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- A Teoria do Declínio do Traço sugere que a informação armazenada na Memória de Curto Prazo (MCP) desaparece com o tempo, a menos que seja repetida. Esta teoria foi investigada pelos estudos de Brown (1958) e Peterson & Peterson (1959), que demonstraram como é que o esquecimento ocorre devido à passagem do tempo. Os estudos mostraram que a informação na Memória de Curto Prazo desaparece rapidamente se não for repetida, com um declínio significativo em apenas 18 segundos. Isto reforça a ideia de que o esquecimento na MCP ocorre devido à ação do tempo e não necessariamente pela interferência de novas informações. Para testar esta teoria, foi desenvolvido o paradigma Brown- Peterson, que consistia no seguinte procedimento: • Apresentação de trigramas verbais: os participantes recebiam sequências de três letras ou três números (exemplo: "XRP" ou "728").; • Intervalo de Retenção: após a apresentação dos estímulos existia um intervalo de retenção, que podia demorar 3, 6, 9, 15, ou 18 segundos, durante o intervalo realizavam uma tarefa distrativa; • Tarefa distrativa: para impedir a repetição mental do trigrama, os participantes eram solicitados a contar de trás para frente em intervalos de três números (por exemplo, começando no 329: "326, 323, 320..."); • Evocação serial: após um determinado tempo, os participantes tentavam lembrar-se do trigrama original. Uma das instruções da experiência destacava o conforto dos participantes. ~ Os dois estudos apresentaram algumas diferenças no modo como aplicaram os testes: • Brown: utilizou múltiplos ensaios por tarefa, ou seja, os participantes repetiam a tarefa várias vezes; • Peterson & Peterson: aplicaram um ensaio único, onde cada participante realizava apenas uma tentativa por trigrama. Ambos os estudos analisaram os mesmos fatores experimentais: • Intervalo de retenção: o tempo entre a apresentação do trigrama e o momento de evocação; • Tipo de tarefa distrativa: o método usado para impedir a repetição mental da informação; • Possibilidade de repetição: se os participantes tinham ou não a oportunidade de reforçar a memória antes da tarefa distrativa. Os dois estudos observaram um declínio progressivo na memória conforme o tempo de retenção aumentava: Tempo de Retenção (segundos) Taxa de Evocação (%) 3 segundos 80% 6 segundos 50% 18 segundos 10% Isto demonstra que, quanto maior o tempo de espera, ou seja, o intervalo de retenção, menor era a capacidade dos participantes de relembrar os trigramas. Processos Psicológicos Básicos Os estudos concluíram que: • O esquecimento ocorre devido à passagem do tempo, quando não há repetição da informação (declínio do traço); • A duração da informação na MCP é de aproximadamente 18 segundos, se não for reforçada. • Há uma diferença clara entre a capacidade da MCP e da MLP, já que a MLP permite retenção por períodos muito mais longos. • Uso exclusivo de estímulos verbais: o estudo focou-se em letras, estímulos verbais sem significado e números, ignorando outros tipos de memória; contudo, ao usarmos palavras ou frases com sentido, a informação pode durar até 30 segundos, ao contrário de estímulos sem sentido, que se esquecem mais rápido; • Baixa validade ecológica: as condições da experiência eram muito artificiais, o que pode limitar sua aplicação ao dia a dia, onde as memórias são formadas em contextos mais complexos. A Teoria da Interferência Proativa (IP) sugere que o esquecimento na MCP ocorre não apenas devido à passagem do tempo, mas também por causa da intrusão de informações antigas, que interferem na retenção de novas informações. Este tipo de interferência é chamado de proatividade, pois informações previamente armazenadas dificultam a aprendizagem de novos conteúdos semelhantes. Essa teoria foi estudada por Keppel & Underwood (1962) e Wickens, Born & Allen (1963); Wickens (1973), que investigaram como a semelhança entre os itens influencia a interferência e o esquecimento na MCP. Para testar a interferência proativa, Wickens desenvolveu uma experiência baseado no paradigma Brown-Peterson, com algumas adaptações. O procedimento seguiu estes passos: 1. Apresentação de estímulos: os participantes recebiam trigramas (sequências de três letras ou números) para memorizar; 2. Intervalo de retenção: um curto período era inserido antes da evocação, com uma tarefa distrativa tinha uma duração de 20 segundos; 3. Evocação serial: os participantes tentavam relembrar os trigramas apresentados. 