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Cálculo Diferencial e Integral Tania Nunes Rabello 18 de agosto de 2012 2 Sumário 1 Introdução 1 2 Funções reais de variável real 3 2.1 Operações com funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 2.2 Função composta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 2.3 Função inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 2.4 Paridade e periodicidade de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 2.5 Funções Elementares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12 2.5.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16 2.6 Limite de função de uma variável . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18 2.6.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 2.6.2 Operações com limites . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22 2.6.3 Limites laterais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 26 2.6.4 Limites infinitos e limites no infinito . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 2.6.5 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30 2.7 Continuidade de função de uma variável real . . . . . . . . . . . . . . . . . 32 2.7.1 Lista de exercícos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 3 Diferenciabilidade de função de uma variável 41 3.1 Derivabilidade e diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 3.1.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 3.1.2 Derivada de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 3.2 A aplicação da derivada ao estudo da variação de funções. . . . . . . . . . 52 3.2.1 Estudo de máximos e mínimos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53 3.2.2 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61 3.2.3 Concavidade e pontos de inflexão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 63 3.2.4 Assíntotas e regras de l’Hôpital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 3.3 Fórmula de Taylor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70 3.3.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 4 Integral de Riemann 75 4.1 Primitiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 4.1.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 3 4 SUMÁRIO 4.2 Funções Riemann integráveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 4.2.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 4.3 Métodos de Integração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82 4.4 Aplicações da integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 4.4.1 Área em coordenadas cartesianas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 4.4.2 Área em coordenadas polares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 4.4.3 Volume de sólido de revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 4.4.4 Comprimento de arco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94 4.4.5 Área lateral de sólido de revolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . 95 4.4.6 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96 5 Introdução 1 6 Noções de topologia do Rn 3 6.0.7 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6 7 Funções vetoriais de variável real 7 7.0.8 Limite de funções vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10 7.0.9 Derivada de funções vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13 7.0.10 Integral de funções vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14 7.0.11 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 8 Campos escalares 19 8.1 Limite de campos escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20 8.1.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 28 8.2 Continuidade de campos escalares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 8.2.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 9 Cálculo Diferencial de Campos Escalares 35 9.1 Derivada direcional e derivada parcial de campo escalar . . . . . . . . . . . 35 9.2 Derivadas parciais de ordem superior . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 45 9.2.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 9.3 Diferenciabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 9.3.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65 9.4 Diferenciabilidade de campos compostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 9.4.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72 9.5 Conjuntos de nível e planos tangentes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73 9.5.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79 9.6 Fórmula de Taylor para funções de várias variáveis . . . . . . . . . . . . . 80 9.7 Máximos, mínimos e pontos de sela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87 9.7.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100 9.8 Multiplicadores de Lagrange . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 102 9.8.1 Lista de exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 SUMÁRIO i 10 Integral dupla 119 10.1 Integral Iterada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 122 10.2 Integrais duplas sobre regiões compactas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124 10.2.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 129 10.3 Mudança de variáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 10.3.1 Lista de Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139 ii SUMÁRIO Capítulo 1 Introdução O objeto de estudo desta primeira parte do curso são as funções reais de variável real. Estudaremos nesta disciplina os conceitos de limite, continuidade, derivabilidade e inte- grabilidade de funções reais de uma variável real. O conceito de derivada de uma função num ponto está relacionado com a taxa de vari- ação desta função num determinado instante, por exemplo, a velocidade de uma partícula em cada instante t. Para o estudo da derivada de uma função faz-se necessário o estudo de limite. O conceito de primitiva está relacionado com o conceito de derivada. Alguns autores denominam a primitiva de uma função de anti-derivada, pois a primitiva de uma função f, num intervalo (a, b), quando existe, é uma função F derivável em (a, b) , cuja derivada é f. Ao final deste curso o aluno deverá ter uma compreensão clara do conceito de limite que é fundamental no estudo do Cálculo, ser capaz de avaliar a existência de limite de uma função num ponto, trabalhando com as propriedades de limite, ser capaz de analisar a derivabilidade de uma função num ponto, calculando sua derivada, determinar máximos e mínimos locais e absolutos de uma função e finalmente ser capaz de calcular integrais e primitivas de funções, utilizando os diversos métodos de integração. 1 2 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO Capítulo 2 Funções reais de variável real Como já dissemos as funções reais de variável real são o objeto de estudo do Cálculo, mas como este tópico faz parte do ensino médio, faremos uma breve recordação de alguns conceitos e deixaremos uma lista de exercícios para uma recordação de suas principais propriedades. Definição 2.1 Sejam X e Y conjuntos não vazios. Uma função de X em Y é uma regra que a cada elemento x ∈ X associa um único elemento y ∈ Y. Denotada da seguinte maneira, f : X → Y x �→ y = f(x). Neste caso dizemos que X é o domínio de f e o denotamos por Df , enquanto que Y é o seu contradomínio. Ainda y = f(x) é a imagem do elemento x pela função f.Alguns conjuntos são importantes na definição de função além do domínio e con- tradomínio, a saber: Im f = {f(x); x ∈ X}, Gf = {(x, y) ∈ X × Y ; y = f(x)}. Os conjuntos acima são denominados, respectivamente, imagem de f e gráfico de f. Nota 2.2 Uma função real de uma variável real é uma função cujo domínio e con- tradomínio são subconjuntos de R. 3 4 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Exemplo 2.3 f(x) = 1. Então Df = R e Im f = {1}. E seu gráfico: Exemplo 2.4 f(x) = x2. Então Df = R e Im f = [0,∞). E seu gráfico: Exemplo 2.5 f(x) = √ x− 1. Então Df = [1,∞) e Im f = [0,∞). E seu gráfico: 5 Exemplo 2.6 f(x) = 1 x . Então Df = R\{0} = Im f, cujo gráfico é: Exemplo 2.7 f(x) = ln x. Então Df = (0,+∞), Im f = R e cujo gráfico é: Definição 2.8 Sejam f : Df → R e g : Dg → R funções reais de variável real. Dizemos que f = g se e somente se Df = Dg = D e f(x) = g(x), ∀x ∈ D. Definição 2.9 Sejam f : Df → R e A ⊂ Df . Definimos a restrição de f ao conjunto A, denotada por f |A da seguinte forma f |A : A→ R, tal que f |A (x) = f (x) , ∀x ∈ A. Nota 2.10 Assim, o domínio de f |A é A, diferentemente do domínio de f que é Df . Definição 2.11 Seja f : Df → R, dizemos que f é limitada quando Im f é um subcon- junto limitado de R. Ou seja, se existem m,M ∈ R tais que m ≤ f (x) ≤M, ∀x ∈ Df . Ou equivalentemente, se existe K > 0 tal que |f (x)| ≤ K,∀x ∈ Df . 6 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Definição 2.12 Seja f : Df → R. a) Dizemos que f é estritamente crescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y, tem-se que f (x) < f (y) . b) Dizemos que f é crescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y, tem-se que f (x) ≤ f (y) . c) Dizemos que f é estritamente decrescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y, tem-se que f (x) > f (y) . d) Dizemos que f é decrescente quando, para todo x, y ∈ Df com x < y, tem-se que f (x) ≥ f (y) . Nota 2.13 Quando uma função f satisfaz uma das definições acima, dizemos que f é monótona. Exemplo 2.14 Seja f : R→ R, f (x) = x+1. Então f é monótona pois f é estritamente crescente, já que ∀x, y ∈ R com x < y, tem-se que x+ 1 < y + 1 ⇒ f (x) < f (y) . Exemplo 2.15 Seja f : (0,+∞) → R, f (x) = 1 x . Então f é monótona pois f é estrita- mente decrescente, já que ∀x, y ∈ (0,+∞) com x < y, tem-se que 1 x > 1 y ⇒ f (x) > f (y) . Exemplo 2.16 Seja f : R → R, f (x) = { 1; x < 0 1 x+ 1 x ≥ 0 . Tal função é decrescente, pois ∀x, y ∈ R com x < y < 0 tem-se que f (x) = f (y) e ∀x, y ∈ R com 0 ≤ x < y, tem-se que x+ 1 < y + 1 ⇒ 1 x+ 1 > 1 y + 1 ⇒ f (x) > f (y) . Logo, ∀x, y ∈ R com x < y, tem-se que f (x) ≥ f (y) . 