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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
1.0363.15.002847-2/001Número do 0542082-Númeração
Des.(a) Maurílio GabrielRelator:
Des.(a) Maurílio GabrielRelator do Acordão:
20/08/2015Data do Julgamento:
28/08/2015Data da Publicação:
EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA -
LIMINAR DE BUSCA E APREENSÃO - NÃO PAGAMENTO DA
INTEGRALIDADE DA DÍVIDA - CINCO DIAS - PROPRIEDADE E POSSE
EXCLUSIVA - CONSOLIDAÇÃO NO PATRIMÔNIO DO CREDOR
FIDUCIÁRIO - EXPEDIÇÃO DE NOVO CERTIFICADO DE PROPRIEDADE
EM NOME DO CREDOR FIDUCIÁRIO. Se o devedor não pagar a
integralidade da dívida no prazo de cinco dias após a execução da liminar de
busca e apreensão, a propriedade e a posse exclusiva do bem alienado
fiduciariamente consolidar-se-ão no patrimônio do credor fiduciário, caso em
que a repartição competente expedirá novo certificado de registro de
propriedade em seu nome.V.V.AGRAVO DE INSTRUMENTO - BUSCA E
APREENSÃO - DEC. LEI 911/69 - CONTRATO DE FINANCIAMENTO COM
CLÁUSULA DE ALIENAÇÃO FIDUCIÁRIA - CDC - APLICABILIDADE -
CLÁUSULA ESTIPULATIVA DE JUROS - LIMITAÇÃO - ARTIGO 591 DO
NCCB - INOBSERVÂNCIA - NULIDADE DE PLENO DIREITO - ARTIGO 51
DO CDC - RECONHECIMENTO - IMPROCEDÊNCIA DA AÇÃO -
DEPÓSITO DO BEM NAS MÃOS DO CREDOR - POSSIBILIDADE. Aos
contratos de financiamento com cláusula de alienação fiduciária em garantia
se aplica o Código de Defesa do Consumidor, sendo certo que as cláusulas
destes contratos devem se submeter aos princípios da boa-fé e equidade.
Não se admite que os juros do contrato sejam estipulados em patamar
superior ao limite legal imposto pelo artigo 591 do Código Civil, o que leva ao
reconhecimento da nulidade dos mesmos, nos termos do artigo 51 do Código
de Defesa do Consumidor. Estando o credor fiduciário a exigir quantia maior
do que a legalmente devida não há que se falar em mora do devedor. As
inovações trazidas pela Lei 10.931 de 2004 acabaram por trazer maiores
privilégios ao credor fiduciário, em manifesto desequilíbrio contratual com a
parte
1
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
aderente. Diante das abusividades consignadas nos contratos de
financiamento com cláusula de alienação fiduciária, deve ser mantida a
decisão que defere a liminar e determina que o credor seja nomeado
depositário do bem até solução final do litígio, em respeito aos ditames
constitucionais e princípio da boa-fé.
AGRAVO DE INSTRUMENTO-CV Nº 1.0363.15.002847-2/001 - COMARCA
DE JOÃO PINHEIRO - AGRAVANTE(S): BV FINANCEIRA S/A CFI -
AGRAVADO(A)(S): FARLLEY FAGNER MOREIRA SIQUEIRA
A C Ó R D Ã O
 Vistos etc., acorda, em Turma, a 15ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de
Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em REJEITAR A PRELIMINAR SUSCITADA PELO 2º VOGAL E DAR
PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O 2º VOGAL.
DES. MAURÍLIO GABRIEL
RELATOR.
DES. MAURÍLIO GABRIEL (RELATOR)
V O T O
 Cuida-se de agravo de instrumento interposto por BV Financeira S/A CFI
em face de decisão prolatada nos autos da "ação de busca e apreensão" de
veículo alienado fiduciariamente que move contra Farlley Fagner Moreira
Siqueira.
 Na referida decisão (f. 17-TJ e verso), o ilustre Juiz singular
2
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
deferiu "liminarmente a busca e apreensão do bem alienado fiduciariamente,
descrito na petição inicial", e determinou que "cumprida a medida de busca e
apreensão", a autora ficasse como "depositória do bem objeto da lide até seu
julgamento final".