4. Repetição do processo em 3 ensaios: durante três tentativas consecutivas, os itens pertenciam à mesma categoria semântica (ou seja, eram semelhantes entre si, por exemplo palavras que significavam frutos); 5. Mudança na categoria semântica no 4º ensaio: no último ensaio, os participantes recebiam itens de uma categoria diferente, (por exemplo peças de vestuário ao invés dos frutos). Os pesquisadores identificaram dois principais efeitos: 1. Interferência Proativa (IP) – Acúmulo de informações antigas: quando os três primeiros testes usavam itens da mesma categoria (por exemplo, todos animais), lembrar tornava-se cada vez mais difícil. Isto acontecia porque os itens anteriores atrapalhavam a lembrança dos novos, as memórias antigas interferiam nas novas. 2. Libertação da Interferência Proativa – Alívio da interferência: no quarto teste, ao mudar para uma categoria diferente (por exemplo, de animais para profissões), a recordação melhorou bastante. Esta mudança de tema ajudou a reduzir o efeito das memórias anteriores, facilitando a lembrança dos novos itens. Os resultados confirmaram que: • O esquecimento na MCP não ocorre apenas pela passagem do tempo (como sugere a Teoria do Declínio do Traço), mas também pela acumulação da Interferência Proativa, onde as informações antigas prejudicam a retenção de novas informações semelhantes (intrusão); • Quanto mais semelhantes forem os itens memorizados, maior será a interferência e mais difícil será a recordação; • A mudança na categoria semântica dos itens reduz a interferência, melhorando a recuperação da memória (libertação da IP). A Interferência Proativa explica porque é que temos dificuldade em relembrar informações novas quando são muito parecidas com as que já conhecemos. Este efeito é particularmente relevante em situações como: • Aprendizagem de novas línguas (confusão entre palavras semelhantes); • Memorização de passwords ou números de telefone (troca entre sequências parecidas); • Estudos e aprendizagem (dificuldade em distinguir conceitos semelhantes). Esta teoria sugere que uma forma eficaz de melhorar a memória é variar os conteúdos estudados, reduzindo a interferência e controlando os efeitos da intrusão de informações passadas. A Teoria do Declínio do Traço explica o esquecimento na MCP pela ação do tempo, enquanto a Teoria da Interferência Proativa (IP) destaca o efeito da intrusão de informações antigas na retenção de novos conteúdos. Juntas, mostram que o esquecimento não ocorre apenas pela passagem do tempo, mas também pela interferência entre informações semelhantes, sendo ambas fundamentais para compreender os processos de memória. O efeito de posição serial refere-se à forma como as informações são lembradas dependendo de sua posição na sequência de apresentação. Este efeito está relacionado com o esquecimento e a recuperação de informações da memória de curto prazo (MCP) e da memória de longo prazo (MLP), mostrando como as posições iniciais e finais de uma lista influenciam a recordação. Enquadramento: • Esquecimento e Recuperação: a memória de curto prazo esquece rápido, enquanto a de longo prazo retém por mais tempo, influenciando a lembrança conforme a posiçãodos itens na sequência; • Controvérsia sobre Unicidade vs. Multiplicidade: existe um debate sobre se a memória de curto e longo prazo se são sistemas distintos ou se existem múltiplos sistemas de memória que interagem entre si. Casos como os de H.M., K.F. e Clive Wearing oferecem evidências de dissociação entre a memória de curto prazo