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2.1A Dissolução do complexo de Edipo

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deixa inexplicada a origem do senso ético. Na realidade, parece acontecer o inverso. A primeira 
renúncia instintual é forçada por poderes externos, e somente isso cria o senso ético, que se 
expressa na consciência e exige uma ulterior renúncia ao instinto. 
O masoquismo moral, assim, se torna uma prova clássica da existência da fusão do 
instinto. Seu perigo reside no fato de ele originar-se do instinto de morte e corresponder à parte 
desse instinto que escapou de ser voltado para fora, como instinto de destruição. No entanto, de 
vez que, por outro lado, ele tem a significação de um componente erótico, a própria destruição de 
si mesmo pelo indivíduo não pode se realizar sem uma satisfação libidinal. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO (1924) 
 
NOTA DO EDITOR INGLÊS 
 
 
DER UNTERGANG DES ÖDIPUSKOMPLEXES 
 
(a) EDIÇÕES ALEMÃS: 
1924 Int. Z. Psychoanal., 10, (3), 245-52. 
1924 G.S., 5, 423-30. 
1926 Psychoanalyse der Neurosen, 169-77. 
1931 Neurosenlehre und Technik, 191-9. 
1940 G. W., 13, 395-402. 
 
(b) TRADUÇÃO INGLESA: 
‘The Passing of the Oedipus Complex’ 
1924 Int. J. Psycho-Anals., 5 (4), 419-24. (Trad. de Joan Riviere.) 
1924 C.P., 2, 269-76. (Reimpressão da tradução acima.) 
 
A presente tradução inglesa, com o título modificado, baseia-se na de 1924. 
 
Este artigo, escrito nos primeiros meses de 1924, foi, em sua essência, elaboração de uma 
passagem de O Ego e o Id ([1]). Reivindica ainda nosso interesse especial por dar ênfase, pela 
primeira vez, ao curso diferente tomado pelo desenvolvimento da sexualidade em meninos e 
meninas. Essa nova linha de pensamento foi levada adiante, cerca de dezoito meses mais tarde, 
no trabalho de Freud sobre ‘Algumas Conseqüências Psíquicas da Distinção Anatômica entre os 
Sexos’ (1925j). A história das opiniões cambiantes de Freud sobre esse assunto é debatida na 
Nota do Editor Inglês ao último artigo ([1]). 
 