2.1 Operações com funções Consideraremos nesta seção apenas funções reais de uma variável real. Portanto o con- tradomínio será sempre R e o domínio um subconjunto de R, que será denotado por Df para uma determinada função f. Definição 2.17 Sejam f, g funções reais de uma variável real tais que Df ∩ Dg �= ∅ e k ∈ R. Assim definimos: a) f + g : Df ∩Dg → R; tal que (f + g) (x) = f (x) + g (x) , b) fg : Df ∩Dg → R; tal que (fg) (x) = f (x) g (x) , c) f g : {x ∈ Df ∩Dg; g(x) �= 0} → R; tal que ( f g ) (x) = f (x) g (x) , d) kf : Df → R; tal que (kf) (x) = kf (x) . 2.1. OPERAÇÕES COM FUNÇÕES 7 Exemplo 2.18 Considere f : (−∞, 5] → R, g : (1,∞) → R definidas, respectivamente por f(x) = √ 5 − x e g(x) = ln(x− 1). Assim, Df+g = (1, 5] e (f + g) (x) = √ 5 − x+ ln(x− 1), Dfg = (1, 5] e (fg) (x) = √ 5 − x ln(x− 1), Df g = (1, 2) ∪ (2, 5] e ( f g ) (x) = √ 5 − x ln(x− 1) . Vejamos os gráfico de f, g, f + g, fg e f g : Em marrom o gráfico de f e em verde o gráfico de g Gráfico de f + g 8 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Gráfico de fg Gráfico de f g 2.2 Função composta Definição 2.19 Sejam f, g funções reais de uma variável real tais que Dg ∩ Im f �= φ. Definimos a função g composta com f , denotada por g ◦ f, como g ◦ f : {x ∈ Df ; f(x) ∈ Dg} → R tal que (g ◦ f) (x) = g(f(x)). Exemplo 2.20 Considere f(x) = cosx e g(x) = x2 − x + 1. Como Df = R, Im f = [−1, 1] e Dg = R. Então Dg◦f = R e (g ◦ f) (x) = cos2 (x) − cosx + 1. Neste caso como Im g ⊂ R = Df então pode-se definir também (f ◦ g) (x) = cos (x2 − x+ 1) e Df◦g = R. Observe que g ◦ f �= f ◦ g. Exemplo 2.21 Considere f(x) = 1 x e g(x) = x − 1, segue que Df = R\{0} = Im f, Dg = R = Im g. Assim, Df◦g = R\{1} e (f ◦ g) (x) = 1 x− 1 . Ainda Dg◦f = Df = R\{0} 2.3. FUNÇÃO INVERSA 9 e (g ◦ f) (x) = 1 x − 1 = 1 − x x . Abaixo os gráficos de f em preto, g em marrom, g ◦ f, em azul e de f ◦ g em amarelo. 1 2 3 4 5 -1 0 1 2 3 4 5 x y 2.3 Função inversa Antes de definirmos função inversa precisamos definir quando uma função é inversível. Para isso recordaremos a definição de função injetora, sobrejetora e bijetora. Definição 2.22 Seja f : Df → R. a) Dizemos que f é injetora quando ∀x, y ∈ Df tais que f(x) = f(y) implica que x = y ou equivalentemente ∀x, y ∈ Df tais que x �= y implica que f(x) �= f(y). b) Dizemos que f é sobrejetora quando Im f = R, isto é, quando dado y ∈ R, existe x ∈ Df tal que y = f(x). c) Dizemos que f é bijetora quando f é injetora e sobrejetora, isto é, dado y ∈ R existe um único x ∈ Df tal que y = f(x). Nota 2.23 Observe que toda função é sobrejetora se considerarmos o contradomínio de f como sendo Im f. Definição 2.24 Seja f : Df → Im f uma função bijetora. Assim podemos definir a função f−1 : Im f → Df por f−1(y) = x⇔ f(x) = y, ∀y ∈ Im f, observe que f−1 está bem definida pois tal x existe e é único uma vez que y ∈ Im f e f é injetora. Nota 2.25 Da própria definição de f−1, pode-se observar que (f ◦ f−1) (y) = y, ∀y ∈ Im f e (f−1 ◦ f) (x) = x, ∀x ∈ Df . 10 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Exemplo 2.26 Seja f : [0,∞) → [0,∞), definida por f(x) = x2, f é bijetora(mostre!) e a função f−1 : [0,∞) → [0,∞), é definida por f−1(x) = √x. Nota 2.27 Os gráficos de f e f−1 são simétricos em relação à reta y = x. 0 1 2 3 4 5 0 1 2 3 4 5 x y Gráfico da função y=x2 e sua inversa Exemplo 2.28 Seja f : (0,∞) → R, f (x) = ln x. Já sabemos que f é bijetora e que f−1 : R → (0,+∞) , é a exponencial, ou seja, f−1 (x) = ex . Os gráficos de f e f−1 seguem abaixo, em azul e preto, respectivamente. -10 -8 -6 -4 -2 2 4 6 8 10 -10 -5 5 10 x y Nota 2.29 Existem funções elementares inversíveis, cuja inversa não é uma função el- ementar. Por exemplo: f : R → R; f (x) = x + ex . A função f é injetora, pois é estritamente crescente. Pode-se verificar através do gráfico que f é bijetora. Após o es- tudo de limite e continuidade de funções poderemos provar a sobrejetividade de f. 2.4. PARIDADE E PERIODICIDADE DE FUNÇÕES 11 -2 -1 1 2 -2 2 4 6 8 x y No entanto sua inversa não pode ser descrita em termos de funções elementares. 2.4 Paridade e periodicidade de funções Definição 2.30 Seja f : Df → R tal que Df é um conjunto simétrico em relação ao zero, isto é, se x ∈ Df então −x ∈ Df . a) Dizemos que f é uma função par se e somente se f(−x) = f(x), ∀x ∈ Df . b) Dizemos que f é uma função ímpar se e somente se f(−x) = −f(x), ∀x ∈ Df . Exemplo 2.31 A função f(x) = cosx, ∀x ∈ R é uma função par enquanto que g(x) = sen x, ∀x ∈ R é uma função ímpar. Exemplo 2.32 A função f : R\{0} → R; f (x) = x sen 1 x é uma função par, já que f (−x) = −x sen 1−x = −x sen −1 x = x sen 1 x , já que sen é ímpar. Seu gráfico segue abaixo; -3 -2 -1 1 2 3 -0.2 0.2 0.4 0.6 0.8 x y 12 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Definição 2.33 Seja f : Df → R tal que Df é um conjunto que satisfaz a seguinte propriedade: existe p ∈ R, p > 0 tal que se x ∈ Df então x + kp ∈ Df , ∀k ∈ Z. Assim, dizemos que f é periódica de períodop se e somente se f(x + kp) = f(x), ∀x ∈ Df e ∀k ∈ Z. Exemplo 2.34 As funções seno e cosseno são periódicas de período 2pi. -10 -5 5 10 -2 -1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5 2 -10 -5 5 10 -2 -1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5 2 -10 -5 5 10 -2 -1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5 2 -10 -5 5 10 -2 -1.5 -1 -0.5 0.5 1 1.5 2 Exemplo 2.35 A função f(x) = tg x, ∀x ∈ Df = {x ∈ R; x �= pi 2 +kpi, k ∈ Z} é periódica de período pi. -10 -5 5 -20 -15 -10 -5 5 10 15 20 2.5 Funções Elementares As funções elementares são as funções polinomiais, as funções racionais, as funções irra- cionais e funções transcendentes. Vejamos as definições e exemplos de cada uma delas. 2.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 13 Definição 2.36 Uma função polinomial é uma função f : R→ R, tal que existe n ∈ N e ai ∈ R, 0 ≤ i ≤ n, an �= 0 tais que f (x) = a0 + a1x+ · · · + anxn. Definição 2.37 Uma função racional é uma função f : Df → R tal que f (x) = P (x) Q (x) , onde P,Q : R→ R são funções polinomiais sem zeros em comum e Df = {x ∈ R;Q (x) �= 0}. Definição 2.38 Uma função f : Df → R é denominada uma função algébrica quando existem n ∈ N e Pi : R → R, 0 ≤ i ≤ n, funções polinomiais com Pn não identicamente nula, tal que y = f (x) é uma solução da equação algébrica Pn (x) yn + Pn−1 (x) yn−1 + · · ·+ P0 (x) = 0, ∀x ∈ Df . Nota 2.39 As funções polinomiais e racionais são funções algébricas. (Verifique!) Definição 2.40 Uma função irracional é uma função algébrica que não é polinomial e nem racional. Exemplo 2.41 f : R → R, f (x) = 4√x4 + x2 + 3 é uma função irracional, pois não é polinomial e nem racional e y = f (x) é solução da seguinte equação algébrica y4 − x4 − x2 − 3 = 0. Exemplo 2.42 f : Df → R; f (x) = √ x2 − 1 3 √ x2 − x− 6 , onde Df = (−∞,−2) ∪ (−2,−1] ∪ [1, 3) ∪ (3,+∞) é uma função irracional, pois y = f (x) é solução da seguinte equação algébrica ( x2 − x− 6)2 y6 − (x2 − 1)3 = 0. Definição 2.43 Uma função f : Df → R é denominada uma função transcendente, se f não é algébrica. Exemplo 2.44 As funções exponenciais e as funções logarítmicas. Exemplo 2.45 As funções trigonométriacas e as trigonométricas inversas. Exemplo 2.46 As funções hiperbólicas e as hiperbólicas inversas. Como em geral as funções hiperbólicas não são estudadas no ensino médio, daremos a seguir a definição e algumas de suas propriedades. As funções hiperbólicas são assim chamadas, pois elas podem ser tomadas na hipérbole equilátera de semi-eixos unitários, a saber a hipérbole de equação x2 − y2 = 1. Vejamos graficamente como podemos obter as funções cosseno hiperbólico e seno hiperbólico. 14 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 543210-1-2-3-4-5 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 x y x y P=(u,v) M N O A P’ 543210-1-2-3-4-5 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 x y x y P=(u,v) M N O A P’ 543210-1-2-3-4-5 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 x y x y P=(u,v) M N O 543210-1-2-3-4-5 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 x y x y P=(u,v) M N 543210-1-2-3-4-5 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 x y x y 543210-1-2-3-4-5 5 4 3 2 1 0 -1 -2 -3 -4 -5 x y x y P=(u,v) M N O A P’ Assim, considerando x a área do setor hiperbólico OPAP ′O, da figura acima, tem-se que u = OM = cosh x e v = ON = senh x. Do próprio fato que P = (u, v) é um ponto da hipérbole, tem-se que u2 − v2 = 1, ou seja, (cosh x)2 − (senh x)2 = 1. As abreviações cosh e senh significam, respectivamente, cosseno e seno hiperbólicos. Pode-se fazer uma "trigonometria hiperbólica", na hipérbole equilátera de semi-eixos unitários, como se faz para as funções trigonométricas sobre o círculo trigonométrico. Definimos também a tangente, cotangente, secante hiperbólicas de modo análogo às trigonométricas, ou seja, tgh x = senh x cosh x , cotgh x = cosh x senh x , sech x = 1 cosh x , cossech x = 1 senh x . Pode-se provar que coshx = ex+e−x 2 , ∀x ∈ R, senhx = ex− e−x 2 ,∀x ∈ R. Seus gráficos são, respectivamente em azul o de cosh e em verde o de senh . 