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Universidade do Estado do Rio de Janeiro
IFCH – Departamento de História
Professor: Luiz Edmundo Tavares
Disciplina: História do Brasil I
Aluno: Raphael Garcia Pinto Barros
Questão 2
“... ora, o tráfico negreiro, isto é, o abastecimento das colônias com escravos, abria um novo e importante setor do comércio colonial, enquanto o apresamento dos indígenas era um negócio interno da colônia. Assim, os ganhos comerciais resultantes da preação dos aborígenes mantinham se na colônia, com os colonos empenhados nesse ‘gênero de vida’; a acumulação gerada no comércio de africanos, entretanto, fluía para a metrópole, realizavam-na os mercadores metropolitanos, engajados no abastecimento dessa ‘mercadoria’.” (NOVAIS, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777 – 1807). 2ª edicção. São Paulo: Hucitec, 1983, p. 105).
Com base no texto de Fernando A. Novais, analise criticamente o interesse metropolitano pelo africano em relação ao indígena no trabalho compulsório, no nordeste açucareiro, nos séculos iniciais da ocupação lusitana.
Resposta da Questão 2
Para compreender o que Novais diz sobre o escravismo, devemos primeiro entender a lógica através da qual se estruturava a economia colonial. Segundo o autor, a colonização obedeceu a um sistema, o Antigo Sistema Colonial, cuja função primeira era realizar a acumulação primitiva de capital que seria importante para o surgimento do modo de produção capitalista na Revolução Industrial. Toda a colonização fora montada nessa lógica de exploração, e a preferência pelo tráfico negreiro não é diferente.
A produção nas colônias deveria ser de produtos comercializáveis na Europa, aqueles que tivessem alguma demanda. Por isso mesmo, desde o início a colonização foi ajustada para a exploração visando o mercado externo, principalmente no que diz respeito à produção agrícola. O mercado, para as colônias, é a metrópole: o A.S.C. funcionava no regime de exclusivo comercial, ainda que com algumas brechas – o que, para Novais, só confirma a existência do sistema. Segundo o autor, a montagem da colonização obedece a uma ordem: primeiro, o povoamento inicial, com produção para o consumo local, depois o alinhamento das colônias com o mercado europeu. Aqui está o nervo central do sistema: a produção externa e a acumulação primitiva.
Dentro dessas duas características – produção voltada para o mercado externo e acumulação primitiva – podemos entender o porquê das colônias usarem o trabalho compulsório. O tráfico negreiro era rentável para a metrópole, permitia acumulação de capital, e a colonização era “o universo paradisíaco do trabalho não livre, o eldorado enriquecedor da Europa” (NOVAIS, 1986: 79). O uso do trabalho escravo também é compreensível se pensarmos que ele travou uma possível acumulação de capital nas colônias. 
A extração da mais-valia só seria possível com o trabalho assalariado, quando as mercadorias são vendidas e restituem seu custo de produção acrescidas do lucro, permitindo que o lucro seja reinvestido para gerar mais lucro ainda. O escravismo era problemático nesse sentido pois travava o movimento: para começar, era necessário pagar pelo escravo antes de usá-lo, depois ele deveria ser sustentado sem um salário, tinha um tempo de vida, e a produção não consegue se ajustar à demanda porque não há como dispensar os escravos de uma vez, ao contrário do trabalho assalariado. Na produção mercantil o trabalho escravo não se aplica e o trabalho livre ganha força, promovendo também a dissolução dos laços de servidão feudal na Europa.
Nesse contexto histórico de acumulação primitiva, o escravismo permitiu bons lucros para os mercadores metropolitanos e impediu a acumulação nas colônias. O trabalho compulsório foi, segundo Novais, uma imposição das condições históricas, e se o trabalho assalariado predominasse nas colônias, existiriam na verdade núcleos de subsistência sem vínculos efetivos com a metrópole, o que não satisfazia os interesses e necessidades do capitalismo mercantil europeu. A exploração colonial era a exploração do trabalho escravo, com produção em larga escala voltada sempre para o mercado externo.
Dessa forma, podemos concluir que a preferência não se justificava necessariamente por coisas como preguiça, por não serem adaptados à produção ou por conta da pregação dos jesuítas. O escravismo e o tráfico eram adotados por abrirem um novo setor de comércio externo, enquanto o apresamento dos índios era um negócio interno e não revertia lucros para a metrópole, ainda que a mão-de-obra indígena fosse utilizada em alguns casos – principalmente na falta de escravos. E esse novo setor produziu também uma acumulação primitiva de capital dentro da lógica do Antigo Sistema Colonial, ao mesmo tempo em que o ciclo de acumulação nas colônias ficava travado. A preferência pelo escravo no nordeste açucareiro obedeceu, repetimos, a lógica do sistema, a lógica do lucro voltado para a metrópole, sempre com uma produção em larga escala obedecendo às demandas metropolitanas.

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