e a memória de longo prazo: • H.M. e Clive Wearing tinham dificuldades com a memória de longo prazo, mas conseguiam recordar informações de curto prazo. Isso sugere que as memórias de curto e longo prazo podem ser processadas de maneira independente; • K.F. tinha a memória de curto prazo comprometida, mas ainda conseguia reter informações na memória de longo prazo. Este caso indica que os sistemas de memória podem ser dissociados e funcionarem de forma independente. Murdock (1962): investigou como a posição das palavras numa lista afetava a capacidade de recordação. Os participantes foram apresentados a uma lista de palavras e depois solicitados a recordá-las por ordem livre (evocação livre). A pesquisa revelou que os participantes se lembravam mais das palavras no início da lista (efeito de primazia) e no final da lista (efeito de recência). • Efeito de Primazia: as palavras no início da lista eram mais lembradas porque eram transferidas para a memória de longo prazo, onde são armazenadas de forma mais duradoura; • Efeito de Recência: as palavras no final da lista eram mais lembradas porque ainda estavam na memória de curto prazo, sendo mais acessíveis logo após a apresentação. O estudo demonstrou que as informações apresentadas no início e no final de uma sequência são mais fáceis de serem lembradas, sendo o efeito de primazia relacionado à memória de longo prazo e o efeito de recência à memória de curto prazo. Glanzer e Cunitz (1966): exploraram o efeito de recência, focando na memória de curto prazo. Os participantes realizaram uma evocação livre imediata e diferida, com um intervalo de 30 segundos durante uma tarefa distrativa (como contar para trás). O efeito de recência desapareceu após a tarefa, indicando que a memória de curto prazo, responsável pela retenção temporária, estava envolvida na recordação das últimas palavras. O estudo confirmou que, ao interromper a memória de curto prazo, o efeito de recência desapareceu, destacando o papel crucial dessa memória na recordação das palavras finais. Bjork & Whitten (1974): investigaram o efeito de recência em condições com intervalos de retenção diferentes (12 segundos e 12+30 segundos). Apresentaram uma lista de palavras, seguidas por intervalos de retenção variados, e pediram aos participantes que recordassem o máximo possível. O estudo concluiu que o efeito de recência não é exclusivo da memória de curto prazo, mas está relacionado à acessibilidade dos itens. As palavras mais recentes permanecem mais acessíveis, pois continuam ativas na mente, mesmo após o intervalo de retenção, facilitando sua recordação, desde que não haja uma tarefa distrativa. O efeito de posição serial mostra como a memória de curto e longo prazo trabalham de forma complementar, com a memória de curto prazo lembrando as informações mais recentes (efeito de recência) e a memória de longo prazo, as mais antigas (efeito de primazia). A interferência e acessibilidade são fundamentais, sendo a recência mais relacionada à ativação da informação do que a um tipo específico de memória. Estes estudos explicam como ambas as memórias facilitam a recordação, com a posição dos itens na sequência sendo um fator importante. O Modelo Multicomponencial de Memória de Trabalho foi proposto por Baddeley & Hitch em 1974 e evoluiu ao longo dos anos, sendo revisto por Baddeley em 2000. Este modelo é uma resposta ao Modelo Modal de Atkinson & Shiffrin (1968), que sugeria que a memória de curto prazo (MCP) funcionava como uma simples "caixa de armazenamento". O modelo de Baddeley e Hitch, por outro lado, vê a Memória de Trabalho como um sistema ativo e dinâmico, que não apenas armazena informações, mas também as processa. O Modelo Modal de Atkinson & Shiffrin (1968) foi o primeiro a descrever a memória de curto prazo como um sistema simples de armazenamento. No entanto, Baddeley & Hitch propuseram uma visão mais complexa, a memória de trabalho funciona como um sistema com vários componentes que não apenas armazenam, mas também processam