2.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 15 -2 -1 1 2 -4 -2 2 4 x y Como pode ser observado pelo gráfico acima, a função senh é bijetiva, enquanto que cosh não o é. Portanto define-se a função arco seno hiperbólico que é a inversa do seno hiperbólico, ou seja, arcsenh : R→ R; arcsenhx = ln(x+ √ x2 + 1),∀x ∈ R. Seu gráfico segue abaixo: -5 -4 -3 -2 -1 1 2 3 4 5 -2 -1 1 2 x y Como cosseno hiperbólico não é bijetora, para podermos definir sua inversa, devemos restringir seu domínio e contradomínio. As demais funções hiperbólicas também podem ser definidas em termos da função exponencial e as funções hiperbólicas inversas também podem ser definidas em termos da função logaritmo, fazendo-se as devidas restrições aos domínios e ou contradomínios das funções hiérbólicas. Algumas delas seguem na lista de exercícios. 16 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 2.5.1 Lista de Exercícios Exercício 2.47 Seja f : R → R definida por f(x) = x2 − x. Determine f(2), f ( 1 2 ) , f(x2), f(f(x)). Exercício 2.48 Seja f : R\{1} → R definida por f(x) = x x− 1 . Determine f ( 1 t ) , para t �= 0, 1; f(x+ h), para x �= 1 − h. Exercício 2.49 Determine o domínio das funções abaixo. Analise também a paridade destas funções: a) f(x) = ex, b) f(x) = x2 + √ x2 + 1, c) f(x) = cosh(x), d) f(x) = senh(x), e) f(x) = x |x| , f) f(x) = { 1 x , x �= 0 0, x = 0 , g) f(x) = tgh x = senh x cosh x , h) f(x) = tg x. Exercício 2.50 Seja a ∈ R, a > 0 e f : [−a, a] → R. Mostre que g : [−a, a] → R definida por g(x) = f(x) + f(−x) é par e que a função h : [−a, a] → R definida por h(x) = f(x) − f(−x) é ímpar. Exercício 2.51 Utilizando o exercício anterior, mostre que dada uma função f : [−a, a] → R, existem funções g, h : [−a, a] → R, sendo g uma função par e h uma função ímpar, tal que f (x) = g (x) + h (x) , ∀x ∈ [−a, a] . Exercício 2.52 Prove que o produto de duas funções pares ou ímpares é uma função par. Exercício 2.53 Determine o domínio e esboce o gráfico das funções abaixo: a) f(x) = √ x+ 2, b) f(x) = x+ |x| , 2.5. FUNÇÕES ELEMENTARES 17 c) f(x) = x2 − x, se x ≤ 1, 0, se 1 < x ≤ 2, x− 2, se x > 2. d) f(x) = x2 − 1 x− 1 , e) f(x) = |2x+ 1| 2x+ 1 , f) f(x) = |x− 1|+ |x+ 2| , g) f(x) = ||x| − 1| , h) f(x) = x sen x. Exercício 2.54 Determine o domínio de f para o qual Im f ⊂ Dg e a composta h = g◦f. a) g(x) = x− 1 x− 2 e f(x) = x+ 2, b) g(x) = √ x e f(x) = x2 − x, c) g(x) = 1 x e f(x) = x3 − x, d) g(x) = √ x2 − 1 e f(x) = x2 − 2. Exercício 2.55 Verifique se as funções abaixo são ou não injetoras. Sabe-se que a função exponencial o é. Determine suas imagens e se for o caso determine sua inversa. a) f : [0,+∞) → R, f(x) = cosh x, b) f : R\{0} → R, f(x) = 1 x , c) f : R\{−1} → R, f(x) = x+ 2 x+ 1 . d) f : R→ R, f (x) = tgh x. Exercício 2.56 Prove que: a) (tgh x)2 + (sechx)2 = 1. b) senh (x+ y) = senh x cosh y + senh y cosh x c) cosh (x+ y) = cosh x cosh y + senhx senh y 18 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL 2.6 Limite de função de uma variável Consideremos um viajante que sai de São José dos Campos e deve chegar ao Rio de Janeiro de ônibus às 20:00h. Ele observa que às 19:00h êle havia percorrido 270km, às 19:15 havia percorrido 290km de distância, às 19:30h, 310km até que às 20:00 ele chega ao Rio, tendo percorrido 350km. Este é um processo de limite, onde podemos dizer que a distância percorridatendeu a 350km quando o tempo tendeu a 20:00h. Ainda, se observarmos que um carro das 8:00h às 8:15h percorreu uma distancia de 20km, das 8:00h às 8:10 percorreu 12km, das 8:00h às 8:05 percorreu 5km e das 8:00 às 8:01 percorreu 1km, podemos dizer que a velocidade deste carro às 8:00h era de 60km/h. Novamente estamos diante de um processo de limite, lembrando que a velocidade média é igual a distância percorrida dividida pelo tempo em que esta foi percorrida. Consideremos então a função f : R\{1} → R definida por f(x) = x 2 − 1 x− 1 . É claro que esta função não está definida para x = 1. No entanto pode-se fazer a seguinte tabela de valores para f(x) à medida que tomamos x cada vez mais próximo de 1.Vejamos: x 0 0, 5 0, 7 0, 9 0, 99 0, 999 f(x) 1 1, 5 1, 7 1, 9 1, 99 1, 999 Pode-se concluir que à medida que x se aproxima de 1, por valores menores que 1, f(x) se aproxima de 2. Analogamente, quando x se aproxima de 1 por valores maiores que 1, f(x) também se aproxima de 2, como mostra a tabela abaixo. x 2 1, 7 1, 5 1, 3 1, 09 1, 001 f(x) 3 2, 7 2, 5 2, 3 2, 09 2, 001 Observe que 1 não pertence ao domínio de f, no entanto, tão próximo de 1 quanto se queira existem pontos do domínio de f, ou seja, 1 é um ponto de acumulação do domínio de f. Observe ainda que se quisermos que f(x) esteja a uma distância de 2,menor que 0, 001, basta tomarmos x tal que sua distância de 1 seja menor que 0, 001, isto é, |f(x) − 2| < 0, 001, desde que 0 < |x− 1| < 0, 001. É necessário que |x− 1| > 0, pois |x− 1| = 0 ⇔ x = 1 e f(1) não está definida. Daremos a seguir a definição de limite e algumas propriedades, mas antes daremos a definição de ponto de acumulação. Definição 2.57 Sejam X ⊂ R, X �= ∅ e a ∈ R. Dizemos que a é um ponto de acumulação de X quando para todo r > 0, (a− r, a+ r) \{a} ∩X �= ∅. O conjunto de todos os pontos de acumulação de X é denominado derivado de X e denotado por X ′. Exemplo 2.58 Considerando X = (a, b) ⇒ X ′ = [a, b] . Exemplo 2.59 Considerando X = Q⇒ X ′ = R. 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 19 Definição 2.60 Sejam f : X ⊂ R→ R, x0 ∈ X ′ e l ∈ R. Dizemos que o limite de f(x) é igual a l, quando x tende a x0, denotado por, lim x→x0 f(x) = l, quando para cada ε > 0 dado , existe δ > 0 tal que ∀x ∈ X com 0 < |x− x0| < δ, tem-se que |f(x) − l| < ε. Nota 2.61 O significado da definição é o seguinte: Pode-se tornar f(x) tão próximo de l quanto se queira, desde que x esteja suficientemente próximo de x0, mas diferente de x0. Assim, é claro que o valor de δ depende de ε e também, na maioria das vezes, do ponto x0, como mostra o exemplo a seguir. Exemplo 2.62 Considere f : R\{0} → R, definida por f(x) = 1 x . Assim, considere ε = 0, 008. Se x0 = 2, tomando δ = 0, 016 tem-se que para todo x ∈ R\{0}, com 0 < |x− 2| < δ ⇒ 1, 984 < x < 2, 016 ⇒ 1 2, 016 < 1 x < 1 1, 984 ⇒ 1 2, 016 − 1 2 < 1 x − 1 2 < 1 1, 984 − 1 2 . Portanto fazendo as contas, obtém-se que ∣∣∣∣1x − 12 ∣∣∣∣ < 0, 008. No entanto se tomarmos x0 = 1 2 , verifique que o δ obtido acima não serve considerando o mesmo ε, pois se tomarmos x = 0, 51 tem-se que 0 < ∣∣∣∣x− 12 ∣∣∣∣ = 0, 01 < 0, 016 e no entanto∣∣∣∣1x − 2 ∣∣∣∣ = 251 > 0, 03 > 0, 008. Na realidade para x0 = 12 e ε = 0, 008, deve-se tomar δ = 0, 001, isto é quase dez vezes menor.(Verifique!) Nota 2.63 O limite de uma função num determinado ponto, apresenta o comportamento da função em pontos próximos do ponto em questão, mas não nos diz nada sobre o valor da função neste ponto, que pode nem mesmo existir ou se existir pode ser diferente do valor do limite. Por exemplo: Exemplo 2.64 Seja f : R → R, definida por f(x) = x3 − 8 x2 − 4 , se x �= ±2 1, se x = 2 0, se x = −2 . Pode-se observar que à medida que x se aproxima de 2, tanto por valores maiores que 2, tanto por valores menores que 2, f(x) se aproxima de 3 �= f(2). No entanto, quando x se aproxima de −2, por valores menores que −2, pode-se verificar que f(x) decresce indefinidamente, ou seja, não se aproxima de nenhum valor real, apesar da função estar definida neste ponto. Provemos, usando a definição, que lim x→2 f(x) = 3. De fato, para cada ε > 0, tomando δ = min{1, 3ε 4 } > 0, segue que para todo x ∈ R com 0 < |x− 2| < δ tem-se que: |f(x) − 3| = ∣∣∣∣x3 − 8x2 − 4 − 2 ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣x2 + 2x+ 4x+ 2 − 3 ∣∣∣∣ = ∣∣∣∣x2 − x− 2x+ 2 ∣∣∣∣ , 20 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL pois x �= 2 e portanto pode-se fazer as simplificações. Ainda, como |x− 2| < δ ≤ 1 ⇒ −1 < x− 2 < 1 ⇒ 1 < x < 3, logo, |f(x) − 3| = ∣∣∣∣x2 − x− 2x+ 2 ∣∣∣∣ = |x+ 1| |x− 2||x+ 2| < δ |x+ 1||x+ 2| < 43δ ≤ ε, o que implica que lim x→2 f(x) = 3. Nota 2.65 A definição de limite não nos fornece uma maneira de calculá-lo, apenas de verificar se o valor dado é ou não limite de uma determinada função, num determinado ponto. Por isso daremos algumas propriedade que nos permitirão fazê-lo, mas antes disso necessitamos de algumas propriedades. Proposição 2.66 Seja f : Df → R, a ∈ D′f e l ∈ R. Se lim x→a f(x) = l então: a) O limite é único. b) Existem δ > 0 e M > 0 tais que |f(x)| ≤M, ∀x ∈ (a− δ, a+ δ) ∩Df . c) Se l �= 0 existe δ > 0 tal que f(x) tem o mesmo sinal de l, para todo x ∈ Df ∩ [(a− δ, a+ δ) \{a}]. Exemplo 2.67 Seja f : R\{0} → R, definida por f(x) = sen 1 x . Apesar de |f(x)| ≤ 1, ∀x ∈ R, x �= 0, isto é, a função f é limitada, vamos provar que não existe lim x→0 f(x), pois tão próximo de 0 quanto se queira, encontramos pontos x ∈ R, tais que f (x) assume quaisquer valores no intervalo [−1, 1]. Por exemplo se tomarmos xn = 1 npi , n ∈ N, a medida que n cresce, xn se torna tão próximo de 0 quanto se queira e f(xn) = 0, ∀n ∈ N. Se considerarmos yn = 1 (pi/2) + 2npi , ∀n ∈ N também temos que yn se torna tão próximo de 0 quanto se queira f(yn) = 1, ∀n ∈ N. Na realidade para cada z ∈ [−1, 1] existe θ ∈ [0, 2pi] tal que sen θ = z, assim, tomando xn = 1 θ + 2npi , n ∈ N, temos que xn se torna tão próximo de 0 quanto se queira, bastando tomar n suficientemente grande e f (xn) = z. Segue portanto do teorema anterior que não existe lim x→0 f(x), pois o limite quando existe é 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 21 único. O gráfico abaixo, mostra o comportamento da função em torno do 0. -3 -2 -1 1 2 3 -1.0 -0.5 0.5 1.0 x y Exemplo 2.68 Seja f : R\{0} → R, definida por f(x) = 1 x . Então � lim x→0 f(x) pois se considerarmos xn = 1 n ∈ R\{0}, ∀n ∈ N, xn pode ser tornado tão próximo de 0 quanto se queira e no entanto f(xn) = n que pode ser tornado tão grande quanto se queira e portanto não se aproxima de nenhum número real. Nota 2.69 Observe que nos dois exemplos acima o limte não existe, mas por diferentes razões. No primeiro exemplo a função é limitada, mas o limite não existe pois à medida que x se aproxima de 0, a função pode se aproximar de qualquer valor no intervalo [−1, 1] . No segundo exemplo a função não possui limite pois não é limitada. 