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ANÁLISE DO DIAGRAMA DE DOSAGEM DE CONCRETO OBTIDO ATRAVÉS DOS CORPOS-DE-PROVA MOLDADOS EM OBRA Luana Borges Freitas1,4; Sueli Martins de Freitas Alves2,5 Paulo Francinete Silva Júnior3,5 1 Bolsista PBIC/UEG 2 Pesquisadora - Orientadora 3 Pesquisador - Co-orientador 4 Acadêmica do Curso de Engenharia Civil, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG 5 Curso de Engenharia Civil, Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas, UEG RESUMO A dosagem de concreto pode ser entendida como sendo o proporcionamento adequado dos materiais constituintes – cimento, agregado miúdo, agregado graúdo, água e eventualmente aditivos. A resistência à compressão do concreto é influenciada por alguns fatores como: heterogeneidade dos materiais, transporte, lançamento, adensamento e cura. Algumas correlações entre parâmetros do concreto são utilizadas para formar o diagrama de dosagem que é baseado em três leis comportamentais: lei de Abrams, lei de Lyse e lei de Molinari. Com base neste diagrama observou-se se os dados obtidos através de corpos-de-prova moldados em obra para análise da resistência à compressão seguem o que é estabelecido pelo diagrama e as leis que o compõem. Palavras-Chave: concreto; resistência à compressão; diagrama de dosagem Introdução A heterogeneidade dos materiais que compõem os concretos e a complexidade do seu comportamento seja no estado fresco ou mesmo endurecido, representam sempre um desafio aos técnicos responsáveis pela fabricação e emprego dos concretos. Vários são os fatores que intervêm na resistência à compressão do concreto da estrutura; desde a heterogeneidade dos materiais, representada pelos agregados, o cimento, a água e eventualmente os aditivos, até seu transporte, lançamento, adensamento e cura. Sendo o concreto obtido da mistura de cimento, agregados miúdos e graúdos, água e eventualmente aditivos, é razoável considerar o comportamento do concreto como dependente dessa composição e das características e naturezas de todo os seus materiais constituintes, apesar do predomínio evidente de alguns fatores, como a relação água/cimento que segundo a Lei de Abrams varia inversamente a Luana Borges Freitas; Sueli Martins de Freitas Alves; Paulo Francinete Silva Júnior 2 resistência aos esforços mecânicos no concreto endurecido (Helene & Terzian, 1992). O formato dos grãos – agregados graúdos e/ou miúdos, tem influência direta na trabalhabilidade e, consequentemente, na resistência à compressão do concreto. A resistência à compressão do concreto é um parâmetro do projeto estrutural e é indispensável que ela seja comprovada, de modo a se poder avaliar a segurança estrutural como afirmam Helene & Terzian (1992). A NBR 6118/03 estabelece o conceito de resistência característica (fck), que incorpora técnicas de estatística ao dimensionamento e ao controle da qualidade do concreto. Segundo Bonavetti & Irassar (1994), resultados de ensaios experimentais demonstraram que a demanda de água cresce com a proporção dos finos, devido ao aumento da área de superfície a ser umedecida, acarretando uma redução na trabalhabilidade. A idéia generalizada de que todo mestre ou pedreiro experiente sabe fazer concreto não motiva a um estudo mais aprofundado no assunto, fazendo com que famosas tabelas de traços de concreto, sejam uma solução mais rápida, porém deixam de lado a grande diversidade de materiais existentes em nosso país. O concreto é mais econômico quanto maior a dimensão máxima característica do agregado graúdo e menor o abatimento do tronco de cone - consistência mais seca (Helene & Terzian, 1992). Monteiro et al. (1993), apresentam os fundamentos da utilização do diagrama de dosagem de concreto, destacando a necessidade de fixação da trabalhabilidade ou de relação para que se possam comparar diversas misturas. Os conceitos básicos são três