A DISSOLUÇÃO DO COMPLEXO DE ÉDIPO 
 
Em extensão sempre crescente, o complexo de Édipo revela sua importância como o 
fenômeno central do período sexual da primeira infância. Após isso, se efetua sua dissolução, ele 
sucumbe à regressão, como dizemos, e é seguido pelo período de latência. Ainda não se tornou 
claro, contudo, o que é que ocasiona sua destruição. As análises parecem demonstrar que é a 
experiência de desapontamentos penosos. A menina gosta de considerar-se como aquilo que seu 
pai ama acima de tudo o mais, porém chega a ocasião em que tem de sofrer parte dele uma dura 
punição e é atirada para fora de seu paraíso ingênuo. O menino encara a mãe como sua 
propriedade, mas um dia descobre que ela transferiu seu amor e sua solicitude para um recém-
chegado. A reflexão deve aprofundar nosso senso da importância dessas influências, porque ela 
enfatizará o fato de serem inevitáveis experiências aflitivas desse tipo, que agem em oposição ao 
conteúdo do complexo. Mesmo não ocorrendo nenhum acontecimento especial tal como os que 
mencionamos como exemplos, a ausência da satisfação esperada, a negação continuada do bebê 
desejado, devem, ao final, levar o pequeno amante a voltar as costas ao seu anseio sem 
esperança. Assim, o complexo de Édipo se encaminharia para a destruição por sua falta de 
sucesso, pelos efeitos de sua impossibilidade interna. 
Outra visão é a de que o complexo de Édipo deve ruir porque chegou a hora para sua 
desintegração, tal como os dentes de leite caem quando os permanentes começam a crescer. 
Embora a maioria dos seres humanos passe pelo complexo de Édipo como uma experiência 
individual, ele constitui um fenômeno que é determinado e estabelecido pela hereditariedade e que 
está fadado a findar de acordo com o programa, o instalar-se a fase seguinte preordenada de 
desenvolvimento. Assim sendo, não é de grande importânciaquais as ocasiões que permitem tal 
ocorrência ou, na verdade, que ocasiões desse tipo possam ser de algum modo descobertas. 
A justiça dessas opiniões não pode ser discutida. Ademais, elas são compatíveis. Há lugar 
para a visão ontogenética, lado a lado com a filogenética, de conseqüências bem maiores. 
Também procede que, mesmo no nascimento, o indivíduo está inteiramente destinado a morrer, e 
talvez sua disposição orgânica já possa conter a indicação daquilo que deve morrer. Não obstante, 
continua a ser de interesse acompanhar como esse programa inato é executado e de que maneira 
nocividades acidentais exploram sua disposição. 
Ultimamente nos tornamos mais claramente cônscios que antes, de que o 
desenvolvimento sexual de uma criança avança até determinada fase, na qual o órgão genital já 
assumiu o papel principal. Esse órgão genital é apenas o masculino, ou, mais corretamente, o 
pênis; o genital feminino permaneceu irrevelado. Essa fase fálica, que é contemporânea do 
complexo de Édipo, não se desenvolve além, até a organização genital definitiva, mas é submersa, 
e sucedida pelo período de latência. Seu término, contudo, se realiza de maneira típica e em 
conjunção com acontecimentos de recorrência regular. 
Quando o interesse da criança (do sexo masculino) se volta para os seus órgãos genitais, 
ela revela o fato manipulando-os freqüentemente, e então descobre que os adultos não aprovam 
esse comportamento. Mais ou menos diretamente, mais ou menos brutalmente, pronunciam uma 
ameaça de que essa parte dele, que tão altamente valoriza, lhe será tirada. Geralmente, é de 
mulheres que emana a ameaça; com muita freqüência, elas buscam reforçar sua autoridade por 
uma referência ao pai ou ao médico, os quais, como dizem, levarão a cabo a punição. Em certo 
número de casos, as mulheres, elas próprias, mitigam a ameaça de maneira simbólica, dizendo à 
criança que não é o seu órgão genital, que na realidade desempenha um papel passivo, que deve 
ser removido, mas sim sua mão, que é o culpado ativo. Acontece com especial freqüência que o 
menininho seja ameaçado com a castração, não porque brinca com o pênis com a mão, mas 
porque molha o leito todas as noites e não pode ser levado a ser limpo. Os encarregados dele se 
comportam como se essa incontinência noturna fosse resultado e prova de ele estar 
indevidamente interessado em seu pênis, e provavelmente têm razão. De qualquer modo, a 
enurese na cama, de longa duração, deve ser igualada à polução dos adultos, e é uma expressão 
da mesma excitação dos órgãos genitais que impeliu a criança a masturbar-se nesse período. 
Bem, é minha opinião ser essa ameaça de castração o que ocasiona a destruição da 
organização genital fálica da criança. Não de imediato, é verdade, e não sem que outras 
influências sejam também aplicadas; pois, para começar, o menino não acredita na ameaça ou não 
a obedece absolutamente. A psicanálise recentemente ligou importância a duas experiências por 