2.6.1 Lista de Exercícios Exercício 2.70 Mostre, por definição que: a)lim x→a (αx+ β) = αa+ β. b)lim x→0 sen x = 0. c)lim x→0 ex = 1. d)lim x→1 ln x = 0. e) lim x→a n √ x = n √ a, para n ∈ N, n ímpar. f) lim x→a , m √ x = m √ a, para cada m ∈ N, m par e a ≥ 0. Exercício 2.71 Seja f : Df → R, a ∈ D′f e l ∈ R tais que lim x→a f(x) = l. Prove que lim x→a [f(x)]n = ln, para cada n ∈ N. 22 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Exercício 2.72 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f ∩D′g e l1, l2 ∈ R. Suponha que l1 < l2. Mostre que ∃δ > 0 tal que f(x) < g(x), ∀x ∈ Df ∩Dg que satisfaz 0 < |x− a| < δ. Dê um exemplo de duas funções f e g tais que f(x) < g(x), ∀x ∈ Df ∩ Dg e tais que lim x→a f(x) = lim x→a g(x), para algum a ∈ D′f ∩ D′g. Este exemplo mostra que a recíproca do resultado não éverdadeira. Exercício 2.73 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f ∩D′g e l1, l2 ∈ R. Suponha que ∃δ > 0 tal que f(x) < g(x), ∀x ∈ Df ∩Dg que satisfaz 0 < |x− a| < δ , lim x→a f(x) = l1 e lim x→a g(x) = l2. Mostre que l1 ≤ l2. 2.6.2 Operações com limites A partir do teorema anterior todas as operações que valem para seqüências também são válidas para limite de funções, as quais enunciaremos a seguir. A demonstração destas propiedades podem ser feitas diretamente da definição de limite ou utilizando a caracterização de limite por seqüências e utilizando as propriedades já demonstradas para seqüências. Proposição 2.74 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f ∩ D′g e l1, l2 ∈ R tais que lim x→a f(x) = l1 e lim x→a g(x) = l2. Então: a) lim x→a (f + g) (x) = l1 + l2. b) lim x→a (fg) (x) = l1l2. c) Se l2 �= 0 então lim x→a f(x) g(x) = l1 l2 . d) lim x→a |f(x)| = |l1| . Nota 2.75 Como no caso de seqüências a recíproca do ítem (d) da proposição não é nec- essariamente válida. No entanto, quando l1 = 0 então esta é válida, ou seja, lim x→a |f(x)| = 0 ⇔ lim x→a f(x) = 0. Exemplo 2.76 Considere f(x) = x2 − 2x + 3, x ∈ R. Então como lim x→−1 x = −1, segue das propriedades de limite que lim x→−1 f(x) = (−1)2 − 2 (−1) + 3 = 2. Um resultado importante e bastante utilizado para cálculo de limites é o seguinte: Proposição 2.77 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f ∩ D′g. Suponhamos que lim x→a f(x) = 0 e existe r > 0 tal que g é limitada em (a− r, a+ r)∩Dg. Então lim x→a (fg) (x) = 0. 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 23 Prova. Como g é limitada em (a− r, a+ r)∩Dg então existe K > 0 tal que |g(x)| ≤ K, ∀x ∈ (a− r, a+ r)∩Dg. Como lim x→a f(x) = 0 então ∀ε > 0 existe δ > 0 tal que ∀x ∈ Df com 0 < |x− a| < δ tem-se que |f(x)| < ε K . Assim, tomando δ1 = min{δ, r} > 0 segue que ∀x ∈ Df∩Dg com 0 < |x− a| < δ1 tem-se que |g(x)f(x)| = |g(x)| |f(x)| ≤ K |f(x)| < K ε K = ε⇒ lim x→a (fg) (x) = 0. � Nota 2.78 O resultado acima pode ser provado usando também um resultado análogo para seqüências, que foi deixado como exercício, e o teorema anterior. Exemplo 2.79 lim x→−1 (x2 − x− 2) sen ( 1 x+ 1 ) = 0, pois ∣∣∣∣sen( 1x+ 1 )∣∣∣∣ ≤ 1, ∀x ∈ R\{−1} e lim x→−1 (x2 − x− 2) = 0. Nota 2.80 Observe que no exemplo acima não se pode utilizar o resultado de produto de limites pois a função sen ( 1 x+ 1 ) é limitada, mas não possui limite quando x tende a −1. Um outro teorema importante, pois nos permite fazer mudanças de variáveis nos lim- ites conhecidos é o limite de composta de funções. Vejamos. Teorema 2.81 (da composta I): Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f , b ∈ D′g e l ∈ R tais que lim x→a f(x) = b, lim y→b g(y) = l. Suponhamos ainda que existe r > 0 tal que f(x) �= b e f(x) ∈ Dg, ∀x ∈ Df com 0 < |x− a| < r. Então lim x→a (g ◦ f) (x) = l. Prova. Como lim y→b g(y) = l então dado ε > 0, existe δ > 0 tal que para todo y ∈ Dg com 0 < |y − b| < δ tem-se que |g(y) − l| < ε. Como lim x→a f(x) = b então tomando δ > 0 encontrado acima, existe δ1 > 0 tal que para todo x ∈ Df com 0 < |x− a| < δ1 tem-se que |f(x) − b| < δ. Assim, tomando δ2 = min{δ1, r} > 0 segue que para todo x ∈ Df com 0 < |x− a| < δ2 obtém-se f(x) ∈ Dg e 0 < |f(x) − b| < δ ⇒ |g(f(x)) − l| < ε ⇒ lim x→a (g ◦ f) (x) = l. � Nota 2.82 É importante notar que sem a hipótese de f(x) �= b, ∀x ∈ Df∩[(a− r, a+ r) \{a}] poderíamos não ter o limite da composta ou mesmo este ser diferente de l. Vejamos dois exemplos. Exemplo 2.83 Sejam f, g : R→ R definidas por f(x) = { x+ 1, x ∈ R\Q 1, x ∈ Q , g(x) = x 2 − 1 x− 1 , x �= 1 0, x = 1 . 24 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Então lim x→0 f(x) = 1 e lim y→1 g(y) = 2. No entanto, (g ◦ f) (x) = x 2 + 2x x , x ∈ R\Q 0, x ∈ Q e portanto �lim x→0 (g ◦ f) (x) . Isto porque �r > 0 tal que f(x) �= 1, ∀x ∈ [(−r, r) \{0}] . Exemplo 2.84 Sejam f, g : R → R definida por f(x) = 2 e g(x) = x 2 − 4 x− 2 , x �= 2 0, x = 2 . Então lim x→a f(x) = 2, ∀a ∈ R e lim y→2 g(y) = 4. No entanto (g ◦ f) (x) = 0, ∀x ∈ R e portanto lim x→a (g ◦ f) (x) = 0 �= 4, ∀a ∈ R. O que não contradiz o teorema pois não existe r > 0 tal que f(x) �= 2, ∀x ∈ [(a− r, a+ r) \{a}] . Exemplo 2.85 lim x→0 cosx = 1, pois cosx = cos 2 (x 2 ) = 1 − 2 sen2 (x 2 ) . Fazendo f(x) = x 2 tem-se que lim x→0 f(x) = 0, f(x) �= 0, ∀x �= 0 e lim y→0 sen y = 0 (exercício abaixo), portanto segue do teorema da composta, considerando g(y) = sen y, que lim x→0 (g ◦ f) (x) = 0 = lim x→0 sen (x 2 ) . Segue agora das operações de limite que lim x→0 cosx = lim x→0 ( 1 − 2 sen2 (x 2 )) = 1. Exemplo 2.86 Calculemos lim x→a ex. Temos que ex = eaex−a. Assim considerando f(x) = x − a e g(y) = ey, segue do teorema da composta que lim x→a ex−a = 1, pois lim x→a f(x) = 0, f(x) �= 0, ∀x �= a e lim y→0 g(y) = 1, (exercício abaixo) logo das operações de limite obtém-se que lim x→a ex = lim x→a eaex−a = ea. Um resultado importante, análogo ao que foi visto para seqüências, é o teorema do confronto, que pode ser demonstrado usando o teorema de caracterização de limite por sequ˜encias e o próprio teorema do confronto para seqüências e pro isso será deixado como exercício. Teorema 2.87 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, h : Dh → R, a ∈ D′f ∩D′g ∩D′h e l ∈ R. Se lim x→a f(x) = lim x→a h(x) = l e f(x) ≤ g(x) ≤ h(x), ∀x ∈ Df∩Dg∩Dh∩[(a− r, a+ r) \{a}] , para algum r > 0 então lim x→a g(x) = l. Exemplo 2.88 Limite fundamental: Calculemos lim x→0 sen x x , utilizando o teorema do con- fronto. De fato para x ∈ ( 0, pi 2 ) tem-se que 0 < senx < x < tg x⇒ 1 < x senx < 1 cosx . 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 25 Ainda para x ∈ ( −pi 2 , 0 ) tem-se que tg x < x < senx < 0 ⇒ 1 < x senx < 1 cosx . Logo, para todo x ∈ [( −pi 2 , pi 2 ) \{0} ] tem-se que 1 < x sen x < 1 cosx ⇒ cosx < sen x x < 1 e como lim x→0 1 = 1 = lim x→0 cosx, segue do teorema do confronto que lim x→0 sen x x = 1. Segue abaixo o gráfico da função f(x) = sen x x . Exemplo 2.89 Calculemos o lim x→0 sen (x/2) x/2 . Consideremos a função f(x) = x 2 , ∀x ∈ R, então lim x→0 f(x) = 0 e f(x) �= 0, ∀x ∈ R\{0}. Sabe-se ainda que lim x→0 sen x x = 1. Portanto, considerando g(y) = sen y y , segue do teorema composta que lim x→0 (g ◦ f) (x) = 1. Mas lim x→0 sen (x/2) x/2 = lim x→0 (g ◦ f) (x) = 1. Exemplo 2.90 lim x→0 1 − cosx x2 = 1 2 , pois cosx = cos 2 (x 2 ) = 1 − 2 sen2 (x 2 ) . Assim, 1 − cosx x2 = 2 sen2(x/2) x2 = 1 2 ( sen(x/2) (x/2) )2 = 1 2 . Exemplo 2.91 lim x→1 tg (x2 − 1) x− 1 = 2, pois g (y) = tg y y = 1 cos y sen y y , ∀y ∈ V̂pi/2 (0) ⇒ lim y→0 tg y y = lim y→0 1 cos y sen y y = lim y→0 1 cos y lim y→0 sen y y = 1. Ainda f (x) = x2 − 1 é tal que 26 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL lim x→1 f (x) = 0, f (x) �= 0, ∀x ∈ (0, 2) \{1}, portanto do teorema da composta tem-se que lim x→1 (g ◦ f) (x) = lim x→1 tg (x2 − 1) x2 − 1 = 1. Mas tg (x2 − 1) x− 1 = tg (x2 − 1) x2 − 1 (x+ 1) e como lim x→1 (x+ 1) = 2, segue das operações de limites que lim x→1 tg (x2 − 1) x− 1 = limx→1 tg (x2 − 1) x2 − 1 limx→1 (x+ 1) = 2. Exemplo 2.92 lim x→0 tg x x = 1, pois tg x x = 1 cosx sen x x ⇒ lim x→0 tg x x = lim x→0 1 cosx sen x x = lim x→0 1 cosx lim x→0 senx x = 1. 