 Alega a agravante que "a alienação nada mais representa do que o pleno
exercício regular de um direito, consubstanciado no dispositivo legal acima
citado, o qual prevê, expressamente, a possibilidade do Credor Fiduciário,
cinco dias após executada a, liminar expedir novo certificado de registro de
propriedade em seu nome ou de terceiro por ele indicado (ou seja, efetuar a
venda do bem), caso não haja o pagamento da integralidade da dívida pelo
financiada".
 Assevera que, sendo "o detentor da propriedade resolúvel e posse
indireta do bem e uma vez retomada a posse direta injustamente mantida
pelo Agravado inadimplente, cinco dias após a determinação que dá direito a
restituição do veículo após o pagamento da integralidade da dívida, é
assegurado ao Banco Credor, em relação ao bem apreendido, todos os
direitos inerentes à propriedade, a saber, os de usar, gozar e dispor do bem".
 Argumenta "que o prazo para a Purgação da Mora bem como para
resposta, em verdade, conta-se a partir do cumprimento da medida liminar e
não da citação, onde aí então o bem pode ser restituído livre de ônus ao
Devedor Fiduciante".
 Ao final, a agravante pugna pelo provimento do recurso, "determinando a
reforma parcial da decisão interlocutória ora inquinada, no sentido de que
seja possibilitada a consolidação da posse do bem como a propriedade do
veículo em" suas mãos "caso o réu não efetue o pagamento da integral da
dívida 05 (cinco dias) após o cumprimento da liminar".
 Não foi concedida a antecipação dos efeitos da tutela recursal.
 Foram dispensadas, por desnecessárias, as informações do culto Juiz da
causa.
3
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Por não estar formada a relação processual, não houve a intimação da
agravada para apresentar contraminuta.
 Conheço do recurso, por estarem presentes os pressupostos de sua
admissibilidade.
DES. ANTÔNIO BISPO
 PRELIMINAR
 Da improcedência do pedido
 Observa-se dos autos que a ação originária de busca e apreensão tem
por escopo um contrato de financiamento com cláusula de alienação
fiduciária, fazendo-se constar previsão da taxa de juros em patamar superior
a 12% ao ano a incidir sobre as parcelas mensais pactuadas, previsão esta
eivada de flagrante nulidade diante do que dispõe o artigo 591 do NCCB,
"verbis":
	"Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos os juros,
os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere
o art. 406, permitida a capitalização anual".
 Por sua vez, o artigo 406 do NCCB, em complementação ao disposto no
artigo supra mencionado, dispõe que:
"Art. 406: Quando os juros moratórios não forem convencionados, ou o forem
sem taxa estipulada, ou quando provierem de determinação da lei, serão
fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de
impostos devidos à fazenda Nacional".
 Interpretando-se a norma infraconstitucional, de alcance geral e irrestrito,
conclui-se que existe uma limitação para a estipulação dos juros
remuneratórios, limitação esta que encontra amparo ainda com a incidência
do CDC e sua principiologia às relações negociais, como na espécie.
4
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 É incontroverso o limite legal previsto para a cobrança de juros
remuneratórios no Código Civil em vigência, ao patamar de 1% (um por
cento) ao mês consoante interpretação aliada à referência do artigo 406 do
mesmo Código e do artigo 161, § 1º do Código tributário Nacional, sendo que
qualquer estipulação superior à referida afigura-se como ilegal, lesiva e
atentatória à boa-fé.
 Destaca-se que com o advento do CDC, norma esta aplicabilidade
inquestionável, são definidas uma série de parâmetros que devem ser
observados a fim de evitar o desequilíbrio entre os contratantes, servindo de
reforço à limitação dos juros remuneratórios em um por cento ao mês, eis
que nos termos de seu artigo 51:
"São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao
fornecimento de produtos e serviços que:
	(...) IV- Estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que
coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam
incompatíveis com a boa-fé ou a equidade;
	(...)
	XV- Estejam em desacordo com o sistema de proteção ao consumidor;
	(...)
	§1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vontade que:
	(...)
