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1
 Recensão
–
A
Galáxia
Internet










































































Fátima
Bessa



 
Universidade do Minho 
Mestrado em Tecnologia Educativa 




Abordagem
Crítica
à
Tecnologia
Educativa

2007/2008





Docente:
Doutor

João
Paraskeva

Mestranda:
Fátima
Bessa
(fatibess@gmail.com)







Recensão



A
Galáxia
Internet

Reflexões
sobre
Internet,
Negócios
e
Sociedade



Manuel
Castells













2
 Recensão
–
A
Galáxia
Internet










































































Fátima
Bessa







Dentro ou fora da Rede? 
 
Introdução 
A Galáxia Internet, como título desta obra e, acima de tudo, como visão do impacto da 
internet no mundo de hoje, surge na sequência de outras galáxias que um dos mais 
importantes pensadores do séc. XX, Marshal McLuhan, já trouxera a público nos anos 
60: a Galáxia Gutenberg e a Galáxia Marconi. 
Manuel Castells apresenta-nos neste livro, não só a gigantesca dimensão que a 
internet ganhou na sua ainda recente história, como também as excepcionais virtudes 
que fazem dela o principal factor de viragem na cultura do séc. XXI, não deixando de 
salientar e alertar para os efeitos negativos, do ponto de vista social e cultural, que 
dela podem resultar se não forem tomadas em consideração as questões relacionadas 
com o contexto em que ela é utilizada e a forma como é organizada. 
Da leitura desta obra podemos concluir que o desenvolvimento da internet situa-se 
entre duas linhas paralelas: a da inovação, criatividade, produtividade e riqueza; e a da 
volatilidade, insegurança, desigualdade e exclusão social. Qual das linhas irá ter maior 
relevo, é a questão que é colocada pelo autor ao longo do livro, sem deixar, 
entretanto, de apontar algumas hipóteses para que a segunda, desejavelmente, se 
atenue ou mesmo desapareça. 
Outra marca distintiva deste livro reside no facto de o autor rejeitar em absoluto fazer 
futurologia sobre os destinos mais dramáticos ou mais risonhos que a Era da 
Informação nos promete, baseando-se sempre em estudos empíricos próprios ou de 
outros académicos e confessando que a velocidade a que a o mundo da Internet se 
move é tal que não permite aos investigadores manterem-se actualizados sobre os 
“como” e os “porquê” da influência e implicação da Internet na economia e na 
sociedade. 
Esta obra começa por realizar uma abordagem histórica do processo de criação da 
internet, iniciado nos primórdios da década de 1960 nos Estados Unidos da América e 
motivado por interesses militares de defesa e segurança, em que não se imaginava, 
certamente, que pudesse vir a tornar-se um fenómeno global, civil e por onde passam 
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A
Galáxia
Internet










































































Fátima
Bessa



todo o tipo de motivações económicas, políticas, sociais, religiosas, públicas e 
privadas. 
No passo seguinte, Castells faz uma análise à função que a internet está a 
desempenhar na economia mundial ao apontar estudos empíricos que demonstram 
como uma rede electrónica conseguiu alterar toda uma concepção de economia, 
mercado, trabalho e gestão empresarial, provocando mudanças de paradigma. 
Avançando para o tema das comunidades e da sociedade em rede, o autor analisa as 
interacções sociais, mostrando que há uma nova sociabilidade baseada numa 
dimensão virtual que transcende o tempo e o espaço. 
É claro que os temas sociais teriam, necessariamente, de conduzir o texto para as 
questões da política, onde são estudadas as influências da internet na política e as 
implicações políticas na internet, uma vez que também por isso estamos a viver novas 
formas de intervenção social que, por sua vez, nos conduzem aos conceitos de 
comunicação, liberdade e privacidade, dependência e controlo, quer por parte das 
instituições governamentais quer por parte do mundo das empresas. 
Estando a comunicação na base de todo este processo, este livro faz-nos referência 
aos novos modelos comunicacionais gerados a partir do fenómeno internet e explora a 
sua relação com o conceito multimédia dando-nos conta da relativa dificuldade em 
fazer convergir as linguagens scripto-audio-visual na internet, mas ao mesmo tempo 
as implicações que advêm da livre circulação de música, vídeo, jogos, jornais, livros e 
outras expressões. 
Nas palavras do autor, “a internet tem uma geografia própria” (p. 245), ou seja, ela tem 
vindo a alterar as noções de espaço que conhecíamos, e esta análise leva-nos numa 
viagem pelos diferentes centros nevrálgicos por onde a internet passa e a partir dos 
quais ela se processa e ramifica, actuando na desconstrução e construção de novas 
paisagens sociais. 
Desta abordagem geográfica, o autor termina a obra com uma análise às inevitáveis 
discrepâncias existentes entre o mundo dos que têm acesso à rede e aqueles que, 
não o tendo, se vêem presos nela. 
 