2.6.3 Limites laterais Considere a função f : R→ R definida por f(x) = x2 − 1, x ≤ 1 lnx, 1 < x ≤ e 1 x > e , Se quisermos saber o limite de f quando x tende a 1, por exemplo, devemos analisar o comportamento da função para valores de x próximos de 1 e maiores que 1 e para valores menores que 1. E se estes limites forem iguais, pode-se concluir que o limite existe? Parece intuitivo que sim e é o que veremos a seguir. Para isso daremos algumas definições. Definição 2.93 Seja X um subconjunto não vazio de R. a) Dizemos que a ∈ R é um ponto de acumulação à direita de X quando para todo r > 0, tem-se que (a, a+ r) ∩X �= ∅. Denotamos o conjunto de todos os pontos de acumulação à direita de X por X ′+. b) Dizemos que a ∈ R é um ponto de acumulação à esquerda de X quando para todo r > 0, tem-se que (a− r, a)∩X �= ∅. Denotamos o conjunto de todos os pontos de acumulação à esquerda de X por X ′−. Exemplo 2.94 Se X = [−2, 7] então X ′+ = [−2, 7), pois (7, 7 + r) ∩ X = ∅, ∀r > 0 e (a, a+ r) ∩X �= ∅, ∀a ∈ [−2, 7). Exemplo 2.95 Se X = (−1, 5] ∪ [9,+∞) então X ′+ = [−1, 5) ∪ [9,+∞). Definição 2.96 Sejam f : D → R, a ∈ (D)′+ e l ∈ R. Dizemos que f(x) tende a l quando x tende a a pela direita, denotado por, lim x→a+ f(x) = l, quando dado ε > 0 existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ (a, a+ δ) obtém-se que |f(x) − l| < ε. Nota 2.97 Da definição de limite à direita, pode-se notar que estamos apenas inter- essados no comportamento da função em valores próximos de a, mas maiores que a. Analogamente, define-se limite à esquerda.(Faça-o). 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 27 Nota 2.98 É claro que todos os resultados válidos para limite são também válidos para limites laterais com as devidas modificações.(Pense nisso!) Agora daremos o resultado que responde à pergunta inicial, isto é, se existem os limites laterais e são iguais então o limite existe e é igual ao limite lateral? Teorema 2.99 Sejam f : D → R e a ∈ (D)′+ ∩ (D)′− . Então limx→af(x) = l ⇔ limx→a+f(x) = l = lim x→a− f(x). Prova. (⇒) Dado ε > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ V̂δ (a) ⇒ |f(x) − l| < ε. Logo ∀x ∈ D ∩ (a, a+ δ) tem-se que 0 < x− a = |x− a| < δ ⇒ |f(x) − l| < ε. Analogamente, ∀x ∈ D ∩ (a− δ, a) tem-se que 0 < a − x = |x− a| < δ ⇒ |f(x) − l| < ε. Portanto lim x→a+ f(x) = l = lim x→a− f(x). (⇐) Dado ε > 0, existe δ1 > 0 tal que ∀x ∈ D∩(a, a+ δ1) obtém-se que |f(x) − l| < ε. Ainda existe δ2 > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ (a− δ2, a) obtém-se que |f(x) − l| < ε. As- sim, tomando δ = min{δ1, δ2} > 0, segue que ∀x ∈ D ∩ V̂δ (a) tem-se que x ∈ D ∩ [(a− δ, a) ∪ (a, a+ δ)], logo se x ∈ D ∩ (a− δ, a) ⇒ x ∈ D∩ (a− δ2, a) ⇒ |f(x) − l| < ε. Ainda, se x ∈ D ∩ (a, a+ δ) ⇒ x ∈ D ∩ (a, a+ δ1) ⇒ |f(x) − l| < ε. Portanto, ∀x ∈ D com 0 < |x− a| < δ obtém-se que |f(x) − l| < ε, o que prova que lim x→a f(x) = l. � Exemplo 2.100 Considere f : R → R definida por f(x) = x2 − 1, x ≤ 1 ln x, 1 < x ≤ e 1 x > e . Então como lim x→1+ f(x) = lim x→1+ ln(x) = 0 e lim x→1− f(x) = lim x→1− x2 − 1 = 0 ⇒ lim x→1 f(x) = 0. Ainda como lim x→e+ f(x) = lim x→e+ 1 = 1 e lim x→e− f(x) = lim x→e− lnx = ln e = 1 ⇒ lim x→e f(x) = 1. Como pode se ver graficamente: 28 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Exemplo 2.101 Seja f : R→ R, definida por f(x) = [x]− x, onde [x] é o maior inteiro menor ou igual a x. Assim, lim x→1+ f(x) = 0 e lim x→1− f(x) = −1 ⇒ �lim x→1 f(x). Segue abaixo o gráfico de f. 2.6.4 Limites infinitos e limites no infinito Vimos que uma função pode não ter limite num ponto de acumulação porque seus limites laterais existem, mas são distintos ou porque a função oscila à medida que x se aproxima do ponto de acumulação. Mas também pode acontecer da função não admitir limite num ponto porque cresce indefinidamente ou decresce indefinidamente à medida que x se aproxima do ponto de acumulação. Por exemplo f(x) = 1 x2 , x �= 0. Observe que à medida que x tende a 0, f(x) cresce indefinidamente e portanto não se aproxima de nenhum valor real. Neste caso, dizemos que lim x→0 f(x) = +∞, para indicar o comportamento de f, próximo a 0. Vejamos então a definição. Definição 2.102 Sejam f : D → R e a ∈ D′. a) Dizemos que f(x) tende a +∞ quando x tende a a, denotado por lim x→a f(x) = +∞, quando ∀M > 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ V̂δ (a) ⇒ f(x) > M. b) Dizemos que f(x) tende a −∞ quando x tende a a, denotado por lim x→a f(x) = −∞, quando ∀N < 0, existe δ > 0 tal que ∀x ∈ D ∩ V̂δ (a) ⇒ f(x) < N. Nota 2.103 A definição também é válida para limites laterais com as devidas modifi- cações. Exemplo 2.104 Considerando f(x) = 1 x2 , x �= 0, segue que lim x→0 f(x) = +∞, pois ∀M > 0, existe δ = 1√ M > 0, tal que ∀x ∈ V̂δ (0) ⇒ 0 < x2 < δ2 ⇒ 1 x2 > 1 δ2 =M. 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 29 Exemplo 2.105 lim x→0+ ln x = −∞ pois ∀N < 0, existe δ = eN > 0 tal que ∀x ∈ (0, δ) ⇒ ln x < ln δ = N. Assim, ln x < N, ∀x ∈ (0, δ) . Exemplo 2.106 lim e1/x x→0+ = +∞, pois ∀M > 0, considere M ′ = max{M, e} e δ = 1 lnM ′ > 0. Assim, ∀x ∈ (0, δ) tem-se que 0 < x < δ ⇒ 1 x > 1 δ = lnM ′ ⇒ e1/x > e1/δ =M ′ ≥M. Quando desejamos traçar o gráfico de uma função e o domínio desta não é limitado superiormente ou inferiormente, precisamos saber como se comporta a função quando x cresce indefinidamente ou decresce indefinidamente. Estes são os chamados limites no "infinito", cuja definição veremos a seguir. Definição 2.107 Seja f : D → R, tal que D não é limitado superiormente. a) Dizemos que lim x→+∞ f(x) = l ∈ R quando ∀ε > 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K tem-se que |f(x) − l| < ε. b) Dizemos que lim x→+∞ f(x) = +∞ quando ∀M > 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K tem-se que f(x) > M. c) Dizemos que lim x→+∞ f(x) = −∞ quando ∀N < 0, ∃K > 0 tal que ∀x ∈ D com x > K tem-se que f(x) < N. Nota 2.108 Analogamente, define-se os casos acima quando x decresce indefinidamente, isto é, x→ −∞, e deixamos a cargo do aluno escrever tais definições.. Nota 2.109 Quando temos o caso (a) da definição acima, as propriedade vistas anteri- ormente para limite são válidas, com as devidas modificações. Exemplo 2.110 lim x→+∞ ln x = +∞, pois ∀M > 0, ∃K = eM > 1 tal que ∀x ∈ R com x > K ⇒ ln x > lnK =M. Exemplo 2.111 lim x→−∞ ex = 0, pois ∀ε > 0, considere ε′ = min{ε, 1 2 } > 0 e tome K = ln ε′ < 0, então ∀x < K ⇒ 0 < ex < eK = ε′ ≤ ε, isto é, |ex| < ε. Exemplo 2.112 lim x→−∞ x3 = −∞, pois ∀N < 0, ∃K = 3√N < 0, tal que ∀x ∈ R com x < K ⇒ x3 < K3 = N. Deixaremos como exercício a demonstração das propriedades com limites infinitos, que enunciaremos a seguir. Proposição 2.113 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f ∩D′g. Então: 30 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL a) Se lim x→a f(x) = ±∞ e lim x→a g(x) = c ∈ R então lim x→a [f(x) ± g(x)] = ±∞. b) Se lim x→a f(x) = ±∞ e lim x→a g(x) = c > 0 (podendo ser +∞ ) então lim x→a f(x)g(x) = ±∞. c) Se lim x→a f(x) = ±∞ e lim x→a g(x) = c < 0 (podendo ser −∞ ) então lim x→a f(x)g(x) = ∓∞. d) Se lim x→a f(x) = 0 e ∃δ > 0 tal que f(x) > 0, ∀x ∈ Df ∩ [(a− δ, a+ δ) \{a}] ( dizemos então que f(x) tende a zero por valores positivos) então lim x→a 1 f(x) = +∞. e) Se lim x→a f(x) = 0 por valores negativos então lim x→a 1 f(x) = −∞. Se Df e Dg não forem limitados superiormente e/ou inferiormente a pode ser substi- tuído por ±∞ e os resultados continuam válidos. 2.6.5 Lista de exercícios Exercício 2.114 Determine os limites abaixo, caso existam, justificando os resultados utilizados: a) lim x→3 3 √ x− 3√3 x− 3 . b) lim x→−3 x2 + 5x+ 6 x2 − x− 12 . c) lim x→0 cos 1 x . d) lim x→0 tg x2 x . e) lim x→−2 3x+ 6 sen (x+ 2) . f) lim x→pi/2 ( x− pi 2 ) secx g) lim x→0 log2 ( 1 − cos (2x) x2 ) . h) lim x→1 (3 − x3)4 − 16 x3 − 1 . i) lim x→−1 sen (x2 − 1)x+ 1 . 2.6. LIMITE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL 31 j) lim x→a sen x. l) lim x→a cosx. m) lim x→a ln x. n) lim x→a bx, onde b > 0 e b �= 1. o) lim x→a logb x, onde b > 0 e b �= 1. p) lim x→0 √ x+ 2 − √2 x . q) lim x→1 √ x− 1√ 2x+ 3 − √5 . Exercício 2.115 Determine, caso exista, lim x→2 ( |2x− 4| x2 − 4 ) , justificando. Exercício 2.116 Seja f : Df → R, a ∈ (Df)′− tal que existem r > 0 e M ∈ R satis- fazendo f(x) ≤M, ∀x ∈ (a− r, a) ∩Df . Suponha ainda que f é não decrescente em (a− r, a) ∩Df . Mostre que existe lim x→a− f(x). Exercício 2.117 Enuncie e demonstre um resultado análogo ao exercício anterior para limite lateral à direita. Exercício 2.118 Determine, os limites abaixo, caso existam, justificando: a) lim x→+∞ 3 √ x3 + 2x− 1√ x2 + x+ 1 . b) lim x→+∞ sen x x . c) lim x→+∞ (1 − cos (1/x)) x2. Exercício 2.119 d) lim x→−∞ 3x5 + x4 + 1 2x5 + x− 3 . e) lim x→−∞ x x2 + 3x+ 6 . 32 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Exercício 2.120 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, l ∈ R, a ∈ D′f e Dg ilimitado superiormente. Suponhamos que ∃r > 0 tal que f(x) ∈ Dg, ∀x ∈ Df com 0 < |x− a| < r. Se lim x→a f(x) = +∞ e lim y→+∞ g(y) = l então lim x→a (g ◦ f) (x) = l. Exercício 2.121 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, Df ilimitado inferiormente e Dg ilimitado superiormente, tal que Im f ⊂ Dg. Se lim x→−∞ f(x) = +∞, lim x→+∞ g(x) = +∞, mostre que lim x→−∞ (g ◦ f) (x) = +∞. Exercício 2.122 Determine os limites abaixo, caso existam: a) lim x→0− 1 1 + e1/x . b) lim x→2+ 1 ln (x4 − 16) . Exercício 2.123 Seja f : [a,+∞) → R limitada superiormente e não decrescente em [K,+∞), para algum K > a. Prove que existe lim x→+∞ f(x). Exercício 2.124 Enuncie e demonstre um resultado análogo ao exercício anterior para limite quando x→ −∞. Exercício 2.125 Seja f : [a,+∞) → R não decrescente em [K,+∞), para algum K > a. Mostre que ou lim x→+∞ f(x) existe ou lim x→+∞ f(x) = +∞. Exercício 2.126 Seja f : Df → R, a ∈ (Df)′− tal que f é não decrescente em (a− r, a)∩ Df , para algum r > 0. Prove que ou lim x→a− f(x) existe ou lim x→a− f(x) = +∞. 