informações. A pergunta central passou a ser: o que a memória de curto prazo realmente faz? Concluíram que ela não serve só para guardar dados temporariamente, mas também para manipular essas informações em tarefas cognitivas como pensar, compreender e aprender. O modelo multicomponencial propôs que a memória de trabalho fosse um sistema que não só retém informações, mas também as manipula temporariamente, para que possam ser usadas em tarefas cognitivas mais complexas. Os principais componentes do modelo incluem: • Executor Central: controla a atenção e coordena os outros sistemas; • Loop Fonológico: processa informações verbais e auditivas através da repetição; • Bloco de Notas Visuo-Espacial: processa informações visuais e espaciais (como formas e localizações); • Buffer Episódico (adicionado posteriormente): integra diferentes tipos de informação, ligando a memória de trabalho à memória de longo prazo. Este modelo é uma visão mais dinâmica e multifacetada da memória, ao contrário da abordagem mais simples de armazenamento apresentada pelo Modelo Modal. Descreve como a memória de trabalho não apenas armazena, mas também processa a informação, essencial para a realização de atividades cognitivas complexas. O modelo evoluiu para mostrar que a memória de trabalho tem vários componentes que trabalham juntos para controlar e usar ativamente as informações. É o “gestor” da memória de trabalho. Não guarda informações, mas controla a atenção, decide o que deve ser feito e para onde a informação deve ir. Principais funções: • Focar a atenção em tarefas relevantes; • Distribuir os recursos mentais de forma eficiente; • Encaminhar informações para os outros sistemas (como o loop fonológico ou o bloco visuo-espacial). É essencial para manter o sistema organizado enquanto lidamos com tarefas cognitivas complexas. Responsável por manter e processar informações verbais e auditivas, a informação é mantida por aproximadamente 2 segundos sem repetição. Tem duas partes: • Armazenamento fonológico: guarda sons por cerca de 2 segundos; • Processo articulatório: repete mentalmente a informação para mantê-la ativa. Principais evidências experimentais: • Semelhança acústica: dificulta a memorização (ex.: palavras parecidas como "pato" e "bato"); • Supressão articulatória (ex.: repetir "la-la-la") atrapalha a repetição interna; • Comprimento das palavras afeta a retenção, palavras curtas são mais fáceis de lembrar. É essencial para tarefas como lembrar números, ler em voz baixa ou manter frases na mente durante uma conversa. Responsável por armazenar e processar informações visuais (o que vemos) e espaciais (onde as coisas estão e como se movem). Funções: • Informação visual: armazena características como formas, cores e padrões; • Informação espacial: guarda a posição, orientação e movimento dos objetos. Principais evidências: • Interferência visual: tarefas visuais competem entre si (ex.: lembrar padrões enquanto observa outros); • Interferência espacial: tarefas espaciais também interferem entre si; • Sem interferência: não há interferência entre tarefas visuais e verbais. Características: • Duração: cerca de 30 segundos, a menos que seja repetida; • Exemplo de tarefa: Blocos de Corsi, onde é necessário lembrar e repetir padrões visuais. Aplicações: • Planejamento e coordenaçãode movimentos (como em desportos ou atividades motoras); • Navegação e orientação espacial (como usar mapas); • Aprendizagem de sequências e resolução de problemas visuais ou matemáticos. Este componente permite a execução de atividades como reconhecimento de padrões, navegação e coordenação motora. É um componente da memória de trabalho que integra diferentes tipos de informações (como visuais, auditivas e espaciais) para criar uma representação coerente. Funciona como uma "ponte" entre a memória de trabalho e a memória de longo prazo. Funções: • Interface com a Memória de Longo Prazo (MLP): conecta a memória de trabalho com a MLP, permitindo que informações passadas ajudem nas tarefas