Lições de História da Internet 
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Olhando para a história da internet, há dois aspectos importantes que o livro de 
Castells salienta e que merecem atenção. Um deles é o facto de este fenómeno ter um 
passado ainda tão curto e já tão recheado de desenvolvimentos, sejam eles de 
carácter técnico e tecnológico ou de pendor sociológico, económico e político. O 
segundo aspecto prende-se com as motivações que lhe deram origem e a forma como 
tão depressa outras motivações se levantaram e intervieram no seu processo 
evolutivo. 
Na verdade, embora possamos dizer que a internet nasce de um processo que deu os 
seus primeiros passos na década de 1960 com a criação do conceito de comunicação 
em rede entre computadores, o verdadeiro arranque da internet global dá-se na 
década de 1990 com a criação de protocolos convencionais que permitem o 
cruzamento de várias redes e uma comunicação muito mais abrangente e acessível. É 
bastante curioso observar como em menos de vinte anos já foram criados e 
desenvolvidos tantos conceitos à volta do fenómeno internet e como é que esse 
mesmo fenómeno já se implantou tão implacavelmente na vida das pessoas, mesmo 
daquelas que nem imaginam o quanto as suas vidas já dependem da internet. Nada 
na história das invenções terá tido uma absorção tão rápida e tão intensa. Nunca a 
história precisou de tão pouco tempo para se fazer. 
A segunda ideia que ressalta desta abordagem histórica leva-nos a uma conclusão 
interessante: a mola que impulsionou a necessidade de comunicação em rede foi a 
situação política em que o mundo vivia na década de 60 quando a tensão surda entre 
os dois blocos estava no auge e a guerra fria alimentava o equilíbrio da paz. De facto, 
a primeira iniciativa de conquista do espaço por parte da União Soviética terá motivado 
e acelerado o bloco ocidental a lançar-se na exploração de sistemas de comunicação 
em rede entre computadores. O projecto ARPANET, que está na génese da internet, 
nasceu nos meios militares dos Estados Unidos da América e tinha nos seus 
objectivos de defesa a informação como prioridade. No entanto, com a percepção de 
que este sistema começava a ser permeável, em 1990 a internet deixa de interessar 
aos militares e passa para o domínio dos cidadãos. Daí para cá, tem sido um veloz 
caminhar na direcção de uma rede mundial de comunicação, onde a interacção é o 
factor predominante e o carácter aberto da sua arquitectura a própria imagem de 
marca. 
Castells faz também referência ao facto de ter havido suficiente inteligência 
organizativa da parte dos políticos norte-americanos para atribuírem autonomia aos 
projectos de investigaçãotecnológica adjacentes à criação da internet, permitindo, 
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deste modo, uma maior inovação e uma actividade científica mais livre ao ponto de 
alterar completamente os objectivos desse projecto, desmilitarizando-o e entregando-o 
inteiramente (ou quase inteiramente) às mentes criativas que o souberam colocar ao 
serviço dos comuns cidadãos. 
Entende-se daqui que se a internet, tal como a conhecemos hoje possui, 
eventualmente, meandros mais ou menos obscuros e perturbantes do ponto de vista 
da liberdade, da privacidade e dos direitos individuais, tal facto não advém dos 
processos intencionais que estiveram na sua origem, pois neste caso a liberdade e a 
inovação superaram a adaptação política e a burocracia. 
Na concepção da internet propriamente dita, estiveram presentes intenções, valores e 
atitudes científicas e académicas muito mais interessadas nas pessoas, no bem-estar, 
no puro desenvolvimento e também na sedução da descoberta por parte daqueles, 
como Robert Kahn, Vint Cerf, Tom Jennings, Mark Horton, Bill Joy, Richard Stallman, 
Ted Nelson, Linus Torvalds, Tim Berners-Lee, que desbravaram o terreno para a 
democrática rede global, visando, de facto, o prazer da comunicação e da partilha de 
recursos. Tal como diz o autor, “a Internet desenvolveu-se em terreno seguro, graças 
aos fundos públicos e a um projecto de investigação orientado para o cumprimento de 
uma missão de interesse nacional. Mas foi um terreno que não sufocou a liberdade de 
pensamento e a inovação.” (p. 41). E o interesse nacional (entenda-se dos EUA) 
tornou-se interesse mundial. 
E se, entre aqueles académicos que estiveram na génese de toda esta evolução 
tecnológica dos sistemas de rede e de softwares livres baseados na partilha, não 
existia propriamente um movimento contra-cultura, houve também, por outro lado, uma 
certa intenção libertadora face aos poderes políticos e económicos vigentes, no 
sentido de entregar o poder da informação ao cidadão comum, fazendo dele, 
simultaneamente, consumidor e produtor. 
Assim, nestes pedaços de história, vemos nascer uma internet, baseada nos valores 
da transparência e cooperação, quer a nível técnico, pela publicação de códigos-fonte 
das principais ferramentas de utilização da rede, quer ao nível organizacional, através 
da criação de protocolos standard que possibilitam a compatibilidade dos diferentes 
sistemas de conexão em rede. 
Há que salientar também o facto de os utilizadores da internet acabarem por ser peças 
fundamentais neste processo evolutivo, pois são eles que vão contribuindo com toda a 
espécie de informações em tempo real, com modificações técnicas e atitudes 
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relacionadas com a usabilidade, e que, desta forma, refazem a todo o momento o 
caminho e transformam a tecnologia adaptando-a aos seus contextos e necessidades. 
Este é, sem dúvida, o aspecto mais fascinante da internet: ela não é estanque nem 
rígida, pelo contrário, é flexível, aberta, descentralizada e multidireccional. 
Ainda em termos de análise histórica, é importante verificar a maneira como a internet 
é gerida, ou melhor, a que parâmetros de gestão obedece uma instituição mundial que 
é de todos e, aparentemente, não pertence a ninguém. 
Castells refere que houve esforços, por parte dos governos norte-americano e 
europeus no sentido de controlarem a gestão e coordenação da internet. Mas todas 
essas intenções, apesar de haver instituições governamentalizadas que atribuem 
domínios e registos de nomes para a rede, têm-se revelado impotentes perante a 
dimensão gigantesca que a internet tem vindo a adquirir. Além disso, a internet vai-se 
auto-regulando num caos mais ou menos organizado. 
Em suma, nesta abordagem histórica da internet, percebe-se que ela nasceu do 
cruzamento de duas mentalidades: uma que corre atrás de méritos científicos e 
baseia-se em princípios patrióticos e outra mais rebelde e libertária que corre atrás de 
utopias de igualdade e cooperação. E é nesta mistura criativa que a internet encontra 
a sua capacidade de auto-regulação e o seu poder de expansão, sendo, como diz 
Castells, “uma criação cultural” (p. 52). 
 