2.7 Continuidade de função de uma variável real Intuitivamente, sabe-se que uma função f é contínua se o seu gráfico não apresenta "saltos", isto é, à medida que x, no domínio de f, se aproxima de um outro ponto a deste domínio, espera-se que f(x) se aproxime de f(a). É exatamente este o conceito que enunciaremos a seguir. Definição 2.127 Seja f : Df → R e a ∈ Df . Dizemos que f é contínua em a se e somente se ∀ε > 0, ∃δ > 0 tal que ∀x ∈ Df com |x− a| < δ então |f(x) − f(a)| < ε. Nota 2.128 Observe que agora a deve ser um ponto do domínio de f e ainda, quando analisamos a continuidade de f em a, estamos interessados no comportamento de f numa vizinhança de a e no próprio ponto a. 2.7. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 33 Nota 2.129 Assim, da definição de continuidade, pode-se concluir que se a ∈ Df ∩ D′f então f é contínua em a se e somente se lim x→a f(x) = f(a). Portanto os resultados apresentados na seção anterior para limite são também válidos para continuidade, os quais apenas enunciaremos em seguida. Nota 2.130 Se A ⊂ Df , dizemos que f é contínua em A se e somente se f |A é contínua em cada ponto de A. Dizemos simplesmente que f é contínua se for contínua em cada ponto de seu domínio Df . Portanto para cada a ∈ A, estamos interessados em pontos de A, que estão numa vizinhançã de a. Exemplo 2.131 f : R → R, tal que f (x) = x2 é contínua. De fato, provamos que para cada a ∈ R, lim x→a x2 = a2. É fácil confirmar nossa intuição de que o gráfico não admite "salto"nem "buraco", como pode ser visto abaixo. Exemplo 2.132 f : R → R, tal que f (x) = sen x é contínua. De fato, provamos que para cada a ∈ R, lim x→a senx = sen a. Novamente vemos também através do gráfico abaixo que esta função não apresenta saltos. 34 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Proposição 2.133 Seja f : Df → R e a ∈ Df tal que f é contínua em a. Então. a) ∃r > 0 tal que f é limitada em Df ∩ (a− r, a+ r) . b) Se f(a) �= 0 então ∃δ > 0 tal que f(x) tem o mesmo sinal de f(a), para todo x ∈ (a− δ, a+ δ) . Proposição 2.134 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ Df ∩ Dg tal que f e g são contínuas em a. Então f ± g, fg e |f | são contínuas em a. Ainda, se g(a) �= 0 então f g é contínua em a. O próximo resultado sobre limite de composta de funções é uma alternativa para o teorema que demonstramos anteriormente, onde não havia a hipótese de continuidade de nenhuma das funções envolvidas. Teorema 2.135 (da composta II): Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ D′f , l ∈ Dg tais que lim x→a f(x) = l e g é contínua em l. Então lim x→a (g ◦ f) (x) = g(l). Nota 2.136 Observe que com a hipótese da continuidade de g, não precisamos mais exigir que f(x) �= l numa vizinhança de a. O resultado acima continua válido se no lugar de limite tivermos limites laterais e se a for ±∞, quando Df for ilimitado superiormente e/ou inferiormente. Teorema 2.137 Sejam f : Df → R, g : Dg → R, a ∈ Df , f(a) ∈ Dg tais que f(x) é contínua em a e g é contínua em f(a). Então g ◦ f é contínua em a. Exemplo 2.138 Calculemos lim x→0 ln ( sen (x2 + x) x2 + x ) . Como lim x→0 x2 + x = 0, x2 + x �= 0, para todo x ∈ (−1,+∞)\{0} e lim y→0 sen y y = 1, então pelo teorema da composta I, segue que lim x→0 sen (x2 + x) x2 + x = 1. Ainda como ln é contínua em (0,+∞), segue do teorema da composta II, que lim x→0 ln ( sen (x2 + x) x2 + x ) = 0. (2.1) Um resultado intuitivo é que se f é uma função contínua e o seu domínio é um intervalo I então f(I) também é um intervalo, caso contrário seu gráfico apresentaria um "salto". Mais ainda se o intervalo é fechdado e limitado, então a imagem também é um intervalo fechado e limitado, pois da mesma forma se não fôsse o caso então o gráfico de f apresentaria um "salto". Estes resultados fazem parte de importantes teoremas sobre continuidade. Teorema 2.139 Teorema de Bolzanno: Seja f : [a, b] → R, contínua em [a, b] tal que f(a)f(b) < 0. Então existe c ∈ (a, b) tal que f(c) = 0. 2.7. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 35 Teorema 2.140 Teorema do valor intermediário: Seja f : [a, b] → R, contínua em [a, b] tal que f(a) < f(b). Então para qualquer d ∈ (f(a), f(b)) existe c ∈ (a, b) tal que f(c) = d. Prova. Considere g(x) = f(x) − d, ∀x ∈ [a, b] então g é contínua em [a, b] pois f o é e a função constante também. Além disso tem-se que g(a) = f(a) − d < 0 e g(b) = f(b)− d > 0, o que implica pelo teorema de Bolzanno que existe c ∈ (a, b) tal que g(c) = 0 ou seja f(c) = d. � Como conseqüência deste teorema, segue que: Corolário 2.141 Seja f : I → R contínua no intervalo I. Então f(I) também é um intervalo. O teorema a seguir será muito importante para o estudo de máximos e mínimos abso- lutos. Como conseqüência deste resultado tem-se que a imagem de um intervalo fechado e limitado por uma função contínua é também é um intervalo fechado e limitado. Teorema 2.142 Seja f : X → R uma função contínua no conjunto fechado e limitado X. Então existem a, b ∈ X tais que f(a) ≤ f(x) ≤ f(b), ∀x ∈ X. Corolário 2.143 Seja f : [a, b] → R contínua. Então f ([a, b]) é também um intervalo fechado e limitado. A demonstração deste resultado segue do corolário do teorema do valor intermediário e do teorema acima. Daremos a seguir um resultado que não será demonstrado, mas que pode ser encon- trado em bons livros de Análise, mas que será necessário quando estudarmos derivada de funções inversas. Proposição 2.144 Seja f : I → R injetora e contínua no intervalo I. Então f−1 : f(I) → I também é contínua no intervalo f(I). Exemplo 2.145 A função f : [−1, 1] → [0, pi] definidapor f(x) = arccos x é contínua, pois g : [0, pi] → R definida por g(x) = cosx é contínua e injetora no intervalo [0, pi], g ([0, pi]) = [−1, 1] e g−1 = f. O gráfico abaixo, mostra em verde a função cosseno e em 36 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL azul a sua inversa. Exemplo 2.146 A função f : [−1, 1] → [ −pi 2 , pi 2 ] definida por f(x) = arcsen x é con- tínua, pois g : [ −pi 2 , pi 2 ] → R definida por g(x) = cosx é contínua e injetora no intervalo[ −pi 2 , pi 2 ] , g ([ −pi 2 , pi 2 ]) = [−1, 1] e g−1 = f. Segue o gráfico abaixo, com a função seno em marrom e a inversa em rosa. Nota 2.147 Se I na proposição acima não for um intervalo o resultado pode não ser válido. Vejamos um exemplo. Exemplo 2.148 Seja f : [0, 1) ∪ [2, 3] → R, definida por f(x) = { x+ 1, 0 ≤ x < 1 x, 2 ≤ x ≤ 3 , f é contínua e injetora, pois o é em cada intervalo e [0, 1]∩[2, 3] = ∅, ou seja, existe δ > 0, tal que (2 − δ, 2 + δ) ∩ ([0, 1) ∪ [2, 3]) = (2 − δ, 2 + δ) ∩ [2, 3] . Ainda f ([0, 1) ∪ [2, 3]) = [1, 3]. Seja f−1 : [1, 3] → R, f−1(y) = { y − 1, 1 ≤ y < 2 y, 2 ≤ y ≤ 3 , tem-se limy→1−f −1(y) = 1 �= lim y→1+ f−1(y) = 2 = f−1(1) ⇒ f−1 não é contínua em 2 e portanto não é contínua em seu 2.7. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 37 domínio. Seguem os gráficos de f em rosa e f−1 em azul. Nota 2.149 Apesar do gráfico de f apresentar um salto, observe que o ponto 1 não é ponto de acumulação do intervalo [2, 3, ] nem 2 é ponto de acumulação do intervalo [0, 1) e por isso a função é contínua. O que não acontece com a inversa, pois agora o domínio é um intervalo, onde todos os pontos são pontos de acumulação. Exemplo 2.150 A função f : R → ( −pi 2 , pi 2 ) definida por f(x) = arctg x é contínua, pois g : ( −pi 2 , pi 2 ) → R, definida por g(x) = tg x é contínua e injetora no intervalo( −pi 2 , pi 2 ) , g (( −pi 2 , pi 2 )) = R e g−1 = f. 2.7.1 Lista de exercícos Exercício 2.151 Analise a continuidade das funções abaixo em todo R: a) f(x) = x 2 − 9 x− 3 , x �= 3 4, x = 3 . 38 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL b) f(x) = |x− 2|x− 2 , x �= 21, x = 2 . c) f(x) = { x, x < 1 1 x , x ≥ 1 . Exercício 2.152 Seja f : Df → R tal que f é contínua em 2 ∈ Df e f(2) = 8. Mostre que existe r > 0 tal que ∀x ∈ Df ∩ (2 − r, 2 + r) então f(x) > 7. Exercício 2.153 Seja f(x) = x5+x+1. Justifique a afirmação : f tem pelo menos uma raiz no intervalo [−1, 0] . Exercício 2.154 Prove que a equação x3 − 4x+ 2 = 0 admite três raízes reais distintas. Exercício 2.155 Seja f : [−1, 1] → R definida por f(x) = x+ x 2 1 + x2 . a) Mostre que f(1) é o valor máximo de f. b) Mostre que existe d ∈ (−1, 0) tal que f(d) é o valor mínimo de f. Exercício 2.156 Seja f : [0, 1] → R contínua em [0, 1] e tal que f(0) = 1 e f(x) ∈ Q, ∀x ∈ [0, 1] . Mostre que f(x) = 1, ∀x ∈ [0, 1] . 1. Exercício 2.157 Seja f : [−1, 1] → R definida por f(x) = x+ x 2 1 + x2 . Exercício 2.158 a) Mostre que f(1) é o valor máximo de f. b) Mostre que existe d ∈ (−1, 0) tal que f(d) é o valor mínimo de f. Exercício 2.159 Mostre que o conjunto A = { x 1 + x2 ;−2 ≤ x ≤ 2} possui máximo e mínimo e determine-os. 1. Exercício 2.160 Seja f : [0, 1] → R contínua em [0, 1] e tal que f(0) = 1 e f(x) ∈ Q, ∀x ∈ [0, 1] . Mostre que f(x) = 1, ∀x ∈ [0, 1] . 