semelhante as crianças freqüentemente atribuem intenções a animais de pelúcia, nuvens ou outros objetos inanimados.
	Uma boa maneira de testar se as pessoas atribuem crenças aos outros é de descobrir se compreendem a situação onde alguém acreditaria em algo falso. Isso pode ser estudado experimentalmente. Crianças observam uma boneca chamada Sally colocar uma bola de gude em uma cesta e depois sair (Baron-Cohen et al. 1985). Outra boneca chamada Anne então pega a bola de gude da cesta e a coloca em uma caixa. O experimentador pergunta à criança onde Sally procurará a bola de gude quando voltar. Crianças normais de quatro anos e crianças com síndrome de Down de 11 anos não tem problemas em responder corretamente a esse teste. Eles reconhecem que Sally não teria como saber que Anne mudou a bola de lugar . Crianças autistas (de 12 anos de idade) normalmente diriam que Sally procuraria pela bola onde Anne a colocou, indicando que não compreendem a diferença entre a realidade física e a crença de alguém sobre a realidade.
	Embora a maioria dos indivíduos autistas sejam mentalmente retardados existe uma variabilidade considerável. Algumas pessoas autistas são muito inteligentes, até com títulos de pós-graduação e carreiras de sucesso. O médico Oliver Sacks descreve seu estudo com Temple Grandin, que tem Ph.D., é professora universitária e é autista. Ela tem grande dificuldade em compreender emoções complexas e situações sociais. Grandin foi entrevistado por Sacks. “A maioria do tempo” diz ela, “me sinto como um antropólogo em marte” (Sacks 1995, p. 259). Grandin sabia que era diferente desde a infância:
Algo acontecia entre as outras crianças, algo ligeiro, sutil e que mudava constantemente ... uma ligeireza de compreensão tão marcante que às vezes ela pensava que todos eram telepatas. Ela agora sabe da existência desses sinais sociais... mas não consegue percebe-los.
	Grandin lida com isso mantendo um vida simples e estudando o como as pessoas reagem a uma dada situação.
Ela verificou que a linguagem da ciência e da tecnologia eram um grande alívio. Era muito mais clara, mais explícita, com muito menos dependência em pressupostos não expressos.
	O caso de Temple Grandin reforça a visão de Baron-Cohen de autismo como uma espécie de cegueira mental. Também sugere formas de lidar com o autismo, mesmo que não saibamos como curá-lo.
	Temos tratado o autismo até agora como uma deficiência única – a falta do módulo de leitura da mente. Mas existem evidências de que o módulo da leitura da mente é formado por sub-módulos. Mais ainda, vimos acima que o autismo envolve outras deficiências e que existem variedades de autismo. Por essas razões a teoria de Baron-Cohen sobre o autismo não deve ser uma explicação completa do autismo, como a redução da competência verbal. Além disso, existem outras teorias de autismo que também propõe um módulo de processamento de informações defeituoso (Rapin 1997). Mesmo assim, a teoria tem gerado uma quantidade razoável de pesquisas que parecem dar uma luz útil em relação a esse distúrbio.
DOIS DISTÚRBIOS QUE PODEM SER EFEITOS SECUNDÁRIOS DE GENES COM BENEFÍCIOS QUÍMICOS.
	Ao longo deste capítulo temos visto cada distúrbio e considerado o que a causa poderia ser de um ponto de vista evolucionário. Muitos distúrbios parecem ter mais de uma causa provável. Agora nos desviamos desse tipo de organização para avaliarmos dois distúrbios que podem ter uma única causa: elas podem ser efeitos colaterais de genes que trazem benefícios para a aptidão.
	Lembrem-se que os genes se espalham se, em média, melhoram a aptidão. Considere o caso da criatividade. Um gene que melhorasse a criatividade poderia se espalhar mesmo se de vez em quando causasse distúrbios mentais, enquanto os benefícios para a criatividade excederem os custos do distúrbio. Você não deveria imaginar que a criatividade não tinha nenhuma utilidade para nossos ancestrais. Uma pessoa mais criativa na idade da pedra poderia ter pensado numa maneira melhor de fazer uma ponta de flecha, encontrar uma rota de forrageio mais eficiente ou uma forma melhor de eliciar cooperação de ser mais esperto do que os competidores. Qualquer uma dessas inovações teria efeitos positivos na aptidão. Mas, os próprios genes que promovem a criatividade, quando ocorrem em certas combinações genéticas, talvez também possam ter efeitos perturbadores.