atuais; • Integração Multimodal (Binding): combina diferentes tipos de informações (som, imagem, espaço) para formar uma memória de eventos completos, como experiências envolvendo múltiplos sentidos. O Buffer Episódico permite que as informações de diferentes sentidos se conectem e sejam armazenadas de forma coesa na memória de longo prazo. Nas pesquisas mais recentes, Baddeley & Hitch ampliaram a ideia do modelo, propondo novas funções e possibilidades de como diferentes tipos de informações são processadas na memória de trabalho. Novas hipóteses: • Bloco de Notas Visuo-Espacial: agora também pode representar sensações táteis, como o toque ao manipular objetos, além das informações visuais e espaciais; • Loop Fonológico: além de processar informações verbais e auditivas, também pode lidar com qualquer informação verbalmente significativa, incluindo a língua gestual; • Buffer Episódico: expandiu-se para integrar informações de múltiplos sentidos, como cheiros e sabores, criando episódios completos que envolvem diversos sentidos. Pesquisas atuais mostram que a memória de trabalho é mais flexível e consegue processar uma variedade maior de informações sensoriais, criando uma experiência mais rica. A Capacidade de Memória de Trabalho, refere-se à quantidade de informação que uma pessoa pode manter e processar ao mesmo tempo. Não se limita apenas ao armazenamento, mas também envolve o processamento ativo dessa informação. A medida da capacidade de memória de trabalho é feita através de tarefas complexas que combinam subtarefas de processamento e retenção de informação. Por exemplo: • Tarefa de Amplitude Operacional (Turner & Engle, 1989): combina o armazenamento de informações com a realização de uma tarefa adicional de processamento; • Tarefa de Amplitude de Leitura (Daneman & Carpenter, 1980): primeira tarefa desenvolvida, envolve lembrar frases enquanto se lê outras; • Tarefas N-back: testa a memória de trabalho ao exigir que se lembre de uma sequência de estímulos apresentados anteriormente A capacidade média da memória de trabalho é de cerca de 4 unidades de informação (com variação de 3 a 5 unidades), sendo essas unidades complexas (por exemplo, palavras ou números). Isto significa que, em média, uma pessoa consegue armazenar e processar cerca de 4 informações simultaneamente de forma eficaz. A memória de trabalho é limitada, e sua medição é realizada por tarefas que combinam armazenamento e processamento de informações. Cowan argumenta que a memória de trabalho tem uma capacidade limitada e específica. Memória a Longo Prazo é a capacidade do cérebro de armazenar informações por longos períodos, de dias a décadas. Permite reter conhecimentos, experiências, habilidades e eventos importantes. Conceitos Fundamentais: • Codificação: processo de transformar a informação num formato que possa ser armazenado; • Armazenamento: retenção da informação ao longo do tempo; • Recuperação: acesso às informações armazenadas quando necessário. A memória pode ser dividida de várias formas, dependendo do critério utilizado: 1. Função da Memória: • Memória Declarativa (Explícita): é consciente e envolve fatos e eventos: o Semântica: conhecimento geral (ex: capital de Portugal); o Episódica: memórias de eventos vividos (ex: última viagem); • Memória Não Declarativa (Implícita): é inconsciente e envolve habilidades e hábitos: o Procedural: como realizar tarefas (ex: andar de bicicleta ou tocar piano); 2. Modalidade Sensorial da Informação: • Memória Visual: relacionada a imagens; • Memória Auditiva: relacionada a sons e palavras; • Memória Tátil: relacionada ao toque e sensações físicas; 3. Duração da Memória: • Memória de Curto Prazo: dura de segundos a minutos; • Memória de Longo Prazo: dura de dias até toda a vida; • Memória Sensorial: dura de milissegundos a poucos segundos, ligada aos sentidos. Esta classificação ajuda a entender como a memória armazena e processa diferentes tipos de informações de maneiras distintas. - Memória Sensorial: primeira fase da