2.7. CONTINUIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL REAL 39 Exercício 2.161 Seja f : [0, 1] → R contínua em [0, 1] e tal que 0 ≤ f(x) ≤ 1, ∀x ∈ [0, 1] . Prove que existe c ∈ [0, 1] tal que f(c) = c. Exercício 2.162 Seja f : [a, b] → R contínua e injetora em [a, b] e tal que f (a) < f (b) . Prove que f é crescente. Exercício 2.163 Seja f : [a, b] → R contínua e injetora em [a, b] e tal que f (a) > f (b) . Prove que f é decrescente. Exercício 2.164 Considere f : I → R contínua no intervalo I. Sejam a, b ∈ I com a < b, tais que a e b sejam as únicas raízes de f em I. Sejam x0, x1, x2 ∈ I com x0 < a, a < x1 < b e b < x2. Estude o sinal de f em I, a partir dos sinais de f(x0), f(x1) e f(x2). Justifique. Exercício 2.165 Justifique a seguinte afirmação: f : [1,+∞) → [0, pi 2 ) definida por f(x) = arcsecx é contínua em todo seu domínio. Exercício 2.166 Determine domínio e contradomínio de f(x) = arcctg x, de modo que f seja uma função contínua em todo seu domínio. Justifique sua escolha. 40 CAPÍTULO 2. FUNÇÕES REAIS DE VARIÁVEL REAL Capítulo 3 Diferenciabilidade de função de uma variável Um conceito importante do Cálculo é o de derivada, que é um limite, como veremos na definição. Fisicamente o conceito de derivada está relacionado ao de taxa de variação instantânea, por exemplo, a velocidade de uma partícula num determinado instante t0 é a taxa de variação da distância percorrida em função do tempo, neste instante t0. Geometricamente a derivada de uma função f num ponto a ∈ Df é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico desta função, no ponto (a, f(a)). Vejamos então: 3.1 Derivabilidade e diferenciabilidade Definição 3.1 Sejam f : D → R e a ∈ D ∩ D′. Dizemos que f é derivável no ponto a quando existe lim x→a f(x) − f(a) x− a . Neste caso dizemos que este limite é a derivada de f no ponto a a qual denotamos por f ′ (a) = lim x→a f(x) − f(a) x− a ou também, df dx (a) . Nota 3.2 A razão f(x) − f(a) x− a é denominada razão incremental de f no ponto a, ou simplesmente razão incremental de f. Geometricamente a razão incremental é o coeficiente angular da reta secante ao gráfico de f pelos pontos (a, f(a)) e (x, f (x)) . Assim, no limite, quando x → a obtemos o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f (a)) , como pode ser visto no gráfico abaixo. 41 42 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL Exemplo 3.3 Seja f(x) = c, ∀x ∈ R, então para todo a ∈ R, tem-se que f(x) − f(a) x− a = 0, ∀x �= a⇒ lim x→a f(x) − f(a) x− a = 0 ⇒ f ′ (a) = 0, ∀a ∈ R. Exemplo 3.4 Seja f(x) = αx+β, ∀x ∈ R então para todo a ∈ R tem-se que f(x) − f(a) x− a = α (x− a) x− a = α. Portanto f é derivável em todo R e f ′(a) = α, ∀a ∈ R. Exemplo 3.5 Seja f (x) = xn, para algum n ∈ N, então para todo a ∈ R tem-se que f(x) − f(a) x− a = xn − an x− a = (x n−1 + xn−2a+ · · · + xan−2 + an−1) . Assim, f ′ (a) = nan−1. Para determinarmos a derivada da função exponencial e logarítmica precisamos do seguinte limite que vamos considerar sabido: lim x→0 (1 + x)1/x = e . (3.1) Exemplo 3.6 Seja f(x) = ex, ∀x ∈ R. Vamos provar que f é derivável em toda a reta. Primeiramente vamos mostrar que f é derivável em a = 0 Para isso devemos provar que, lim x→0 f(x) − f(0) x = lim x→0 ex − 1 x . Mas da definição acima e do fato de ln ser contínua em e, segue que lim y→0 ln (1 + y)1/y = ln e = 1. (3.2) Portanto lim y→0 1 ln (1 + y)1/y = 1. (3.3) Mas lim x→0 (ex−1) = 0 e (ex−1) �= 0, para todo x �= 0, portanto pelo teorema da composta I, segue que lim x→0 1 ln (1 + ex−1)1/(ex−1) = lim x→0 ex − 1 x = 1. (3.4) 3.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 43 Assim, f ′(0) = 1. Agora, para cada a ∈ R tem-se que lim x→a ex− ea x− a = lim e a x→a ex−a−1 x− a = e a . Assim f é derivável em toda a reta e f ′(a) = ea, ∀a ∈ R. Exemplo 3.7 Seja f(x) = ln x, ∀x ∈ (0,+∞) . Vamos para provar que f é derivável em (0,+∞) . Primeiramente, temos que f é derivável em a = 1, pois lim x→1 f(x) − f(1) x− 1 = limx→1 ln x x− 1 = limx→1 ln x 1/(x−1) = lim x→1 ln (1 + (x− 1))1/(x−1) = = ln lim x→1 (1 + (x− 1))1/(x−1) = ln e = 1. Assim, f ′(1) = 1. Agora, para cada a ∈ (0,+∞) temos que, lim x→a f(x) − f(a) x− a = limx→a ln (x a ) a (x a − 1 ) = 1 a lim x→a ln (x a ) x a − 1 = 1 a e portanto f éderivável em (0,+∞) e f ′(a) = 1 a . Exemplo 3.8 Considere f(x) = senx, ∀x ∈ R então f é derivável em toda a reta e f ′(x) = cosx, ∀x ∈ R. De fato, para cada x ∈ R tem-se que lim y→x f(y) − f(x) y − x = lim y→x sen y − sen x y − x = limy→x 2 sen ( y − x 2 ) cos ( y + x 2 ) y − x = limy→x sen ( y − x 2 ) y − x 2 cos ( y + x 2 ) = cosx. Exemplo 3.9 A função definida por f(x) = cosx é derivável em R e f ′(x) = − sen x, ∀x ∈ R. De fato, lim y→x cos y − cosx y − x = limy→x −2 sen ( y − x 2 ) sen ( y + x 2 ) y − x = = −lim y→x sen ( y − x 2 ) y − x 2 sen ( y + x 2 ) = − sen x. Exemplo 3.10 A equação da reta tangente ao gráfico de f(x) = ln x no ponto (1, 0) é y = x − 1, pois f ′ (1) = 1 1 = 1 é o coeficiente angualr desta reta e ela passa pelo ponto (1, 0) . Veja o gráfico a seguir. 44 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL Vejamos qual a relação entre uma função derivável e uma função contínua. Proposição 3.11 Se f : D → R é derivável em a ∈ D ∩D′ então f é contínua em a. Prova. Para todo x ∈ D, x �= a tem-se que f(x) = f(x) − f(a) x− a (x− a) + f(a), então lim x→a f(x) = lim x→a [ f(x) − f(a) x− a (x− a) + f(a) ] = lim x→a f(x) − f(a) x− a limx→a (x− a) + limx→af(a) = f ′ (a) 0 + f(a) = f (a) , já que f é derivável em a. Logo, f é contínua em a. � Nota 3.12 A recíproca deste resultado não é verdadeira. Observe que f(x) = |x| é con- tínua em a = 0, no entanto não é derivável neste ponto pois não existe lim x→0 |x| x , já que lim x→0+ |x| x = 1 enquanto que lim x→0− |x| x = −1. Sendo assim a continuidade é apenas condição necessária para que f seja derivável, mas não é condição suficiente, como mostra o exemplo. Calculamos pela definição a derivada de algumas funções. A seguir daremos as regras de derivação, que nos permitirão calcular a derivada de outras funções, sem ter que utilizar a definição. Proposição 3.13 (Operações com funções deriváveis) Sejam f, g : D → R, a ∈ D ∩D′. Se f e g são deriváveis em a então: a) f ± g é derivável em a e (f ± g)′ (a) = f ′ (a) ± g′ (a) . b) Se c ∈ R, cf é derivável em a e (cf)′ (a) = cf ′(a). c) fg é derivável em a e (fg)′ (a) = f ′ (a) g(a) + f(a)g′ (a) . d) Se g(a) �= 0 então f g é derivável em a e ( f g )′ (a) = f ′ (a) g (a) − f (a) g′ (a) (g (a))2 . 3.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 45 Prova. Demonstraremos apenas o ítem (d) e deixaremos os demais a cargo do aluno. Determinemos a razão incremental da função f g , ou seja,( f g ) (x) − ( f g ) (a) x− a = f(x)g(a) − f(a)g(x) (x− a) g(x)g(a) = g(a) (f(x) − f(a)) − f(a) (g(x) − g(a)) (x− a) g(x)g(a) , mas como g é derivável em a então g é contínua em a, isto é, lim x→a g(x) = g(a) �= 0, portanto utilizando as propriedade de limite obtemos, lim ( f g ) (x) − ( f g ) (a) x− a = lim f(x) − f(a) x− a lim g(a) g(x)g(a) − lim g(x) − g(a) x− a lim f(a) g(x)g(a) , portanto lim ( f g ) (x) − ( f g ) (a) x− a = f ′(a)g(a) − g′(a)f(a) (g(a))2 . � Assim, pode-se calcular outros limites tais como: Exemplo 3.14 Tem-se que (tg x)′ = sec2 x, em cada ponto x ∈ D = {x ∈ R; x �= pi 2 + kpi, k ∈ Z}, pois tg x = sen x cosx com cosx �= 0, ∀x ∈ D, logo, (tg x)′ = (sen x cosx )′ = (sen x)′ cosx− sen x (cosx)′ cos2 x . Assim, utilizando as derivadas de seno e cosseno, já calcu- ladas por definição, obtemos que (tg x)′ = cos2 x+ sen2 x cos2 x = 1 cos2 x = sec2 x. Exemplo 3.15 (senh x)′ = cosh x, pois senh x = ex− e−x 2 = ex ex−1 2 ex . Assim, (senhx)′ = 1 2 (ex ex−1)′ ex− (ex)′ (ex ex−1) e2x . Mas (ex ex−1)′ = (ex)′ ex+ex (ex)′ − (1)′ = 2 e2x . Por- tanto, (senh x)′ = 1 2 2 e3x− e3x+ex e2x = ex+e−x 2 = cosh x. Um outro resultado importante é o teorema da inversa, que nos permite calcular derivada de funções inversas, quando estas existem. Teorema 3.16 (Teorema da derivada da inversa) Sejam f : D → R, injetora em D, a ∈ D ∩D′ tal que f é derivável em a com f ′(a) �= 0 e f−1 é contínua em b = f(a). Então f−1 : f(D) → D é derivável em b = f(a) e( f−1 )′ (b) = 1 f ′ (f−1 (b)) = 1 f ′ (a) . 46 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL Prova. Como f é derivável em a, segue que lim x→a f(x) − f(a) x− a = f ′(a) e como tal limite é não nulo, considerando q(x) = x− a f(x) − f(a) , segue que limx→aq(x) = limx→a x− a f(x) − f(a) = 1 f ′(a) . Ainda lim y→b f−1 (y) = f−1(b) = a, pois f−1 é contínua em b e f−1(y) �= f−1(b), ∀y �= b, pois f−1 é injetora, já que f o é. Assim, pelo teorema da composta I, segue que, lim y→b q(f−1(y)) = lim y→b f−1(y) − a y − f(a) = limy→b f−1(y) − f−1(b) y − b = 1 f ′(a) = 1 f ′(f−1(b)) , o que implica que f−1 é derivável em b e( f−1 )′ (b) = 1 f ′ (f−1 (b)) = 1 f ′ (a) . � Exemplo 3.17 Determinemos a derivada de arcsen y, y ∈ (−1, 1) . Como senx é con- tínua, injetiva em ( −pi 2 , pi 2 ) e (sen)′ (x) = cosx �= 0, ∀x ∈ ( −pi 2 , pi 2 ) , segue que arcsen é derivável em (−1, 1) e (arcsen)′ (y) = 1 cos (arcsen y) . Mas cosx = √ 1 − sen2 x, ∀x ∈( −pi 2 , pi 2 ) , assim, cos (arcsen y) = √ 1 − sen2 (arcsen y) = √ 1 − y2. Portanto, (arcsen)′ (y) = 1√ 1 − y2 . Exemplo 3.18 Seja n ∈ N, n par. Então n√x, x ∈ [0,+∞) é a inversa de f(x) = xn, x ∈ [0,+∞). Neste intervalo f é contínua, injetora, derivável e f ′(x) = nxn−1. Assim, do teorema da inversa, f−1(x) = n √ x é derivável em (0,+∞) e (f−1)′ (x) = 1 f ′ (f−1 (x)) = 1 n n √ xn−1 . Em a = 0, tal função não é derivável, pois não existe o limite da razão incremental.