	Por muitos anos a psicologia popular tem mantido que a criatividade é freqüentemente ligada à loucura. Vincent van Gogh, Edgar Allen Poe, Gustav Mahler, Walt Whitman e Virginia Woolf são apenas alguns dos gênios malucos que nos vem à mente (Jamison 1995). Mas a psicologia popular nem sempre está errada e essa é uma área onde a pesquisa científica apoia a psicologia do senso comum. Uma quantidade substancial de literatura mostra uma ligação entre os distúrbios mentais e a criatividade. Um estudo por Nancy Andreasen mostrou que 80 por cento dos acadêmicos do afamado Workshop para escritores de Iowa (Iowa Writers´ Workshop) sofreu de depressão ou depressão maníaca, comparando com os 30 porcento de um grupo controle (Andreason 1987). Em outro estudo, Arnold Ludwig (1992) avaliou mais de 1000 pessoas cujas biografias foram revisadas no New York Times Book Review. Ele descobriu que as pessoas das artes criativas (p.ex., arquitetos, artistas, músicos, compositores, atores/diretores e poetas) tinham mais patologias mentais do que de outras profissões (p.ex., atletas, executivos, cientistas, militares ou políticos). As pessoas nas profissões critivas tinham entre duas a três vezes mais problemas com o álcool, drogas, depressão, mania e suicídio.
	A ligação entre a critatividade e a psicopatologia não é necessariamente simples. Possivelmente, por exemplo, certas profissões toleram desvios de comportamento mais do que outras então as pessoas com desvios de comportamento tendem a ser atraídas por essas profissões. Uma pessoa que gosta de dormir até o meio-dia, usar camisas amarrotadas e cabelos longos não se daria muito bem no ambiente bancário ou militar. Ou, algumas profissões podem ser ruinspara a saúde mental. Mas, examinando os padrões de comportamento de pessoas com distúrbios mentais, parece haver uma ligação causal, como discutiremos a seguir.
Distúrbios bipolares.
	Também conhecido depressão maníaca (ou Psicose Maníaco-Depressiva, PMD), os distúrbios bipolares são caracterizados por severas alterações de humor. Numa hora a pessoa pode agir de forma deprimida e logo em seguida exibir a euforia, altos níveis de energia, entusiasmo sem limites e pouco sono. Uma pessoa na fase maníaca do distúrbio bipolar pode impulsivamente preparar o terreno para um projeto de construção sem fazer o planejamento necessário, ou sair e comprar um carro novo para cada membro da família. Na fase depressiva esses indivíduos mostram os sintomas típicos da depressão, algumas vezes de forma severa. Da mesma forma que os indivíduos seriamente deprimidos, correm o risco de suicídio. Os distúrbios bipolares possuem um forte componente genético evidenciado pelo fato de parentes próximos dos indivíduos bipolares terem um aumento no risco de possuírem esse distúrbio. É uma condição séria que causa muito sofrimento. No entanto, parece que essa condição não promove a criatividade, embora nem todos os indivíduos bipolares sejam normalmente criativos.
	Estudos com pessoas na fase maníaca mostram que sua fala contém três vezes mais rimas, aliterações e palavras idiossincráticas do que o das pessoas normais (Jamison 1995) Eles também são capazes de realizarem tarefas de associação de palavras mais rápido. Essas são todas características da criatividade. Os bipolares que também são criativos são mais produtivos durante a fase maníaca. O compositor Robert Schumann escreveu quatro vezes mais composições musicais durante dois anos enquanto esteve maníaco do que durante o resto do tempo. Ele escreveu cerca de 40 porcento de suas composições durante apenas dois anos maníacos de uma carreira de vinte e quatro anos (Jamison 1995). Se no ambiente evolutivo primordial a criatividade trazia benefícios suficientes para a aptidão, ela deve ter sido favorecida apesar do fato de ter implicado em alguns custos em termos de impedimento do desempenho durante a fase depressiva.
Esquizofrenia.