A Cultura Internet 
A internet provém de uma cultura, mas cria, ela própria, uma cultura, na medida em 
que encaixa no seu processo genético diferentes “estratos” culturais, mais ou menos 
académicos, mais ou menos independentes, mais ou menos economicistas. 
Nesta análise, Castells diferencia os utilizadores que intervêm na produção e 
construção do sistema tecnológico (produtores/utilizadores) daqueles que apenas 
consomem os recursos da internet sem qualquer intervenção no seu desenvolvimento 
(consumidores/utilizadores), assentando a sua análise no primeiro tipo de utilizadores. 
Esta distinção é importante para vermos a cor cultural com que a internet tem vindo a 
ser pintada. Ou seja, a cultura da internet reparte-se pelos contributos de uma elite 
académica cientificamente competente, originária das grandes universidades, e que 
acredita no progresso tecnológico para o bem das populações, assentando o seu 
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trabalho no empirismo e nos princípios iluministas; de uma comunidade hacker, 
composta por aqueles entusiastas da tecnologia, que bebem na fonte dos académicos 
mas que, acima de tudo, se assumem como defensores do contra-poder, da liberdade 
e independência, caracterizando-se pela sua criatividade tecnológica e pela forma 
diligente como partilham toda a informação, aprendendo uns com os outros e fazendo 
da internet a sua própria escola; das comunidades virtuais que, embora não 
constituam propriamente uma cultura dada a diversidade de interesses, povoam a 
rede, discutindo, publicando e, de uma forma muito interessante, adaptando e 
(re)configurando os recursos da rede às necessidades de interacção social, de uma 
forma mais ou menos anárquica, assumida também num ambiente contracultural mas 
que, aos poucos, se vai desvanecendo tendo em conta o aumento dessas 
comunidades e a consequente diversidade de valores e interesses que vão surgindo; 
dos empreendedores que, partindo de interesses e propensões para as questões da 
tecnologia, se apercebem das potencialidades económicas da internet e usam a sua 
habilidade gestora para desenvolver projectos económicos baseados na produção de 
software e hardware, contribuindo também para o alargamento da rede, embora numa 
perspectiva mais capitalista e, consequentemente, menos acessível e mais 
condicionante. 
É neste caldo cultural que se tem desenvolvido a internet e nada melhor do que as 
palavras do autor para o sintetizar: “A cultura da Internet é uma cultura construída 
sobre a crença tecnocrática no progresso humano através da tecnologia, praticada por 
comunidades de hackers que prosperam num ambiente de criatividade tecnológica 
livre e aberta, assente em redes virtuais, dedicadas a reinventar a sociedade, e 
materializada por empreendedores capitalistas na maneira como a nova economia 
opera.” (p. 83). 
Pode assim concluir-se que a internet é, por si só, uma instituição sui generis que 
balanceia entre um processo de intenções completamente pacífico e tendente à 
melhoria do desenvolvimento humano, apostando no aumento das interacções e dos 
processos comunicacionais, e um conjunto enorme de possibilidades de 
desvirtuamento dessas boas intenções, mercê da total abertura dos seus sistemas que 
propiciam também umuso menos abonatório, onde o crime, a manipulação e a 
intoxicação política e social também germinam em óptimas condições de 
desenvolvimento. 
Trata-se de um sistema altamente democrático que serve tanto a democracia como os 
seus mais antagónicos princípios. 
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Negócios electrónicos e a nova economia 
Um dos aspectos de maior influência da internet na vida das pessoas relaciona-se 
com o mundo dos negócios e com a forma como está intervir nos processos de gestão 
empresarial, na criação de novos conceitos de economia, na nova visão do trabalho e 
no incremento da produtividade e competitividade à luz da inovação. 
Estes temas são tratados pelo autor com base em estudos e exemplos apontados que 
sustentam uma visão realista e politicamente descomprometida. 
Os negócios electrónicos abarcam todo o tipo de operações económicas, comerciais, 
financeiras e relacionais que se desenrolam através dos recursos da internet. Quer 
isto dizer que assistimos a uma nova economia baseada na rede, quer do ponto de 
vista organizacional quer na perspectiva funcional, que afecta toda uma concepção de 
capital e trabalho, alterando as suas características e o seu status quo. 
A empresa-rede, tal como Castells a denomina, é uma “organização flexível da 
actividade económica construída em torno de projectos empresariais específicos 
levados a cabo por redes de composição e origem diversa” (p. 90), que faz com que a 
economia se processe dentro de parâmetros de cooperação entre vários sectores 
empresariais e entre diversas empresas. 
Analisando as questões do capital e a sua relação com a internet, percebemos que o 
sector tecnológico fez com que muito capital fosse para aí atraído, sendo, desse 
modo, o grande responsável pela nova economia. Ou seja, quando se fala em nova 
economia, tem de se pensar inevitavelmente em tecnologia, pois é nesta área que 
grandes alterações se têm produzido no sentido de criar novas práticas e novas 
concepções de economia e mercado. É mesmo possível verificar como os mercados 
financeiros se apropriam dos valores e princípios da evolução tecnológica e funcionam 
ao mesmo ritmo temporal e segundo as suas regras. O conceito de empresa funde-se 
com o conceito de rede e, na nova economia, o que parece prevalecer como estímulo 
é o carácter volúvel e flexível que a informação electrónica introduz, de forma 
extremamente célere (tempo real), nas oscilações financeiras, trazendo à superfície os 
comportamentos nervosos dos mercados comandados por uma espécie de paranóia 
global que constantemente desafia os actores económicos como se de um jogo se 
tratasse. 
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Não se pode compreender o desenvolvimento de uma economia, mesmo tratando-se 
de uma economia global, sem analisarmos a questão do trabalho, como sendo o 
principal motor para serem atingidas as metas de produtividade, inovação e 
competitividade que esta nova economia tanto presa. 
O trabalho, como património de crucial importância para o desenvolvimento económico 
neste contexto de e-economia orientada por processos tecnológicos e baseada na 
comunicação em rede, traz consigo novas exigências ao nível da qualidade. Quer 
dizer, o trabalho depende, cada vez mais, da qualificação de quem o produz. O nível 
educativo é fundamental e, desta forma, também os sistemas educativos sofrem 
naturalmente influência no sentido da mudança, mas uma mudança direccionada para 
a consecução de objectivos meramente económicos, ou seja, um encaminhar para um 
conceito de educação absolutamente instrumental. 
Fala-se em educação ao longo da vida, pelo facto de todas estas mudanças se 
estarem a operar de uma forma vertiginosa e ser necessária uma constante 
reciclagem do conhecimento, atendendo, de uma forma algo desenfreada, ao 
nivelamento dos trabalhadores com as exigências de um mercado de trabalho cada 
vez mais dependente das tecnologias digitais e da internet, em especial. 
Castells fala em trabalho “autoprogramável” para explicar como a nova economia 
gerou um novo conceito de trabalho, que, por sua vez, depende de uma educação 
diferente, mais voltada para os processos e métodos de aprendizagem tendo em 
conta, por um lado, a rapidez com que o conhecimento é ultrapassado por novo 
conhecimento, e a necessidade de transformação da informação em conhecimento 
instrumentalmente adequado. 
Neste novo quadro laboral, a instabilidade do trabalho agudiza as tremuras sociais 
pelo facto de os trabalhadores de carne e osso poderem estar a dar lugar a 
verdadeiros “robots” que, para além de produzirem não contestam. A máquina vai 
substituindo o homem em algumas das suas funções, sendo necessário encontrar 
fórmulas de fazer com que isto não constitua a ostracização do trabalho humano. Na 
Era da Internet, este é um dos maiores cuidados a ter para que o capital humano não 
se desvirtue e possa conduzir a explosões incontroláveis no seio da sociedade do 
trabalho. 
Para além disto, o novo espírito empresarial também tem criado novas formas de 
segurar o capital de trabalho através de processos engenhosos e bastante rentáveis 
para as empresas. Os trabalhadores qualificados são aliciados a receberem, não só os 
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seus salários em valor pecuniário, como também a receberem opções de acções, 
para, deste modo, se vincularem às empresas que os empregam, assumindo um 
maior compromisso com o projecto empresarial, beneficiando, evidentemente, da 
partilha de rendimentos, mas fazendo com que nasça um novo tipo de trabalhador 
com aspirações a tornar-se patrão mal consiga atingir um nível de independência 
económica que possibilite transferir o seu capital intelectual para a criação do seu 
próprio negócio. 
Segundo Castells, “este duplo movimento de agregação de capital e desagregação do 
trabalho parece constituir uma das surpresas históricas da e-economia.” (p.119). 
Outra das grandes mudanças na economia, motivadas pela internet, foi a imigração 
para os grandes centros económicos norte-americanos e europeus de mão-de-obra 
qualificada e especializada tecnologicamente, dando origem a um processo a que o 
autor chama de “circulação de cérebros”, bem como o outsourcing, que Friedman 
(2005) analisa no seu livro “O Mundo é Plano”. 
Finalmente, há também um aspecto importante a salientar no decurso destas 
transformações no mercado de trabalho, também elas originadas pela influência da 
internet no campo económico, e que se relaciona com a flexibilidade ou, como agora 
se torna moda chamar: flexisegurança. 
As características anteriormente apontadas a esta nova economia levam a uma nova 
cultura de emprego que se opõe à noção tradicional de um emprego seguro, para toda 
a vida, pautado por uma escrupulosa rigidez de horários laborais e condições 
contratuais previsíveis. Cada vez mais, a flexibilidade laboral se está a implantar em 
todo o mundo, através de esquemas de empregabilidade, por parte das empresas, 
tendentes ao tempo parcial, trabalho temporário e consultadorias, bem como também 
no sector público, em que o estado cada vez mais se isenta da tutela e resguardo dos 
trabalhadores, enveredando também pelo espírito precário de empregabilidade como 
sendo a nova forma de encarar a globalização. 
Outro dos factores intervenientes no desenvolvimento económico, e que decorre do 
tema do trabalho, é a produtividade. E nesta nova ideia de economia, um forte 
investimento nastecnologias de informação e uma cada vez maior aposta das 
empresas no trabalho em rede ditaram um significativo aumento da produtividade sem 
que tivesse havido picos inflacionários ou perdas de emprego, ou seja, a 
implementação da internet a partir dos anos 90 até meio da primeira metade da 
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década de 2000 foi acompanhada por aquilo a que se chama um desenvolvimento 
económico sustentado. 
Porém, a partir de 2006, as perspectivas já não são assim tão animadoras, mostrando 
uma evidente desaceleração económica em todo o mundo, que traz consigo 
problemas sociais que perturbam a entrada na segunda década deste século. É claro 
que se a internet não será propriamente a causa única desta situação, também ela 
não pode ser vista como a panaceia universal para os problemas económicos. O 
problema da economia e da sociedade globalizada estará tanto na falta de 
acompanhamento do ritmo da internet como na crença de que ela é solução para tudo. 
De facto, Castells chama a atenção para o facto de a produtividade do trabalho, 
motivada pela organização em rede das empresas e pelos negócios electrónicos 
baseados na tecnologia da informação, depender fortemente da capacidade 
inovadora. E por inovação deve entender-se todo um sistema que provém da 
qualificação e que conduza à criação de novo conhecimento. Aqui, a internet tem um 
papel fundamental no contributo que pode proporcionar através de um uso adequado 
de todos os seus recursos que se baseiam no novo paradigma: a rede. 
A este novo paradigma não pode estar indiferente o conceito de cooperação e de 
abertura dos sistemas tecnológicos. É nesta lógica de redes e códigos abertos, em 
que a quantidade de articulações dessa rede é proporcional aos benefícios gerados, 
que a inovação na economia se torna num factor preponderante. Cada descoberta 
neste âmbito, desde que seja partilhada na rede, gera sempre novos avanços 
benéficos para todos sem que os protagonistas da criação deixem de ter também as 
suas vantagens. Por outro lado, a inovação implica sempre na fase inicial 
investimentos muito altos mas que rapidamente se reduzem pelo retorno financeiro 
produzido, fazendo com que os preços de determinados produtos, entre o seu 
aparecimento e algum tempo depois, desçam à velocidade da luz tornando-se 
acessíveis à sociedade de consumo, com todos os aspectos positivos e negativos que 
essa realidade comporta. 
Em suma, a inovação na e-economia , sendo a fonte da produtividade, depende, 
sobretudo, da cooperação mas também da competição e do alto risco. 
Tal como Castells afirma, “embora a produtividade e a competitividade sejam factores 
que estão na base do alto crescimento económico sem inflação, e a inovação seja o 
motor da nova economia, o financiamento é a base de tudo.” (p. 133). 
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Assim, a internet e a sociedade em rede, como núcleo de uma nova forma de praticar 
economia, geram uma nova cultura, baseada, por um lado no conhecimento e, por 
outro nas expectativas. E talvez seja esta cultura de olhar para o futuro através de 
apostas sustentadas na experiência e no risco que fazem com que o homem do século 
XXI ainda não tenha desacreditado no potencial da rede, sabendo que muito tem 
ainda para fazer no sentido de estendê-la a todas as partes do mundo de uma forma 
igualitária para atenuar as discrepâncias que esta nova cultura parece estar a gerar. E 
é aí que a tarefa se mostra difícil. 
 