(Verifique!) Nota 3.19 Quando f ′ (a) = 0, o teorema da derivada da inversa não afirma que f−1 não é derivável em f (a) . Após a regra da cadeia, veremos que podemos concluir a não derivabilidade de f−1, no ponto f (a). Um conceito importante do Cálculo é a noção de diferenciabilidade. No caso de funções de uma variável, mostraremos que derivabilidade e diferenciabilidade são noções equiv- alentes, mas existe uma diferença conceitual. A derivabilidade está relacionada à taxa de variação de uma função. Por exemplo a velocidade é a taxa de variação instantânea da distância percorrida em relação ao tempo. No entanto a diferenciabilidade está rela- cionada com a aproximação de uma função numa vizinhança de um ponto por uma função linear. Assim, a pergunta que se coloca é: qual a função linear, cujo gráfico é uma reta, aproxima melhor uma dada função numa vizinhança de um ponto? 3.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 47 Definição 3.20 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D′. Dizemos que f é diferenciável em a quando existe m ∈ R e uma função Ea : D → R contínua em a, com Ea(a) = 0 tais que f(x) = f(a) +m (x− a) + Ea(x) (x− a) , ∀x ∈ D. Nota 3.21 Observe que a definição garante que, numa vizinhança de a contida em D, pode-se aproximar f(x) pela função linear f(a) +m(x− a). Este é o conceito de diferen- ciabilidade: poder aproximar uma função numa vizinhança de um ponto por uma função linear. Exemplo 3.22 Seja f : R → R, definida por f (x) = x3. Então, para cada a ∈ R, f (x) − f (a) = x3 − a3 = (x− a) (x2 + xa+ a2) = 3a2 (x− a) + (x− a) (x2 + xa− 2a2) . Assim, considerando m = 3a2 e Ea : R → R, definida por Ea (x) = (x2 + xa− 2a2) , é fácil verificar que Ea é contínua em a e Ea (a) = 0 e portanto f é diferenciável em cada a ∈ R. Exemplo 3.23 Seja f : R→ R, definida por f (x) = ex . Então, para cada a ∈ R, f (x)− f (a) = ex− ea = ea (x− a) + (x− a)Ea (x) , onde Ea (x) = { ex− ea x− a − e a; x �= a 0; x = a . Assim, considerando m = ea, tem-se quelim x→a Ea (x) = lim x→a [ ex− ea x− a − e a ] = lim x→a ex− ea x− a − ea = 0 = Ea (a) . Portanto f é diferenciável em cada a ∈ R. Vamos mostrar que "f ser diferenciável em a”é equivalente a "f ser derivável em a” e que a reta que melhor aproxima f numa vizinhança de a é a reta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f(a)), como pudemos perceber nos exemplos acima. Teorema 3.24 Seja f : D → R e a ∈ D ∩ D′. f é derivável em a ⇔ f é diferenciável em a. Neste caso m = f ′(a). Isto é, o coeficiente angular da reta que aproxima f numa vizinhança de a é o coeficiente angular da reta tangente ao gráfico de f no ponto (a, f(a)). Prova. (⇒)Como f é derivável então existe f ′(a) = lim x→a f(x) − f(a) x− a . Considere então Ea : D → R definida por Ea(x) = f(x) − f(a)x− a − f ′(a), x �= a0 x = a . Da definição de Ea, segue que f(x) = f(a) + f ′(a) (x− a) + Ea(x) (x− a) , ∀x ∈ D. Resta mostrar que Ea é contínua em a, isto é, lim x→a Ea(x) = 0. De fato: lim x→a Ea(x) = lim x→a ( f(x) − f(a) x− a − f ′(a) ) , 48 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL e como f é derivável em a, então lim x→a Ea(x) = (f ′ (a) − f ′ (a)) = 0 = Ea (a) . Assim, conclui-se que f é diferenciável em a e que m = f ′(a). (⇐) Como f é diferenciável em a, então f(x) − f(a) x− a = m + Ea(x), ∀x ∈ D, x �= a então lim x→a f(x) − f(a) x− a = limx→a [m+ Ea(x)] = m. Portanto f é derivável em a e m = f ′(a). � Exemplo 3.25 Determine aproximadamente 3 √ 1, 03. Sabe-se que f(x) = 3 √ x é derivável em a = 1 e f ′(a) = 1 3 3 √ a2 = 1 3 , portanto f é diferenciável em a = 1 logo f(x) = f(a)+ f ′(a) (x− a)+Ea(x) (x− a) , ∀x ∈ R. Portanto 3 √ 1, 03 ≈ 3√1+ 1 3 3 √ 12 (1, 03 − 1) = 1 + 0, 01 = 1, 01. Veja a seguir o gráfico de f e o gráfico da reta tangente ao gráfico de f no ponto (1, f (1)) , na vizinhança centrada em 1, de raio 1 2 , ou seja V0,5 (1) = ( 1 2 , 3 2 ) . Observe que em torno do ponto (1, f (1)) , os gráficos se confundem. Exemplo 3.26 Determine aproximadamente sen (0, 001) . Como a função seno é de- rivável em R, então ela é diferenciável em R. Assim, sen (0, 001) ≈ sen (0) + cos (0) (0, 001− 0) = 0, 001. Exemplo 3.27 Determine aproximadamente arcsen (0, 002) . Como a função arcsen é derivável em (−1, 1), segue que arcsen é diferenciável em (−1, 1) e portanto arcsen x ≈ arcsen a+ 1√ 1 − a2 (x− a) . Considerando a = 0 e x = 0, 002 segue que arcsen (0, 002) ≈ 0 + 0.002 = 0.002. 3.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 49 O próximo resultado nos dará mais um regra de derivação, a última que faltava. Proposição 3.28 (Regra da cadeia) Sejam f : Df → R e g : Dg → R tal que Im f ⊂ Dg, a ∈ Df ∩D′f e f(a) ∈ Dg ∩D′g. Se f é derivável em a e g é derivável em f(a) então g ◦ f é derivável em a e (g ◦ f)′ (a) = g′ (f(a)) f ′(a). Prova. Como g é derivável em f(a) então g é diferenciável em f(a), então existe Ef(a) : Dg → R contínua em f(a) com Ef(a)(f(a)) = 0 tal que g(y) = g(f(a)) + g′ (f(a)) (y − f(a)) + Ef(a) (y) (y − a) , ∀y ∈ Dg. Portanto (g ◦ f) (x) − (g ◦ f) (a) x− a = g (f(x)) − g(f(a)) x− a = = g′(f(a)) f(x) − f(a) x− a +Ef(a) (f(x)) f(x) − f(a) x− a , ∀x ∈ Df , x �= a. Assim, como Ef(a) é contínua em f(a) com Ef(a)((f(a)) = 0 e f é contínua em a, pois é derivável em a, então, (g ◦ f)′ (a) = lim x→a (g ◦ f) (x) − (g ◦ f) (a) x− a = g ′(f(a))f ′(a). � Exemplo 3.29 Determine os pontos onde f(x) = cosh √ x4 + x2 + 1 é derivável e nestes pontos determine sua derivada. Como cosh é derivável em R, √ y é derivável em (0,+∞) , x4 + x2 + 1 é derivável em R e x4 + x2 + 1 > 0, ∀x ∈ R, segue que f é derivável em R e f ′(x) = senh (√ x4 + x2 + 1 ) 4x3 + 2x 2 √ x4 + x2 + 1 = senh (√ x4 + x2 + 1 ) 2x3 + x√ x4 + x2 + 1 ,∀x ∈ R. Exemplo 3.30 A função f (x) = xx é derivável em (0,+∞) , pois f(x) = exp (x lnx) . A função h (x) = x ln x é derivável em (0,+∞), Imh ⊂ R e a função g (x) = ex é derivável em R. Portanto como f é composta de funções deriváveis, segue que f é derivável em (0,+∞) e ainda f ′(x) = exp (x ln x) (ln x+ 1) = xx (lnx+ 1) . Nota 3.31 Observe que a regra da cadeia nos diz que se f é derivável em a e g é derivável em f (a), então g ◦ f é derivável em a. Mas nada podemos afirmar se uma delas não é derivável. Por exemplo: Considere f : R → R, f (x) = x4 e g : R → R; g (x) = 3√x. Tem-se que f é derivável em cada ponto de R, em particular em a = 0. A função g é derivável em R\{0} (mostre!). No entanto g ◦ f = 3√x4 é derivável em R e portanto derivável em a = 0. Portanto quando falhar uma das hipótese da regra da cadeia, deve-se apelar para a definição. Como já havíamos dito a regra da cadeia nos permitirá concluir que a função inversa de uma função derivável f, não é derivável nos pontos onde a derivada de f for igual a 0. 50 CAPÍTULO 3. DIFERENCIABILIDADE DE FUNÇÃO DE UMA VARIÁVEL Proposição 3.32 Seja f : D → R, injetora em D, a ∈ D ∩D′ tal que f é derivável em a, com f ′ (a) = 0 e f−1 : f (D) → D contínua em a. Então f−1 não é derivável em f (a) . Prova. Suponha por absurdo que f−1 é derivável em f (a) , então como f é de- rivável em a, segue pela regra da cadeia que f−1 ◦ f é derivável em a e (f−1 ◦ f)′ (a) = (f−1)′ (f (a)) f ′ (a) = 0. Mas (f−1 ◦ f) (x) = x, ∀x ∈ D e portanto (f−1 ◦ f)′ (a) = 1, o que é um absurdo. Logo, f−1 não é derivável em a. Exemplo 3.33 A função f (x) = sen x é contínua e injetora no intervalo [ −pi 2 , pi 2 ] e portanto admite inversa f−1 (x) = arcsen x, tal que f−1 : [−1, 1] → [ −pi 2 , pi 2 ] é contínua em [−1, 1] . Como f é derivável em [ −pi 2 , pi 2 ] , f ′ (x) �= 0, ∀x ∈ ( −pi 2 , pi 2 ) e f ′ (pi 2 ) = f ′ ( −pi 2 ) = 0, então f−1 é derivável apenas em (−1, 1) . Exemplo 3.34 A função f (x) = arctg x é derivável em R, pois tg : ( −pi 2 , pi 2 ) → R é derivável, portanto contínua, injetora, com (tg)′ (x) = sec2 x �= 0, ∀x ∈ ( −pi 2 , pi 2 ) . Ainda tg (( −pi 2 , pi 2 )) = R. Logo, como f = g−1 : R → ( −pi 2 , pi 2 ) , segue que f é derivável em R e f ′ (x) = 1 g′ (f (x)) = 1 sec2 (arctg x) = 1 1 + tg2 (arctg x) = 1 1 + x2 . � 3.1.1 Lista de exercícios Exercício 3.35 Determine os pontos onde as funções abaixo são deriváveis e determine sua derivada nestes pontos: a) f(x) = tg x. b) f(x) = loga x, 0 < a e a �= 1. c) f(x) = secx. d) f(x) = senh x. e) f(x) = coshx. Exercício 3.36 Determine a derivada de arccos y, y ∈ (−1, 1) . Exercício 3.37 Determine a derivada de arctg y, y ∈ R. Exercício 3.38 Seja f : Df → R injetora em Df e a ∈ Df ∩D′f tal que f é derivável em a,com f ′(a) = 0 e f−1é contínua em b = f(a). Prove que f−1 não é derivável em f(a). 3.1. DERIVABILIDADE E DIFERENCIABILIDADE 51 Exercício 3.39 Determine o intervalo onde arcsenh x é derivável e determine nestes pontos sua derivada. Exercício 3.40 Determine o intervalo onde as funções abaixo são deriváveis e determine nestes pontos suas derivadas. Verifique ainda em que pontos f ′ é contínua: a) f(x) = arcsen x. b) f(x) = x arctg x. c) f(x) = arcsen ( 2 − x x ) . d) f(x) = { x2 cos 1 x + (x2 + 3x) , x �= 0 0 x = 0 e) f(x) = { x cos 1 x + (x2 + 3x) , x �= 0 0 x = 0 f) f(x) = ex, x ≤ 0 ln(x+ 1) 0 < x < (e− 1) x+ 1 e x ≥ e 3.1.2 Derivada de ordem superior Observe que se f é derivável num subconjunto D de Df , obtemos então uma nova função g = f ′ cujo domínio é D. Pode-se então verificar em que pontos de D, a função g é derivável. Assim, se g é derivável em a ∈ D∩D′, dizemos que f é duas vezes derivável em a e g′(a) = f”(a), denominada derivada segunda de f em a. E assim sucessivamente, pode-se verificar se g′ é derivável em a e se
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