	 A esquizofrenia é um distúrbio debilitador que afeta cerca de um porcento da população. Ele é caracterizado pela desintegração do Eu. Os acometidos ouvem vozes e experienciam emoções inapropriadas e pensamentos incoerentes. Ao contrário da crença comum a esquizofrenia não tem nada a haver com personalidade partida, o que é conhecido como personalidades múltiplas, e é bastante rara. A esquizofrenia ocorre em aproximadamente a mesma razão em todas as sociedades. Ocidental, oriental, industrializada, agrícola etc. (American Psychiatric Association 1994). Assim, não é uma doença da civilização e nem uma invenção arbitrária da sociedade. Virtualmente todos os cientistas concordam que reflete um problema na função cerebral e fortes evidências de estudos da família (Gottesman 1991) sugerem que é herdado.
	Uma perspectiva evolucionista nos leva a perguntar como esse distúrbio poderia surgir e ser mantido numa população. Como a esquizofrenia é tão debilitante os acometidos tem menor sucesso reprodutivo do que o resto da população. Assim, o gene para a esquizofrenia não pode estar trazendo uma vantagem para os que a possuem. Ao mesmo tempo, a prevalência de um porcento da população provavelmente é muito alta para o distúrbio ser mantido na população pela mutação de um ou mais genes da esquizofrenia.
	Uma possibilidade é que o gene para a esquizofrenia traz alguma vantagem para os indivíduos que o possuem mas não tem o distúrbio. Uma maneira que isso poderia estar funcionando é pela superioridade heterozigótica (ver capítulo 3). Nesses casos, os indivíduos que tem uma única cópia do alelo relevante tem aptidão maior do que os indivíduos que tem duas ou nenhuma cópias. Outra possibilidade é que o gene da esquizofrenia é dominante mas só se expressa na minoria dos casos, por razões ambientais ou por causa de interações com outros genes. Esse mecanismo é chamado de penetração incompleta.
	Qual seria a vantagem de se carregar um gene para a esquizofrenia? Karlsson (1984, 1985, 1988) estudou a população de esquizofrênicos e seus parentes na Islândia. Ele descobriu que parentes em primeiro grau (pais, irmãos e filhos) de esquizofrênicos tinham cerca do dobro da probabilidade de terem profissões criativas (professor, poeta, autores formados com louvor etc.), mas não advogados, engenheiros, médicos, do que a população média. Ele propõe que indivíduos com o gene esquizofrênico mas não o distúrbio ganham uma vantagem em termos de criatividade.
	Karlsson acredita que a esquizofrenia é causada por um único gene dominante com penetração incompleta. Evidencias atuais sugerem que a esquizofrenia é o resultado de um ou mais genes, possivelmente vários (Comings 1997, Gottresman & McGue 1991). Parece que a hipótese de Karlsson de um único gene com penetração incompleta não será sustentada. Mesmo assim, acreditamos que a idéia de que um ou mais genes para a esquizofrenia traz uma vantagem para os portadores assintomáticos ajuda a entender como o distúrbio pode ser mantido na população.
	A idéia de que os portadores assintomáticos do gene da esquizofrenia é semelhante à nossa proposta para os distúrbios bipolares. A diferença é que indivíduos bipolares podem eles mesmos colherem os benefícios reprodutivos, não os seus parentes, que presumivelmente portam os mesmos ou alguns dos mesmos genes que causam o distúrbio.
O MAL FUNCIONAMENTO DO “MÓDULO DA LEITURA DA MENTE” PODE NOS AJUDAR A ENTENDER A ESQUIZOFRENIA?
Christopher Frith e Uta Frith (1991, 1994) sugerem que o conceito do módulo da leitura da mente pode nos ajudar a entender, não apenas o autismo, mas também a esquizofrenia. Os sintomas da esquizofrenia são agrupados em sintomas positivos e negativos. Os sintomas da esquizofrenia são coisas que o esquizofrênico tem que as pessoas normais não tem: alucinações, pensamento desorganizado, delusões paranóides e assim por diante. Sintomas negativos descrevem áreas onde os esquizofrênicos não possuem uma função normal: pobreza de fala, afeto rebaixado, perda da volição e isolamento social (Comer 1999). Frith e Frith observam que os sintomas negativos da esquizofrenia são paralelos aos do autismo e sugerem que ambos refletem um problema no módulo de leitura da mente.