estabelecidos para o diagrama de dosagem: lei de Abrams para o concreto endurecido, a lei de Lyse para concreto fresco e a lei de Molinari para o consumo de cimento (Rezende & Djanikian, 1998). Estas leis também são conhecidas como leis comportamentais do concreto: a. Lei de Abrams – “Dentro do campo dos concretos plásticos, a resistência aos esforços mecânicos, bem como as demais propriedades do concreto endurecido variam na relação inversa da relação água/cimento”. b. Lei de Lyse – “Dentro de certos limites é possível considerar a massa de água por unidade de volume de concreto como a principal determinante da consistência do concreto fresco, qualquer que seja a proporção dos demais materiais da mistura. Essa verdade se verifica sempre que sejam mantidos materiais de mesma natureza, com grãos de mesma forma, textura e dimensão característica”. Análise do diagrama de dosagem de concreto obtido através dos corpos-de-prova moldados em obra 3 c. Lei de Molinari – "O consumo de cimento por m3 de concreto varia na relação inversa com a relação agregado-cimento (m)”. O presente trabalho procura analisar o diagrama de dosagem de concreto formado através de ensaios realizados com corpos-de-prova obtidos em obras. Materiais e Métodos 1. Fonte de Dados O banco de dados utilizado neste trabalho é originário de anotações realizadas no Laboratório Carlos Campos Ltda. em um período de 1988 a 1993. São resultados de estudos de dosagens realizados por solicitação de construtoras com o objetivo de se obter a mistura mais econômica para atender as propriedades do concreto no estado fresco (trabalhabilidade) e no estado endurecido (resistência à compressão). 2. Transcrição dos Dados Cinco cadernos-livros originaram o banco de dados, com estudos de dosagem de concreto, formando uma matriz composta por 728 linhas e 22 colunas. Estes cadernos-livros apresentam como dados: tipo de cimento, materiais utilizados, traço em peso, consumo de cimento por metro cúbico, slump (abatimento), porcentagem de areia, relação de agregado-cimento, data de moldagem dos corpos-de-prova, idade, carga máxima e tensão de ruptura. 3. Análise de Dados No processo de análise estatística procedeu-se à análise de regressão. A análise de regressão tem muitas aplicações, uma delas é estimar parâmetros, representando o relacionamento entre variáveis de interesse (Werkema & Aguiar, 1996). Por meio de gráficos de dispersão procurou-se relacionar o consumo de cimento com relação agregado/cimento, relação água/cimento com resistência à compressão e relação agregado/cimento com relação água/cimento, verificando as leis comportamentais do concreto: Abrams, Lyse e Molinari. Resultados e Discussão Segundo Helene & Terzian (1992), as correlações que dão origem ao diagrama de Luana Borges Freitas; Sueli Martins de Freitas Alves; Paulo Francinete Silva Júnior 4 dosagem, são válidas somente para o mesmo tipo e classe de cimento. Neste trabalho o banco de dados é formado por trinta e seis tipos de cimento com algumas marcas coincidentes assim como tipo e classe. A partir dos dados dos cadernos-livros originários do Laboratório Carlos Campos Ltda., selecionou-se duas marcas de cimento com mesmo tipo e classe para comparação e análise da correlação dos parâmetros que formam o diagrama de dosagem, neste caso, obtido por meio de dados coletados em obras. Figura 1. Distribuição da relação água-cimento em função da resistência - Lei de Abrams, (a) cimento Goiás CP-32, (b) cimento Tocantins CP-32. Ao analisar os gráficos de dispersão (Figura 1) verifica-se que os dados ao serem analisados por tipo e classe apresentam um coeficiente de determinação (R²) representativo, aproximadamente 60% e pode ser interpretado comoa proporção da variabilidade presente nas observações da variável resposta y (resistência aos 28 dias), que é explicada pela variável regressora x (relação água-cimento) no