Comunidades virtuais ou sociedade em rede? 
O fenómeno internet, com todos os seus recursos e implicações, encontra a sua 
principal razão de ser nas interacções sociais. Embora a economia e o academismo 
dependam cada vez mais da circulação de informação na rede, a internet tem sido, 
cada vez mais, alvo de estudos no sentido de compreender até que ponto este 
fenómeno é responsável pelo aparecimento de novos padrões de sociabilidade. 
A distância e a sensação de autonomia privada que a internet confere ao utilizador 
comum são os elementos que trazem a sua característica fundamental: a relação 
interactiva. 
Não se detendo nas discussões mais ou menos estéreis, por não serem sustentadas, 
sobre se a internet é responsável por fenómenos de simulação de identidade, de 
viciação alucinatória, isolamento, ou de fuga ao mundo real, o autor menciona vários 
estudos empíricos, uns que concluem que o uso da internet para fins de relação social 
não influencia negativamente o modus vivendi das pessoas, outros apontam para 
alguma frustração e alguma tendência depressiva para a fuga à sociabilidade. 
Em qualquer dos casos, pode facilmente inferir-se desta obra que não é na relação 
social mediada por computadores nem nas alterações que acabam por gerar novos 
padrões de sociabilidade que poderão estar os efeitos adversos da internet para a 
sociedade actual. O facto de, pela internet, as pessoas se reunirem em comunidades 
virtuais, partilhando ideias, conhecimento, informação, conceitos, anseios, 
preocupações e sonhos, não é mais do que dar continuidade ao ancestral costume de 
se reunirem à volta da lareira. A diferença, para melhor, é que toda essa interacção 
vence as barreiras da distância e do tempo, tornando o mundo mais pequeno. E é 
nesse estreitar da geografia social que a internet, segundo também vários estudos 
credíveis, gera uma maior densidade das relações sociais dando origem a maiores 
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compromissos sociais e um crescendo de fontes de conhecimento que, 
necessariamente, enriquecem todos quantos participam na construção dessa malha. 
Para além disso, o uso da internet para a interactividade social acaba por desenvolver 
a familiaridade com os meios electrónicos, favorecendo o domínio de novas 
linguagens. É, no entanto, na apropriação dessas linguagens sem o domínio dos 
suportes conceptuais subjacentes à sociedade em rede que pode estar presente 
alguma falsa literacia que se consubstancia num conhecimento tecnológico sem o 
conhecimento do rumo para onde essa tecnologia pode encaminhar o mundo. A esse 
respeito, Castells aponta um estado limite em que a actividade social on-line pode 
deixar de favorecer a sociabilidade para passar a impedir que a sociabilidade off-line 
se processe, pois ambas são necessárias e, em minha opinião, compatíveis desde 
que se conheça e respeite esse limite. 
Apesar de haver estudos que afirmam que “as pessoas adaptam a Internet às suas 
vidas, em vez de transformarem o seu próprio comportamento sob o «impacto» da 
tecnologia” (p. 158), sabe-se também que a interacção social através da internet é 
predominantemente baseada no individualismo, ficando para trás a interacção assente 
na família e no trabalho. A isto, Castells chama “privatização da sociabilidade”. 
No entanto, uma coisa é inquestionável, a internet veio introduzir alterações profundas 
nos modelos de sociabilidade que conhecíamos, criando novas formas de interagir que 
ocorrem numa dimensão extra-espacial e extra-temporal, levando, necessariamente, a 
novas concepções de comunidade e de comunicação. As comunidades passam a 
funcionar, com a internet, em territórios diferentes, ou seja, a noção territorial altera-se 
deixando de ser fisicamente extrínseca ao homem para ser criadora de lugares 
mentais muito mais intrínsecos e, talvez por isso, certos estudos comprovem o 
aumento da densidade social a partir da sociabilidade on-line. Parece-me, no entanto, 
que esta mudança de paradigmacomunicacional não pode contribuir muito para o 
alicerçar das culturas nem para a sua diversidade, sendo, porventura, responsável por 
um certo desaculturamento ou, pelo menos, pelo desenvolvimento de uma cultura 
mais hegemónica, descolorida e insípida. 
 