	III- se mostra excessivamenteonerosa para o consumidor, considerando-se
a natureza e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras
circunstâncias peculiares ao caso".
 Assim, o limite constitucional de 12% (doze por cento) ao ano fora
mantido com o NCCB em seu art. 591, aliado à interpretação do art.
5
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
406 e §1º, do artigo 161, do CTN, bem como diante do caráter de ordem
pública do CDC.
 Desse modo, nos mútuos bancários com fins econômicos, os juros estão
limitados a 1% (um por cento) ao mês.
 O CDC, bem como o NCCB, norteiam a necessidade da presença da boa
-fé e do equilíbrio entre as partes, os quais restam ausentes diante da
estipulação dos juros remuneratórios acima da permissiva legal, imputando
ao devedor fiduciário incontestável situação de onerosidade excessiva e
lesão.
 O artigo 122 do NCCB corrobora ao estabelecer:
"São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem
pública ou ao bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que
privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de
uma das partes".
 Assim é que, constando a previsão de cláusula nula de pleno direito,
deve a mesma ser reconhecida de ofício e em qualquer grau de jurisdição.
 Quanto à mora, devem ser tecidas algumas considerações.
 Silvio de Salvo Venosa esclarece que:
"A mora é o retardamento culposo no cumprimento da obrigação, quando se
trata de mora do devedor. Na mora solvendi, a culpa é essencial. A mora do
credor, accipiendi, é simples fato ou ato e independe de culpa.
Assim, o simples retardamento no cumprimento da obrigação não tipifica a
mora do devedor. Há que existir culpa." (VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito
Civil . Teoria Geral das Obrigações e Teoria Geral dos Contratos. Vol. II. 5ª
Ed.2005. São Paulo. Ed: Atlas. Pág. 339).
6
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Nos casos de busca e apreensão, a mora decorre do simples vencimento
do prazo para pagamento, normalmente fazendo-se vencível o débito em sua
integralidade.
 Trata-se da mora ex re, disciplinada também pelo artigo 397 do NCCB:
	"O inadimplemento da obrigação, positiva e líquida, no seu termo, constitui
de pleno direito em mora o devedor".
 Ocorre que diante da previsão de cláusula nula de pleno direito
relativamente aos juros remuneratórios, em total descompasso com a
limitação infra legal, não há se falar que mora do devedor eis que
evidentemente cobrado em quantia maior que a devida.
 Ora, para que ocorra a mora solvendi, há necessidade, em primeiro lugar,
de que a obrigação seja ao menos exigível, situação esta que não se
visualiza no presente caso.
 Como conseqüência da nulidade evidente quanto aos juros estipulados
acima do permitido pela lei, a alegada mora deixou de existir.
 Assim é que, inexistindo situação de mora, o pedido de busca e
apreensão é totalmente improcedente, circunstância que se verifica
liminarmente ao cotejo da prova dos autos.
 Mediante tais considerações, de ofício, suscito preliminar para declarar a
ilegalidade de cláusula estipulativa de juros com a conseqüente
inexigibilidade das parcelas pactuadas, para nos termos do art. 269, I, do
CPC, julgar improcedente o pedido e extinguir o feito principal.
DES. MAURÍLIO GABRIEL
 Suscita o em. Des. Antônio Bispo preliminar de extinção do processo.
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Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Ensina Arnaldo Rizzardo que "as instituições financeiras que integram o
Sistema Financeiro Nacional submetem-se à referida Lei 4.595/64 e ao
Conselho Monetário Nacional, que tem competência para estabelecer, entre
outras atribuições, as taxas de juros" (Contratos de Crédito Bancário, Editora
Revista dos Tribunais, 7ª edição, p. 443).
 Por isto, o mesmo doutrinador, após ressalta que a "remuneração do
capital ou crédito bancário não segue a limitação dos arts. 406 e 591 do CC
(no Código anterior, arts. 1.062 e 1.262, respectivamente" e que,
"anteriormente ao Código Civil de 2002, entendia-se que não seguia também
o art. 1º do Decreto 22.626, de 1933" (op. e loc. citados).