modelo de regressão (Werkema & Aguiar, 1996). Figura 2. Distribuição da relação água-cimento em função da relação agregado-cimento - Lei de Lyse, (a) cimento Goiás CP-32, (b) cimento Tocantins CP-32. y = 2,8709x + 3,7544 R 2 = 0,1945 2 3 4 5 6 7 8 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 RELAÇÃO A/C - TOCANTINS CP-32 y = 2,1196x + 4,2769 R 2 = 0,1374 3 4 5 6 7 8 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 RELAÇÃO A/C - GOIÁS CP-32 y = 69,961e -1,7031x R 2 = 0,5565 10 15 20 25 30 35 40 45 50 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 y = 66,917e -1,7717x R 2 = 0,5879 1 1 2 2 3 3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1,0 (b) (b) RESISTÊNCIA 28 DIAS RESISTÊNCIA 28 DIAS (a) RELAÇÃO AGREGADO/CIMENTO AGREGADO/CIMENTO RELAÇÃO (a) RELAÇÃO A/C - TOCANTINS CP-32 RELAÇÃO A/C - GOIÁS CP-32 Análise do diagrama de dosagem de concreto obtido através dos corpos-de-prova moldados em obra 5 Quanto à lei de Lyse, observada na Figura 2, a dispersão apresenta-se maior, e a linha de tendência apresenta um coeficiente de determinação (R²) menor que 20%. A grande dispersão observada na Figura 2 pode ser explicada pela variação do tipo litológico dos agregados usados nos diversos estudos de dosagem. Provavelmente, essa dispersão seria menor se observássemos a correlação agregado-cimento com a relação água/cimento em concretos produzidos com os mesmos agregados. Na Figura 3 verifica-se que o modelo de regressão explica aproximadamente 80% e 85% da variação da relação agregado/cimento em função do consumo de cimento Goiás e Tocantins, respectivamente. Verifica-se uma relação inversa entre as variáveis, conforme estabelecida pela lei de Molinari. Figura 3. Distribuição do consumo de cimento em função da relação agregado-cimento - Lei de Molinari, (a) cimento Goiás CP-32, (b) cimento Tocantins CP-32. Conclusão 1. Os resultados de resistência à compressão confirmam a relação exponencial entre a relação água/cimento e a resistência à compressão (Lei de Abrams); 2. Grande dispersão observada na correlação entre relação água/cimento e relação agregado/cimento (Lei de Lyse). Provavelmente essa grande dispersão se dá devido a variabilidade do tipo litológico dos agregados usados nos diversos estudos de dosagem; 3. A relação agregado/cimento e consumo de cimento possuem uma relação inversa, à medida que um aumenta o outro diminui (Lei de Molinari); 4. Através do diagrama podem-se obter traços com mesma trabalhabilidade tendo em vista a prefixação dos parâmetros. y = 14,823e -0,003x R 2 = 0,8538 3 4 5 6 7 8 200 250 300 350 400 450 500 CONSUMO DE CIMENTO - TOCANTINS CP-32 y = 16,394e -0,0033x R 2 = 0,7858 3 4 5 6 7 8 200 250 300 350 400 450 CONSUMO DE CIMENTO - GOIÁS CP-32 (a) (b) AGREGADO/CIMENTO RELAÇÃO AGREGADO/CIMENTO RELAÇÃO Luana Borges Freitas; Sueli Martins de Freitas Alves; Paulo Francinete Silva Júnior 6 Referências Bibliográficas Associação Brasileira de Normas Técnicas. Projeto de estruturas de concreto – Procedimento, NBR 6118. Rio de Janeiro, ABNT, 2003, 170p. Bonavetti, V.L.; Irassar, E.F. The effect of stone dust content in sand. Cement and Concrete Research, Jan 1994. Helene, P.; Terzian, P. Manual de dosagem e controle do concreto. Ed. Pini; Brasília, DF: SENAI, 1992. Monteiro, F.J.M.; Helene, P. R.L.; Kang, S.H. Designing concrete mixtures for strength elastic modulus and fracture energy. Oct. 1993. Rezende, L.S.R.; Djanikian, J. G. Resistência ao cisalhamento do concreto fresco por compressão triaxial. São Paulo: EPUSP, 1998. 30p. – (Boletim Técnico da Escola Politécnica da USP, Departamento da Engenharia de Construção Civil, BT/PCC/231). Werkema, C.C.; Aguiar, S. Análise de regressão: como entender o relacionamento entre as variáveis de um processo. Belo Horizonte, MG: Fundação Christiano Ottoni, Escola de Engenharia da UFMG, 1996.
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