A Política da Internet I 
Redes informáticas, sociedade civil e estado 
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Avançando mais para o terreno político, analisar a influência da internet nas alterações 
dos movimentos sociais é, sem dúvida, uma tarefa interessante, sobretudo se se 
atentar na forma como o activismo social ao propor-se combater e tentar impedir os 
avanços de uma globalização cega geradora de maiores amplitudes sócio-económicas 
e de uma cultura mais homogénea e descaracterizada, acaba por ter de, 
paradoxalmente, acampar as suas hostes nos terrenos tecnológicos da rede global e 
fazer da internet o seu quartel-general. Mais, combate-se a globalização tentando-se 
globalizar ao máximo uma ideia. Como afirma o autor do livro, “a globalização dos 
movimentos sociais é um fenómeno específico e muito mais importante e amplo que o 
movimento contra a globalização” (p. 173), ou seja, a nuvem converte-se na 
tempestade. 
Na sociedade em rede, a internet está a constituir-se no meio privilegiado para o 
desenvolvimento das actividades dos diversos movimentos sociais, sejam elas de 
carácter abertamente contestatário ou sofisticadamente voltadas para o boicote e 
sabotagem dos sistemas tecnológicos ou dedicadas à disseminação de valores 
ideológicos ou apelando para práticas de luta social. Estes movimentos, perante os 
recursos que a internet lhes fornece, ao reformularem os seus modos de actuar, 
assumem características novas que se relacionam com a redefinição dos seus valores 
culturais e do sentido de vida; com a assumpção de novos espaços de acção mais 
flexíveis e dinâmicos através de uma maior espontaneidade; e com uma atitude mais 
globalizante e abrangente face aos pressupostos de uma cultura da globalização 
vigorante. Assim, Castells define estes movimentos como sendo “emocionais” que se 
destinam a “tomar as mentes e não o poder do Estado” (p. 171) e que, ao 
apresentarem preocupações de nível local têm que, necessariamente, “agir 
globalmente” (p. 173) para que as suas lutas e reivindicações tenham um eco 
compatível, em termos de dimensão, com as realidades contra as quais eles se 
insurgem. 
Neste sentido, podemos responder à questão que Castells coloca no início do capítulo 
5, dizendo que a internet não tem um papel meramente instrumental, uma vez que ela 
própria agiliza a actividade dos movimentos e alimenta-se também dessa actividade 
constituindo nós de ligação entre diversos movimentos, que são eles, também, redes. 
Ou seja, assiste-se a uma fusão de redes humanas com redes tecnológicas, em que 
estas, para além do seu potencial instrumental transformam-se em “alavanca(s) de 
transformação social” (p. 174). 
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Ainda neste contexto relacional de rede com movimentos sociais e globalização, 
Castells chama a atenção para uma realidade interessante mas que, em finais da 
primeira década deste século, não se sabe ainda se se vai impor e sobreviver ao 
poder global. Trata-se da criação de redes de cidadania, baseadas no conceito de 
democracia local, organizadas e geridas por comunidades que provêm de substratos 
bem definidos e localizados, como hackers, ONGs, associações e poder local. Esta é 
uma perspectiva diferente, talvez mais lúcida, de utilização da internet que visa 
reforçar a intervenção local e a sua autonomia, identidade e representatividade sem 
que isso possa contribuir para o isolamento, uma vez que essas redes, 
cooperativamente articuladas, beneficiam dos fluxos informacionais da rede global. 
Contudo, apesar deste projecto de intervenção na rede revelar, do ponto de vista do 
conceito, inteligência e sensatez colectivas e ser uma forma de melhor assegurar 
princípios democráticos mais próximos das identidades culturais, ele ainda não deu os 
frutos desejados nem se impôs perante a pressão massiva de uma rede global que 
pode ser tão democrática como desigual, pois ela tanto propicia a livre circulação de 
ideias (as boas e as más) entre os cidadãos do mundo como favorece também a 
disseminação de sistemas de controlo e de apropriação da privacidade por parte de 
governos e outras instituições que sempre têm a dominação como referente e que 
acabam por dar origem a democracias disfarçadas, ou talvez, novas ditaduras. 
Na verdade, o contributo da internet para uma intervenção política responsável e 
transparente ainda é incipiente e, o que existe, é bastante indefinido do ponto de vista 
da credibilidade, pois a informação útil e credível facilmente aparece misturada com o 
rumor, a ficção e a conjectura. 
É claro que tudo isto resulta da ideia de política que se tem vindo a instalar no senso 
comum, de que não vale a pena acreditar (nos políticos) e, por isso, não vale a pena 
intervir (nas políticas). Não será, certamente, culpa da internet mas sim das pessoas. 
A responsabilidade devia partir dos agentes políticos através de uma cultura de 
transparência em que a internet podia ser o espaço privilegiado para o desempenho 
dessa transparência informacional, e do cidadão comum que deveria mostrar-se mais 
participativo no desempenho da sua cidadania e mais criterioso na forma como faz uso 
dos recursos de que dispõe, sejam eles tecnológicos ou de outra índole. 
A internet, por parte dos políticos, apenas é utilizada como montra para o que se quer 
exibir e não como um espaço de verdadeira e útil informação. É aquilo que Castells 
denomina de “política informacional” (p. 188) organizada à volta da imagem e não 
tanto do conteúdo. Os cidadãos apenas vão esperando pelos “furos” informativos que 
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uma certa casta jornalística, mais ou menos marginal, vai colocando na rede, com todo 
o risco inerente de não se saber se estamos a lidar com informação credível e 
importante ou apenas com produto ficcional e acessório. 
Castells refere que há um dado curioso, relativamente às questões de segurança na 
rede e à vulnerabilidade que afecta os Estados, e que tem a ver com o facto de os 
governos estarem renitentes quanto à implementação de sistemas de encriptação 
digital avançada, embora estejam conscientes de que esse será o processo para 
aumentar a segurança. Na verdade, mais uma vez a necessidade de controlo 
informacional está na base de todas estas atitudes (ou falta delas) por parte dos 
governantes. E neste sentido, gera-se um novo conceito de diplomacia dirigida às 
sociedades, tendente a criar uma hegemonia cultural, por processos diferentes da 
persuasão política tradicional, e que intervém mais profundamente nas formas de 
pensar e de agir da sociedade. É o conceito de noopolitik, baseado nos sistemas 
globais de informação, gerado na rede mundial e construído através da 
interdependência de redes de Estados. Deste modo, os governos actuais tendem, 
progressivamente, a adaptarem os pontos de vista globais aos interesses das 
sociedades que representam. 
Falando em política, no sentido de participação e cidadania, a internet tem, de facto, 
um papel muito importante a desempenhar na medida em que, mesmo sendo passível 
de ser controlada ou com todas as repercussões que possam levar ao tema da justiça 
social, ela favorece sempre a comunicação e é sempre capaz de mostraralgo que 
nunca foi visto. E sabemos que qualquer sociedade, por muito sujeita a esquemas de 
controlo apertado, depois de uma experiência de acesso a algo que lhe estaria 
vedado, já nunca mais poderá manter os padrões de reacção a que estava subjugada. 
Ora, se a internet “não é um instrumento de liberdade” (p. 197), como diz Castells, ela 
tem, ao menos, um potencial comunicativo que permite a liberdade de expressão e 
propicia a circulação de valores, ideias e desejos, contribuindo para um avanço na luta 
pelos ideais democráticos. O importante é que o mundo dos cidadãos que contribuem 
para a coisa pública, que escolhem e aceitam quem os governe, saiba usar este poder 
que, por enquanto, ainda lhe está nas mãos. 
 