	Devemos ter em mente que não estamos dizendo que o autismo e a esquizofrenia são o mesmo distúrbio. Autistas e esquizofrênicos compartilham apenas os sintomas negativos, e não os positivos. O autismo se desenvolve na infância enquanto a esquizofrenia se desenvolve mais tarde, geralmente na vida adulta. Frith e Frith sugerem que, diferente dos autistas, os esquizofrênicos tiveram um módulo de leitura da mente relativamente normal durante a infância. Então, mesmo que esse módulo comece a falhar, os esquizofrênicos sabem que as outras pessoas tem seus próprios sentimentos e pensamentos, mas são incapazes de interpretá-los corretamente. De acordo com essa visão, sua dificuldade em ler mentes, incluindo sua própria, causa problemas nas interações sociais e na comunicação. Eles interpretam seus próprios pensamentos como se fossem dos outros, e assim tem as alucinações. Eles são incapazes de compreender as ações dos outros e se tornam paranóides. Ou, podem simplesmente não fazer interpretações. Assim, eles tem tanto sintomas positivos quanto negativos. Indivíduos autísticos, por outro lado, cresceram sem o módulo de leitura da mente e então não tentam fazer interpretações. Exibem apenas sintomas negativos.
	A proposta de Frith e Frith é interessante mas ainda não tem gerado pesquisas. Vários achados, no entanto, são consistentes com essa hipótese. Quando se pede a um esquizofrênico para comentar sobre fotos de pessoas exibindo várias emoções, eles descrevem apenas as características físicas e não os estados mentais, incluindo o afeto (Pilowsky & Bassett 1980). Isso apoiaa hipótese de que eles não entendem o estado mental interior das outras pessoas.
	Outro experimento testou a hipótese de que os esquizofrênicos tem dificuldades em saber se as ações são próprias (Frith & Done 1989). Os esquizofrênicos e os normais jogaram um jogo de vídeo que pedia que atirassem em diferentes direções de acordo com um conjunto de regras exigentes. Assim, todos os sujeitos cometeram muitos erros. Sujeitos normais geralmente corrigiam seus erros quando ocorriam; os esquizofrênicos que sentiam o controle externo de suas ações , no entanto, raramente o faziam. Acreditamos que a hipótese de que os esquizofrênicos tem um módulo de leitura da mente disfuncional promete na direção de pesquisas futuras da esquizofrenia.
Resumo. 
1. O DSM-IV adota uma abordagem não teórica para classificação.
2. Considerações evolucionárias sugerem que os distúrbios de comportamento podem ser explicáveis por:
a. Defesas.
b. Efeitos colaterais de genes com benefícios para a aptidão.
c. A conseqüência da seleção dependente de freqüência.
d. O resultado de um desequilíbrio entre os ambientes contemporâneos e o ambiente ancestral.
e. As conseqüências de um módulo mental defeituoso.
f. Os extremos da distribuição de um traço poligênico.
3. Alguns distúrbios mentais podem ter mais de uma causa.
4. Distúrbios do Estresse Pós-traumático mais provavelmente ocorrem como resultado de desastres provocados pelo homem do que desastres naturais.
5. A depressão pode ser a forma que a natureza tem de nos dizer que estamos descascando a árvore errada.
6. Como se esperaria para os traços poligênicos, a susceptibilidade à depressão varia consideravelmente.
7. O suicídio pode aumentar a aptidão abrangente quando os recursos gastos para manter uma pessoa viva podem ser melhor gastos em algum parente.
8. Os tipos de distúrbios comuns de ansiedade estão relacionados a situações que eram perigosas no ambiente evolutivo primordial.
9. A sociopatia pode ser resultado da seleção dependente da freqüência para pessoas que fraudam os contratos sociais.
10. O autismo resulta da falta de habilidade de compreender os motivos e intenções de outras pessoas.
11. Distúrbios bipolares e a esquizofrenia podem refletir efeitos colaterais de genes com efeitos sobre a aptidão.
12. Alguns indivíduos bipolares são mais criativos e produzem mais durante a fase maníaca. 
13. Parentes de primeiro grau de esquizofrênicos tem mais probabilidade em média de escolherem profissões criativas.
14. Esquizofrênicos podem possuir módulos de leitura da mente que não funcionam direito, e isso causa dificuldades na interpretação das intenções próprias e dos outros.

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