que todas as crianças passam e que, segundo se presume, as preparam para a perda de partes 
altamente valorizadas do corpo. Essas experiências são a retirada do seio materno - a princípio de 
modo intermitente, e mais tarde, definitivamente - e a exigência cotidiana que lhes é feita para 
soltarem os conteúdos do intestino. Não existe, porém, prova que demonstre que, ao efetuar-se a 
ameaça de castração, essas experiências tenham qualquer efeito. Somente quando uma nova 
experiência lhe surge no caminho, que a criança começa a avaliar a possibilidade de ser castrada, 
fazendo-o apenas de modo hesitante e de má vontade, não sem fazer esforços para depreciar a 
significação de algo que ela própria observou. 
A observação que finalmente rompe sua descrença é a visão dos órgãos genitais 
femininos. Mais cedo ou mais tarde a criança, que tanto orgulho tem da posse de um pênis, tem 
uma visão da região genital de uma menina e não pode deixar de convencer-se da ausência de um 
pênis numa criatura assim semelhante a ela própria. Com isso, a perda de seu próprio pênis ficaimaginável e a ameaça de castração ganha seu efeito adiado. 
Não devemos ser tão míopes quanto a pessoa encarregada da criança, que a ameaça com 
a castração, e não devemos desprezar o fato de que, nessa época, a masturbação de modo algum 
representa a totalidade de sua vida sexual. Como pode ser claramente demonstrado, ela está na 
atitude edipianapara com os pais; sua masturbação constitui apenas uma descarga genital da 
excitação sexual pertinente ao complexo, e, durante todos os seus anos posteriores, deverá sua 
importância a esse relacionamento. O complexo de Édipo ofereceu à criança duas possibilidades 
de satisfação, uma ativa e outra passiva. Ela poderia colocar-se no lugar de seu pai, à maneira 
masculina, e ter relações com a mãe, como tinha o pai, caso em que cedo teria sentido o último 
como um estorvo, ou poderia querer assumir o lugar da mãe e ser amada pelo pai, caso em que a 
mãe se tornaria supérflua. A criança pode ter tido apenas noções muito vagas quanto ao que 
constitui uma relação erótica satisfatória, mas certamente o pênis devia desempenhar uma parte 
nela, pois as sensações em seu próprio órgão eram prova disso. Até então, não tivera ocasião de 
duvidar que as mulheres possuíssem pênis. Agora, porém, sua aceitação da possibilidade de 
castração, seu reconhecimento de que as mulheres eram castradas, punha fim às duas maneiras 
possíveis de obter satisfação do complexo de Édipo, de vez que ambas acarretavam a perda de 
seu pênis - a masculina como uma punição resultante e a feminina como precondição. Se a 
satisfação do amor no campo do complexo de Édipo deve custar à criança o pênis, está fadado a 
surgir um conflito entre seu interesse narcísico nessa parte de seu corpo e a catexia libidinal de 
seus objetos parentais. Nesse conflito, triunfa normalmente a primeira dessas forças: o ego da 
criança volta as costas ao complexo de Édipo. 
Descrevi noutra parte como esse afastamento se realiza. As catexias de objeto são 
abandonadas e substituídas por identificações. A autoridade do pai ou dos pais é introjetada no 
ego e aí forma o núcleo do superego, que assume a severidade do pai e perpetua a proibição 
deste contra o incesto, defendendo assim o ego do retorno da catexia libidinal. As tendências 
libidinais pertencentes ao complexo de Édipo são em parte dessexualizadas e sublimadas (coisa 
que provavelmente acontece com toda transformação em uma identificação) e em parte são 
inibidas em seu objetivo e transformadas em impulsos de afeição. Todo o processo, por um lado, 
preservou o órgão genital - afastou o perigo de sua perda - e, por outro, paralisou-o - removeu sua 
função. Esse processo introduz o período de latência, que agora interrompe o desenvolvimento 
sexual da criança. 
Não vejo razão para negar o nome de ‘repressão’ ao afastamento do ego diante do 
complexo de Édipo, embora repressões posteriores ocorram pela maior parte com a participação 
do superego que, nesse caso, está apenassendo formado. O processo que descrevemos é, porém, 
mais que uma repressão. Equivale, se for idealmente levado a cabo, a uma destruição e abolição 
do complexo. Plausivelmente podemos supor que chegamos aqui à linha fronteiriça - nunca bem 
nitidamente traçada - entre o normal e o patológico. Se o ego, na realidade, não conseguiu muito 
mais que uma repressão do complexo, este persiste em estado inconsciente no id e manifestará 
mais tarde seu efeito patogênico. 
A observação analítica capacita-nos a identificar ou adivinhar essas vinculações entre a 
organização fálica, o complexo de Édipo, a ameaça de castração, a formação do superego e o 
período de latência. Essas vinculações justificam a afirmação de que a destruição do complexo de 