A Política da Internet II 
Privacidade e liberdade no ciberespaço 
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Apesar de já ter sido focado o problema da privacidade e da liberdade na internet em 
capítulos anteriores, ele volta a ser abordado pelo autor para, através de explicações e 
estudos, demonstrar como funcionam os meandros tecnológicos do controlo do 
ciberespaço ao nível da identificação, da vigilância, da investigação e da encriptação. 
Na verdade, já não causa espanto sabermos que, tal como na areia da praia, todos os 
passos que damos na internet deixam pegadas e que existem mecanismos para 
seguir esse rasto. A parte curiosa está no facto de terem sido exactamente os 
entusiastas da liberdade encontrada na rede os principais criadores dessas 
ferramentas tecnológicas que agora são utilizadas pela mão controladora do poder, 
seja ele político, económico ou ideológico. 
Seria ingenuidade excessiva pensar que um fenómeno de tão ampla dimensão e com 
características de enorme abertura passasse ao lado dos apetites de quem precisa de 
vigiar para dominar. É claro que não há internet segura. A maior garantia (ou talvez a 
única) de privacidade para o utilizador estará, talvez, na dimensão do uso. Quantos 
mais forem os utilizadores e mais diversas as utilizações, mais protegidos estaremos 
da vigilância global, pois o fenómeno combate-se a ele próprio e o veneno acaba por 
ser o antídoto. 
Neste medir de forças entre vigilantes e vigiados, a internet, tal como as tecnologias 
digitais em geral, poderá ter uma fresta por onde passe a luz da liberdade se a 
sociedade compreender que há necessidade absoluta de alterar a mentalidade e a 
concepção dos direitos de propriedade face à criação de software, deixando livre o 
acesso aos seus códigos fonte para que possam ser alterados e, desse modo, 
escapar ou pelo menos dificultar a vontade de controlo dos sectores dominantes da 
sociedade. 
Tal como diz Castells, “uma ideologia libertária muito abrangente, em conjunto com um 
grau de controlo cada vez maior”, caracterizam os tempos que correm na Era da 
Internet e da comunicação global mediatizada. Assim, será importante exercer 
resistência, pelos meios próprios das instâncias que a sociedade foi criando, operando 
a partir do conhecimento adquirido pelas comunidades científicas bem intencionadas e 
pela confrontação institucional dos agentes políticos. 
Castells faz uma apologia, que eu subscrevo, no sentido de pensarmos numa 
“estratégia de desarmamento mútuo garantido”, em que quer os cidadãos quer os 
governos deveriam criar uma forma de controlar a rede global a partir das bases, 
numa mentalidade de transparência face às documentações governamentais que não 
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colocam problemas de segurança nacional, e criando regras de conduta numa base de 
confiança nos cidadãos para que estes também possam aumentar (recuperar) a sua 
confiança em quem os governa. Nesse ambiente de confiança nos políticos e nas 
políticas, seriam os próprios cidadãos comuns a aceitar e mesmo a solicitar a criação 
de certos mecanismos de controlo que apenas seriam benéficos na medida em que 
contribuiriam para a sua própria segurança e consequente liberdade. 
 
 
 
Multimédia e Internet 
O hipertexto para lá da convergência 
Um aspecto interessante na “vida” da internet tem a ver com a tentativa de 
convergência deste meio com outros meios, como a televisão, por exemplo. Segundo 
o que o autor nos confirma e a realidade existente no momento, essa convergência 
não é fácil por razões de ordem tecnológica e económica. 
Por um lado, a largura de banda ainda prevalecente na maior parte da geografia da 
rede não é suficiente para garantir qualidade na transmissão de conteúdos vídeo 
através da internet e muito menos transmissões televisivas em tempo real, por outro 
lado o aumento da largura de banda talvez não compense economicamente, uma vez 
que, e aqui é que está o ponto interessante, está comprovado que o público não quer 
mais conteúdos de entretenimento do que aqueles que existem na televisão e 
preferem usar a internet para fins mais relacionados coma informação. Esta distinção 
na procura é, de facto, interessante de analisar, pois verifica-se que as empresas 
multimédia precipitaram-se na previsão de algo que o público não tem vontade de 
adquirir pela internet dado o excesso de “infoentretenimento” (p. 237) existente nos 
outros média. 
Apesar de este casamento, por enquanto, não estar a resultar, há no entanto 
fenómenos importantes salientados pelo autor em que se percebe o quanto a internet 
tem influenciado os outros sectores dos media. Concretamente, a circulação de 
música, através de processos peer to peer, que faz com que as editoras discográficas 
tenham de rever a sua forma de operar, vergando à força esmagadora com que a 
troca de ficheiros MP3 se tem generalizado, adoptando sistemas de venda avulsa de 
música pela internet; a indústria da pornografia teve de desviar, em certa medida, o 
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seu ramo de negócio dos meios tradicionais, como a televisão, os clubes vídeo, as 
revistas e o telefone, para a internet pelo facto de esta ter maior ubiquidade e conferir 
maior privacidade ao utilizador; os videojogos, apesar de continuarem a “viver bem” 
nos CD-ROM, DVD-ROM e consolas com resoluções gráficas de qualidade superior 
às possíveis através da rede, também têm sido generalizados na internet para assim 
permitirem a interactividade online e as relações de sociabilização através da criação 
de comunidades online; a rádio, apesar de não poder deixar de operar através das 
ondas hertzianas sob risco de deixar de ser rádio, teve também de aderir à rede 
global, ainda que para cumprir o objectivo de servir o “local”, uma vez que, através de 
uma rede que a leva a qualquer recanto do mundo, pode aí debitar informação sobre 
contextos locais bem definidos, sendo este talvez um dos aspectos mais interessantes 
de aproveitamento da rede global para satisfazer interesses de identidade local; os 
jornais, que perderam muita da sua força com a televisão, tendem a manter-se nos 
seus formatos online para que, pelo menos, o utilizador da internet não se esqueça 
deles e, pela credibilidade da informação que eles acabam por ter face a outras fontes, 
acabam por não perderem nada com a sua divulgação, ainda que limitada, na rede 
digital; a indústria livreira, que a princípio se pensava que iria ser fortemente 
penalizada pela internet, percebe-se que apenas poderá tirar daí (da internet) 
benefício, nomeadamente através de processos publicitários mais eficazes, devendo 
talvez apostar na publicação online de manuais, dicionários e enciclopédias, tal como 
as revistas,sobretudo as de carácter científico e académico, que tendem, cada vez 
mais, a ver-se em formatos digitais online, verificando-se, no entanto, que o livro em 
formato de papel continua a ser o meio mais desejado pela sua portabilidade e, 
sobretudo, porque não depende da electricidade nem da electrónica para ser 
“consumido”; finalmente, Castells aponta a arte como sendo aquela área cultural que 
mais está a ser afectada, na medida em que a internet tem sido um extraordinário 
meio de proporcionar o contacto visual com a pintura, escultura, arquitectura a faixas 
de população que, de outra forma, nunca o poderiam ter, e, para além disso, a própria 
substância dos suportes expressivos está também a alterar-se passando-se do 
conceito de arte pictórica para o conceito de arte digital. 
Não há, pois, aqui uma convergência dos media com a internet, há, antes, uma 
apropriação mútua, mostrando a internet como um meio, acima de tudo, de 
comunicação e menos de entretenimento, transversal a todas as áreas da cultura, e o 
canal privilegiado para a liberdade, espontaneidade, interactividade, autonomia e 
colectivização da expressão. 
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Para lá já da convergência dos media, Castells retoma a ideia de hipertexto e o sonho 
de Ted Nelson em encontrar um processo de colocar ao dispor de todos toda a 
informação escrita no mundo. Assim, segundo Castells, não existe um hipertexto 
global, mas sim um hipertexto de cada um, fora do mundo multimédia, na medida em 
que cada um de nós tem a possibilidade de seleccionar e recombinar as expressões 
da cultura global, que atravessa a internet, dando-lhes novos significados e criando, 
quem sabe, novos modos culturais. 
Porém, esta capacidade hipertextual individual pode também significar um certo grau 
de autismo, que em nada contribui para aquilo que mais interessa na expressão 
cultural da liberdade. Uma cultura só sobrevive, ou melhor, só encontra sentido na 
comunidade, enquanto a liberdade só o encontra no individual. 
Assim, e uma vez que a cultura depende da comunicação, esta tem necessidade de 
recorrer a mecanismos de ligação entre o indivíduo e a sociedade enquanto sistema 
cultural, ou seja, “a comunicação depende principalmente da existência de protocolos 
de significado” (p. 241), sendo um desses protocolos a arte que, embora possa partir 
de expressões íntimas, estabelece-se no meio de áreas de significado comum e eleva 
o ser humano para lá das experiências particulares, assumindo-se como “um 
instrumento de reconstrução social” (p. 242). 
 