memória, retém brevemente informações captadas pelos sentidos. Tipos principais: • Memória Icónica: Relacionada à visão (dura milissegundos). • Memória Ecoica: Relacionada à audição (dura alguns segundos). • Memória Háptica: Relacionada ao tato. • Outros tipos de memória sensorial envolvem olfato e paladar, mas são menos estudados. - Memória de Curto Prazo (MCP): retém uma quantidade limitada de informações por poucos segundos ou minutos. Essencial para tarefas imediatas. Por exemplo, lembrar temporariamente de um número de telefone. Componentes: • Memória Imediata: retém informações verbais (sons, palavras) e visuoespaciais (localização de objetos); • Memória de Trabalho: sistema ativo que não apenas armazena, mas também manipula temporariamente informações. - Memória de Longo Prazo (MLP): armazena grandes quantidades de informação por períodos longos, como dias, anos ou até toda a vida. Classificação: • Memória Explícita (Declarativa) - Consciente: o Memória Semântica: fatos, conceitos e conhecimento geral; o Memória Episódica: eventos e experiências pessoais. • Memória Implícita (Não Declarativa) - Inconsciente: o Memória Procedimental: habilidades e hábitos; o Condicionamento Clássico: associações aprendidas; o Priming: a exposição prévia facilita o reconhecimento de algo; o Aprendizagem Não Associativa: habituação e sensibilização. – A MLP é caracterizada pelo seu armazenamentos duradouro, uma vez que a informação pode ser mantida por dias, anos ou por toda a vida, e também pela sua grande capacidade, já que não existem limites conhecidos para a quantidade de informação que pode ser armazenada. Funções: • Preservar conhecimento: permite reter fatos, experiências e habilidades ao longo do tempo; • Base para a aprendizagem: fornece suporte para adquirir e aplicar novos conhecimentos. A disponibilidade e acessibilidade (Bjork & Bjork, 1992) são dois conceitos que se referem à maneira como lidamos com a informação armazenada na memória de longo prazo. • Disponibilidade: significa que a informação está armazenada na memória de longo prazo, ou seja, ela existe lá e pode ser acessada no futuro. Por exemplo, saber que aprendeu a andar de bicicleta. • Acessibilidade: é a capacidade de recuperar essa informação. Mesmo que esteja disponível, nem sempre conseguimos acessá-la facilmente, como quando sabemos o nome de um colega, mas não conseguimos lembrar no momento. É o tipo de memória de longo prazo acessada de forma consciente e intencional, usada para lembrar fatos ou eventos. Pode ser evocada voluntariamente por exemplo, responder a uma pergunta do teste ou lembrar onde estivemos ontem. Que é dividida em memória semântica e memória episódica. - Memória Semântica ("knowing"): esta memória está relacionada ao conhecimento geral que temos sobre o mundo. O que caracteriza a memória semântica é que as informações nela contidas não dependem do contexto ou das circunstânciasem que foram adquiridas, ou seja, sabemos algo sem necessariamente lembrar quando ou como aprendemos. A memória semântica é organizada de maneira lógica. Existem diferentes estruturas mentais que a ajudam a ser organizada e acessada: • Rede proposicional: estrutura lógica baseada em unidades de significado (proposições); • Rede semântica: conceitos relacionados por significado; • Esquemas: representações mentais de estruturas organizadas por tema ou situação. Estratégias de Processamento (Craik & Lockhart, 1972): a forma como processamos e retemos essas informações pode ser feita de diferentes maneiras. O processamento pode ser: • Superficial: focar em características físicas ou externas. Este tipo de processamento tende a gerar uma retenção mais superficial; • Profundo: focar no significado real e no conteúdo da informação., o que gera uma retenção mais duradoura. - Memória Episódica (“remembering”): "): está relacionada a eventos e experiências específicas que vivemos. É a memória dos episódios da nossa vida, ligados a um tempo e lugar específicos. Quando nos lembramos de algo, como “o meu aniversário de 12 anos” ou "a minha primeira viagem de avião", estamos a acessar a memória episódica. Subdivisões: dentro da memória episódica, podemos diferenciar dois tipos de memória: • Memória episódica propriamente dita: refere-se a memórias de eventos específicos, como "a viagem para a praia no verão de 2015". • Memória autobiográfica: inclui experiências mais significativas e relacionadas à nossa identidade pessoal, que tem um impacto direto na maneira como nos vemos e nos lembramos de quem somos. Dimensões: a memória episódica pode ser dividida em dois tipos de acessos temporais: • Retrospetiva: refere-se à lembrança de eventos passados, como recordar uma festa de aniversário que aconteceu no ano passado; • Prospetiva: está ligada à memória de algo que deve ser feito no futuro, como lembrar de uma consulta médica marcada para o dia seguinte. Frederic Bartlett foi um dos primeiros a estudar a memória em situações próximas do quotidiano, adotando uma abordagem naturalista, em contraste com os métodos experimentais tradicionais da época, que usavam listas de palavras ou sílabas sem sentido. Para isso, ele utilizou materiais mais complexos e realistas, conhecidos como "estímulos ecológicos", para entender como as pessoas processam e lembram histórias que exigem interpretação e compreensão. • Estímulos “ecológicos”: utilização de materiais realistas e complexos, como histórias populares, que exigem interpretação e compreensão; • Exemplo: uso da história “A guerra dos fantasmas”, um conto nativo norte-americano com elementos culturais estranhos aos participantes britânicos; • Procedimento: participantes liam a história e, após intervalos de retenção (minutos, horas, dias ou semanas), deveriam recontá-la de memória. • Erros de omissão: partes da história eram esquecidas, especialmente os detalhes incomuns ou difíceis de compreender; • Erros de comissão: o Substituições: elementos desconhecidos eram trocados por mais familiares; o Normalizações: os participantes “ajustavam” o conteúdo ao seu contexto cultural; o Inferências: acrescentavam detalhes com base em expectativas ou experiências passadas; o Adições: introduziam elementos não presentes na história original. Estes erros mostraram que a memória não é uma reprodução literal da experiência, mas sim uma reconstrução ativa. A Teoria dos Esquemas, proposta por Bartlett, sugere que nossa memória é organizada por estruturas mentais chamadas esquemas, que são representações genéricas de situações ou experiências passadas. Quando recebemos novas informações, elas são interpretadas com base nos esquemas existentes, o que pode distorcer a memória real. Por exemplo, alguém sem conhecimento sobre "canoas de guerra" pode lembrá-las como "barcos de pesca". Embora os esquemas tornem a memória mais eficiente, eles também a tornam suscetível a erros, pois a recuperação envolve reconstruir experiências com base em fragmentos e preenchimentos feitos pelos esquemas. Apesar de suas ideias terem sido muito influentes, o trabalho de Bartlett também teve limitações: • Limitações metodológicas: o uso de estímulos naturais e ricos em conteúdo (como histórias) tornava difícil controlar variáveis e garantir resultados replicáveis; • Limitações teóricas: como seus conceitos eram mais descritivos do que precisos ou mensuráveis, tornou-se difícil generalizar os resultados ou integrá-los a teorias mais rigorosas da psicologia experimental. Apesar das limitações, os estudos de Bartlett foram pioneiros e abriram caminho para diversas áreas de investigação, como: • Processamento da informação complexa: influenciou o estudo sobre como o cérebro organiza e interpreta material verbal, visual e situacional em contextos reais; • Reconsolidação da memória: Bartlett antecipou, de forma primitiva, a ideia de que a memória pode ser modificada a cada nova evocação, é flexível, e não fixa; • Falsas memórias: a sua teoria ajudou a explicar como podemos lembrar com segurança de coisas que nunca aconteceram, mas que se