 Ressalto, ainda, que, nos termos do enunciado da Súmula nº 381 do
Superior Tribunal de Justiça, "nos contratos bancários, é vedado ao julgador
conhecer, de ofício, da abusividade das cláusulas".
 Assim, não há como, nesta fase, examinar suposta abusividade dos juros
bancários contratados, devendo tal questão ser objeto de deliberação se e
quando alegada pelo réu.
 Com estas considerações, rejeito a preliminar de extinção do processo,
suscitada de ofício pelo em. 2º Vogal.
DES. TIAGO PINTO - De acordo com o(a) Relator(a).
DES. MAURÍLIO GABRIEL
 O Decreto-lei 911, de 1.969, com a redação dada pela Lei 10.931, de
2.004, determina, no § 1º do artigo 3º, que, cinco dias após a execução da
liminar de busca e apreensão, "consolidar-se-ão a propriedade e a posse
plena e exclusiva do bem no patrimônio do credor fiduciário", cabendo à
repartição competente expedir novo certificado de registro de propriedade em
seu nome.
8
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Todavia, o § 2º do mesmo artigo permite ao devedor, dentro do mesmo
prazo, evitar a mencionada consolidação, pagando a integralidade da dívida
pendente, caso em que o bem lhe será restituído livre do ônus.
 Decorre, destes dispositivos legais, que, se o devedor não pagar a
integralidade da dívida no prazo de cinco dias após a execução da liminar de
busca e apreensão, a propriedade e a posse exclusiva do bem alienado
fiduciariamente consolidar-se-ão no patrimônio do credor fiduciário, caso em
que a repartição competente expedirá novo certificado de registro de
propriedade em seu nome.
 Por consequência, não se pode determinar que a credora fiduciária
permaneça como depositária do bem até o final da ação de busca e
apreensão, pois, como já dito, decorrido o prazo de cinco dias sem o
pagamento da integralidade da dívida, o bem passa a integrar o seu
patrimônio.
 Com estas considerações, dou provimento ao recurso para revogar a
decisão na parte em que determinou que ficasse a autora como depositária
do bem até o julgamento final da ação de busca e apreensão.
 Custas recursais, a final.
DES. TIAGO PINTO - De acordo com o(a) Relator(a).
DES. ANTÔNIO BISPO
 	O Eminente Relator está dando provimento ao recurso, para reformar a
decisão agravada e determinar a aplicação irrestrita do Decreto-lei 911/69.
 	Ouso divergir do Douto Relator, pelos seguintes fundamentos:
 MÉRITO
9
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
 Observa-se dos autos que a decisão ora rechaçada deferiu a medida
liminar, porém determinou que a financeira credora fique como depositária do
bem apreendido até julgamento final da lide.
 Constata-se que a relação jurídica entre as partes fulcra-se em contrato
de financiamento através do qual a instituição financeira torna-se credora de
certa quantia, sendo que as obrigações firmadas são garantidas por meio de
alienação fiduciária do bem adquirido.
 É cediço que a Lei 10.931 de 2004 introduziu importantes modificações
no instituto da alienação fiduciária em garantia.
 A par de tais mudanças, passou o credor fiduciário a se valer do
procedimento de busca e apreensão que, em casos de inadimplemento, se
torna favorecido após executada a liminar, eis que se consolida na posse e
propriedade do bem; restando ao devedor a possibilidade de pagamento da
integralidade do débito apresentado pelo primeiro, hipótese na qual o bem
lhe é restituído, consoante parágrafos 1º e 2º do artigo 3º do Decreto 911/69.
 No caso, vislumbra-se ao credor fiduciário uma ampla segurança nas
contratações dessa espécie; segurança esta que não se observa à outra
parte contratante, havendo a perda do bem sem qualquer possibilidade de
defesa.Importante consignar que, não obstante já restar pacificado a
constitucionalidade da norma supra, não se pode coadunar com a hipótese
prevista no parágrafo terceiro da mesma, diante do novo paradigma de
interpretação dos contratos, não se permitindo mais a existência de condutas
abusivas, assim entendidas as que assegurem vantagens unilaterais ou
exageradas a uma das partes contratantes em detrimento de outras.