A Geografia da internet 
Locais ligados em rede 
A geografia da internet torna-se numa geografia própria ao redimensionar e 
condicionar os lugares onde se concentram os seus aspectos técnicos, os seus 
utilizadores e produtores e os seus actores económicos. 
Do ponto de vista técnico, Castells, através de estudos de outros autores, demonstra 
que a maior concentração de servidores e de nós conectores de outras redes se 
encontra nos Estados Unidos da América e na Europa, fazendo com que o grande 
fluxo de informação que circula na internet passe sempre e necessariamente por estas 
duas regiões do mundo, embora, actualmente a tendência seja para alargar o espectro 
a outras zonas do globo. 
 Ao nível dos utilizadores, outros estudos apontam também para uma hegemonia dos 
EUA, Austrália e Europa, embora aqui também se verifique um desequilíbrio a favor 
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dos países escandinavos face aos países mediterrânicos e, depois para outras zonas, 
nomeadamente a zonas do sudeste asiático, Japão e África do Sul. 
Assim, verifica-se que a geografia da internet distribui-se de acordo com o 
desenvolvimento desigual das infraestruturas tecnológicas, da riqueza e da educação, 
ou seja, a internet ganha cada vez mais espaço nos espaços do poder, seja ele 
político, económico ou científico-cultural, fazendo coincidir a sua geografia com a 
geografia do desenvolvimento e do poder. 
Por outro lado, ao nível económico, a geografia da internet torna-se ainda mais 
selectiva, tendo em conta a cada vez maior concentração de empresas que giram à 
volta da internet e das tecnologias em determinados espaços fisicamente geográficos 
dando lugar a novas geografias económicas e sociais desenvolvidas nas periferias das 
grandes áreas metropolitanas, nomeadamente, nos EUA, fazendo pesar o prato da 
balança da e-economia para aquele lado do mundo. Tal como diz o autor, “a geografia 
económica da internet é, em grande medida, a geografia dos fornecedores de 
conteúdos Internet” (p. 251). 
Deste modo, dá-se um desequilíbrio entre a concentração espacial dos produtores de 
conteúdos internet e os utilizadores, gerando uma assimetria que convém debelar para 
que as tendências hegemónicas de quem decide e produz os conteúdos internet dêem 
lugar a uma estrutura mais plana condizente com os princípios igualitários da rede. 
Outro factor importante para analisar a geografia da internet é o da crescente 
urbanização que se está a dar num ritmo absolutamente louco e da concentração 
metropolitana de indústrias e de pessoas. Nas metrópoles, a densidade cultural é de 
tal forma que o autor questiona-se sobre se não será paradoxal que, numa era das 
tecnologias e da redução virtual das distâncias, o fenómeno de atracção das 
populações para as grandes metrópoles seja cada vez mais assustador, encontrando 
razões na crise dos sectores agrícolas e extractivos por conta de um enorme (talvez 
exagerado) aumento da produtividade económica. A internet não pode contribuir para 
o desejável abrandamento desse fenómeno, porque nas zonas rurais não existem 
investimentos nas infraestruturas tecnológicas necessárias. Pelo contrário, essas 
infraestruturas cada vez mais se desenvolvem nas áreas urbanas, fazendo, assim, a 
internet acompanhar, a par e passo, o fenómeno demográfico mundial. E mais uma 
vez os desequilíbrios acontecem, dando primazia ao desenvolvimento dos centros 
onde a inovação cultural, o conhecimento e a informação se geram, se moldam e se 
repercutem pelos nós da rede digital electrónica, levando à criação de “uma 
nodalidade, baseada na geometria reticular” (p. 267). 
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Esta nodalidade, por sua vez, configura uma nova realidade em que os espaços de 
trabalho são cada vez mais reduzidos e menos definidos geograficamente. O 
teletrabalho, realizado através da internet e de outras tecnologias móveis, faz com que 
os trabalhadores utilizem o seu local de trabalho muito pouco tempo ou, simplesmente, 
nem sequer o conheçam. 
 