Édipo é ocasionada pela ameaça de castração. Mas isso não nos livra do problema; há lugar para 
uma especulação teórica que pode perturbar os resultados a que chegamos ou colocá-los sob 
nova luz. Antes de nos fazermos a esse caminho novo, contudo, devemos voltar-nos para uma 
questão que surgiu no decorrer desse debate e que até agora foi deixada de lado. O processo 
descrito refere-se, como foi expressamente dito, somente a crianças do sexo masculino. Como se 
realiza o desenvolvimento correspondente nas meninas? 
Nesse ponto nosso material, por alguma razão incompreensível, torna-se muito mais 
obscuro e cheio de lacunas. Também o sexo feminino desenvolve um complexo de Édipo, um 
superego e um período de latência. Será que também podemos atribuir-lhe uma organização fálica 
e um complexo de castração? A resposta é afirmativa, mas essas coisas não podem ser as 
mesmas como são nos meninos. Aqui a exigência feminista de direitos iguais para os sexos não 
nos leva muito longe, pois a distinção morfológica está fadada a encontrar expressão em 
diferenças de desenvolvimento psíquico. A anatomia é o destino’, para variar um dito de Napoleão. 
O clitóris na menina inicialmente comporta-se exatamente como um pênis, porém quando ela 
efetua uma comparação com um companheiro de brinquedos do outro sexo, percebe que ‘se saiu 
mal’ e sente isso como uma injustiça feita a ela e comofundamento para inferioridade. Por algum 
tempo ainda, consola-se com a expectativa de que mais tarde, quando ficar mais velha, adquirirá 
um apêndice tão grande quanto o do menino. Aqui, o complexo de masculinidade [[1]] das 
mulheres se ramifica. Uma criança do sexo feminino, contudo, não entende sua falta de pênis 
como sendo um caráter sexual; explica-a presumindo que, em alguma época anterior, possuíra um 
órgão igualmente grande e depois perdera-o por castração. Ela parece não estender essa 
inferência de si própria para outras mulheres adultas, e sim, inteiramente segundo as linhas da 
fase fálica, encará-las como possuindo grandes e completos órgãos genitais - isto é, masculinos. 
Dá-se assim a diferença essencial de que a menina aceita a castração como um fato consumado, 
ao passo que o menino teme a possibilidade de sua ocorrência. 
Estando assim excluído, na menina, o temor da castração, cai também um motivo 
poderoso para o estabelecimento de um superego e para a interrupção da organização genital 
infantil. Nela, muito mais que no menino, essas mudanças parecem ser resultado da criação e de 
intimidação oriunda do exterior, as quais a ameaçam com uma perda de amor. O complexo de 
Édipo da menina é muito mais simples que o do pequeno portador do pênis; em minha experiência, 
raramente ele vai além de assumir o lugar da mãe e adotar uma atitude feminina para com o pai. A 
renúncia ao pênis não é tolerada pela menina sem alguma tentativa de compensação. Ela desliza - 
ao longo da linha de uma equação simbólica, poder-se-ia dizer - do pênis para um bebê. Seu 
complexo de Édipo culmina em um desejo, mantido por muito tempo, de receber do pai um bebê 
como presente - dar-lhe um filho. Tem-se a impressão de que o complexo de Édipo é então 
gradativamente abandonado de vez que esse desejo jamais se realiza. Os dois desejos - possuir 
um pênis e um filho - permanecem fortemente catexizados no inconsciente e ajudam a preparar a 
criatura do sexo feminino para seu papel posterior. A intensidade comparativamente menor da 
contribuição sádica ao seu instinto sexual, que fora de dúvida podemos vincular ao crescimento 
retardado de seu pênis, torna mais fácil, no caso dela, transformarem-se as tendências sexuais 
diretas em tendências inibidas quanto ao objetivo, de tipo afetuoso. Deve-se admitir, contudo, que 
nossa compreensão interna (insight)desses processos de desenvolvimento em meninas em geral é 
insatisfatório, incompleto e vago. 
Não tenho dúvida de que as relações cronológicas e causais, aqui descritas, entre o 
complexo de Édipo, a intimidação sexual (a ameaça de castração), a formação do superego e o 
começo do período de latência são de um gênero típico, porém não desejo asseverar que esse tipo 
seja o único possível. Variações na ordem cronológica e na vinculaçãodesses eventos estão 
fadadas a ter um sentido muito importante no desenvolvimento do indivíduo. 
Desde a publicação do interessante estudo de Otto Rank, The Trauma of Birth [1924], a 
própria conclusão obtida através dessa modesta investigação, no sentido de o complexo de Édipo 
do menino ser destruído pelo temor da castração, não pode ser aceita sem maior discussão. Não 
obstante, parece-me prematuro entrar atualmente em um debate tal e talvez desaconselhável 
iniciar uma crítica ou uma apreciação da opinião de Rank nessa conjuntura.

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