 Desta feita, diante da nova realidade trazida à teoria geral dos contratos
pela Lei 8.078/90, esta se torna aplicável às relações contratuais de
alienação fiduciária em garantia, subsumindo-se a estas o princípio da boa-
fé, que cria novos deveres de condutas pelos
10
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
contratantes, bem como conduz e ilumina a interpretação de tais contratos,
evitando-se a perpetuação de práticas e condutas abusivas.
 Assim entendendo, para evitar um excessivo desequilíbrio no contrato
sub judice, evitando-se ademais que se fira o direito de defesa do devedor,
melhor medida é que a financeira fique como depositária do veículo, até
desfecho final da lide.
 Isso porque, outro descompasso a ser observado na norma em questão
diz respeito à faculdade do credor de proceder à venda do bem a terceiros,
independentemente de qualquer avaliação. Ou seja, além do devedor
sumariamente perder o bem, este será vendido sem que haja qualquer
prestação de contas por parte do credor, ensejando em muitos casos
prejuízos irreparáveis ao devedor fiduciante.
 Diante das patentes desvantagens em que se encontra o devedor
fiduciante, necessária se faz a adequação dessas espécies negociais à nova
teoria contratual, merecendo ser mantida a decisão.
 É a doutrina:
"(...) A filosofia do Estado liberal exigia uma separação quase absoluta entre
o Estado e a sociedade. Logo, aquele não poderia intervir nas relações
obrigacionais dos particulares - ao contrário deveria permitir a liberdade
contratual como reflexo do postulado máximo da autonomia da vontade,
criadora do próprio Estado politicamente organizado. Conseqüentemente, ao
juiz não era permitido mais do que um controle formal da presença ou da
ausência da vontade e de um consenso isento de vícios ou defeitos, nunca,
porém, um controle do conteúdo do contrato, da justeza e do equilíbrio das
obrigações assumidas. De outro lado, à lei cabia uma função interpretativa,
no máximo, supletiva da vontade. Com o início da renovação da teoria
contratual através das tendências sociais antes mencionadas, em virtude dos
postulados de um novo Estado social e da realidade da sociedade de massa,
o Estado passa a intervir nas relações obrigacionais. Aos poucos, o
intervencionismo estatal evolui de modo a fomentar a edição de leis
limitadoras do poder de auto-regular
11
Tribunal de Justiça de Minas Gerais
determinadas cláusulas (por exemplo, cláusulas de juros) e determinar o
conteúdo de certos contratos, passando a ditar o conteúdo daqueles
contratos em atividades imprescindíveis (por exemplo, transportes,
fornecimento de água, luz). Assim, a intervenção do Estado na formação dos
contratos vai ser exercida não só pelo legislador, como também pelos órgãos
administrativos.Também o Poder Judiciário terá nova função, pois, se as
normas imperativas destas leis, aqui chamadas de intervencionistas,
restringem o espaço da liberdade individual no contrato, também legitimarão
ao Judiciário para que exerça o tão reclamado controle efetivo do conteúdo
do contrato,controle da justiça contratual,em especial o controle das
cláusulas abusivas. A jurisprudência brasileira tem sido sensível a esta
necessidade de intervenção estatal nas relações de consumo, para a
proteção do mais fraco, destacando o mandamento constitucional de
proteção do consumidor e o caráter indisponível, de ordem pública e fim
social, das normas do CDC (...)". (MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no
Código de Defesa do Consumidor: o novo regime das relações contratuais.
2005. pág. 275,276).
 Assim sendo, em festejo aos princípios contratuais da boa fé e probidade,
aliado aos ditames constitucionais, suscito de ofício preliminar para declarar
a ilegalidade de cláusula estipulativa de juros com a conseqüente
inexigibilidade das parcelas pactuadas, para nos termos do art. 269, I, do
CPC, julgar improcedente o pedido e extinguir o feito principal.
 Acaso vencido quanto a preliminar, no mérito, nego provimento ao
recurso, mantendo na íntegra a decisão primeva.
 Custas, pela agravante.
 SÚMULA: "REJEITARAM A PRELIMINAR SUSCITADA PELO 2º
VOGAL E DERAM PROVIMENTO AO RECURSO, VENCIDO O 2º VOGAL."
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