A infoexclusão 
Uma perspectiva global 
Começando por apresentar o conceito de info-exclusão, Castells aponta-nos o 
exemplo dos EUA para demonstrar como a internet, na sua primeira década de 
implementação da World Wide Web, se desenvolve num ambiente de diferenças entre 
géneros, idades, raças e, sobretudo, classes económicas. Na verdade, a internet não 
aparece acessível para todos da mesma forma e com a mesma cara, tendo em conta 
que ela implica pré-requisitos, tais como capacidade económica, conhecimento, 
situação geográfica e domínio da língua inglesa. 
No entanto, a tendência para o esbatimento dessas diferenças é visível, através da 
redução do preço dos equipamentos e do aumento das zonas e nós de acesso, 
embora se reconheça que há sempre ricos e pobres e, neste caso, os mais pobres, 
por não terem acesso, tornam-se ainda mais marginais ao sistema.Mas sabemos 
também que eles apenas são marginais do ponto de vista activo, porque em termos 
passivos continuam a depender do sistema. E aqui, o sistema é perverso na medida 
em que os mantém dependentes mas afastados do seu acesso. 
Passando para a Europa, a geografia da inclusão e exclusão aponta para um 
fenómeno de grande inclusão nos países escandinavos contra uma baixa taxa de 
acesso nos países do sul. Porém, na Europa também o quadro está a mudar no 
sentido de uma maior generalização do acesso, embora a situação da marginalidade 
se observe também nesta região do mundo. 
Outra forma de info-exclusão que o autor refere é aquela que se relaciona com a 
configuração, em termos de conteúdo e de tecnologia, que os primeiros utilizadores 
fizeram da internet e que, naturalmente, vem a condicionar a utilização daqueles que, 
pelas razões já apontadas, chegam mais tarde. Embora, como já foi dito antes, a 
internet tenha sido gerada num ambiente de abrangência e espírito libertário, ela 
acaba por deixar visíveis as marcas de uma elite cultural que a formatou e que nem 
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sempre se adequa aos traços sócio-culturais dos novos utilizadores. Deste modo, 
talvez se processe uma “aculturação” ou uma inclusão, que resulta da necessidade, 
mas que pode fazer transparecer uma outra exclusão: cultural. 
Nesta forma de exclusão, também se pode incluir o facto de, do ponto de vista 
tecnológico, começar a haver diferenciação no acesso. À medida que o acesso se vai 
generalizando, ele começa também a distinguir-se pela qualidade e pela velocidade, 
fazendo com que haja acessos de primeira e de segunda qualidade que, 
consequentemente, têm custos diferentes e, por isso, níveis de utilização sócio-cultural 
diferentes. Começa, pois, a existir também a internet dos ricos e a internet dos pobres. 
Outro contexto de info-exclusão a que Castells faz referência prende-se com o mundo 
da educação e com a forma como a escola está a encarar a integração nesta galáxia. 
Sendo a internet um sistema de comunicação e informação, e estando cada vez mais 
o conhecimento “depositado” na rede, o mais importante, em termos de educação, 
está em saber como aceder ao conhecimento e como transformá-lo em acção. Para 
isto, a escola tem de, necessariamente, alterar os seus modos de operar, ainda muito 
baseados na transmissão unívoca e nem sempre muito direccionada para as reais 
necessidades de vida dos cidadãos. 
Segundo Castells, a info-exclusão toca os sistemas educativos em quatro níveis 
diferentes. Diferenciação na dotação tecnológica das escolas; diferenciação na 
distribuição da qualidade dos professores por escola; diferenciação de sistemas e 
estilos pedagógicos entre escolas, opondo os sistemas que favorecem o 
desenvolvimento intelectual e pessoal dos alunos face aos que privilegiam os aspectos 
disciplinares e a manutenção dos alunos no sistema; diferenciação entre a deficiente 
ou desadequada formação dos professores ao nível da tecnologia educativa e a 
assumpção das famílias na educação, que leva a que só as crianças que vivem em 
meios familiares económica e culturalmente favorecidos possam desenvolver 
aprendizagens baseadas numa cultura tecnológica. 
No entanto, parece que algumas destas situações apontadas pelo autor ocorrem em 
contextos muito determinados (presume-se que se refira aos EUA) e que talvez não 
reflictam bem a realidade do mundo, ainda que nessa realidade se encontrem abismos 
bem mais profundos em termos de info-exclusão. 
Em suma, parece inegável que a internet tem de entrar, necessariamente, no processo 
educativo, mas para isso, há necessidade de se corrigir as diferenças, no sentido de 
todas as crianças poderem ser educadas em “condições intelectuais e emocionais 
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semelhantes” (p. 301), devendo, para isso, a escola ser apetrechada com as 
tecnologias suficientes e adequadas, mas, acima de tudo, com uma mentalidade 
tecnologicamente crítica capaz de saber fazer um bom uso das tecnologias e da 
internet em particular. 
Porém, também é preciso dizer que, se uma parte da info-exclusão reside nas 
situações referentes à educação aqui apontadas, não será talvez a escola a principal 
causa desses desequilíbrios porquanto a escola também é uma parte da dimensão 
conjuntural política, económica, social e cultural, e tudo o que no sistema educativo se 
desenvolve só pode ser analisado à luz do que decorre nos sistemas políticos, 
económicos, sociais e culturais. 
Percebe-se que quanto mais o mundo se envolve num processo tecnológico de 
desenvolvimento económico, político, social e cultural, baseado na rede digital 
electrónica, mais afastada do desenvolvimento favorável fica a grande faixa 
populacional desse mesmo mundo, afinal. 
Segundo o autor, os países que até agora mais afastados têm estado deste processo 
de evolução terão de efectuar esforços enormes no sentido de tentarem acompanhar o 
ritmo veloz dessa corrida, já que se torna impossível, num mundo dominado pela rede, 
negá-la e sair dela optando por esquemas económicos paralelos e marginais. Se a 
internet é, indubitavelmente, a força motriz da nova economia, só nos resta conhecê-la 
para a dominarmos, nos seus excessos e nas suas perversidades. 
Se a internet foi criada num ambiente de prodigalidade de acessos em que o seu 
sentido era encontrado na satisfação das massas, aos poucos, ela tem vindo a ser 
apropriada, nos seus recursos tecnológicos, pelas elites cultural e economicamente 
mais favorecidas, fazendo com que as faixas de população com menor índice de 
conhecimento fiquem mais afastadas do seu acesso, mas sempre dependentes da sua 
existência, porque, citando mais uma vez o autor, “ a Internet é o tecido das nossas 
vidas” (p.15), e desta verdade, ainda que desconhecida por mais de metade da 
população do mundo, já ninguém se livra. 
Castells analisa o grau de desigualdade existente entre as populações das diferentes 
partes do mundo, encontrando diversas razões para esse aumento da distância 
económica e social: a ligação em rede faz com que a nova economia se processe a 
uma velocidade que outras formas de produção não conseguem acompanhar, 
marginalizando-se ou mesmo desintegrando-se e gerando pobreza; a qualidade 
educativa suportada por meios tecnológicos, informativos e pedagógicos distribui-se 
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de forma assimétrica pelo mundo, assim como os sistemas de telecomunicações 
também se diferenciam muito, consoante a geografia económica, levando a que as 
infraestruturas e a densidade de utilização sejam francamente notórias nos países 
mais pobres; as variações dos mercados financeiros, dependentes da rede, bem como 
as oscilações das moedas nacionais, também remetem sectores da população para 
níveis de inferioridade económica; o êxodo das zonas rurais, devido à falta de 
implementação e esquecimento dos sistemas agrícolas tradicionais, provoca 
avalanches populacionais nos grandes centros urbanos, engordando as faixas 
periféricas com gente que apenas sobrevive com as migalhas que a nova economia 
vai deixando cair; o aumento de poder das instituições supranacionais que 
condicionam os próprios governos relativamente às suas políticas económicas e de 
desenvolvimento, ameaçando cada vez mais a mentalidade da contratualização 
colectiva do trabalho, orientando-se para formas individuais de compromissos com o 
trabalho e as forças empregadoras; a corrupçãoe outras formas de crime, chamado 
de “colarinho branco”, em que a internet também é usada para branqueamentos de 
capitais; a falta de legitimidade que grande parte dos governos tem e que leva ao 
enfraquecimento das instituições políticas que, por sua vez, nada fazem para o 
entrosamento das populações com os novos modos de desenvolvimento; o banditismo 
organizado, resultante da desintegração e fraqueza política das governações, que leva 
ao despoletar de guerras civis e outros conflitos, doenças e catástrofes alimentares. 
Por tudo isto, a economia baseada na internet acaba por evidenciar as redes mais 
dinâmicas e segregar aqueles sectores que, por força dessa circunstância, se vêem 
obrigados a enveredar por sistemas económicos informais que rondam o ilícito. 
Tal como diz Castells, “a info-exclusão fundamental não se mede pelo número de 
ligações à Internet, mas sim pelas consequências que tanto a ligação como a falta de 
ligação comportam” (p. 311), tendo em conta que, mais do que uma tecnologia, ela 
constrói uma geografia do poder e gera conhecimento e competências que tanto 
podem contribuir para um nivelamento universal das economias e das estruturas 
sócio-culturais como fragmentar ainda mais o planeta fazendo aumentar as 
disparidades dessas mesmas estruturas. Tudo depende da capacidade humana para 
melhorar os seus sistemas de aprendizagem e de geração de conhecimento, para 
criar sistemas políticos eficazes, legítimos, transparentes e credíveis, que, por sua vez, 
sejam capazes de proporcionar condições para o desenvolvimento de sistemas 
económicos socialmente justos e integradores, baseados em valores sociais e 
devidamente integrados nas redes globais, aproveitando os seus melhores recursos. 
26
 Recensão
–
A
Galáxia
Internet










































































Fátima
Bessa



 
Conclusão 
Em conclusão, para que a Internet não seja o monstro criado pelo homem e que está 
pronto para devorar o seu criador, teremos que actuar no contexto que ela gera, 
aceitando os desafios que ela própria nos propõe. 
Não vale a pena lutarmos contra os moinhos tecnológicos, mas sim tentarmos 
encontrar neles o vento favorável para manter a liberdade e a capacidade de agir no 
sentido de afastarmos o “sentimento pessoal de perda de controlo, de aceleração das 
nossas vidas, de nos encontrarmos submersos numa corrida sem fim em direcção a 
uma meta desconhecida” (pp. 318-319), tal como o autor aponta ao referir-se aos 
receios legítimos dos potenciais efeitos nocivos da internet. 
 Perante os enormes desafios que a sociedade em rede nos coloca, Castells relembra 
que só a responsabilidade individual de cada um de nós em fazer valer os nossos 
direitos e deveres na consecução de objectivos que perspectivem uma ecologia social 
transparente, livre e igualitária, aliada à responsabilidade dos governos e de todas as 
instituições públicas e privadas em assegurar uma verdadeira representação baseada 
na legitimidade, na transparência, na comunicação e na justiça social, poderá garantir 
uma participação inclusiva nas actividades humanas realizadas no contexto da rede 
tecnológica. O contrário, não garante que a rede se desvaneça, apenas fortalece mais 
os nós que ligam os poderosos. 
 
Castells,
Manuel

(2001),
A
Galáxia
Internet:
Reflexões
sobre
Internet,
Negócios
e

Sociedade.
(2ª
Edição)

Lisboa:

Fundação
Calouste
Gulbenkian.

325
pp.

ISBN:
978‐972‐31‐1065‐4

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