encaixam bem nos nossos esquemas mentais. Bartlett demonstrou que a memória não funciona como uma gravação exata do passado. Em vez disso, lembramos de forma reconstrutiva, organizando e interpretando a informação com base em esquemas mentais pré-existentes. Isso torna a memória mais adaptativa, mas também sujeita a distorções, especialmente na memória episódica. A memória autobiográfica é a recordação pessoal de episódios vividos, moldada pelos nossos esquemas cognitivos e pela nossa história de vida. Envolve lembranças de acontecimentos importantes, emoções e experiências pessoais. Características principais: • Memória auto-referente: relacionada a fatos e emoções pessoais; • Consciência autonoética: capacidade de reviver mentalmente momentos passados. Pode ser evocada de duas formas: • 1ª pessoa: lembrança mais vívida e emocional; • 3ª pessoa: lembrança mais distante e menos emocional; • Memórias generalistas: eventos repetitivos e quotidianos (ex: uma aula comum); • Memórias específicas: momentos únicos e impactantes, com muitos detalhes; • Memória autobiográfica superior (hipertimésia): capacidade rara de lembrar com precisão quase todos os eventos pessoais, incluindo datas e emoções. • Memórias-cintilantes: lembranças vívidas de momentos impactantes e emocionais, como eventos históricos ou pessoais marcantes (ex: pandemia). Características: o Alto nível de detalhe: onde estava, o que fazia, com quem estava; o Permanência subjetiva: a crença de que são memórias precisas; o Alterações com o tempo: apesar da confiança, estes detalhes podem mudar ao longo do tempo devido a distorções ou esquecimentos. O paradigma de desinformação investiga como a memória pode ser distorcida por informações falsas. Os participantes assistem a um vídeo de um acidente e, em seguida, são questionados com informações enganosas, como usar palavras como "colidiu" ou "bateu", quando os carros apenas se aproximaram. • Efeito da desinformação: a informação falsa nas perguntas pode alterar as memórias dos participantes, demonstrando que a memória não é uma reprodução exata, mas pode ser influenciada por informações posteriores (ex: perguntas sugestivas). • Contribuição de Elizabeth Loftus: pioneira no estudo das falsas memórias, cunhou o termo "falsa memória" para descrever lembranças erradas implantadas nas pessoas. Este paradigma investiga como a imaginação e a sugestão podem criar falsas memórias. Foca na suscetibilidade da memória, ou seja, na tendência de acreditar em informações sugeridas. A pessoa éinstruída a imaginar um evento que nunca ocorreu, como no estudo "Lost in the Mall" de Loftus, Coan & Pickrell (1996), onde se implantou a memória de uma pessoa seper no shopping. Mesmo sem ter acontecido, muitas pessoas "lembram-se" dessa experiência como se fosse real. • Falsas memórias autobiográficas: o estudo demonstra que é possível criar memórias falsas sobre eventos pessoais, baseadas em sugestões ou imaginação, mostrando como a nossa memória pode ser moldada por informações externas. O paradigma da falsa narrativa por informador familiar, explora como as informações falsas podem ser implantadas por pessoas próximas. O participante recebe uma narrativa falsa sobre a sua infância de um informante confiável, como um familiar ou amigo. O informante conta uma história inventada, mas convincente. Após ouvir a narrativa, o participante pode começar a "lembrar" de detalhes que nunca ocorreram, apenas por ter sido sugerido por alguém de confiança. • Exemplos e Implicações: o estudo mostra que as memórias falsas podem ser criadas por fontes próximas, tornando a memória ainda mais suscetível a distorções. Reforça a ideia de que nossa memória não é infalível, e que confiar nas nossas lembranças não garante a sua veracidade. Estes estudos mostram que nossas memórias não são infalíveis e podem ser alteradas por diversos fatores, como informação externa, sugestões ou imaginação. A memória, portanto, não é um registo exato, mas uma construção influenciada por muitos elementos.